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VII SEMEAD AGRONEGÓCIOS O AGRONEGÓCIO DA ERVA-MATE: UM GRANDE POTENCIAL SUL-MATOGROSSENSE A SER EXPLORADO. Adriane Silva Ribeiro Graduanda em Admini...
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VII SEMEAD

AGRONEGÓCIOS

O AGRONEGÓCIO DA ERVA-MATE: UM GRANDE POTENCIAL SUL-MATOGROSSENSE A SER EXPLORADO. Adriane Silva Ribeiro Graduanda em Administração de Empresas Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Departamento de Economia e Administração - DEA Endereço residencial: Rua Azáleas, 56. Vila Almeida - Campo Grande – MS CEP: 79041-370 Tel: 67 – 349-2015 E-mail: [email protected] Annyele Torquato Cruz Graduanda em Administração de Empresas Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Departamento de Economia e Administração - DEA Endereço residencial: Rua Azáleas, 56. Vila Almeida - Campo Grande – MS CEP: 79041-370 Tel: 67 – 349-2015 E-mail: [email protected] Vanessa da Cruz Urias Graduanda em Administração de Empresas Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS Departamento de Economia e Administração - DEA Endereço residencial: Rua Azáleas, 56. Vila Almeida - Campo Grande – MS CEP: 79041-370 Tel: 67 – 349-2015 E-mail: [email protected] RESUMO: A atividade ervateira sempre apresentou grande importância para as regiões sul e centro-oeste do Brasil e, em particular, para o Estado de Mato Grosso do Sul. Mais ainda, com as constantes transformações e influências externas que a cultura sul-mato-grossense sofre atualmente, o hábito do consumo de erva-mate persiste no cotidiano dos indivíduos que aqui vivem, difundindo-se ainda para outras regiões, ultrapassando barreiras e conquistando novos mercados importantes para o desenvolvimento da economia estadual. O presente artigo tem como objetivo principal analisar os fatos históricos que levaram à decadência na produção ervateira do Estado de Mato Grosso do Sul, embora seu consumo permaneça em ascendência. É neste contexto que o agronegócio, visto como uma atividade econômica em desenvolvimento, entra como uma alternativa para implantar novas culturas de erva-mate. Os dados observados comprovam que a erva-mate auxilia no crescimento econômico, não só do estado, como também do país, com geração de empregos desde a produção até a comercialização, além de poder motivar uma expansão industrial, com os vários subprodutos que a erva-mate pode gerar. Palavras-chaves: erva-mate, agronegócio, agricultura sul-mato-grossense

O AGRONEGÓCIO DA ERVA-MATE: UM GRANDE POTENCIAL SUL-MATO-GROSSENSE A SER EXPLORADO 1. INTRODUÇÃO A atividade ervateira sempre apresentou grande importância para as regiões sul e centro-oeste do Brasil e, em particular, para o Estado de Mato Grosso do Sul. Os méritos conquistados pela erva-mate se devem ao seu papel na história de vários municípios sul-matogrossenses que esta ajudou a fortalecer e no desenvolvimento socioeconômico do Estado como um todo. No entanto, a exploração dos ervais nativos da região, de forma desordenada ao longo da história, sem técnica adequada e sem preservação, fez com que parte destes ervais fosse praticamente destruída, junto com as florestas nativas onde vegetavam, dando lugar às lavouras. Em contrapartida, com as constantes transformações e influências externas que a cultura sul-mato-grossense sofre atualmente, o hábito do consumo de erva-mate persiste no cotidiano dos indivíduos que aqui vivem, difundindo-se ainda para outras regiões, ultrapassando barreiras e conquistando novos mercados importantes para o desenvolvimento da economia estadual. Para o desenvolvimento do trabalho, foram realizadas pesquisas por intermédio de levantamento de dados. Estes foram colhidos em revistas da área, em teses, em dissertações, em livros e em dados publicados por institutos brasileiros renomados. O presente artigo tem como objetivo principal analisar os fatos históricos que levaram à decadência na produção ervateira do Estado de Mato Grosso do Sul, embora seu consumo permaneça em ascendência. Por que o Estado deixou de produzir e/ou perdeu tal potencialidade de produção de erva-mate? Concorrência? Falta de preparo tecnológico? Qual o porquê da falta de infraestrutura e de investimento no agronegócio da erva mate, considerando sua alta lucratividade e potencialidade para os produtores sul-mato-grossenses? Com este propósito, tal pesquisa servirá além de notícia, como uma ferramenta de informações de dados relevantes aos empresários, fornecedores do produto e demais interessados na área. 2. HISTÓRICO DA PRODUÇÃO DE ERVA-MATE EM MATO GROSSO DO SUL Para se entender melhor o ciclo da erva-mate no estado de Mato Grosso do Sul, precisa-se primeiramente estudar os fatos históricos que o levaram a produção e comercialização do produto: Após o final da guerra do Paraguai, em 1872, foi formada uma comissão mista por brasileiros e paraguaios para estabelecer os limites entre o Brasil e o Paraguai. O gaúcho Tomás Laranjeira, que participou da comissão, teve a oportunidade de conhecer bem a área e encontrou extensos ervais (erva-mate nativa) no sul de Mato Grosso. Em 1874, terminado o trabalho de demarcação dos limites entre os dois países, Tomás Laranjeira trouxe alguns profissionais (trabalhadores especializados) do Rio Grande do Sul e deu início a exploração dos ervais. Também empregou mãode-obra paraguaia. Em 1882, Tomás Laranjeira recebeu a permissão do governo imperial para explorar a erva-mate nas terras devolutas que ficavam entre o Mato Grosso e o Paraguai. A erva-mate colhida na região tinha o Uruguai e a Argentina como principais mercados. A atividade era muito lucrativa. Havia, portanto, um incentivo permanente ao aumentar a produção.

Em 1894, Tomás Laranjeira associou-se a uma tradicional familia de politicos da provincia, os Murtinhos, e fundou a Companhia Mate Larangeira (Revista Leia, edição 2000).

Sendo assim, ao finalizar o século XIX, contrastando com a imagem propagada de “vazio populacional”, as terras na região sul de Mato Grosso (ainda sem a divisão), não se encontravam livres ou desocupadas. De acordo com Guillen (1999, p. 3) a região foi objeto de uma série de contratos de arrendamento entre o governo estadual e a Companhia Matte Larangeira1, que detinha cerca de dois milhões de hectares de terras, para a produção de mate. A autora ainda afirma que, ao deter o controle sobre as terras ervateiras através dos contratos de arrendamento assinados com o governo de Mato Grosso, a Matte Larangeira procurou implantar uma política de “espaços vazios”, ou seja, impedir de qualquer forma que houvesse a ocupação das terras sob seu domínio por pequenos proprietários ou posseiros. Tal política possibilitava não só uma melhor organização da produção da erva-mate, mas também visava impedir que os trabalhadores2 dos ervais se tornassem produtores independentes, garantindo assim o monopólio dos ervais na região. A manutenção da política de “espaços vazios” tornou-se uma estratégia vital para a Companhia, facilitando o controle e a vigilância sobre os ervais e as formas de trabalho, baseadas na escravidão por dívida. De acordo com o Ofício da Secretaria de Agricultura de Mato Grosso (1936)3, aqueles que se instalavam na região, sem a autorização da Companhia, eram expulsos, alegando-se que os posseiros destruíam os ervais com podas indiscriminadas. A erva preparada clandestinamente nos pequenos ervais, desprezados pela Companhia devido à baixa produtividade, era contrabandeada pela fronteira com o Paraguai. Evidencia-se, dessa forma, que a elaboração clandestina da erva-mate constituía-se numa das únicas formas de trabalho rentável que a região oferecia. Poucas opções tinha um trabalhador na região: ou se engajava num dos ervais da Matte, sujeitando-se às condições que resultavam na sua escravização ao barracão da empresa por dívidas impagáveis, ou se tornava um changa-y4, e entrava na teia do contrabando de erva-mate. Não é possível determinar o volume da erva contrabandeada, mas é de se supor que não tenha sido pequeno. Em 1915, o governador Costa Marques avaliou em mais de 140.000 arrobas castelhanas, ou seja, 1400 toneladas. (Marques e Augusto, 1915 apud Guillen, 1999). Dessa forma, pode-se deduzir que havia na região um aparato de clandestinidade, que discordava do monopólio da extração da erva-mate pela Companhia Matte Larangeira.

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A Companhia Matte Larangeira teve sua origem nas atividades de Thomaz Larangeira que arrendou, após a guerra com o Paraguai, uma vasta extensão de terras do Estado do Mato Grosso para elaborar erva-mate nativa na região sul do planalto de Amambai, região de fronteira com o Paraguai. Posteriormente, a Companhia passou a ser liderada por Joaquim Murtinho (Arruda, 1989 e Guillen 1991). 2 Em sua maioria, os trabalhadores da Companhia eram paraguaios. O Paraguai tinha parte de sua economia baseada na elaboração da erva-mate, e, ao findar o século XIX, a Industrial Paraguaia era a maior companhia de mate do país. No início do século, a atividade ervateira foi implantada também no território de Misiones, Argentina. No Brasil, o maior produtor de mate era o Paraná. Podemos, portanto, considerar toda a região platina como tendo uma vasta tradição de trabalho na erva-mate (Echeverria, 1986; Linhares, 1969 e Padis, 1981). 3 Ver Ofício da Secretaria de Agricultura de Mato Grosso, exercício de 1935-1938, APMT, cx. 1936. 4 A língua dominante na região era o guarani, falado pelos trabalhadores paraguaios. Changa-y era a denominação usada para o trabalhador que elaborava clandestinamente erva-mate na área de arrendamento da Companhia Matte Larangeira.

É relevante salientar que a Companhia Matte Larangeira atuava como um importante componente progressista e modernizador, na medida em que implantava na região da fronteira as condições almejadas para o desenvolvimento que o Estado merecia alcançar, segundo as aspirações dos segmentos sociais dominantes (Corrêa, 1982). Essas pequenas lutas pela posse legal de terras e conseqüente extração da erva-mate tanto por parte da Companhia Matte Larangeira, quanto dos trabalhadores clandestinos marcaram o sertão sul de Mato Grosso por mais de 30 anos. Em contrapartida, surgia no sul do Estado de Mato Grosso um movimento divisionista, liderado pelos pequenos produtores rurais, cansados do abandono da região por parte da capital, Cuiabá. Em 1934, Getúlio Vargas mandava instalar novas unidades militares no sul de Mato Grosso com o intuito de manter a ordem e o progresso na região e também providenciar para que fosse sufocado o movimento divisionista. Após a deposição de Vargas, com a ascensão de Eurico Gaspar Dutra, em 1946, os sul-mato-grossenses tentavam a transferência da capital (Cuiabá) para Campo Grande. Novamente frustrados, devido à fraca representatividade política em âmbito estadual e federal, os sul-mato-grossenses, mantinham-se fiéis ao seu objetivo: transformar Campo Grande em uma capital, haja vista a prosperidade da mesma em relação à Cuiabá. De acordo com Cerqueira (1995), nesse período, os ervais nativos da região já estavam bastante devastados, e a Companhia mostrava-se desinteressada em reflorestá-los. Baseando-se desses fatos, calcula-se que a planta da erva-mate seja capaz de viver, em estado selvagem, algumas dezenas de anos, permitindo colheitas remuneradas, desde que sua exploração seja realizada com cuidado, pois existem indicações que a produção aumenta gradativamente até os 30 anos de idade (MAZUCHOWSKI, 1993). Voltando-se para o período histórico, Aquino (2000) afirma que desde o início de suas atividades, a Companhia Matte Larangeira dominou a exploração da erva-mate do sul do estado de Mato Grosso. Ela sempre esteve aliada ao governo local, que lhe concedia isenção de impostos e até o direito de manter uma política particular. Essa situação de privilégio acabou encontrando forte oposição, estimulando ainda mais o movimento divisionista do Estado de Mato Grosso. Ainda de acordo com o autor, com o fim do protecionismo fiscal e a exploração predatória da erva-mate, que levou à devastação dos ervais, a Companhia então, perdeu o interesse econômico pela região, desviando-o para a Argentina. Com a saída da Companhia Matte Larangeira do mercado ervateiro, o recém criado estado de Mato Grosso do Sul não soube estimular o plantio de ervais, devido a não modernização e não investimento em infra-estrutura, com o decorrer dos anos, perdendo sua capacidade de produção. Afirmação esta baseada em Valduga (1995), que cita: os processos industriais ervateiros muito pouco mudaram com o decorrer dos tempos, ou quase não mudaram. De maneira geral, os processos produtivos são os mesmos desde o início do ciclo do mate. A autora afirma também que a análise da evolução da produção da erva-mate no Brasil encontra dificuldades em função da carência de informações, aliada a pouca precisão dos dados existentes. Talvez por este motivo, não existam dados precisos de quanto era a produção de erva-mate em toneladas da companhia Matte Larangeira, mas sabe-se que a área de ocorrência estimava-se em 2 milhões de hectares (Guillen, 1999). 3. O AGRONEGÓCIO DA ERVA-MATE EM MATO GROSSO DO SUL Comparando com estudos de Andrade (1999), cuja área de ocorrência de erva-mate nativa em todo o mundo restringe-se a três países (Paraguai, Argentina e Brasil), sendo que no Brasil chega a 45 milhões de hectares, distribuídas entre os estados de Santa Catarina, Paraná,

Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul e, de acordo com dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2002), de que a quantidade produzida no Brasil chega a 229.701 toneladas anuais, chega-se à estimativa de que a Companhia Matte Larangeira conseguia produzir mais de 7000 toneladas anuais de erva-mate, ou seja, o maior número registrado até hoje no Estado de Mato Grosso do Sul. Veja gráfico a seguir: Gráfico 1: Quantidade produzida (em toneladas) de erva-mate cancheada5 no Estado de Mato Grosso do Sul, entre os séculos XX e XXI.

7.000 6.000

4.765 4.639

5.000 4.000 3.000 2.000

3.288

3.382 3.636 2.845

2.482 2.281 2.142

1.667 1.791 1.706

1.975

1.000 0 Até 1950 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Fonte: Comparação de dados coletados pelas autoras e adaptação de pesquisas realizadas pelo IBGE - Produção Agrícola - 1990 a 2002.

Pesquisas realizadas pelo IBGE mostram também que, entre o fim do século XX e o início do século XXI, o estado tem investido pouco, ou quase nada na plantação de ervais por hectare, permanecendo em quarto lugar nas estatísticas brasileiras, sendo os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina os maiores investidores deste setor. Esta comparação pode ser observada no gráfico 2 a seguir: Gráfico 2 – Área plantada (em hectare) de erva-mate nos estados do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul. 45000 40000 35000 30000 25000 20000 15000

PR SC RS MS

10000 5000 0

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Fonte: Adaptação de pesquisas realizadas pelo IBGE - Produção Agrícola - 1990 a 2002.

Estes dados permitem identificar que, enquanto no Rio Grande do Sul, a plantação de erva-mate atingiu 44.910 hectares em 2002 (a maior plantação brasileira), no Mato Grosso do Sul não chegou a 500 hectares de área plantada, permanecendo estagnada perante a região sul, com pouca expressividade no mercado ervateiro.

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De acordo com o ICTA – Instituto de Ciências e Tecnologia de Alimentos – da UFRGS, o cancheamento é a trituração ou fragmentação da erva, após o processo de secagem. É feito por um triturador de madeira dura (nível de produtor) ou cancheador metálico (nível de indústria), que faz parte de um sistema característico, onde a erva peneirada passa a denominar-se cancheada, constituindo-se desta maneira a matéria-prima para os engenhos de beneficiamento, especialmente para a preparação dos tipos comerciais (chá, chimarrão e outros), disponível em . Acesso em 15/09/2003, às 15:35h .

Ainda em relação aos dados coletados pelo IBGE (2002), estes mostram que o Rio Grande do Sul gastou cerca de 61 milhões de reais em plantações de ervais, enquanto que o Mato Grosso do Sul investiu apenas 551 mil reais. Não é de se estranhar que o Rio Grande do Sul tenha gerado uma produção de 240.252 toneladas, e o Mato Grosso do Sul apenas 5.895 toneladas de erva-mate cancheada, embora os custos para produção sejam mais baratos no Mato Grosso do Sul, do que no Rio Grande do Sul. Estas informações estão ilustradas no gráfico 3 abaixo, que evidencia a área plantada e a área colhida dos estados da região sul, em comparação com Mato Grosso do Sul: Gráfico 3 – Área plantada e área colhida de erva-mate (em hectare) nos estados do Paraná, de Santa Catarina, do Rio Grande do Sul e do Mato Grosso do Sul. 50.000 40.000 30.000

Área Plantada Área Colhida

20.000 10.000 0 PR

SC

RS

MS

Fonte: Adaptação de pesquisas realizadas pelo IBGE - Produção Agrícola - 2002.

O Rio Grande do Sul teve uma área plantada de 44.910ha e colheu apenas 31.063ha, Santa Catarina plantou 11.281ha e colheu cerca de 8.872ha, enquanto que o Paraná e o Mato Grosso do Sul plantaram e colheram a mesma proporção, 39.260ha e 421ha, respectivamente. Este fato deve-se ao clima temperado e subtropical, com chuvas regulares e distribuídas ao longo do ano nesses dois estados, propícios para a plantação de ervais, conforme pesquisa realizada pela Embrapa6 (1995). Além disso, estudos realizados por Rodigheri et all (1988) comprovam que os plantios florestais (erva-mate) apresentam retornos financeiros positivos aos produtores, sendo que o calendário das operações de cultivo, como a colheita destes ervais, é muito mais elástico que o das culturas anuais. Mas, os produtores de erva-mate no Brasil sofrem uma grande concorrência por parte da Argentina, desde a crise ocorrida em 2002. Com a paridade do peso (moeda argentina) e do dólar, o mercado brasileiro de ervais conseguia se estabelecer no país, mas com a crise, e o fim da paridade entre o peso e o dólar, os preços da erva-mate in natura e cancheada, praticados pelo mercado argentino, se tornaram extremamente competitivos, quando convertidos para o real. Tais preços, mais atraentes que os preços praticados pelos produtores brasileiros, garantiram espaço para o produto argentino (RUCKER, JUNIOR et all, 2003). Outro aspecto negativo apontado pelos autores está na tecnologia implantada pela Argentina, para a produção de erva-mate, o investimento no profissionalismo dos produtores e os subsídios dados pelo governo ao setor. Enquanto que, em Mato Grosso do Sul, os produtores sofrem também a concorrência do Paraguai, já que grande parte da erva-mate que entra no estado é clandestina, garantindo assim, um menor preço, sem as tarifas legais que seriam pagas, conforme depoimentos de comerciantes da cidade de Campo Grande e de outros municípios da região sul do estado.

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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Disponível em .Acesso em 05/08/2003.

“Para nós, é mais barato comprarmos erva-mate dos clandestinos paraguaios para vendermos a preços menores aos consumidores, do que procurarmos produtores daqui do estado. As pequenas empresas de empacotamento de erva-mate também o fazem” (depoimentos de uma vendedora de erva-mate do Mercado Municipal, da cidade de Campo Grande-MS, 2004).

Além disto, outros produtos agrícolas brasileiros passaram a desfrutar de melhores preços no mercado internacional, ganhando a preferência dos produtores, como no caso da soja e do milho. A maior rentabilidade obtida com tais culturas e o maior número de pesquisas e investimentos neste setor, têm levado à erradicação de áreas de erval cultivado, que passam a ser ocupados por lavouras (RUCKER, JUNIOR et all, 2003). Entretanto, de acordo com pesquisas realizadas por Antoni (1995), o alto valor comercial da erva-mate pode ser comparado com outras rentabilidades obtidas com a cultura do milho, da soja e do trigo, ilustrado no gráfico 4 abaixo, através da estimativa da receita bruta de produção em 1hectare. Gráfico 4 – Comparação da receita bruta da erva-mate, em relação a outras culturas 1.416,00 1500 1000 500 0

483

470 282 1,8

2,4

4,8

Trigo

Soja

Milho

6,5

Produção (ton.) Receita (US$)

Erva Mate

Fonte: Adaptação de dados coletados por ANTONI, 1995

Pode-se observar que a cultura de florestais (erva-mate) apresenta uma receita bruta de US$ 1.416,00 nos anos 90. Extremamente superior à receita bruta de outras culturas, além da produção ervateira ser bem maior em 1 hectare de plantação.

4. INDUSTRIALIZAÇÃO E CONSUMO DE ERVA-MATE EM MATO GROSSO DO SUL De acordo com estudos realizados por Beltrão et all (1996), Mazuchowski et all (1996) e Da Croce (1996), existem 725 empresas processadoras de erva-mate no Brasil, com uma capacidade instalada de produção de 405 mil Kg de erva-mate beneficiada. Com relação ao estado de Mato Grosso do Sul, existem 23 empresas de beneficiamento de erva-mate, distribuídas entre os municípios da seguinte forma: Gráfico 5 – Distribuição das empresas de beneficiamento de erva-mate, entre os municípios do estado de Mato Grosso do Sul. 4 3,5 3 2,5 2 1,5 1 0,5 0

Campo Grande Amambai Antonio Joao Aral Moreira Caarapó Dourados Iguatemi Ivinhema Naviraí Ponta Porã Amambaí Tacuru Três Lagoas

Fonte: IEL/MS7, 2003

Nota-se que os municípios com maior quantidade de empresas legalizadas no Estado de Mato Grosso do Sul encontram-se em Campo Grande (capital), Amambaí e Ponta Porã, sendo estas classificadas como micro-indústrias8, pois toda a produção do Estado de Mato Grosso do Sul não chega a 500 toneladas anuais de erva-mate (IBGE, 2002). A maioria destas micro-indústrias compra matéria-prima, ou seja, erva-mate cancheada, da Argentina e do Paraguai, devido ao menor preço. Informações estas adquiridas pelos próprios empresários ervateiros do estado, que citam: “Compramos matéria-prima do Paraguai e às vezes da Argentina, por causa do preço baixo, sem contar que em Mato Grosso do Sul não há produção suficiente para satisfazer a demanda. Algumas empresas chegam a comprar até de outros estados brasileiros, como o Paraná” (Depoimentos da proprietária de uma das pequenas empresas Ervateiras da cidade de Campo Grande – MS, 2004).

Além das justificativas apresentadas pelos próprios empresários, para a compra de erva-mate de outros produtores, se não os sul-mato-grossenses, de acordo com o NIPE9, existem inúmeras legislações brasileiras a serem respeitadas para o plantio e a industrialização de erva-mate, como as leis estabelecidas pelos Ministérios da Saúde e da Fazenda e pelo IBAMA, dos quais os pequenos proprietários não conseguem satisfazer à lei, como as grandes indústrias ervateiras dos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em contrapartida, o estado de Mato Grosso do Sul é o que mais apresenta crescimento 10

de consumo no setor ervateiro– cerca de 270% - em relação aos outros estados brasileiros, considerando a hipótese do consumo de tereré ser o principal fator de aumento. Fato este baseado nas pesquisas realizadas por Ribeiro et all (2003, p.13) que citam: “(...) a cultura sul-mato-grossense é um dos principais fatores de motivação para a compra de tereré, presente em praticamente todas as classes sociais e gerando modismo entre os habitantes desta terra”.

Sendo assim, de acordo com Andrade (1999), é praticamente determinante em qualquer mercado, que o aumento no consumo gere uma maior procura pela matéria-prima e conseqüente elevação nos preços, pode-se verificar este crescimento com o produto ervamate. Com relação aos produtos comercializados da erva-mate, Rucker, Junior et all (2003) enfatizam que o setor ervateiro ainda depende quase que exclusivamente da comercialização da erva-mate na forma de chimarrão. Considerando o comportamento do mercado ervateiro nos últimos anos, é possível afirmar que a demanda pela erva-mate para chimarrão é estável (inelástica). Porém, porém, a composição química das folhas da erva-mate apresenta também aplicações industriais, para usos alternativos no mercado, que estão relacionados na tabela 1, a seguir: 7

Informações adquiridas por email , enviado pelo Instituto Euvaldo Lodi, Núcleo Regional de Mato Grosso do Sul (IEL/MS), em 10/04/2003, às 14:00h. 8 De acordo com o Ato nº 001, de 1986, do Ministério da Fazenda, que cita: Macro-indústria ervateira: empresas que processam mais de 3 mil toneladas anuais de erva-mate. Grande-indústria ervateira: empresas que processam entre 500 e 3 mil toneladas anuais de erva-mate. Micro-indústria ervateira: empresas que processam entre 3 e 500 toneladas anuais de erva-mate. 9 Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético, da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, disponível em . 10 Informações adquiridas no NIPE – UNICAMP, disponível em .

Tabela 1 – Subprodutos da erva-mate, de acordo com sua industrialização. Aplicação Industrial Sub-Produtos Comerciais

Bebidas

Insumos de alimentos

Chimarrão, Tereré, chá-mate: queimado, verde/cozido, solúvel

Infusão quente ou fria

Refrigerantes, sucos, cerveja, vinho

Extrato de folhas diluído

corante natural, conservante alimentar. Sorvete, balas, bombons e caramelos, chicletes e gomas

Clorofila e óleo essencial

estimulante do sistema nervoso central Medicamentos

Higiene Geral

Produtos de uso pessoal

Forma de Consumo

compostos para tratamento de hipertensão, bronquite e pneumonia Bactericida e antioxidante hospitalar e doméstico, esterilizante, emulsificante tratamento de esgoto, reciclagem de lixo urbano Perfumes, desodorantes, cosméticos, sabonetes

Extrato de cafeína e teobromina Extratos de flavonóides

Extrato de saponinas e óleo essencial

Extrato de folhas seletivo e clorofila

Fonte: EMATER - Paraná, 1995.

Através destas análises, pode-se ter a idéia de que o mercado ervateiro constitui-se numa importante e promissora fonte de renda, tanto para os produtores sul-mato-grossenses, quanto para os empresários que se interessem em investir nesta área, pois, conforme já verificado, o consumo de erva-mate cresce a cada dia, mas faltam investimentos e pesquisas para uma melhor contribuição econômica deste setor. 5. CONCLUSÃO Os dados coletados a partir de artigos publicados, dissertações, teses e pesquisas de institutos brasileiros, que tratam do assunto do agronegócio da erva-mate permitem esclarecer que esta é uma cultura rentável, tanto para os pequenos, quanto para os grandes produtores. Além de o consumo estar em constante crescimento entre a população estadual, constituindo um importante e ascendente segmento de mercado para a erva-mate. Porém, em Mato Grosso do Sul, a cultura de ervais encontra-se atualmente em decadência, perdendo campo para outras culturas, como a de grãos e para outros importantes pólos de produção, como a Argentina e o Paraguai, além do estado permanecer em último lugar em matéria de produção e industrialização, perdendo para os estados da região sul do país, que investem mais em pesquisas e tecnologias neste setor. Os dados comprovam ainda que a erva-mate auxilia no crescimento econômico, não só do estado, como também do país, com geração de empregos desde a produção até a comercialização, já que a produção de erva-mate, numa só plantação, permeia por 30 anos e

não é uma cultura anual, como as lavouras, além de poder motivar uma expansão industrial, com os vários subprodutos que a erva-mate pode gerar. Enfim, há necessidade de incentivar e investir em pesquisas para modernizar o processo de cultivo e industrialização da erva-mate, com vistas à melhoria da qualidade do produto em suas diferentes formas de consumo. Investir em recursos econômicos, tempo e pessoal na produção de erva-mate pode trazer benefícios não só para o estado, como para o país. O que se propõe aqui não é a erradicação de outras culturas, tão bem desenvolvidas no estado, para a produção única e exclusiva de erva-mate, mas sim viabilizar a produção desses ervais, gerando maiores lucros para o agronegócio sul-mato-grossense.

6. REFERÊNCIAS ANDRADE, Fabiana Maia. Diagnóstico da Cadeia Produtiva da Ilex Paraguariensis St. Hill - Erva-Mate. Pesquisa em Andamento. Unidade de Pesquisa de Produtos da EMBRAPA/PR. São Mateus do Sul, 1999. Disponível em . Acesso em 10/04/2004, às 23:10h. ANTONI, V. L.. A estrutura competitiva da indústria ervateira do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 1995. (Dissertação de Pós-Graduação em Administração). Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 100 p. AQUINO, Ruy. Breve Histórico da Companhia Matte Larangeira. Revista Leia, Edição 3, Outubro/2000. ARRUDA, Gilmar. Frutos da terra. Os trabalhadores da Companhia Matte Larangeira. (Dissertação de Pós-Graduação em História). Assis: Unesp, 1989. BELTRÃO, L.; TARASCONI, L. C.; HOEFLICH, V. A.; MATUELA, J. Prospecção de demandas da cadeia produtiva da erva-mate. Relatório preliminar. Porto Alegre: FEPAGRO – Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária. Abril de 1996. 37 p. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA – CEPEA/USP, O Saldo Comercial do Agronegócio. Artigo publicado em 13/01/2004, . Acesso dia 10/04/2004, às 22:00h. CERQUEIRA, Carlos Roberto. Movimento Divisionista em Mato Grosso do Sul. Porto Alegre: Edições Est., 1995. CORREA, Valmir Batista. Coronéis e Bandidos em Mato Grosso (1890-1940). (Tese de Doutorado em História). São Paulo: USP, 1982. DA CROCE, D. M. Cadeia Produtiva da erva-mate em Santa Catarina. Chapecó: EPAGRI-Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina S.A. Centro de Pesquisa para Pequenas Propriedades - CPPP, 1996. 35 p. ECHEVERRIA, Mirta. Formas de reclutamiento y fijación de la fuerza de trabajo en los yerbatales misioneros en la primera mitad del siglo. Revista Paraguaya de Sociología, v. 23, n. 66, maio-agosto de 1986. p. 29-37.

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