O ESPORTE COMO PARTE DO TRATAMENTO DA DEPENDÊNCIA QUÍMICA EM UM CAPS ad II: UMA VISÃO INCLUSIVA Laranjo,Thaís Helena Mourão; Santos, Érico Murillo de Almeida; Amorim, Bruno Vizolli 1.Introdução
2. Objetivos
O Centro de Atenção Psicossocial em álcool e drogas (CAPS ad II) de Ermelino Matarazzo (EM) é um serviço ambulatorial de saúde que tem por objetivo atender dependentes de álcool e outras drogas em diferentes níveis de intensidade. Este serviço foi estabelecido em julho de 2004 através de convênio entre a Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de São Paulo e a Associação Saúde da Família. O CAPS ad II EM se localiza na Zona Leste, região da periferia de São Paulo e atende pessoas das regiões de Ermelino Matarazzo, São Miguel Paulista e Distrito Administrativo de Itaquera. Esta é uma área com aproximadamente 600.000 habitantes. A maioria dos pacientes que freqüentam o CAPS ad II EM são homens (gráfico 1) e por isso surgiu a idéia de realizar uma oficina terapêutica de futebol.
Pretende-se, com este trabalho, mostrar o potencial terapêutico dos vários tipos de atividade física para a dependência química, a começar pelo futebol, um esporte com altíssimo índice de aceitação entre os homens brasileiros.
Número de pacientes que ingressaram no tratamento em 2005 600
515
441
Homens
400 200
Mulheres
74
Total
3. Métodos Foram realizados 14 treinos, 11 reuniões e 7 jogos ao longo do segundo semestre do ano de 2005. Passaram pela oficina de futebol 14 pacientes, chegando ao campeonato um time com 11. Nas reuniões procurou-se estimular a reflexão acerca dos sentimentos e emoções que se manifestam durante a prática do futebol fazendo-se uma correlação com situações cotidianas da vida. Destacou se a agressividade e a possibilidade de contê-la, a o que significa ser um time e jogar coletivamente Nos treinos os pacientes foram expostos à situações problema (estímulo) gerando vários tipos de reação (resposta ao estímulo). A partir da reação faz-se com o paciente ou com o grupo uma reflexão, buscando criar um novo conceito, procedimento ou atitude, que podem ou não ser unânimes. Passada a seqüência de reuniões e treinos (preparação), os pacientes foram inscritos em um campeonato de Futebol de salão chamado “Copa da Inclusão”. A “Copa da Inclusão” é um evento anual organizado por pessoas ligadas ao Conselho Regional de Psicologia de São Paulo e à ONG da Inclusão, em que, participam instituições que oferecem tratamento na área de saúde mental.
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Gráfico 1
1.1 Esporte x Dependência Química É sabido que atividade física não se resume às práticas esportivas competitivas; brincadeiras de rua, jogos recreativos, danças, lutas, caminhada e corrida também são do universo da atividade física, assim como os esportes coletivos e individuais. Faz-se necessário entender que o esporte, neste caso o futebol, pode ser usado de modo a diminuir o valor dado à competição, para que seja possível tornar evidente outras características deste esporte, tais como, trabalho em equipe, respeito às regras e as pessoas envolvidas no jogo, respeito aos limites do corpo humano, diversão, lazer, benefícios à saúde e promoção do bem estar físico e mental. BARBANTI et al afirma que (...) “o esporte pode e deve fazer parte da felicidade do homem, seja por características biológico-naturais ou pelas sócio-culturais”, em concordância BYINTON diz que “o esporte pode ser uma forma de educar o corpo para obter saúde, qualidade de vida e bem estar físico e mental”. Observando as opiniões destes dois autores é possível perceber que o esporte se vale de características que influenciam diretamente diversos aspectos da vida humana, seja emocional, racional ou físico. Os dependentes químicos não constituem um grupo homogêneo, embora certas características comuns possam ser observadas. A baixa auto-estima, as dificuldades de relacionamento e a resistência para seguir normas e regras podem ser superadas através do esporte. Outra característica comum entre os dependentes químicos é a baixa tolerância à frustração, que nos remete a questão do ganhar e do perder que, evidentemente, está presente no jogo e no esporte. Ferreira et al (2001) complementa, “Além de adaptações físicas, atribuem-se ao exercício alterações comportamentais, com substancial evidência de que indivíduos envolvidos em programas de exercícios experimentam efeitos positivos na saúde, com partes deles observados após sua execução, em relação aos estados de humor. A “mecânica terapêutica” pelo esporte funciona de maneira simples: Estímulo– resposta–reflexão–novo conceito/procedimento/atitude. Basicamente o paciente é estimulado a buscar novas alternativas enquanto joga futebol. Deste modo espera-se que ele se aproprie das mudanças propiciadas pela reflexão feita na oficina de futebol para o jogo e as amplie para outras esferas da vida, CHOSHI (2000).
4. Resultados e Conclusão Durante a copa da inclusão mantivemos a realização das reuniões com o time de futebol e alguns pacientes puderam falar sobre a fissura que sentiam em todas as situações que envolvem o jogo de futebol como por exemplo ir no ônibus cantado, pois isto estava frequentemente ligado ao uso de drogas. Com isso pudemos conversar sobre essas dificuldades. Alguns pacientes quiseram desistir e nas reuniões foram estimulados a continuar e assim o fizeram. O time do CAPS ad II Em foi campeão da série prata na copa da Inclusão de 2005, isso serviu como estímulo aos pacientes. Alguns relataram jogar sem uso de álcool e outras drogas pela primeira vez. Essa conquista representou a possibilidade concreta de vencer obstáculos sem uso de drogas. Além disso o time cometeu, em média, 04 faltas por jogo durante o campeonato, o que é considerado um índice baixo e uma vitória para um grupo com grande dificuldade em se controlar no início dos treinos. Assim, pudemos constatar a importância da oficina de futebol no tratamento dos dependentes químicos do CAPS ad IIEM.
5. Referências BARBANTI, Valdir José. “Esporte e atividade física: interação entre rendimento e saúde”. Editora Manole,2002. BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho.”A riqueza do futebol”. Revista Psique Ciência&Vida,p2233, 2006. CHOSHI, Koji. Aprendizagem motora como um problema mal-definido. Revista Paulista de Educação Física, São Paulo, Suplemento, n. 3, p. 16-23, 2000.
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