INSTITUTO MATO-GROSSENSE DE ECONOMIA AGROPECUÁRIA IMEA
08/11/2016
3º LEVANTAMENTO DAS INTENÇÕES DE CONFINAMENTO EM 2016 O terceiro e último levantamento das intenções de confinamento para 2016 em Mato Grosso foi realizado ao longo do mês de outubro pelo Instituto Mato-grossense de Economia agropecuária (Imea). Apesar de ser levemente menor do que o registrado em julho/16, o número de informantes que repassaram informações foi o maior para um mês de outubro desde 2013, contabilizando 182 confinadores, de um universo de 229, atingindo assim representatividade de 79,48% da amostra. Conforme já fora colocado nos antigos relatórios realizados pelo Imea sobre o confinamento em 2016, a desistência pode ser classificada como uma das palavraschave para a atividade neste ano, já que 45,05% dos informantes contatados afirmaram que não realizaram o confinamento neste ano. Esta é a maior porcentagem já registrada, e a justificativa mais comum para este elevado nível de renúncia na atividade é devido aos altos custos, principalmente com a alimentação dos animais. Em virtude das adições de algumas unidades confinadores no plantel de contatos e também devido ao aumento da capacidade de outras, a capacidade estática dos confinamentos mato-grossenses registrou a maior variação desde 2010, anotando aumento de 9,39% em relação a 2015, estabelecendo-se em 987,87 mil cabeças. Gráfico 1. Capacidade estática dos confinamentos de Mato Grosso. 1.050,00
Tabela 1. Quantidade de cabeças de bovinos confinadas em Mato Grosso em 2015 e 2016. Macrorregiões
2015
2016
Participação
Variação (cabeças)
Noroeste
10.876
48.050
7,8%
37.174
Norte
52.132
59.150
9,6%
7.018
Nordeste
77.647
35.050
5,7%
-42.597
Médio-norte
149.369
83.766
13,6%
-65.603
Oeste
130.964
130.850
21,2%
-114
Centro-sul
109.773
133.180
21,6%
23.407
Sudeste
139.132
125.849
20,4%
-13.283
Mato Grosso
669.893
615.895
100,0%
-53.998
Fonte: Imea
O total de bovinos confinados em 2016 é o menor desde 2010. Na comparação com 2015 foram 8,06% animais a menos em confinamentos mato-grossenses, e as regiões que registraram as maiores quedas nos montantes confinados foram: médio-norte e nordeste, com diminuições de 43,92% e 54,86%, respectivamente.
668,12
Conforme pode ser observado no gráfico 2, apenas duas macrorregiões mato-grossenses aumentaram a utilização de sua capacidade estática no comparativo anual, foram elas as regiões noroeste e norte. Enquanto isso, Mato Grosso registrou aumento na ociosidade de suas unidades confinadoras, em 2015 a utilização da capacidade estática dos confinamentos foi de 74,18%, já em 2016, este número caiu para 62,35%.
2009
Gráfico 2. Utilização da capacidade estática de confinamento em Mato Grosso nos anos de 2015 e 2016 (rebanho confinado/capacidade estática).
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
Fonte: Imea.
De maneira geral, os levantamentos das intenções de confinamento realizados em 2016 contaram com grandes variações entre si, o primeiro levantamento realizado durante o mês de abril/16 projetou que o número de animais confinados seria de 755,49 mil, no entanto, com o preço do milho em patamares elevados e, consequentemente, os altos custos, a percepção do confinador alterou-se e no levantamento de julho/16 a estimativa de bovinos que sairiam de confinamentos caiu significativamente, chegando a apenas 506,67 mil animais.
Utilização 2015
200% 150%
149% 132% 111%
Utilização 2016
154%
80% 74%
100% 52% 50%
46%
74% 74% 65% 69% 68% 62% 62%
27%
0%
Fonte: Imea.
Mato Grosso
600,00
Sudeste
650,00
Centrosul
750,00
Oeste
776,05
800,00
846,73
804,14
Médionorte
850,46
850,00
Nordeste
903,08
891,43
900,00
Norte
950,00
Noroeste
987,87
1.000,00
700,00
Já no levantamento realizado no mês de outubro, a realidade disposta para o confinador se alterou novamente, visto que as principais matérias-primas para a realização da atividade registraram desvalorizações (milho, farelo de soja e boi magro), e como esta é uma ocupação de ciclo rápido (até 120 dias) o número de animais “fechados” nos cochos matogrossenses em 2016 assinalou um aumento em relação ao número de julho/16, ficando em 615,89 mil.
Brasil/Mato Grosso, 08/11/2016 – 3° Levantamento das Intenções de Confinamento em 2016 Apesar de ser um dos grandes “vilões” do confinamento este ano, sendo constantemente citado pelos confinadores como a causa de não ter realizado a atividade em 2016, o milho deu uma “folga” para quem necessitava comprar o insumo nos últimos seis meses, visto que desde maio/16 o preço pago pela tonelada do cereal caiu 20,99%. No mesmo período, o boi magro registrou desvalorização de 6,98% e a tonelada do farelo de soja, queda de 12,09%, ou seja, houve uma convergência de fatos que estimularam o aumento no número de animais confinados em relação ao levantamento de julho/16. No entanto, cabe ressaltar que realizar um confinamento envolve grandes planejamentos, e deixar para comprar matéria-prima na última hora pode ser uma estratégia arriscada. Gráfico 3. Preço do boi magro (12@), do farelo de soja e do milho nos últimos seis meses. 1841,16
1712,61
1400 1283,60
1000 800
580,09
600
set/16
ago/16
jul/16
mai/16
jun/16
400
Ainda que o número final de animais confinados em 2016 tenha sido o menor dos últimos seis anos, o pecuarista que optou por realizar o confinamento optou por operar com menos risco neste ano. Comumente, o Imea ressalta a importância da dissipação do conhecimento quanto as formas de negociar disponíveis no mercado, comercializar seus animais através de contratos a termo com frigoríficos ou realizar hedges por meio da compra de contratos futuros de boi gordo na BM&F/Bovespa são boas opções para a garantia da receita, e em 2016 o confinador se utilizou mais desta ferramenta. A utilização destes instrumentos compôs 42,74% das negociações de bovinos confinados em Mato Grosso, esta é a maior participação destes tipos de ferramentas na história. Gráfico 3. Utilização de hedge no rebanho confinado de Mato Grosso. 45,0%
BM&F
36,4%
35,0% 30,0% 25,0%
6,0%
7,0%
4,0%
20,0% Milho
Farelo de soja
Boi Magro
15,0%
Embora os preços das matérias-primas tenham recuado nos últimos seis meses, a expectativa de melhores receitas com a venda dos bois gordos também diminuiu nesse período para quem não realizou hedge. Tal constatação advém ao se vislumbrar o preço do contrato do boi gordo na BM&F/Bovespa para outubro/16, o valor desse chegou a ser de R$ 167,24/@ no dia 17/05/2016, no entanto, com diversas notícias ruins a respeito da demanda interna, a cotação deste fechou em R$ 151,27/@ no dia 31/10/2016, acumulando desvalorização de 9,55%. Gráfico 4. Preço do contrato futuro do boi gordo para outubro/16 na BM&F/Bovespa. 167,24
31-out-16
05-set-16
03-out-16
08-ago-16
11-jul-16
13-jun-16
18-abr-16
16-mai-16
22-fev-16
21-mar-16
25-jan-16
28-dez-15
30-nov-15
02-nov-15
07-set-15
05-out-15
151,27
10-ago-15
R$/@
8,0%
Fonte: BM&F/Bovespa
Estas diminuições frearam de certa forma o ímpeto de alguns confinadores em aumentar o rebanho confinado, já
5,0%
11,2% 3,3%
10,0%
Fonte: Imea.
169,00 167,00 165,00 163,00 161,00 159,00 157,00 155,00 153,00 151,00 149,00
Termo
40,0%
out/16
R$/t
1725 1525 1325 1128,40 1125 925 458,35 725 525
R$/cabeça
1200
que, apesar de constatarem uma queda nos custos de produção, estes também observaram uma diminuição na expectativa de receita.
1,1%
15,0% 12,0% 1,0% 14,0%
4,7% 2,6%
1,6%
2009
2013
2015
0,0% 2010
2011
2012
2014
6,4% 2016
Fonte: Imea.
Os valores elevados encontrados em maio/16 para entrega de animais em outubro/16, foi uma das principais motivações para esse aumento considerável na venda de animais à termo. Enquanto um produtor que negociou no mercado spot (balcão) em Mato Grosso durante o mês de outubro/16 recebia em média R$ 134,00/@, há relatos de pecuaristas que receberam até R$ 150,00/@ por terem negociado a termo em meados do primeiro semestre. Ao analisar a rentabilidade do sistema, é notório o benefício que o travamento de preços no futuro pode trazer ao produtor. No primeiro levantamento sobre as intenções de confinamento realizado em abril, o Imea chamou a atenção às indicações que o mercado futuro apontava para os preços da arroba e para os custos envolvidos na operação do confinamento, principalmente o alto valor na compra da ração. Para exemplificar, se em abril/16 o produtor tivesse travado o preço da arroba, para entrega em outubro/16, a margem por animal teria sido de R$ 164,12. Já o bovinocultor que não travou o preço da arroba no futuro e deixou para comercializar o animal no mercado spot, levando em consideração os mesmos custos, a margem foi de R$
Brasil/Mato Grosso, 08/11/2016 – 3° Levantamento das Intenções de Confinamento em 2016 17,88/cabeça. Logicamente que, se o preço da arroba tivesse subido, o produtor deixaria de ganhar. Por outro lado, a eliminação do risco devido a volatilização dos preços, confere mais segurança para gerir o negócio. Gráfico 4. Custo, receita e margem do confinamento em outubro/15 utilizando dois tipos de comercialização. Custo
144,00 164,12
142,00 140,00
Receita 180,00
Margem
160,00 140,00
142,37
R$/@
100,00
136,00
134,00 80,00 60,00
133,18
134,00 132,00
R$/animal
120,00
138,00
40,00
130,00 133,18
17,88
128,00
resultados foram ruins, enquanto que mais de 58% classificou o ano como bom/ótimo. Além da percepção pessoal dos confinadores sobre a atividade, foi questionado a eles se pensavam em trabalhar com o confinamento de bovinos em 2017, e 76,15% afirmaram que pretendem confinar animais no próximo ano. Apesar desta porcentagem ser maior que a observada em 2015 - quando apenas 64,96% dos entrevistados tinham pretensões de confinar animais em 2016 - vale ressaltar que o número de respostas negativas a esta pergunta no atual levantamento foi o maior dos últimos três anos (19,23%), ou seja, os confinadores mato-grossenses estão menos flexíveis a mudanças para 2017, ao menos no atual momento. Figura 6. Continuidade na atividade em 2017.
20,00 0,00
Hedge*
4,62%
Fonte: Imea/BM&F. *Preço futuro de abril/16 com vencimento para outubro/16.
Além do benefício ao produtor, que poderá gerenciar melhor seu negócio, o uso destas ferramentas também traz melhorias à indústria, que pode planejar melhor sua escala de abate, através da garantia de animais terminados em períodos acertados previamente. Esta ferramenta tem o potencial de melhorar cada vez mais a coordenação do complexo agroindustrial da carne bovina como um todo. Com 69,55% dos animais confinados entregues até o final de outubro/16, foi questionado aos confinadores a avaliação deles quanto aos resultados atividade em 2016. E como pode ser observado no gráfico 6, o descontentamento foi generalizado, apenas 20,83% dos entrevistados afirmaram que 2016 foi um ano bom/ótimo para o confinamento. Enquanto isso, 30,21% responderam que a atividade foi ruim ou péssima. Figura 5. Avaliação da atividade em 2016. Ótimo 49,0% 16,7%
13,5% 19,8%
Bom
76,15%
Fonte: Imea.
Apesar do recuo nas cotações em alguma das principais matérias-primas nos últimos seis meses, essas ainda se encontram em patamares elevados, e foram a principal justificativa para a desistência de realizar o confinamento em 2016, esse também é o principal fator de desestimulo abordados pelos confinadores ao se falar em confinamento em 2017. Soma-se a isto a perspectivas de estabilidade/queda nas cotações do boi gordo para o próximo ano - vide contrato futuro na BM&F/Bovespa com vencimento para maio/17 à R$ 148,00/@ e com vencimento para outubro/17 à R$ 157,31/@ – têm-se assim um cenário nebuloso para o confinamento em 2017. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Devido ao forte aumento no custo de produção, o rebanho confinado em 2016 decresceu 8,06% em relação à 2015, totalizando 615.895 cabeças.
A valorização nas cotações do milho e do farelo de soja, em decorrência da severa diminuição na oferta desses, fez com que a diária nos confinamentos encarecesse, desestimulando os confinadores em 2016.
A utilização de mecanismo de hedge (contratos à termo, e futuros/opções na BM&F/Bovespa) em 2016 cresceu 29,95 p.p. em relação a 2015. Cerca de 42,74% dos bovinos confinados foram comercializados utilizando-se de ferramentas de hedge.
Péssimo
Fonte: Imea.
Traçando um comparativo com as respostas desta mesma pergunta realizada em 2015, enxerga-se a discrepância quanto a percepção pessoal dos confinadores sobre os resultados obtidos na atividade naquele ano. Naquela ocasião, apenas 2,70% dos pecuaristas afirmaram que os
Não
Sem previsão
Regular Ruim
1,0%
Sim
19,23%
Spot
Brasil/Mato Grosso, 08/11/2016 – 3° Levantamento das Intenções de Confinamento em 2016
Assim como em 2015, a utilização de hedge se mostrou como uma melhor opção frente a negociação no mercado spot (balcão), a partir de cálculos de custo e receita, estimou-se que a margem de quem deixou para vender no mercado físico diminuiu em até 89,11%.
Inserido dentro deste contexto, vislumbra-se o por que a atividade do confinamento foi avaliada tão mal pelos entrevistados. Apenas 20,83% dos confinadores avaliaram a atividade como boa ou ótima.
Presidente: Rui Carlos Ottoni Prado Superintendente: Daniel Latorraca Ferreira Elaboração: Yago Travagini, Gabriela Amaral, Renata Jardini, Jimmy Oliveira, Vanessa Gasch, Matheus Santos. Analistas: Ângelo Ozelame, Cleiton Gauer, Francielle Figueiredo, Gabriel Alberti, Jéssica Brandão, Kimberly Montagner, Miqueias Michetti, Paulo Ozaki, Rafael Chen, Ricardo Silva, Rondiny Carneiro, Sâmyla Sousa, Tainá Heinzmann, Talita Takahashi, Tiago Assis e Yago Travagini. Estagiários: Aline Kaziuk, Gabriela Amaral, Jimmy Oliveira, Júlio César Rossi, Leticia Siqueira, Matheus Santos, Monique Kempa, Patrícia Borges, Renata Jardini, Vanessa Gasch