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A GAZETA
Otmar de Oliveira/Arquivo
CUIABÁ, DOMINGO, 8 DE JANEIRO DE 2017
Novo presidente da Famato cita grandes desafios com a legislação trabalhista e ambiental
Meta é fortalecer o agronegócio FABIANA REIS EDITORA DE ECONOMIA
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ascido na cidade paulista de Rinópolis e se titulando mato-grossense de coração, Normando Corral é produtor rural no Estado há 34 anos. Mudou-se para Tangará da Serra em janeiro de 1982 logo após se formar em Agronomia em Lavras (MG) e se casar. Veio para cá seguindo a paixão do pai, que amava o Estado só de ver no mapa e que comprou uma terra em 1964, mas que só conheceu a propriedade 9 anos mais tarde. Normando iniciou na atividade agropecuária há cerca de 20 anos, com a criação e venda de gado de corte, cria, recria e engorda. Também atua na atividade canavieira, plantando cana e a fornecendo para a indústria. Nos últimos 30 anos teve a oportunidade de ver o Estado crescer e a produção agropecuária caminhar a passos largos. Agora, ele tem um “velho novo” desafio pela frente: presidir a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Sistema Famato/Senar) no triênio 2017-2019. “Velho novo” porque, como já foi vice-presidente da entidade e chegou ao posto mais alto algumas vezes para cobrir a licença de alguns presidentes, já pode ser considerado um veterano, e conhecedor dos problemas e soluções do agronegócio, que nos conta nesta entrevista. A Gazeta - Quais são os principais entraves da agropecuária? Normando Corral - A agricultura é a mola propulsora do Estado e a demanda ficou muito grande. Associado a isso, o Estado com Bioma Amazônico apresenta muita restrição à produção, com a nova legislação ambiental que mudou os percentuais para exploração da atividade rural na propriedade, e de preservação e conservação ambiental. Isso é um
Federação da Agricultura e Pecuária representa 90 sindicatos rurais espalhados por todas as regiões do Estado
escândalo porque os produtores que vieram, investiram e compraram a terra hoje podem trabalhar só numa parte dela. Hoje, o principal trabalho da federação é dar apoio ao desenvolvimento agropecuário e dar defesa aos produtores. Tem áreas que somos bastante atacados. Na legislação, por exemplo, nós temos a trabalhista que precisa ser reformada principalmente no caso do trabalhador rural, porque pune mais quem emprega. No caso das restrições ambientais, entendemos que o Brasil precisa voltar a entender que algumas coisas foram feitas erradas na abertura das áreas. Como não houve muito critério, abrindo terras improdutivas, isso prejudica. Há muita terra boa e que agora tem que ser preservada por causa da legislação. Há áreas férteis, com boa topografia, com regularidade de clima e que não podem ser abertas. O que temos hoje está suficiente, mas vai chegar uma hora que vai precisar abrir novas áreas.
do Sul, Paraná, Espírito Santo e Rio de Janeiro dá o território de Mato Grosso, e a gente fica com um pouco mais. Nesses estados são 100 milhões de pessoas e nós somos apenas 3,2 milhões. E a distância pra essas pessoas se encontrarem é enorme. A divisão que proponho é em 10 regiões, e a região com menor número de sindicatos vai ter 6 ou 7 e a maior com 11 ou 12, por característica de cada região. A regionalização é a 1ª etapa pra fazer a interiorização. A sede da Famato é na Capital porque é assim que tem que ser, para fazer a interlocução política de representatividade do produtor. Mas, nós representamos quem? Quem está no interior. E administrar toda essa diversidade com uma reunião em Cuiabá, trazendo todos os sindicatos rurais para resolver problemas tão diversos. Então, a proposta é dividir essas regiões. E cada uma delas terá um presidente que vai fazer essa interlocução com os presidentes sindicais. A diretoria da Famato que vai lá. Nós vamos fazer pequenas assembleias com os presidentes dos sindicatos e todos eles vão poder falar e nós vamos ouvir.
Nova diretoria da Famato foi eleita para o triênio 2017-2019
Uma das propostas é ampliar a regionalização da Famato para melhor atender os sindicatos. Por que isso? A interiorização da Famato é uma plataforma da minha campanha. Hoje, a Famato é dividida em 5 regiões, o que é pouco. O Estado é muito grande. Eu conheço o Estado e tive a oportunidade de conhecer mais na campanha. Temos 90 sindicatos, 1 na capital e 89 no interior. Eu rodei mais de 30 mil km visitando todas as regiões. Seria melhor dividir em 10 regiões administrativas para atender melhor os sindicatos. Para se ter uma ideia, se você somar os estados de Santa Catarina, São Paulo, Rio Grande
Em relação aos projetos que a Famato desenvolve como os dias de campo, qualificação de novos líderes e incentivo à sucessão familiar, o que será feito? Os projetos que dão certo é obvio que temos que intensificar e fazer as correções e melhorias necessárias. A sucessão familiar é algo que está tendo grande demanda, os dias de campo precisamos intensificar em comum com as outras associações. O que acontece hoje é que há muitos eventos e os presidentes de sindicatos rurais e produtores não aguentam mais Marcus Vaillant tantos eventos, é uma coisa assustadora. Temos a Aprosoja, a Acrimat, a Famato a Fundação MT cada um com seus eventos, durante o ano todo. E o que acontece? Acaba tendo a frustração dos organizadores porque o público é pequeno, e do público porque os assuntos se repetem. Então é aí que precisamos discutir com as entidades para não fazermos ações acumuladas que representam perda de tempo, energia e dinheiro. É um problema que temos que resolver. Mudando de assunto, qual a avaliação do senhor do agronegócio mato-grossense, uma vez que somos líderes na produção de grãos e no rebanho bovino? Vou fazer 1º uma avaliação sobre o mercado, porque a gente não faz o mercado, a gente segue
o mercado. Não conseguimos formar o preço do produto que vendemos. A agropecuária não é como a atividade industrial e comercial. No comércio você compra um objeto, vê o seu preço de custo, embute os encargos, coloca sua margem de lucro e põe pra vender. Caso não consiga vender, mais tarde tem a liquidação, uma hora vai vender, se tiver que dar desconto sabe até onde pode ir e reduz o prejuízo. Assim é o comércio, e na indústria é a mesma coisa. Na atividade agropecuária você não faz a formação do preço. Você consulta o preço dos insumos que vai precisar, tenta produzir da melhor maneira e o máximo possível. E na hora de vender vai ver quanto o mercado está pagando. Se você tem um pouco mais de colchão financeiro pode especular um pouco o mercado não vendendo agora e deixando pra depois. Foi o que aconteceu com o milho que saiu de R$ 17, R$ 18 e foi pra R$ 30, R$ 32. E depois baixou por causa da escassez. E quem poderia prever isso? Então, nós não fazemos o mercado, nós o seguimos. Quanto à agricultura e pecuária, o Brasil tem crescido sim mas, Mato Grosso é a joia da coroa da produção agrícola e pecuária porque foi o local que mais cresceu ultimamente, por causa da sua extensão territorial e da regularidade de clima. Esta é a vocação de Mato Grosso. Nos últimos anos percebemos o engajamento político do setor, com a criação de frentes parlamentares em Brasília e em Mato Grosso. Quais são os resultados? Esse tema é delicado, mas eu respondo. A interlocução política da Federação e de sua diretoria é uma obrigação. Tem que fazer para defender o produtor rural. Tem que fazer a interlocução política com os poderes Legislativo e Executivo. Os últimos presidentes da Famato saíram para candidatarem-se a cargos políticos como Zeca D’Ávila, saiu para deputado estadual, Homero Pereira saiu deputado federal e o Rui Prado saiu, mas não se elegeu senador. Esse é um ponto de risco. A diretoria executiva da Famato, em especial seu presidente, numa passagem por aqui visando uma candidatura política, não é ruim desde que ele renuncie a diretoria porque é incompatível com o cargo. Porque a partir do momento que tem o mandato parlamentar você tem um laço mais forte com seu partido político do que com a entidade. É bom que gente boa saia para a política porque temos muita gente desacreditada nessa área. Não há liderança hoje que não esteja participando de alguma delação. Há uma crise política muito forte. Mas falando da federação, no meu entender, a diretoria executiva da Famato se for se candidatar tem que renunciar. No estatuto da Famato isso não existe e pretendemos mudar. Ocorre por causa da legislação eleitoral e queremos trazer isso para nosso estatuto também. E todos nós eleitores temos que prestar mais atenção porque 2018 está logo aí.