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Com 5 anos, Paulo Portas já gostava de política: costumava imitar Marcello Caetano

PAULINHO PERFIL. O LÍDER DO CDS FAZ 50 ANOS A 12 DE SETEMBRO

NAINTIMIDADE Eraummiúdosolitário,masnaadolescênciajáentravanogabinetedoprimeiro-ministro.No Independente,chegouafugirporumajanelaparaevitarumapessoa. Por NunoTiagoPinto

SÁBADO

ca. Miguel foi para a esquerda, Paulo para a direita. “Éramos todos viciados, mas não me lembro de eles brigarem”, diz Nuno Portas. Aos 5 anos Paulo já imitava Marcello Caetano, nas Conversasem Família. Mas aindafaltavaalgumtempoatéapolíticaoabsorverpor completo. EmentrevistaàSÁBADO,em2007, HelenaSacaduraCabralrecordouque o filho foi uma criança fácil até à adolescência. Nas-

Ia à missa semanal da escola. “Ele tem uma fé profunda”, diz o amigo e ex-colega Guilherme Magalhães. Forado colégio convivia com João Sedas Nunes, filho de Maria Velho da Costa. “Houve uma época em que éramos visitas quase diárias. Passávamos horas afazerbatalhas com figuras militares de diferentes períodos. Ele gostava muito de hóquei em patins e ia ver os jogos do Sporting”, conta. “Também tinha jeito para o desenho.”

Em criança passava horas a fazer batalhas com figuras militares de diferentes períodos ceu a12 de Setembro de 1962, “de pés e com o cordão à volta do pescoço”. “Tudo para ele estava bem. Aroupa do irmão vinha para ele e não levantava problemas.” No colégio era óptimo aluno. “Já escrevia muito bem, comas frases curtas que o caracterizam, por influência da nossa professora Mariade Fátima”, diz àSÁBADO António Pires de Lima, colega desde a primeira classe. “Nos intervalos jogávamos à bola. Eu no meio-campo, eleadefesa-direito”, continua.

O 25 DE ABRIL DE 1974 apanhou-o com11 anos. E se o interessepelapolíticajáexistia,apartir daí tornou-se um vício. “Ele era duas pessoas diferentes. À tarde estávamos em minha casa a jogar Subbuteo e, se ficava para jantar, preferia conversar com o meupaisobrepolítica”, diz António Pires de Lima. “Acompanhavatudo o que se passava de forma febril.” NoSãoJoãodeBritofaziaedistribuíaojornal Risos e Sorrisos e foi eleito presidente da associação de estudantes. “Eu preocupavame com o lado lúdico, ele organizava debates. Lembro-me de um sobre a liberdade de 43

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F

oi um divórcio que deixou marcas. Paulo Portas tinha 5 anos. Até então vivia com os pais e o irmão mais velho, Miguel. Mas quando o arquitecto Nuno Portas e aeconomistaHelena Sacadura Cabral decidiram separar-se, ao fim de 11 anos, a vida do filho mais novo do casallevouumavolta. “Foiumperíodo complicado que o tornou um bocadinho carente”, recorda à SÁBADO a madrinha e romancista Maria Velho da Costa. “Na época eu vivianumaquintaemSintraeo Paulinho foilá passarumtempo. Lembro-medeandarmuito com ele ao colo, porque ele pedia afecto. Era uma criança sensível”, conta. “Nos dois primeiros anos foi muito difícil”, confirma à SÁBADO Nuno Portas. “Eu e aHelenanãonos falávamos.” PauloeMiguel Portas ficaram a viver com a mãe – por pouco tempo. Seis anos mais velho que o irmão, Miguel decidiu morar com o pai. Passaram a estar pouco tempo juntos. Quando Paulo ficava com Nuno Portas, Miguel estava com Helena Sacadura Cabral. Durante a semana andavamemescolas diferentes: Miguelnoliceupúblico,PaulonocolégioSãoJoãodeBrito. Aproximava-os – e separava-os – a políti-

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Fezoensino primário esecundário nocolégio S. João de Brito. Àdireita, nogabinete deO Independente, naRuaActor Taborda

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Paulo Portas nasceu a 12 de Setembro de 1962, de pés e com o cordão umbilical enrolado ao pescoço

ensino em que levou lá o Nuno Abecassis e o Vítor Crespo, que nos pareciam pessoas inatingíveis”, conta Pires de Lima. PORINTERMÉDIOdafamília,PauloPortasconviviaentãocommembrosdestacadosdoPSD, como Helena Roseta. “Ela é minha amiga e teve grande influência nele”, diz Nuno Portas. Aos 14 anos impressionou Sá Carneiro através de uma carta com uma análise política que o presidente do PSD não queria acreditar que fosse de um adolescente. Um ano depois, aderiu à JSD. “Um dia apareceu-me emcasacombandeiraseautocolantesdoPPD. Nãoseicomo,convenceu-meaficarcomaquilo – eo meupai, queerapróximo do PS, ficou furioso”, diz João Sedas Nunes. PauloPortas passavaotempolivrenasede do PSD, na Av. Duque de Loulé. “Conhecia-o dacasado tio JoséManuelPortas, emVilaViçosa, aonde ele ia de férias. Reencontrei-o no partido a discutir coisas que não eram próprias daidade dele”, lembraàSÁBADO Virgínia Estorninho. “Acompanhei-o e levei-o a casa muitas vezes. Era um miúdo muito só, muito isolado. Os outros iam com o pai e a mãe. Ele não, andava ali sozinho”, diz. Aos15 anos,disseaVirgíniaEstorninho: “Ó tia, escrevi um artigo.” “Li, gostei, passei-o à máquinae levei-o àHelenaRoseta, que o publicounoJornalNovo”,contaahistóricasocialdemocrata. “Saiu como uma carta de leitor, chamadaTrêstraições”,dizHelenaRoseta. “Era contra o Mário Soares, o Freitas do Amaral e o Ramalho Eanes – que ficou furioso.” O então Presidente da República processou o autor, que escapou ao julgamento por ser menor. Aindaassim,foipresenteaumjuiz. “Perguntaram-lhesequeriainsultar,sequeriaisto 44

vaumbocadinhoparaconversarem”,recorda àSÁBADO. Em Setembro de 1980, Conceição Monteiro comentou com Sá Carneiro que “o Paulinho” estavaquase afazer18 anos e podiasaltar da JSD para o partido. “Óptimo! Agora é que ele vaiserdo PSD!”, respondeuo primeiro-ministro. “Arranje-me um boletim que eu subscrevo.” Conceição Monteiro preencheu a ficha, o primeiro-ministro assinou-a e ela enrolou o papelinho num canudo, comprou uma fitinha cor de laranja e fez um laço. “Foi o Sá Carneiro que lho deu”, diz Conceição Monteiro. “Ele nunca achou que fosse perder tempo falar com o Paulo Portas. Achava-o brilhante e representava uma geração de que ele estava um pouco afastado e interessavalhe perceber o que ele pensava.” No curso de Direito – se não fosse a matemática teria ido para Arquitectura –, na Católica, todos sabiamquemele eragraças aos artigos inflamados publicados n’O Tempo, n’A

Aos 15 anos foi processado por Ramalho Eanes. Interrogado pelo juiz disse “não respondo” e aquilo. Ele disse sempre ‘não respondo’. Achei curioso porque parecia uma resposta do irmão, queestavano Partido Comunista”, ri-se Nuno Portas. “Ele exibiaisso com orgulho”, diz Pires de Lima. Estava sempre pronto para discussões políticas. “EuvivianaGraçaeeleaparecia-meem casa à 1h. Acordava-me para irmos beber um copoeparticiparnalgumatertúlianoPabeou no Procópio”, lembraGuilherme Magalhães. “Tínhamos uns 16 anos e fumávamos intensamente.” QuandoSáCarneirochegouaprimeiro-ministro, Paulo Portas iaquase todos os dias ao edifíciodaPresidênciadoConselhodeMinistros,naRuaGomesTeixeira. Chegavaàportaria,anunciava-seeConceiçãoMonteiro,secretáriade SáCarneiro, mandava-o subirao sexto andar. “Estavaaliconnosco. Se o Francisco chegava,cumprimentavam-seeàsvezesentra-

Tem milhares de livros em casa. Está a acabar de ler a biografia de Deng Xiaoping e um ensaio sobre a Turquia e o Islão

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QUIZ O que sabe dele? TESTE OS SEUS CONHECIMENTOS SOBRE A VIDA PESSOAL DO LÍDER DO CDS

Quem são os seus padrinhos de baptismo? ! Nuno Teotónio Pereira e Maria Velho da Costa ! Jorge Sampaio e Maria José Rita Em que ano entrou para a JSD? ! 1974 ! 1977

lada, mas não podia provar. Disse-me: ‘Não queriamque euganhasse’. Isso foidecisivo.”

Que carro guiava quando era director de O Independente? ! Mazda vermelho descapotável ! Jaguar

QUANDOJÁNÃOTINHAmaisespaçoparacrescer no Semanário, decidiu criar o seu próprio jornal. “Nodia12deSetembrode1987,oPaulo Portas fez 25 anos. Fomos jantar a um restaurante espanhol onde apaziguámos o nosso anti-iberismo comtapas e queijo manchego.Quandomepreparavaparaprovarovinho, o Paulo parou o garfo e perguntou-me: ‘Porqueéquenão fazemos umjornal?’ E foio que

Quem foi o primeiro político a processá-lo? ! Ramalho Eanes ! Cavaco Silva Com que média acabou o curso de direito, na Universidade Católica? ! 13 ! 17

fizemos”, escreveu Miguel Esteves Cardoso (MEC) no número zero de O Independente. O jornal saiu para as bancas em Maio de 1988. Nos dois primeiros anos, Portas foi directoradjunto. Só comasaídade MEC paraa revistaKapa é que se tornou director. Erafrenético. Enquanto o resto da redacção bebia whiskys irlandeses e gin, Paulo Portas ficavase pelos Dinintéis, uma anfetamina que estimulaosistemanervoso. “OPauloerasócomprimidos. Fazia imensas directas e andava sempre de jeans. Não era nada betinho, apesardenãobeberálcool. O Dinintelsim...” disse MEC à SÁBADO, em 2008. Passavaosdiasnogabineteaotelefonecom fontes. “Comia à secretária. Mandávamos vir o almoço do Chefe, naLapa. Os jantares eram normalmente com fontes. Ele gostava de comer num restaurante perto do liceu Camões. Erararo dizerqueiacomo pai, amãeouos irmãos”, diz à SÁBADO a sua antiga secretária, Mafalda Pereira Coutinho. Não mexia em dinheiro,nemtinhacheques. “Umdialigou-me deParis adizerquetinhagastotudonumfato

Quem é o seu grande ídolo? ! Sá Carneiro ! Amaro da Costa Qual era o seu cinema favorito? ! Quarteto ! Mundial

Que género de canetas usa? ! Futura, azuis ! Bic, pretas Onde costuma passar o Natal com a mãe? ! Na neve ! Na praia

SOLUÇÕES

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Saiu do PSD depois de perder uma eleição na JSD. Achou que houve uma “chapelada”

Nuno Teotónio Pereira e Maria Velho da Costa; 1977; Mazda vermelho descapotável; Ramalho Eanes; 13; Sá Carneiro; Quarteto; Futura, azuis; Na neve;

Tarde – e mais tarde no Semanário, onde ganhou notoriedade graças à coluna Reviralho. Tornou-seamigodeInês SerraLopes,Margarida Marante, Luís Bigotte Chorão e Duarte Lima.“Apesardesermaisvelho,oDuarteLima continuou a frequentar a Católica porque tocavaórgãoeeramaestrodocoro”,dizàSÁBADO Inês SerraLopes. “Nessa época ele passava tanto tempo no partido que tínhamos de o mandar embora. Dizia-lhe: ‘Paulinho, o menino tem de estudarque temexames àporta.’ Ele respondia‘A tia não se preocupe que eu tiro o curso’”, lembra Virgínia Estorninho. Tirou-o com médiade 13. “Na parte teórica do estágio tínhamos de verduas autópsias. Fiquei ao lado dele. Quando a médicaestavaaserraro tronco e a abrir o tórax reparei que ele estava calado e completamente branco-esverdeado. Perguntei-lhe se estava bem e ele respondeu: “’Mais oumenos. O quemefaz mais impressão é o ar de prazer que ela põe na profissão.’” Deiumagargalhadaporqueeledizcoisas destas comumarseriíssimo”, contaInês Serra Lopes. Em1983 deixouoPSD,desencantadocom o rumo do partidoapós amortedeSáCarneiro. Mashouveoutromotivo. “Eleperdeuuma eleição na JSD e ficou furioso”, conta Nuno Portas. “Achouque tinhahavido umachape-

No programa Raios e Coriscos, na RTP, garantiu que não usaria gravata nem seria político e prometeu que O Independente ia vender mais um exemplar que o Expresso

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Cinquenta anos em imagens

CRIANÇA. A mãe diz que

GRAVATA. Já

foi um menino fácil

a usava na JSD

PAULO PORTAS COMEÇOU A TORNAR-SE FIGURA PÚBLICA APÓS O 25 DE ABRIL

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BEBÉ. Paulo nasceu seis anos depois do irmão, Miguel equenãotinhadinheiroparairparaoaeroporto. Tivemosqueencontrarumajornalistaportuguesaquelhefoiemprestardinheiro”,continua. Hoje, compra os fatos no alfaiate Augusto Saldanha, que é autarcado CDS. Em O Independente não tinha vida social. Os encontros nocturnos eram com fontes. “Chegueiadar-lheboleiaatéaocemitériodos Prazeres,ondeseencontravacomumaltocavaquista”, lembraInês SerraLopes. “Porpiada dizia que ia à campa 17”, ri-se. Apesar de ter carro, um Mazda vermelho descapotável,

ADOLESCENTE. Começou a discutir política aos 11 anos

amolgado, não gostavade conduzir. Aborrecia-o perder tempo a procurar lugar. O estafetado jornal eraquase seu motorista. Agora aproveitaos fins-de-semanaparaguiaro Jeep Tuaregnamarginal que ligaLisboaaCascais. Durante anos, criou a personagem de ser um tipo desinteressado. Só falava com quem queria.“Umavez,parafugiraumapessoa,saltou pela janela da redacção, entrou pela janela da cozinha de uma pizzaria que havia lá ao lado e ia caindo em cima da comida”, lembra MafaldaCoutinho. “O Passos Coelho e o José

Sócratesestavamsempreatentarfalarcomele e ele não lhes ligava”, diz aex-secretária. Paulo Portas vivia para o jornal. Ao fim-de-semana, no Verão, iaparaas piscinas de hotéis ler os jornais estrangeiros. No Inverno,ficavanaredacção. “Encontrei-o lávárias vezes”,dizFrancoCaruso,antigoeditordeO Independente. Nos dias de fecho, atrasava a ida do jornal para a gráfica porque, como hoje, escreviaàmão, emfolhas A4e comcanetasFutura,azuis. “Euéquelhebatiaostextos”,dizMafaldaPereiraCoutinho. Mais tarde,após avisitaàgráficaparaverojornalimpresso, ceavam junto ao Jardim da Estrela. “Comia sempre um hambúrguer”, conta.

QUANDOPRECISAVA dedescansarrefugiavasenaEstalagemdaGuia,emCascais,ounuma estalagem secreta em Sagres. Só a secretária sabia onde ele estava. “Uma vez, estava aflito das costas e arranjei-lhe uma massagista que foiacasadele. Esteveotempotodoalereaver televisão”,conta.Nessesanos,engordou.“Comia e bebia tudo e roubava o que tivesse na secretária. Um dia, à saída, tirei um ramo de violetas de umcopo. Ele passou, olhouparaa água e bebeu aquilo. Era muito precipitado”, diz Mafalda Pereira Coutinho. Também quis fazerdietas.“Acertaalturasócomiaànoite.De diabebiasumos delaranja,limonadas ecafés. Sóaguentouunsdias.TambémiaaoSheraton nadar,fazerginásticaemassagens comjactos de águaparatonificar abarriga. JácomoministrodaDefesa,apanhouuma forma moderada de diabetes porque não almoçava nem jantava – só ceava. Desde então quevaitrêsvezesporsemanaaoginásio,mesmo que esteja em viagem. No jornal,Paulo Portas preferiaperderum amigo a uma notícia. O caso mais flagrante foi Duarte Lima. Durante anos, o advogado foi uma das suas grandes fontes. Mas quan46

6 SETEMBRO 2012

MINISTRO I. Em 2002

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chegou ao governo

MINISTRO II. Em 2011 levou o CDS ao poder novamente

POLÉMICO. Como director de O Independente

doHelenaSanches OsórioapareceucomainformaçãodequeDuarteLimatinhaumaquinta em Sintra em nome de uma offshore pôde investigar à vontade. “Ele tinha uma relação pessoal com ele e não queria acreditar. Mas disse àHelenaparafazer. Só exigiuque elativesse a certeza”, conta Franco Caruso. AnotíciasaiuemDezembro de1994. Nessaaltura, jáPaulo Portas erahámuito conselheiro de Manuel Monteiro. Saía do jornal e entravanasede do CDS, no Largo do Caldas, pelas traseiras, parareuniões pelanoite dentro. Frequentavaacasadolídercentristaedurantealguns anos, depois de celebraro Natal com a mãe, ia para a Madeira, onde Monteiro tambémpassavaaquadra. Apesardaligação evidente do jornal ao CDS, em público continuavaanegaraintenção detrocaro jornalismo pelapolítica. Durante meses, tratou em segredo dasuasucessão. E navésperade a sua candidatura à Assembleia da República, por Aveiro, ser anunciada, garantiu a vários jornalistas de O Independente que não ia sair. A redacção soube pelos outros jornais que tinha um novo director. Napolíticaaproximou-se de antigos amigos, como António Pires de Lima, e manteve

outros,comoLuís NobreGuedes –comquem hoje não fala. Passou a ser presença assídua nas revistas do social, primeiro com Teresa Caeiro, que conheceuno escritório de Nobre Guedes, e depois comCinhaJardim. Não bebia álcool – tem pouca tolerância. Alguns próximos garantemquetudooque faz é pensado em função da política: os restaurantes ondevai,apraia,ouo bar. “Eleche-

Um dia, fugiu por uma janela da redacção porque não queria falar com uma pessoa gavaatreinaras caras quefazianatelevisão”, lembra Mafalda Pereira Coutinho. “Depois só queria saber se tinha ficado bem.” NAASSEMBLEIA,ANTESdas intervenções,não vale a pena falar com ele. Passava a semana a prepararos debates comJoséSócrates. Quando eram às sextas-feiras, às 10h, chegava ao parlamentoàs 7h. Antes defalartemumamania: fuma metade de um cigarro e bebe um café. Os 16 ou 17 que chegou a beber por dia

Os casos que o têm abalado A AQUISIÇÃO DE SUBMARINOS QUANDO ERA MINISTRO DA DEFESA É O MAIS GRAVE

MODERNA. Especulou-se que recebeu, como outras personalidades, ofertas da universidade. Uma delas terá sido o Jaguar que conduzia na altura. Nunca foi incriminado.

tornaram-seummito.Recentemente,assecretárias arranjaram um descafeinado que lhe servemsemqueelesaibaqueestáatomarbicas semcafeína. Seestiveraleresteartigo,acabou de descobrir. São tambémelas quelhetratamdacorrespondência. Portas não quer nada com computadores. Tememail napresidênciado CDS e no gabinete do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas é tudo gerido pelas secretárias. Aúnicacedênciaàtecnologiasão os telemóveis. Manda milhares de SMS. “Foi a Catarina [Portas] que, há poucos anos, nos convenceu a aprender a enviar”, diz Nuno Portas. Aviver em Gaia, o arquitecto encontra-se esporadicamente com os filhos. A última vez foi no passado sábado, em Lisboa. “A primeira coisa que perguntamos é: que filmes viste? Somos cinéfilos e íamos muito ao cinema”, conta. Paulo Portas gostade comer arroz de pato, num restaurante no Cais do Sodré, ou arroz amarelo com panados, noutro junto à Escola Politécnica. Sempre tiveram problemas em reunir-se. “Háumanoção do deverdoentia. Muitas vezes tínhamos de alterar as datas dos aniversários”, conta. Nos últimos anos, a doença de Miguel Portas reaproximouafamília. Em 2010 foi com a mãe, o irmão e os sobrinhospassaroNatalàEslovénia. Saisempredopaísa23 deDezembro porqueaavó maternamorreuno dia de Natal. Faz esqui, mas não entraem loucuras. Já os sobrinhos preferem snowboard. Um amigo conta que Miguel fez de Paulo Portas o tutor do encaminhamento do filho mais novo. Os dois irmãos estiveram juntos emBruxelas,quatrodiasantesdamortedoeurodeputado, a 24 de Abril. Foi Paulo que tratou de tudo o que estava relacionado com o funeralequeparticipounoquetevedeserorganizado. Chegou a encontrar-se com Francisco Louçãnumcafé de Lisboaparaarticular as exéquias familiares com as homenagens políticas previstas pelo Bloco de Esquerda. Apesarde comentarmuitas vezes que tem de deixar de fumar por causa do que aconteceu ao irmão, o máximo que conseguiu foi passardos fortíssimos cigarros SGFiltro para os mais fracos LuckyStrike que, diz, sabem a palha. Ninguém sabe se irá conseguir deixar o tabaco. Nem a família. “Nós não sabemos muito davidado Paulo. Ele guardatudo para ele. Nuncateveoprojectodafamíliaededicou-se ao jornal e àpolítica”, diz Nuno Portas. !

SOBREIROS. Suspei-

SUBMARINOS. Suspeita-

tou-se que o projecto Portucale tinha sido aprovado por ministros do CDS em troca de donativos para o partido. O julgamento do caso não condenou ninguém.

se que desapareceram 34 milhões de euros e que 1 milhão terá ido para uma conta bancária ligada ao CDS-PP. O MP já disse que não há nada contra Portas.

Com Vítor Matos 47