LITERATURA​​&​​SOCIEDADE:​​SÉCULO​​XX

      LITERATURA​ ​&​ ​SOCIEDADE:​ ​SÉCULO​ ​XX      Pensar  a  Literatura  a  partir  do  Século  XX  é  pensar  em  ​renovação​,  em  ​destrui...
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LITERATURA​ ​&​ ​SOCIEDADE:​ ​SÉCULO​ ​XX 

 

 

Pensar  a  Literatura  a  partir  do  Século  XX  é  pensar  em  ​renovação​,  em  ​destruição  ​e  em  ​quebra  de  paradigmas.  ​Pensar  a  Literatura  a  partir  do  Século  XX  é  pensar  no  conceito  de  ​Modernismo  ou,  pelo  menos,  pensar​ ​a​ ​partir​ ​da​ ​ideia​ ​de​ ​Modernismo.​ ​É​ ​importante,​ ​porém,​ ​que​ ​esse​ ​nome​ ​não​ ​seja​ ​vazio​ ​de​ ​significado.   

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  Para  ter  uma  melhor  compreensão  dos  textos  literários,  vamos  entender  melhor  o  que  significa  afirmar  que  o  Modernismo  é  a  expressão  artística  da  modernização.  Ser  expressão  artística  de  um  acontecimento  que  se  dá  na  sociedade  ​–  na  forma  como  vivemos  ​– é entender que existe uma relação de  amalgamento1,  ​de  ​união  entre  arte  e  estrutura  social​.  A  partir  disso,  conseguimos  enxergar  que  uma  determinada  prática  literária  pode  ter  relação  com  um  determinado  acontecimento  histórico.  Pensemos,  por  exemplo,  na  literatura  e  nas  canções  produzidas  durante  o  período  da  Ditadura  Militar  Brasileira. Uma  vez  que  uma  forte  censura  tolhia  jornalistas,  escritores,  músicos,  outros  artistas  e  pessoas  que  queriam  compartilhar  suas  vozes  com  um  grande  público,  tornou-se  comum  a  prática  de  se  criticar  a  ditadura  e  seus  males  de  uma  forma cifrada. Essa prática foi condicionada (observe que ser ​condicionado ​é diferente  de  ser  ​determinado​)  por  uma  estrutura  social.  Isso  não  necessariamente  aconteceu  apenas  nesse  contexto.  Podemos  imaginar  que  acontece  a  todo  tempo.  Nossas  vidas,  nossas  escolhas  e  nossas  opiniões  são  também  constantemente  condicionadas  por  esse  complexo  mundo  que nos cerca e que nos  faz.   Voltemos  agora  ao  Século  XIX!  Caso  vocês  não  lembrem,  este  foi  um  período  de  grandes  transformações.  Desde  o  início  deste  século,  por  volta  de  1815,  começou  um  processo  de  mudanças  significativas;  mudanças  técnicas  como  o  surgimento  da  Iluminação  Pública,  o  surgimento  das  ferrovias,  1

​ ​Busque​ ​os​ ​diversos​ ​sentidos​ ​que​ ​essa​ ​palavra​ ​pode​ ​ter! 

 

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do  navio  a  vapor,  a  invenção  do  telefone,  o  início da indústria automobilística, etc. Todas essas mudanças  geraram  modificações  na sociedade. Essas transformações se materializaram na forma artística e, a partir  das  últimas  duas  décadas  do  século  XIX,  em  várias  vertentes  da  arte,  podemos  perceber  um  desejo  por  destruição  e  mudança.  Parece  que  as  formas  artísticas  do  passado  já  não  conseguiam  mais  dar  conta  desse  mundo  em  constante  mudança,  desse  mundo  em  que,  como  escreveu  Karl  Marx,  “tudo  o  que  é  sólido​ ​se​ ​desmancha​ ​no​ ​ar”.  

    Na  Literatura  Brasileira  é  importante  ter  em  mente  que  os  escritores  e  escritoras  se  opuseram  a  uma  prática  artística  que  era  dominante nos últimos quarenta anos: o Parnasianismo. O fazer artístico dos  parnasianos  pressupunha  uma  preocupação  excessiva  com  a  forma  dos  poemas,  com  a  rima  e  com  o  formalismo  da  linguagem.  Os  poetas  parnasianos  chegaram a buscar no dicionário palavras rebuscadas e  de  difícil  acesso  para  compor  seus  textos.  Acadêmicos,  pertencentes  à  elite,  tinham  a  ideia  de  ​pureza  artística​,  ou  seja,  temáticas  sociais “sujariam” a arte, que deveria se isolar do social. A partir da ​Semana de  Arte  Moderna​,  em  1922,  esse  paradigma  é  quebrado.  Os  poetas  e  escritores do Modernismo passam a se  utilizar  de  uma  linguagem  cotidiana,  próxima  da  forma  como  as  pessoas  falavam,  e  a  se  utilizar  também  de  temáticas  do  dia  a  dia,  daquilo  que  era  visto,  sentido  e  experienciado  pelas  pessoas  comuns,  ou  seja,  por  todos  nós.  Leia  abaixo  o  famoso  poema  ​Pronominais​,  ​de  Oswald  de  Andrade,  um  exemplo  dessa  quebra  de  paradigmas  com  o  estilo  acadêmico  de  arte  que  era  regra  geral  antes  de  os  modernistas  chacoalharem​ ​com​ ​tudo.​ ​Observe​ ​o​ ​rompimento​ ​com​ ​o​ ​formalismo​ ​linguístico.     Pronominais    Dê-me​ ​um​ ​cigarro  Diz​ ​a​ ​gramática  Do​ ​professor​ ​e​ ​do​ ​aluno  E​ ​do​ ​mulato​ ​sabido  Mas​ ​o​ ​bom​ ​negro​ ​e​ ​o​ ​bom​ ​branco   Da​ ​Nação​ ​Brasileira  Dizem​ ​todos​ ​os​ ​dias  Deixa​ ​disso​ ​camarada  Me​ ​dá​ ​um​ ​cigarro.    (ANDRADE,​ ​Oswald.​ ​Obras​ ​Completas​.​ ​Rio​ ​de​ ​Janeiro:​ ​Civilização​ ​Brasileira,​ ​1972)  

​ ​O​ ​QUE​ ​FOI​ ​A​ ​SEMANA​ ​DE​ ​ARTE​ ​MODERNA?   

A  Semana  de  Arte  Moderna  é  um  dos  eventos  mais  importantes  da  História  da  Arte  no  Brasil.  E  é   

 

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importante  justamente  por  seus frutos e por seus efeitos subsequentes na arte brasileira. O evento aconteceu  em  fevereiro  de  1922  e  foi  adiado  em  um  ano  justamente  para  ser realizado cem anos após a independência  política  do  Brasil.  Não  podemos  localizar  especificamente  os  organizadores  do  evento,  mas  entre  eles  havia  uma  concepção  em  comum:  o  Brasil  tornara-se  independente  politicamente, porém no aspecto cultural ainda  imitava​ ​a​ ​arte​ ​europeia.​ ​Era​ ​preciso​ ​que​ ​a​ ​arte​ ​e​ ​a​ ​literatura​ ​brasileiras​ ​encontrassem​ ​sua​ ​própria​ ​identidade.   A  Semana  na  verdade  durou  apenas  três  dias.  Apresentações recheadas de apresentações musicais,  leituras  de  poemas  e  muitas  polêmicas.  A  polêmica  era  necessária.  Romper  com  o  passado  exigia  radicalismos.   Dois  nomes  vitais  para  a  instauração  do  Modernismo  Brasileiro  ​–  que  principia  com  esse  evento  ​–  foram  Oswald  de  Andrade  e  Mário  de  Andrade  (que  não  eram  irmãos).  Oswald  criou  a  ideia  de ​antropogafia​.  Como  os  índios,  que  se  alimentavam  de  seus  inimigos  para  assimilar  sua  força  e  coragem  sem  perder  sua  identidade  própria,  era  necessário  beber  na  fonte das vanguardas europeias, ou seja, das inovações artísticas  que estavam ocorrendo na Europa. Porém, era de vital importância não perder a própria identidade e criar uma  arte  para  exportação​,  ou  seja,  uma  arte  única.  Mário  de  Andrade  dá  continuidade  à  ideia.  O  escritor,  grande  intelectual  brasileiro,  foi  um  grande  pesquisador  da  cultura  folclórica  brasileira,  buscando  lendas  dos  mais  variados​ ​lugares​ ​do​ ​país,​ ​viajando​ ​pelo​ ​Brasil​ ​e​ ​pesquisando​ ​o​ ​Brasil​ ​urbano​ ​e​ ​o​ ​rural,​ ​o​ ​visível​ ​e​ ​o​ ​profundo.   É​ ​justamente​ ​essa​ ​busca​ ​por​ ​uma​ ​arte​ ​tipicamente​ ​brasileira​ ​que​ ​influenciou​ ​gerações​ ​de   artistas  do  nosso  país a fazer arte sem precisar imitar modelos estrangeiros, sem considerar que aquilo que é  de  fora  é  melhor,  é  superior,  algo  que  pode  ser  entendido  como  um  resquício  de  colonização,  como  uma  síndrome​ ​de​ ​inferioridade,​ ​de​ ​país​ ​colonizado.                             

 

 

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