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PONT O DE VIST A PONTO VISTA

Cultura da Soja: adubar ou não com nitrogênio?

A

necessidade de nitrogênio (N) pelas plantas de soja, em condições de campo, é suprida pela simbiose e pelo elemento disponível no solo. A escassez de N pode ocorrer ocasionalmente quando seu fornecimento ou falta de umidade superficial do solo forem fatores limitantes.

As condições sazonais são fatores importantes para o controle das respostas ao N e seu efeito não é tão simplesmente compreendido. Em estudos mais antigos, obtiveram-se respostas relativamente satisfatórias em condições de temperatura alta e estação seca, não havendo respostas quando as chuvas foram adequadas (Lyons & Early 1952). Na região do Meio Oeste dos E.U.A., na ocorrência de chuvas pesa-das na primavera, White et al. (1958) constataram tendência de lixiviação dos nitratos procedentes de fertilizantes aplicados em milho a uma profundidade em que não há interferência na nodulação e em que ainda seriam disponíveis para a planta.

A liberação de N via atividade elétrica durante as chuvas de verão, em função de sua solubilidade, é necessária e determinante da resposta ao N do fertilizante. Thompson (1963) salientou que a alta produtividade obtida nos anos de cinqüenta foi justamente devida à ocorrência de chuvas em quantidades satisfatórias. Resultados obtidos com a adubação de N em soja no campo, nos E.U.A., foram extremamente variáveis (Allos & Bartholemeu 1959; Norman 1944; Norman & Kampritz, 1945 e Weber 1966 b). Essa leguminosa Hipólito pode utilizar rapidamente tanto o N simbiótico quanto o disponível no solo. Quando o suprimento se dá em quantidade excedente às necessidades para o crescimento das plantas, pode haver interferência do N na eficiência da fixação simbiótica (Allos & Bartholemeu 1959 e Weber 1966a). As tentativas de utilização de grandes quantidades de fertilizantes nitrogenados, sem inibição do processo simbiótico, geralmente têm falhado. Hinson (1974) relatou que, respostas ocasionais a fertilizantes nitrogenados em soja, não devem ser consideradas como regra geral. Os dados desse autor sugerem que as respostas positivas não são freqüentes nem repetitivas sendo imprevisíveis e geralmente não econômicas, o que é também confirmado por Hardy (1959) e Arnold (1969). Em diversos estudos realizados nos EUA, aplicou-se nitrogênio em soja nodulada e não-nodulada, na premissa de que, naqueles genótipos não nodulados haveria 46

estreitamente correlacionados. Eles postularam que as bactérias são inativadas e que os nódulos se tornam verdes durante o enchimento das vagens quando o N ainda é requerido pela planta. Por outro lado, Hardy et al. (1968) avaliaram a fixação de N em termos de redução de C2H2 a C2H4 catalisada pela nitrogenase. A taxa má-xima de fixação de N foi observada posteriormente, na formação das sementes, e a atividade de redução do C2H2 somente foi reduzida após o enchimento total das vagens. Nessas condições não se deve esperar deficiência significativa de N no fim do ciclo das plantas de soja.

Da esquerda para a direita: nodulação na soja ‘Hardee’ (acima) e nódulos coletados (logo abaixo) em função da aplicação de 240, 120, 60, 30 e 0 kg/N/ha, respectivamente

maior eficiência na utilização de N pela planta devido à economia na energia dispendida na manutenção de um sistema nodular. Entretanto, não se verificou produção superior nas plantas não noduladas em relação às noduladas, em nenhuma das doses de nitrogênio aplicadas (Wagner 1962 e Weber 1966ab). De fato, Weber (1966a) relatou que, em linhagens isogêni-cas noduladas, sempre houve maior produ-ção de grãos do que nas não noduladas, utilizando-se a mesma quantidade de fertilizante. Sugeriu-se que o nitrogênio simbiótico seria uma fonte mais aproveitável de N do que aquele proveniente de fertili-

zante, ainda que a necessidade de energia para a simbiose e redução do N fixado fosse menor do que aquela requerida para a absorção de nitrato e sua subseqüente redução pela linhagem isogênica não nodulada.

Nos estudos de Harper (1999), mostrou-se que com a fixação simbiótica do N as necessidades da planta de soja são supridas, sob ótimas condições de produção, onde outras limitações sejam removidas. Como exemplo, já se observou um aumento de 11,8% na produção de soja devido à aplicação do fertilizante nitrogenado suplementar no estádio R3, quando as produções foram da ordem de 3.770 kg/ ha ou superiores, sob irrigação. Nenhuma resposta à aplicação de N suplementar foi observada quando os níveis de produção foram de 3.360kg/ha ou inferiores. Em certos solos dos EUA, Israel & Burton (1997) concluíram ser possível a obtenção

de uma resposta mais alta de rendimento à aplicação de nitrogênio. A despeito dessa conclusão, somente em duas, de um total de 59 combinações entre cultivar e local, verificou-se aumento de rendimento devido à aplicação de 150 kg/ha de N. Os resultados mais freqüentes na adubação da soja com N, nos EUA, têm sido a falta de resposta ou o aumento de produtividade não lucrativa. No Estado de São Paulo, Mascarenhas et al. (1967) não obtiveram respostas em soja, com a aplicação de 30 e 60 kg/ha de N na sua fase vegetativa, tanto na presença quanto na ausência de calagem. Com a calagem houve boa nodulação e as produções foram sempre superiores quando comparadas à aplicação de ambas as doses de N. Mascarenhas et al. (1968) também não obtiveram diferenças entre as produtividades de soja obtidas quando compararam diferentes fontes de estirpes de Rhizobium e N, em dose única de 50 kg/ ha de N, aplicado também na fase vegetativa, em cobertura. Novo et al. (1997 e 1999) relataram respostas à aplicação do N em soja, no inverno, devido ao fato de haver interferên-

Deficiência de nitrogênio em reboleira associada a ausência de nodulação em soja ‘Santa Rosa’. Vargem Grande do Sul, SP,

Também há controvérsia sobre a necessidade de suplementação de N em soja no período final da formação de suas sementes (R5, R6 ou R7), devido à diminuição da atividade simbiótica durante o enchimento das vagens. Tanner e Anderson (1964) avaliaram o contéudo de leghemoglobina e a taxa de fixação de N que são O Agronômico, Campinas, 53(1), 2001

Boa nodulação em soja ‘Santa Rosa’ em solo adequadamente corrigido e adubado. Guaíra, SP, 1974

O Agronômico, Campinas, 53(1), 2001

cia negativa tanto na formação de nódulos quanto na fixação simbiótica, em condições de frio. O mesmo foi verificado por Mascarenhas em 1978 (dados não publicados), porém sem aplicação de N e na ocorrência de chuvas excessivas (encharcamento), quando se estabeleceram condições anaeróbicas no solo, no início de desenvolvimento vegetativo da planta, sendo observados sintomas típicos de amarelecimento nas mesmas. Nessa situação específica a necessidade das plantas foi suprida com a aplicação de 60kg/ha de N, sendo retomada a coloração esverdeada na parte aérea e também, obtida alta produtividade. Em diversos experimentos desenvolvidos no País e, ao contrário do relatado em outros, Hungria et al. (1998) mostraram que com a reinoculação de soja, pode-se obter incremento significativo no rendimento, em solos com elevada nodulação estabelecida. Em Londrina e Ponta Grossa, PR, os incrementos obtidos em três safras de soja variaram de 3,2 a 14,5% no rendimento de grãos e de até 25%, no teor de proteína destes. Estes mesmos autores constataram também que, tanto com a aplicação de N em dose inicial quanto, em doses elevadas no florescimento ou no período de enchimento de grãos, não se obtém aumento considerável nos rendimentos. O nitrogênio deve ser utilizado para fins de incremento da proteína da soja e da qualidade fisiológica das sementes? Não é necessário o uso de fertilizante nitrogenado quando se objetiva o aumento do teor de proteína nos grãos de soja e da qualidade fisiológica das sementes porque essas características são decorrentes 47

da maior densidade de grãos. Mascarenhas et al. (1990) obtiveram aumento de 3 a 9% no teor de proteína e também da quali-dade fisiológica de sementes, aplicando calcário dolomítico para redução da acidez e utilizando adubação adequada em fós-foro, potássio, enxofre e micronutrientes, quando necessário. Cabe ressaltar que o importante é a quantidade produzida de proteína e óleo (produção de sementes multiplicada pelo teor de proteína e óleo). Outra maneira de se obter aumento do teor de proteína seria o manejo de cultura. Com a utilização de adubos verdes, nas seqüências de culturas, como crotalária e mucuna-preta, além do controle de nematóides Meloidogyne incognita e M. javanica pode-se obter até 200 kg/ha de N, com a incorporação de fitomassa (relatório da Coperçucar 1983/84). Isso é suficiente para o aumento da proteína de soja a níveis adequados (40 a 42%) e para a melhoria da qualidade fisiológica das sementes, naturalmente aliada com adubação mineral adequada. Diante do exposto, verifica-se a vantagem substancial que se pode obter na cultura da soja, unicamente com a substituição da adubação nitrogenada pela fixação simbiótica com bactérias e utilização de adubos verdes na rotação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLOS, H.F. & BARTHOLOMEU, W.W. Replacement of symbiotic fixation by available nitrogen. Soil Sci. 87:61-66, 1959. ARNOLD, B.L. Soybeans need no nitrogen fertilizer. Miss. Agr. Exp. Sta. Info. Sheet16:1056, 1969. HARDY, G.W. Nitrogen fertilization of soybeans. Soybean Digest, 19 (8):18, 1959. HARDY, G. W., HOLSTEN, R. D. ; JACKSON, E.F. & BURNS, R.C. The acetylene-ethylene assay for N 2 fixation: Laboratory and field evaluations. Plant Physiology 43: 1185-1207, 1968. HARPER, J. Nitrogen fixation-Limitations and Potential. In Harold.K. Kauffman Editor. Proceeding, World Soybeans Research Conference VI, Chicago, Illinois, 1999,p.235-243. HINSON, K. Nitrogen fertilization of soybeans ( Glycine max (L.) Merrill) 48

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ANÚNCIO PIONEER

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Hipólito A.A. Mascarenhas*, Elaine B. Wutke, Nelson R. Braga, Roberto T Tanaka* e Manoel A.C. Miranda IAC - Centro de Plantas Graníferas Fone (19) 3241-5188, Ramal 316 Endereço eletrônico: [email protected] * Pesquisador aposentado e com bolsa do CNPq

O Agronômico, Campinas, 53(1), 2001

O Agronômico, Campinas, 53(1), 2001

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