Ascensão do basquete e decadência das quadras Enquanto a seleção ponta-grossense de basquete é vice campeã do campeonato paranaense, meninos jogam em quadras sem infraestrutura Rafaella Feola O basquete de rua é bastante praticado em Ponta Grossa, mas as quadras mais usadas pelos adeptos do esporte não possuem o mínimo de estrutura necessária. Conforme levantamento realizado pela prefeitura em 2006 – Plano Diretor- na cidade existem 3 ginásios municipais, 11 mini ginásios distribuídos nos bairros e 18 quadras, incluindo de areia, saibro e poliuretano (quadra poliesportiva), além das quadras de colégios públicos e particulares e demais instituições. No entanto, as quadras públicas, principalmente as localizadas nos bairros estão danificadas, com estragos no chão, sem traves, sem aros, tabelas e redes. O ginásio sede dos jogos de basquete, Borell Du Vernay, foi reformado e por isso abriga as competições estaduais. A comunidade em geral muitas vezes não possui espaço para praticar esportes, e não tem acesso aos ginásios municipais. Assim, os jogadores vão para as ruas e quadras, como é o caso do Parque Ambiental e a quadra do campus de Uvaranas da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). O basquete de rua, ou streetball, é uma cultura jovem, associada ao esporte na rua, ligado ao rap, ao hip hop e também às periferias. O basquete inicialmente praticado nas escolas, na rua ganha novos movimentos e dá mais liberdade ao jogador, além de possuir regras menos rígidas. Estudante, Felipe Silva (21), joga basquete desde os 10 anos de idade e diz que o basquete de rua é descontraído: “ Prevalece a criatividade e a agilidade ao criar jogadas independentes. Não é só fazer mais pontos, mas é dar o melhor drible”. Segundo pesquisa realizada em 2006 pelo Mentor da Liga Urbana de Basquete do Rio de Janeiro, Asfilófio de Oliveira, o basquete de rua dá ao jogador a liberdade de criar e improvisar jogadas espetaculares. O streetball é a continuação do basquete convencional, em que são valorizadas, principalmente, a habilidade e criatividade de cada atleta. Com regras menos rígidas, o basquete de rua pode ser jogado com qualquer tipo de formação; desde o um contra um, até o cinco contra cinco. Para o estudante de fotografia, Thiago Prestys (22), o basquete de rua é mais atrativo que o esporte convencional: “É muito mais empolgante pra se jogar, porque
você joga com música, geralmente dirty sound e gangsta rap. Não tem tantas regras e você fica bem mais livre dentro de quadra”. Jackson de Paula (22) joga basquete de rua a seis e diz que entrou no esporte depois de ver um grupo de pessoas jogando no Parque Ambiental: “Fui lá e pedi para jogar, foi aí que eu comecei a aprender a jogar o basquete de rua”. Diferente de Jacskson, o contador (26), Emerson Slechinsky iniciou a prática por indicação de um amigo, no início deste ano. “Um amigo do trabalho me convidou e eu gostei. Hoje ele nem joga mais, mas eu fiquei viciado!”, comenta Emerson rindo. Apesar do gosto pelo esporte, os praticantes têm dificuldades. Em Ponta Grossa o basquete de rua é pouco popular e não é incentivado, não existe um apoio municipal para promover competições, os praticantes se reúnem por conta própria. Giovani Santos (17) lembra que em 2010 acadêmicos de Educação Física da UEPG promoviam ação de incentivo ao basquete.“Eles fizeram um projeto onde íamos treinar e jogar 2 vezes por semana, durou um ano, mas acabou”, lamenta Giovani. Presidente da Associação de Moradores da Santa Maria, Moacir Havrechaki reclama da ausência de apoio público ao esporte: “Falta empenho das secretarias, falta a Fundação de Esportes fazer mais contato com as associações de moradores e fazer algo mais homogêneo”. Luis Camargo (15) fala que além da carência de estímulo, ainda há pouco investimento da Prefeitura Municipal em quadras nos bairros. “O maior problema é que as quadras são muito ruins. As quadras boas disponíveis são as de colégios particulares”, explica Luis. Emerson Slechinsky partilha da mesma opinião de Luis e afirma que já se machucou devido ao mal estado das quadras. “Além dos aros e tabelas de péssima qualidade, tem o piso muito áspero. Eu, por exemplo, já deixei muito sangue naquelas quadras da UEPG”, lembra. Moacir Havrechaki cobra a manutenção das quadras existentes nos bairros: “Primeiro estragam a rede, o aro, a tabela. A questão é a sequência da manutenção”. Mesmo com as dificuldades estruturais das quadras, e a falta de incentivo do município, Jacskon de Paula mostra-se apaixonado pelo basquete de rua: “Ele é jogado com mais coração que o basquete tradicional. Nos reunimos na praça, sabendo que não vai haver premio nenhum no final do jogo. Mesmo assim, cada um que entra na quadra joga como se fosse a final de um campeonato”.
Apesar do basquete de rua ser uma modalidade recente e não obter tanta popularidade no município, Ponta Grossa já foi reconhecida pelo basquete tradicional. A cidade princesinha foi campeã paranaense durante cinco anos consecutivos, de 1992 a 1995. No entanto, ao longo do tempo o esporte decaiu, e a cidade não obteve outros títulos. Em 2013 a época de ouro do basquete ponta – grossense retornou. O Novo Basquete Ponta Grossa (NBPG) conquistou o segundo lugar no campeonato paranaense e animou os moradores da cidade, aumentando a cada jogo o número de espectadores. "Agora, com o NBPG em destaque, espero que haja uma divulgação do basquete em si", argumenta Giovani Santos. Moacir Havrechaki diz: "A cidade está respirando basquete". Ao mesmo tempo, o problema estrutural das quadras fica em segundo plano. Representante da Fundação de Esportes, Professor Lartes de Oliveira relata que as quadras da cidade passaram por uma reforma em 2008: “Várias quadras ganharam reformas e benfeitorias”. Porém, lembra que para novos reparos é preciso planejamento: “Na medida do possível faremos reformas, é preciso estar de acordo com o orçamento do município”. Para todos estes meninos, Felipe, Thiago, Jackson, Emerson, Giovani e Luis a solução é a mesma, a melhoria das quadras e maior incentivo. Thiago sonha com eventos patrocinados pela prefeitura, com divulgação e patrocínios mas Felipe facilita: “Não precisa de muito, é só dar uma quadra decente, uma bola que preste, que a ‘piazada’ faz o resto”.