Este é o quarto caderno de referências para a construção do Programa Nacional Conexão Startup Indústria. As contribuições desta edição foram extraídas da Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (CASE), realizada pela ABS Startups, que aconteceu nos dias 07 e 08 de novembro de 2016, na cidade de São Paulo.
Conexão Startup Indústria CASE 2016
Sumário
1.
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 3
2.
O PROGRAMA NACIONAL CONEXÃO STARTUP INDÚSTRIA ................................................ 5
3.
PARCERIAS ENTRE A INDÚSTRIA E AS STARTUPS ................................................................ 6
4.
METODOLOGIA ................................................................................................................... 18
5.
VALIDAÇÃO ......................................................................................................................... 24
6.
PRÓXIMOS PASSOS 2016 .................................................................................................... 29
7.
ANEXOS. DADOS BRUTOS................................................................................................... 30
8.
CANAIS ................................................................................................................................ 31
2
1. INTRODUÇÃO Este é o quarto caderno de referências para a construção do Programa Nacional Conexão Startup Indústria. As contribuições desta edição foram extraídas a partir da participação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) na Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (CASE), realizada pela ABS Startups, que aconteceu nos dias 07 e 08 de novembro de 2016, na cidade de São Paulo. Na ocasião uma multidão de empreendedores vorazes e destemidos, estavam sedentos por novos dados e oportunidades. No estande da ABDI foram contabilizadas mais de 400 interações. Este caderno traz uma breve abordagem da importância do CASE para o ecossistema de startups, a própria relevância dos empreendedores tecnológicos para a inovação e o relato sobre os dados e percepções coletadas no CASE. A Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo é reconhecida como o maior evento para startups da América Latina. O evento está na terceira edição e tem como objetivo proporcionar para empreendedores, um ambiente com conteúdo de nível internacional para startups, uma feira de negócios com os principais fornecedores de produtos e serviços e network qualificado com importantes agentes do ecossistema brasileiro de inovação, empreendedorismo e startups. A primeira edição do CASE ocorreu em 2014 inspirada em grandes exemplos internacionais como o TechCrunch Disrupt, South by Southwest e WebSummit e reuniu mais de 3 mil participantes. A cada edição, a ABStartups identifica as principais demandas das startups para adequar as palestras e temas buscando soluções. São discutidos temas como Customer Success, Exits, Ecossistema, Talentos, Growth Hacking, Inbound Marketing, Corporate Venture e Educação Empreendedora. Nessa terceira edição, 6500 empreendedores visitaram os estandes e as palestras no Anhembi, na cidade de São Paulo. A intenção da ABDI ao participar como patrocinadora, expositora e palestrante no CASE foi gerar uma maior familiarização da Agência com o ecossistema das empresas
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startups, e funcionou como mais uma etapa de laboratório para a modelagem e aprimoramento do Programa Nacional de Conexão Startup Indústria. Boa leitura!
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2. O PROGRAMA NACIONAL CONEXÃO STARTUP INDÚSTRIA Dando continuidade às interações de construção colaborativa do Programa, até o momento, foram ouvidos mais de 500 representantes do ecossistema de startups e da indústria em três interações anteriores. Em 15 de setembro de 2016, foi realizada a primeira etapa de construção do Programa Nacional Conexão Startup Indústria com o 1º Laboratório de Modelagem, em que representantes de ambos os segmentos relataram as dificuldades encontradas na interação. clique aqui para acessar o relatório Em 18 de outubro, foi realizada a segunda etapa de construção para identificação e validação das hipóteses de problemas referentes à conexão Startup - Indústria no CEO Summit SP 2016 com scale-ups selecionadas, onde mais de 30 empreendedores apresentaram seus cases de sucesso e insucesso para a ABDI. clique aqui para acessar o relatório
Ainda durante o mês de outubro, foram realizadas missões técnicas às indústrias nacionais de diversos setores e segmentos a fim de obter maior compreensão, in loco, dos diferentes processos produtivos, os principais gargalos e as possíveis oportunidades existentes, no que se refere à inovação. A partir das análises dos dados coletados em visitas, desenhou-se as hipóteses de conexão startup - indústria. clique aqui para acessar o relatório
Compartilhamos nesta edição do Caderno de Referências os resultados da quarta rodada de interação, contemplando a apuração das hipóteses de soluções e problemas oriundos da Conferência CASE 2016, ocorrida entre os dias 07 e 08 de novembro em São Paulo. No âmbito da participação da ABDI, foram ouvidos centenas de empreendedores de startups com o intuito de validar as hipóteses de soluções a partir da visão das startups early-stage e devups, consolidar metodologias e formatar o Programa de forma a estabelecer uma conexão entre as startups e as demandas do setor industrial. A ABDI acredita no poder da colaboração e agradece a todos os envolvidos que se disponibilizaram a nos apoiar e contribuíram para o desenvolvimento desta quarta etapa de validação. 5
3. PARCERIAS ENTRE A INDÚSTRIA E AS STARTUPS “Big companies are lately waking up to the fact that their industries are disrupted by the innovations led by startups. Partners to create more value for your company, more value for the consumer, and for the whole industry”. Giuseppe Zocco, co–founder of Index Ventures
Um novo patamar da economia brasileira passa pelo fomento à inovação, principalmente via startups, que ao criarem ideias e soluções práticas para a indústria, fortalecem a competitividade e a inserção internacional da indústria nacional. Em um mundo cada vez mais digital e conectado, a indústria e as startups estão reconhecendo o valor que pode ser criado por uma colaboração mais estreita e profunda. As Corporações têm acesso a novas competências, ideias, talentos e mercados, enquanto as Startups acessam mercado e utilizam as redes de distribuição e as bases de clientes das grandes empresas, quando também se tornam seus clientes. O engajamento das Corporações com as Startups já vem sendo objeto de discussão há algum tempo, mas nos últimos três anos tem tido um papel central na Europa, Estados Unidos e Ásia nos impactos da transformação digital não somente nos setores mais tecnológicos, mas também em ramos tradicionais como logística, bancário e complexo da saúde. Mais da metade das 500 maiores companhias mundiais já trabalham com startups. Grandes empresas tendem a ser menos ágeis e flexíveis para a adaptação necessária aos processos e modelos de negócio compatíveis com a digitalização, diversamente dos empreendedores de startups, os quais geram a inovação na fronteira do conhecimento e possuem processos e modelos flexíveis de administração. O setor industrial é progressivamente consumidor, parceiro, mentor e comprador, além de ser beneficiado pelas tecnologias inovadoras das startups. Dessa forma, o Programa Nacional de Conexão Startup Indústria pretende conectar empreendedores que criem soluções criativas para a resolução de problemas e desafios da indústria brasileira. 6
A inovação está em constante mudança, as grandes corporações estão despertando para o fato de que as startups, especialmente as digitais e de tecnologia, estão transformando diversos segmentos industriais. A globalização vem promovendo mudanças radicais no processo produtivo, transformando o tradicional fluxo de bens e serviços. Os países em desenvolvimento, enxergando uma oportunidade de promover um salto tecnológico e econômico, tem cada vez mais buscado atrair segmentos industriais de alto valor agregado que possam ser inseridos nas cadeias globais de valor. Nesse sentido, o Brasil já possui um dos melhores e densos ecossistemas de inovação de startups do mundo, com a cidade de São Paulo ocupando a 12° colocação no ranking da “The Global Startup Ecosystem Ranking 2015”. A atuação descolada entre o mundo da indústria e o das startups é um fator de desequilíbrio do setor produtivo como todo. Empresas de todos os
setores e tamanhos podem se beneficiar
significativamente com o trabalho com startups de tecnologia. Os benefícios incluem o rejuvenescimento da cultura corporativa, projeção de grandes marcas, solução de problemas de negócios e de produção e expansão para futuros mercados1 . É importante notar que a inovação aberta2 é cada vez mais praticada por meio de um engajamento formal com as startups. Em uma recente pesquisa realizada pela KPMG “New Horizons 2015”3, 88% das empresas consideraram que a colaboração com as startups era essencial para a sua própria estratégia de inovação. Em relação às startups, a maioria (54%) concordaram que a colaboração com uma grande organização é essencial para o sucesso do seu negócio, como também para evitar falhas de inicialização, e 51% implementaram alguma colaboração.
1
Mocker, Valerie. Bielli, Simona. Haley, Christopher: Winning Together: A Guide To Successful Corporate-Startup Collaborations. Nesta, 2015. Disponível em http://www.nesta.org.uk/sites/default/files/winning-_together-june-2015.pdf 2 CHESBROUGH, H., Vanhaverbeke, W., West, J. (2006). Open Innovation: Researching a New Paradigm. USA: Oxford University Press. Inovação Aberta (open innovation) é um termo criado por Henry Chesbrough, professor da Universidade de Berkeley, para as indústrias e organizações que promovem ideias, pensamentos, processos e pesquisas abertos, a fim de melhorar o desenvolvimento de seus produtos, prover melhores serviços para seus clientes, aumentar a eficiência e reforçar o valor agregado. A inovação aberta é um elemento estratégico para as grandes empresas e um dos movimentos mais importantes de inovação, sendo também uma oportunidade crescente de parcerias com uma Startups. Grandes empresas como GE, Cisco ou Microsoft tendem a ter 8-12 diferentes tipos de parcerias (fornecedores, startups, clientes ou universidades) em seus esforços de inovação aberta. 3 New Horizons 2015. KPMG. https://assets.kpmg.com/content/dam/kpmg/pdf/2016/04/On-the-road-to-corporate-startupcollaboration-16-12-2015.pdf
7
Com efeito, de acordo com o estudo “The State of Startup/Corporate Collaboration 20164” (vide figura abaixo), as Corporações estão buscando avidamente conexões com Startups. 82% das grandes empresas agora enxergam as interações com startups como importantes, e 23% disseram que são "críticas" para seus negócios, conforme o infográfico abaixo. Figura 1. Quão importante é para sua organização interagir com startups externas?
Nesse novo universo econômico e tecnológico, a Indústria Automobilística oferece um exemplo importante dessa colaboração. Nos últimos anos, empresas tradicionais começaram um frenético movimento de parceria, investimentos e aquisições de startups, conforme demonstra o quadro da CB Insights.
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The State of Startup/Corporate Collaboration 2016. https://cdn2.hubspot.net/hubfs/1955252/SCC_2016/Startup_Corporate_Collab_2016_Report.pdf
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Figura 2. CB Insigths5.Principais Parcerias, Investimentos e Aquisições da Indústria Automobilística.
Esse fenômeno se acentuou, de modo que constantemente grandes corporações globais estão se associando com uma aceleradora, colaborando ou adquirindo uma startup. Os exemplos são vários e diversos: Nike, Sprint, MasterCard, Lloyds, GE, Booz Allen, Microsoft, Shell, Samsung, Telefônica, Google, Coca-Cola, Cisco, Unilever, BBVA, Accenture, Pwc etc abraçaram a colaboração com as startups como elemento-chave de sua estratégia de inovação. Essas organizações não estão sozinhas. O Barômetro de Inovação Global da GE de 20166 informa que 85% dos entrevistados das grandes empresas disseram que a colaboração com startups impulsiona o sucesso para sua organização no futuro. Enquanto isso, 81% dos Executivos de Negócios reconheceram que o “ethos” da startup está se tornando cada vez mais a norma exemplar para a criação de uma cultura de inovação dentro de empresas de todos os portes. Por outro lado, vários são os motivos que levam uma Startup a colaborar com a Indústria, de acordo com o “White Paper Open Axel”7, dentre eles:
5
CBInsights. 2016. Disponível em https://www.cbinsights.com/blog/auto-corporates-investment-ma-timeline/. Innovation Barometer 2016. Disponível em http://www.ge.com/stories/innovation-barometer. 7 White Paper on the Connection of Startups with Industry, Open Axel. 2016. Disponível em: http://openaxel.com/wpcontent/uploads/2016/05/OpenAxel-white-paper.pdf 6
9
·
Apoio na definição e rápida validação de seu modelo de negócio (mentoria);
·
Acesso a métodos de distribuição e conhecimento técnico;
·
Acesso a produtores e fornecedores de ponta;
·
Formação de parcerias;
·
Acesso a espaço de trabalho;
·
Ganho de visibilidade e credibilidade
·
Acesso a outros mercados (internacionalização)
·
Acesso a uma rede de clientes e parceiros
·
Acesso a vários tipos de investimentos.
A pesquisa revela ainda que as duas maiores razões que levam a Startups a cooperarem com a indústria são a visibilidade e credibilidade (47% dos respondentes) a acesso a novos mercados (88%), de modo que essas organizações estão dispostas a cooperarem com a Indústria. O mercado privado vem se adaptando às transformações numa velocidade maior que o governo. Como promotores e fomentadores do desenvolvimento econômico do país é responsabilidade do Governo compreender seu papel nesse novo ambiente. Por isso a ABDI, como articuladora institucional, representando o Ministério da Industria, Comércio Exterior e Serviços se propõem, em conjunto com a iniciativa privada, identificar o caminho para uma nova política pública. Uma política que contemple ações acolhedoras a ambos os players: startups e indústria de forma conectada e a gerar valor a todo o ecossistema envolvido.
3.1.
Legislação destrava investimento em Startups
A conexão entre startups e indústria no Brasil é um desafio e demanda um movimento amplo e contínuo de políticas, investimentos, financiamentos e legislação para acompanhar as evoluções do ecossistema. O país deve facilitar e estimular os diversos tipos de investimentos produtivos direcionados ao desenvolvimento
10
econômico e tecnológico, com um arcabouço jurídico que seja um fator positivo para a inovação e competitividade. Nesse sentido, desde 27 de outubro de 2016, o investidor de uma empresa nascente passou a contar com mais segurança jurídica. Foi sancionada a Lei Complementar nº 155/2016 que reconhece, e qualifica, de forma inédita, a figura do investidor-anjo, distinguindo-o do sócio regular, ou seja, aquele que participa da gestão direta da empresa. Na prática, isso significa conferir segurança jurídica ao investidor que passa a focalizar as suas atenções no sucesso da empresa investida, sem medo de que o seu eventual insucesso afete o seu patrimônio. A medida se aplica, também, aos fundos de investimento e às pessoas jurídicas que se interessam em investir em micro e pequenas empresas. Antiga reivindicação do ecossistema de startups e dos investidores do chamado Capital Empreendedor, a legislação foi um dos temas tratados nas discussões dos participantes do Laboratório de Modelagem do Programa Nacional Conexão StartupIndústria, realizado pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), no último dia 15 de setembro, em Brasília. A aprovação da proposição legislativa contou com o apoio da ABDI e é resultado de esforço coordenado e de articulação do setor privado (ecossistema de startups e representantes do capital empreendedor) com áreas do governo federal, tanto no Poder Legislativo quanto no Executivo.
“Este é um passo estratégico para um maior estímulo aos investimentos em empresas nascentes. A legislação começa a nivelar o Brasil aos ambientes de negócios mais profícuos do mundo”. Luiz Augusto Ferreira, Presidente da ABDI. 11
3.1.1.
Dilemas do investidor
Investir em uma empresa nascente já é, por si só, uma opção de risco. Ao se tornar sócio de uma empresa em estágio inicial, o investidor passa a correr riscos de toda a ordem: o produto não está suficientemente validado pelo mercado, as receitas não se estabilizaram, os clientes ainda não estão fidelizados, a estrutura de capital é frágil e o ambiente é extremamente competitivo e permeado por inúmeros entraves burocráticos. Além de correr todos esses riscos, que podem comprometer integralmente o investimento, o investidor corre o risco de ter seu patrimônio afetado em caso de passivos inesperados da empresa investida. É a chamada desconsideração da personalidade jurídica, ou seja, a não distinção entre o patrimônio da empresa e dos seus sócios, um fenômeno que tem ocorrido em algumas decisões no campo judicial, ainda que o sócio seja apenas um investidor. “Agora, com esta nova legislação, o investidor tem maior segurança para aportar recursos em empresas nascentes, o que dará um novo fôlego para a economia criativa e para o ecossistema das startups brasileiras”, comemorou a Gerente de Inovação da ABDI, Elisa Carlos Pereira.
“Agora,
com
esta
nova
legislação,
o
investidor tem maior segurança para aportar recursos em empresas nascentes, o que dará um novo fôlego para a economia criativa e para o ecossistema das startups brasileiras”. Elisa Carlos, Gerente de Inovação da ABDI.
12
3.2. Os ecossistemas internacionais de startups
O Programa Nacional de Conexão Startup Indústria busca estar conectado com os mais inovadores ecossistemas de startups pelo mundo. O empreendedorismo tecnológico é um fenômeno de global, com ecossistemas rapidamente emergindo em várias partes do mundo, cada vez mais interconectados. Nesse sentido, é de fundamental importância o conhecimento das discussões, desenvolvimentos e características dos mais avançados hubs de tecnologia e startups do mundo, além de poder integrá-los, de modo a aprender e agregar mais valor e angariar mais conhecimento de como formatar, expandir e qualificar a inserção internacional das startups e da indústria brasileira. Há 50 anos Alfred Dupont Chandler, um historiador de negócios, da Universidade de Harvard escreveu “Estratégia e Estrutura: capítulos na história da indústria americana”. O livro retrata a transformação de quatro companhias americanas: Dupont, Standard Oil, General Motors e Sears nas primeiras décadas do século XX. Foi mostrado como essas companhias lidavam com uma série de mudanças estratégicas, expansão de mercados, enormes distâncias geográficas, segmentação de clientes, diversificação da linha de produtos e por aí vai. Essas quatro companhias foram as primeiras a perceber que o seu modelo organizacional centralizado, dividido em departamentos de vendas e marketing, engenharia e manufatura, eram inadequados para as reviravoltas estratégicas. De lá para cá CEOs vêm experimentando “novos modelos organizacionais”, estratégias “modernas” de gestão, incorporando descentralização, dividindo responsabilidades, que é o modelo encontrado nos dias de hoje e, as organizações atuais enfrentam desafios ainda maiores que aqueles do início do século XX, as velhas regras de crescimento e lucro já estão dando sinais de falência. Os sintomas estão por todos os lados, como podemos ver refletido no ciclo de vida das organizações observado no índice do S&P 500 e em outras análises.
13
Figura 3. Ciclo de vida das organizações, gráfico do Standard & Poor.
Há o entendimento geral de que as organizações quando confrontadas com as inovações disruptivas têm seu ciclo de vida reduzido significativamente. No estudo liderado pelo professor da Universidade de Yale, Richard Foster8 que deu origem ao artigo da S&P 500, ficou claro que o ciclo de vida das organizações está encurtando. A redução passou para a média de 61 anos de vida nos anos 50 para 18 anos nos dias de hoje, isso significa que no ano de 2027, cerca de 75% das empresas do índice da S&P 500 são companhias que sequer existem ainda ou que nunca ouvimos falar delas. Diante dos dados fica nítida a pressão exercida sobre as organizações para operarem em um nível de performance cada vez maior e insustentável sob o ponto de vista da rigidez do modelo de atuação. A concorrência e a inovação vêm de todos os lados agora, não somente de players globais, devidamente mapeados, aparecem em mercados locais, regionais, nacionais. A implacável onda de inovação disruptiva está avançando não apenas para áreas de tecnologia, as TIC, mas está destruindo indústrias consideradas como extremamente estáveis: jornais, entretenimento, energia, saúde, educação, construção, transporte,
8
O artigo completo está disponivel aqui: https://www.innosight.com/insight/creative-destructionwhips-through-corporate-america-an-innosight-executive-briefing-on-corporate-strategy/
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comércio varejista, finanças e governos. A maior parte da inovação é proveniente de empreendedores jovens destemidos, sem medo de tentar mudar o status quo. O desafio agora é construir empresas capazes de lidar com a crescente onda de inovação.
Figura 4. “Something Interesting is Happening”, de Tom Goodwin.
No artigo The Battle Is For The Customer Interface9 (A batalha pela interface do cliente), da revista eletrônica TechCrunch, escrito por Tom Goodwin, Diretor de Estratégia e Inovação da Havas Media, fica claro que depois de um longo período de crescimento do consumo no pós-guerra, as pessoas estão comprando muito menos. Com a exceção de algumas bolhas, a crise de 2008 não só diminuiu o poder de compra da classe média, como também começou a mudar o modelo de consumo. As pessoas estão mais dispostas a viverem “experiências de consumo”, como forma de mecanismo de compensação na relação produto-cliente mais impactante, inclusive 9
Artigo disponível em: https://techcrunch.com/2015/03/03/in-the-age-of-disintermediation-the-battle-is-all-for-the-customerinterface/
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construindo relações duradouras nessas experiências. Essas experiências de consumo têm se mostrado muito mais eficientes e reconfortantes para o cliente, do que a promessa de felicidade dos comerciais sobre os produtos no século XX. É a nova explosão de um modelo de negócios completamente diferente: UBER, Airbnb, Facebook, Alibaba e outros. Se o tradicional modelo industrial de reduzir custos e aumentar o lucro está em xeque, qual é a solução então? Um caminho é a inovação disruptiva, alcançada por uma nova era da informação, produtos e serviços. E enquanto essa solução traz alento e esperança para a economia global, traz desafios tremendos para a indústria tradicional. Essa nova era da inovação disruptiva requer mudanças radicais no jeito de trabalhar, culturais, ferramentais, econômicas e de pensamento. E quem é que anda tentando se adaptar, desbravar e ter sucesso neste novo mundo cheio de desafios mais do que ninguém? As startups. Na última década, a Apple passou de uma empresa quase falida para a companhia com o maior valor de mercado do planeta, quadruplicou seu valor nos últimos 5 anos, apenas. A companhia se reinventou com seu sistema de inovação tecnológica disruptiva de “intra-empreendedorismo”, que levou ao desenvolvimento do iPhone e iPad e seus ecossistemas de “apps”. O exemplo ilustra os desafios que podem ser superados com novos modelos de negócios, adotados por empresas tradicionais que abraçaram e incorporaram as inovações proporcionadas por startups. O fenômeno das startups não é trivial e não é passageiro. É um movimento de inovação tecnológica que está tão enraizado em nossas vidas que levou ao artigo do The Economist, que comparou o fenômeno dos “empreendedores tecnológicos” ao Período Cambriano do planeta. O período Cambriano ocorreu há 540 milhões de anos, quando uma explosão da biologia, levou a vida exponencialmente a todos os cantos da terra. “The Cambrian Moment”10 no caderno especial do The Economist retrata esse momento irreversível exponencial das startups como a nova maneira de ser da sociedade atual. Aponta também a necessidade do fortalecimento de ecossistemas de
10
The cambrian Moment está disponível aqui: http://www.economist.com/sites/default/files/20140118_tech_startups.pdf
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startups, entendido como “clusters” de empreendedores tecnológicos em ambientes favoráveis ao seu pleno desenvolvimento. Mas o que startups significam para a sociedade? A inovação nunca é simples, linear. Nossa ascensão rumo à era da informação vai invariavelmente nos levar a desvios e escorregões. Por esse motivo precisamos de coragem. Da coragem de mentes destemidas e conectadas com as necessidades da sociedade em constante ebulição e evolução. A avaliação de dados precisa ser objetiva, racional e audaciosa. Precisamos de ciclos de crescimento mais ágeis com mais eficiência e inovações disruptivas para potencializar o desenvolvimento tecnológico.
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4. METODOLOGIA A ABDI, como expositora no CASE, teve acesso a um grande número de startups em um curto período de tempo, sendo muito oportuno nesta fase de concepção colher a contribuição desse público sobre o Programa. Construiu-se uma metodologia específica para o evento em que foi possível realizar as validações de soluções no espaço disponibilizado ao mesmo tempo que a Agência se insere nesse ecossistema. Percebe-se, a partir da visão do público de startups que têm interesse na área industrial, a falta de um ambiente próprio para essa interação e que a conexão precisa de um acompanhamento e fomento para o sucesso dessa relação.
4.1. Tipo de Pesquisa Com o objetivo de aumentar a compreensão da aderência dos problemas e propostas de soluções do Programa, a presente ação teve caráter exploratório, qualitativo e quantitativo. Conforme observado por Selltiz et al (1967), em pesquisas que têm como objetivo familiarizar-se com o fenômeno ou conseguir nova compreensão do mesmo, estudos do tipo exploratórios são os mais indicados. Assim, o planejamento da pesquisa deve ser flexível, de modo a permitir a consideração de muitos aspectos diferentes de um fenômeno. Para Malhotra (2001:105-106):
“A pesquisa exploratória é usada em casos nos quais é necessário definir o problema com maior precisão, identificar cursos relevantes de ação ou obter dados adicionais antes que se possa desenvolver uma abordagem. As informações necessárias são definidas apenas ao acaso neste estágio e o processo de pesquisa adotado é flexível e não estruturado. ”
18
Seguindo uma uniformidade das ações de construção do Programa a partir de dados primários (conforme ANDRADE, 1993, dados que foram coletados pela primeira vez pelo pesquisador para a solução do problema, podendo ser coletados mediante entrevistas, questionários e observação e que ainda não foram utilizados em nenhum estudo
ou pesquisa), a
interação na
Conferência
Anual de Startups e
Empreendedorismo (CASE) foi pensada também sob essa mesma ótica.
4.2. Conferência Anual de Startups e Empreendedorismo (CASE) Como patrocinadora e expositora do CASE, a ABDI se utilizou de um estande como forma de aproximação aos 6.500 visitantes. A atividade de validação das soluções foi, portanto, adaptada a essas condições. Criou-se uma ação autossuficiente e autoexplicativa, servindo com lócus de aproximação dos founders de startups brasileiras com perfil industrial. Foram dispostos estrategicamente as 6 soluções e os 6 problemas já minerados nas iterações anteriores. Os visitantes do estande foram convidados a votar no problema e na solução que consideravam mais importantes e relevantes. Figura 5. Estande ABDI no CASE 2016
O espaço de 9m² foi então concebido em duas vertentes: 1. Duas fontes de informação sobre o Programa a. Uma equipe de cinco pessoas da Agência b. Uma televisão com um vídeo explicativo do Programa 19
Figura 6. Estande ABDI no CASE 2016 - Televisão
2. Três pontos de coleta de informação auto explicativos a. A parede principal foi o principal ponto de levantamento da percepção dos visitantes sobre as hipóteses de soluções. As soluções listadas são resultado da mineração realizada nas interações anteriores baseadas na visão das startups.
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Quadro 1. Estande ABDI no CASE 2016 - Propostas de Soluções
Uma coluna do estande foi o ponto de levantamento da percepção dos visitantes sobre os problemas de conexão identificados
Soluções 1. 2. 3. 4. 5.
6.
Programas de aceleração e mentorias industriais Recursos financeiros disponíveis para startups Ambiente de teste e desenvolvimento de soluções para startups Mapeamento de demandas industriais para startups Incentivo a processos ágeis nas indústrias para interação com startups Criação de ambientes de interação startups-indústrias qualificados
Quadro 2. Estande ABDI no CASE 2016 – Soluções
Problemas 1.
2. 3. 4. 5.
6.
A indústria demanda por competências técnicas específicas e alta capacidade gerencial Construir reputação é processo demorado no setor industrial Dificuldade em desenvolver soluções adequadas ao processo industrial As demandas das indústrias exigem dinheiro para serem atendidas O processo decisório da indústria é complexo e lento As demandas industriais não são completamente expostas a parceiros
Um balcão foi utilizado para um exercício de ligar as hipóteses de soluções aos problemas de conexão identificados. Embora o foco maior da dinâmica fosse a validação das soluções, os problemas foram inseridos na dinâmica para que as soluções fizessem sentido. “Soluções para quê?”
21
Figura 7. Estande ABDI no CASE 2016 - Problemas versus Soluções
A dinâmica criada a partir dessas definições permitiu que os visitantes do estande votassem nos problemas e soluções que eram os mais importantes na sua percepção. O visitante também poderia contribuir com novos problemas e soluções escrevendo-os nas áreas correlatas. Quadro 3 - Estande ABDI no CASE 2016 - Dinâmica
22
23
5. VALIDAÇÃO Ao todo, 413 pessoas visitaram o estande da ABDI, opinando e votando, sobre o Programa, sobre os problemas da conexão startup indústria, mas em especial, sobre as propostas de soluções que o Programa irá dispor em seus ciclos de execução. Diversos perfis demonstraram interesse em entender melhor a relação da indústria nacional com startups. Desde os empreendedores que tinham apenas ideias de soluções para a indústria; startups que já vendem para indústrias e gostariam de ter mais escala; agentes do ecossistema; grandes empresas; mas um perfil em especial destacou-se, startups já mais maduras em processo de validação do seu MVP com a indústria, ou seja, que buscam com ela uma construção colaborativa de solução. Dessas interações, pode-se observar o seguinte:
Figura 8. Relevância dos problemas (Votos por problema)
Outros problemas elencados pelos visitantes: ·
Preconceito das indústrias com startups
·
Conectar ideias com o mercado
·
Indústria brasileira é tecnologicamente conservadora
·
Indústria tem resistência do desconhecido
24
·
A indústria demanda por projetos que nem sempre estão ligados à inovação
·
Cultura de aversão a risco
·
Dificuldade de implementação
·
Dificuldade de prototipação com a cultura da indústria
·
Burocracia
·
Compliance. Muita dificuldade na aprovação de documentos
·
As demandas são específicas para cada projeto
·
O processo criativo da indústria é falho por ser burocrático e metódico
·
Indústria deve ser conscientizada
Infere-se sobre os dados primários coletados no CASE que, o principal gargalo da conexão startup indústria está na fase inicial da conexão. De maneira geral, “startups” conflitam com a aversão ao risco da indústria já no primeiro contato pela sua natureza conceitual, vide definições de Steve Blank e Eric Ries. Embora tenha sido apontado pelas startups que a indústria não abre completamente suas demandas como um desafio para elas, esse ponto não se mostrou como problema nas interações anteriores, em especial nas etnografias com a própria indústria, quando o relacionamento de confiança já está estabelecido, como é o caso da ABDI. O restante dos “problemas” diz respeito à realidade industrial no País, ou seja, uma indústria com processos produtivos bem estabelecidos para atender o nível de exigências dos seus clientes, normatizações e regulações e que busca reduzir seus custos de produção e aumentar a sua produtividade.
25
Figura 9. Relevância das propostas de soluções (Votos por soluções)
Outras propostas de soluções elencadas pelos visitantes: ·
Dar feedback para os projetos aprovados no Programa e indicar para outros projetos que possam fazer sentido
·
Mostrar startups efetivas para indústria
·
Divulgar sucessos obtidos em instituições como o IPT. Fazer marketing nesses órgãos
·
Sistemas de transparência para certificações
·
“Faculdades industriais”
·
Dar acesso a indústria para startups
·
Conectar lideranças
·
Reduzir barreiras
·
Reduzir complexidade do processo decisório da indústria
·
Hubs
·
Sensibilização da indústria através de cases e testes
·
Ambiente de validação de soluções
·
Marketing das indústrias sob as ações de inovação
·
Inclusão das IEs e aceleradoras como agentes efetivos no process 26
·
Utilizar universidades públicas para conectar empreendedores tecnológicos a uma indústria investidora
·
Maior envolvimento das universidades
·
Hackathon da indústria
·
Leis de incentivo
·
Criar centros de produção para pequenos lotes com custo reduzido e compartilhado de produção
·
Recursos para realizar pilotos
·
Apoio em visibilidade
·
Internacionalização de startups
·
Recursos financeiros específicos industriais disponíveis para startups
·
Flexibilizar a lei de informática para torná-la viável para contratação de startups
·
Cases internacionais
·
Ações nas escolas
·
Criar núcleos onde a ABDI pode gerar valor (para onde ninguém está olhando)
·
Mapear startups industriais
·
Aproximar indústrias com as incubadoras
·
Oferta de fornecedores para startups industriais
A partir dos dados acima, a área de maior oportunidade a ser explorada conexão startup indústria no Programa é o apoio a criação de ambientes qualificados de interação. Recorrendo às interações anteriores, esse ambiente deve ser neutro e livre de interesses que enviesem essa aproximação. Há também um conjunto de soluções que dizem respeito a apoiar o processo de desenvolvimento conjunto de soluções e produtos de startups e indústrias. Se agrupadas, responde a 58% do total de soluções (Mapeamento de demandas industriais para startups, incentivo a processos ágeis nas indústrias para interação com
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startups, Ambiente de teste e desenvolvimento de soluções para startups, recursos financeiros disponíveis para startups). Em que pese a importância de programas de aceleração e mentorias em um aspecto geral para startups, iniciativas desse tipo com foco industrial apresentaram menor peso em comparação outras soluções na perspectiva do público visitante do estande. Provavelmente por já existirem diversas iniciativas de sucesso no mercado.
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6. PRÓXIMOS PASSOS 2016 O próximo evento no roadmap de construção do Programa junto aos parceiros, é o evento ABIMAQ Inova. A parceria entre a ABDI e a ABIMAQ, Associação Brasileira da Industria de Maquinas e Equipamentos, tem a intenção de apoiar a aproximação da indústria de bens de capital (BK) brasileira às startups industriais. No evento a se realizar dia 24/11, a partir da discussão de cases envolvendo a interação entre indústrias e startups brasileiras, espera-se trazer para a agenda da indústria de BK nacional, a rota da inovação por meio da interação com as startups, além da divulgação do Programa Nacional Conexão Startup Indústria e da validação de suas diretivas. Paralelamente, serão realizadas pela equipe ABDI, uma nova rodada de visitas etnográficas às empresas paulistanas. As informações colhidas durante o ABIMAQ Inova e visitas etnográficas, além da validação levam o programa à convergência para sua formatação final. Após a composição das parcerias para a composição do programa ocorrerá o lançamento oficial do Programa, que está previsto para dezembro de 2016.
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7. ANEXOS. DADOS BRUTOS Tabela 1. Problemas
PROBLEMAS
VOTOS
O processo decisório da indústria é complexo e lento As demandas industriais não são completamente expostas a parceiros externos Dificuldade em desenvolver soluções adequadas ao processo industrial A indústria demanda por competências técnicas específicas e alta capacidade gerencial Construir reputação é processo demorado no setor industrial As demandas das indústrias exigem dinheiro para serem atendidas Total
% 37
31%
35
29%
22
18%
11
9%
9
7%
7
6%
121
100%
VOTOS
%
Tabela 2. Soluções.
SOLUÇÕES Criação
de
ambientes
de
interação
startup-indústria
qualificados
88
34%
Mapeamento de demandas industriais para startups
40
16%
37
14%
startups
36
14%
Recursos financeiros disponíveis para startups
35
14%
Programas de aceleração e mentorias industriais
21
8%
257
100%
Incentivo a processos ágeis nas indústrias para interação com startups Ambiente de teste e desenvolvimento de soluções para
Total
30
8. CANAIS Com objetivo de mantê-los atualizados e escutá-los sobre os próximos passos na construção do Programa Nacional Conexão Startup Indústria, a ABDI convida a todos para acompanhar o Programa nos seguintes canais:
@ConexaoABDI
www.conexaostartupindustria.com.br ou nos contate pelo e-mail:
[email protected]
Queremos ouvir suas percepções, sugestões, contribuições! Agradecemos a parceria!
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