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R Reforço para a REPORTAGEM DESENVOLVIMENTO LOCAL Por Ricardo Vieira Linha de crédito do BDMG beneficia empresas nascentes com empréstimos de até R...
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R Reforço para a REPORTAGEM

DESENVOLVIMENTO LOCAL

Por Ricardo Vieira

Linha de crédito do BDMG beneficia empresas nascentes com empréstimos de até R$ 15 mil; metodologia inovadora para análise do crédito, premiada internacionalmente, foi utilizada pela primeira vez por um banco público no Brasil

O

sonho de empreender está mais palpável em Minas Gerais. Desde abril, o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG) atua com uma linha de crédito inovadora, destinada a empresas com até seis meses de vida. O BDMG Acredita, que disponibiliza empréstimos de R$ 2 mil a R$ 15 mil, reúne longo prazo para pagamento – 24 meses, com três meses de carência –, taxa fixa de 1,78% ao mês e taxa de abertura de crédito (TAC) de 2%, descontada no ato da liberação. Mais do que evitar uma falência precoce, a linha de crédito visa dar força para os empreendedores da base da pirâmide. “É algo inovador para o sistema de formalização, que apoia o desenvolvimento da produtividade dos países. Hoje, 50% da força de trabalho da América Latina está na informalidade”, explica Luis Alberto Moreno, presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que é um dos parceiros do projeto. “É uma parceria visando encontrar uma solução financeira para atender um segmento de mercado que normalmente não é atendido pelo sistema financeiro”, justifica Júlio Onofre, presidente do BDMG. Com a parceria, o BID vai manter um fundo de R$ 21 milhões como garantia para os financiamentos. A expectativa do BDMG é de que mais de seis mil novos empreendimentos sejam beneficiados ainda neste ano, principalmente nos setores do comércio e de prestação de serviços. Ao todo, estarão disponíveis 60 milhões de reais para financiamentos que poderão ser utilizados como capital de giro, sem a necessidade de comprovação do investimento. “O empresário que está iniciando seu negócio obviamente não tem um passado para mostrar, portanto ele fica sem ter possibilidade de acesso ao crédito. Essa metodologia propõe uma solução para o problema”, explica Onofre. Esse tipo de problema foi evitado pelo empresário Ronie Azevedo, de Ribeirão das Neves. O pai de Ronie é comerciante na cidade há mais de 30 anos e quando os dois decidiram se unir e formalizar o comércio, o empresário passou a pesquisar sobre linhas de crédito que pudessem impulsionar o negócio. Após identificarem potencial, os dois decidiram que

o açougue, de nome “Esquinão da Carne”, tornar-se-ia também uma mercearia. Durante as pesquisas, Ronie encontrou o programa. “Veio na hora certa, impossível ser mais certa. O empréstimo tem sido importante tanto para fluxo de caixa quanto para compra de novos equipamentos”, conta Ronie. Os novos equipamentos citados pelo empresário fazem parte de mais um passo dado com o auxílio dos R$ 15 mil obtidos através do Acredita: um novo empreendimento na cidade, com as mesmas características do primeiro. O negócio de Ronie e de seu pai é um bom exemplo de atuação de base da pirâmide com potencial para se fortalecer. Formalizado em novembro do ano passado, o “Esquinão da Carne” original conta apenas com quatro funcionários, incluindo Ronie e os pais. O patriarca da família cuida do açougue, enquanto o filho se divide entre o caixa, as entregas, o estoque e a parte financeira. O empresário tem experiência administrativa, trabalhou como gerente de vendas e foi corretor de imóveis. Além disso, mora bem próximo ao estabelecimento. Muitos desses fatores foram levados em conta no questionário que Ronie preencheu para obter o financiamento. “Eles abordam dois pontos importantes. Além de perguntar sobre a finalidade do empréstimo, querem saber sobre a vida dos sócios, se têm bens, experiências anteriores, entre outras questões”, explicou, salientando que o procedimento é bem simples: “Existe um passo a passo no site que não deixa nenhuma dúvida. Não demorou 15 dias do dia que eu solicitei até a liberação do empréstimo.” A rapidez que impressionou o empreendedor deve ser uma constante para os outros pedidos. O BDMG estima que o questionário leva cerca de 30 minutos para ser completado. A análise da adequação das informações fornecidas sobre o perfil do empresário com a política interna do banco também não demora. Em poucas horas, o candidato recebe um e-mail com o resultado, informando se teve ou não acesso ao financiamento. Depois dessa etapa, o empresário precisa enviar uma relação simples de documentos e, dentro de no máximo cinco dias úteis, o recurso é liberado na conta bancária da pessoa jurídica do CNPJ solicitante. Cada cliente pode obter no máximo três vezes o capital

RUMOS –38 – Maio/Junho 2014

base da pirâmide

Renato Cobucci

atividade empresarial, para traçar o perfil do avaliado e determinar a avaliação de risco de crédito da nova empresa. A metodologia nasceu dentro da Universidade de Harvard e, após o EFL se tornar uma organização independente, foi premiada e reconhecida pelo G-20 SME Finance como uma das soluções mais inovadoras no mundo para financiamento de empresas da base da pirâmide. Segundo o BID, o BDMG é o primeiro banco público a aplicar a metodologia baseada em testes psicométricos no Brasil. O banco interamericano, parceiro do EFL, decidiu ampliar o alcance das ferramentas que o laboratório havia desenvolvido. Assim, o banco de Minas Gerais foi eleito para se tornar um dos pioneiros no uso das ferramentas na região, por meio de Júlio Onofre, presidente do BDMG: “O sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado uma iniciativa chamada Oportunidacomo referência em vários outros países”. des para a Maioria – um programa do BID que aplica estratégias sustentáveis, com base no mercado, social integralizado da empresa. O empresário não precisa ter para levar os benefícios do desenvolvimento econômico e sido cliente do BDMG, ter começado a faturar ou ter de comsocial à maioria da população da América Latina e do Caribe. provar o faturamento ou o patrimônio dos sócios. O questioEsta iniciativa promove e financia modelos de negócios nário de identificação de perfil fica disponibilizado inicialemergentes que mobilizam empresas do setor privado, mente na plataforma de crédito online do banco, acessado no governos locais e comunidades para o planejamento e a exepróprio site. Posteriormente, será estendido para os Correscução de produtos e serviços de qualidade, a criação de pondentes Bancários espalhados pelo interior do estado. empregos e a participação de produtores e consumidores de baixa renda na economia formal. Inovação – O questionário que Ronie respondeu – e que “Nós temos uma história de parceria muito longa com o todo solicitante deve preencher – é fruto de mais uma parceBDMG”, lembra Luis Alberto Moreno. De fato, a parceria ria firmada para a criação do BDMG Acredita, e mais uma das com o banco mineiro começou ainda em 2008, quando as inovações do programa. Ele foi elaborado pelo Eutreupreneduas instituições firmaram acordo para promover investiurial Finance Lab (EFL) [Laboratório de Finanças para o mentos em energia renovável, eficiência energética e mudanEmpreendedorismo, em tradução livre]. Com escritórios na ças climáticas. Foi assim também no ano seguinte, quando América do Sul, na América do Norte, na Ásia e na África, o foi feito um acordo entre as duas partes para diminuir os EFL busca o desenvolvimento de ferramentas para identifiresíduos sólidos no estado de Minas Gerais. car empresários de potencial para instituições financeiras no Júlio Onofre destaca que, para o BDMG, é importante mundo todo. “O resultado foi muito satisfatório em outros contribuir com a missão do BID de desenvolver as comunipaíses, o que nos animou a buscar essa experiência para Minas dades e regiões que necessitam de apoio. “Esse projeto (o Gerais”, justifica Júlio Onofre, sobre a adoção deste critério Acredita) tem um mérito muito grande porque é voltado para para a liberação do crédito. a base da pirâmide, que é o público mais difícil de alcançar. O Trata-se de uma análise psicométrica do candidato, que sucesso desse projeto irá permitir que seja utilizado como conta com questões éticas e morais, além de dados sobre referência em vários outros países”, completou.  RUMOS – 39 – Maio/Junho 2014