Sumário Executivo BRASIL PRECISA CRIAR UMA AGENDA POSITIVA PARA REVERTER A TRAJETÓRIA DE QUEDA EM RANKING GLOBAL DE COMPETITIVIDADE
EUA perde a liderança para Hong Kong. Argentina é destaque no relatório, avançando quatro posições
Em 57o lugar no ranking mundial do IMD, o Brasil acumula uma perda de 19 posições em seis anos no Relatório Global de Competitividade. Depois de atingir sua melhor posição em 2010 (38º lugar) neste relatório que é publicado desde 1989 pelo IMD (Suíça) e que no Brasil conta com a parceria da Fundação Dom Cabral, o Brasil se mantém no bloco dos países menos competitivos do mundo ficando à frente apenas da Croácia, Ucrânia, Mongólia e Venezuela. No topo do ranking os destaques são Hong Kong e Suíça, que ultrapassaram os Estados Unidos ficando na 1ª e 2ª posição respectivamente. Como destaca o coordenador do estudo, Prof. Arturo Bris, os países mais competitivos do mundo têm em comum o foco na criação de um ambiente regulatório amigável para a atividade empresarial, além de infraestrutura e instituições eficazes e inclusivas. Na América Latina apenas o Chile (36º lugar) não está entre os 20 países menos competitivos e a Argentina é destaque no relatório deste ano avançando quatro posições, inclusive o Brasil. Colômbia e o Peru mantiveram suas posições em 54a e 51a respectivamente e a Venezuela se confirma como o país menos competitivo do mundo.
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Ranking Global de Competitividade segundo o World Competitiveness Yearbook 2016
Brasil 2016 se mantém entre os países menos competitivos do mundo O Brasil obteve este ano uma pontuação de 51.676 pontos no índice agregado de competitividade, o que, na metodologia deste relatório, indica a posição dos países com relação àquele considerado o mais competitivo. Isso significa que o país está 51.676 pontos atrás de Hong Kong primeiro colocado de 2016. Em relação ao ano passado, o Brasil obteve uma melhora absoluta de 4.286 pontos, mas em comparação com a pontuação de 2010 - ano em que o Brasil ocupou sua melhor posição no ranking (38ª posição) – o país apresentou uma perda de cerca de 10%. Ou seja, a perda de competitividade apresentada em 2016 não é apenas relativa, mas também absoluta se observado no longo prazo; fato que se reflete no distanciamento contínuo da posição do Brasil com relação às nações mais competitivas.
Figura 1: Evolução do Brasil no Ranking de Competitividade (2009-2016) Fonte: Elaboração FDC a partir dos dados do WCY 2009-2016
A queda de uma posição do Brasil em relação ao ano passado é analisada a partir de quatro fatores, cada um divido em mais 5 subfatores. O resultado brasileiro nestes fatores e subfatores está apresentado na Figura 2 abaixo:
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Os fatores Desempenho da economia e Eficiência do governo apresentaram pioras em relação ao ano passado sendo que o primeiro desceu 4 posições e o segundo 1 posição. O fator Eficiência Empresarial continuou em 51a e o fator Infraestrutura subiu 7 posições, alcançando a 46a.
Figura 2: Resultado do Brasil por Fator de Competitividade (2015-2016)
Desempenho Econômico O fator Desempenho Econômico do Brasil vem apresentando pioras desde 2011, quando atingiu sua melhor posição (30a). Atualmente, na posição 55a, o único subfator que obteve melhoras foi o de comércio internacional - que subiu 4 posições chegando em 52a. Figura 3: Resultado do Brasil em Desempenho Econômico (2009-2016)
O limitado grau de abertura para o comércio externo apresenta impactos significativos neste quesito. Dentre os dados analisados, temos que o saldo da conta atual brasileira foi a terceira pior dentre os 61 países. Com um déficit de 58 milhões de dólares, a média dos países analisados é um superávit de 13 milhões. Outros dados em que o Brasil teve um desempenho ruim, ficando entre os últimos, são exportação de bens e de serviços, taxa de câmbio e receitas de turismo. O Brasil ficou em segundo lugar na participação do PIB em importação de bens e serviços com alto crescimento desta taxa. O subfator preços também desceu 1 posição sendo que a taxa de inflação ajustada de preços para o consumidor ficou em 59a com um valor de 9.03% em relação à média de 4.47% da pesquisa. O subfator Emprego caiu seis posições e ficou em 27o lugar. Grande parte desta queda se explica devido ao aumento do desemprego – que foi de 14o para 43o este ano. No
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entanto, o Brasil ainda mantém um bom índice de empregados e figura em quinto lugar devido ao tamanho do mercado de trabalho do país. Já o subfator Economia Doméstica foi o que apresentou piores resultados com a derrocada de 10 posições. Dentre os dados analisados desse subfator, o crescimento do PIB ficou em antepenúltimo devido ao encolhimento da economia em 3,9%. Além disso, a formação fixa de capital bruto atingiu o 59o lugar descendo 15 posições em relação ao ano passado, assim como a despesa de consumo das famílias, que caiu 52 posições saindo de 9% de consumo em 2015 para 4% em 2016. A despesa de consumo do governo também sofreu queda de 17 posições chegando a -1,05% em comparação com 2,06% de despesa de consumo médio nos demais países. O último subfator ‘investimento internacional’ desceu uma posição, apesar do aumento influxos em termos absolutos. Ao todo são mais de 75 bilhões de investimentos no país, em relação aos 62 bilhões do ano anterior. Todavia, o valor de 2015 ainda sim é referente a uma perda relativa de investimentos, uma vez que a média dos demais países antes era de 20 bilhões e este ano subiu para 27 bilhões. Com isso, o Brasil que antes ficava em quinto nesse requisito, desceu para sexto em 2016. A queda neste quesito reflete a perda de credibilidade, assim como o aumento da taxa de risco para se investir no país devido à instabilidade econômica e política atual. Eficiência do Governo A eficiência do governo vem apresentando pioras constantes desde 2009 até chegar em último lugar em 2016. Dentre seus cinco subfatores, a Estrutura Institucional, Legislação dos negócios e Estrutura Social se mantiveram nas mesmas posições do ano passado, Figura 4: Resultado do Brasil em Eficiência do Governo (2009-2016)
respectivamente 60a, 59a, 60a. O ítem finanças públicas desceu três posições chegando em último lugar e política fiscal desceu duas posições e ficou em 37a. A relação entre excedente e défcit do orçamento do governo ficou com um valor negativo de -184 bilhões, com uma média de -10% comparada à média dos demais paises de -2% (58o lugar). Isso reflete o deterioramento das contas públicas desde o ano passado, em que o valor do déficit no orçamento era de -146 bilhões e cuja média estava em torno de 6%. Ainda nesse subfator o Brasil ficou em penúltimo no pagamento de juros (% da receita corrente) e a comunidade de executivos analisou a eficiência da gestão de finanças públicas como péssima, também ficando em penúltimo lugar. No que se refere à estrutura institucional, os dados que avaliam a percepção dos empresariado mostram uma tendência pessimista. A comunidade empresarial brasileira avaliou negativamente os critérios de transparência, burocracia e decisões do governo assim como corrupção. Estes critérios ficaram entre os 3 piores dentre os 61 países avaliados. É possível perceber uma piora significativa em todos esses resultados de percepção, uma vez que nos últimos dois anos a tranparência do governo caiu cinco posições e a capacidade do governo de adaptação das políticas públicas caiu nove
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posições, ocupando atualmente o penúltimo lugar. Este resultado da pesquisa de opinão pouco surpreende, haja visto a crise de governabilidade e de ética vivenciada ao longo de 2015 e 2016. As investigações de corrupção e lavagem de dinheiro, notadamente da operação Lava-Jato, envolveram nomes de elevada expressão política e econômica. Este resultado evidencia, no entanto, como a percepção pessimista do empresariado afeta as expectativas dos agentes aumentando o grau de incerteza da economia e piorando a credibilidade do governo. As políticas do Banco Central também foram mal avalidadas e este quesito ficou em 59o. A falta de diretriz no governo afetou o lado da política fiscal. Não houve uma liderança para a criação de uma convenção e na alocação de uma política fiscal que conduzisse a política econômica. Os relatórios globais de competitividade tanto o World Competitiveness Report publicado pelo IMD quanto o Global Competitiveness Report publicado pelo Fórum Econômico Mundial – ambos em parceria com a Fundação Dom Cabral – se baseiam em um conjunto diversos de variáveis estatísticas (chamadas de hard) que são obtidas junto a fontes nacionais (Bancos Centrais, Ministérios, Institutos de Pesquisa e Estatística, etc.) e internacionais (FMD, Banco Mundial, Transparência Internacional, etc.) que para composição dos rankings são combinadas com os resultados de pesquisas de opinião realizadas em cada um dos países participantes. No Brasil a pesquisa de opinião está sob a responsabilidade da Fundação Dom Cabral que acessa cerca 6.000 executivos brasileiros de diferentes setores e regiões em empresas de diferentes portes. A pesquisa para o World Competitiveness Report 2016 foi realizada entre os períodos de janeiro a abril e contou com a contribuição de mais de 5.400 executivos nos 61 países pesquisados.
Eficiência Empresarial Houve estabilidade em relação ao posicionamento do fator Eficiência Empresarial. Na série histórica, a trajetória foi de avanço no início da década, seguido de queda desde 2013.
Figura 5: Resultado do Brasil em Eficiência Empresarial (2009-2016)
Dentre os cinco subfatores analisados, houveram perdas em ‘produtividade e eficiência’, ‘finanças e atitudes’ e ‘valores’ com rebaixamento respectivamente de 1, 5 e 2 posições. O crescimento real da produtividade brasileira caiu de 48a posição para 60a figurando em -5,33 (% de mudança do PIB) em um ano. A produtividade das companhias e dos trabalhadores continuou na mesma posição respectivamente 60a e 58a. No subfator ‘atitudes e valores’, a imagem e marca das empresas brasileiras, segundo os executivos, sofreu uma piora e ficou em antepenúltimo lugar no ranking. A notas médias dos países de 6,08 em imagem e marca ultrapassou bastante a média do Brasil de 2,95 este ano e do ano passado de 3,96. Além disso, a percepção do empresariado brasileiro
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sobre reformas econômicas também se tornou mais urgente uma vez que o fator ficou em antepenúltimo. No subfator de práticas gerenciais, o empreendedorismo caiu 7 pontos chegando em 48a colocação. A satisfação do consumidor também caiu 6 posições e ficou abaixo da média dos demais países. No subfator mercado de trabalho, houve um aumento de 16 posições principalmente pelo crescimento da força de trabalho de 6,45% este ano sendo a média dos demais países 1,17%. Este dado representa um crescimento ainda favorável da população para a economia mesmo que o Brasil já tenha entrado nos primeiros estágios do envelhecimento populacional. Este aumento da população ativa pode acabar por pressionar ainda mais o desemprego, uma vez que o desaquecimento da economia reduziu o mercado de trabalho. Considerando que o emprego caiu 29 posições este ano e a economia brasileira não está dando sinais de uma recuperação rápida, supõe-se que grande parte dos novos entrantes no mercado não conseguirão se inserir na economia, agravando as taxas de desemprego, notadamente entre os jovens, assim como consequente aumento da economia informal e gastos assistenciais do governo.
Infraestrutura O fator Infraestrutura foi o único que apresentou uma melhora significativa este ano com o ganho de 7 posições (46a). Este fator passou por várias oscilações ao longo do tempo.
Figura 6: Resultado do Brasil em Infraestrutura (2009-2016)
Com uma tendência negativa até 2011, com a Copa do Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016, houve uma melhora de 6 posições em 2012, reflexo do aumento dos investimentos, principalmente na infraestrutura básica. No entanto, o país voltou a perder competitividade neste fator no período 2013-2015 com o desaquecimento da economia. Em 2016, o aumento de posições se deve também a uma mudança de metodologia pelo IMD. No que diz respeito à infraestrutura tecnológica, houve uma mudança na métrica que fez com que o Brasil subisse 35 posições e ocupasse hoje o quinto lugar. O investimento em telecomunicações que até o ano passado era calculado pela porcentagem do PIB no setor, e a partir desse ano passa a ser medido pelo gasto de capital anual agregado. Um outro exemplo é o custo de telefones celulares que era calculado pelas tarifas em dólares cobradas por minuto em ligações locais e hoje é calculado por média anual de receita por cliente. Nesse caso, o Brasil subiu 48 posições e hoje está em décimo lugar.
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O subfator infraestrutura básica manteve seus indicadores relativamente estáveis e obteve ganhos relativos aos demais países ao subir 5 posições. Este ganho se deu em parte devido à melhoria de 8 posições na variável “acesso a agua” que em 2015 devido à crise hídrica colocou o Brasil na última posição neste indicador. Gestão da logística, distribuição, infraestrutura energética e transporte pluvial continuam entre os piores do mundo ocupando o pais as posições últimos no ranking (gestão da logística: 60º; distribuição: 60º, infraestrutura energética: 58º, transporte pluvial: 59ª). Neste bloco de variáveis de infraestrutura básica além da melhoria no acesso a agua a única variável que apresenta melhorias relevantes foi na qualidade do transporte aéreo tendo saído da 59ª posição em 2015 para a 53ª posição em 2016. Muito aquém das necessidades do país, mas consistente com os movimentos de privatização e investimentos na infraestrutura aeroportuária brasileira. No subfator tecnológico, a qualidade dos engenheiros subiu 10 posições e foi medida de acordo com a questionário de opinião executiva do empresariado brasileiro, o que evidencia um pensamento mais positivo sobre a educação superior no Brasil apesar do sistema educacional brasileiro ter ficado em último lugar e a qualidade das universidades em antepenúltimo. No que se refere à saúde, os gastos aumentaram fazendo com que o índice subisse cinco posições. No Brasil, gasta-se mais uma média de mais de 9% do PIB neste setor, comparando-se com a média geral dos países que é de 7,7%. A parte de gastos públicos representa 48,2%, sendo o resto gasto da população em seguro de saúde e hospitais privados. O indicador de problemas de saúde subiu 2 posições e a mortalidade infantil subiu 5 posições chegando a 54a. Esses dados refletem as atuais dificuldades do sistema de saúde brasileiro tanto na gestão de recursos e distribuição de médicos pelo território, quanto pelas atuais epidemias como Zika, Dengue, H1N1 e Chikungunya. Se analisarmos os subfatores saúde, educação, ciências e tecnologia separando os indicadores de volume dos indicadores de qualidade somos levados a concluir que o desafio da competitividade brasileira está em fazer bom uso dos recursos públicos e privados investidos. O Brasil ocupa a 5ª posição no indicador de investimentos em tecnologia, mas apenas a 58ª posição no indicador de qualidade das telecomunicações. O país ocupa a 8ª posição no indicador de gastos totais em P&D ($39 bilhões em 2013) mas apenas a 53ª posição no indicador do número de patentes validas internacionalmente (2,8 por 100.000 habitantes). O país investe 9,5% do PIB em saúde (12ª posição) mas ocupa apenas a 60ª posição no indicador de qualidade do setor de infraestrutura. Em 2014 o país investiu 6,4% do PIB em educação (9ª posição entre os 61 países pesquisados) mas ficou na 45ª posição na avaliação de qualidade de educação básica o teste PISA realizado pela OCDE (neste teste os alunos brasileiros de 15 anos ficaram na posição 55 no ranking de leitura, 58 no de matemática e 59 no de ciências) já na avaliação dos executivos entrevistados o sistema educacional do país ficou na 59ª posição.
Brasil & Argentina Dentre os países latinos, o Brasil está mais próximo da Argentina, ficando atrás por 2.072 pontos. A Argentina apresentou bons ganhos de competitividade em relação ao ano passado, com um aumento de 11.009 pontos, mais do que o dobro do desempenho brasileiro.
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A Argentina apresentou melhoras nos diversos pilares de competitividade. Com a entrada do Presidente Macri no governo, o populismo de Kirchner deu espaço para o partido liberal e conservador do novo presidente. Esta troca recente de governo apresentou reflexos sobretudo na opinião dos executivos, uma vez que o impacto real na economia ainda é demasiadamente prematuro. Com efeito, o fator eficiência do governo avançou duas posições do ranking. Já o subfator finanças públicas subiu 12, a estrutura institucional seis e estrutura social 17 posições. Eficiência do Governo 61
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60
57 55
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2012
2013
61 58
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2014
Brasil
2015
2016
Argentina
Figura 6: Resultados da Argentina e do Brasil em Eficiência do Governo (2012-2016)
O novo governo traz consigo uma estabilidade política maior com aumento de credibilidade no setor público argentino. As novas expectativas podem ser sentidas através dos dados que analisam a percepção do empresariado argentino através do questionário feito pelo IMD. Os executivos avaliaram uma melhora na transparência que chegou a ser posicionado em 23o lugar, subindo 37 pontos em relação à 2015, quando ficou em penúltimo lugar. Foram ressaltados como pontos fortes a capacidade de adaptação das políticas do governo e a confiança da população nas políticas formadas. A percepção do empresariado foi responsável por parte do bom desempenho do país no fator Eficiência do Governo, uma vez que os questionários de opinião executiva têm um peso de um terço no resultado da pesquisa de competitividade. A análise otimista dos executivos é importante no sentido de formação de expectativas econômicas do país, o que pode afetar o nível de investimentos e o grau de incerteza dos agentes. Enquanto a Argentina teve o risco de instabilidade política muito reduzido chegando a 43a colocação, o Brasil está em 56a (aumento de duas posições em relação ao ano passado). Ainda com alguns efeitos da crise econômica, a Argentina tem a relação entre excedente e déficit do orçamento do governo em uma média de -8%, enquanto a média dos demais países gira em torno de -2%. O Brasil fica 8 posições abaixo (58a) com um déficit de -108 bilhões em relação aos -43 bilhões da Argentina. Com a queda do desempenho econômico na década de 90 sob o modelo neoliberal, a Argentina apostou na expansão da indústria primária com a alta das commodities, assim como o Brasil. Apesar de um crescimento econômico temporário baseado no aumento das exportações, a dependência do setor primário acarretou a redução de investimentos e baixa ênfase em tecnologia, além da baixa capacidade de geração de empregos do setor, afetando diretamente a política populista do país. No que se refere ao investimento internacional, a Argentina apresentou melhoras subindo 12 posições e galgando o 41o lugar. Dentre os indicadores de desempenho
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econômico, a formação bruta de capital fixo ficou em 35o lugar. O crescimento real das despesas de consumo das famílias ainda continua baixo com uma média de 0,38% em relação à média do IMD que é 2,23% o que ainda assim é maior que a média de -4% do Brasil. Os gastos de consumo do governo ficaram em 12o lugar no ranking com uma média de 3,98%, enquanto o Brasil apresenta uma média de -1,05% e ficou em 57o. Os subfatores de infraestrutura tecnológica e científica apresentaram melhoras subindo respectivamente 4 e 3 posições no ranking. No entanto, o país ainda fica nos 10 últimos nos indicadores de financiamento disponível para o desenvolvimento tecnológico, e cooperação tecnológica entre países, mesmo que ainda na frente no Brasil. Nos indicadores de parcerias público-privadas ficou em 44o, e quanto aos engenheiros qualificados, 36o, o que representa 13 posições acima dos brasileiros.
Competitividade no Mundo em 2016
Os Estados Unidos deixaram depois de 2 anos seguidos a primeira posição no ranking de competitividade. No primeiro lugar ficou Hong Kong seguido pela Suíça, que subiu duas posições em relação ao ano passado. Entre os dez primeiros colocados, Cingapura caiu uma posição e a Suécia subiu quatro, chegando ao quinto lugar. O Canadá obteve seu pior desempenho nos últimos anos ficando em décimo com o declínio de 5 posições em relação a 2015. A Irlanda por outro lado apresentou uma incrível recuperação com um ganho de 9 posições saindo da 16a para a 7a posição. A Holanda teve também um bom desempenho com uma ascensão de 7 posições, saindo da 15ª para o oitavo lugar esse ano. Dentre os países mais competitivos de 2015, somente Luxemburgo e Alemanha não se mantiveram entre os 10 primeiros, tendo ambos uma queda de 2 posições passando a ocupar a 11ª e 12ª posições respectivamente.
Figura 7: Top 10 Economias mais competitivas em 2016
A chegada de Hong Kong em primeiro lugar está diretamente relacionada não só a um desempenho geral superior, como também com a queda em valores absolutos dos Estados Unidos. Enquanto o país asiático subiu 3.963 pontos no ranking este ano, os EUA tiveram uma queda de 2.119 pontos em valores absolutos. Os americanos mantêm uma performance econômica em primeiro lugar desde 2012, enquanto Hong Kong subiu em 2016 para a quinta posição o que representa em valores absolutos, um ganho surpreendente de 18.471 pontos. No entanto a maior diferença entre os dois países está no fator Eficiência do Governo em que Hong Kong desde 2012 oscila entre primeiro e segundo lugar e em 2016, ficou em primeiro lugar com uma diferença de 33.499 pontos à frente dos Estados Unidos, que ficaram em 25a pior posição desde 2013. Além disso,
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Hong Kong também saiu em vantagem na Eficiência Empresarial ficando no primeiro lugar enquanto os Estados Unidos desceram para sétimo. Dentre os países asiáticos, somente Hong Kong e Cingapura apresentaram um desempenho de destaque. Dentre os 25 melhores do mundo, a Ásia é representada pela República da China ocupando o 22o lugar com uma queda de 3 posições, Taiwan (14o) também com queda de 3 posições e Malásia (19o) com queda de 5 posições. Fora dos top 20, há o Japão em 26o lugar, único país (desconsiderando Hong Kong e Cingapura) a apresentar uma melhora subindo uma posição e a Indonésia seis posições abaixo em relação ao ano passado ocupando o 48o lugar. Na América do Norte, o México também acumulou quedas significativas, descendo de 39o para o 45o lugar. Na América Latina, com exceção do Chile (36º) que apesar de perder uma posição se manteve entre os 40 países mais competitivos, México (45º) Colômbia (51º), Peru (54º), Argentina (55º), Brasil (57º) e Venezuela (61º) figuram entre as 10 economias menos competitivas do World Competitiveness Yearbook 2016. Países em destaque: Irlanda, Holanda e México A Irlanda subiu nove posições este ano chegando ao sétimo lugar no ranking. Dentre seus indicadores mais destacados, tem-se o crescimento do PIB de 4,8 para 7,8 bilhões, ficando em primeiro lugar. Além disso o país teve uma diminuição do déficit de -4,11 para -2,30 e ficando acima da média dos demais países de -2,44. Nos quatro fatores, a Irlanda teve aumento de 6 posições do desempenho econômico, 2 posições em eficiência do governo, 1 posição em Infraestrutura e 11 posições em eficiência empresarial. Em relação à eficiência empresarial, a Irlanda deu um passo à frente no apoio hábil às atividades empresariais com a melhora de serviços bancários e financeiros, disponibilização de capital de risco acima da média mundial (14o no ranking) e custo de capital também abaixo da média geral. Esses fatores são essenciais para o encorajamento do desenvolvimento de novos negócios no país assim como a manutenção das empresas já existentes como uma importante base para o aquecimento da economia. Dentre os piores resultados irlandeses, há o indicador de emprego em 48o lugar. A taxa de desemprego atingiu 9,44% este ano, um resultado pior do que a média geral de 7,57%. A infraestrutura básica também se destacou negativamente em 40a posição, com menor competitividade em tamanho do mercado interno e baixa produção de energia não renovável como petróleo, gás, energia nuclear. A Holanda obteve um aumento da competitividade com a ascensão de 7 posições, chegando ao oitavo lugar no ranking. Assim como a Irlanda, o país também obteve melhoras no crescimento do PIB de 2,0% em relação ao ano passado com crescimento de 0,9%. Também houve uma diminuição do déficit de -2,30 para -1,83%. Dentre outros destaques, a Holanda conseguiu aumentar as exportações de serviços ficando em nono lugar. Além disso, o país apresenta como pontos fortes a inflação ajustada ao poder de compra de consumidores (2o lugar), força de trabalho qualificada (3o lugar), grande diversificação da economia (4o) e parcerias público-privadas em infraestrutura científica (1o), encorajando a cultura de pesquisa e desenvolvimento. Em linhas gerais, o fator de desempenho da economia da Holanda avançou nove posições chegando em nono
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lugar. Já a eficiência do governo desceu duas posições para a 15a devido às políticas fiscais do país. Diferentemente da Irlanda e Holanda, o México foi um dos países que mais perdeu competitividade em 2016 caindo da 39ª para a 45ª posição. O país que já ocupou um lugar de destaque neste relatório ocupando em 32ª posição em 2013 apresenta em 2016 um comportamento similar aos demais países latinos americanos, i.e., baixa eficiência no setor público (46ª posição no fator agregado) e infraestrutura básica, cientifica, tecnológica e educação aquém das necessidades e expectativas do país (53º no fator infraestrutura, 48º no subfator infraestrutura básica, 45º no subfator infraestrutura cientifica, 55º em tecnologia e 60º no subfator educação). Como vários outros países latino americanos o México se caracteriza por graves problemas éticos e de governança pública e privada seja nas questões relativas a transparência do governo (55º), corrupção (55º) e economia paralela (55º) como também nas questões de segurança (52º) e de eficiência do setor judiciário (56º). O México vive um período crítico de reformas em seus sistemas regulatórios, necessárias, mas pouco populares tendo avançado em 2016 quatro posições no relatório Doing Businesses do FMI. No entanto o mesmo FMI desta que o país vive um período de baixo crescimento da economia (projeção de 2,4% em 2016 contra 4,0% em 2013 contra 2,6% em 2015) com manutenção de altos índices de desigualdade social, baixa qualidade da educação e pouco investimento em inovação (GINI Index: 48,1 ocupando a 56ª posição no relatório, fator educação 60ª posição e 0,54% do PIB investido em ciências, tecnologia e inovação em 2014 o que coloca o país na 50ª posição).
Considerações Finais: o Brasil precisa de uma agenda positiva O desempenho do Brasil no ranking de competitividade este ano é consequência não apenas de questões conjunturais, mas também do esgotamento de um modelo de crescimento. Ainda que se espere que a resolução de desafios de curto prazo, tais como déficit fiscal e controle da inflação, represente ganhos relativos nos rankings dos próximos anos, a economia brasileira precisa se reinventar para avançar em competitividade de forma robusta e significativa. Os programas sociais de redistribuição de renda, implementados com objetivo de estimular o motor da demanda interna, foram baseados no aumento real dos salários brasileiros. Como esses programas dependem da taxa de investimento no Brasil, assim como no produto corrente e exportações, se tornaram insustentáveis no atual contexto de recessão, uma vez que o aumento dos salários reais gerou restrição do balanço de pagamentos. Por não ter tido investimentos suficientes em infraestrutura (considerando todos os pilares do World Competitiveness Yearbook: infraestrutura básica, tecnológica, ciências, saúde e educação), o salário aumentou mais do que a produtividade marginal do trabalho e não resultou em aumento da competitividade. Além disso, o crescimento interno da demanda gerou as pressões inflacionárias que o Brasil está sentindo hoje. Os programas assistenciais são essenciais para o aquecimento da economia doméstica no país, além de proporcionarem oportunidades mais justas para os cidadãos. No entanto, com os atuais indicadores, os gastos públicos têm se tornado um problema para os próximos anos. O subfator produtividade e eficiência ficou em penúltimo no ranking, e mesmo com bons índices de investimentos absolutos, o Brasil vem perdendo espaço em relação aos
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outros países, já que houve perda de credibilidade dos agentes externos e internos na economia. Além disso, o descontrole da inflação fez com que o Brasil ficasse em penúltimo nesse indicador. Para que os programas sociais sejam eficientes, é necessário haver melhora dos indicadores citados acima, cujo foco são os fatores estruturantes da economia e que demandam uma agenda de futuro. Se de um lado não há receita mágica para um novo modelo, do outro não há como fugir das questões básicas como qualidade da educação e promoção da inovação.
Sobre A Metodologia
O Relatório Internacional de Competitividade do IMD tem sido compilado desde a década de 1980 e se baseia em quatro pilares: “Desempenho Econômico”, “Eficiência do Governo”, “Eficiência Empresarial” e “Infraestrutura”. Para cada pilar, são analisados cerca de 20 subfatores, no total de 300 variáveis contabilizadas. As variáveis incluem tanto dados estatísticos quanto de percepção. Os dados estatísticos são indicadores macroeconômicos, cuja fonte são instituições nacionais e internacionais de estatística (como o IBGE no Brasil). São coletados pelo IMD e seus parceiros e possuem peso de 2/3 para o cálculo do ranking. Os dados de percepção são coletados através do questionário de opinião executiva, coletados via uma plataforma online entre gestores de alta escalão das empresas. A amostra inclui empresas de todos os portes e de diversos setores da economia, com o intuito de obter uma representação geral do país. Com peso de 1/3 na pesquisa, estes dados refletem o julgamento geral do empresariado sobre o país em questão.
Equipe da Fundação Dom Cabral
Prof. Carlos Arruda – Coordenador do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo Prof. Ana Burcharth – Professora Fernanda Bedê – Pesquisadora
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