O CONTEXTO DO FUTEBOL NO MUNDO: Do senso comum à crítica pedagógica
O CONTEXTO DO FUTEBOL NO MUNDO: Do senso comum à crítica pedagógica
Depósito legal na fundação biblioteca nacional, conforme lei n. 10.994, de 14 de dezembro de 2004. É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte. ORGANIZADORES ALUÍZIO DA ROSA ANA CAROLINA MALLMANN LILIAN MESSIAS SAMPAIO BRITO ILUSTRADORES ALEXANDRE BARBOSA HÉLIO PUCHALSKI JOCELIN JOSÉ VIANNA DA SILVA MARIA CRISTINA DE PAULA MÜLLER ROBERTA JORGE DA SILVA WISNIEVSKI REVISÃO TEXTUAL BARBARA REIS CHAVES ALVIM ORLY MARION WEBBER MILANI PROJETO GRÁFICO WILLIAM ALBERTO DE OLIVEIRA DIAGRAMAÇÃO FERNANDA SERRER NORMALIZAÇÃO RITA DE CASSIA TEIXEIRA GUSSO CRB 9./647
CATALOGAÇÃO NA FONTE P111 PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO. O CONTEXTO DO FUTEBOL NO MUNDO : DO SENSO COMUM À CRÍTICA PEDAGÓGICA / PARANÁ. SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO. SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO. - CURITIBA : SEED/PR., 2013. 207P. ; ILUS.
ISBN 978-85-8015-056-8 1. FUTEBOL-BRASIL. 2. EVENTO ESPORTIVO. 3. EDUCAÇÃO-PARANÁ. I. ROSA, ALUIZIO, ORG. II. MALLMANN, ANA CAROLINA, ORG. III. BRITO, LILIAN MESSIAS SAMPAIO, ORG. IV. TÍTULO. CDD790 CDU79+37(81) SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO AVENIDA ÁGUA VERDE, 2140 VILA ISABEL TELEFONE (XX41) 3340-1722 CEP 80240-900 – CURITIBA – PARANÁ – BRASIL
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA IMPRESSO NO BRASIL
GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANÁ CARLOS ALBERTO RICHA VICE-GOVERNADOR E SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO FLÁVIO ARNS SECRETÁRIO DE ESTADO DE ASSUNTOS DA COPA DO MUNDO DA FIFA 2014 MÁRIO CELSO CUNHA DIRETOR-GERAL JORGE EDUARDO WEKERLIN SUPERINTENDENTE DA EDUCAÇÃO ELIANE TEREZINHA VIEIRA ROCHA DEPARTAMENTO DA EDUCAÇÃO BÁSICA MARIA CRISTINA THEOBALD DEPARTAMENTO DA DIVERSIDADE MARLI FRANCISCA PERON DEPARTAMENTO DA EDUCAÇÃO E TRABALHO FABIANA CRISTINA CAMPOS DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E INCLUSÃO EDUCACIONAL WALQUIRIA ONETE GOMES DEPARTAMENTO DE LEGISLAÇÃO ESCOLAR OLGA SAMWAYS
COMISSÃO DA SEED PARA ASSUNTOS DA COPA FIFA 2014 Aluízio da Rosa SEED/SUED/DEB Ana Carolina Mallmann SEED/SUED/DEB César Augusto Volerte Cordeiro SEED/SUED/DPPE Giovani Marchalek SEED/SUED/DEDI Lilian Messias Sampaio Brito SEED/SUED/DEB Shirley Aparecida dos Santos SEED/SUED/DEEIN Sandra Mara Pereira Paranhos SEED/SUED/DEDI Sílvia de Lima Matioski SEED/SUED/DET Viviane Oliveira Antônio SEED/SUED/DET Walmir Marcelino Teixeira SEED/SUED/DEEIN
APRESENTAÇÃO Em 2014, o Brasil se tornará uma vitrine para o mundo ao sediar a Copa do Mundo. A visibilidade provocada por um evento dessa magnitude é imensa. Os olhos e ouvidos de bilhões de pessoas de todo o planeta estarão voltados para o nosso país. A curiosidade sobre a nação que sedia a Copa já vem atraindo pessoas, organizações empresariais, políticas e sociais. Turistas do mundo todo já estão se programando para participar do mundial e, ao mesmo tempo, conhecer as belíssimas atrações que nosso país oferece. Na mesma proporção, nós, brasileiros e paranaenses, estamos ansiosos para receber pessoas das mais diversas nacionalidades, culturas, religiões e costumes. Será um momento de integração e de promoção da paz entre os povos. Uma grande festa mundial provocada por esse esporte que nos envolve e nos aproxima. É um momento importante para nossa história e para o nosso futuro. A Copa do Mundo, com toda a repercussão e com todo o preparo que exige do país que a recebe, nos deixará um importante legado não só em áreas fundamentais como a da infraestrutura, mas em nossa cultura e na educação de nossos cidadãos. Ao pensarmos em todas as oportunidades sociais, culturais e econômicas que esse momento nos oferece, entendemos como fundamental que a escola faça a inserção de conteúdos relacionados à Copa do Mundo nas disciplinas da matriz curricular de modo a preparar a comunidade estudantil para receber essas contribuições respaldadas em conhecimentos. Conhecer é o melhor caminho para aprender. Por isso, devemos aproveitar essa oportunidade para transmitir aos nossos estudantes conhecimentos correlacionados a esse grande evento e que envolve todas as áreas do saber. Este Caderno Pedagógico traz aos nossos profissionais da educação um amplo material orientador, sendo uma importante fonte de consulta para todas as disciplinas. É um documento referência, para ser utilizado por professores e pedagogos na elaboração de suas atividades, com fundamentações teóricas, mas também sugestões práticas a serem aplicadas na escola. Temos, enfim, uma grande chance de sermos campeões na aplicação desses conhecimentos ao nosso time de estudantes e, juntos, vencermos o grande desafio de tornar a Copa do Mundo de 2014 um legado também para a nossa Educação.
FLÁVIO ARNS Vice-Governador e Secretário de Estado da Educação
EDUCAÇÃO: O MAIOR LEGADO Desde o início de nosso trabalho à frente da Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo 2014, seguimos a orientação do Governador Beto Richa nos pautando em três principais objetivos: INTEGRAÇÃO de todos os municípios do estado para uma boa organização do evento, TRANSPARÊNCIA total de ações e o LEGADO a ser deixado aos paranaenses. A Copa do Mundo de Futebol não é só o maior evento do mundo, que consegue mobilizar mais de 200 países em torno do esporte mais praticado no planeta; é também uma imensa oportunidade para a implementação de projetos em todas as áreas de atuação, tanto que criamos nove Câmaras Temáticas (Educação e Cultura, Comercial e Tecnologia, Esporte e Ação Social, Infraestrutura, Meio Ambiente e Sustentabilidade, Saúde, Segurança, Turismo e Transparência) para que iniciativa pública e privada, em conjunto, busquem a melhor forma de realizar a organização da Copa no Paraná. Quando celebramos convênio com a Secretaria de Estado da Educação, tão bem liderada pelo Vice-Governador Flávio Arns, para a implementação deste Projeto, fomos tomados de satisfação diferenciada por antever um legado imenso na área da Educação. Um legado intangível materialmente, mas que ficará marcado na existência de cada um dos alunos da rede pública que terão acesso a ensinamentos que estarão presentes em suas vidas, assimilados por meio do paralelo entre o futebol e as diversas matérias que fazem parte do currículo da rede pública estadual. A Copa passará, mas os ensinamentos adquiridos permanecerão porque educação é para toda a vida.
MARIO CELSO CUNHA Secretário de Estado para Assuntos da Copa do Mundo 2014
SUMÁRIO INTRODUÇÃO..........................................................................................................................................................11 Eliane Terezinha Vieira Rocha
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO BÁSICA A ARTE E A COPA.................................................................................................................................................14 Alexandre Roger Pereira Barbosa Maria Cristina de Paula Müller Roberta Jorge da Silva Wisnievski Viviane Paduim
O CONCEITO SUBSTANTIVO DO FUTEBOL E A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA..........22 Adriane de Quadros Sobanski
FUTEBOL MUNDIAL COMO FENÔMENO SOCIOLÓGICO.............................................................................34 Edna Aparecida Coqueiro
EVENTO FUTEBOLÍSTICO MUNDIAL: UMA ABORDAGEM FILOSÓFICA ..................................................41 Aline Bertilla Mafra Rolla Edson André Pegoraro Valéria Arias
A CRÔNICA, O FUTEBOL E O TALENTO BRASILEIRO..................................................................................49 Adilson Carlos Batista Edilson José Krupek Marly Albiazzetti Figueiredo Varilene Verdi Figueiredo Vilma Lenir Calixto
O ESPORTE E O GÊNERO MIDIÁTICO NA AULA DE ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA......55 Priscila do Carmo Moreira Engelmann Juanito Pereira de Oliveira
FUTEBOL E O EVENTO MUNDIAL: ALGUMAS REFLEXÕES VOLTADAS À EDUCAÇÃO FÍSICA....61 Aluizio da Rosa Idimar de Paula Junior Lilian Messias Sampaio Brito Marcio Augusto Fernandes
FUTEBOL, PAIXÃO DE UMA NAÇÃO – A QUÍMICA QUE DEU CERTO................................................68 Hanna Raquel Quirrenbach Lilian Kelly dos Santos Romanholi
A GEOGRAFIA NA COPA.................................................................................................................................... 76 Simone Carina Baroni Tatiane Saffnauer Frigotto
O IMPACTO DA COPA NA GERAÇÃO DE LIXO ELETRÔNICO................................................................87 Otto Henrique Martins da Silva Tiago Ungericht Rocha
UMA INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA NO CONTEXTO DA COPA: AMPLIANDO CONCEITOS GEOMÉTRICOS.......................................................................................................................................................98 Lucimar Donizete Gusmão Carmelígia Marchini Abimael Fernando Moreira
AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS NAS AULAS DE LÍNGUA INGLESA E O EVENTO FUTEBOLÍSTICO MUNDIAL...............................................................................................................................................................108 Cleci Carneiro Malucelli Nilva Conceição Miranda
ROMPENDO AS FRONTEIRAS DA VIDA......................................................................................................117 Arlene Philippsen Danislei Bertoni Meryna Therezinha Juliano Rosa
O SAGRADO NO ENSINO RELIGIOSO E O EVENTO FUTEBOLÍSTICO MUNDIAL..........................133 Carolina do Rocio Nizer Elói Corrêa dos Santos Valmir Biaca
O TRIPLO DESAFIO............................................................................................................................................138 Danislei Bertoni Eliane Alves Bernardi Benatto Giselle Nicareta Ronival José Tonon
DEPARTAMENTO DA DIVERSIDADE
FUTEBOL E DIVERSIDADE................................................................................................................................152 Marli Francisca Peron Dayana Brunetto Carlin dos Santos Giovani Marchalek Helio Puchalski
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO E TRABALHO O PROFISSIONAL QUE FAZ A COPA ACONTECER..................................................................................159 Ana Nelly de Castro Gregório Andréa de Paula Ceccatto Cícero Vieira Torres Júnior Edna Aparecida de Souza Marcia Maria Girola Silvia de Lima Matioski
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO ESPECIAL E INCLUSÃO EDUCACIONAL ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO....................................................................................................165 Denise Maria de Matos Pereira Lima
ACESSIBILIDADE EM EVENTOS ESPORTIVOS: PARA TODOS?........................................................172 Marisa Bispo Feitosa Walmir Marcelino Teixeira
O ESPORTE PARA O SURDO............................................................................................................................178 Fabiana Ceschin Ribas
A IMPORTÂNCIA DO ESPORTE PARA OS DEFICIENTES VISUAIS...................................................183 Maira de Lurdes Zuchi Miria de Souza Fagundes Ricardo José de Lima
A PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA VIVENCIANDO O EVENTO FUTEBOLÍSTICO.................................................................................................................................191 Mozart Petruy
TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO – ORIENTAÇÕES E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA O EVENTO FUTEBOLÍSTICO EM 2014............................................................199 Shirley Aparecida dos Santos Eredi Mirta Kruger Albuquerque
INTRODUÇÃO Eliane Terezinha Vieira Rocha1
O livro, o contexto do futebol no mundo: do senso comum à crítica pedagógica, foi produzido por profissionais da educação no intuito de subsidiar as Escolas da Rede Pública Estadual de Ensino em suas modalidades, com aprofundamento teórico e metodológico, lançando olhar histórico e crítico sobre as realizações das Copas no mundo. Seus capítulos foram elaborados por departamentos desta Secretaria de Estado, considerando-se as disciplinas curriculares, para possibilitar o desenvolvimento de atividades pedagógicas. Ao elaborarem seus capítulos, os autores assumiram o compromisso de contribuir para organização da prática educativa. A identidade de cada departamento desta Secretaria está presente na unidade de concepção e de tratamento didático dado ao tema COPA 2014. As abordagens das atividades propostas possibilitam que os professores estimulem nos alunos o desenvolvimento da crítica, bem como a compreensão dos fatos que A COPA 2014 possa gerar no contexto em que estes alunos estão inseridos: na capital-sede (local do evento), no interior do Estado, no Brasil e no mundo. As propostas de trabalho estão fundamentadas no diálogo entre os conteúdos e o tema, porém há necessidade de se respeitar a especificidade dos diferentes níveis e modalidades de ensino. Aos professores cabe a adequação metodológica das abordagens pedagógicas destinadas à Educação Básica, considerando, além do ano/série, os perfis dos alunos, a partir da diversidade social, cultural, religiosa, étnica, de gênero, orientação sexual, assim como suas experiências de vida. O trabalho a ser executado deve estar relacionado com a produção do conhecimento, que é o objeto da escola, tendo em vista que o saber escolar, expresso em disciplinas, possibilita a integração curricular e a interdisciplinaridade. Tanto a integração quanto a interdisciplinaridade são aqui focadas e possíveis quando, ao abordar o objeto de estudo de uma disciplina, estabelecem-se relações com outras, ou quando o conteúdo de uma disciplina em discussão é incorporado a conceitos e práticas de outra. As disciplinas não são estanques, pois existem diálogos teóricos e conceituais de umas com as outras, os quais são estabelecidos pelas especificidades. Posto isso, proponho uma reflexão a partir de Paulo Freire Ninguém pode estar no mundo, com o mundo e com os outros de forma neutra. Não posso estar no mundo de luvas nas mãos constatando apenas. A acomodação em mim é apenas caminho para a inserção, que implica decisão, escolha, intervenção na realidade. Há perguntas a serem feitas insistentemente por todos nós e que nos fazem ver a impossibilidade de estudar por estudar. De estudar descomprometidamente como se misteriosamente de repente nada tivéssemos que ver com o mundo, um lá fora e distante mundo, alheado de nós e nós dele. (1996, p.30)
¹ Superintendente de Educação da Secretaria de Estado da Educação do Paraná ² FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
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Não podemos deixar este momento que é mundialmente difundido com o propósito de universalização, com efeitos sociais, econômicos, culturais e políticos, distante do nosso cotidiano escolar, como um acontecimento para além dos muros de nossas escolas. É importante e necessário reafirmar e assumir a nossa postura de problematizadores e mediadores do processo ensino-aprendizagem dentro das áreas do conhecimento. Espero que este livro atinja seu intuito, e que professores e alunos o utilizem de forma a proporcionar e aprofundar os conhecimentos.
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A ART E E A COPA
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A ARTE E A COPA Alexandre Roger Pereira Barbosa1 Maria Cristina de Paula Müller2 Roberta Jorge da Silva Wisnievski3 Viviane Paduim4
INTRODUÇÃO Poucas nações e gerações têm a oportunidade de sediar e vivenciar um mega evento futebolístico. Inúmeras e riquíssimas são as oportunidades pedagógicas de aproveitar e contextualizar esse evento no mundo artístico atual. Este texto foi desenvolvido com a finalidade de apresentar propostas/sugestões a serem desenvolvidas por professores de Arte, nas quatro áreas do conhecimento (artes visuais, dança, música e teatro), utilizando e articulando o evento futebolístico aos conteúdos da disciplina. O conhecimento artístico tem como características centrais a criação e o trabalho criador. A arte é criação, qualidade distintiva fundamental da dimensão artística, pois criar “é fazer algo inédito, novo e singular, que expressa o sujeito criador e simultaneamente, transcende-o, pois o objeto criado é portador de conteúdo social e histórico e como objeto concreto é uma nova realidade social. (PARANÁ, 2008, p. 23)
É de fundamental importância que, no planejamento de conteúdo que os docentes irão elaborar, explorem a manifestação da cultura esportiva como conhecimento, expandindo a capacidade de criação e desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes. Assim, deve-se levar em consideração o conhecimento estético e o conhecimento da produção artística sobre o qual o educando irá refletir, sensibilizar-se e criar. A disciplina de Arte, além de promover conhecimento sobre as diversas áreas da arte, deve possibilitar ao aluno a experiência de um trabalho de criação total e unitário. O aluno pode, assim, dominar todo o processo produtivo do objeto: desde a criação do projeto, a escolha de materiais e do instrumental mais adequado aos objetivos que estabeleceu, a metodologia que adotará e, finalmente, a produção e a destinação que dará ao objeto criado. (PARANÁ, 2008, p. 62)
Os conteúdos estruturantes da disciplina são os elementos formais de cada área do conhecimento; composição – desdobramento dos elementos formais – movimentos e períodos – estilos e gêneros dos movimentos artísticos. É necessário contemplar na organização pedagógica três momentos: teorizar; sentir e perceber; e trabalho artístico; para aproximar as áreas artísticas do universo cultural do estudante. No fluxograma a seguir, há um exemplo de como o evento poderá ser inserido dentro dos conteúdos artísticos, visando o envolvimento da Arte na cultura dos países. Em música consta a abordagem dos hinos, em artes visuais os mascotes, em dança a cultura típica e em teatro os personagens famosos:
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Professor da Rede Estadual de Ensino – Arte – SEED/SUED/DEB Professora da Rede Estadual de Ensino – Arte – SEED/SUED/DEB 3 Professora da Rede Estadual de Ensino – Arte – SEED/SUED/DEB 4 Professor a da Rede Estadual de Ensino – Arte – CE Natália Reginato - EFMP 1 2
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FIGURA 1 – FUTEBOL MUNDIAL
Fonte: Barbosa; Müller; Wisnievski, 2013.
SUGESTÕES Na Música, dentro das sugestões que serão apresentadas a seguir, destacam-se os conteúdos de elementos sonoros e instrumentos musicais. 1. Por meio de audição dos Hinos dos países que compõem o evento, analisar quais são os instrumentos musicais presentes na canção, bem como a qual família pertencem; identificar os timbres (vozes e instrumentos) do Hino apresentado. 2. O docente pode sugerir uma pesquisa sobre ritmos típicos dos países que participam do evento futebolístico. 3. Programa de rádio – propor a produção de um programa de rádio para ser exibido na hora do intervalo, sobre o histórico do evento e da atuação do Brasil nas copas. 4. A partir de pesquisa sobre as músicas de abertura de copas já realizadas, e de outras canções relacionadas a esse tema, propor análise musical, desde a letra, período em que foi composta, contexto histórico, até os elementos de composição. Solicitar aos alunos a criação de uma composição musical para o evento.
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Nas Artes Visuais, dentro das sugestões que serão apresentadas a seguir, destacam-se os conteúdos de cor, forma e textura. 1. Por meio de pesquisa, os estudantes irão observar mascotes criados para todos os eventos anteriores, e escolherão um país da América do Sul que ainda não sediou a Copa. Após, o professor irá propor a contextualização da cultura do país escolhido. 2. Pesquisar as bandeiras que compõem os países do evento e realizar um trabalho de releitura e/ou estilização, observando cores, formas, texturas. 3. Projeto Mural (painel). Propor aos alunos uma pesquisa na internet, revistas e em livros de arte sobre obras e artistas que trabalham com o tema “futebol” no mundo e no Brasil. 4. A partir das obras pesquisadas, organizar um Projeto Mural com o tema do evento no qual os estudantes irão elaborar uma composição que posteriormente, por meio de uma técnica escolhida, será trabalhada no muro da escola. O docente poderá utilizar a obra de alguns artistas que trabalharam com os temas ligados a futebol e aos eventos mundiais: Alfredo Volpi: Meninos Jogando Tipo: Pinturas Título: Meninos Jogando Futebol Artista: Alfredo Volpi Década: 40 Técnica: Pintura em baixo-esmalte sobre azulejo Dim.: 15 x 15 cm Romero Britto: Cores do Brasil Técnica: Acrílica sobre tela Dim.: 80x90cm Data: 1996 Cândido Portinari: Futebol dos meninos de Brodósqui Técnica: óleo sobre tela Dim.: 97 x 1,30cm Data: 1935 Daniel Jr. Técnica: fotografia esportiva Na Dança, dentro das sugestões que serão apresentadas a seguir, destacam-se os conteúdos de níveis, direções, planos, gênero e movimentos.
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1. Por meio de pesquisa sobre as danças típicas (étnicas, folclóricas, populares), dos países que compõem o evento, explorar e apresentar movimentos coreografados da dança escolhida. 2. Propor coreografia com movimentos relacionados ao jogo de futebol ou inspirado na abertura de Copas. Elaborar figurino, cenário, maquiagem, música, etc.
No Teatro, dentro das sugestões que serão apresentadas a seguir, destacam-se os conteúdos de mímica, formas animadas e representação. 1. Propor pesquisa que identifique os personagens famosos que se destacam em cada país que compõe o evento futebolístico, produzir formas animadas e/ou estilizadas dos personagens; apresentação de mímica e/ou representação dos personagens escolhidos. 2. Envolvendo cinema e teatro: a partir da análise fílmica das obras sugeridas, conforme tabela abaixo, é possível fazer uma relação entre as Artes Visuais (cinema) e a área do Teatro. FILMES Garrincha, a Alegria do Povo (década de 1960). Gênero: Documentário / Duração: 60min. / Tipo: Longa-metragem/ Cor: Preto e branco / Distribuidora: Globo Vídeo / Produtoras: Armando Nogueira Produções Cinematográficas; LC Barreto Produções Cinematográficas / Diretor: Joaquim Pedro de Andrade / Roteiristas: Luiz Carlos Barreto; Mário Carneiro; Joaquim Pedro de Andrade; David Neves; Armando Nogueira / Elenco: Heron Domingues; Garrincha. Barbosa, o Filme (1988). Sobre o “Maracanazo” da Copa de 50 – com Antonio Fagundes. Gênero: Documentário, Ficção / Diretor: Ana Luiza Azevedo; Jorge Furtado / Elenco: Antônio Fagundes,; Pedro Santos; Victor Castel / Ano: 1988 / Duração: 12 min. / Cor: Colorido / Bitola 35mm / Produção: Nora Goulart; Gisele Hilt / Fotografia: Sérgio Amon / Roteiro: Ana Luiza Azevedo; Jorge Furtado; Giba Assis Brasil / Edição: Giba Assis Brasil / Direção de Arte: Fiapo Barth / Trilha original: Geraldo Flach / Prêmios: Melhor Edição no Festival de Gramado 1988; Melhor Filme de Ficção no Festival Internacional de Havana 1988; Festivais Sundance Film Festival 1991 / País: Brasil / Local de Produção: RS.
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Estrela Solitária. Filme sobre Garrincha, baseado no livro de Rui Castro. Título Original: Garrincha - Estrela Solitária / Gênero: Drama / Tempo de Duração: 110 min. / Ano: 2004 / País: Brasil / Direção: Milton Alencar / Roteiro: Rodrigo Campos, baseado em livro de Ruy Castro/Música: Léo Gandelman / Fotografia: Jorge Moclar / Elenco: André Gonçalves (Garrincha); Taís Araújo (Elza Soares); Henrique Pires (Sandro Moreyra); Alexandre Schumacher (Nilton Santos); Ana Couto; Romeu Evaristo; Eduardo Silva; Paschoal Villaboim; Creo Kellab; Roberta Rodriguez; Chico Diaz; Jece Valadão; Tatiana Merino; Marília Pêra; Miguel Falabella. Uma História de Futebol (1998). Sobre a infância de Pelé em Bauru. Diretor: Paulo Machline / Elenco: José Rubens Chachá; Marcos Leonardo Delfino; Antônio Fagundes; Eduardo Santos; Magda Miranda; Tina Rinaldi; Andréa Di Maio; Frederico Betcher. / Produção: Paulo Machline; Tony Gil / Roteiro: José Roberto Torero; Maurício Arruda; Paulo Machline / Fotografia: Lito Mendes da Rocha / Trilha Sonora: Marcelo Zarvos / Duração: 22 min. / Ano: 1998 / País: Brasil / Gênero: Drama / Cor: Colorido / Distribuidora: Não definida / Estúdio: Um Filme. Boleiros – Era uma Vez o Futebol (1998). Reúne vários curtas que revelam com humor os mitos e o cotidiano do futebol no Brasil. Diretor: Ugo Giorgetti / Elenco: Lima Duarte; Marisa Orth; Cássio Gabus Mendes; Otávio Augusto. / Produção: Malu Oliveira / Roteiro: Ugo Giorgetti / Fotografia: Rodolfo Sánchez / Trilha Sonora: Mauro Giorgetti / Ano: 1998 / País: Brasil / Gênero: Comédia / Cor: Colorido / Distribuidora: Não definida / Estúdio: SP Filmes / Classificação: Livre. Boleiros 2 – Vencedores e Vencidos (2006). Humor sobre o cotidiano do futebol. Diretor: Ugo Giorgetti / Elenco: Lima Duarte; Otávio Augusto; Flávio Migliaccio; Denise Fraga; Cássio Gabus Mendes; Paulo Miklos; José Trassi, Silvio Luiz; Petronio Gontijo; Fulvio Stefanini; Sócrates. / Produção: Malu Oliveira / Roteiro: Ugo Giorgetti / Fotografia: Pedro Paulo Lazzarini, Rodolfo Sánchez / Trilha Sonora: Mauro Giorgetti / Duração: 86 min. / Ano: 2006 / País: Brasil / Gênero: Comédia / Cor: Colorido / Distribuidora: Não definida / Classificação: 12 anos.
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1958 - O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil, de José Carlos Asbeg. Brasil, 2008. Título original: 1958 - O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil / Gênero: Documentário / Duração: 90 min. / Lançamento (Brasil): 2008 / Site: Oficial / Distribuição: Pandora Filmes / Direção: José Carlos Asbeg / Assistente de direção: Jorge Mansur / Roteiro: Produção: Branca Murat / Co-produção: Palmares Produções e Jornalismo / Música: Paulo Baiano / Direção de arte: Pedro Segreto / Fotografia: Flávio Ferreira / Edição: Arthur Frazão e Juliana Maiolina / “A Taça do Mundo é Nossa” (2003) – humorístico sobre a conquista da Copa de 70 – Casseta e Planeta. / “Pelé Eterno” (2004) – Documentário. Heleno (2011). Filme sobre o jogador Heleno de Freitas (1920-1959). Diretor: José Henrique Fonseca / Elenco: Rodrigo Santoro; Alinne Moraes; Othon Bastos; Herson Capri; Angie Cepeda, Erom Cordeiro; Orã Figueiredo; Henrique Juliano; Duda Ribeiro / Produção: José Henrique Fonseca; Eduardo Pop; Rodrigo Teixeira; Rodrigo Santoro / Roteiro: José Henrique Fonseca; Felipe Bragança; Fernando Castets / Fotografia: Walter Carvalho / Duração: 116 min. / Ano: 2010 / País: Brasil / Gênero: Drama / Cor: Preto e Branco / Distribuidora: Downtown Filmes / Classificação: 14 anos. LEITURA Visita ao site Museu do Futebol, disponível em: . Após a escolha do filme, realizar a leitura da Linguagem Cinematográfica de trechos (planos, movimento da câmera, angulações, iluminação, cenário, figurino, sonoplastia, contexto histórico, etc.) Também é possível relacionar os conteúdos do cinema com o teatro propondo aos alunos atividades como a montagem de uma peça teatral a partir do enredo do filme. CONSIDERAÇÕES O propósito da elaboração deste documento foi sugerir atividades possíveis para o dia a dia em sala de aula dentro da Rede Pública de Ensino do Estado do Paraná. Apresentamos o desenvolvimento de propostas dentro das quatro áreas do conhecimento em Arte: artes visuais, dança, música e teatro, com enfoque nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica do Paraná e na cultura dos países que estão envolvidos com a temática. A partir de pesquisas realizadas sobre a história das Copas, bem como a cultura regional de cada país que sediou a Copa nos últimos anos, e os mascotes representativos, foi possível estabelecer a relação entre o evento Copa e a disciplina de Arte. Para que as propostas sugeridas sejam executadas com qualidade pedagógica é necessário, por parte do profissional envolvido, aprofundamento teórico-prático nas áreas do conhecimento abordadas em cada sugestão de atividade.
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REFERÊNCIAS BARBOSA, A.; MÜLLER, M.; WISNIEVSKI, R. Figura 1. Curitiba, 2013. FERNANDES, C. O corpo em movimento: o sistema Laban. São Paulo: Annablume, 2002. MAGNANI, S. Expressão e comunicação na linguagem da música. Belo Horizonte: UFMG,1989. MARQUES, I. Arte em questões. São Paulo: Digitexto, 2012. OSSONA, P. A educação pela dança. São Paulo: Summus, 1988. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Arte. Curitiba, 2008.
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O CONCEITO
SUBSTANT IVO DO F UT EBOL E A
F ORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA
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O CONCEITO SUBSTANTIVO DO FUTEBOL E A FORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA Adriane de Quadros Sobanski5
INTRODUÇÃO Para Jörn Rüsen (2006), a História é uma ciência que tem função didática. Segundo ele, esta deve dar ao sujeito significado para a experiência no tempo que está estudando, competência de interpretação, uma vez que o conhecimento histórico não é cumulativo, e capacidade de ampliar a orientação no tempo. Essa capacidade de orientação no tempo, ou seja, a relação que o sujeito mantém com o passado e que serve para situá-lo no presente, fundamental para a compreensão histórica, Rüsen define como sendo a “consciência histórica”. É a partir do presente de cada um que o conhecimento sobre o passado acontece. Para saber “ler” a informação, debater e selecionar mensagens fundamentadamente é preciso saber interpretar fontes, analisar e selecionar pontos de vista, comunicar sob diversas formas, apostar em metodologias que envolvam os alunos no ato de pensar historicamente. (BARCA, 2007, p. 6)
Para Barca (2007), não interessa apenas saber História, mas o uso que se faz dela. A leitura que se faz da disciplina de História tem, então, a preocupação muito maior com a aprendizagem do que com o seu ensino. De acordo com as Diretrizes Curriculares de História (PARANÁ, 2008), olhar as múltiplas perspectivas históricas é fundamental, por isso é preciso refletir a partir dos conteúdos estruturantes, quais sejam, as relações de poder, de trabalho e de cultura. O tema da Copa, entendido como um conteúdo escolarizado, passa a ser o conceito substantivo objeto de investigação e análise, desde que sejam aproveitados os indícios do passado que estão visíveis nesse acontecimento. Para trabalhar com essa temática, sugerimos que o encaminhamento das atividades seja feito a partir da utilização e análise de diferentes fontes históricas. Como pano de fundo para o reconhecimento do futebol enquanto tema de estudo nas aulas de História, será utilizada a própria História do Brasil. O ponto de partida para a inserção do futebol está colocado entre dois momentos marcantes para o país: a Proclamação da República e a transição do trabalho escravo para o trabalho livre. O VENTO DAS MUDANÇAS Em 1889, a República finalmente chegava ao último país da América governado por uma monarquia. Os desejos eram de ordem e progresso, de modernização e promessas de melhoria para uma sociedade que há apenas um ano havia acabado com a escravidão. Promessas e sonhos que, no entanto, se mostraram muito diferentes.
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Professora da Rede Estadual de Ensino – História – SEED/SUED/DEB
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A resistência da elite em aceitar negros na sociedade ainda era muito grande. As comunidades rurais estavam esquecidas e, dificilmente, tinham contato com os meios urbanos ou qualquer tipo de benefícios sociais. Apesar do clima de mudanças, o Brasil convivia com vários problemas sociais e econômicos. Revoltas aconteciam em diferentes regiões, sobretudo no Nordeste. A própria capital, Rio de Janeiro, vivia com sérios problemas sociais: epidemias como a febre amarela, total ausência de saneamento básico e uma grande quantidade de pessoas vivendo amontoadas no centro da cidade em condições precárias de higiene. Era preciso reagir a esses problemas, e foi assim que o presidente Rodrigues Alves e o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos, decidem modernizar a capital do Brasil nos moldes de Paris. Para isso, cortiços foram demolidos para alargamento de ruas e construção de novas calçadas. Aos moradores, pobres e negros, restou como única alternativa subir os morros e construir novas casas, ficando longe do olhar da “boa sociedade”. Na época, Oswaldo Cruz comandou a vacinação forçada da população, o que ocasionou a Revolta da Vacina. Enquanto a população mais pobre era deslocada para regiões afastadas, a elite era privilegiada com elementos da modernização. Diversão e lazer passavam a fazer, cada vez mais, parte do cotidiano. Em 1909, na capital, o Teatro Municipal e o Cinema Soberano foram inaugurados. Os esportes, como o turfe e o remo, passaram a se difundir entre os filhos da elite. O turfe era considerado uma prática esportiva elegante, não exigindo esforço físico do cavaleiro, apenas do cavalo. Era, claramente, um esporte para os integrantes da elite. O remo, por sua vez, era bastante praticado sobretudo na capital do país, o Rio de Janeiro. Motivado pela medicina higienista, o remo era visto com muito bons olhos devido ao contato que o atleta tinha com as praias e o mar. As novas concepções de higiene pessoal, da vida ao ar livre e a prática dos esportes confundiam-se com a modernização das cidades e da vida cultural. Eram exigências médicas e sanitárias que se impunham como uma cultura política e que se associavam, no Brasil, à prática da organização de clubes sociais e esportivos impulsionadas pelos imigrantes. (RIBEIRO, 2012, p. 347)
Em 1894, retornando de uma viagem à Inglaterra, Charles Miller chegava ao Brasil trazendo na bagagem a primeira bola de futebol e as regras do jogo. Mas o futebol não chegou ao Brasil apenas na bagagem das classes mais ricas. O grande número de imigrantes, em sua maioria pobres, que chegava ao Brasil, também foi responsável pela disseminação do esporte. Utilizando termos em inglês, como match, players, clubs, o novo esporte atraiu inicialmente os integrantes das famílias brancas e mais ricas da sociedade. No Estado de São Paulo não há recanto, viloca, fazenda, bairro, onde não sejam vistos num chão plaino e batido os dois retângulos opostos, assinaladores dum ground. Pelas regiões novas, de virgindade só agora atacada pelos invasores, é comum topar-se de súbito, em plena mata, uma clareira aberta, limpa, onde nas horas de folga os derrubadores de pau vêm bater bola. Já assistimos a um match em certa fazenda. Tudo muito bem arrumado os players uniformizados, de meias grossas e botinas ferradas, tal qual nos clubs das cidades. E falando em corners, goals, hands, halftimes, a inglesia inteira dos termos técnicos. (LOBATO, 1921, s/p)
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Em 21 de julho de 1902, no Rio de Janeiro, Oscar Cox fundou o Fluminense Futebol Clube. Em 1906, foi realizado o primeiro Campeonato Carioca de Futebol, ganho pelo Fluminense Futebol Clube. De acordo com Ribeiro (2003, s/p.), O desenvolvimento de práticas esportivas em geral passou a ser considerado uma forma de atenuar as tensões políticas. Fundado em princípios liberais e ainda em fase de constituição enquanto direção política na sociedade de novo tipo - a sociedade de livre mercado - o Estado e as elites não tinham sobre o conjunto da sociedade um projeto ordenado de organização e disciplina, senão aquele colocado pela lógica da modernização capitalista, ainda não suficientemente absorvido”.
Em 1928, o francês Jules Rimet, assumindo o controle da Federação Internacional de Futebol Associados, idealiza a criação da Copa do Mundo de Futebol, a qual deveria ser realizada a cada quatro anos. Sua primeira edição aconteceu em 1930, no Uruguai, contando com a participação de 13 seleções convidadas pela Federação Internacional de Futebol Associados. A seleção do país sede, Uruguai, foi a vitoriosa. As Copas de 1934 e 1938 foram vencidas pela Itália e, nos anos seguintes, devido à Segunda Guerra Mundial, a competição foi suspensa, voltando a ocorrer novamente apenas em 1950. Segundo Meihy (1982, p. 31), (...) o futebol tornou-se uma indústria nacional, no fim da Segunda Guerra Mundial, fortemente regulada pelo governo. Jornais e rádios continuaram a manter sua popularidade. A urbanização produziu uma grande mudança: enquanto a diretoria permanecia no campo sagrado da elite, os associados eram de classe média, que foram atraídos ao clube por suas atividades sociais (bailes de carnaval, restaurantes, piscinas) e pelo “status” a eles oferecidos pela primeira vez. (...)
FUTEBOL E IDENTIDADE BRASILEIRA Durante as décadas de 1930 e 1940, o futebol tornou-se muito popular no Brasil, sendo utilizado pelo governo Vargas como uma forma disciplinadora da sociedade. É por isso que, em 1933, o governo criou a profissão de jogador de futebol, obrigando todos os jogadores, como qualquer outro operário, a se sindicalizar. Na verdade, a profissionalização do jogador de futebol correspondia a um movimento cultural e político mais amplo, envolvendo tanto os interesses de disciplina social do Estado, a dinâmica específica do futebol, quanto um clima cultural, que perpassava toda a sociedade, de produção de uma identidade nacional forte. Com relação à situação específica do futebol, a profissionalização correspondia à tensão que existia entre a tradição elitista e amadora dos primórdios da prática esportiva e a necessidade de regulamentar nos clubes - numa conjuntura de popularização do futebol - a crescente participação de jogadores remunerados, de sua maioria de origem pobre e negra. (RIBEIRO, 2003, s/p.)
Nesse período, em pleno movimento de intervenção do governo Vargas, é difundida no Brasil a ideia da “democracia racial”, isto é, predominava uma teoria de miscigenação na constituição do povo brasileiro, que supostamente teria levado à total ausência de preconceitos raciais e étnicos.
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Nesse contexto, vários intelectuais colocavam em questão o papel do negro na sociedade. O sociólogo Gilberto Freyre foi de extrema importância ao analisar o papel essencial das etnias dominadas na formação do país, sobretudo da presença negra vista por ele como fundamental para a formação cultural do país. Em sua obra Casa grande e senzala, Freyre fez um importante estudo sociológico a partir do qual defende a ideia de que os negros africanos traziam consigo uma cultura consistente, o que os tornava superiores aos indígenas e mesmo frente a muitos colonos portugueses. Ele utilizou essa análise, inclusive, para demonstrar uma suposta diferença entre as populações que tiveram maior contato com os negros, como no caso da Bahia, terra de povo alegre e extrovertido, com os moradores de Pernambuco, mais introvertidos devido à menor presença negra entre essa população. O nosso estilo de jogar futebol me parece contrastar com o dos europeus por um conjunto de qualidades de surpresa, de manha, de astúcia e ligeireza e ao mesmo tempo de brilho e de espontaneidade individual em que se exprime o mesmo mulatismo de que Nilo Peçanha foi até hoje a melhor afirmação na arte política. Os nossos passes, os nossos pitus, os nossos despistamentos, os nossos floreios com a bola, [...] alguma coisa de dança e capoeiragem que marcam o estilo brasileiro de jogar futebol, que arredonda e às vezes adoça o jogo inventado pelos ingleses e por eles e por outros europeus jogando tão angulosamente, tudo isso parece exprimir de modo interessantíssimo para os psicólogos e os sociólogos o mulatismo flamboyant e, ao mesmo tempo, malandro que está hoje em tudo que é afirmação verdadeira do Brasil. (FREYRE, 1945, p. 421-422)
Dessa forma, intelectuais, Estado e mídia perceberam o futebol como uma das maiores manifestações da cultura popular brasileira, tornando-se esse o esporte considerado símbolo nacional.
SUGESTÕES Fontes Históricas 1 e 2 1 Observação e comentários da fonte histórica 1. 2 Leitura e comentários sobre a fonte histórica 2. 3 Levantamento de idéias sobre a participação das mulheres no futebol. É importante utilizar as duas fontes históricas para comparar e contrapor as ideias presentes nos dois documentos. 4 Produção de texto com as observações e conclusões a partir das fontes históricas 1 e 2.
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FONTE HISTÓRICA 1
Fonte: Velódromo paulistano. Revista A Cigarra, p. 35, 29 out. 1914.
Fonte Histórica 2 O futebol prolongava aquele momento delicioso de depois da missa. As moças, mais bonitas ainda. Tinham ido em casa, demorandose diante do espelho, ajeitando o cabelo penteado para cima, encacheado. Na arquibancada, sentadas, abrindo e fechando os leques, sérias, sorridentes, quietas, nervosas, como que ficavam em exposição... No intervalo, o campo e a arquibancada tornavam-se uma coisa só. Jogadores e torcedores no bar. Jogadores e torcedores nas arquibancadas.
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Os jogadores gostavam de aparecer um instante, suados, cansados, na arquibancada, para cumprimentar as moças. Não se demoravam muito, vinham e iam, as travas das chuteiras rangendo no cimento. As moças ficavam mais nervosas, aí é que não paravam de abrir e fechar os leques. Belos leques, uns grandes, de babados de renda, outros pequenos, de madrepérola. E os pais e as mães perto, achando tudo aquilo muito certo, muito direito. E tudo estava mesmo muito certo, muito direito. Os filhos no campo, as filhas nas arquibancadas. Pais, filhos, a família toda. Podia-se dizer: as famílias todas. O que havia ali, no campo, na arquibancada, havia nos bailes do Clube das Laranjeiras, mais do Fluminense e Paissandu, havia nas festas e festinhas da casa do Barão de Werneck, da casa de dona Chiquitota, da casa dos Hime, mais do Botafogo. (RODRIGUES FILHO, 2003)
Depois de um período de interrupção devido à Segunda Guerra Mundial, em 1950 o evento estava de volta, agora no Brasil. A construção do Maracanã foi um dos acontecimentos marcantes nessa Copa, que contou com a participação de 13 seleções. O evento deveria ser a marca indelével do desenvolvimento do país. A certeza da vitória era vista, sobretudo pela imprensa, como a prova de afirmação da nossa nacionalidade. Para os jornais e revistas da época, tal evento teria o escopo de comprovar para nós e aos olhos dos outros países, em especial daqueles tidos como “mais desenvolvidos”, nossa condição de nação civilizada e evoluída, o que seria obtido não somente pela organização e realização do torneio em nosso país, mas também pela construção do maior estádio do mundo e pela conquista do título máximo por parte da seleção brasileira. (FRAGA, 2009, p. 5)
No entanto, a vitória em 1950 não aconteceu. A perda do título parece ter provocado um efeito totalmente contrário ao que se esperava, pois ao invés daquela Copa colaborar com uma imagem afirmativa do Brasil, a derrota parecia ter reforçado vários preconceitos e estereótipos. Nos anos seguintes, o Brasil conseguiu se sagrar vitorioso nos eventos de 1958 e 1962, particularmente devido à atuação de atletas negros ou mulatos, como Leônidas da Silva, Pelé e Garrincha. Fontes Históricas 3 e 4 1 Leitura e comentários das fontes históricas 3 e 4. Analise os documentos e procure encontrar a relação atribuída ao futebol como elemento de afirmação da identidade nacional ao longo do século XX. 2 Produção, por parte dos alunos, de um texto a respeito do futebol, tendo como base as fontes lidas e discutidas. Fonte Histórica 3 A Derrota Vi um povo de cabeça baixa, de lágrimas nos olhos, sem fala abandonar o Estádio Municipal, como se voltasse de um enterro de um pai muito amado. Vi um povo derrotado, e mais que derrotado sem esperança. Aquilo me doeu o coração. Toda a vibração dos minutos iniciais da partida reduzidas a uma pobre cinza de fogo apagado. E, de repente chegou-me a decepção maior, a ideia fixa de que éramos mesmo um povo sem
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sorte, um povo sem as grandes alegrias das vitórias, sempre perseguido pelo azar, pela mesquinharia do destino. A vil tristeza de Camões, a vil tristeza dos que nada tem a esperar, seria assim o alimento podre dos nossos corações. Não dormi, senti-me alta noite, como que mergulhado num pesadelo. E não era pesadelo, era a terrível realidade da derrota.(REGO, José Lins do. Jornal dos Sports. Rio de Janeiro, 18 jul. 1950)
Fonte Histórica 4 Brasil 1950 – 10% da população do Rio no Maracanã O Maracanã está superlotado. Estima-se que aqui estão, embandeiradas, 200 mil pessoas. “Dez por cento da população” – anuncia, com eloquência, o alto-falante. Depois da informação, música: a banda dos Fuzileiros Navais enfeita o gramado, desfilando e tocando um dobrado daqueles que levam à guerra o mais pacato dos patriotas.(...) As equipes entram em campo. Reconheço, um a um, os jogadores brasileiros: Barbosa; Augusto e Juvenal; Bauer, Danilo e Bigode; Friaça, Zizinho, Ademir, Jair e Chico. Aflora, outra vez em mim, a mágoa clubística. Lanço sobre a equipe um olhar de botafoguense ressentido. Vejo, em campo, apenas quatro autênticos brasileiros: Bauer, do São Paulo, Juvenal, da Portuguesa, Bigode, do Fluminense, e Zizinho, do Flamengo. Os outros sete são vascaínos. Velhos e mortais inimigos da pequena, porém brava nação botafoguense...(...) Contra o Uruguai, porém, isso não está acontecendo. Até que, no comecinho do segundo tempo, o Brasil faz 1 x 0. Gol de Friaça. Baixa, então, no estádio a sensação de que está selada a vitória brasileira. A equipe justifica o açodamento com que a imprensa carioca preparou, de véspera, as grandes manchetes do jogo. Desde sábado, a primeira página dos principais jornais já estava impressa: todas cantando o “Brasil, Campeão do Mundo”. Dois lances que não estavam no programa: dois gols do Uruguai, um de Schiaffino, uma beleza, e outro de Gigghia, uma desgraça. Esse caiu como uma maldição. Seria a pá de cal na chamada soberba nacional, porque o Brasil já vinha campeão há pelo menos 72 horas; e comemorando o título, há pelo menos 24 horas.(...) Imagino o que está acontecendo pelo Brasil afora. O país inteiro só pode estar mortificado. É uma catástrofe. Em menos de uma hora, o estádio parece um imenso cemitério. Não há um só brasileiro no momento da cerimônia de entrega da taça Jules Rimet. O velhinho Jules Rimet, presidente da FIFA, leva apenas dois minutos pra entregar a taça aos vencedores. Presentes, só os cartolas uruguaios, os jogadores uruguaios e o alto-comando da FIFA. Mais ninguém. (...) Anos depois, com uma visão mais serena, acabei chegando à conclusão de que a equipe uruguaia não era a sopa que sugeria a crônica esportiva brasileira, nas vésperas da decisão. A imprensa estrangeira reunida na Copa do Mundo elegeu a seleção final como se faz em todos os mundiais. O Uruguai tinha lá cinco jogadores: Maspoli, Obdulio Varela, R. Andrade, Schiaffino e Gigghia. O Brasil teve quatro na seleção final, o que prova que realmente estavam ali na final as duas melhores equipes que disputaram o Mundial de 50. Armando Nogueira. Revista de História, 30 jun. 2009
FUTEBOL E POLÍTICA NÃO SE DISCUTE? Durante o período marcado pela Ditadura Militar no Brasil (1964 - 1985), a cultura passou a ser fiscalizada. Cantores, compositores, atores, poetas, jornalistas, professores passaram a ser vistos e tratados como inimigos da sociedade. Em outros casos, a cultura foi utilizada como recurso para que o governo exercesse seu domínio ideológico sobre a sociedade. Nesse contexto, a seleção brasileira participou do evento do México, em 1970. É preciso lembrar que esse evento culminava com o período do Milagre Econômico e com a política ufanista daquele governo. Pela primeira vez os brasileiros iriam assistir aos jogos coloridos de uma Copa do Mundo em seus televisores comprados com os subsídios do governo. Enquanto o Brasil era hipnotizado pelas imagens da seleção no México, os meios de comunicação sofriam forte censura, presos políticos eram torturados, mortos, exilados ou simplesmente desapareciam. No entanto, todas as atenções estavam voltadas para a vitória da seleção e a conquista do tricampeonato.
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Tal conquista foi responsável por uma ampliação do sentimento de nacionalidade com relação ao futebol. Ser brasileiro, “com muito orgulho e muito amor” tornou-se o lema da identificação dos torcedores nos anos que se seguiram. Embora o país tenha vários outros esportes, o termo “seleção” passou a ser, imediatamente, associado ao futebol, esporte que virou sinônimo de afirmação de identidade e de nacionalidade.
Fonte Histórica 5 1 Ouvir e fazer a leitura da fonte histórica 5. 2 Contextualizar a letra da música, analisando como o futebol foi e é usado como instrumento político e ideológico de afirmação de identidade nacional. 3 Organizar equipes com 4 ou 5 integrantes. Cada equipe deverá pesquisar outra música que tenha o futebol como temática. 4 Cada equipe deverá apresentar a música fazendo uma análise da letra dentro do contexto histórico em que foi produzida.
Fonte Histórica 5 Pra frente Brasil (Composição: Miguel Gustavo) Noventa milhões em ação, Pra frente Brasil... do meu coração... Todos juntos vamos Pra frente Brasil, Salve a Seleção! De repente É aquela corrente pra frente, Parece que todo o Brasil deu a mão... Todos ligados na mesma emoção... Tudo é um só coração! (...)
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CONSIDERAÇÕES O tema proposto para o presente livro foi tratado enquanto conceito substantivo, ou seja, um conteúdo escolarizado. Sendo assim, essa temática deve ser trabalhada a partir de um olhar historicizado, levando-se em consideração o passado do esporte como fundamento para compreensão e análise do presente. Para as aulas de História é de fundamental importância que o futebol seja entendido como elemento que auxilia na compreensão das relações culturais, de poder e de trabalho que se estabeleceram na sociedade brasileira. Para tanto, optamos pela utilização das fontes históricas. Por meio delas, os estudantes devem compreender como acontece a produção do conhecimento histórico e como a História pode e deve ser olhada sob várias perspectivas. Essa proposta não deve ser entendida como uma receita pronta, mas uma pequena sugestão de como trabalhar com diferentes temáticas nas aulas de História. REFERÊNCIAS BARCA. I. A educação histórica numa sociedade aberta. Currículo sem fronteiras, v.7, n.1, p.5-9, jan/jun 2007. CAPRARO, A. M. Identidades imaginadas: futebol e nação na crônica esportiva brasileira do século XX. Tese de Doutorado – História – UFPR, 2007. FREYRE, G. Sociologia. Rio de Janeiro: José Olympio, 1945. GUSTAVO, Miguel. Pra frente Brasil.1970. LEE, P. Em direção a um conceito de Literacia Histórica. A escolha de recursos na aula de História. Educar em Revista, Curitiba, n. especial, p. 131-150, 2006. LOBATO, M. O 22 da Marajó. São Paulo: Monteiro Lobato, 1921. (Coleção a Onda Verde) MEYHI, J. C. S. B. Esporte e Sociedade: o caso do Futebol brasileiro. Futebol e Cultura: Revista SP Cultura n1. Org. José Carlos Sebe Bon Meihy e José Sebastião Witter; Secretaria de Estado e Cultura de São Paulo, 1982. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de História. Curitiba, 2008. PIMENTA, Gelasio. Velódromo paulistano.Revista: A Cigarra. São Paulo, n. 12 de 29 out. 1914, p. 35.Disponível em Acesso em 20 abr. 13 RIBEIRO, L. C. Política, futebol e as invenções do Brasil. Revista de História Regional, v. 1, 2012.
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RIBEIRO, L. C. B.: Futebol e identidade nacional. Revista Digital, Buenos Aires, v. 8, n. 56, jan., 2003. RODRIGUES FILHO, M. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2003 RÜSEN, J. Didática da História: passado, presente e perspectivas a partir do caso alemão. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v.. 1, n. 2, p. 7 a 16, jul/dez. 2006. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA CARVALHO, J. M. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1987. CARVALHO, J. M.. A formação das almas. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1991. CARVALHO FRANCO, M. S. de. Homens livres na ordem escravocrata. São Paulo:Unesp, 1997. FRAGA, G. W. A derrota do jeca na imprensa brasileira: nacionalismo, civilização e futebol na Copa do Mundo de 1950. Tese de Doutorado. UFRS, 2009. IORIO, F. M. Rastros do cotidiano: futebol em versiprosa de Carlos Drummond de Andrade. Tese de doutorado. Rio de Janeiro: UFRJ, 2006. PEDROSA, M. Gol de letra: o futebol na literatura brasileira. Rio de Janeiro: Editora Gol, 1968. REGO, J. L. do. Flamengo é puro amor. 111 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 2008. RODRIGUES, M. O negro no futebol brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad, 2003. RÜSEN, J. História viva. Teoria da História III: formas e funções do conhecimento histórico. Brasilia: UNB: 2007. RÜSEN, J. Reconstrução do passado. Teoria da História II: os princípios da pesquisa histórica. Brasilia: UNB, 2007. SANTOS, R. de C. G. P. Entre o passado e o presente:Professor de História pode abordar o surgimento do futebol no mundo e a importância do esporte para os países que disputam a Copa, entre outras possibilidades. Profissão Mestre, Curitiba, 12 de maio 2010.
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SCHMIDT, M. M. S.; GARCIA, T. M. F. B. A formação da consciência histórica de alunos e professores e o cotidiano em aulas de História.Cadernos Cedes, Campinas, v. 25, n. 67, p. 297-308, set/dez. 2005. SÍTIOS RECOMENDADOS COPA de 1950. Disponível em: COPA do Mundo e Ditadura militar no Brasil. Disponível em: PRECONCEITO no futebol. Disponível em: REVISTA A Cigarra. Disponível em:
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F UT EBOL MUNDIAL COMO F ENÔMENO SOCIOLÓGICO
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FUTEBOL MUNDIAL COMO FENÔMENO SOCIOLÓGICO Edna Aparecida Coqueiro6
INTRODUÇÃO O método de estudo dos fenômenos sociais, proposto pela Sociologia, propicia o entendimento sobre a realidade, de modo a possibilitar a interpretação dos acontecimentos, do comportamento social e das relações sociais. Segundo Bauman e May (2010, p.53) “Desenvolver um pensamento sociológico não só facilita nossa compreensão um dos outros e de nós mesmos, mas também propicia explicações importantes para a dinâmica das sociedades e das relações sociais como um todo.” O ensino da Sociologia na Educação Básica do Estado do Paraná tem como objetivo promover a aprendizagem do conhecimento sociológico do estudante. Nesse sentido, o objetivo deste texto é trazer algumas considerações e proposições pedagógicas que possam auxiliar os docentes nos encaminhamentos metodológicos que promovam entendimento do fenômeno social Copa no Brasil, desenvolvendo uma análise tanto do ponto de vista crítico sobre as relações culturais que envolvem o futebol brasileiro, bem como pela análise do caráter comercial e econômico impresso pelo capitalismo aos grandes eventos mundiais. A SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA Para promover o entendimento sobre o contexto da Copa e sobre o futebol brasileiro, considerando a relevância na medida em que contribui para a compreensão e interpretação das questões sociais, culturais, políticas e econômicas que envolvem o evento e o esporte, se faz necessário mediações pedagógicas que possibilitem um trabalho teóricoprático significativo, criativo e produtivo. De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Sociologia (PARANÁ, 2008) é importante que os conteúdos sejam contextualizados, problematizados, fundamentados nas perspectivas das teorias sociológicas, dialogados e aprofundados com leituras, pesquisas e demais recursos didáticos, conduzindo a reflexão para além das questões emotivas e de senso comum, de modo que assegure a cientificidade da disciplina. Os pressupostos metodológicos apresentados nas Orientações Curriculares para o Ensino Médio de Sociologia (BRASIL, 2006) propõem que os conteúdos sociológicos sejam desenvolvidos a partir da articulação dos recortes teórico, conceitual e temático. Em relação às teorias sociológicas, tanto as clássicas, as contemporâneas como as brasileiras, são modelos explicativos ou compreensivos que revelam a história da sociedade. Nesse sentido, o recorte teórico não só fundamenta a análise, como também torna possível entender as especificidades dos fenômenos sociais.
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Professora da Rede Estadual de Ensino – Sociologia – SEED/SUED/DEB
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O uso do recorte conceitual permite o domínio do vocabulário básico da linguagem sociológica, possibilitando a compreensão dos discursos acerca da realidade social, ou seja, os conceitos trazem o entendimento sobre a realidade, porém se forem apresentados de forma contextualizada. Para tanto, o emprego de um conceito requer o conhecimento do contexto histórico e social que condicionou as concepções de seus criadores, marcando sua elaboração. (MORAES; GUIMARÃES, 2010, p. 51)
O recorte temático é uma possibilidade de desenvolver conteúdos clássicos e contemporâneos das Ciências Sociais, relacionando-os de modo muito próximo com a realidade dos alunos, partindo do seu cotidiano. Dessa forma, o uso dos recortes: teórico, conceitual e temático convidam o estudante, a turma e a escola a realizar experiências de aprendizagem que poderão proporcionar entendimento do fenômeno, para além do espetáculo do futebol-arte. A busca do diálogo com as demais disciplinas do currículo ou mesmo uma atuação em conjunto é outro aspecto importante que deve ser considerado, pois este é um procedimento didático pedagógico profícuo para a construção e compreensão de diferentes visões sobre o assunto. O planejar do trabalho tratando especificamente sobre a Copa, requer do docente uma visão ampla dos conteúdos estruturantes e básicos propostos, e portanto, definir os conteúdos específicos de forma que leve o estudante a obter compreensão do fenômeno estudado como parte da sua prática social. Desse ponto de vista, os conteúdos estruturantes: Processo de Socialização e as Instituições Sociais; Cultura e Indústria Cultural; Trabalho, Produção e Classes Sociais; Poder, Política e Ideologia permitem fazer a relação, não só com as questões sociais da sociedade brasileira, como também interpretar as relações no mundo globalizado. Os conteúdos estruturantes propostos, em seus desdobramentos, possibilitam a articulação com os conteúdos básicos: Instituições Econômicas, Instituições Políticas, Cultura e Diversidade cultural, Indústria cultural, Identidade, Identidade Nacional, Globalização, Ideologia e Alienação, Relações de gênero, Relações étnico-raciais, Relações de trabalho e Relações políticas e econômicas. Da mesma forma, para aproximação com a realidade do aluno, sugerimos os seguintes conteúdos específicos: Identidade; Sentimento de pertença; Papel social do esporte; Futebol e propaganda, mercado e consumo; Futebol e mídia; Sociedade e esporte; Fetichismo; Nacionalismo; Emprego, desemprego e subemprego. As atividades expressas propiciam o desenvolvimento de um trabalho pedagógico por meio de diversas possibilidades de análise, de encaminhamentos metodológicos e de uso de diferentes recursos didáticos.
SUGESTÕES Tendo em vista o exposto, é interessante iniciar as reflexões oferecendo condições para que o estudante aproprie-se do conhecimento, compreendendo o sentido e o significado para sua vida cotidiana e assim possa elaborar e reelaborar ideias a respeito do fenômeno estudado.
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Comece mobilizando os estudantes para a questão Copa no Brasil. Pergunte o que eles sabem sobre esse assunto, que significado eles atribuem a esse momento, qual é a relação com o esporte. O ponto de partida pode ser a leitura e interpretação de uma imagem (obra de arte, charge), música ou texto. Aproveite os argumentos para promover o diálogo. A obra de arte Futebol em Brodósqui, de Candido Portinari – 1935, retrata uma visão bucólica da vida interiorana onde crianças brincam expressando liberdade e felicidade. Esse é um recurso interessante para discutir as transformações do esporte, da brincadeira para a profissionalização, da expressão popular para a indústria cultural, das peladas para o mega evento. Também poderá ser solicitado para que o estudante relate sua experiência individual, familiar e comunitária relacionada ao gosto pelo esporte, a influência da família e dos amigos na escolha de time ou de uma torcida organizada. Leia com a turma textos que contextualizem a história do futebol no Brasil, no Paraná e problematizem as relações sociais, políticas e econômicas. Ao propor e desenvolver leituras analíticas e críticas de textos sociológicos (acadêmicos ou didáticos) propostos aqui como suporte para o desenvolvimento do tema, análise de uma teoria ou ainda para a explicação de conceitos, bem como para o aprofundamento dos conhecimentos, estará proporcionando a aproximação do aluno com a linguagem própria das Ciências Sociais, garantindo o caráter científico da disciplina. Para tanto, os textos a seguir oferecem condições para relevantes abordagens sobre o futebol brasileiro. As contradições do futebol brasileiro - Jocimar Daolio. O texto contribui para desenvolver análise sobre aspectos culturais do futebol brasileiro. Essa possibilidade de análise coloca esse esporte para além de uma modalidade esportiva com regras próprias, técnicas e táticas determinadas e específicas ou apenas uma manifestação lúdica do homem brasileiro, ou tampouco uma forma de alienação do povo. Aqui, o futebol é analisado como uma forma que a sociedade brasileira encontrou para se expressar. É uma forma de cidadania. A partir dessa ótica, a reflexão destaca algumas aparentes contradições, tomando-as como expressões coletivas da sociedade. Fonte: Football, uma prática elitista e civilizadora: investigando o ambiente social e esportivo paranaense - André Mendes Caprado. Esse trabalho analisa – no contexto curitibano do início do século XX – os primórdios do futebol paranaense, com ênfase na participação de dois clubes: o Internacional Football Club e o América Football Club. Utilizando o modelo micro-histórico e a teoria do processo civilizador de Norbert Elias, a investigação buscou as origens sociais e étnicas dos componentes dos clubes de futebol que participaram da sua introdução no Estado do Paraná. Utilizando fontes variadas como documentos de época, periódicos, fotografias, entre outras, buscou-se um confronto com as ideias estabelecidas
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pelos memorialistas que escreveram sobre a mesma temática. Também foi aberto um quadro comparativo entre o panorama do futebol paranaense e a prática desse esporte em outros grandes centros brasileiros como Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, já que tal atividade não poderia ser entendida isoladamente, pois o ciclo de influências partia, no primeiro momento, dos grandes centros, estendendo-se, posteriormente, dentro da própria sociedade local. Além disso, explicita a relação que o futebol mantinha, nos primeiros anos da sua prática nos clubes sociais, com uma gama variada de atividades, sejam elas de caráter esportivo, lúdico, cultural, cívico ou, até mesmo, um modismo europeu e/ou norte-americano de cunho civilizatório. É da junção desses variados elementos que a prática futebolística vai tomando os gostos populares, tornando-se, passo a passo, um dos elementos culturais que mais caracterizam a brasilidade. Por tratar da história do futebol paranaense, ao mesmo tempo em que instiga a curiosidade, essa discussão possibilita incorporar conhecimentos dos contextos do cotidiano do estudante da comunidade, das cidades e do país, construindo um panorama da cultura brasileira. O objetivo desse momento é possibilitar que o estudante levante hipóteses, argumente e contraponha ideias, para perceber a construção social de elementos culturais que dizem respeito à identidade do povo brasileiro. Mulheres e futebol no Brasil: entre sombras e visibilidades - Silvana Vilodre Goellner. Esse texto objetiva evidenciar que há muito tempo as mulheres protagonizam histórias no futebol brasileiro ainda que tenham pouca visibilidade, seja na mídia, no cotidiano dos clubes e associações esportivas, na educação física escolar ou nas políticas públicas de lazer. A gama de informações encontradas em periódicos, matérias jornalísticas, livros de esporte sobre a temática, evidenciam os vestígios e as rupturas existentes no processo histórico de inserção da mulher nesse esporte, possibilita desenvolver reflexões a respeito das representações discursivas como “masculinização da mulher” e/ou “preservação da beleza e feminilidade”, ainda presentes nas modalidades esportivas consideradas violentas ou prejudiciais a uma suposta natureza feminina. Fonte:. Após a leitura, as reflexões podem ser aprofundadas com análise e interpretação de vídeos e trechos de filmes como: História do futebol feminino – A história do Dick Kerr”s Ladiesmov. Disponível em: http://www.pibid.ufpr. br/pibid_new/projetos/edfisica2011/paginas/textos-sobre-relacoes-de-genero-e-sexualidade e Deixa que eu chuto (trecho 1), disponível no site:http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php?id=20415>. As discussões apresentadas problematizam ideologias presentes no imaginário social, possibilitando desnaturalizar as relações de gênero, a apresentação social da mulher no esporte e a participação feminina no futebol brasileiro, em especial, nos campeonatos mundiais.
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Também é interessante discutir com a turma a questão da profissionalização do esporte, as condições de inserção nesse mercado de trabalho e o papel social do esporte.
Artigos A “Camisa 10” do futebol como um símbolo na manutenção da identidade nacional - o discurso da mídia. ABRAHÃO, Bruno Otávio de Lacerda; DI BLASI, Felipe; SALVADOR, Marco Antônio Santoro Fonte:. Acesso em 04 mar. 2013 Brasil versus Argentina: rivalidade ou identidade. Elizângela Fernandes Ferreira. Fonte:. Acesso em 04 mar. 2013 Etno-desporto indígena: contribuições da antropologia social a partir da experiência entre os Kaingang. Jose Ronaldo Mendonça Fassheber. Fonte:.Acesso em: 04 mar. 2013 Gênero e torcidas organizadas de futebol: notas sobre as representações e o lugar da mulher nos grupos constituídos no Brasil –Heliany Pereira dos Santos - UFG. Fonte: . Acesso em: 04 mar. 2013.
Filmes e vídeo Fetichismo e mercadoria (Vídeo) Fonte:. Acesso em: 04 mar. 2013 Green street hooligans (Filme) Fonte: .Acesso em 28 mar. 2013 Segunda-feira ao sol (Trecho de Filme) Fonte:..Acesso em 04 mar. 2013
Imagem/Obra de Arte Obra – Futebol – 1965 – Orlando Teruz Fonte: . Acesso em: 05 mar. 2013 Obra – Pelada de futebol – Fernando Medeiros Fonte:. Acesso em 05 mar. 2013
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Obra – Meninos jogando futebol – Rosangela Borges Fonte:..Acesso em 05 mar. 2013 Para um efetivo trabalho de análise e síntese dos conteúdos, recomenda-se atividades que possibilitem alto grau de interação, como por exemplo, exercícios de comparação, interpretação, solução de problemas, tomadas de decisões, expressão e argumentação de ideias, complementando a análise crítica elaborada a partir do trato pedagógico dos recursos didáticos. CONSIDERAÇÕES Analisada como tema de estudo da Sociologia, a Copa possibilita que o docente crie um ambiente investigativo de diferentes aspectos do evento, desde a organização que envolve múltiplas relações entre diferentes culturas até aspetos da realidade local. Nesse sentido, o trabalho pedagógico fica muito mais rico e envolvente quando o docente propõe pesquisas e seminários sobre os impactos sociais, econômicos, políticos e culturas, sobre a influência da mídia, relações sociais, globalização, emprego e desemprego, identidade, identidade nacional, entre outros. Por tratar de um tema da atualidade envolvendo um acontecimento marcante, essas ações pedagógicas são importantes na medida em que suscitam analogias, questionamentos e argumentações que favorecem o desenvolvimento da consciência crítica para uma participação cidadã nesse momento histórico da sociedade brasileira. Para tanto, como já dissemos anteriormente, as metodologias de ensino devem considerar as especificidades do ensino de Sociologia na Educação Básica. São muitas as possibilidades de fazer a reflexão sociológica sobre a temática, no entanto, neste material, as proposições apresentadas fazem um recorte que contribui para discussão e debate em sala de aula, com o objetivo de proporcionar ao estudante compreender o evento para além do espetáculo, ou seja, compreender especialmente seu caráter ideológico, econômico e cultural, conhecendo tanto os aspectos positivos como os negativos. Sendo assim, esperamos que as idéias contidas neste texto, sem desrespeitar a autonomia e criatividade do docente, possam contribuir para uma perspectiva de ensino-aprendizagem que traga para a sala de aula, bem como para todos os espaços da escola, a construção de conhecimentos.
REFERÊNCIAS BAUMAM, Z.; MAY, T. Aprendendo a pensar com a Sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2010. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o Ensino Médio: Ciências humanas e tecnologias. Brasília, 2006. MORAES, Amaury Cesar; GUIMARÃES, Elisabeth da Fonseca. Metodologia de ensino ciências sociais. In: BRASIL. Ministério da Educação.Relendo as OCEM: Sociologia. Brasília, 2010. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Sociologia. Curitiba, 2008.
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E V ENTO F UT EBOLÍST ICO MUNDIAL: UMA ABORDAGEM F ILOSÓF ICA
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EVENTO FUTEBOLÍSTICO MUNDIAL: UMA ABORDAGEM FILOSÓFICA Aline Bertilla Mafra Rolla7 Edson André Pegoraro8 Valéria Arias9
INTRODUÇÃO Historicamente, a Filosofia relaciona-se com a inquietação, o espanto, a curiosidade humana acerca dos sentidos mais profundos da existência. O homem procura, mediante a razão interrogante e propositiva, compreender a si mesmo e ao mundo, tornando explícitas as relações e as contradições presentes no real. Ao procurar entender-se enquanto parte de uma realidade complexa e múltipla, o homem é movido a refletir sobre as relações que influenciam a configuração de sua existência. Essa busca pelo entendimento, o qual filosoficamente se caracteriza como exercício consciente e intencional, leva aos questionamentos e problematizações acerca das várias dimensões da realidade. Enquanto matéria escolar, a Filosofia objetiva contribuir com a formação integral dos estudantes, o que implica conceber uma educação que valoriza a autonomia do pensar,o espírito crítico e a perspectiva da transformação social. No Paraná, o Documento Orientador que expressa essa concepção de ensino de Filosofia é a Diretriz Curricular Orientadora da Educação Básica para a Rede Estadual de Ensino – Filosofia (PARANÁ, 2008). A DCE Filosofia propõe uma organização dos programas de ensino a partir de conteúdos filosóficos fundamentais, ali denominados conteúdos estruturantes. Entende-se que o conteúdo Ética e seus conteúdos básicos, possibilitam a reflexão acerca do tema Copa, assim entendido como fenômeno social e político com inúmeros desdobramentos e implicações que pode e deve ser tratado filosoficamente. Esse tratamento filosófico subtende ir para além da compreensão comum, expressa, principalmente, pela mídia e pelas visões superficiais acerca desse fenômeno, o qual, para os brasileiros, tem apelos culturais profundos, já que o futebol é, por muitos, relacionado como elemento identitário da cultura nacional. Dessa forma, respeitando-se a inscrição epistemológica da Filosofia, é possível tratar da Copa, evento que, de diferentes maneiras, certamente far-se-á presente na vida cotidiana dos estudantes.
PROPOSTA DE TRABALHO Entende-se que, mediante o estudo da Ética nos domínios da educação filosófica, é possível trazer à tona as grandes inquietudes da existência humana, pois as questões éticas são balizadas pela possibilidade da constituição de sujeitos autônomos em seu pensar-agir. Essa visão implica numa práxis ético-política mais totalizante ou, noutras palavras, implica na potencialidade da atuação consciente dos sujeitos, os quais se tornam mais autônomos
Professora da Rede Estadual de Ensino – Filosofia - Núcleo Regional de Educação de Curitiba Professor da Rede Estadual de Ensino – Filosofia – SEED/SUED/DEB 9 Professora da Rede Estadual de Ensino – Filosofia – SEED/SUED/DEB 7 8
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ao assumirem uma atitude crítica acerca das diversas situações que a realidade e a vida cotidiana lhes impõem. Além disso, é no domínio da Ética que se incluem as indagações sobre as das condutas sociais e individuais, estabelecendo-se sentidos e relações entre as ações e comportamentos coletivos e os atos morais individuais e/ou grupais. Dessa forma, os conhecimentos de Ética contribuem para desenvolver o entendimento sobre a Copa enquanto fenômeno social, histórico, forjado em uma determinada concepção de valores e interesses, cujos desdobramentos, influências e impactos podem ser identificados e debatidos pela educação filosófica escolar. A DCE Filosofia (PARANÁ, 2008, p. 48), tem como princípios pedagógicos a capacidade de indagação e crítica, a sistematização e fundamentação, o rigor conceitual, o combate a qualquer forma de dogmatismo e autoritarismo, a disposição para levantar novas questões, para repensar, imaginar e construir conceitos, a defesa radical da emancipação humana, do pensamento e da ação, livres de qualquer forma de dominação. Para que esses princípios se concretizem, a DCE Filosofia propõe quatro passos metodológicos para o ensino, que são a mobilização, a problematização, a investigação e a criação de conceitos. Esses procedimentos didáticos, embora não esgotem as possibilidades de trato teórico-metodológico, apresentam-se como um exercício de mediação docente que possibilita ao estudante um instrumental orientado para o desenvolvimento de seu próprio repertório de conhecimentos e reflexões. Sendo assim, na presente proposta, aponta-se para a compreensão acerca das implicações éticas referentes aos campeonatos mundiais de futebol, na medida em que se debruça sobre este objeto a partir da explicitação das condutas, ações e valores nele envolvidos. Com efeito, trata-se de evento que encerra inúmeras relações e implicações sociais, econômicas, morais e políticas e, portanto, sob o olhar da Filosofia, cumpre abordá-lo de forma a entender as razões mais gerais que o configuram, bem como os sentidos mais particulares e cotidianos que assume. Sendo assim, a partir do conteúdo Ética, recomenda-se que se explore, de acordo com a DCE Filosofia, o tema Copa, de forma a articular este objeto às problematizações filosóficas matizadas pelos conteúdos básicos correlatos ao eixo articulador. A rigor, há várias possibilidades, porém, argumenta-se que os conteúdos básicos presentes na DCE Filosofia podem ser articulados ao assunto Copa, de modo a oferecer grandes margens de construção de reflexões e questionamentos mobilizadores pelos e com os estudantes. São eles: ética, violência e mercado, ética e moral, razão, desejo e vontade, liberdade - autonomia do sujeito e a necessidade das normas. Como sugestão para trabalhar os elementos éticos referentes à Copa, recomenda-se aos professores de Filosofia iniciar seus encaminhamentos por meio de uma mobilização para o debate, a qual pode ser realizada partindose de problemas acerca dos custos, dos benefícios, da distribuição das verbas e dos repasses de recursos públicos às cidades-sede por parte dos governos (Federal, Estaduais e Municipais). É importante que se busque estabelecer uma mediação sobre o que a sociedade e os estudantes avaliam como elementos positivos e negativos em relação à realização do evento no Brasil. É fundamental, ainda, que se reflita sobre a origem dos investimentos necessários à adequação estrutural das cidades-sede e se relacione os esforços realizados para essa adequação às prioridades sociais atuais.
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Observar com os estudantes que as práticas esportivas e, no caso específico, o futebol, quando alicerçadas em valores (bem, virtude, mérito, vitória), contribuem para o estabelecimento de referenciais éticos e morais, os quais frequentemente extrapolam o âmbito esportivo e contribuem para reforçar e/ou redefinir valores sociais mais amplos, embora aparentemente difusos e neutros. Considerar que a conduta esportiva no âmbito da atuação profissional (no caso, aqui, do futebol como desporto) é estudada por um ramo aplicado específico do conhecimento ligado à Ética, denominado Deontologia. Em se tratando da inclusão da Copa – como tema de investigação escolar na perspectiva da Ética –, o que cabe aos domínios próprios da educação filosófica é uma reflexão mais fundamental, centrada no entendimento do fenômeno Copa a partir dos seus sentidos éticos e morais conflituosos e de suas múltiplas implicações. Nesse percurso, seria interessante estabelecer um diálogo com as demais disciplinas do currículo, organizando-se de maneira articulada procedimentos didático-pedagógicos que favoreçam a compreensão mais profunda acerca da Copa e de outros fenômenos similares. Como exemplo da possibilidade descrita, propõem-se, a seguir, alternativas de encaminhamento metodológico referenciadas no conteúdo básico Razão, desejo e vontade, cujo teor pode fundamentar, além de outras reflexões, a identificação e a compreensão de elementos inerentes ao fanatismo esportivo, expresso, por exemplo, nos comportamentos coletivos que caracterizam as torcidas organizadas de futebol. Para iniciar esta atividade, apontamos como possibilidade para a mobilização a música de Pablo Cezzar, intitulada Torcida de Futebol, da qual reproduzimos um trecho abaixo: Torcidas antigamente faziam comemoração Hoje quando o time perde elas matam sem Compaixão, se o país é democrático cada um Torce pra quem quer, não sei porque que Alguns não entendem como é!
Várias questões podem ser formuladas a partir da música, explorando-se as possibilidades de desdobramentos de conteúdos, conforme a proposta de trabalho docente. Após os diálogos e debates, inicia-se o processo de investigação filosófica propriamente dito, para o qual se sugere a utilização da obra Iniciação à Filosofia, de Marilena Chauí (2011, p. 279-284). É fundamental que o professor inclua textos clássicos da Filosofia, mesmo que seja, dependendo do grau de maturidade das turmas, sob a forma de fragmentos. Sugere-se como base bibliográfica a Antologia de textos filosóficos (PARANÁ, 2009, p. 530-541), obra que apresenta uma série de textos clássicos comentados que discutem direta ou indiretamente a constituição das eticidades e das moralidades. Após análise e interpretação dos textos selecionados, cabe ao/à docente organizar instrumentos que lhe permitam balizar o progresso dos estudantes, bem como planejar novas etapas de trabalho. Embora seja de difícil dimensionamento, é preciso o esforço do/da docente no sentido de captar se e como os estudantes se apropriaram dos conhecimentos trabalhados. A seguir, a título de contribuição para o planejamento docente em relação ao tema Copa, apresentam-se indicações de recursos destinados aos momentos de mobilização e problematização, os quais, segundo as DCE Filosofia,
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devem integrar o início do percurso didático das aulas da disciplina, na medida em que podem ser organizados de modo a articular elementos do cotidiano dos estudantes (ponto de partida) ao conhecimento filosófico que se pretende alcançar. VÍDEOS Documentário: Futebol, mais que um esporte, uma vida! Disponível em: http: Sinopse Documentário de aproximadamente 32’ (trinta e dois minutos), em que são relatadas as campanhas da Seleção Brasileira e seus jogadores nas Copas do Mundo, bem como as condições dos jogadores em seus times de origem. Futebol dos Filósofos Disponível em: Sinopse Este curta-metragem do grupo de comédia Monty Phyton, batizado de Futebol e Filosofia, trata-se de um jogo hipotético entre a Filosofia Alemã e a Grega. Futebol Feminino Disponível em: Depoimentos: Julliana Cabral, Mauro Beting, Rodrigo Azevedo Leitão e Zé Elias Música: Amy Winehouse - You know I’m no good Kaiserchiefs - I predict a riot Realização: Universidade do Futebol. Os melhores dribles do mundo Disponível em: MÚSICAS - Uma partida de futebol – Skank Disponível em: - Eu quero ver gol – O Rappa Disponível em: - Torcida de futebol – Pablo Cezzar Disponível em: - O futebol – Chico Buarque Disponível em:
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- Aqui é o País do futebol – Elis Regina Disponível em: - Brazuca – Gabriel, O Pensador Disponível em: - Futebol de rua – Wesley Santiago Disponível em:
CHARGES - Futebol é uma droga Disponível em: http://www.prosaepolitica.com.br/wp-content/uploads/2010/06/00rs0614c.jpg - Ricardo Teixeira, o dono do mundo Disponível em: - Mascote oficial da Copa do Mundo 2014 Disponível em: - Racismo no futebol Disponível em: - Racismo no futebol 1 Disponível em:
TEXTOS E ARTIGOS - Filosofia e jogo de futebol Disponível em: - Hegel e o caráter ético-político da ideia de liberdade. p. 298 Disponível em:
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- Kant e a liberdade de pensar publicamente. p. 398 Disponível em: - Marx e a filosofia como emancipação. p. 460 Disponível em: - Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Pág. 582 - Contrato Social. p. 600 Disponível em: - O existencialismo é um humanismo. p. 616 Disponível em: - O poder e saber.p. 230 - O poder, um magnífico animal. p. 247 Disponível em: - Nietzsche – Sobre verdade e mentira: no sentido extramoral. p. 530 Disponível em:
CONSIDERAÇÕES O intuito desta proposta é auxiliar o professor de Filosofia a desenvolver atividades sobre a Copa, seguindo os princípios norteadores das DCE Filosofia e, sobretudo, mantendo-se a coerência epistemológica e pedagógica entre os conteúdos curriculares prescritos – atrelados à concepção da escola como lócus de socialização do conhecimento sistematizado –, e o trabalho pedagógico que se efetiva no cotidiano escolar. A partir desse escopo geral, a proposta embasou-se em referenciais pedagógicos para o ensino de Filosofia, os quais, acredita-se, devam nortear não apenas o desenvolvimento do tema em questão, a Copa, mas serem tomados como elementos centrais para o desenvolvimento dos programas de ensino da disciplina. São eles: 1 “O ensino de Filosofia deve estar na perspectiva de quem dialoga com a vida, por isso é importante que, na busca da resolução do problema, haja preocupação também com uma análise da atualidade, com uma abordagem que remeta o estudante à sua própria realidade” (PARANÁ, 2008, p. 60). 2 A Filosofia se expressa historicamente mediante o texto escrito, essa é a forma preferencial da linguagem filosófica.
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É pelo texto filosófico que a Filosofia se comunica, se desenvolve e dialoga com os demais campos do conhecimento. Daí a necessidade da presença dos textos da tradição filosófica para as aulas de Filosofia. 3 “É imprescindível que o ensino de Filosofia seja permeado por atividades investigativas individuais e coletivas que organizem e orientem o debate filosófico, dando-lhe um caráter dinâmico e participativo” (PARANÁ, 2008, p. 61).
Por fim, nota-se que as reflexões e procedimentos apresentados se relacionam aos eventos e à prática esportiva, as quais, de maneira direta ou indireta, estão presentes no cotidiano vivido e nas experiências simbólicas dos estudantes do Ensino Médio. Pensar o esporte atual sob o arcabouço da crítica filosófica constitui-se em desafio para os docentes e para as escolas. Tal desafio, no entanto, não invalida, ao contrário, reforça a necessidade da defesa da presença do esporte e das atividades físicas em geral na escola, de forma a superar a hegemonia da lógica meritocrática e competitiva, buscando-se os sentidos mais originais da educação física e do esporte escolar, entendidos como dimensões educativas centrais para a formação integral dos sujeitos.
REFERÊNCIAS CEZZAR, Pablo. Torcida de futebol. [S.n.t.] CHAUÍ, M.Iniciação à Filosofia. São Paulo: Ática, 2011. MARÇAL, J. (org). Antologia de textos filosóficos. Curitiba: Secretaria de Estado da Educação/Superintendência da Educação/Departamento de Educação Básica, 2009. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Filosofia. Curitiba, 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado de Educação. Superintendência da Educação. Livro didático público: filosofia. 2.ed. Curitiba, 2007. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ARANHA, M. Martins. Filosofando: introdução à Filosofia. 4.ed. São Paulo. Moderna, 2009. COTRIM, G, FERNANDES, M. Fundamentos de Filosofia. São Paulo, Saraiva: 2010.
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A CRÔNICA, O F UT EBOL E O TALENTO BRASILEIRO
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A CRÔNICA, O FUTEBOL E O TALENTO BRASILEIRO Adilson Carlos Batista10 Edilson José Krupek11 Marly Albiazzetti Figueiredo12 Varilene Verdi Figueiredo13 Vilma Lenir Calixto14
No Brasil, ela tem uma boa história, e até se poderia dizer que sob vários aspectos é um gênero brasileiro, pela naturalidade com que se aclimatou aqui e a originalidade com que aqui se desenvolveu. Antonio Candido
INTRODUÇÃO
A escolha da epígrafe que abre este texto tem a intenção de provocar os apaixonados pelo futebol. Não que Antonio Candido estivesse fazendo qualquer tipo de referência ao esporte: “ela” não é a bola, e sim a crônica. A aproximação se faz pela forma como Candido aborda uma nacionalização hipotética da crônica - dada a “naturalidade com que se aclimatou aqui e a originalidade com que aqui se desenvolveu” - e a forma como o futebol “aclimatou-se” e ganhou “originalidade” nos pés dos inúmeros craques que aqui nasceram e que, como um grande número de cronistas brasileiros, receberam e recebem reconhecimento internacional por seu talento. Partindo dessa linha de aproximação, faremos a proposição de um encaminhamento de trabalho didático com o gênero crônica esportiva, por meio de crônicas escritas por brasileiros apaixonados pelo futebol e verdadeiros craques na arte da escrita desse gênero literário. Desenvolver o trabalho didático com a crônica, bem como com qualquer outro gênero discursivo, implica considerar os três elementos constitutivos do enunciado: o conteúdo temático, o estilo e a construção composicional. De acordo com Bakhtin, esses elementos “estão indissoluvelmente ligados no todo do enunciado e são igualmente determinados pela especificidade de um determinado campo da comunicação.” (BAKHTIN, 2003, p. 262). No entanto, há uma particularidade a ser considerada no caso do estudo da crônica, no que se refere ao campo de comunicação em que a crônica está inserida. Há uma polêmica na definição desse gênero como literário ou jornalístico, primeiramente por conta da efemeridade dos temas dos quais os cronistas se ocupam ao tratar de assuntos corriqueiros ligados a acontecimentos aparentemente comuns do nosso cotidiano; depois pela própria forma com que a linguagem é tratada na crônica, oscilando entre a precisão da linguagem jornalística – por conta dos suportes em que as crônicas são veiculadas: jornais e revistas – e a literariedade caracterizada pelo uso de diversos recursos estilísticos empregados na escrita de muitos desses textos. Professor da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa – SEED/ SUED/DEB Professor da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa – SEED/SUED/DEB 12 Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa – SEED/SUED/DEB 13 Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa – SEED/SUED/DEB 14 Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa – SEED/SUED/DEB 10
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Nesse sentido, a crônica ganha características peculiares por conta do estilo próprio de cada autor, como, por exemplo, o tom poético de Cecília Meireles e de Rubem Braga ou uma escrita mais acadêmica, como algumas crônicas de Ferreira Gullar e Lima Barreto, aproximando-se do ensaio ou, ainda, um tom humorístico que, além de divertir, provoca a reflexão sobre as ações do ser humano, como é o caso das crônicas escritas por Fernando Sabino e Luis Fernando Verissimo. Ainda sobre a indefinição da crônica como gênero jornalístico ou literário, Antonio Candido comenta, em seu clássico artigo A vida ao rés-do-chão, que a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas, sobretudo porque quase sempre utiliza o humor. (CANDIDO, 1992, p.7)
O humor é outro ponto importante a ser considerado no estudo desse gênero, uma vez que é um elemento constante nas crônicas futebolísticas e certamente grande responsável pela popularidade desse gênero entre os milhares de apaixonados pelo, também popular, futebol. Entretanto, o tom coloquial e humorístico dos textos não elimina a visão crítica que figura em grande parte das crônicas sobre futebol, escritas por autores como Nelson Rodrigues, Mario Filho, Rubem Braga, Antônio de Alcantara Machado, Ferreira Gullar, Clarice Lispector, Armando Flávio Carneiro, Carlos Drummond de Andrade, Luis Fernando Verissimo, Cristovão Tezza, Fernando Sabino, Armando Nogueira, Juca Kfouri entre outros. Nessa perspectiva e aproveitando o evento da Copa no Brasil, que nos aproxima das discussões que envolvem o mundo do futebol, propomos um estudo de crônicas esportivas de diferentes épocas e de diferentes autores, por meio das práticas discursivas da leitura, da oralidade e da escrita. Para o estudo do gênero crônica, em cada uma das práticas discursivas, devem ser considerados os conteúdos relacionados abaixo, que deverão ser aprofundados de acordo com os anos/séries selecionados pelo professor para o desenvolvimento do trabalho. LEITURA - conteúdo temático; interlocutor; finalidade do texto; intencionalidade; argumentos do texto; contexto de produção; intertextualidade; vozes sociais presentes no texto; discurso ideológico presente no texto; elementos composicionais do gênero; contexto de produção da obra literária; marcas linguísticas: coesão, coerência, função das classes gramaticais no texto, pontuação, recursos gráficos como aspas, travessão, negrito; progressão referencial; partículas conectivas do texto; relação de causa e consequência entre partes e elementos do texto; semântica: operadores argumentativos; modalizadores; figuras de linguagem.
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ESCRITA - conteúdo temático; interlocutor; finalidade do texto; intencionalidade; informatividade; contexto de produção; intertextualidade; referência textual; vozes sociais presentes no texto; ideologia presente no texto; elementos composicionais do gênero; progressão referencial; relação de causa e consequência entre as partes e elementos do texto; semântica: operadores argumentativos; modalizadores; figuras de linguagem; marcas linguísticas: coesão, coerência, função das classes gramaticais no texto, conectores, pontuação, recursos gráficos como aspas, travessão, negrito etc.; vícios de linguagem; sintaxe de concordância; sintaxe de regência. ORALIDADE - conteúdo temático; finalidade; intencionalidade; argumentos; papel do locutor e interlocutor; elementos extralinguísticos: entonação, expressões facial, corporal e gestual, pausas; adequação do discurso ao gênero; turnos de fala; variações linguísticas (lexicais, semânticas, prosódicas, entre outras); marcas linguísticas: coesão, coerência, gírias, repetição; elementos semânticos; adequação da fala ao contexto (uso de conectivos, gírias, repetições etc.); diferenças e semelhanças entre o discurso oral e o escrito. Os conteúdos específicos deverão ser definidos pelo professor, de acordo com os anos/séries em que será realizado esse trabalho. EM CAMPO, A CRÔNICA A seleção de crônicas a serem lidas pelos estudantes deverá considerar uma certa cronologia de produção para que se possa observar as modificações que o gênero vem sofrendo em relação à forma composicional, ao vocabulário empregado nos textos e também à maneira como o esporte é retratado pelos diferentes cronistas ao longo dos anos. Essa organização ajudará a estabelecer um paralelo entre a visão subjetiva do cronista sobre o assunto tratado nas crônicas e a evolução na forma como o futebol tem sido comentado e visto nas últimas décadas no Brasil. ORGANIZAÇÃO DAS ATIVIDADES Pesquisa de crônicas escritas sobre futebol: um bom começo seria selecionar crônicas a partir de Nelson Rodrigues e Mario Filho, passando por autores reconhecidos pela qualidade de seus textos como os já citados (Rubem Braga, Antônio de Alcantara Machado, Ferreira Gullar, Clarice Lispector, Armando Flávio Carneiro, Carlos Drummond de Andrade, Luis Fernando Veríssimo, Cristovão Tezza, entre outros.). Dentre as crônicas selecionadas, escolher uma para ser lida por toda a turma com a finalidade de possibilitar, em um primeiro momento, a socialização das impressões de leitura dos alunos sobre o mesmo texto: o que acharam da leitura? Do assunto? Da forma como o autor trata o assunto? Alguma passagem do texto que gostariam de destacar? Por quê? Esse momento é importante para que os alunos se sintam à vontade para defender o próprio ponto de vista em relação ao texto, antes de estudá-lo com o auxílio do professor. Após essa conversa sobre a leitura, o estudo dos elementos que compõem o texto poderá ser iniciado: assunto, foco narrativo, uso da linguagem, tom empregado no texto, condições de produção (autor, contexto, suporte
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em que o texto foi veiculado...). Para o estudo do gênero, é importante explorar as situações de comunicação em que as crônicas costumam ser produzidas, a sua finalidade, para quem, onde circulam e em que suportes (livros, jornais, revistas, internet etc.). Na sequência, o professor poderá ampliar o estudo do gênero crônica: a origem, a (in)definição da classificação da crônica como gênero literário ou jornalístico, o objetivo da linguagem coloquial normalmente empregada nesses textos, os recursos que conferem literariedade a boa parte das crônicas, principalmente àquelas escritas por nomes ligados à arte literária, o humor, a ironia. Para o estudo das demais crônicas selecionadas, os alunos poderão organizar-se em grupos para apresentar a leitura e o estudo do texto aos demais colegas, seguindo roteiro estabelecido pelo professor, conforme o trabalho desenvolvido com a crônica lida por toda a turma. As apresentações deverão acontecer de acordo com a cronologia de publicação das crônicas. Nesses textos, um considerável conjunto de informações sobre a nossa História poderá ser acessado, com dados sobre a linguagem de cada época, os atletas/personagens, as questões sociais e políticas, o envolvimento do povo e as grandes paixões/craques de cada época. Com a leitura de alguns desses textos e o estudo desse gênero, os professores podem propor aos alunos a produção de uma crônica sobre as realizações esportivas da escola ou sobre algum acontecimento noticiado sobre o evento. Para facilitar o trabalho de produção dos alunos, o professor poderá solicitar uma pesquisa sobre o vocabulário próprio do futebol, ampliando o estudo realizado nas crônicas lidas pela turma, para que os alunos tenham um domínio específico desses jargões antes da produção, como por exemplo: véu de noiva, chocolate, lanterna, cartola, bicicleta, caneta, pedalada, pipoqueiro, cozinha, banheira, amarelar, frango, lugar, Maria Chuteira, dorme, linha, gandula, tapete, gomo, capotão, embaixada, morte súbita, coruja, escrete, chaleira, firula, carrinho, bicuda, boleiro, artilheiro, pelota, frangueiro, pelada etc. O professor pode, também, orientar a escrita dos alunos por meio de algumas reflexões: qual será o foco narrativo do texto? Quem serão as personagens? Qual será o enredo, como, onde e quando vai se desenrolar a narrativa? Que tom será utilizado (humorístico, lírico, irônico ou crítico)? Como vai ser o desfecho (aberto ou conclusivo)? Após a produção da primeira versão da crônica, os alunos poderão se dedicar à reescrita dos textos, com auxílio do professor, para que a produção final possa ser socializada e publicada no mural da turma ou no jornal da escola ou ainda, se possível, no jornal do bairro ou da cidade. Lembrando que, para a primeira versão das crônicas escritas pelos alunos, a intervenção do professor será muito importante, pois ela funcionará como diagnóstico para a reescrita dos textos. CONSIDERAÇÕES Ao realizar o estudo sobre o gênero crônica esportiva é importante estabelecer um trabalho interdisciplinar com História e Sociologia, por exemplo. O objetivo de buscar elementos de estudo nessas disciplinas é estimular a visão crítica dos alunos com relação à representatividade que o futebol adquiriu frente à sociedade brasileira ao longo dos anos e a dimensão social, política e econômica que o evento Copa assume em um país como o Brasil, cuja paixão pelo futebol mobiliza praticamente toda a nação.
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O ESPORTE E O GÊNERO MIDIÁTICO NA AULA DE ESPANHOL COMO LÍNGUA ESTRANGEIRA Priscila do Carmo Moreira Engelmann15 Juanito Pereira de Oliveira16
INTRODUÇÃO Os eventos esportivos, as transmissões, os comentários, os bastidores transformam-se em comoção nacional em época de Copa ou eventos similares. Nada passa despercebido. Há uma intrínseca relação midiática envolvendo os gostos e a paixão do brasileiro pelo esporte, em especial o futebol. A mídia ocupa os espaços na divulgação de produtos, ideias e ideologias, utilizando-se de uma linguagem atraente, comovente, persuasiva. Os gêneros discursivos compõem, neste contexto, a linguagem da sedução. Devido à movimentação nos setores econômicos, administrativos, culturais, étnicos entre outros, decorrente da realização dos Jogos Olímpicos de 2016 e da Copa, este trabalho propõe uma discussão sobre a relação entre esporte e mídia e de que modo os gêneros discursivos poderão ser explorados em sala de aula no Ensino de Espanhol como Língua Estrangeira. Sobre a relação entre esporte e mídia, afirma Moragas (2007, p. 2): O esporte midiático se converteu em uma das principais formas de entretenimento nas sociedades modernas e, por consequência, em uma fonte de receitas até agora desconhecida para a televisão, para os patrocinadores e para as organizações esportivas. A prática esportiva profissional está absolutamente condicionada pelo processo da comunicação de massa.
Diante disso, percebe-se que a relação da mídia com o esporte está cada vez mais intrínseca e os cidadãos brasileiros atraídos pelos esportes, mais especificamente pelo futebol como identidade nacional, interagindo com os gêneros midiáticos no cotidiano. Desse modo, torna-se importante o trabalho de reflexão a partir dos gêneros textuais que circulam na mídia, envolvendo temas relacionados ao esporte, para o trabalho com a Língua Espanhola, de acordo com a faixa etária e o nível de compreensão linguística dos alunos. Espera-se que, a partir do trabalho sugerido, os estudantes consigam construir ou aprimorar a consciência crítica sobre os textos midiáticos, fazendo leituras diversas de informações expostas em língua estrangeira ou em língua materna, e percebendo a intencionalidade e a intertextualidade dos conteúdos, assim como suas ideias e ideologias. A LÍNGUA ESPANHOLA COMO INSTRUMENTO DE INTERAÇÃO O Ensino da Língua Estrangeira na Rede Estadual de Educação do Estado do Paraná está organizado a partir da teoria bakhtiniana, que defende o ensino a partir dos gêneros textuais. Para a elaboração da presente proposta, considerou-se o conceito apresentado nas Diretrizes Curriculares Orientadoras para a Rede Estadual de Educação do Paraná: Professora da Rede Estadual de Ensino – Lingua Espanhola – SEED/SUED/DEB Professor da Rede Estadual de Ensino – Lingua Espanhola – SEED/SUED/DEB
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No ensino de Língua Estrangeira, a língua, objeto de estudo dessa disciplina, contempla as relações com a cultura, o sujeito e a identidade. Torna-se fundamental que os professores compreendam o que se pretende com o ensino da Língua Estrangeira na Educação Básica, ou seja: ensinar e aprender línguas é também ensinar e aprender percepções de mundo e maneiras de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos, independentemente do grau de proficiência atingido. (PARANÁ, 2008, p. 55)
Diante disso, propomos ao professor de Língua Estrangeira que o trabalho com os diversos gêneros textuais midiáticos ocorra levando em consideração as diferentes tensões que permeiam a temática do Brasil como sede de eventos esportivos de grande porte, como os Jogos Olímpicos de 2016 e a Copa. A realização desses mega eventos em nosso país fará com que os cidadãos se tornem sujeitos de uma grande diversidade de interações linguísticas a partir dos meios de comunicação de massa. Essa discussão é imprescindível para que os cidadãos não sejam meros receptores, mas expectadores ativos, que reflitam sobre as consequências da movimentação, dos discursos nas relações sociais. Segundo Bakhtin (1988, apud PARANÁ, 2008, p. 53), Toda enunciação envolve a presença de pelo menos duas vozes, a voz do eu e do outro. Para este filósofo, não há discurso individual, no sentido de que todo discurso se constrói no processo de interação e em função de outro. E é no espaço discursivo criado na relação entre o eu e o outro que os sujeitos se constituem socialmente. É no engajamento discursivo com o outro que damos forma ao que dizemos e ao que somos. Daí a Língua Estrangeira apresentar-se como espaço para ampliar o contato com outras formas de conhecer, com outros procedimentos interpretativos de construção da realidade.
A partir da concepção apresentada, propõe-se uma reflexão sobre como os expectadores têm compreendido a mídia relacionada ao esporte, assim como a possível relação existente entre o esporte e os textos midiáticos. Quanto ao comportamento dos jovens expectadores que, intencionalmente ou não, interagem com esses textos, é importante destacar que O esporte moderno, a prática do esporte e o espetáculo esportivo em nossos dias, estão inquestionavelmente influenciados por este novo foco televisivo. As crianças jogam, vestem trajes esportivos, gesticulam, interagem de acordo com o que vêm nos estádios, porém sobretudo de acordo com o que vêm nas telas da televisão. (MORAGAS, 2007, p.3)
O comportamento de cidadãos de diferentes faixas etárias é influenciado pelos ídolos do futebol, muitas vezes, sem que haja acesso ao estádio e ao verdadeiro ambiente esportivo. Muitas crianças e adolescentes não têm acesso às práticas esportivas, e o único contato que têm com o esporte é pelos meios de comunicação em massa, que “vendem” imagens e estereótipos dos jogadores de futebol, os quais se tornam modelos de comportamentos.
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SUGESTÕES Considerando o disposto, propõe-se que o professor de Língua Espanhola promova a exploração do gênero propaganda, a partir de textos em língua espanhola que divulgam grandes produtos ou marcas, relacionando-os a imagens de renomados jogadores de futebol. Após selecionar os textos, o professor poderá explorar os gêneros textuais que circulam na mídia para que, a partir do trabalho com a língua estrangeira e a possível comparação com textos em língua materna, possa incentivar o desenvolvimento do pensamento crítico do aluno diante de questões que ultrapassam o gosto pelo futebol e interferem relativamente em comportamentos sociais. Até finais dos anos setenta a influência entre os meios de comunicação e o esporte era analisada unicamente em uma direção: a da influência da comunicação sobre o esporte. Já nos anos oitenta, à medida que o esporte começa a transformar-se em um dos gêneros básicos da programação da televisão, esta influência se torna cada vez mais intensa, na direção contrária: no sentido da influência do esporte sobre os meios de comunicação. (MORAGAS, 2007, p.4)
Além da reflexão sobre a temática que envolve a produção e divulgação desses textos, sugere-se também a exploração dos elementos linguísticos da língua espanhola, que compõem os textos apresentados, considerando a linguagem verbal e não verbal, e ainda, o trabalho com conteúdos específicos que o docente considerar adequados para o nível de ensino no qual o trabalho é desenvolvido, como por exemplo as programações televisivas em língua espanhola, assim como uso dos periódicos online e propagandas veiculadas nos distintos países “hispanohablantes”. Quanto à influência do esporte nos meios de comunicação, no Brasil, em grandes redes televisivas de canais abertos, o horário da programação continuamente é influenciado pelos eventos esportivos, criando uma relação intrínseca entre esporte e mídia e convergindo as consequências desse fenômeno diretamente no telespectador. Alguns questionamentos relacionados a esse tema podem ser propostos para contextualizar as reflexões acerca da problemática: São utilizadas as influências midiáticas do futebol no contexto social? São aproveitadas as possibilidades de formação oferecidas, ou é apenas um negócio que envolve transações financeiras e comerciais e que não favorecem aos interesses da maioria da população? Como os telespectadores interagem com os textos publicitários que trazem ídolos do esporte como protagonistas? Além das sugestões propostas, para continuidade da reflexão sobre a relação entre esporte e mídia, propõemse discussões sobre o tema a partir de gêneros textuais que tratam do envolvimento de profissionais dos esportes com grandes empresas de publicidade. No ano de 2011, o Brasil e o mundo acompanharam a despedida dos campos de um famoso jogador de futebol que atuou na seleção brasileira por vários anos e, no período final de sua carreira, em um grande time do Estado de São Paulo. Devido aos grandes sucessos realizados no esporte, e talvez também por um conjunto de ações publicitárias, apesar de afastado do esporte, o jogador continua muito envolvido em campanhas publicitárias de diversos segmentos. Ao final de sua carreira, as críticas a seu respeito foram inúmeras, tanto pela atuação como pela forma física do atleta. Apesar disso, ao despedir-se dos campos, o atleta esteve e ainda está tão presente na mídia quanto no
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período considerado como auge de sua carreira. O conjunto de ações protagonizadas nos meios de comunicação para cristalização da imagem do ídolo evidenciou como a mídia influencia e é influenciada pelo esporte. Diante disso, é possível a seleção de notícias em língua espanhola para suscitar a discussão em sala de aula e possibilitar a prática das leituras, reflexões e aprendizado do idioma. Além das notícias relacionadas à despedida do ídolo, é possível explorar notícias publicadas no ano de 2013, em diferentes jornais em língua espanhola, retratando o envolvimento do jogador com grandes empresas publicitárias. A fim de explorar as possibilidades de trabalho com os gêneros textuais midiáticos, podem ser explorados inúmeros textos publicitários, em língua espanhola e língua portuguesa, que trazem a imagem de ídolos do esporte como protagonistas. CONSIDERAÇÕES A partir das sugestões apresentadas, o professor poderá, nas aulas de língua espanhola, explorar os gêneros textuais mencionados, e outros que considerar adequados, relevantes e produtivos, a fim de fazer com que os alunos conheçam os elementos composicionais dos textos. Além disso, aprofundar os conhecimentos em língua espanhola e levar os alunos a refletirem sobre questões sociais nas quais os mesmos são envolvidos, ainda que involuntariamente. Ressaltamos que neste documento não trouxemos exemplos dos gêneros citados, por se tratarem de textos não disponibilizados em domínio público, mas caberá ao professor, a partir das reflexões propostas, selecionar exemplos dos textos para desenvolvimento do trabalho em sala de aula. Buscou-se, na proposta apresentada, demonstrar como o esporte, mais especificamente o futebol, está relacionado com a mídia, a fim de suscitar no ambiente escolar a exploração dos gêneros textuais midiáticos para a reflexão sobre as formas de interagir com esses textos. Para tanto, é necessário levar em consideração não só a paixão pelo esporte, mas a criticidade, para que os estudantes não sejam meros receptores passivos, e sim, tenham condições de posicionar-se de maneira crítica diante do grande número de informações que recebem diariamente por parte da mídia. O professor, no contexto das diversas leituras em língua estrangeira, pode ajudar o aluno a entender o contexto histórico, geográfico, social, econômico etc., dos diversos países participantes da Copa, assim como as visões distintas publicadas em outros países a respeito do que se passa aqui no Brasil.
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REFERÊNCIAS MORAGAS, Miquel de. Comunicación y deporte en la era digital. In: CONGRESO DE LA ASOCIACIÓN ESPAÑOLA DE INVESTIGACIÓN SOCIAL APLICADA AL DEPORTE. 9., Las Palmas, 2007. Anais. Las Palmas de Gran Canaria: AEISAD, 16-18 nov. 2007. Disponível em: Acesso em: 12 mar. 2013 PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação, Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Língua Estrangeira Moderna. Curitiba, 2008.
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F UT EBOL E O
E V ENTO MUNDIAL:
ALGUMAS REFLEXÕES VOLTADAS À
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FUTEBOL E O EVENTO MUNDIAL: ALGUMAS REFLEXÕES VOLTADAS À EDUCAÇÃO FÍSICA Aluizio da Rosa17 Idimar de Paula Junior18 Lilian Messias Sampaio Brito19 Marcio Augusto Fernandes20
INTRODUÇÃO O Brasil sediará um dos principais eventos esportivos a nível mundial, a COPA, um torneio de futebol realizado a cada quatro anos e que mobiliza o país sede em todas as suas esferas. Diante disso, surge uma oportunidade ímpar aos professores da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná para abordar o evento dentro de sua área de conhecimento, e em especial a Educação Física em seus conteúdos estruturantes (Esportes e Jogos), presentes nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de Ensino- Educação Física (PARANÁ, 2008). Este capítulo apresenta propostas de trabalhos para o tema e conteúdos específicos, que podem ser explorados como desdobramentos dos conteúdos básicos. Destaca-se que o desenvolvimento desses conteúdos requer um trabalho de planejamento docente para que cumpram sua função pedagógica. Nessa perspectiva, os professores de Educação Física podem propor aos estudantes: seminários, grupos de estudos, debates, visitas, pesquisas de campo, entre outros encaminhamentos metodológicos previstos no Plano de Trabalho Docente. As análises que sugerimos para o desenvolvimento do trabalho pedagógico perpassam as questões políticas, econômicas, sociais, culturais, relações de gênero, territorialidade, de raça/etnia e do cotidiano, relacionadas ao futebol no Brasil e à participação deste nos mega eventos mundiais. O futebol é na sociedade brasileira, uma fonte de individualização e possibilidade de expressão individual, muito mais do que expressão de coletividade. É através desta dialética entre individualização e coletividade, que o futebol brasileiro permite exprimir o conflito presente entre destino impessoal X vontade individual. Em certa medida este é um dilema da própria sociedade brasileira, que o jogo de futebol focaliza e dramatiza, pois mesmo apresentando vontades individuais este esporte é regido por leis impessoais, apresentando fatores imprevisíveis que podem dar a vitória para uma equipe considerada menos apta para ser a vencedora, ou seja, não há um modo de prever com segurança uma relação direta (racional) entre os meios e os fins. (DA MATTA, 1982)
O rompimento com os mitos construídos acerca da Copa podem ser propostas de reflexões em sala de aula, por exemplo: que implicações a Copa poderá gerar no cotidiano dos estudantes? As discussões poderão ser problematizadas com os alunos por meio de matérias jornalísticas, por exemplo: diferenciar situações ocorridas em cidades-sedes e naquelas que não receberão os jogos, principalmente no que diz respeito à mobilidade urbana (calçamentos, iluminação pública, construção de estádios ou reforma, ampliação da rede hoteleira, ampliação de espaços nos aeroportos, melhorias no sistema público), necessárias para atender às demandas do evento. Além
Professor da Rede Estadual de Ensino – Educação Física– SEED/ SUED/DEB Professor da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DEB 19 Professora da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DEB 20 Professor da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DEB 17 18
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das obras, outros fatores poderão alterar o cotidiano das pessoas durante o evento: nos dias de jogo, milhões de pessoas permanecem em frente à televisão prestigiando a seleção. Por exemplo, os setores privado e público alteram suas dinâmicas de funcionamento, adequando os horários de expediente aos horários dos jogos, para que todos os funcionários acompanhem os jogos, principalmente as expectativas sobre o desempenho da seleção brasileira no evento. Outro aspecto a ser questionado são as reais condições do Brasil para sediar a Copa e o papel da mídia na formação de opinião pública, dentre os quais alguns sugeridos por Castilho (2011), a demanda por infraestrutura e serviços públicos e a capacidade do país garantir condições satisfatórias para os visitantes, assim como sobre os investimentos e seu impacto na economia nacional, atitudes frente a novidades e facilidades em termos de consumo, opiniões sobre a sustentabilidade e perenidade do que for construído para a Copa, quais serão os grupos mais beneficiados e mais prejudicados com a realização do evento no país, qual será o envolvimento das diferentes instituições. E para todos esses temas foi abordado o impacto deste evento na imagem do país, tanto aqui dentro quanto lá fora. Nesta perspectiva, o trabalho pedagógico da Educação Física deve propiciar momentos de reflexão com os estudantes, que podem ser abordados em formas de discussões, grupos de estudo, seminários, apresentação de filmes, pesquisas e outras possibilidades metodológicas. Elencamos propostas diferenciadas, mas caberá ao professor o planejamento do Plano de Trabalho Docente.
A POPULARIZAÇÃO DO FUTEBOL NO BRASIL Este fenômeno pode ser abordado a partir da história do futebol no Brasil, esporte inicialmente praticado pela elite brasileira e que, aos poucos, foi se popularizando a ponto de ser usado por diferentes governos como incentivo à formação de uma identidade brasileira, uma paixão nacional. O futebol passou a ser jogado em terrenos baldios, por times de fábrica e bairros pobres, transformando-se em paixão nacional. Segundo o antropólogo Da Matta (2006, p.47), em entrevista concedida à Revista de História da Biblioteca Nacional, o futebol é a prova de que [podemos] canibalizar tudo (…) Se o Oswald de Andrade, autor da ideia modernista da canibalização cultural, tivesse entrado um dia no estádio [de futebol], teria imediatamente verificado que estava diante da concretização, de uma expressão perfeita, de tudo aquilo que ele estava falando (…) Um liquidificador verde e amarelo poderosíssimo pegou todo esse negócio de fora e botou tudo aqui no Brasil.
A copa do mundo na escola Esta atividade sugere uma forma de vivenciar o torneio na prática, ao se realizar um campeonato nos mesmos moldes da Copa. É possível nomear as equipes com as seleções participantes, dispostas nos mesmos grupos, seguindo os mesmos critérios nas fases de grupo e eliminatória. Ao final dos dois torneios, é possível fazer uma comparação dos resultados em ambos os eventos.
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(RE) Criando o futebol Uma forma lúdica de estimular a criatividade e respeito às regras do jogo, adaptadas ao interesse dos estudantes, é alterar as regras oficiais do futebol, desde que haja a concordância de todos e prevaleça o bom senso. É uma maneira de estimular a discussão e a argumentação entre os participantes, com a finalidade de se entrar num consenso do que é possível ser alterado.
Futebol como reflexo da sociedade Esta proposta de trabalho visa refletir acerca das formas que as contradições presentes na sociedade brasileira assumem nas diversas instâncias que a compõe e, neste caso, na escola e no mundo do futebol. É possível discutir e mostrar, por exemplo, o futebol usado como instrumento de manipulação pela ditadura militar.
Mídia e futebol O futebol tornou-se indubitavelmente um dos esportes mais praticados e assistidos da modernidade, transformando-se também no grande palco das nações, relacionando-se diretamente com o desenvolvimento dos meios de comunicação (rádio, TV, internet).
A Ciência no futebol Nas últimas duas décadas, diversos trabalhos foram publicados por profissionais das áreas de ciências humanas, biológicas e exatas para compreender a paixão nacional pelo esporte. Historiadores, sociólogos, geógrafos, professores de educação física e até matemáticos levantam a cada ano novas teorias e observações a respeito do jogo que virou sinônimo de Brasil no exterior. Após a leitura dos demais capítulos deste Caderno Pedagógico, por exemplo, o professor, independente da disciplina, consegue articular os diversos conhecimentos na sua área.
Futebol e paz Em 1967, Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido por Pelé, um símbolo da diplomacia brasileira por meio do esporte, durante um amistoso do Santos, parou uma guerra civil na Nigéria, país africano (armistício de 48h).
Grandes ídolos e salários milionários Jovens e milionários jogadores, muitas vezes sem estudo: quais valores o futebol está inserindo em nossos jovens? Além dos altos salários, as campanhas publicitárias vêm somar às contas desses jogadores. Hoje, crianças
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dedicam-se ao máximo para atingir o sonho de ser um jogador famoso e talentoso e jogar em uma grande equipe. Nem sempre se trata de um sonho da criança, e sim vontade do pai, na tentativa de entrar no mundo seleto e milionário do futebol, mas quantos atingem esse objetivo?
Maior evento futebolístico no país: bom para todos? Neste contexto da Copa, há assuntos que podem ser problematizados com os estudantes, alguns bastantes polêmicos, por exemplo: Deixará legado à nossa cidade e ao nosso país? Trará visibilidade internacional das belezas naturais? Revelará os contrastes do nosso país (a beleza das nossas praias, a riqueza das nossas matas e florestas, a pobreza das comunidades do Rio, São Paulo, Nordeste, a prostituição infantil, etc.)? Estimulará o patriotismo? Gerará empregos e recursos financeiros?
SUGESTÕES OUTROS TEMAS - Copa de 50: “Maracanazo” (trauma) - Copa de 58: redentora (time de “mestiços”) - “Complexo de Vira-Lata” - Nélson Rodrigues – autoestima – desenvolvimentismo. (Organizar uma exposição em banners) FILMES (COM SINOPSE) - “Garrincha, a alegria do povo”: documentário gravado em 1962, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, mostra a vida de um de seus principais jogadores, Manuel Francisco dos Santos, o Mané Garrincha, dentro e fora do campo durante o ápice de sua carreira futebolística. - “Barbosa, o filme”: curta-metragem de 1988, dirigido por Ana Luiza Azevedo e Jorge Furtado, aborda o sofrimento dos 200 mil torcedores presentes no estádio, e principalmente do goleiro da seleção brasileira na Copa de 1950, Moacir Barbosa Nascimento, que por muitas vezes fora culpado pelo “Maracanazo” – com Antonio Fagundes. - “Estrela solitária”: filme biográfico sobre Manuel Francisco dos Santos, o Garrincha, baseado no livro “Estrela solitária – um brasileiro chamado Garrincha”, de Rui Castro, filmado em 2003.
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- “Uma história de futebol”: curta metragem de 1998, indicado ao Oscar em 2001, fala sobre a infância de Pelé em Bauru, com base no depoimento de seu melhor amigo e colega de time, Zuza. - “Boleiros – Era uma vez o futebol”: lançado em 1998, com um grupo de ex-jogadores que se reúnem em um bar e contam várias histórias que revelam com humor os mitos e o cotidiano do futebol no Brasil. - “Boleiros 2 – Vencedores e vencidos”: lançado em 2006, é um filme de humor que fala sobre o cotidiano do futebol. É uma sequência do filme “Boleiros – Era uma vez o futebol” - “1958 - O ano em que o mundo descobriu o Brasil”: lançado em 2008, é um documentário de José Carlos Asbeg que aborda a primeira conquista brasileira em Copas do Mundo, em 1958, na Suécia. - “A taça do mundo é nossa”: filme de Lula Buarque de Holanda, lançado em 2003, se passa no contexto da conquista da Copa de 70, abordando também o momento político que o Brasil se encontrava. Conta com a participação dos humoristas do programa televisivo “Casseta e Planeta”. - “Pelé eterno”: documentário de Anibal Massaini Neto, lançado em 2004, é um extenso trabalho de pesquisa sobre a carreira futebolística de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, e conta com seus principais lances, gols e conquistas no esporte. - “Heleno”: filme de José Henrique Fonseca, lançado em 2011, aborda a vida do polêmico jogador Heleno de Freitas, nos âmbitos profissional e pessoal (1920-1959).
CONSIDERAÇÕES O tema Copa é apenas uma das possibilidades de compreender a disciplina de Educação Física sob um contexto mais amplo, estabelecendo as relações sociais, políticas, econômicas e culturais dos povos. A equipe da disciplina de Educação Física do Departamento de Educação Básica entende que os conteúdos sugeridos como reflexão neste capítulo podem ser abordados em outras disciplinas e modalidade de ensino, auxiliando no planejamento do professor e proporcionando discussões principalmente no que diz respeito ao papel meritocrático do futebol no Brasil e a desconstrução dos mitos. O professor de Educação Física pode elaborar diferentes estratégias metodológicas para o tema Copa, discutindo as sugestões apresentadas neste livro, bem como outras que possam surgir como necessidade dos alunos, escola e comunidade, propiciando aos aluno leitura da realidade social, histórica e política.
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REFERÊNCIAS CASTILHO,M.; Fernando, F. Os brasileiros e a copa 2014: movimentos de opinião pública e de mercado. In: CONGRESSO LATINO AMERICANO DE OPINIÃO PÚBLICA DA WAPOR, 4., Belo Horizonte, 2011. Anais. Belo Horizonte: Wapor, 2011. DA MATTA, R., et al. Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira. Rio de Janeiro: Pinakotheke, 1982. DA MATTA, R. A conquista do mundo: histórias de uma paixão nacional. Revista de História da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, n. 7, p 16-47, jan. 2006. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Educação Física. Curitiba, 2008. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA AGOSTINHO, G. Pra frente Brasil! Futebol em tempos de ditadura. Revista Nossa História, n. 14, p. 14-20, dez. 2004. - A vitória do Brasil na Copa de 1970 e seus usos pela Ditadura Militar. AGOSTINO, G. Vencer ou morrer: futebol, geopolítica e identidade nacional. Rio de Janeiro: Mauad, 2002. BREGOLATO, R. A cultura corporal do esporte. São Paulo: Cone, 2003. DA MATTA, R. Explorações: ensaios de sociologia interpretativa. Rio de Janeiro: Rocco, 1986. FASSHEBER, J.R. Etno-desporto indígena: a antropologia social e o campo entre os Kaingang. Brasília: Ministério dos Esportes, 2010. FRONI, M.L., R. (org.). Esporte, história e sociedade. Campinas:Autores Associados, 2002. RODRIGUES, N. A pátria em chuteiras. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. SOARES, C.(org). Corpo e História. Campinas: Autores Associados, 2004.
SÍTIOS RECOMENDADOS http://www.copa2014.pr.gov.br/ http://www.portal2014.org.br/ http://www.arquivoestado.sp.gov.br/exposicao_futebol/introducao_futebol_brasil.php www.diaadiaeducacao.pr.gov.br
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F UT EBOL,
PAIXÃO DE
UMA NAÇÃO -
A QUÍMICA QUE DEU CERTO
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FUTEBOL, PAIXÃO DE UMA NAÇÃO – A QUÍMICA QUE DEU CERTO Hanna Raquel Quirrenbach21 Lilian Kelly dos Santos Romanholi22
INTRODUÇÃO As Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual (DCE) de Química propõem um trabalho pedagógico com o conhecimento químico que propicie ao aluno compreender os conceitos científicos para entender algumas dinâmicas de mundo e mudar suas atitudes em relação a ele. (PARANÁ, 2008, p.54). Segundo as DCE (PARANÁ, 2008, p.57), “a partir dos conteúdos estruturantes o professor poderá desenvolver com os alunos os conceitos que perpassam os fenômenos em estudo, possibilitando o uso de representações e da linguagem química no entendimento das questões que devem ser compreendidas na sociedade”. A contextualização e a interdisciplinaridade são meios importantes de estimular a curiosidade do aluno sobre os conteúdos, considerando que a importância deste trabalho está relacionada à aprendizagem dos modelos de explicação e compreensão do real. O docente pode utilizar diversas estratégias e recursos na sua prática pedagógica, tais como, vídeos, áudios, trechos de filmes, jogos e atividades experimentais. O trabalho didático do professor deve estar permeado por estratégias que permitam ao estudante uma leitura crítica do mundo contemporâneo. Paulo Freire já enfatizava a necessidade da superação da cultura do silêncio, da simples transmissão-recepção não refletida da cultura. Pois, os modelos de sociedade materializam interesses e características sociais de grupos hegemônicos. Desse modo, torna-se necessário o trabalho pedagógico do professor no qual o estudo conceitual esteja atrelado em um caminho de duas mãos ao contexto contemporâneo em que o estudante se encontra. Esse trabalho pedagógico almeja viabilizar discussões mais amplas, não restritas apenas ao balizamento de conteúdos irrefletidos, deve-se voltar os esforços para um processo de pesquisa e intervenção na realidade, através do estudo conceitual vinculado à abordagem Copa do Mundo. O tema Copa pode ser discutido na disciplina de Química a partir dos conteúdos básicos de Solução, Funções Químicas e Radioatividade, por exemplo. O conteúdo básico Solução pode ser abordado na perspectiva dos conteúdos estruturantes Matéria e sua Natureza e Biogeoquímica. É possível fazer uma relação interdisciplinar com a Biologia abordando a ingestão das bebidas isotônicas pelos esportistas, considerando a importância da hidratação e a composição química dessas bebidas. Função Química é um conteúdo básico que pode ser abordado na perspectiva dos conteúdos estruturantes Biogeoquímica e Química Sintética. Dentro das Funções Químicas temos o conteúdo específico polímeros em que se sugere trabalhar a composição da bola de futebol de cada Copa, relacionando a evolução da bola ao longo das Copas com o avanço da síntese de polímeros. Também, pode-se abordar a introdução de materiais sintéticos na confecção
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Professora da Rede Estadual de Ensino –Química CE Conselheiro Zacarias Professora da Rede Estadual de Ensino – Química – SEED/SUED/DEB
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dos uniformes das seleções, das chuteiras, da rede e da trave, bem como as vantagens de utilizar tais materiais. Funções orgânicas, conteúdo específico das Funções Químicas, possibilitam reconhecer a estrutura química dos esteróides anabolizantes e dos estimulantes psicomotores, discutirem a ação e os métodos utilizados na detecção destes no organismo e a produção em laboratório. Ainda dentro de funções orgânicas, pode-se trabalhar a euforia que um jogador ou torcedor sente durante uma partida de futebol, identificando a estrutura da adrenalina, dopamina e a ação no organismo. Os conteúdos proteínas, lipídeos e carboidratos podem ser abordados relacionando a importância de uma boa alimentação e o preparo físico do jogador de futebol. Pode-se questionar se o uso de suplementos é essencial para um bom condicionamento físico. O gramado do campo de futebol pode ser abordado dentro das funções inorgânicas e reações químicas. Sugere-se identificar a composição dos fertilizantes utilizados no plantio e manutenção, bem como a adubação orgânica, irrigação e as concentrações necessárias por metro quadrado. O conteúdo básico Radioatividade pode ser abordado na perspectiva dos conteúdos estruturantes Matéria e sua Natureza, Biogeoquímica e Química Sintética. Sugere-se relacionar os acontecimentos ocorridos no ano de 1986, tais como a Copa e o acidente ocorrido na Usina Nuclear de Chernobyl na Ucrânia. Os temas sugeridos representam algumas possibilidades para a abordagem de conceitos específicos da disciplina de Química relacionados com a Copa do Mundo. Outros temas podem ser abordados pelos docentes da disciplina de Química de acordo com as Diretrizes Curriculares de Química (PARANÁ, 2008). Em seguida, apresenta-se uma breve explanação sobre alguns temas sugeridos.
BEBIDAS ISOTÔNICAS E A IMPORTÂNCIA DA HIDRATAÇÃO NO FUTEBOL Um dos fatores importantes que deve ser considerado antes, durante e depois de uma atividade física é a hidratação. O desempenho do atleta pode ser melhorado quando a bebida ingerida para tal finalidade conter carboidratos. Estudiosos em fisiologia do futebol afirmam que em uma partida de 90 minutos, a bola fica em jogo aproximadamente 60 minutos. Estimam que a distância percorrida por um jogador, em média, por partida é de 10 km e a intensidade da atividade muscular ao longo da partida desencadeia um aumento da produção de calor no organismo, que é eliminado em parte, pelo suor, em torno de 1 a 3,5 litros. Mas é importante lembrar que o suor é composto principalmente de cloreto de sódio e ureia em solução e secretado pelas glândulas sudoríparas na pele de todos os mamíferos, não somente na espécie humana. Jogadores de futebol devem se hidratar bem, e uma das maneiras é pela ingestão da conhecida bebida isotônica. Iniciar uma partida bem hidratado significa ingerir no mínimo 500 mL de uma bebida com concentrações em torno de 5 a 8% de polímeros de glicose meia hora antes do início da partida. Além disso, durante a partida é necessário que os jogadores façam a ingestão de líquidos constantemente e em quantidades adequadas para não interferir no esvaziamento gástrico e repor a água perdida pela transpiração. Segundo os pesquisadores Monteiro, Guerra e Barros
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(2003), “o futebol é um esporte com características bastante peculiares, como não ter pausas regulares para que os jogadores possam se hidratar. Por isso, deve-se ter preocupação em educar os jogadores em relação à importância da ingestão de líquidos antes, durante e depois do exercício”. Considerar um atleta bem hidratado significa levar em conta que o seu organismo tem água o suficiente para realização de todas as suas funções fisiológicas. As bebidas isotônicas, água potável e água de coco, são exemplos de soluções. Solução é toda mistura homogênea em que ao menos uma substância se encontra totalmente dissolvida em outra. Abordando este conteúdo básico, uma das sugestões de trabalho é a interpretação das concentrações de íons presentes nas bebidas isotônicas utilizando-se de dados de sua composição química. Mas, o que é composição química? Composição química é a constituição de um determinado produto, ou seja, as substâncias químicas envolvidas em sua produção. No caso, as bebidas isotônicas são constituídas de água, sais minerais e carboidratos, com composição química semelhante à do plasma sanguíneo para facilitar a sua absorção pelo organismo. Essas bebidas são ricas em cálcio, potássio, fósforo e sódio e foram desenvolvidas para reposição de líquido e sais minerais perdidos durante a transpiração. Para que a bebida seja adequada ao uso que se destina, ela deve fornecer ao usuário carboidratos durante o exercício, fornecer também baixos níveis de eletrólitos, permitir que os fluidos cheguem rapidamente aos tecidos, ser palatável e refrescante e não permitir que ocorram distúrbios gastrointestinais. Para a interpretação das concentrações de íons presentes nas bebidas isotônicas, uma atividade que pode ser desenvolvida é a compreensão do rótulo de uma bebida isotônica. Segundo Mortimer e Machado (2011), a Química pode ajudar a compreender um pouco mais o significado das informações contidas nos rótulos, dando uma importante contribuição para nos tornarmos consumidores mais conscientes e críticos em relação aos produtos que usamos em nosso cotidiano. Para esta atividade, sugere-se que o estudante observe o rótulo de uma bebida isotônica e responda alguns questionamentos, como, por exemplo: Que substâncias compõem a bebida? Quais são suas fórmulas químicas? Qual a concentração de íons presentes nessa bebida? Qual a função biológica de cada substância no organismo? É considerada bebida isotônica apenas bebidas industrializadas? Não, a água de coco, por exemplo, é uma bebida isotônica com alto poder de hidratação e sua composição química é semelhante à de um isotônico industrializado, porém sem a presença de corantes, conservante e aromatizantes artificiais. Importante considerar que, quando a água de coco passa por processo industrial, ela recebe a adição de conservantes. A água de coco é uma fonte importante de reposição de eletrólitos em casos de desidratação. A perda de eletrólitos minerais, como sódio, potássio e carboidratos causa fadiga muscular principalmente nos casos de atividades físicas de alta performance. Os eletrólitos pertencem a um grupo de substâncias químicas que quando dissolvidas em água, liberam íons carregados positivamente (cátions) e íons carregados negativamente (ânions). Neste momento, podemos relembrar também o conteúdo básico Matéria, inserido no conteúdo estruturante Matéria e Sua Natureza, abordando o conteúdo específico natureza elétrica da matéria, segundo a DCE (PARANÁ, 2008). O quadro a seguir mostra a composição química média comparativa entre um isotônico industrial e a água de coco.
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Quadro 1 - Composição química média de isotônicos
Componentes potássio sódio cloreto magnésio açúcares
Isotônico industrial (mg/100 mL) 11,7 41 39 7 6
Água de coco (mg/100 mL) 294 25 118 10 5
Fonte: Carvalho et al, 2006
Considerando a composição química da água de coco, podemos afirmar que se trata de uma bebida adequada tanto quanto as bebidas isotônicas industrializadas, para ser utilizada no processo de hidratação.
Sugestão de atividade Sob o ponte de vista das diferentes exigências físicas impostas aos jogadores, durante os treinos e jogos, algumas pesquisas têm avaliado a performance de centenas de atletas de acordo com sua função tática. De que maneira a posição do jogador em campo pode influenciar o desempenho atlético e a necessidade de reposição de líquidos? Que funções fisiológicas são importantes e que justifiquem a ingestão de líquidos antes, durante e depois das atividades físicas?
1986 - A COPA E O ACIDENTE NA USINA NUCLEAR DE CHERNOBYL No dia 26 de abril de 1986 houve um dos maiores acidentes nucleares da História envolvendo Usinas Nucleares. Esse acidente ocorreu na Usina Nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, quando um dos reatores explodiu liberando uma enorme nuvem de fumaça radioativa que se espalhou por parte da Europa, sendo a Ucrânia, Bielorússia e Rússia os países mais afetados pela radiação. Existem informações de que, de imediato, em torno de 31 pessoas morreram em decorrência do acidente e mais 130.000 pessoas tiverem que deixar a região devido à exposição à radiação. O acidente de Chernobyl liberou para a atmosfera uma quantidade de material radioativo na ordem de 400 vezes maior do que foi liberado pela bomba atômica de Hiroshima. Por questões políticas, o governo russo tentou esconder a gravidade dos fatos da comunidade mundial, até que os altos níveis de radiação começaram a se espalhar por parte da Europa. Uma das consequências da exposição a radioisótopos de iodo é o câncer de tireóide que foi responsável por milhares de casos na região, porém, com poucas mortes. As crianças suscetíveis à exposição foram as mais atingidas. O foco câncer de tireóide desviou a atenção dos especialistas sobre a possibilidade de outros efeitos (BAVERSTOCK,et al, 2007).
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O jogador de futebol Stiliyan Petrov provavelmente foi vítima da exposição à radiação. Na época do acidente ele estava com seis anos de idade e vivia na Bulgária, país vizinho da Ucrânia. Petrov teve leucemia aguda e deixou o futebol para fazer o tratamento. Depois de mais de duas décadas, a região atingida pelo acidente ainda oferece perigos, a cidade onde ficava a usina se tornou uma cidade fantasma e as pessoas que visitam a região de Chernobyl são orientadas a não pisar em gramas, não tocar em plantas e caminhar apenas sobre o asfalto (BAVERSTOCK,et al, 2007). A resposta internacional frente ao acidente foi inadequada, descoordenada, e mostrou uma tranquilidade injustificável. Nesse mesmo ano, ocorreu a 13ª Copa que foi sediada no México. O acidente de Chernobyl não fez com que a copa deixasse de acontecer, mesmo sendo um acidente com dimensões alastrantes. A radioatividade pode ocorrer de forma natural ou artificial, na qual um elemento químico emite radiações de três tipos diferentes. As partículas alfa (α), que apresentam massa elevada e carga positiva. As partículas beta (β), com massa muito pequena e carga negativa e raios gama (γ) que são radiações semelhantes à luz e aos raios X. Transmutação natural é a emissão espontânea de radiação por um elemento químico resultando em outro elemento e transmutação artificial é quando núcleos estáveis são bombardeados por partículas α, prótons, nêutrons e outros, dando origem a elementos diferentes. Veja os exemplos: Pu239→+2α4 +92U235 transmutação natural
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N14++2α4 →8O17 ++1p1 transmutação artificial
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A radioatividade não deve ser vista apenas como uma grande vilã, existem muitas aplicações positivas do uso da radioatividade em benefício da humanidade. A radioatividade pode ser aplicada na agricultura, através de irradiação de alimentos e traçadores radioativos, na indústria, na técnica de gamagrafia industrial, em medicina, tendo a tecnologia nuclear aplicada em radioterapia, radiofármacos, radioisótopos e radioesterilização e também em meio ambiente, onde técnicas nucleares são utilizadas em monitoração, avaliação e controle ambiental a fim de melhorar a qualidade de vida da população (BRASIL, 2013). Sem dúvidas, o uso mais controverso da energia nuclear é o militar, devido ao alto poder destrutivo das bombas atômicas pela grande quantidade de energia que liberam.
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SUGESTÃO Atividade com uso de simuladores, vídeos e artigos DUPUY, Jean-Pierre. A catástrofe de Chernobyl vinte anos depois. Estud. av., São Paulo, v. 21,n. 59,abr. 2007. Disponível em Acesso em 08 fev. 2013. O professor pode orientar uma pesquisa sobre os usos positivos da radioatividade. Os conceitos de radiação alfa, beta e gama podem ser explorados com o auxílio do simulador “Propriedades das emissões radioativas – cargas” Disponível em: . Acesso em:05 fev.2013ou . Acesso em: 07 fev. 2013. Para abordar os efeitos da radiação no organismo e no ambiente uma sugestão é o vídeo “Cientistas explicam os efeitos da radiação no corpo humano e no meio ambiente” Disponível em: . Acesso em 06 fev. 2013.
CONSIDERAÇÕES A Química, em sua plenitude, possibilita a integração com as diversas áreas da Ciência. Do ponto de vista tecnológico, contribui muito para a melhoria da qualidade de vida dos atletas. Está ligada aos esportes em geral em variados campos, por exemplo, na identificação de genes relacionados ao desempenho físico, no desenvolvimento de tecidos capazes de regular a temperatura corporal, na produção de suplementos alimentares, no uso da nanotecnologia, no aprimoramento de materiais esportivos de melhor qualidade e conforto, dentre outras aplicações. A Química que deu certo não está relacionada apenas à compatibilidade de gosto de uma nação em relação a um esporte, mas também em todos os benefícios tecnológicos que esta ciência pode proporcionar ao esporte. Além disso, não podemos esquecer que, quando o conhecimento químico é utilizado de maneira inadequada ou em condições não favoráveis, as consequências podem ser desastrosas, como foi o caso de Chernobyl.
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REFERÊNCIAS BAVERSTOCK, K. et al.The Chernobyl accident 20 years on: an assessment of the health consequences and the international response.Ciência & Saúde Coletiva, v.12, n.2, p. 689 – 698, 2007 BRASIL. Comissão Nacional de Energia Nuclear. Disponível em . Acesso em: 03 mar. 2013. CARVALHO, J. M, et al. Água-de-coco: propriedades nutricionais, funcionais e processamento. Ciências Agrárias, Londrina, v. 27, n. 3, p. 437-452, jul./set. 2006. MONTEIRO, C. R; GUERRA, I; BARROS, T. L. Hidratação no futebol: uma revisão. Rev. Bras. Med. Esporte, v. 9, n. 4, jul/ ago. 2003. MORTIMER, E. F, MACHADO, A. H. Química, 2: ensino médio. São Paulo: Scipione, 2011. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Química Curitiba, 2008. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA CONSELHO REGIONAL DE QUÍMICA IV REGIÃO. Copa 2006 - Como a Química ajuda os atletas que estão na Alemanha. Disponível em . Acesso em: 06 nov. 2012. PORTAL 2014 Acesso em: 05 nov. 2012.
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A GEOGRAF IA NA COPA
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A GEOGRAFIA NA COPA
Simone Carina Baroni23 Tatiane Saffnauer Frigotto24
INTRODUÇÃO A Copa, a ser realizada em nosso país, colocará o Brasil no centro das atenções mundiais, evidenciando, principalmente, as 12 cidades-sedes do mundial, dentre elas Curitiba, capital do Paraná. Esta não será a primeira vez que o país investe em infraestrutura em função do futebol, uma vez que em 1950 o Brasil também já sediou uma Copa. Todo o processo que envolveu a realização da Copa do Mundo de 1950 no Brasil faz parte de um projeto de autoafirmação do país diante de si mesmo; ou seja, uma tentativa de se consolidar uma identidade nacional ameaçada pela extensão geográfica e pelas diversidades e disparidades culturais que se evidenciavam. Além disso, reflete uma intenção do Estado brasileiro, através da organização de um evento de tal porte, transmitir ao mundo uma imagem positiva do Brasil; dar a entender que o país trilhava os rumos da modernidade e da civilidade. (PRESTES; MEZZADRI, 2010)
Os 60 anos que separam esses dois eventos revelam que, apesar do contexto atual, novamente o futebol terá a função de reforçar a idéia de um Brasil desenvolvido e moderno. Um dos propósitos, ao sediar a Copa, é que esse evento seja uma força motriz para solucionar diversos problemas ainda pendentes. Para realizar um evento de grande envergadura como esse, faz-se necessário um amplo conjunto de intervenções urbanísticas que englobam a melhoria da infraestrutura geral, como estádios, portos, aeroportos, mobilidade, segurança e turismo nas cidades-sedes. De acordo com o Portal da Transparência do Governo Federal, na cidade de Curitiba estão sendo realizadas as seguintes obras de reestruturação urbana: [...] reforma e ampliação do estádio, estão previstas melhorias no sistema de transporte com a construção de corredores de BRT (Bus Rapid Transport), obras na Rodoferroviária, no Terminal Santa Cândida, no Corredor Metropolitano, no Corredor Marechal Floriano e em vias de integração Radial Metropolitanas. O sistema de transporte também deverá ganhar um sistema integrado de monitoramento para a sua gestão. (COPA 2014, 2013)
Tais ações de reestruturação urbana, planejadas a fim de atender exigências para a realização da Copa, estão ocorrendo em todas as cidades-sedes. As reestruturações urbanas contam com investimentos e financiamentos públicos nas três esferas de poder (municipal, estadual e federal), além de parcerias privadas.
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Professora da Rede Estadual de Ensino – Geografia – SEED/SUED/DEB Professora da Rede Estadual de Ensino – Geografia – SEED/SUED/DEB
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DO ESTÁDIO À ESCOLA Na escola, a temática da Copa pode ser trabalhada pela Geografia ao problematizar as motivações públicas e privadas da realização desse mega evento esportivo, bem como suas consequências para a população brasileira, ou seja, o seu legado. Sendo assim, as discussões nas aulas de Geografia devem levar em conta as implicações sociais, políticas e econômicas decorrentes da escolha do Brasil como país-sede, além do caráter festivo da Copa. No caso da Copa, para que as aulas de Geografia possam contribuir na formação de um estudante consciente das relações socioespaciais de seu tempo, o ensino deve adotar abordagens críticas que contribuam para a análise dos conflitos e contradições sociais, econômicas, culturais e políticas, presentes nas cidades-sedes. Sendo assim, sugerimos a análise de tais implicações pelo viés da Geografia Crítica, conforme proposto pelas Diretrizes Curriculares Orientadoras para a Educação Básica (DCE). Esse documento confirma o espaço geográfico como objeto de estudo da Geografia e o define como “o espaço produzido e apropriado pela sociedade” (LEFEVRE, 1974 apud PARANÁ, 2008, p. 51), “composto pela inter-relação entre sistemas de objetos – naturais, culturais e técnicos – e sistemas de ações – relações sociais, culturais, políticas e econômicas” (SANTOS, 1996 apud PARANÁ, 2008, p. 51). De acordo com a DCE de Geografia, a problematização no trabalho com os conteúdos, reconhecendo seus impasses e suas contradições, são procedimentos fundamentais para que alunos e professores possam compreender e ensinar o espaço geográfico no período histórico atual. [...] é necessário compreender a intencionalidade dos sujeitos (ações) que levou às escolhas das localizações; os determinantes históricos, políticos, sociais, culturais e econômicos de tais ações; as relações que tais ordenamentos espaciais pressupõem nas diferentes escalas geográficas e as contradições socioespaciais que o resultado desses ordenamentos produz. Para essa interpretação, tomam-se os conceitos geográficos e o objeto da Geografia sob o método dialético. (PARANÁ, 2008. p. 52)
Nessa proposta de pensarmos o evento Copa nas aulas de Geografia, também é necessário a concepção teórico-metodológica expressa nas DCE. Para tanto, é importante realizarmos algumas provocações, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio, com os seguintes questionamentos: - Por que o evento futebolístico será no Brasil e não em outro lugar? - Por que as cidades-sedes são essas e não outras? - Que benefícios os investimentos públicos e privados trarão às cidades-sedes? - Como se dá o ordenamento desses investimentos no perímetro urbano? Como ele deveria acontecer? - Existem relações de poder que envolvem a disputa entre os países e cidades para sediar mega eventos esportivos? Quais? - Quais os impactos sociais, ambientais e econômicos decorrentes das transformações urbanas nas cidadessedes? Essas provocações exigem posicionamento crítico do professor e do estudante, pois várias possibilidades de investigação podem surgir, partindo da análise das conjunturas locais aos interesses globais na realização desse mega evento no Brasil.
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Um encaminhamento metodológico que sugerimos é a utilização e análise de notícias de diferentes fontes, como jornais, sites e revistas, entre outros. Ao trabalhar com essas fontes, tem-se a possibilidade de levar para a escola as mais variadas opiniões sobre um mesmo assunto, gerando diversas possibilidades de argumentação. Faria (2011) discute a importância do uso da mídia impressa na escola, destacando que um dos papéis do professor é estabelecer laços entre a escola e a sociedade. Considerando que as mídias são produzidas em contextos sociais, econômicos e políticos específicos, não sendo isentas de neutralidade, elas podem traduzir os interesses/interpretações de seus proprietários/autores, o que nem sempre condiz com a realidade, por isso, ressaltamos a importância da “leitura crítica”. Como exemplo dessa exploração, apresentamos algumas possibilidades. Notícia 1 Curitiba descobre custo real da Copa Por Leonardo Mendes Júnior, em 24 fev. 2013
Por causa de projetos incompletos, prefeitura municipal terá de gastar no mínimo 12 vezes mais do que o previsto para receber o Mundial As obras de mobilidade para a Copa em Curitiba custarão ao município no mínimo 12 vezes mais que o previsto inicialmente. O salto foi provocado por uma alteração, em maio do ano passado, na Matriz de Responsabilidades para o Mundial. Aditivos, reajustes e inclusão de custos de desapropriação das sete obras contempladas pelo PAC da Copa na cidade elevaram a contrapartida da prefeitura de R$ 11,1 milhões para R$ 146,8 milhões. A atual administração aponta a falta de detalhamento dos projetos como causa do aumento. A gestão anterior admite que o custo inicial foi composto em cima de informações e esboços de projetos que ainda não eram definitivos. Uma nova revisão orçamentária, em andamento, deve fazer a participação da prefeitura na conta subir ainda mais. Entre as medidas para frear o encarecimento está a provável exclusão da obra da Avenida Cândido de Abreu. Elaborada em 2010, a Matriz de Responsabilidades previa a realização de sete obras com participação da prefeitura de Curitiba. Em setembro do mesmo ano, o município apresentou ao governo federal um orçamento total de R$ 222,2 milhões para as intervenções, com o pagamento dividido da seguinte forma: 95% financiado pela Caixa Econômica Federal e 5% por recursos da própria cidade. Disponível em: . Acesso em: 09 mar. 2013.
Notícia 2 Cinco cidades brasileiras integram lista das mais desiguais do mundo Curitiba, Goiânia, Brasília, BH e Fortaleza só são menos desiguais que 3 africanas. Número de moradores de favelas caiu 16% no Brasil, segundo relatório Cinco cidades brasileiras estão entre as 20 mais desiguais do mundo. Relatório apresentado nesta sexta-feira (19), na abertura do 5º Forum Urbano Mundial da Organização das Nações Unidas (ONU), no Rio, revela que Goiânia (10ª), Belo Horizonte (13ª), Fortaleza (13ª), Brasília (16ª) e Curitiba (17ª) são as que apresentam as maiores diferenças de renda entre ricos e pobres no País. O documento “O Estado das Cidades do Mundo 2010/2011: Unindo o Urbano Dividido” também informa que o Brasil é o país com a maior distância social na América Latina.
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O Rio de Janeiro, na 28ª posição, e São Paulo, na 39ª, também são cidades consideradas com alto índice de desigualdade, de acordo com o relatório da ONU. Nove municípios na África do Sul lideram o ranking. As capitais da Nigéria, Etiópia, Colômbia, Quênia e Lesoto também estão entre as mais desiguais. No total, 138 cidades de 63 países em desenvolvimento foram analisadas. O relatório baseia suas conclusões no coeficiente Gini - cujos indicadores medem a concentração de renda de um país. Na avaliação do coordenador do relatório e diretor do Centro de Estudos e Monitoramentos das Cidades do Programa da ONU para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), o mexicano Eduardo Lopez Moreno, existe vínculo direto entre desigualdade e criminalidade. Mais do que custos sociais, o abismo entre ricos e pobres também provoca prejuízos econômicos. “Estatisticamente falando, existe sim um vínculo. É muito possível que a cidade mais desigual vai gerar muito mais fácil distúrbios e problemas sociais. As autoridades desses países vão deslocar recursos que deveriam ir para investimentos para conter esses movimentos sociais. O custo social acaba se traduzindo em custo econômico”, afirmou Moreno. Disponível em: . Acesso em: 09 mar. 2013
Charge
Fonte: Puchalski, 2013.
Após leitura das notícias e da charge, propomos as seguintes questões: 1 A população curitibana será beneficiada com as obras para a Copa? E a população do Paraná, será beneficiada com a realização do mundial em nosso Estado? 2 Todas as áreas da cidade são contempladas, da mesma forma, com a reestruturação urbana para a Copa? Por quê? 3 Brasília, Fortaleza, Belo Horizonte e Curitiba serão cidades-sedes da Copa do Mundo de 2014. Quais outras características essas cidades têm em comum? 4 Pesquise quais os retornos esperados pelos gestores de Curitiba após todos os investimentos para a Copa. 5 Qual a participação da sociedade na discussão e implementação das reestruturações urbanas decorrentes dos mega eventos?
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A realização de mega eventos esportivos pode representar uma oportunidade de avanços no planejamento urbano, refletindo na melhoria de vida da população, contudo, isso nem sempre ocorre dessa forma. Ultimamente, parte da mídia e principalmente o meio acadêmico vem mostrando que mega eventos esportivos priorizaram melhorias urbanas em áreas restritas, contribuindo assim para a valorização e a especulação imobiliária de locais de infraestrutura já privilegiada. Além da reestruturação urbana, a realização de mega eventos traz vantagens à imagem das cidades-sedes, evidenciando a capacidade de organização e desenvolvimento. Essa imagem positiva ultrapassa a escala local ao projetar-se nacionalmente, contribuindo para a construção da imagem do Brasil no exterior. Nesse processo de construção de imagem e visibilidade internacional, a mídia é fundamental, pois ela [...] em sua relação com os governos e coalizões dominantes, é um ator importante no cenário cultural e político atual nas cidades. Tem um papel importante nos processos que acompanham a renovação urbana, que interage e interfere no curso dos acontecimentos através de imagens publicitárias, mobilizações e campanhas sociais. Exerce um verdadeiro fascínio sobre a sociedade civil e política, e tem força de pressão na elaboração de imagens coletivas que possam ser absorvidas nas representações de indivíduos e grupos. Tem também poder para construir ou destruir a identidade de atores individuais ou coletivos. (SANCHEZ, 2001)
Dentre as capitais brasileiras, Curitiba sempre se destacou no que se refere ao planejamento urbano, principalmente pelo modelo de transporte urbano e pelo grande investimento em city marketing, resultando no ideário de uma “Cidade Modelo”. Sugerimos alguns questionamentos com os alunos: 1 Qual é a imagem que o mundo tem do Brasil? 2 O que a realização da Copa agregará para a imagem do Brasil no exterior? 3 E a imagem que os próprios brasileiros têm do Brasil, mudará? 4 Das adequações que estão sendo feitas em Curitiba para a Copa, é possível perceber que elas trazem melhorias para a população? Como? Outro ponto importante a ser discutido nas aulas de Geografia sobre a Copa é o poder que os patrocinadores têm na organização e definições do Mundial da Federação Internacional de Futebol Associados. Esses patrocinadores, segundo a própria Federação Internacional de Futebol Associados, estão divididos em três grupos: Parceiros da Federação Internacional de Futebol Associados, Patrocinadores da Copa do Mundo da Federação Internacional de Futebol Associados e Apoiadores Nacionais. A maioria desses parceiros são marcas comerciais de grandes empresas multinacionais mundialmente conhecidas e líderes no mercado de alimentos, refrigerantes, higiene pessoal, artigos esportivos, produtos derivados do petróleo, entre outros.
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A força econômica desses parceiros comerciais da Federação Internacional de Futebol Associados se fez presente no Mundial de 2010 realizado na África do Sul, restringindo o comércio e a publicidade de outras marcas concorrentes, tanto locais como globais, nas proximidades dos estádios durante os dias dos jogos. Observe a seguir um exemplo de texto veiculado na época: O jogo pesado da Federação Internacional de Futebol Associados Por Yan Boechat e Rodrigo Cardoso, enviados especiais à África do Sul
Para proteger patrocinadores da Copa, entidade máxima do futebol compra briga com comércio informal da África do Sul e desperta a ira de pequenos e médios empresários A eliminação dos Bafana Bafana ainda na fase de grupos da Copa do Mundo não foi a única frustração enfrentada pelos sul-africanos neste Mundial. Dezenas de milhares de vendedores informais, pequenos comerciantes e mesmo empresas de médio porte estão vendo desaparecer as esperanças de lucrar com o maior evento esportivo do mundo simplesmente por conta das duras restrições impostas pela FIFA a todos aqueles que não são seus patrocinadores. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2013.
No Brasil, em 2014, não será diferente, visto que o governo federal sancionou a Lei Geral da Copa, nº 12.663, de 05 de junho de 2012, que define as regras para a realização do Mundial de 2014 no Brasil. Dentre os vários pontos polêmicos da referida Lei, destaca-se o Artigo 11, que trata das áreas de restrição comercial e vias de acesso. Sendo assim, cabe à Federação Internacional de Futebol Associados definir restrições comerciais em áreas de até 2 km no entorno dos estádios. Tal prerrogativa dá à Federação Internacional de Futebol Associados poder de decisão sobre a publicidade e o comércio local nesse espaço, materializando a territorialização da Federação Internacional de Futebol Associados em solo brasileiro. Seção II . Das Áreas de Restrição Comercial e Vias de Acesso Art. 11. A União colaborará com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios que sediarão os Eventos e com as demais autoridades competentes para assegurar à FIFA e às pessoas por ela indicadas a autorização para, com exclusividade, divulgar suas marcas, distribuir, vender, dar publicidade ou realizar propaganda de produtos e serviços, bem como outras atividades promocionais ou de comércio de rua, nos Locais Oficiais de Competição, nas suas imediações e principais vias de acesso. § 1º Os limites das áreas de exclusividade relacionadas aos Locais Oficiais de Competição serão tempestivamente estabelecidos pela autoridade competente, considerados os requerimentos da FIFA ou de terceiros por ela indicados, atendidos os requisitos desta Lei e observado o perímetro máximo de 2 km (dois quilômetros) ao redor dos referidos Locais Oficiais de Competição. § 2º A delimitação das áreas de exclusividade relacionadas aos Locais Oficiais de Competição não prejudicará as atividades dos estabelecimentos regularmente em funcionamento, desde que sem qualquer forma de associação aos Eventos e observado o disposto no art. 170 da Constituição Federal. Disponível em: Acesso em: 13 mar. 2013.
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Em entrevista à Revista Veja de 19/12/2011, o professor Carlos Vainer diz que “[…] O que está acontecendo hoje é que as regras são estabelecidas por interesses casuísticos, que beneficiam apenas certas e poucas pessoas. Quando as regras gerais que regem o funcionamento e a vida da cidade são submetidas a regras excepcionais, surge a cidade de exceção.” Como ilustração do que isso pode ocasionar, vejamos o exemplo da polêmica sobre a venda do acarajé na Bahia: FIFA recua e afirma querer baianas tradicionais vendendo acarajé na Copa em Salvador Rodrigo Durão Coelho, do UOL, em São Paulo A FIFA informou na última sexta-feira que irá permitir que as tradicionais vendedoras de acarajé que trabalham nas ruas e praças esportivas de Salvador (BA) possam comercializar o produto na Arena Fonte Nova e nos arredores do estádio durante as partidas da Copa do Mundo de 2014. A posição representa um recuo da entidade em relação à sua postura até então. No começo de outubro, a FIFA informou que, durante a Copa, a comercialização de alimentos nos estádios e arredores seria feita apenas pela empresa que vencer a concorrência promovida pela entidade, cujo resultado deve ser anunciado neste mês. Pelas regras da entidade, que foram incorporadas à Lei Geral da Copa, em vigor desde junho do ano passado, é proibida a presença de ambulantes ou qualquer tipo de vendedor em um raio de dois quilômetros dos estádios da Copa, salvo com a devida autorização da FIFA. Na última sexta-feira, então, a Fifa enviou uma nota à reportagem, afirmando que “discute com o Comitê Organizador Local para garantir que os interesses das vendedoras informais, que geralmente vendem o produto dentro do estádio e em seu entorno, sejam incorporados no planejamento do evento (Copa de 2014)”. A nota termina dizendo que deseja que “sejam oferecidas a elas o máximo de oportunidades possíveis de se beneficiar da Copa do Mundo”. O promotor Ulisses Campos, autor da recomendação do MP-BA para que as vendedoras de acarajé possam trabalhar durante a Copa, recorda que tanto as vendedoras como o comércio são considerados patrimônio cultural pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Por isso, ele entende que, se as baianas não forem envolvidas nos eventos da Copa de 2014, ocorrerá “desrespeito à comercialização de um bem imaterial tombado pelo Iphan desde 2004”. “Por nenhuma hipótese será tolerada a comercialização do acarajé por outra forma que não a tradicional”, o que descarta a hipótese de “qualquer comercialização de acarajé concorrente à das baianas no estádio de futebol ou em suas cercanias, por parte de empresas, em especial empresas oriundas do capital estrangeiro”, defende o promotor. Apesar de a Fifa dizer que discute a participação das vendedoras tradicionais, a presidente da ABAM (Associação das Baianas do Acarajé e Mingau), Rita Santos, disse que não foi procurada. “Ainda não consegui nem sugerir para a Secopa (Secretaria Estadual para Assuntos da Copa do Mundo) ideias para adequar as vendedoras aos padrões exigidos”. Ela sugere que sejam dados cursos de segurança alimentar, monitorados por autoridades envolvidas com a Copa, e que as vendedoras com melhor desempenho possam vender o acarajé. Uma petição online pedindo que as baianas não ficassem de fora do Mundial coletou mais de 3.000 assinaturas em poucos dias. Disponível em: . Acesso em: 15 mar. 2013.
Diante dessa concretização de um território Federação Internacional de Futebol Associados em terras brasileiras, propomos alguns questionamentos: 1 Quais são os interesses da Federação Internacional de Futebol Associados em impor restrições em áreas ao redor dos estádios?
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2 Os interesses da Federação Internacional de Futebol Associados quanto a bebidas alcoólicas nos estádios, valor dos ingressos, calendário escolar, visto de estrangeiros, premiação para os atletas e flexibilização das leis trabalhistas ferem a soberania nacional? 3 Qual é o papel da sociedade civil diante das determinações impostas pela Federação Internacional de Futebol Associados? Como ela vem se manifestando em relação a isso?
Por ser a Copa o maior evento já realizado no Brasil, estima-se que cerca de 3 milhões de turistas nacionais e 600 mil internacionais circulem pelo país nesse período, com expectadores em mais de 200 países. Assim, pelo fato de os olhos do mundo estarem no Brasil, a Copa será assunto recorrente em todos os espaços, inclusive na escola.
CONSIDERAÇÕES As aulas de Geografia possibilitam um espaço de reflexão a respeito da realização da Copa no que se refere aos principais impactos econômicos, sociais, políticos, ambientais, urbanísticos, culturais e esportivos para o Brasil, bem como o legado deixado por esse mega evento. Dessa forma, “cabe à Geografia preparar os alunos para uma leitura crítica da produção social do espaço, negando a ‘naturalidade’ dos fenômenos que imprimem passividade aos indivíduos”. (CASSETI, 2002). Sendo assim, consideramos que a Geografia não é apenas o que os manuais escolares definem, ela ultrapassa o que vivenciamos nas salas de aula. Pretendemos, portanto, possibilitar o trabalho na escola com uma geografia dinâmica e crítica, que negue a neutralidade e apresente a intencionalidade do que é materializado no espaço.
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA BRASIL. Ministério do Esporte. Plano de Promoção do Brasil: a Copa do Mundo FIFA 2014 como plataforma de promoção do país. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2013. O CUSTO da copa.Disponível em: Acesso em: 09 mar. 2013. DOMÍNIO público.Disponível em: Acesso em: 12 mar. 2013. FIFA.COM Disponível em: Acesso em: 13 mar. 2013. FRAGA, Gerson Wasen. Onde os jacarés não andam pelas ruas: a imprensa e os motivos da realização da Copa do Mundo de 1950 no Brasil. Biblos, Rio Grande, v.20, p.145-156, 2007. Disponível em: Acesso em: 13 mar 2013. HUBERMAN, Bruno. “O Brasil está vivendo um estado de exceção”, diz urbanista. Revista Veja. 19 dez. 2011. Disponível em: . Acesso em 15 mar. 2013. KAERCHER, N. A. A geografia é o nosso dia-a-dia. In: CASTRIGIOVANNI, A. C. et al Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: UFRGS/AGB ,Seção Porto Alegre, 2003. MASCARENHAS, G; BIENENSTEIN, G; SÁNCHEZ, F. O jogo continua: mega eventos esportivos e cidades. Rio de Janeiro: Ed.UERJ, 2011. MELO, E.S.O. Percepções urbanas em jogo: os impactos da Copa do Mundo de 1950 à luz da imprensa carioca. Rio de Janeiro, 2011. Disponível em: . Acesso em: 13 mar. 2013. ROLNIK, R. Coisas nada civilizadas ocorrem quando um país prepara um mega evento. Revista ADUSP, n.52, p.6-13, abr. 2012. Disponível em: Acesso em: 10 mar. 2013.
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O IMPACTO DA COPA NA GERAÇÃO DE LIXO ELETRÔNICO Otto Henrique Martins da Silva25 Tiago Ungericht Rocha26
INTRODUÇÃO A presente proposta consiste numa atividade de pesquisa27desenvolvida a partir da sugestão de alguns encaminhamentos metodológicos pensados como subsídios ou formas de auxiliar o professor no desenvolvimento desta atividade. Para realizar a referida atividade, toma-se o evento Copa como uma possibilidade concreta de se discutir e refletir criticamente sobre as questões ambientais, como as relacionadas ao lixo eletrônico, ou outras envolvendo as tecnologias presentes em eventos desse porte. Em relação às Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica, esta proposta de trabalho desdobra-se dos conteúdos estruturantes Movimento e Eletromagnetismo. Os possíveis conteúdos básicos a serem explorados são: Energia e o princípio da conservação da energia; Carga, corrente elétrica, campo e ondas eletromagnéticas; Força eletromagnética; Equações de Maxwell: Lei de Gauss para a eletrostática/Lei de Coulomb, Lei de Ampère, Lei da Gauss magnética, Lei de Faraday; A natureza da luz e suas propriedades. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICO-METODOLÓGICA Como sugestão para se trabalhar em sala de aula, indicamos temas relacionados aos dispositivos de geração de energia limpa (dispositivos eletrônicos), aos conceitos de Relatividade Especial (transmissão de sinais) e temas que permitam um debate mais amplo envolvendo as relações entre ciência, tecnologia e sociedade. É importante ressaltar que os referidos encaminhamentos aqui propostos vão ao encontro das recomendações expressas nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de Ensino, no que diz respeito aos encaminhamentos metodológicos para a disciplina de Física. Sobre essa questão, vale destacar que este documento defende “a pesquisa como parte integrante do processo educativo, acreditando que apenas com o conhecimento advindo dela o professor pode posicionar-se autonomamente e ocupar o centro do processo de ensino e aprendizagem” (PARANÁ, 2008, p. 64). Para Barreto (apud PARANÁ, 2008, p. 64), “a importância da escola está na possibilidade de realizar a dupla face da pesquisa: apetrechar tecnicamente para fundar competência tecnológica e fazer pensare se repensar na linha de transformação”. Tal característica é fundamental na medida em que a ação do professor pode transcender as possibilidades trazidas por um referencial didático. Os encaminhamentos metodológicos dizem respeito à forma como um conteúdo é abordado em seu ensino, com os respectivos recursos e estratégias didáticas. Tradicionalmente, os encaminhamentos e os recursos e estratégias didáticas mais frequentes no ensino de Física têm sido as aulas expositivas com utilização do livro didático, do caderno de anotações dos estudantes e do quadro-negro para a abordagem dos conteúdos (explicação e resolução de problemas ou exercícios). No entanto, os professores estão mais solícitos à necessidade de se repensar os encaminhamentos Professor da Rede Estadual de Ensino – Física – SEED/SUED/DEB Professor da Rede Estadual de Ensino – Física – SEED/SUED/DEB 27 A atividade consiste em realizar uma investigação sobre uma questão social e escolar que, ao ser abordada, busca subsídios teóricos no conhecimento escolar e embasamento metodológico nos encaminhamentos propostos no ensino de Ciências. 25 26
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metodológicos utilizados em sala de aula, de modo que essa questão está cada vez mais presente nas discussões entre os educadores e pesquisadores da área de ensino de Ciências. No que se refere ao ensino de Física, destacamos como potenciais encaminhamentos às abordagens histórico-filosóficas, as atividades experimentais, a problematização ou situações-problema, a dramatização e o uso de documentários como formas de encaminhamentos para este ensino. Como recursos e/ou estratégias didáticas,embora pouco frequentes, tem sido observado o uso de dispositivos audiovisuais (para a reprodução de imagens, fotografias, filmes curtos, etc.), de câmaras fotográficas, de filmadoras, de celulares, de instrumentos musicais, de experimentos com materiais de baixo custo, de simuladores da Web (flash), de objetos de aprendizagens, etc. Como uma forma de abordagem no ensino de Física, a História e Filosofia da Ciência (HFC) é um dos encaminhamentos metodológicos fortemente recomendados pelos pesquisadores da área. De acordo com Martins (2006, p. xxi), “Além de poder ajudar a transmitir uma visão mais adequada sobre a natureza da ciência, a história das ciências pode auxiliar no próprio aprendizado dos conteúdos científicos.” Tal fato pode ser verificado pelas várias recomendações – apud André Martins (2007) – de pesquisadores como Zanetic (1990), Gil Perez (1993), Matthews (1994), Vannuchi (1996), Peduzzi (2001), El-Hani (2006), Martins (2006) ou como aponta Forato (2011, p. 29) ao citar outros pesquisadores que também o fazem, dentre eles Abd El Khalick (2000), Lederman (2000), Bell et al. (2001), Clogh (2008), Olson (2008), Forato et al. (2008), Gil Perez et al. (2001), Holton (2003), Lederman (2007), Martins (2007), Mccomas et al. (1998), Medeiros (2000), Bezerra Filho (2000) e Lederman (2007). A referida autora afirma ser a HFC “um recurso útil para uma formação de qualidade, especialmente visando o ensino-aprendizagem de aspectos epistemológicos da construção da ciência.” (FORATO, 2011, p. 29). Ainda em relação a essa questão, El-Hani et al. (2004) falam das abordagens contextuais do ensino de Ciências segundo as quais a aprendizagem dos conceitos científicos deve ser acompanhada pela aprendizagem de questões relativas a sua natureza (origem, desenvolvimento histórico, etc.). Para Matthews (apud EL-HANI et al., 2004, p. 267), essa forma de abordagem contribui na melhoria do ensino na medida em que pode: (i) humanizar as ciências, conectando-a com preocupações pessoais, éticas, culturais e políticas; (ii) tornar as aulas de ciências mais desafiadoras e estimular o desenvolvimento de habilidades de raciocínio e pensamento crítico; (iii) promover uma compreensão mais profunda e adequada dos próprios conteúdos científicos; (iv) melhorar a formação dos professores, ajudando-os no desenvolvimento de uma compreensão mais rica e autêntica da ciência; (v) ajudar os professores a apreciar melhor as dificuldades de aprendizagem dos alunos, alertando para as dificuldades históricas no desenvolvimento do conhecimento científico; (vi) promover nos professores uma compreensão mais clara de debates contemporâneos na área de educação com um forte componente epistemológico, a exemplo dos debates sobre construtivismo ou multiculturalismo.
Por sua vez, o uso de atividades experimentais nas aulas de Física é um dos encaminhamentos metodológicos mais importantes, pois além de auxiliar na aprendizagem, diz respeito à própria natureza da disciplina de Física. No entanto, em relação a esse encaminhamento, tem-se observado que a sua utilização ainda não é plena e pouco presente no ensino de Física, seja por falta de uma boa infraestrutura dos laboratórios, pela falta de formação específica ou até mesmo pela escassez de material didático nas escolas, embora as atividades experimentais tenham sido
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alvos de muitas pesquisas, possuindo vasta publicação no meio acadêmico (para mais informações, ver Atividades experimentais, em Sugestões de leituras). As atividades experimentais no ensino de Física não precisariam ser introduzidas por encaminhamentos metodológicos e/ou estratégias didáticas, pois essas atividades dizem respeito ao próprio fazer e ensinar Ciências, sendo, portanto, algo intrínseco à natureza de seu ensino. Tal percepção fica evidente ao se observar que a Física é uma ciência dos fenômenos naturais, das causas naturais e, por excelência, busca compreender e explicar tais fenômenos e outros que são criados pela própria ação humana em decorrência do avanço da Ciência e da Tecnologia. Contudo, deve-se reconhecer que na Física há um grande campo teórico que tem contribuído com o desenvolvimento de teorias fundamentais, permitindo importantes avanços da Ciência e Tecnologia. Dessa forma, as atividades experimentais para a Educação Básica são fundamentais no processo de ensinoaprendizagem, pois além de evidenciar a natureza experimental da Física, proporcionam uma forma concreta de estabelecer a relação teoria/prática tão inerente à docência. No entanto, o que se observa é que em situações em que se poderiam realizar atividades experimentais, estas ainda apresentam uma relação teoria/prática de pouco significado e representatividade dos processos de produção e tecnológicos presentes no dia a dia do aluno. A ausência desses aspectos empobrece o ensino de Física. Outro encaminhamento interessante para a prática pedagógica da disciplina de Física refere-se ao ensino por meio de problematizações. Ao problematizar uma questão, o professor, além de contextualizar o problema de ensino em relação à sua prática pedagógica, pode apontar outras questões que dizem respeito à própria contextualização histórica e à gênese do conhecimento em questão, assim como explorar didaticamente a problemática à qual esse conhecimento está vinculado. Um dos precursores dessa proposta de ensino foi Bachelard, ao destacar que: Antes de tudo o mais, é preciso formular problemas. E seja o que for que digam, na vida científica, os problemas não se apresentam por si mesmos. É precisamente esse sentido do problema que dá a característica do genuíno espírito científico. Para um espírito científico, todo conhecimento é resposta a uma questão. Se não houver questão, não pode haver conhecimento científico. Nada ocorre por si mesmo. Nada é dado. Tudo é construído. (BACHELARD, 1977, p. 148 apud DELIZOICOV, 2005, p. 128)
Podemos inferir, na mesma direção de Delizoicov, que ao considerar a problematização como uma forma de encaminhamento metodológico, esta possibilita uma articulação com o uso da HFC no Ensino de Física. Assim, seria propiciada a contextualização da origem, formulação e solução dos problemas mais relevantes que culminaram com a produção dos modelos e teorias, o que teria o potencial de explicar o significado histórico dos problemas juntos aos estudantes e, talvez por isso, permitir-lhes a apreensão das soluções dadas e o respectivo conhecimento produzido. (DELIZOICOV, 2005, p. 134)
Não menos importante que os encaminhamentos metodológicos já discutidos, a terna Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS), quando pensada sob uma perspectiva de proposta de ensino (como defendem alguns pesquisadores) ou até mesmo como um encaminhamento metodológico, corresponde a uma interessante forma de abordagem. Tal fato deve-se, em princípio, à possibilidade de se explorar as relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade de forma
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crítica, reconhecendo a não neutralidade da Ciência, e com questões, principalmente, contemporâneas envolvendo os sujeitos e a sociedade e as aplicações ou implicações dessa ciência na vida real. Outro aspecto a destacar, em relação à abordagem CTS, diz respeito à rica possibilidade de contextualização do ensino de Ciências quanto aos aspectos sociocultural e econômico. A respeito, com base em Barra (1998), Martins (2006, p. xxiv) argumenta que A ciência não se desenvolve em uma torre de cristal, mas sim em um contexto social, econômico, cultural e material bem determinado. Por outro lado não é possível explicar os conhecimentos científicos apenas a partir desse contexto: é necessário levar em conta os fatores internos da ciência, tais como os argumentos teóricos e as evidências experimentais disponíveis em cada momento.
De outro modo, devido à presença quase que impositiva de recursos tecnológicos no dia a dia das pessoas – dado a necessidade de sua presença para a realização de algumas funções básicas do nosso cotidiano (operações bancárias, comunicação, dentre outros) –, torna-se necessária, portanto, uma educação científica que proporcione uma discussão ampla sobre o papel desse aparato tecnológico frente às reais necessidades do ser humano. Ao se considerar os encaminhamentos metodológicos citados nos parágrafos anteriores, propõe-se desenvolver uma atividade em que professor e estudantes desenvolvam também um papel protagonista no processo ensino-aprendizagem. Tal proposta ou encaminhamento está fundado na ação investigativa de professor e estudantes, ou seja, toma-se a atividade de pesquisa como um princípio pedagógico (DEMO, 2011). Sob essa perspectiva, o processo ensino-aprendizagem terá como eixo condutor a pesquisa desenvolvida a partir de um problema inerente ao contexto em que se encontram inseridos a escola e os sujeitos da comunidade escolar. Contudo, essa ação toma como embasamento teórico o conhecimento científico das disciplinas escolares, neste caso o conhecimento da ciência Física. Ainda que haja a necessidade, por conta da natureza do problema, da imersão em outras áreas do conhecimento, essa imersão dar-se-á pelo currículo escolar, ou seja, considerando as demais disciplinas escolares. Isso se faz necessário por conta da forma como está e é organizado o conhecimento científico, que, por sua vez, reflete na formação das disciplinas específicas. Ao se propor essa forma de encaminhamento, deve-se alertar para algumas questões inerentes às atividades de pesquisa e de ensino, pois tais atividades diferem, principalmente, na natureza e na objetividade. De acordo com Bernard Charlot (2006, p. 90): A pesquisa ocupa-se de certos aspectos do ensino, e o ensino é um ato global e contextualizado. Assim, nunca a pesquisa pode abranger a totalidade da situação educacional. [...] a pesquisa faz análise, é analítica; o ensino visa a metas, objetivos; o ensino tem uma dimensão axiológica, uma dimensão política; o ensino está tentando realizar o que deve ser, a pesquisa não pode dizer o que deve ser.
No entanto, as diferenças não inviabilizam o recurso à pesquisa como um princípio pedagógico, porém, há que se levar em conta que a pesquisa desenvolvida no âmbito escolar deve atender às especificidades de ensinoaprendizagem.
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Na proposta em questão, é importante que o professor sistematize a ação investigativa por meio de um plano de trabalho, considerando o problema a ser investigado, os objetivos a serem alcançados, o modo ou forma como se realizará a investigação e, principalmente, após a realização da mesma, desenvolver a análise e divulgação dos resultados obtidos na própria comunidade escolar. É importante ressaltar que, ao desenvolver o plano de trabalho, o professor considere alguns pressupostos que dizem respeito à ação investigativa, a saber: • O professor pode produzir conhecimento a partir de uma concepção teórico-metodológica, das fontes históricas, da epistemologia e filosofia da ciência, tendo a colaboração de sua experiência pedagógica; • O professor deve levar em conta os problemas reais e presentes na Educação Básica; • As verdades são produzidas historicamente, ao contrário do dogmatismo científico, por exemplo. A atividade sugerida (ver outras indicações em Sugestões de trabalhos) consiste em propor que os estudantes desenvolvam, de forma crítica, reflexões e discussões sobre o tema O impacto da Copa na geração de lixo eletrônico, ao realizarem uma atividade de pesquisa que objetive identificar e apontar as implicações ambientais em relação ao lixo eletrônico produzido pelo evento da Copa na sua cidade (para outra sugestão, desenvolver outros objetivos). Esse lixo é oriundo dos descartes de equipamentos eletroeletrônicos, dentre estes, os de tecnologia analógica, como televisores, rádios e celulares que são substituídos por outros dispositivos com tecnologia digital, como televisores de plasma, LCD
(Liquid Crystal Display) e LED (Light Emitting Diode), smartphones, tablets e celulares de modo geral. Outras fontes de lixo eletrônico são devidas à substituição dos sistemas de produção de som e vídeo, inclusive em 3D, e de transmissão e reprodução de ondas eletromagnéticas por equipamentos mais modernos e sofisticados, seja nos centros urbanos ou em órbitas ao redor da Terra, o que acaba gerando também lixo espacial. Os dispositivos e equipamentos em questão são produtos tecnológicos resultantes das aplicações dos estudos da Física Clássica e Moderna e outros campos das ciências. De qualquer forma, essas tecnologias possuem vínculos com o currículo e, portanto, com a disciplina de Física, podendo ser abordadas no ensino de Física, principalmente, na Educação Básica, em que todas essas tecnologias permeiam o cotidiano do aluno. Considerando tais tecnologias, ao se propor uma determinada abordagem para o ensino, deve-se atentar para as diversas possibilidades de estudos de um ou mais conteúdos do currículo da Física escolar e os respectivos encaminhamentos metodológicos. Dentre as possibilidades desses estudos, destacam-se as que dizem respeito ao funcionamento dessas tecnologias como a geração, transmissão e receptação de imagem e som (vídeo e áudio) pelas redes de TVs e rádios. Assim, os conteúdos de ensino relacionados a essas possibilidades dizem respeito, principalmente, ao estudo das ondas eletromagnéticas e aos diversos desdobramentos do seu ensino, como a polarização da luz na formação de imagem 3D nas TVs e telas de cinemas com essa tecnologia, ambos (conteúdos) contemplados nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual de Ensino na disciplina de Física. Outra possibilidade a destacar está relacionada aos componentes eletroeletrônicos, dentre os quais destacamos as fontes de alimentação, os dispositivos de controle (chave ligar/desligar), resistores, capacitores,
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fusíveis, potenciômetros, transistores, diodos, indutores e circuitos simples e integrados que compõem os dispositivos eletroeletrônicos citados. Neste caso, os conteúdos de ensino envolvidos são os tradicionalmente trabalhados na Eletrodinâmica, acrescidos de outros de Física Moderna e Contemporânea, dentre os quais os pertencentes à Física Quântica e ao campo da nanotecnologia. SUGESTÕES Trabalhos • Energia limpa: Que fontes de energia serão utilizadas nos locais e nas transmissões onde estão ocorrendo os eventos da Copa? O objetivo desta sugestão é proporcionar uma discussão sobre as fontes de energia utilizadas neste evento, frente às questões climáticas apontadas pelos relatórios produzidos pelo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), dentre outras fontes. • Relatividade especial: Uma partida da Copa é simultânea para quem esteja no estádio e um telespectador que esteja em outra parte do planeta, por exemplo, no Japão? O objetivo desta sugestão é trazer à tona o debate em torno da propagação dos sinais analógico e digital, fazendo um comparativo do desempenho dos diferentes dispositivos de reprodução de som e imagem. Também é possível uma discussão que contemple os fundamentos da teoria da Relatividade Especial. • A Física presente nos equipamentos de captação, transmissão e recepção dos eventos: É possível identificar alguns conceitos físicos por trás do processo de geração, transmissão e recepção dos eventos relacionados à Copa? O objetivo desta sugestão consiste em possibilitar aos estudantes o aprendizado em torno dos sistemas de comunicação e informação, da distinção entre transmissão analógica e digital, do processo de geração e recepção de sinal, bem como acerca das propriedades físicas das ondas eletromagnéticas envolvidas neste processo. • Tecnologia na segurança: Que conceitos físicos estão presentes no funcionamento dos principais aparatos de segurança das delegações dos países participantes? O objetivo consiste em identificar os principais dispositivos de segurança utilizados pelas delegações participantes do evento, de modo a explorar os princípios básicos de seu funcionamento, estabelecendo uma discussão que privilegie, antes de tudo, a relação Ciência, Tecnologia e Sociedade (e Ambiente).
CONSIDERAÇÕES Acreditamos que é possível promover o ensino de Física por meio de uma atividade de pesquisa que considere abordagens contextuais e/ou atividades experimentais e que os eventos esportivos que ocorrerão em nosso país podem
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potencializar o trabalho com tais abordagens. Os encaminhamentos indicados ao longo deste texto representam as principais formas de se constituir um ensino enriquecedor, que permita a formação de uma visão mais crítica para os estudantes e que possibilite a percepção da dimensão cultural e humana presente na Física. Ao indicarmos a proposta, bem como as sugestões de trabalho, pretendemos destacar a práxis enquanto dimensão presente no processo pedagógico, conforme apontam as Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica. Mediante essa dimensão, o conhecimento ganha significado para o aluno, uma vez que o ponto de partida para a discussão encontra-se inserido em sua realidade cotidiana e possibilita uma relação concreta entre a teoria e a prática
REFERÊNCIAS CHARLOT, Bernard. Formação de Professores: a pesquisa e a política educacional. In: PIMENTA, S. G; GHEDIN, E. (Orgs). Professor reflexivo no Brasil: gênese e crítica de uma conceito.4.ed. São Paulo: Cortez, 2006. DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. São Paulo: Cortez, 2011. DELIZOICOV, Demétrio. Problemas e problematizações. In: PIETROCOLA, M. (org). Ensino de Física: conteúdo, metodologia e epistemologia em uma concepção integradora. 2.ed. Florianópolis: Editora da UFSC, 2005. EL-HANI, Charbel Niño et. al. Concepções epistemológicas de estudantes de Biologia e sua transformação por uma proposta explícita de ensino sobre história e filosofia das ciências. Investigações em Ensino de Ciências, v.9, n.3, dez. 2004. FORATO, Thaís Cyrino de Mello; PIETROCOLA, Maurício; MARTINS, Roberto de Andrade. Historiografia e a natureza da Ciência na sala de aula. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 28, n. 1, p. 27-59, abr. 2011. MARTINS, André Ferrer. História e Filosofia da Ciência no ensino: há muitas peras nesse caminho. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 24, n. 1, p. 112-131, abr. 2007. MARTINS, Roberto de Andrade. Introdução: a história das ciências e seus usos na educação. In: SILVA, Cibele Celestino. (Org.). Estudos de história e filosofia das ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2006. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Física Curitiba, 2008.
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA História e Filosofia da Ciência CRUZ, Frederico Firmo de Souza Cruz et al. Mesa redonda: influência da História da Ciência no ensino de Física. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v.5, n. esp., p.76-92, 1988. Disponível em: . Acesso em: 06 mar. 2013. MARTINS, Roberto de Andrade. Que tipo de história da ciência esperamos ter nas próximas décadas? Episteme: Filosofia e H12 Problematizações LONGHINI, Marcos Daniel; NARDI, Roberto. Como age a pressão atmosférica? Algumas situações-problema tendo como base a história da ciência e pesquisa na área. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v.26, n.1, 2009. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. MEDINA, Marcio; BRAGA, Marco. O teatro como ferramenta de aprendizagem da Física e de problematização da natureza da Ciência. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 27, n. 2, 2010. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. Enfoque Ciência, Tecnologia e Sociedade (e Meio Ambiente) AULER, Décio. Enfoque ciência-tecnologia e sociedade: pressupostos para o contexto brasileiro. Ciência & Ensino, 2007. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. MACEDO, Cristina Cândida de; SILVA, Luciano Fernandes. Contextualização e Visões de Ciência e Tecnologia nos Livros Didáticos de Física Aprovados pelo PNLEM. ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.3, n.3, p.1-23, nov. 2010. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. SANTOS, Wildson Luiz Pereira. Educação Científica Humanística em Uma Perspectiva Freireana: Resgatando a Função do Ensino de CTS. ALEXANDRIA Revista de Educação em Ciência e Tecnologia, v.1, n.1 2008. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. SANTOS, Wildson Luiz Pereira dos. Contextualização no ensino de Ciências por meio de temas CTS em uma perspectiva crítica. Ciência & Ensino, vol. 1, número especial, nov 2007. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. A atividade de pesquisa como um princípio pedagógico ANDRE, Marli.Pesquisa em educação: buscando rigor e qualidade.Cadernos de Pesquisa, v.31, n.113, p.51-64, 2001. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013.
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FRANCO, Maria Amélia Santoro. Pedagogia da pesquisa-ação.Educação e Pesquisa, v.31, n.3, p. 483-502, 2005. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. GRECA, Ileana Maria.Discutindo aspectos metodológicos da pesquisa em ensino de ciências: algumas questões para refletir. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 2, n. 1 (2002). Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. LÜDKE, Menga, CRUZ, Giseli Barreto. Aproximando universidade e escola de educação básica pela pesquisa. Cadernos de Pesquisa, v. 35, n. 125, p. 81-109, maio/ago. 2005. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. MEDEIROS, Alexandre. Metodologia da pesquisa em educação em Ciências. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, 2(1)73-82, 2002. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. MOREIRA, Marco Antonio; OSTERMANN, Fernanda.Sobre o ensino do método científico. Caderno Catarinense de Ensino de Física, v.10, n.2, p.108-117, ago.1993. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. PIMENTA, Selma Garrido. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seu significado a partir de experiências com a formação docente.Educação e Pesquisa, v.31, n.3, p. 521-539, 2005. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Educação e Pesquisa, v.31, n.3, p.443-466, 2005. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013.
SÍTIOS RECOMENDADOS ALEXANDRIA. Revista de Educação em Ciência e Tecnologia. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. CADERNO Brasileiro de Ensino de Física.Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. EPISTEME. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. INVESTIGAÇÕES em Ensinode Ciências. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. PRINCIPA. Disponível em:. Acesso em: 07 mar. 2013. PROFESSOR Pesquisador no Ensino de Física. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013.
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PUBLICAÇÕES do Centro de Lógica, Epistemologia e História da Ciência. Disponível em: Acesso em: 07 mar. 2013. REVISTA Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. REVISTA Eletrônica de Ciências. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. REVISTA Brasileira de Ensino de Física. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. REVISTA de Enseñanza de la Física. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013. SOCIEDADE Brasileira de História da Ciência. Disponível em: . Acesso em: 07 mar. 2013.
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UMA
INV EST IGAÇÃO
MAT EMÁT ICA NO
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UMA INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA NO CONTEXTO DA COPA: AMPLIANDO CONCEITOS GEOMÉTRICOS Lucimar Donizete Gusmão28 Carmelígia Marchini29 Abimael Fernando Moreira30
INTRODUÇÃO No início de 2003, no Estado do Paraná, ocorreu a retomada das discussões coletivas sobre o currículo, pois entende-se que se trata de uma produção social, construído por pessoas que vivem em determinados contextos históricos, temporais e sociais. Sendo assim, os professores de salas de aula, nos diferentes níveis e modalidades de ensino, com técnicos pedagógicos dos Núcleos Regionais e das equipes pedagógicas da Secretaria de Estado da Educação, iniciaram uma discussão para pensar, construir e resgatar importantes considerações teórico-metodológicas para o ensino e a aprendizagem da Matemática. Após diversos momentos de discussão que aconteceram em reuniões pedagógicas com professores representantes de seus pares, reuniões e grupos de estudos descentralizados nos municípios, envolvendo os professores das várias instâncias, inclusive de instituições de ensino superior, o texto das Diretrizes Orientadoras Curriculares Estaduais (DCE), para todas as disciplinas, foi sistematizado (GUSMÃO, 2010). As Diretrizes Curriculares de Matemática, organizando a disciplina, apresentam os Conteúdos Estruturantes a serem trabalhados em âmbito estadual, conteúdos esses que são resultados das práticas pedagógicas dos professores e da análise histórica da Matemática, tanto como campo de conhecimento, quanto como disciplina. Segundo as DCE de Matemática (PARANÁ, 2008, p. 49), entendem-se como conteúdos estruturantes os conhecimentos de grande amplitude, os conceitos e as práticas que identificam e organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar considerados fundamentais para a sua compreensão. Constituem-se historicamente e são legitimados nas relações sociais. Os conteúdos estruturantes propostos para as séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio são Números e Álgebra, Grandezas e Medidas, Geometrias, Funções e Tratamento da Informação. Esses conteúdos se desdobram em Conteúdos Básicos e Específicos. Entretanto, eles não devem ser trabalhados de forma isolada, mas sim articulados entre si, pois é na articulação e no trabalho contextualizado que as idéias matemáticas adquirem sentido para o aluno. Machado (1993, p. 28) reforça, afirmando que o “significado curricular de cada disciplina não pode resultar de apreciação isolada de seus conteúdos, mas sim do modo como se articulam”. A disciplina de Matemática, de acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (PARANÁ, 2008), fundamenta-se teórica e metodologicamente no campo de estudo da Educação Matemática e propõe abordar os conteúdos por meio das Tendências Metodológicas desse campo de estudo, das quais se destacam: a Resolução de Problemas, a Etnomatemática, a Modelagem Matemática, as Mídias Tecnológicas, a História da Matemática e a
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Professora da Rede Estadual de Ensino – Matemática – SEED/SUED/DEB Professora da Rede Estadual de Ensino – Matemática – SEED/SUED/DEB 30 Professor da Rede Estadual de Ensino – Matemática – SEED/SUED/DEB 28 29
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Investigação Matemática. Além disso, prioriza a articulação entre as Tendências, entre os conteúdos matemáticos, bem como, com outras áreas do conhecimento. Ampliando, assim, as possibilidades de abordagens dos conteúdos e promovendo um ensino e uma aprendizagem mais efetivos em Matemática. Buscar o conhecimento no contexto dos alunos pode ser uma possibilidade para que o conhecimento ganhe significado para eles, permitindo uma compreensão mais abrangente dos objetos, fatos e fenômenos de uma ciência, particularmente, nesse caso, da Matemática, no entanto, há de se ter cuidado para não empobrecer a construção do conhecimento em nome de uma prática de contextualização. O contexto deve ser apenas o ponto de partida para abordagens pedagógicas (PARANÁ, 2008). Nesse sentido, buscamos no contexto da disciplina de Matemática chamar questões relacionadas à Copa. As abordagens matemáticas em torno dessa questão são imensas, porém optamos para trabalhar com a Geometria. O conteúdo estruturante Geometrias, que é foco deste trabalho, se desdobra em: geometria plana, geometria espacial, geometria analítica e noções de geometrias não euclidianas. No entanto, ele não deve ser trabalhado de forma estanque, mas articulado entre si, como já foi mencionado. “Na Educação Básica, a Educação Matemática valoriza os conhecimentos matemáticos geométricos, que não devem ser desenvolvidos separados da aritmética e da álgebra” (PARANÁ, 2008, p. 57). Segundo Lima et al (2004), o grande desafio de ensinar geometria é fazer a transição do plano (geometria plana) para o espaço (geometria espacial). Gerônimo e Franco (2010, p.179) colocam ainda que uma das limitações para a compreensão do universo tridimensional da geometria espacial, reside no fato de que “somos também tridimensionais o que nos impede de enxergar os objetos geométricos tridimensionais por inteiro a partir de um ponto de observação fixo”. O estudo da geometria pode desenvolver no aluno capacidades de intuir, analisar e compreender melhor o espaço que o rodeia, tornando-o apto a codificar as imagens, fazer e apreender as comunicações visuais que encontra no seu cotidiano. Por meio desse estudo, as possibilidades do aluno se posicionar, orientar, analisar as formas e construir relações entre os meios que o cerca tornam-se mais amplas (MARCHINI, 2009). Embora o aluno possa ter dificuldades no aprendizado de geometria, em geral ele não tem dificuldades em entender as propriedades essenciais das figuras geométricas simples, por exemplo, conceitos de paralelismo, perpendicularismo e congruência. Caso apareçam dificuldades, é sempre possível experimentar por meio de desenhos ou modelos das figuras. Essas facilidades não ocorrem quando se começa o estudo da geometria espacial, pois as relações entre as figuras geométricas fundamentais são bem mais complexas, exigindo do aluno um alto grau de imaginação, intuição e visualização (LIMA et al, 2004). E complementam, estudo de paralelismo, por exemplo, que na geometria plana se reduz a paralelismo entre retas, agora é complicado pelo fato de existirem, no espaço, retas que não são nem paralelas, nem concorrentes e pelas relações de paralelismo envolvendo planos (LIMA et al., 2004, p. 161-162).
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Kalef (2003, p. 16) corrobora colocando que pelo fato de os objetos geométricos pertencerem ao mundo das idéias e, ao mesmo tempo, terem sua origem no mundo físico e representarem abstrações de objetos materiais, apresenta uma ambiguidade que gera uma grande dificuldade para os alunos. Em muitos casos, os alunos não percebem que os objetos geométricos são abstratos e que mesmo ao observarem o desenho de uma figura geométrica no livro texto ou no quadro-negro, ou mesmo sua imagem na tela do computador, estão, na realidade, vendo apenas uma representação do objeto geométrico.
Sendo assim, a compreensão do espaço tridimensional vai exigir do aluno um pensamento geométrico refinado. Para tal, pensar numa proposta para o ensino da matemática, especialmente, no ensino da geometria, baseados nos mecanismos da visualização, torna-se fundamental para a compreensão desses conceitos. Nesse sentido, a equipe de Matemática do DEB, partindo de uma perspectiva interdisciplinar, contextualizada e no intuito de contribuir para construção do conhecimento escolar na Educação Básica, elaborou algumas propostas para trabalhar o tema Copa a partir de conteúdos relacionados a Geometrias e de tendências do campo da Educação Matemática sugeridas nas Diretrizes Curriculares do Paraná e nos Cadernos de Expectativas de Aprendizagem (PARANÁ, 2012). A GEOMETRIA DA BOLA DE FUTEBOL Atividade 1: Investigar a bola de futebol, identificando suas potencialidades matemáticas. Para tal, manipule livremente uma bola de futebol, percebendo sua forma e suas características, fazendo anotações no caderno. Figura 1 - Bola de futebol
Fonte: SEED/SUED/DITEC
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Pesquisa 1: pesquisar em sites da Internet as transformações do formato da bola de futebol desde o seu surgimento até os dias de hoje, identificando elementos matemáticos. Após esse processo, discutir com os colegas da sala sobre as descobertas geométricas encontradas na pesquisa, sob mediação do professor. Podemos perceber que a bola de futebol da figura acima é formada por dois tipos de faces, denominadas polígonos. Logo, antes de estudarmos a estrutura matemática da bola de futebol, faremos uma introdução na geometria plana, iniciando com os polígonos. O que vem a ser um polígono? Polígono: é uma figura geométrica plana limitada por segmento de retas, chamados lados do polígono De acordo com o número de lados ou ângulos que o polígono tem, ele recebe um nome específico.
Atividade 2: Complete a tabela a seguir, após pesquisar os tipos de polígonos: NÚMERO DE LADOS NOME DO POLÍGONO 3 4 5 6 7 8 9 10 11 Obs.: Nesse momento, o professor poderá explorar os tipos de polígonos, bem como seus elementos.
Atividade 3: Após completar a tabela, retornemos à bola de futebol para identificar os polígonos que compõem essa bola: Um pouco de história... “A bola de futebol que apareceu pela primeira vez na Copa de 1970 foi inspirada em um conhecido poliedro convexo (descoberto por Arquimedes) formado por 12 faces pentagonais e 20 faces hexagonais, todas regulares” (LIMA et al, 2004, p.239). Desde a antiguidade são conhecidos os poliedros regulares, ou seja, “poliedros convexos cujas faces são polígonos regulares iguais e que todos os vértices concorrem o mesmo números de arestas” (LIMA ET AL, p240). Dentre os Poliedros, destacam-se os Sólidos de Platão.
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Para compreender melhor as propriedades desses sólidos, realizaremos uma pesquisa. Pesquisa 2: pesquisar os Sólidos de Platão e em seguida promover uma investigação das características desses sólidos e as condições para que os mesmos recebam essas denominações. Sugestão de vídeo: em seguida, trabalhar com o vídeo disponível no link: Esse vídeo apresenta várias informações e curiosidades sobre os sólidos de Platão. Encaminhamento: de acordo com o nível escolar dos alunos, poderá ser explorado: - os Sólidos de Platão por meio da manipulação, identificando o número de faces, vértices e arestas; - o estudo desses elementos por meio da Relação de Euler; - utilização de modelos planificados para trabalhar com polígonos e suas características, enfatizando a soma dos ângulos internos desses polígonos, relacionando com a decomposição dos mesmos em triângulos; - diferenciação de corpos redondos e poliedros. Dentre os poliedros de Platão, destacar o Icosaedro Regular (fig. 2) o qual originou o Icosaedro Truncado, que inspirou o formato da bola de futebol. Vamos explorar esse poliedro. Atividade 4: Pesquise o número de faces, vértices e arestas desse sólido: Figura 2 – Icosaedro
Fonte: SEED/SUED/DITEC
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O icosaedro truncado surge a partir de cortes feitos em um icosaedro regular, de forma a “retirar” seus vértices. Veja a sequência de figura que mostra as transformações em um icosaedro:
Figura 3 - Transformações de um Icosaedro
Fonte: SEED/SUED/DITEC
Atividade 5: Explorar o icosaedro truncado, ou melhor, o formato da bola de futebol. Como já foi dito, esse poliedro é composto por 12 faces pentagonais e 20 faces hexagonais. Pergunta-se: quantos vértices possui essepolígono? (adaptado de LIMA et al, 2004) Agora que já conhecemos o icosaedro truncado, vamos, em grupos, construir um modelo desse sólido, lembrando uma bola de futebol. Para isso, pode-se usar duas cores de papel: uma para os pentágonos e outra para os hexágonos. Construção: • Utilizando régua e compasso, construir, em papel cartão, um pentágono regular com lado medindo 7 cm e um hexágono regular também com lado medindo 7 cm (fig. 4 e 5). • Deixar uma margem de 1,5 cm aproximadamente. • As medidas podem ser alteradas desde que pentágonos e hexágonos tenham lados com a mesma medida. • As medidas dos ângulos internos são muito importantes para que os polígonos se encaixem. • Obs.: Será necessário construir 12 pentágonos e 20 hexágonos.
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Figura 4 - Pentágono Regular
Figura 5 - Hexágono Regular
Fonte:SEED/SUED/DITEC
Fonte:SEED/SUED/DITEC
2 Com o auxílio de um perfurador, faça um furo em cada vértice, com um pequeno corte até a extremidade da margem. 3 Monte a forma planificada dos polígonos. Observe a figura a seguir:
Figura 6: Icosaedro Truncado Planificado
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Fonte:SEED/SUED/DITEC
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4 Unir as arestas com elásticos fechando o modelo do sólido, conforme as imagens: Figura 7 - Representação da bola de futebol
Fonte:SEED/SUED/DITEC
Além das atividades propostas, outras podem ser encaminhadas de forma articulada com as já desenvolvidas e, para tal, indicamos algumas possibilidades. CONTEÚDOS ESTRUTURANTES
CONTEÚDOS BÁSICOS * Medidas de área * Medidas de comprimento
Grandezas e Medidas
* Medidas de ângulos * Medidas de capacidade
Geometrias
Números e Álgebra
Tratamento da Informação
Funções
SUGESTÕES * Calcular a medida de área dos polígonos que formam a bola e da superfície total. * Utilizar medidas de comprimento na construção da bola – Icosaedro Truncado. * Utilizar medidas de ângulo na construção da bola – Icosaedro Truncado. * Calcular a capacidade da bola (quantidade de ar).
* Geometria Espacial * Geometria Plana
* Estudos dos elementos dos sólidos geométricos. * Estudar os Poliedros de Platão. * Estudar polígonos e suas propriedades. * Calcular número de faces, arestas e vértices por meio da Relação de Euler.
* Números Reais
* Porcentagem
* Resolver situações-problema que envolvam operações com números reais. * A partir de uma determinada quantidade de material, calcular o percentual de material gasto na construção da bola e o percentual do desperdício (sobra). * Otimização – encontrar a melhor forma de cortar o material a fim de diminuir o percentual de desperdício.
* Função Afim
* Calcular o custo do material utilizado na confecção de uma bola. * Calcular a quantidade de material necessário para construir uma bola.
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CONSIDERAÇÕES A matemática é subjacente à maior parte das nossas atividades. Aprender matemática é aprender uma determinada forma de pensar, é uma forma de ampliar o espaço para conjucturas, reflexões, discussões, apropriação de conceitos e formulação de ideias sobre os diversos problemas inerentes à própria matemática, às demais disciplinas, às áreas do conhecimento e aos problemas do cotididano, permitindo, além da apropriação de conhecimentos, aquisição de valores e atitudes para a formação integral do aluno. O estudo da geometria, foco principal desse trabalho, traz sugestões de atividades para serem desenvolvidas em aulas de matemática, partindo de uma perspectiva interdisciplinar e contextualizada, neste caso, abordando a Copa, com vista a contribuir com a construção do conhecimento escolar na Educação Básica. REFERÊNCIAS GERÔNIMO, João R.; FRANCO, Valdeni. Geometria plana e espacial: um estudo axiomático. 2. ed. Maringá: Eduem, 2010. GUSMÃO, L. D. Número de ouro: sua incidência na natureza. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE FILOSOFIA E EDUCAÇÃO, 5., 2010, Caxias do Sul, RS.Anais. Caxias do Sul, 2010. KALEFF, Ana M. Vendo e entendendo poliedros. Niterói: EDUNFF, 2003. LIMA, E. L.et al, A matemática do ensino médio. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática, 2004.v.2. MACHADO, Nilson. J. Interdisciplinaridade e matemática. Proposições, Campinas, n.1, p. 25-34, mar. 1993. MARCHINI, Carmeligia. Elo entre os ambientes dimensionais e sua percepção espacial através de materiais manipuláveis. 2009. Disponível emAcesso 28 fev. 2013. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Caderno de expectativa de aprendizagem: matemática. Curitiba: Seed/ DEB-PR, 2012. PARANÁ.Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Matemática. Curitiba, 2008.
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AS
MANIF ESTAÇÕES SOCIAIS NAS
AULAS DE LÍNGUA
INGLESA E O E V ENTO F UT EBOLÍST ICO MUNDIAL
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AS MANIFESTAÇÕES SOCIAIS NAS AULAS DE LÍNGUA INGLESA E O EVENTO FUTEBOLÍSTICO MUNDIAL Cleci Carneiro Malucelli31 Nilva Conceição Miranda32
INTRODUÇÃO O uso da linguagem perpassa por todas as atividades humanas em diversos contextos históricos. A língua, na concepção bakhtiniana, é concebida como forma de interação social na qual ocorrem os discursos. Segundo Bakhtin (1988), toda enunciação envolve a presença de pelo menos duas vozes, a voz do eu e do outro. Para esse filósofo, não há discurso individual, no sentido de que todo discurso se constrói no processo de interação e em função do outro. É no espaço discursivo criado na relação entre eu e o outro que os sujeitos se constituem socialmente. É no engajamento discursivo com o outro que damos forma ao que dizemos e ao que somos. Daí a Língua Estrangeira apresentar-se como espaço para ampliar o contato com outras formas de conhecer, com outros procedimentos interpretativos de construção da realidade. (PARANÁ, 2008, p.53) Nesse sentido, considerando que os atos sociais são vivenciados em determinados contextos e por grupos sociais diversos, a linguagem a ser utilizada estará de acordo com as condições de produção e os discursos são produzidos de forma adequada à esfera de atividade do homem. De acordo com Bakhtin (1992), cada esfera social de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, denominados de gêneros do discurso. Esses gêneros são determinados pelas condições de produção. Portanto, diante do momento histórico a que este documento se refere, a Copa, tendo como uma das cidades-sede Curitiba, no Paraná, considera-se relevante as orientações nele contidas como subsídio para o trabalho pedagógico. Dessa forma, o evento apresenta-se como uma oportunidade para que os professores desenvolvam atividades explorando os conteúdos básicos da disciplina de Língua Estrangeira Moderna/Língua Inglesa e favoreçam a compreensão da função social dessa disciplina na construção de sentidos pelos estudantes. Nessa perspectiva, a disciplina contribui para a formação da subjetividade do estudante por meio da participação dos processos sociais de construção da linguagem. Trata-se de possibilitar aos estudantes amplo […] acesso a diversos discursos que circulam globalmente, para construir outros discursos alternativos que possam colaborar na luta contra a hegemonia, pela diversidade, pela multiplicidade da experiência humana, e ao mesmo tempo, colaborar na inclusão de grande parte dos brasileiros que estão excluídos dos tipos de […] (conhecimentos necessários) para a vida contemporânea, estando entre eles os conhecimentos (em língua estrangeira). (LOPES, 2004, p. 14-59)
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Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Inglesa – SEED/SUED/DEB Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Inglesa – SEED/SUED/DEB
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A partir dessas reflexões, considera-se importante que o professor de Língua Inglesa esteja sempre atento, não apenas aos discursos que acompanham a vida humana, mas ao momento histórico e ao contexto sociocultural em que estão inseridos. INTERAÇÃO: LÍNGUA, CULTURA E SOCIEDADE As orientações para o trabalho pedagógico com a disciplina de Língua Estrangeira Moderna/Inglês fundamentam-se nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica da Rede Estadual de Ensino de Língua Estrangeira Moderna (LEM) e no Caderno de Expectativas de Aprendizagem, pois estes são documentos norteadores do ensino/aprendizagem da disciplina no Estado do Paraná. Pretende-se, nessa proposta, garantir noções teóricometodológicas que orientem os encaminhamentos pedagógicos. Definiu-se como Conteúdo estruturante para a disciplina, o Discurso como prática social, considerando que a localização geográfica, temporal, social e etária também são elementos essenciais na constituição dos discursos. Nessa concepção, a língua, objeto de estudo da disciplina, é tomada como interação verbal, como espaço de produção de sentidos e o foco do trabalho considera os enunciados que se materializam em textos verbais e não verbais. Para Bakhtin (1992, p.297) As pessoas não trocam orações assim como não trocam palavras (numa acepção rigorosamente linguística), ou combinações de palavras, trocam enunciados constituídos com a ajuda das unidades da língua – palavras, conjunto de palavras, orações; mesmo assim, nada impede que o enunciado seja constituído de uma única oração ou de uma única palavra por assim dizer, de uma unidade de fala (o que acontece sobretudo na réplica do diálogo). Mas não é isso que converterá uma unidade da língua numa unidade da comunicação verbal.
Dessa forma, o ponto de partida da aula de Língua Estrangeira Moderna é o texto. É por meio do contato entre o sujeito e o texto, que se estabelecem as relações com a cultura e a identidade do outro, pois é essencial também que [...] a aula de LEM constitua um espaço para que o aluno reconheça e compreenda a diversidade linguística e cultural, de modo que se envolva discursivamente e perceba possibilidades de construção de significados em relação ao mundo em que vive. […] (PARANÁ, 2008, p. 53)
Considera-se importante para a formação do estudante o contato com outras culturas e com os discursos que circulam na sociedade em determinado contexto histórico, pois desse modo, ele reconhece a sua identidade cultural. Assim, o grande evento futebolístico se apresenta como um momento de reflexão sobre como o esporte estabelece laços de união entre as diversas culturas e nações, aproximando-as e criando condições de assegurar o respeito às diferenças culturais de forma rápida e eficiente. O esporte, em sua importância, pode se transformar em um dos responsáveis pela construção da paz para as nações. O futebol, como uma das modalidades esportivas é capaz de criar novas relações, de fortificar amizades e abrandar as diferenças. Esse esporte inserido em eventos esportivos internacionais possibilita que o encontro entre as nações aconteça em ambiente neutro. Dessa forma, a Copa se evidencia como mais uma oportunidade de se construir, nesse contexto, comunidades mundiais.
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Diante do exposto, é interessante iniciar o trabalho pedagógico a partir da seleção de textos sobre a origem do futebol e sua representatividade como elemento integrador das diferentes nações do mundo. O futebol enquanto modalidade esportiva, um dos conteúdos da disciplina escolar de Educação Física, é amplamente difundido entre os brasileiros como um dos elementos formadores da identidade nacional contemporânea. Portanto, torna-se relevante compreender o processo histórico, econômico e social que o constitui. No trecho a seguir, os estudantes podem perceber como e quando esse esporte foi trazido ao Brasil e refletir sobre questões de como o Brasil tornou-se o país do futebol, apesar da origem inglesa desse jogo. Pode-se ainda discutir sobre os seus significados e suas regras alteradas com o passar dos anos, considerando que a sociedade contemporânea não é a mesma de outras épocas. HISTORY OF FOOTBALL IN BRAZIL by Dan Harriman, 2011 The game of football was introduced to Brazil in 1894 through the Brazilian-born Englishman Charles Miller, who spent his formative years in England and, upon returning to Brazil, brought with him two soccer balls and a rule book. Miller went on to help establish Sao Paulo Athletic Club, a team he played on for several years, and Liga Paulista, Brazil’s first organized football league.The sport was received with immense enthusiasm in Brazil and its popularity grew dramatically within just a few years. (Fonte: http://www.livestrong.com/article/347071-history-of-football-in-brazil/)
O futebol como manifestação social, movimenta vários setores da sociedade. Seria interessante discutir com a turma os nexos possíveis entre a prática do futebol com a organização social e econômica brasileira. A partir da discussão realizada, pode-se solicitar uma produção textual. A formação da identidade nacional do Brasil está intimamente ligada à manifestação do futebol como um fenômeno esportivo integrante da dinâmica cultural. É considerado uma das principais manifestações da sociedade brasileira e possibilita transformar a realidade social e econômica de muitas crianças que optam por esse esporte. Sugere-se como atividade que os estudantes elejam um jogador de sua preferência, relacionando em língua inglesa as qualidades do ídolo, ou seja, que tenha um perfil considerado desejável para um ídolo dos esportes. Nesse momento, pode-se explorar conteúdos como o léxico e a função dos adjetivos, além de perceber a importância do esporte como representatividade de um país. Seria interessante elaborar uma atividade oral em que os estudantes utilizem o léxico já estudado em relação às qualidades e definam o perfil de um jogador para que a turma descubra a quem pertencem aquelas características. Outra sugestão de atividade é pesquisar se houve mudanças no perfil dos jogadores desde a década de 70 e quais foram. Pode ser interessante realizar um breve estudo comparativo sobre o perfil dos jogadores brasileiros, americanos e britânicos. Como os adjetivos estão sempre presentes no gênero biografia, o professor pode acrescentar o estudo desse gênero e de seus elementos composicionais (temporalidade, marcadores temporais do discurso, conectivos, etc.). Após esse estudo, solicitar a elaboração de um texto biográfico sobre os melhores jogadores de futebol de todos os tempos, à escolha de cada estudante. É necessário provocar reflexões sobre o uso de cada gênero discursivo selecionado pelo professor nas aulas de Língua Inglesa, levando em conta o contexto de uso e seus interlocutores, pois Murcho (2003, apud CRISTOVÃO,
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2007) considera “o gênero biografia atrativo, porque através de vidas humanas reais aprendemos filosofia, história e ciência e acompanhamos os dramas e alegrias, sucessos e insucessos consoantes ao biografado”. Outro aspecto importante desse gênero é que o mesmo representa a materialização sócio-histórica e cultural do homem e de sua relação com as transformações ocorridas em sua época num determinado contexto social. Ler biografias é se ver na relação com a vida e a cultura do outro e perceber que nossa identidade se edifica com base naqueles que admiramos e que nos servem de modelos. A organização do evento da Copa revela muito da cultura do país-sede. Então, torna-se interessante que o aluno pesquise sobre o evento em outros países, pois isto oportuniza a aprendizagem da cultura e da língua. Ao mesmo tempo permite que se perceba que ela não pode limitar-se às comunidades locais, mas deve estender-se a outras comunidades. A leitura de textos midiáticos possibilita além da aprendizagem da língua, a interação dos estudantes com fatos da atualidade. No link http://riotimesonline.com/brazil-news/rio-travel/2014-world-cup-city-focus-curitiba/#, por exemplo, encontra-se a notícia sobre Curitiba com o título, 2014 World Cup City Focus: Curitiba, que contribui para que o estudante torne-se capaz de valorizar sua própria cultura, delinear a própria identidade e situar-se geograficamente. Após a leitura, os estudantes podem analisar elementos como, o título, data, assunto, quem escreveu, qual público alvo, para quê, etc., que auxiliarão na compreensão do objetivo dessa produção. Depois disso, sugere-se ao estudante a busca de um texto em língua inglesa, na internet, em revistas ou jornais sobre o evento em outros países, compartilhando com a turma as informações sobre o contexto histórico, a forma de organização, o mascote símbolo do país, etc. No Brasil, o nome eleito para o mascote da Copa é Fuleco, resultado de uma votação popular. Os estudantes podem pesquisar o significado deste nome. A notícia a seguir, traz informações relevantes a respeito do evento da COPA 2014 no Brasil, sobre a elaboração do pôster oficial de divulgação e comentários de jogadores.
WORLD CUP PORTAL BRAZILIAN FEDERAL GOVERNMENT WEBSITE ON THE 2014 FIFA WORLD CUP 30/01/2013 2014 FIFA World Cup ambassadors unveil Official Poster “The poster is a great example of Brazil’s creative excellence”, said FIFA Secretary General Jérôme Valcke […] The Official poster was designed by Brazilian creative agency Crama, which was selected ahead of two other designs. “The Official Poster is an important step for showcasing Brazil and the FIFA World Cup in the Host Country and abroad. It is important to convey the message of a country that is modern, innovative, sustainable, happy, united and, of course, passionate about football,” explained Ronaldo. “I’m sure that when Brazilians see the official poster they’ll feel represented. We’re proud of this important symbol of the FIFA World Cup, which also shows the passion for football in our country,” added Bebeto. The artwork depicts the beauty and diversity of Brazil through a colourful, emotional and vibrant design. The creative concept at the heart of the poster is “An entire country at football’s service – Brazil and football: one shared identity”, which inspired Crama to shape the winning design. This is evident throughout the poster, particularly where the players‘ legs challenging for the ball reveal the map of Brazil. (Fonte:http://www.copa2014.gov.br/en/noticia/2014-fifa-world-cup-ambassadors-unveil-official-poster)
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Os estudantes podem ainda realizar a leitura da imagem, disponível no endereço: http://www.copa2014. gov.br/sites/default/files/poster_cartaz_oficial_brasil2014_alta_eng.jpg, observando as cores, forma, símbolos e o seu significado principal mencionado no texto que complementa e enriquece a compreensão textual. No endereço: http:// www.copa2014.gov.br/en/noticia/host-cities-unveil-official-world-cup-posters , os estudantes encontrarão os pôsteres de todas as cidades-sede da Copa com as explicações em Língua Inglesa sobre a escolha dos símbolos de cada cidade e seus significados. Outras notícias sobre o evento estão disponíveis no endereço: http://www.portal2014.org.br/en/. Os sites referidos acima permitem que se desenvolva um novo trabalho pedagógico. Espera-se com esta proposta que os estudantes reconheçam os textos como práticas sociais que ocorrem em determinado contexto sociocultural. As leituras realizadas permitem uma interação com diferentes formas linguísticas, proporcionando ao aluno o reconhecimento de que a língua varia de acordo com as condições de uso. Tanto a Língua Materna quanto a Língua Inglesa adquirem características próprias dependendo da esfera social em que estiverem inseridas. Segundo Antunes (2007, p. 104) Existem situações sociais diferentes; logo, deve haver também padrões de uso da língua diferentes. A variação, assim, aparece como uma coisa inevitavelmente normal. Ou seja, existem variações linguísticas não porque as pessoas são ignorantes ou indisciplinadas; existem porque as línguas são fatos sociais, situados num tempo e num espaço concretos, com funções definidas, e como tais, são condicionadas por esses fatores. Além disso, a língua só existe em sociedade, e toda sociedade é inevitavelmente heterogênea, múltipla, variável e, por conseguinte, com usos diversificados da própria língua.
Os sites sugeridos ao final do capítulo proporcionam a oportunidade do estudo de expressões idiomáticas (ou special expressions), ampliam a compreensão dos diversos usos da linguagem e aproximam o estudante do uso real da língua. As expressões idiomáticas constituem-se de dois ou mais elementos linguísticos que estão normalmente ligados às peculiaridades da cultura de cada grupo social ou região de um país. Cada palavra tem um significado e juntas apresentam um significado específico dependendo da esfera social de circulação. Algumas palavras e expressões definem as ações realizadas pelos jogadores dentro do campo de futebol. É interessante iniciar esse estudo elucidando eventuais dúvidas sobre o significado do próprio nome do esporte como, Football, Soccer, American football e Rugby. Outros elementos lexicais podem ser agregados a estes, no sentido de ampliar os conhecimentos linguístico-discursivos, como por exemplo, match: jogo, partida; player: jogador; referee: árbitro; attacker: atacante; striker: centro-avante; midfielder: meio-campo; goalkeeper: goleiro; whistle: apito; kick: chute; off-side: impedimento; own-goal: gol contra; penalty: pênalti; kick-off: pontapé inicial; coach: treinador; throwin: lateral;corner kick: escanteio; free kick: tiro livre (see youtube video of David Beckham’s free kick against Greece); foul: falta; field: campo; half-time: intervalo; yellow-card: cartão amarelo; red-card: cartão vermelho. Para facilitar a compreensão do contexto de uso do léxico utilizado no futebol, os estudantes podem pesquisar ou elaborar frases e utilizar imagens que representem essas palavras para a organização de um painel de exposição para a escola. Em Língua Inglesa, principalmente, é preciso orientar os estudantes que as palavras ou expressões encontradas fora de seu contexto de uso, distanciam-se de seus significados semânticos. Por exemplo, a palavra heel significa calcanhar. No entanto, junto à expressão backheel pass, significa ‘toque na bola com a parte posterior do pé’
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(toque de bola de calcanhar). Já, na narrativa de um jogo de futebol, a expressão backheel adquire um sentido mais amplo: Paulo Henrique Ganso, back from injury after more than a month sidelined, started the play with a nifty backheel pass to Arouca, who then found Neymar on the left side of the penalty box. (Disponível em: http://www.teclasap.com. br/?s=paulo+henrique+ganso). No cotidiano de cronistas esportivos e/ou torcedores americanos e britânicos, existem expressões como, What’s the score? Quanto tá o jogo?; I think it was a handball – Eu acho que foi bola na mão.;The striker was clear on goal – O atacante estava na cara do gol.; Corinthians now sit joint-top[fica junto na liderança]. Ressalta-se que as práticas discursivas representam muito mais do que o uso funcional da língua e estão integradas num processo de construção de sentidos, em uma abordagem discursiva de trabalho pedagógico com a língua enquanto prática social.
CONSIDERAÇÕES O objetivo deste trabalho foi permitir ao professor reflexões sobre a importância da língua inglesa no contexto mundial e o seu uso como meio de comunicação internacional, destacando o momento da Copa, em que pelo esporte tem-se a união de diversas nações. Pela leitura, entra-se em contato com as diferentes formas linguísticas e consequentemente, adquire-se a percepção de que a língua varia de acordo com as condições de uso. O estudo do léxico e das expressões idiomáticas referentes ao contexto esportivo colaboram para a compreensão dos textos, assim como estão presentes em diferentes discursos. As atividades didáticas sugeridas têm como objetivo o estudo da língua por meio dos gêneros selecionados e de seus elementos composicionais. Nesse sentido, considera-se que essas orientações possam subsidiar a prática pedagógica dos professores da rede pública de Ensino do Paraná e deem condições aos estudantes de compreender o papel da Língua Inglesa no mundo, a diversidade de discursos que os envolvem e o respeito à diversidade cultural que será vivenciada na Copa, especialmente na cidade de Curitiba, Paraná. Portanto, as atividades pensadas para esse momento não esgotam as possibilidades do trabalho pedagógico, pois considera-se que o ensino/aprendizagem de uma língua estrangeira e a aquisição do conhecimento são processos inacabados. Espera-se ainda que reflexões sobre língua, cultura, sujeito e sociedade estejam sempre presentes no cotidiano escolar.
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REFERÊNCIAS ANTUNES, I. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho. São Paulo: Parábola, 2007. BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. CRISTOVÃO, V. L. L. Modelos didáticos de gênero: uma abordagem para o ensino de língua estrangeira. Londrina: UEL, 2007. LIVE STRONG. History of football in Brazil. Disponível em: . Acesso em: 22 fev. 2013 LOPES, L. P. M., ROJO, R. H. R. Linguagens, códigos e suas tecnologias. In: PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Língua Estrangeira Moderna. Curitiba, 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino de Língua Estrangeira Moderna. Curitiba, 2008. TECLA SAP. Sua língua falando inglês. Disponível em: . Acesso em: 22 fev. 2013. WORLD CUP PORTAL. Brazilian Federal Government Website on the 2014 FIFA World Cup. Disponível em: . Acesso em: 22 fev. 2013. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA KLEIN,M. A. Futebol Brasileiro. São Paulo: Escala, 2001. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Caderno de expectativas de aprendizagem de Língua Estrangeira Moderna. Curitiba, 2012. PORTAL DA COPA. Imagem: 2014 FIFA World Cup Brazil. Disponível em:. Acesso em: 22 fev. 2013. ROJO, R. H. R.; LOPES, L.P.M. Linguagens, códigos e suas tecnologias. In: BRASIL. Ministério da Educação. Orientações Curriculares do Ensino Médio. Brasília: MEC, 2004, p. 14-59.
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SÍTIOS RECOMENDADOS Atividades e Leituras http://www.brazilian-football.com/ http://soccerlens.com/brazil-football/31195/ Informações sobre a organização Copa 2014. http://www.portal2014.org.br/en/ Léxico http://www.livestrong.com/article/347071-history-of-football-in-brazil/#ixzz2LGfXAYNQ http://www.bbc.co.uk/worldservice/learningenglish/grammar/vocabulary/football.shtml http://www.heritagehawks.org/soccer/chalktalk/lingo.htm http://www.youtube.com/watch?v=t0GESlaVNdE Jogos http://www.bbc.co.uk/worldservice/learningenglish/grammar/vocabulary/football.shtml
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ROMPENDO AS F RONT EIRAS DA V IDA
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ROMPENDO AS FRONTEIRAS DA VIDA Arlene Philippsen33 Danislei Bertoni34 Meryna Therezinha Juliano Rosa35
INTRODUÇÃO Neste texto, propomos algumas abordagens envolvendo a temática Copa. Tais abordagens temáticas podem ser encaminhadas nas aulas de Biologia, de modo a articular com conteúdos específicos selecionados a partir dos conteúdos estruturantes e básicos, explicitados nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica (PARANÁ, 2008). Essa articulação possibilita atrelar a abordagem conceitual e integrada, interdisciplinar e contextualizada dos conhecimentos sobre o futebol, com a realização da Copa no Brasil, em 2014, contribuindo para a formação da identidade nacional contemporânea dos estudantes da Educação Básica. Os temas de relação com a COPA foram selecionados a partir de materiais de divulgação e serão trabalhados com problematizações sugeridas para a prática pedagógica, assim como tornam possíveis a articulação com conceitos da disciplina de Biologia, por meio dos encaminhamentos metodológicos a serem adotados pelos docentes, considerando-se as diferentes modalidades de ensino. Ao longo do texto, junto às temáticas, propomos e sugerimos a realização de atividades em grupo. Este texto contribui para que os conhecimentos da Biologia, na contemporaneidade, rompam seus próprios limites com as fronteiras da vida, de modo a fazer do ambiente escolar e da formação dos estudantes, um momento de reflexão crítica a respeito da formação contemporânea desses estudantes e da manifestação cultural em relação ao futebol, em meio a uma sociedade informatizada, globalizada, que busca reduzir as diferenças sociais e promover a igualdade entre os cidadãos, que devem se preocupar com a sustentabilidade para o agora e para as gerações futuras.
O EVENTO
Tranquilamente, podemos afirmar que a Copa é um dos maiores eventos esportivos, na categoria masculina, envolvendo as seleções que se destacam em competições eliminatórias disputadas em seis grandes regiões do planeta: África, Ásia, América do Norte, América Central, Caribe, Europa, Oceania e América do Sul. Essas competições “eliminatórias” mobilizam bilhões de pessoas em todos os Continentes, abrangendo várias culturas. Segundo o Portal da Copa, site oficial do Governo Federal, este é um evento que “inflama paixões e, ao
Professora da Rede Estadual de Ensino – Biologia – SEED/SUED/DEB Professor da Rede Estadual de Ensino – Biologia – SEED/SUED/DEB 35 Professora da Rede Estadual de Ensino – Biologia – SEED/SUED/DEB 33 34
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mesmo tempo, reduz diferenças” (PORTAL da Copa, 2013a), já que os povos dos mais distintos países compartilham a mesma emoção, ao mesmo tempo. Essas seleções reúnem-se de quatro em quatro anos a fim de competirem em um torneio, realizado por um mês, no país anfitrião. Para o Brasil, não será novidade a realização da Copa no próximo ano, pois o país já sediou um evento desses em outro momento da história, em 1950. Outro tempo histórico implica em outro momento político, econômico e social do país e do mundo. CONSIDERAÇÕES SOBRE O ENSINO DE BIOLOGIA Para avançarmos nas discussões sobre a possibilidade de abordagem da temática COPA na disciplina de Biologia, precisamos retomar alguns pontos importantes que fundamentam o trabalho pedagógico nesta disciplina. Conforme o documento das Diretrizes Curriculares Orientadoras para a Educação Básica, a Biologia tem como objeto de estudo o fenômeno vida em toda a sua complexidade de relações (PARANÁ, 2008). O conceito vida, mesmo que em sua multiplicidade de significados, diferentemente do que pensam alguns cientistas, pode ser estudado e compreendido sob o ponto de vista da Biologia, a qual, é bom salientar, não detém o domínio do saber sobre esse fenômeno. O conceito vida pode ser pensado a partir da História e Filosofia da Ciência em quatro momentos referenciais que permitiram a interpretação dos conteúdos estruturantes Organização dos Seres Vivos, Mecanismos Biológicos, Biodiversidade e Manipulação Genética (PARANÁ, 2008). Dessa forma, partindo desses conteúdos, teremos os conteúdos básicos e específicos que oportunizam discussões sobre as grandes problemáticas da contemporaneidade, para que sejam entendidas como construções humanas. Assim sendo, compreender o fenômeno vida, a partir da disciplina de Biologia, e sua complexidade de relações, sejam estas naturais atreladas às socioculturais, significa “analisar uma ciência em transformação, cujo caráter provisório permite a reavaliação dos seus resultados e possibilita repensar, mudar conceitos e teorias elaborados em cada momento histórico, social, político, econômico e cultural” (PARANÁ, 2008, p. 61). Tanto os conteúdos estruturantes como os básicos são interdependentes e não devem ser seriados nem hierarquizados, mas sistematizados e trabalhados de modo integrado, assegurando ao professor e aos estudantes, uma visão mais complexa de nosso mundo. As Diretrizes orientam que tais relações complexas deverão ser desenvolvidas ao longo do Ensino Médio, com um aprofundamento conceitual reflexivo, disponibilizando aos estudantes as significações dos conteúdos em sua formação, neste nível de ensino. O trabalho pedagógico, nesta perspectiva, possibilita relacionar os diversos conhecimentos entre si e com outras áreas do conhecimento, propiciando reflexão constante sobre as mudanças conceituais em decorrência de questões emergentes, como por exemplo, transgênicos, célula-tronco, clonagem, nanotecnologia, sustentabilidade, questões ambientais, teorias sobre a origem da vida,os impactos da teoria da evolução das espécies e as questões envolvendo darwinismo social e racismo, questões de gênero, preconceito, produtos biotecnológicos, doping genético, entre outras.
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Além das questões que envolvem “o que ensinar” em Biologia, pesquisas recentes têm focalizado prioritariamente questões metodológicas, relativas ao “como ensinar”, e recentemente, no contexto da formação da cidadania, novas questões entram em pauta, como a preocupação com a finalidade do conhecimento. A escola, no desempenho da sua função social, precisa ser um espaço de sociabilidade que possibilite a construção e a socialização do conhecimento produzido. Trata-se de “conhecimento vivo” e que se caracteriza como processo em construção. Nesse sentido, como defende Auler (2003), a abordagem temática constitui-se no horizonte para o qual apontam os esforços empreendidos, viabilizando discussões mais amplas, não restritas somente ao campo conceitual e metodológico, possibilitando a exploração didática de temas significativos que envolvam contradições sociais que proporcionem o que denomina de renovação dos conteúdos escolares numa dimensão política. Ao utilizar a metodologia da problematização, parte-se do princípio da provocação e mobilização, na busca por conhecimentos necessários para resolver problemas. E estes problemas relacionam os conteúdos da disciplina de Biologia ao cotidiano, buscando a compreensão para atuar na sociedade de forma crítica. Sendo assim, metodologicamente, partimos dos temas sociais, para os conceitos científicos e destes retornamos aos temas abordados na problematização (SAVIANI, 1997; GASPARIN, 2002). Para dinamização metodológica das temáticas,pode-se utilizar os três momentos de organização pedagógica, sistematizados em “Ensino de Ciências: fundamentos e métodos” por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), apoiados em Paulo Freire (tema gerador) e George Snyders (tema significativo), quais sejam: (1) problematização inicial; (2) organização do conhecimento; e (3) aplicação do conhecimento. As temáticas consideradas significativas para o trabalho na disciplina de Biologia podem ser identificadas e/ou agrupadas em diferentes áreas, conforme a perspectiva em que se observa o contexto das relações científicas, sociais, tecnológicas, culturais, éticas, políticas, econômicas, entre outras, articulados com a cultura e a ideologia do futebol e a realização do evento em 2014. A BIOLOGIA E OS TEMAS DE RELAÇÃO COM A COPA Os temas de relação com a COPA apresentam-se como um conjunto de propostas de abordagens diferenciadas para o trabalho em sala de aula, na disciplina de Biologia, e caberá ao professor a organização pedagógica em relação ao Plano de Trabalho Docente. Nesse sentido, metodologicamente, o professor pode se organizar de modo a apontar os conteúdos específicos possíveis de serem trabalhados a partir de cada temática, não se limitando à compreensão deste ou daquele conteúdo básico ou específico, porém buscando a articulação, a crítica e a argumentação necessária entre eles. Em síntese, os temas de relação com a COPA possibilitam abordagem na disciplina de Biologia, em praticamente todos os conteúdos estruturantes e básicos, com mais ênfase e inter-relações entre uns e outros, dependendo da temática e do enfoque de análise.
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SUSTENTABILIDADE Além das questões políticas e econômicas envolvidas diretamente com a organização e realização da Copa, outra bandeira levantada pela Federação Internacional de Futebol Associados desde a realização do evento na África do Sul, em 2010, é a da sustentabilidade. Você certamente já deve ter ouvido falar em impacto ambiental. A legislação brasileira considera como impacto ambiental toda alteração provocada no ambiente ou em algum de seus componentes, por determinada ação ou atividade humana, ou seja, quando se constrói rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, aterros sanitários, ou se instala linha de transmissão elétrica, ou se extrai de combustível fóssil e minérios, entre outras atividades. Para os estádios de futebol a legislação não é diferente. O objetivo de se estudar os impactos ambientais é, principalmente, o de avaliar as consequências de tais ações, para que ocorra a manutenção da qualidade de determinado ambiente. Para o evento futebolístico em 2014, a Federação Internacional de Futebol Associados fala em “meta verde” quando o assunto é a construção de estádios de futebol. Considera-se uma tecnologia para a construção dos chamados “EcoEstádios” ou “EcoArenas”, como é o caso da Arena da Amazônia que, além de promover a potencialização do turismo local, iniciou o processo de especulação imobiliária na região e aumento do fluxo de pessoas e veículos no entorno, exigindo alterações no plano viário da cidade de Manaus. Quanto ao Relatório referente ao Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), nem todos os projetos pretendem apresentá-lo, como é o caso da Arena de Itaquera. Nesse caso, a Prefeitura de São Paulo isentou a apresentação do Estudo antes mesmo de conhecer o projeto (ALVES, 2011). O então Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, em Joanesburgo (África do Sul), em julho de 2010 anunciou que a Copa seria verde como as nossas florestas. Assim, a sustentabilidade ambiental passaria a ser uma prioridade e uma das marcas do evento no país. Será mesmo? Atividade 01 Com relação à liberação do “EcoEstádio” do Itaquera sem a apresentação do EIA/RIMA: 1 Na opinião do grupo, qual o motivo que levou a Prefeitura de São Paulo isentar a Arena do Itaquera de apresentar o EIA/RIMA antes mesmo de conhecer o projeto? 2 Por que o EIA/RIMA pode ser considerado uma das principais licenças necessárias para qualquer grande construção, especialmente os “EcoEstádios”? 3 Reconhecendo a importância dos estudos ambientais, a elaboração e apresentação do Estudo/Relatório, se considerarmos a não apresentação do documento a fim de acelerar a construção, é uma atitude ética e pode ser entendida no contexto da “sustentabilidade” pretendida pela Federação Internacional de Futebol Associados? 4 Se os Estudos não forem apresentados, como é possível melhorar a qualidade de vida da população, com infraestrutura, geração de renda e redução das desigualdades?
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Atividade 02 Publicado no site oficial do Governo Federal sobre o evento, infográfico produzido pelo governo do Estado do Rio de Janeiro mostra detalhes das ações de sustentabilidade na obra do Estádio Maracanã (PORTAL, 2013b). Segundo o Portal, o infográfico demonstra as práticas adotadas para reduzir o impacto da construção e preparar a Arena para captação de energia e reaproveitamento da água. Fonte:http://www.copa2014.gov.br/pt-br/noticia/infografico-mostra-acoes-de-sustentabilidade-na-obra-do-maracana
1 Qual o entendimento do grupo sobre sustentabilidade? 2 Por que as ações mencionadas no infográfico, como por exemplo, lavar as rodas dos veículos antes de sair dos canteiros, são importantes para a sustentabilidade? O que as qualifica como “ações de sustentabilidade”? 3 Na opinião do grupo, quais os impactos dessas ações para as cidades-sedes e para o País como um todo? Como tais ações refletiriam nas cidades e regiões mais distantes das sedes oficiais da Copa? 4 Como esta questão da sustentabilidade foi tratada na Lei da Copa (Lei nº 12.663)?
LEI DA COPA Na Lei nº 12.663 (BRASIL, 2012), conhecida por Lei da Copa e sancionada pela Presidência da República em junho de 2012, foram contempladas tanto a questão da redução das diferenças como a da sustentabilidade, entre outras também merecedoras de destaque. Essa Lei, além de dispor sobre medidas relativas ao evento, também acrescenta determinações sobre a Copa das Confederações 2013 e a Jornada Mundial da Juventude 2013, que serão realizadas no Brasil, assim como define a “liberdade” que a Federação Internacional de Futebol Associados terá no Brasil em todo o período de evento, considerado desde o anúncio oficial pela Federação Internacional de Futebol Associados, em 30 de outubro de 2007. A mesma Lei atribui ao Ministério do Meio Ambiente a responsabilidade da concessão do “Selo de Sustentabilidade” às empresas e entidades fornecedoras da estrutura para os eventos que apresentem programa de sustentabilidade com ações de natureza econômica, social e ambiental, conforme normas e critérios estabelecidos pelo órgão público. Quanto à “redução das diferenças”, parece que a Lei trata da questão de modo mais superficial e implícito, pois enfatiza a necessidade do poder público adotar providências visando à celebração de acordos com a Federação Internacional de Futebol Associados, para a realização de campanhas sociais nas competições. Especificamente no Art. 29, a Lei dispõe sobre a divulgação, nos eventos, de campanha com o tema social “Por um mundo sem armas, sem drogas, sem violência e sem racismo” (BRASIL, 2012), bem como a divulgação da importância do combate ao racismo no futebol e da promoção da igualdade étnica nos empregos gerados pelo evento futebolístico.
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Esse “mega” evento, de grande expressividade local, regional, nacional e mundial, já é assunto cotidiano, principalmente na mídia televisiva e na internet. Certamente será um dos assuntos mais discutidos entre as pessoas no dia a dia, nas diferentes instituições e, por que não dizer, nas praças, nas lojas e restaurantes, nas escolas e universidades, entre docentes e entre esses e os estudantes, e entre estes e seus familiares e amigos. Conforme apresentado desde o início, a temática futebol pode fazer parte das aulas de Biologia, de modo que o professor aborde em sala as situações-problemas que permitam, a partir dos conteúdos estruturantes, básicos e específicos, analisar criticamente algumas das principais questões que perpassam essa temática. Nesse sentido, a disciplina de Biologia está diretamente atrelada com as questões de sustentabilidade e de redução das diferenças sociais. Tanto em uma quanto em outra, a Biologia tem experiências históricas marcantes. O conceito de sustentabilidade é complexo e compreende um conjunto de variáveis que integram questões sociais, ambientais, econômicas e energéticas. Vários autores reconhecem a gênese das questões ambientais que compreendem parte das discussões sobre sustentabilidade, com a publicação do livro Primavera silenciosa, de Rachel Carson (1907-1964). Nesse livro, publicado em 1962, a bióloga adverte sobre questões ambientais sem precedentes, inspirando uma das bases que mobilizou a criação da Agência de Proteção Ambiental dos EUA e contribuiu para que a ciência e a tecnologia se tornassem alvo de um olhar mais crítico e objeto de debate político. Atividade 03 Um evento como um campeonato mundial traz implicações diretas na vida das pessoas, ou pelo menos para uma parcela da população que se envolve mais diretamente, outros indiretamente, outros ainda nem tanto. Considerando que num evento como esse existem implicações e relações que se estabelecem antes, durante e após a Copa, no entendimento do grupo, quais seriam as responsabilidades da Federação Internacional de Futebol Associados com o “pós Copa” no Brasil, em relação, por exemplo, à sustentabilidade?
DARWINISMO SOCIAL Outro ponto de grande importância, que resgatamos neste momento, diz respeito ao século XIX, em meio ao qual se sobressaiu uma das teorias mais influentes da história do pensamento biológico, a Teoria da Evolução das Espécies proposta por Charles Darwin (1809-1882). No livro que ficou conhecido como “A origem das espécies”, Darwin apresenta com entusiasmo e convicção suas ideias compiladas sobre a origem das espécies por meio da seleção natural ou a preservação das raças favorecidas na luta pela vida. Não obstante, tais ideias também criaram controvérsias que ultrapassaram o âmbito acadêmico, ascendendo novos debates científicos que propiciaram a disseminação rápida do legado darwiniano entre o público.
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Essa teoria, assim como as que a fundamentaram e outras decorrentes, permitiu ao pensamento científico, ainda no século XIX, um novo olhar sobre a realidade do mundo, principalmente ao mundo vivo e em especial à vida humana, sobre a qual a mesma teoria, transposta à ordem social, possibilitou explicar os problemas sociais, com a insígnia de “darwinismo social”. A Copa, após a Segunda Guerra Mundial, em intervalos regulares aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, talvez tenha sido a manifestação cultural coletiva, de grande porte, em torno de um fenômeno social que se expressa como importante elemento da cultura, o futebol, mas também como ideologização (RINALDI, 2000), que contribuiu para repensar, sob o ponto de vista contemporâneo das Ciências Biológicas, da Antropologia e das Ciências Sociais, o quanto a transposição do darwinismo à ordem social, todas as suas variações e consequências políticas, biotecnológicas, bioéticas, econômicas, interferiram nas relações sociais e culturais, em nome do bem-estar social. Atividade 04 Propomos uma pesquisa, em livros de Sociologia e em sites da internet, sobre o significado de “darwinismo social”, e que os grupos discutam as seguintes questões: 1 Qual o significado de darwinismo social? 2 Agregamos a essa tentativa de se aplicar o darwinismo para as sociedades humanas, o que Francis Galton (1822-1911) definiu como eugenia, a fim de discutir sobre o que muitos pensadores da época acreditavam: que a raça humana poderia ser melhorada caso fossem evitados o que chamou de “cruzamentos indesejáveis”. No entendimento do grupo, que relação pode ser estabelecida entre o processo de eugenia pretendida na primeira metade do século XX e as afirmações que só os melhores é que participam da Competição? 3 O significado de eugenia, portanto, está atrelado ao controle social que pode melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações. Esse pensamento culminou, por exemplo, com a noção da existência de raças humanas distintas, superiores umas às outras, como as discriminações raciais entre “brancos” e “negros” nos EUA, com a política racial da Alemanha Nazista e com o Holocausto. Sugerimos aos grupos uma pesquisa a respeito desse momento histórico, em que aconteceu uma das maiores e sangrentas guerras que ficou conhecida como Segunda Guerra Mundial. Em seguida, que possam discutir sobre o massacre do povo judeu de forma desumana e cruel. 4 De que forma o evento futebolístico contribuiu para superar as diferenças entre as consideradas “raças humanas”, principalmente com a realização da primeira Copa após a Segunda Guerra Mundial?
SOMOS IGUALMENTE DIFERENTES Em campo, dois times de futebol determinam, conforme a regra, onze jogadores que procuram seguir as orientações táticas, estratégias e planejamento de seu “professor”. No entanto, esses jogadores mantêm uma diversidade na construção e na expressão dessa identidade. Eles são “igualmente diferentes” frente a uma sociedade
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que precisa avançar na valorização da singularidade de cada indivíduo. Até porque, sob o ponto de vista da Biologia, não há raças humanas e sim diferenças culturais na espécie humana (PENA; BIRCHAL, 2005/2006). Precisamos reconhecer que a grande diversidade morfológica observada entre os “onze homens” pode ser sistematizada a partir de dois níveis distintos. Para o geneticista Sergio Pena, “o primeiro é o nível interpessoal, a diversidade que distingue uma pessoa da outra na mesma população e que está intimamente ligada à identidade individual. O segundo é o nível interpopulacional, ou seja, a diversidade morfológica que caracteriza populações, especialmente grupos de diferentes continentes” (PENA, 2006). Atividade 05 1 Será que há alguma relação dos conceitos de raça e racismo com a estrutura genética de nossa espécie? 2 De que forma podemos combater a ideia de eugenia na espécie humana? 3 Como as afirmações de Sergio Pena (2006) podem contribuir para a defesa da existência de uma única espécie humana distribuída em diferentes etnias e não de várias raças humanas? 4 Que relações podem ser estabelecidas entre os conceitos de genótipo e fenótipo, com os conceitos de nível interpessoal e nível interpopulacional propostos por Pena (2006)?
O MASCOTE: TATU-BOLA O conteúdo básico “Classificação dos seres vivos: critérios taxionômicos e filogenéticos” atrelado ao conteúdo estruturante “Organização dos Seres Vivos” possibilita abordagem sobre o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), espécie nativa do Brasil e ameaçada de extinção, escolhida como mascote do evento. A espécie em questão também pode ser estudada na perspectiva inicial da “Dinâmica dos ecossistemas: relações entre os seres vivos e interdependência com o ambiente”, conteúdo básico ligado diretamente ao conteúdo estruturante “Biodiversidade”, como uma tentativa de conhecer e compreender a diversidade biológica, de maneira a agrupar e categorizar as espécies extintas ou em vias de extinção. Tanto por uma abordagem como por outra, as relações podem ser estabelecidas com o conteúdo estruturante “Mecanismos Biológicos”. Além das questões ambientais e outras atreladas às implicações da teoria da evolução darwiniana na sociedade e aos estudos da genética, no sentido de valorizar a idéia de que não há raças humanas e sim diferenças étnicas na espécie humana, a Biologia é uma disciplina escolar que propicia a discussão sobre todos os organismos vivos, suas várias formas de organização e de funcionamento, desde o nível celular até o nível dos sistemas integrados, assim como as relações entre estes organismos e o ambiente em que vivem. Atividade 06 Em setembro de 2012, o tatu-bola foi escolhido pelo público e apresentado ao mundo como mascote da COPA.
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1 Descreva as principais características do tatu-bola? 2 Quais as razões para a escolha desse animal para ser mascote oficial da COPA? 3 Sugerimos uma pesquisa para saber se em outras Copas o mascote escolhido também foi um animal. A escolha de um animal tem a ver com a lista de animais em extinção ou ameaçadas de extinção? 4 O nome popular desse animal, nativo aqui do Brasil, é “tatu-bola-da-caatinga”. Por que esta referência “caatinga” atribuída a este animal? Está relacionado a critérios taxionômicos ou ao seu nicho?
O FUTEBOL ESTÁ NO “SANGUE” O futebol está no “sangue”! Essa frase é comum na cultura brasileira, pois além de pentacampeões, temos a felicidade do superávit na balança comercial de jogadores, exportando talentos para diversos países do mundo. É preferível pensarmos no futebol como uma manifestação cultural. No entanto, estudos apontam que “atletas de ponta” compartilham características físicas e fisiológicas que sugerem que a genética tem um papel importante, pois pesquisadores identificaram no genoma humano, variações que interferem na função cardíaca e respiratória, genes que influenciam o fluxo sanguíneo, genes que afetam a estrutura muscular e o gene da enzima conversora de angiotensina (PENA, 2010). Mesmo assim, não é uma questão determinista da genética e tão somente um processo cultural. Segundo o geneticista Sérgio Pena (2010) “vale lembrar que as principais estrelas do basquetebol americano na atualidade são afro-americanos, mas no início do século 20 eles eram, em sua maioria, brancos judeus”. Então, embora humanos como nós, Messi, Neymar e Marta são capazes de ações quase divinas, não é mesmo? Atividade 07 1 Na opinião do grupo, por que o Brasil é o país do futebol? 2 Será que o sucesso do jogador, sua habilidade e técnica com a bola é um dom do brasileiro? 3 Com base na leitura do texto de Sérgio Pena (2010), podemos afirmar que o talento para o futebol está no DNA desses jogadores? 4 A questão do “dom” para jogar bola está relacionada com a transmissão das características hereditárias próprias para ser jogador de futebol?
PELÉ, O SUPERATLETA DO SÉCULO Em qualquer vídeo que assistirmos sobre o Pelé, considerado o superatleta do século, certamente um gênio do futebol, podemos observar sua fantástica habilidade física, velocidade explosiva, excepcional coordenação psicomotora, talento de perceber a jogada em frações de segundos e reagir apropriadamente, grande resistência física e uma fantástica capacidade de se manter sadio, apesar de uma infinidade de agressões físicas.
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Parece que tudo isso tem raízes complexas, tanto genéticas quanto ambientais, e quando o assunto é “grandes atletas”, vale o que afirma Sergio Pena (2010) sobre o que dizia Shakespeare: “[...] alguns [atletas] nascem grandes, alguns conseguem grandeza, e alguns têm a grandeza lançada sobre eles”. Até que ponto as combinações dos polimorfismos genéticos de alta performance, influenciam a capacidade física dos atletas. A busca pela alta performance, pela melhora no desempenho e pelo alto rendimento, levam atletas das várias modalidades a se beneficiarem de tecnologias modernas empregadas no desenvolvimento de calçados, bolas, roupas e outros equipamentos esportivos, além de agregarem produtos biotecnológicos provenientes da manipulação genética, visando ao aumento ou à diminuição da produção de determinadas substâncias pelo corpo humano. O procedimento de terapia gênica, por exemplo, pode ser considerado doping genético quando utilizado com resultados promissores no tratamento de lesões e de algumas doenças como as cardiovasculares, quando este procedimento for antecedido pela transferência de genes com objetivo de melhora no desempenho esportivo por atletas saudáveis. Como diz o pesquisador Francisco de Aquino Neto, “não cabe apelar para o ‘livre arbítrio’ para justificar a prática de doping. A pressão familiar, social e econômica sobre o atleta (isso sem contar com a inconstância e força da mídia) o transforma em um instrumento da vontade alheia, retirando sua capacidade de discernir onde se situam os limites éticos, morais e de segurança de seu comportamento” (2001, p. 138-139). Atividade 08 1 Na opinião do grupo, o que leva um jogador de futebol a exceder seus próprios limites? 2 Os limites de um atleta podem ser considerados físicos e fisiológicos, sociais e culturais. O que pensa o grupo a respeito dos limites bioéticos? 3 Sugerimos que o grupo pesquise em sites da internet sobre o significado de “polimorfismos genéticos de alta performance” e discutam a relação da genética com o futebol na atualidade. Atividade 09 1 Como pode ser definido o doping? 2 Com base no texto do professor Jair Garcia Junior (2013), do Curso de Educação Física da Unoeste, em que situações ou por qual motivo os atletas fazem uso do doping? 3 Em relação à definição proposta na questão 1, como definir o “doping genético”? 4 Conforme diz o pesquisador Francisco Neto (AQUINO NETO, 2001), por que numa situação de doping genético o atleta passa a ser visto como “instrumento de vontade alheia”? O que impede ele de tomar suas próprias decisões em aceitar ou não se submeter ao doping genético?
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OS LIMITES DO CORAÇÃO Dentre os limites fisiológicos de um atleta, destacamos os limites do coração. Especialistas em medicina do esporte estudam causas de morte súbita no futebol. Alguns casos são bem conhecidos, por sua repercussão pela mídia. Segundo pesquisadores do Centro de Medicina da Atividade Física e do Esporte, da Universidade Federal de São Paulo, em casos de problemas cardíacos congênitos como a cardiomiopatia hipertrófica, como o que fez o coração do jogador Serginho do São Caetano parar, em 2004, os exercícios físicos e esportes de alto rendimento podem aumentar a chance de o indivíduo ter morte súbita (BARROS; ANGELI; BARROS, 2005). Um caso de sucesso é do jogador Washington que, em 2003, teve um ataque cardíaco, se recuperou e joga futebol até os dias atuais. É bom deixar bem claro que o esporte não mata. O que mata são doenças que não foram diagnosticadas no atleta, ou doenças não tratadas, ou mesmo o uso e abuso de drogas. Em todos os casos, o melhor mesmo é o diagnóstico médico e a prevenção. Atividade 10 1 O que sabemos, pela mídia, é que o jogador Serginho, do São Caetano, foi alertado pelos médicos a diminuir a intensidade de atividade física. Como o grupo entende essa relação entre a importância e a necessidade de atividade física, diante da recomendação e exigência médica para uma atividade moderada? Como fica a frase “quanto mais atividade física, melhor para o organismo”? 2 Pesquisas têm mostrado que, em relação ao futebol, 1/3 das mortes é provocado por doenças cardíacas; 70% das vítimas do coração sofrem o acúmulo de placas de gordura indetectáveis nos exames comuns; as chances de ter um problema cardíaco durante atividade física são 4 vezes maiores do que em descanso; 1 em cada 300 mil atletas com menos de 35 anos tem morte súbita; ter uma doença cardíaca não diagnosticada aumenta em 100 vezes o risco de sofrer morte súbita; e 8% dos atletas profissionais no Brasil têm algum problema cardíaco. Na opinião do grupo, por que essas pesquisas são pouco divulgadas nos programas esportivos? 3 Em grupo, sugerimos uma pesquisa sobre outros casos semelhantes ao do jogador Serginho, que ocorreram no futebol e em outras modalidades esportivas. 4 A morte súbita cardíaca em atletas não é um fato novo e nem isolado. Historicamente, ela atinge principalmente atletas jovens, tendo como maior incidência a cardiomiopatia hipertrófica. Quais as principais características dessa doença? Por que ela está mais relacionada com atletas jovens? FUTEBOL: UMA QUESTÃO DE GÊNERO? Até aqui, tudo que comentamos a respeito da temática se refere à modalidade masculina. Porém, quando destacamos o gênero, logo pensamos na relação de gênero constituída por homens e mulheres. Como afirmam os pesquisadores Alessandro Soares da Silva e Renato Barboza (2005), da PUC de São Paulo, essa relação se estabelece,
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num primeiro momento, pelas diferenças biológicas, mediante as quais, geralmente, são constituídas as desigualdades que tornam a mulher vulnerável à exclusão social. Nesse percurso, já é sabido que a exclusão que atinge a mulher se dá de diversas formas; ela se dá num espectro amplo que pode ir desde o espaço do trabalho, passando pelas questões de classe social, até questões referentes à cultura, à etnia ou idade. Com relação ao futebol, as coisas não são muito diferentes. A Copa do Mundo no Brasil em 2014, refere-se a um campeonato a ser jogado exclusivamente por homens. A questão é complexa, e vários elementos precisam ser estudados para que se compreendam bem os mecanismos da dominação masculina e da exclusão social. Em primeiro lugar, precisamos compreender que o conceito de gênero foi criado para distinguir a dimensão biológica da dimensão social do ser humano, baseando-se no fato “natural” de que há machos e fêmeas compondo essa espécie. No entanto, a maneira de ser homem e de ser mulher é uma questão cultural. Assim, de acordo com os autores do livro “Gênero e diversidade na escola” (BRASIL, 2009), gênero significa que homens e mulheres são produtos da realidade social e não decorrência da anatomia de seus corpos. Afirmam os autores que “as questões de gênero refletem o modo como diferentes povos, em diversos períodos históricos, classificam as atividades de trabalho na esfera pública e privada, de acordo com os atributos pessoais e os encargos destinados a homens e a mulheres no campo da religião, da política, do lazer, da educação, dos cuidados com saúde, da sexualidade, etc.” (2009, p. 41). Mais do que pensarmos se o futebol é para homens ou mulheres, temos que ampliar nossa visão de mundo e lutarmos contra todo tipo de preconceito de gênero e também, de relação étnico-racial. Segundo a pesquisadora Surrada DarIdo, a sociedade brasileira carrega uma marca autoritária, marcada por relações sociais hierarquizadas e por privilégios que reproduzem um altíssimo nível de desigualdade, exclusão e injustiça (DARIDO, 2002). Na medida em que boa parte da população não tem acesso a condições dignas de vida, encontra-se excluída da plena participação nas decisões que determinam os rumos da vida social. Mas, o futebol é para todos!
CONSIDERAÇÕES Com este texto, apresentamos diferentes possibilidades de abordagens de temas de relação com a COPA nas aulas de Biologia. Esses temas, frente às limitações impostas historicamente pela grande dificuldade de explicar e ao mesmo tempo compreender o fenômeno vida em toda a sua complexidade de relações, de conceituar o que é vida, possibilitam ampliar as perspectivas e visões de mundo, de modo que se rompem as fronteiras da vida, dos aspectos naturais aos históricos e socioculturais. Assim, discussões que envolvem raças humanas, darwinismo social, sustentabilidade e gerações futuras, espécies nativas ameaçadas de extinção, questões de gênero e diversidade, limites funcionais do organismo humano, a genética dos grandes atletas, passam a contemplar as aulas de Biologia. Além desses, outros temas podem ser elencados pelos docentes e abordados nas aulas.
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A questão é procurar meios de romper os limites conceituais do objeto de estudo, o fenômeno vida, e pensálo nas relações interdisciplinares e contextuais, de modo que os estudantes compreendam a emaranhada trama de relações existentes e se apropriem de uma leitura mais crítica do mundo contemporâneo.
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O SAGRADO NO ENSINO RELIGIOSO E O E V ENTO F UT EBOLÍST ICO MUNDIAL
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O SAGRADO NO ENSINO RELIGIOSO E O EVENTO FUTEBOLÍSTICO MUNDIAL Carolina do Rocio Nizer36 Elói Corrêa dos Santos37 Valmir Biaca38
INTRODUÇÃO Tanto os esportes como as religiões podem ser consideradas partes integrantes das sociedades e de sua cultura. Partindo desse enfoque, neste capítulo, pretende-se apontar as possíveis relações entre os conteúdos e objetivos do Ensino Religioso escolar, que busca promover aos estudantes aulas voltadas ao conhecimento sobre a diversidade cultural e religiosa do Brasil e que em suas nuances possui elementos comparativos com o tema. No primeiro momento, apresentam-se, em linhas gerais, o objeto de estudo e os conteúdos da disciplina de Ensino Religioso definidos pelas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Pública Estadual do Paraná (DCE de Ensino Religioso) da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, e no segundo momento, apresentam-se as possíveis relações do esporte, em específico o futebol, com as manifestações do Sagrado presentes em seus símbolos, suas festas e seus rituais, além de refletir sobre a intolerância que acontece tanto com as tradições religiosas como com o esporte. Um dos grandes desafios da disciplina de Ensino Religioso é efetivar uma prática de ensino voltada para a superação de todas as formas de preconceito, como desprender-se do seu histórico confessional catequético, para a construção e consolidação do respeito à diversidade cultural e religiosa (PARANÁ, 2008, p. 45). Nessa perspectiva, a Secretaria de Estado da Educação elaborou um documento orientador denominado DCE de Ensino Religioso, que define como objeto de estudo o Sagrado, pois o mesmo manifesta-se nas diferentes tradições religiosas. Um dos referenciais teóricos da DCE de Ensino Religioso é o historiador das religiões e filósofo Mircea Eliade, autor da obra O Sagrado e o Profano, um dos livros mais importantes da ciência da religião no que diz respeito ao conceito de Sagrado. Para ele: o Sagrado é uma experiência denominada de hierofania, ou seja, a manifestação de algo “diferente” – de uma realidade que não pertence ao nosso mundo – em objetos que fazem parte integrante do nosso mundo “natural”, “profano” (ELIADE, 2001, p. 17). Assim, o sagrado é uma manifestação fenomênica material e passível de estudo, e que está presente em todas as formas de crenças e tradições religiosas. Portanto, este objeto de estudo contribui para a escolarização do Ensino Religioso como área de conhecimento. Para a compreensão do objeto de estudo da disciplina nos ambientes escolares foi definido três conteúdos basilares, conhecidos como conteúdos estruturantes: Paisagem Religiosa, Universo Simbólico Religioso e Texto Sagrado, que não devem ser entendidos isoladamente, uma vez que estão totalmente relacionados com objeto de estudo da disciplina. Essa divisão é meramente pedagógica, pois os três conteúdos estruturantes se relacionam.
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Professora da Rede Estadual de Ensino - Ensino Religioso - SEED/SUED/DEB Professor Ensino Religioso ASSINTEC 38 Professor Ensino Religioso ASSINTEC 37
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A partir dos conteúdos estruturantes foram definidos oito conteúdos básicos da disciplina: Organizações Religiosas, Lugares Sagrados, Textos Sagrados Orais ou Escritos, Símbolos Religiosos, Temporalidade Sagrada, Festas Religiosas, Ritos, Vida e Morte. Mas para o trabalho com o tema COPA, os conteúdos que mais se relacionam com a temática são: Símbolos, Festas Religiosas e Ritos. SUGESTÕES Os símbolos religiosos são linguagens que expressam sentidos, comunicam e exercem papel relevante para a vida imaginativa e para a constituição das diferentes religiões no mundo. Nesse contexto, o símbolo é definido como qualquer coisa que veicule uma concepção; pode ser uma palavra, um som, um gesto, um ritual, cores, entre outros (PARANÁ, 2008, p. 63). A seguir, apontamos possíveis relações do conteúdo básico Símbolos Religiosos com o evento futebolístico: • o símbolo pátrio e o religioso; • as expressões simbólicas das vestimentas dos países; • os sinais que possuem conotação religiosa; • as bandeiras e estandartes como símbolos sagrados. Figura 1 – Religiosidade Islâmica
Fonte: SEED/SUED/DITEC
Outro conteúdo básico em que podemos relacionar o Ensino Religioso com a COPA 2014 são as festas religiosas. Essas festas são eventos organizados pelos diferentes grupos religiosos, com objetivo de atualizar um acontecimento primordial: confraternização, rememoração dos símbolos, períodos ou datas importantes (PARANÁ, 2008, p. 64). Exemplos a serem apontados em relação à competição:
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• pode-se comparar as festas religiosas com eventos esportivos que marcam datas importantes, como aniversário de fundação, morte de um líder ou dirigente; • na Grécia Antiga, as festas religiosas eram acompanhadas de competições esportivas e culturais. Um exemplo eram as Olimpíadas, que objetivava a obtenção de benefícios e proteção dos deuses; • Kemari, o futebol japonês praticado em santuários Xitoístas, com a intenção de desejar paz e prosperidade. Por fim, o conteúdo básico Ritos pode ser compreendido como a recapitulação de um acontecimento sagrado anterior e serve à memória e à preservação da identidade de diferentes tradições e manifestações religiosas (PARANÁ, 2008, p. 64). Exemplos relacionados com a competição: • analisar rituais como: execução dos hinos antes da partida e sua relação com seu caráter sagrado; • os papéis e as funções que cada um representa num evento esportivo. O futebol mundial é marcado por um forte vínculo com o universo religioso nas expressões das torcidas e dos jogadores quando muitas vezes busca-se em gestos de conotações religiosas um estímulo para facilitar o seu desempenho na partida, agradecimento ou atos de homenagem, como por exemplo: um minuto de silêncio no campo de futebol em respeito a um fato marcante, como a morte de alguém importante, gestos ritualísticos dos atletas que expressam sua crença e muitas vezes pedem proteção ou auxílio, a reverência que se tem pela bandeira do País como símbolo sagrado de patriotismo. Figura 2 – Momento religioso
Fonte: SEED/SUED/DITEC
Por outro lado, a Federação Internacional de Futebol Associados (FIFA) tem alertado as equipes para que o momento esportivo não se torne um ato político-religioso por meio de exageradas expressões de fé. A FIFA afirma que não se opõem na inclusão de religiosos na comitiva esportiva, mas veda todas as formas de promoção de qualquer tradição religiosa.
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Um aspecto importante que podemos estabelecer na relação entre o evento futebolístico e a proposta do Ensino Religioso nas escolas públicas do Paraná é a questão da intolerância religiosa e a violência entre torcidas, pois ambas são preocupações sociais, uma vez que as atitudes provocadas pela intolerância religiosa, pela discriminação causada por crenças e religiões, assim como agressões e mortes causadas por torcidas de futebol, devem ser repudiadas. CONSIDERAÇÕES Neste sentido, a formação de cidadãos participativos e conscientes de que o bem comum é mais importante do que as preferências pessoais devem ser fomentadas por meio da educação. Tanto nos eventos como no Ensino Religioso, o plano de fundo é a integração entre culturas, países e religiões, e não se trata apenas de competição ou de minorias e maiorias, mas sim da capacidade humana de convivência coletiva e do respeito à diversidade de qualquer natureza, seja ela religiosa ou étnica, de nacionalidade ou de cor, ou ainda, da preferência por determinado time. Essa competição se apresenta como uma ótima oportunidade para refletirmos, nos ambientes escolares, sobre as questões levantadas neste capítulo e nos mobilizarmos em favor do respeito, da tolerância, do conhecimento e da superação de toda forma de violência causada pela incompreensão da diversidade religiosa e cultural e do direito de todo cidadão torcer ou não para seu time de futebol ou para a seleção nacional. REFERÊNCIAS ELIADE, M. O sagrado e o profano. São Paulo: Martins Fontes, 1992. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica para a Rede Estadual do Ensino Religioso. Curitiba, 2008. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA DA OLIO, Jocimar. Futebol, cultura e sociedade. Campinas: Autores Associados, 2005. FONSECA, A. O futebol foi inventado na Inglaterra. Disponível em: Acesso em: 22 jun. 2012. MACHADO, Raoni Perrucci Toledo. Esporte e religião no imaginário da Grécia Antiga. 2006. Dissertação (Mestrado em Pedagogia do Movimento Humano) - Escola de Educação Física e Esporte, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em: . Acesso em: 25 jun. 2012. PATIAS, J. C. O sagrado e o profano: do rito religioso ao espetáculo midiático.In: SEMINÁRIO COMUNICAÇÃO NA SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, 2. , 5 - 6 out. 2007, São Paulo. Anais. Disponível em: . Acesso em: 21 jun. 2012. VICENTE, M. X.O futebol é sagrado. Caderno Viver Bem da Gazeta do Povo. Disponível em: Acesso: 22 jun. 2012.
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O T RIPLO DESAF IO
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O TRIPLO DESAFIO Danislei Bertoni39 Eliane Alves Bernardi Benatto40 Giselle Nicareta41 Ronival José Tonon42
INTRODUÇÃO As atividades problematizadoras propostas ao longo deste texto encontram-se atreladas com a temática sobre o maior evento futebolístico e possibilitam aos professores encaminharem discussões nas aulas de Ciências, de modo a articularem conteúdos específicos, selecionados a partir dos conteúdos estruturantes e básicos, explicitados nas Diretrizes Curriculares Orientadoras da Educação Básica (PARANÁ, 2008). Pretendemos, com estas atividades, a articulação entre a abordagem conceitual e os temas de relação com a competição enfatizando as discussões a respeito das relações a serem estabelecidas entre a ciência e a tecnologia e as interferências e consequências dessas atividades humanas sobre a sociedade. Nessa perspectiva, as situações-problema representam algumas possibilidades de articulação entre a disciplina de Ciências, o futebol e a realização do Campeonato, no Brasil, em 2014, contribuindo para a formação de sujeitos críticos no que diz respeito ao desenvolvimento científico, tecnológico, econômico, político, e à melhoria da qualidade de vida de parte da população brasileira antes, durante e depois da realização desse “mega” evento. Os temas relacionados ao evento foram selecionados a partir de materiais de divulgação e constituem problematizações sugeridas para o trabalho pedagógico. Essas abordagens tornam possíveis a articulação e a integração de conceitos necessários à compreensão e significado de conteúdos básicos da disciplina de Ciências, por meio dos encaminhamentos metodológicos a serem adotados pelos professores, conforme orientações contidas nas Diretrizes (PARANÁ, 2008). O ENSINO DE CIÊNCIAS E UM TRIPLO DESAFIO O ensino de Ciências tem mudado bastante desde a inserção e consolidação da disciplina de Ciências no currículo das escolas brasileiras (PARANÁ, 2008). Pesquisas atuais sobre o ensino de Ciências evidenciam mudanças de direcionamento em vários aspectos (SANTOS; MORTIMER, 2002; AULER, 2003; NARDI, 2007), dentre elas as relativas à metodologia de ensino, com destaque para os fundamentos e métodos que organizam práticas pedagógicas não tradicionais e desafiadoras, por meio de uma abordagem temática dos conteúdos, diferenciando-se das demais por sua origem histórica, ao privilegiar a realidade social e a mudança de consciência política (DELIZOICOV; ANGOTTI; PERNAMBUCO, 2002). Para dinamização metodológica das temáticas pode-se utilizar os três momentos de organização pedagógica, sistematizados em “Ensino de Ciências: fundamentos e métodos” por Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), apoiados
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Professor da Rede de Ensino - Ciências - SEED/SUED/DEB Professora da Rede de Ensino - Ciências - SEED/SUED/DEB 41 Professora da Rede de Ensino - Ciências - SEED/SUED/DEB 42 Professor da Rede de Ensino - Ciências - SEED/SUED/DEB 39 40
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em Paulo Freire (tema gerador) e George Snyders (tema significativo), quais sejam: (1) problematização inicial; (2) organização do conhecimento; e (3) aplicação do conhecimento. Nas últimas décadas, diversas perspectivas metodológicas foram analisadas, revisadas ou abandonadas, assim como outras foram colocadas em prática. Tais mudanças são decorrentes do modo contemporâneo de produção do conhecimento científico e tecnológico, bem como dos interesses políticos que definem a organização dessa disciplina escolar. Tais mudanças implicam em um constante repensar para além das questões que envolvem a seleção de conteúdos e encaminhamentos metodológicos, evidenciando a necessidade de agregar ao contexto do ensino de Ciências, aspectos atrelados à formação de cidadãos letrados, instrumentalizados para uma leitura crítica do mundo contemporâneo, bem como capazes de agir sobre a sua própria realidade. Em síntese, Desde que foi inserida no currículo escolar, a disciplina de Ciências passou por muitas alterações em seus fundamentos teórico-metodológicos e na seleção dos conteúdos de ensino. Isso ocorreu em função dos diferentes interesses econômicos, políticos e sociais sobre a escola básica e dos avanços na produção do conhecimento científico. Contudo, essa disciplina sempre contribuiu para superar a banalização do conhecimento que se alicerça, muitas vezes, na consolidação de conceitos equivocados, socialmente validados e tomados como um saber “científico”. (PARANÁ, 2008, p. 64)
Diante dessa realidade de superação da banalização do conhecimento científico, os professores Sandro Santos, Carlos Stange e Julio Trevas (2005) destacam a necessidade de uma abordagem integradora na disciplina de Ciências, possibilitando ampliar as relações conceituais, interdisciplinares e contextuais (PARANÁ, 2008) a fim de que os estudantes se apropriem de conhecimentos que sejam significativos e estabeleçam essas relações em sua vida cotidiana. Enfatizamos, como Paulo Freire em Pedagogia do oprimido (2011), a necessidade da superação da “cultura do silêncio”, da simples transmissão-recepção irrefletida da cultura, pois modelos de sociedade materializam, no ensino, os interesses e características de sociedades ou de grupos sociais hegemônicos. E isso implica que o estudante tenha uma melhor compreensão e atuação na sociedade contemporânea. Deste modo, torna-se necessário o trabalho pedagógico do professor com temas relacionados ao Campeonato, em que o ensino de Ciências esteja atrelado, em um caminho dialógico, no contexto contemporâneo do estudante, para discussões mais amplas, não restritas somente ao trato dos conteúdos por fim neles mesmos. Ainda, A relação contextual pode ser um ponto de partida, de modo a abordar o conteúdo mais próximo à realidade do estudante para uma posterior abordagem abstrata e específica. A relação contextual pode, também, ser o ponto de chegada caso o professor opte por iniciar a sua prática com conteúdos mais abstratos e reflexivos (PARANÁ, 2008, p. 74).
Em Auler (2003), observamos a explicitação de que sem a compreensão do papel social do ensino de Ciências pode-se incorrer ao erro de haver apenas uma “maquiagem” do currículo ao se incluir “pitadas” de aplicação das ciências à sociedade. E, ao se realizar o trabalho pedagógico envolvendo a temática, esta compreensão deve estar
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presente tanto no momento de se realizar a(s) opção(ões) do(s) tema(as) ligado(s) a esse “mega” evento, como na hora de se estabelecer as relações possíveis deste(s) com o conteúdo científico disciplinar. A proposta consiste em apresentarmos algumas sugestões de situações-problema que venham a contribuir com a prática pedagógica dos professores de Ciências na abordagem de conteúdos específicos que estejam atrelados ao tema, a fim de que os estudantes possam compreender situações ligadas à vida cotidiana do mundo contemporâneo (SANTOS; MORTIMER, 2002). As situações-problema propostas abrem um leque de possibilidades de discussões que se aproximam e permitem articulações diversas, bem como permitem aos professores a elaboração de outras situações-problema que assegurem tais discussões com o tema sobre o maior evento futebolístico. Segundo Santos e Mortimer (2002), considerando as interações entre ciência, tecnologia e sociedade, os conceitos são sempre abordados em uma perspectiva relacional, de maneira a evidenciar as diferentes dimensões do conhecimento estudado, sobretudo as interações. Há diferentes aspectos de abordagem: • efeito da ciência sobre a tecnologia: a produção de novos conhecimentos tem estimulado mudanças tecnológicas. • efeito da tecnologia sobre a sociedade: a tecnologia disponível a um grupo humano influencia sobremaneira o estilo de vida desse grupo. • efeito da sociedade sobre a ciência: por meio de investimentos e outras pressões, uma parcela da sociedade influencia a direção da pesquisa científica. • efeito da ciência sobre a sociedade: o desenvolvimento de teorias científicas pode influenciar a maneira como as pessoas pensam sobre si próprias e sobre problemas e soluções. • efeito da sociedade sobre a tecnologia: pressões públicas e privadas podem influenciar a direção em que os problemas são resolvidos e, em consequência, promover mudanças tecnológicas. • efeito da tecnologia sobre a ciência: a disponibilidade dos recursos tecnológicos limitará ou ampliará os progressos científicos. Nesse mesmo caminho, da abordagem relacional e integrada, após análise de livros didáticos de Biologia, o professor Antonio Carlos Amorim (1998) destaca quatro possibilidades básicas de relação entre ciência e tecnologia, sem caráter de superioridade hierárquica ou de verdade de uma sobre a outra: • Ciência precede tecnologia (tecnologia como aplicação da ciência). • Ciência e tecnologia como atividades humanas independentes. • Tecnologia precede ciência (visão materialista). • Tecnologia e ciência, interdependentes (se engajam em interações de mão dupla). Podemos ter esse mesmo parâmetro de Amorim (1998) ao analisarmos conteúdos de livros didáticos e outros materiais a serem didatizados para a sala de aula, como as reportagens dos meios de divulgação. Como no contexto do “espírito científico” proposto por Gaston Bachelard (1884-1962) e claramente abordado nas Diretrizes (PARANÁ, 2008), este é o desafio que propomos: as temáticas sugeridas e outras advindas das sistematizações elaboradas pelos professores serem analisadas considerando as relações entre ciência, tecnologia e sociedade; e que estas temáticas permitam relações conceituais e interdisciplinares, articuladas a uma abordagem
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temática, a fim de superarmos uma postura pedagógica centrada no processo ensino-aprendizagem de conceitos descontextualizados e atemporais, propiciando o trabalho pedagógico com conteúdos científicos escolares numa dimensão crítica. JOGAR FUTEBOL É IGUAL EM QUALQUER LUGAR? Quando pensamos em um jogo de futebol lembramos os elementos que o compõe, como as condições do gramado, os jogadores, o juiz e seus auxiliares, a torcida, a transmissão ao vivo, e muitas vezes há um importante elemento a ser considerado: a altitude. Mas em relação ao futebol, por que a altitude é tão importante? De acordo com Caroline Buss (2010), “quando o atleta ascende a uma grande altitude, ele é exposto a uma pressão barométrica reduzida, e os efeitos fisiológicos que acompanham essas mudanças da pressão atmosférica podem ter grande influência sobre o seu organismo e seu desempenho físico”. Conforme a autora, a combinação de vários efeitos, como a diminuição do apetite, mal-estar e náusea, levam a uma perda de massa corporal e prejudicam o jogador quando ele está em grandes altitudes. Do mesmo modo, Haake e Choppin (2013) afirmam que em campos acima de 1700 metros de altitude, os jogos podem ser influenciados, pois os envolvidos sofrem a ação de fatores como aceleração dos batimentos cardíacos, falta de ar e vigor reduzido do organismo. Isso aconteceu em alguns estádios de futebol no evento na África do Sul, em 2010. E aqui no Brasil? Será que os jogos serão influenciados pela altitude ao considerarmos a localidade de cada estádio de futebol e a origem geográfica dos times que farão os jogos nessas localidades? Como sugestão, elaborar um quadro com os locais dos jogos, a altitude das cidades e os locais de origem geográfica dos times que jogarão em cada EcoEstádio, estabelecendo uma relação entre suas localidades de origem e a altitude de cada cidade de destino.
O QUE TORNA A BOLA DE FUTEBOL RESISTENTE? Você já deve ter ouvido a expressão popular “capotão”. Essa expressão foi muito utilizada para caracterizar o tipo de material usado para confeccionar a bola de futebol. Dizia-se “bola de capotão”. Assim como os materiais utilizados para a confecção das bolas, os demais objetos como camiseta, rede, chuteira ganharam adereços tecnológicos com o passar do tempo. Os chamados materiais sintéticos, ou polímeros, são utilizados para a confecção desses objetos. As bolas de futebol já não são mais fabricadas em couro, mas de uma mistura de termoplásticos e poliéster, com as vantagens de tornarem-se mais leves, resistentes e duráveis. As redes do gol, por exemplo, agora são confeccionadas em nylon, um polímero sintético muito resistente (NUNES, 2013). Já pensou em uma camiseta que retém a incidência de raios ultravioletas, fabricada com um tecido antibacteriano que diminui a proliferação de bactérias que geram o mau cheiro?
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Sugerimos elaborar uma linha do tempo situando modificações tecnológicas realizadas em determinado período, explicando as tecnologias ou o tipo de material utilizado naquele momento histórico.
“JET LAG”? Além da altitude e das condições do tempo, os diferentes fusos horários podem interferir no desempenho dos atletas e, consequentemente, nas condições do jogo. No futebol, quando as competições implicam em viagens transmeridionais com rápida travessia entre fusos horários, pode ocorrer o aparecimento da síndrome conhecida por jet lag (descompensação horária), ou síndrome da mudança de fuso horário (AMARAL, 2003). Essa síndrome pode influenciar o nível de performance competitiva, a quantidade de treinos e o aumento do risco de lesões. Além disso, pode ser entendida no âmbito da intensidade, pois pode variar de acordo com o número de fusos horários cruzados, a direção da viagem, a idade do atleta, o biotipo, entre outros fatores (AMARAL, 2003). Segundo Amaral (2003, p. 1), uma viagem com uma mudança de pelo menos três horas no fuso horário é suficiente para que alguns futebolistas experimentem a síndrome, que pode ser classificada mediante a sua duração em aguda (sete dias ou menos), subaguda (de sete dias e três meses), e crônica (mais de três meses). O autor sintetiza o significado da síndrome da seguinte maneira: A SJL surge como consequência do rápido atravessamento de fusos horários, situação que acontece nas viagens transmeridionais realizadas de avião. Esta síndrome não ocorre nas viagens por via terrestre ou marítima porque estas são mais demoradas, o que permite ao organismo uma progressiva adaptação durante a viagem (AMARAL, 2003, p. 1).
As diferenças de fusos horários, além das alterações no organismo devido às viagens, também passam a ser um problema quanto à transmissão ao vivo dos jogos. Assim como para nós, durante o evento futebolístico do Japão/ Coréia do Sul, para os asiáticos também será difícil assistir os jogos que aqui no Brasil serão transmitidos às 2 ou às 4 horas da tarde, por exemplo. Sugerimos a formação de grupos para discutirem a afirmação acima, referente às diferenças de fusos horários e a transmissão ao vivo dos jogos.
O MAIS FANTÁSTICO GOL QUE PELÉ NÃO FEZ! O ocorrido foi muito bem descrito por Nelson Rodrigues, importante escritor brasileiro, ao escrever que
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Por um momento, ninguém entendeu. Por que Pelé não passou? Por que atirava de tão espantosa distância? E o goleiro custou a perceber que era ele a vítima. Seu horror teve qualquer coisa de cômico. Pôs-se a correr, em pânico. De vez em quando, parava e olhava. Lá vinha a bola. Parecia uma cena dos Três Patetas. E, por um fio, não entra o mais fantástico gol de todas as Copas passadas, presentes e futuras. Os tchecos parados, os brasileiros parados, os mexicanos parados — viram a bola tirar o maior fino da trave. Foi um cínico e deslavado milagre não ter se consumado esse gol tão merecido. Aquele foi, sim, um momento de eternidade do futebol (AGUIAR; RUBINI, 2004, p. 301).
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O desfecho da jogada teve interferência da aerodinâmica da bola em um fenômeno conhecido na mecânica dos fluídos por “crise do arrasto”, um dos responsáveis pela direção da bola. Além desse fenômeno, “outro fenômeno aerodinâmico importante para a compreensão da jogada é o efeito Magnus, causado pela rotação da bola. Nossa análise da trajetória mostra que Pelé aumentou significativamente o alcance da bola chutando-a com efeito” (AGUIAR; RUBINI, 2004, p. 297). Mas, será que podemos mesmo atribuir às leis da aerodinâmica o fato de Pelé não ter feito o gol? Bom, de uma coisa estamos certos, Pelé merecia ter marcado esse gol, não é verdade? Como sugestão, o professor pode organizar os estudantes numa atividade de pesquisa em diferentes fontes bibliográficas sobre os conceitos de “crise de arrasto” e “efeito Magnus”, na tentativa de compreenderem a aplicação desses conceitos aerodinâmicos em outras situações do cotidiano.
OPA! BOLA COM CHIP! Segundo Morais e Barreto (2008), há um debate latente entre treinadores, jornalistas e pessoas ligadas a associações futebolísticas, que se dividem entre os que defendem e os que rejeitam a adoção de tecnologias para dirimir dúvidas em lances cruciais que podem decidir o resultado de uma partida ou de um campeonato. Os autores complementam que “por um lado, podemos identificar um crescente número de jogadores, técnicos, jornalistas esportivos, etc., favoráveis ao uso de artefatos tecnológicos que possam auxiliar na tomada de decisão dos árbitros em quaisquer casos; por outro, há um número talvez menor de pessoas, dentro do futebol, que são contra, total ou parcialmente, o uso de tais artefatos” (MORAIS; BARRETO, 2008, p. 1). Bola com chip e outras tecnologias podem mudar os rumos do futebol, pois podem impedir erros de arbitragem. Se depender da Federação Internacional de Futebol Associados e das decisões do então presidente da entidade, Joseph Blatter, o evento no Brasil terá bola com chip. No entanto, antes do evento da África do Sul, em 2010, ele não pensava dessa maneira. Talvez, o que tenha mudado a opinião dele tenha sido o que também testemunhamos na partida entre Inglaterra e Alemanha. Na ocasião, o chute do meio campista Lampard atravessou completamente a linha do gol, mas o árbitro não validou. Na partida entre Argentina e México, curiosamente, os telões do estádio exibiram o lance em que o atacante argentino completou o gol, mas estava mais adiantado que o zagueiro mexicano. Tudo para desespero dos jogadores mexicanos, que tentavam convencer o árbitro do erro grosseiro. Não adiantou. Atualmente, a Federação Internacional de Futebol Associados colocou em teste duas tecnologias de “bolas eletrônicas”. A invenção é alemã e certamente trará um pouco mais de justiça aos resultados, no Brasil, pelo menos nos jogos da Copa. Usar ou não usar? A bola entrou no gol? Será que foi impedimento? Bom, parece que a bola eletrônica pode ajudar, não é mesmo?
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Sugerimos a realização de uma pesquisa com a comunidade escolar sobre a aprovação ou não do uso de bola com chip e elaboração de um gráfico a respeito. Outra atividade pode envolver os estudantes na pesquisa e divulgação para a comunidade escolar, como funcionará o chip e como essa tecnologia poderá auxiliar a arbitragem durante o jogo.
COMEÇA A PARTIDA DE FUTEBOL! Os aparelhos mudaram, as transmissões também. Hoje, já nos familiarizamos com expressões do tipo UHF, VHF, analógico, imagem digital, transmissão por satélite, plasma, LCD, LED, Full HD, HDTV, HDMI, entre muitas outras. Em se tratando de tecnologia, a HDTV, um acrônimo para high-definition television (televisão de alta definição), é um sistema com uma resolução de tela significativamente superior à dos formatos tradicionais. No entanto, precisamos corrigir o que popularmente passamos a chamar de televisão. A palavra televisão significa “visão distante”, isto é, um sistema eletrônico de reprodução de imagens e som de forma instantânea e a longa distância. Mas como funciona esse sistema? Em rápidas palavras, a partir da conversão da luz e do som em ondas eletromagnéticas e de sua reconversão em um aparelho, o televisor. A captação das imagens (informações visuais) e dos sons (informações sonoras) fica a cargo das câmeras e microfones. Essas informações são rapidamente convertidas para serem difundidas por meio eletromagnético ou elétrico, em diferentes cabos. A transmissão também pode ocorrer via satélite e nos dias atuais é a tecnologia que permite a teledifusão. Portanto, o televisor, ou o conhecido “aparelho de televisão” capta as ondas eletromagnéticas e por meio de seus componentes internos as converte novamente em imagem e som. O som com imagem no televisor surge desde os modelos em preto e branco, que transmitiram o evento de 1950, no Brasil, aos modelos coloridos, que transmitiram em 1970, no México. Antes disso, os jogos eram transmitidos pelo rádio e, aos poucos, os donos das redes de televisão perceberam que o futebol poderia gerar bons resultados financeiros, com a veiculação de propagandas comerciais durante as transmissões, a exemplo do que já era feito no rádio. Com isso, a televisão revestiu o futebol com uma linguagem de espetáculo e o esporte torna-se artigo de compra e venda. No entendimento de Savenhago (2011, p. 1), “a narração das partidas, em que a figura do locutor se parece mais com a de um animador, e o aperfeiçoamento das tecnologias de transmissão, que melhoram, a cada dia, a qualidade da imagem, tiram do futebol a característica de ser apenas um esporte, para passar a ocupar o lugar de um show”. Por que a televisão, que provavelmente sobreviveria sem o futebol, aparentemente não quer ficar sem ele? Considerando a TV como uma mídia de informação e entretenimento, que constantemente divulga o Brasil como país do futebol, como atividade, sugerimos a organização de uma pesquisa em que os estudantes, em grupos, selecionem um comercial e um programa, analisando os valores que são transmitidos.
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É GOOOOOOOL! Imaginemos a seguinte situação: um jogador que, na euforia do jogo, após vencida toda a defesa contrária, se prepara para marcar um gol e… é Goooooool! O jogador corre para a comemoração com os colegas e com a torcida que, em coro, comemora gritando e aplaudindo o resultado. Nesse momento, o cérebro humano, especificamente o hipotálamo, envia uma mensagem bioquímica às glândulas suprarrenais determinando a libertação de adrenalina na corrente sanguínea. Segundo Esperidião-Antonio et. al. (2008), o hipotálamo tem uma função essencial nos sistemas das emoções, principalmente por compor a base neural do centro de recompensa, no caso do gol, mas também do centro de punição. Na situação de prazer pela situação de gol marcado pelo jogador, a excitação fisiológica no corpo como um todo aumenta consideravelmente, pois em situações como essa, as suprarrenais secretam quantidades abundantes de adrenalina que prepara o organismo para grandes esforços físicos, estimula o coração, eleva a tensão arterial, relaxa certos músculos e contrai outros. Outros neurotransmissores, como a dopamina e a endorfina, atuam no cérebro promovendo, entre outros efeitos, a sensação de prazer e a sensação de motivação. A endorfina, por exemplo, é produzida em maior quantidade em resposta à atividade física, despertando uma sensação de euforia e bem-estar para todo o organismo, nos dando aquela sensação “analgésica” de prazer, de relaxamento. Mas, como é que correr ou fazer qualquer tipo de exercício pode ser bom se o corpo se estressa, perde o fôlego e fica com os músculos doloridos? Sugerimos que os estudantes elaborem uma tabela com as alterações fisiológicas positivas e negativas de uma atividade física. Importante, nessa atividade, é que os estudantes expliquem em um glossário as palavras que desconheçam. CONSIDERAÇÕES Com este texto, apresentamos diferentes possibilidades de abordagens de temas em relação com a competição futebolística nas aulas de Ciências. As situações-problema compreendem indicativos de abordagens que podem se estender frente à necessidade de articulação com os conteúdos científicos escolares de Ciências e as questões pertinentes à vida dos estudantes, numa concepção pautada no triplo desafio de trazer à tona questões de ciência e tecnologia e suas implicações na vida em sociedade. Cada uma dessas propostas abre um leque de possibilidades de trabalho pedagógico, bem como outras situações não destacadas neste texto, como os “EcoEstádios”, por exemplo, ou mesmo outras atividades que se encontram nos textos de Biologia, Química, Física e Geografia, entre outros, que podem servir de articulação para as discussões mais amplas em relação a situações da vida cotidiana em meio à realização deste evento.
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Nesse sentido, alertamos para a necessidade de outras temáticas a serem desenvolvidas, sempre considerando as orientações curriculares explicitadas nas Diretrizes Curriculares de Ciências, com atenção aos aspectos explicitados no item “Encaminhamentos Metodológicos” (PARANÁ, 2008, p. 68-77). Esta caminhada didática e temática sobre o evento se apresenta, na disciplina de Ciências, como meio para que os estudantes compreendam a emaranhada trama de relações existentes entre ciência, tecnologia, economia, política, bem-estar social, e se apropriem de uma leitura mais crítica do mundo contemporâneo. Assim, acreditamos no processo da formação de um cidadão participante na sociedade, transformador do espaço sociocultural em que está inserido e crítico a ponto de comparar as cifras investidas no evento e nas regiões em que o povo historicamente tem sofrido com a seca e a fome. REFERÊNCIAS AGUIAR, C. E.; RUBINI, G. Aerodinâmica da bola de futebol. Instituto de Física. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2013. AMARAL, R. Dados actuais sobre a influência do síndroma de mudança de fuso horário (jet lag) na performance em futebol. Revista Brasileira de Futebol/Revista Digital, Buenos Aires, v. 9, n. 63, ago. 2003. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2013. AMORIM, A. C. R. Biotecnologia, tecnologia e inovação no currículo do ensino médio. Investigações em Ensino de Ciências, v. 3, n. 1, 1998. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2013. AULER, D. Alfabetização científico-tecnológica: um novo “paradigma”? Ensaio – Pesquisa em Educação em Ciências, v. 5, n. 1, mar.2003. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2013. BUSS, C. A influência da altitude no desempenho dos atletas: nutrição durante prática física em locais muito altos. Preparação Física em Debate, 17 maio 2010. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2013. DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M. Ensino de Ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2002. ESPIRIDIÃO-ANTONIO, V. et. al. Neurobiologia das emoções. Revista de Psiquiatria Clínica, v. 35, n. 2, p. 55-65, 2008. Disponível em: . Acesso em: 24 abr. 2013.
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F UT EBOL E DIV ERSIDADE
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FUTEBOL E DIVERSIDADE Marli Francisca Peron43 Dayana Brunetto Carlin dos Santos44 Giovani Marchalek45 Helio Puchalski46
INTRODUÇÃO O mundo volta o olhar para a América do Sul. O Brasil, país que alcançou mais títulos mundiais (1958, 1962, 1970, 1994 e 2002), em 2014, será o anfitrião do grande evento futebolístico. Já nos preparativos, as bandeiras se agitam diante da expectativa de assistir, em casa, mais uma partida de futebol pelo Campeonato Mundial. Historicamente, o futebol foi constituído pela e para a prática da elite branca, como um esporte genuinamente masculino, reforçando a figura dominante do homem diante da sociedade que imperava no século XIX. Chegou ao Brasil no período da abolição da escravatura e, nesse período, passou a ser praticado por diferentes classes e grupos sociais, incluindo neste contexto os afrodescendentes e as classes menos favorecidas. De acordo com Knijnik (2006),“o futebol é, indubitavelmente, parte integrante e simbólica de manifestações culturais de norte a sul do Brasil. Entretanto, mesmo sendo alvo do interesse e preocupação de milhões de brasileiros, nesta terra futebol é coisa de homem”. No resgate histórico do futebol pode-se constatar que, aos poucos, tal modalidade de esporte foi conquistando mais e mais adeptos; rompeu barreiras, abriu espaço para todas as idades e etnias. Com as mudanças socioculturais do século XX, apesar da resistência machista e discriminação da sociedade, a mulher também conquistou seu espaço para a prática do futebol, marcando sua presença oficial em 1991, quando foi realizado, pela Federação Internacional de Futebol Associados, o primeiro torneio mundial de futebol feminino. Criada por Jules Rimet em 1928, essa competição internacional, realizada a cada quatro anos, teve seu início em 1930, no Uruguai, que se sagrou como o primeiro país a conquistar o título de campeão mundial de futebol. Atraente pela sua forma de competição, o futebol é hoje, o esporte coletivo mais praticado no Brasil, envolvendo sujeitos de todas as idades e gêneros. À medida que foi se tornando popular, o futebol se transformou em paixão nacional, sendo o Brasil considerado, por outros países, o país do futebol. Essa paixão do brasileiro pelo futebol, como elemento importante da cultura, cresceu à medida que a seleção brasileira conquistou títulos, principalmente em 2002, quando alcançou o pentacampeonato mundial. O Brasil é o único país que participou de todas as competições, e sediará, pela segunda vez, uma competição internacional, incentivando a torcida brasileira, fiel e participativa. Essa competição em particular, em seu caráter agregador, oportuniza a confraternização entre os povos, o contato e a convivência com outras culturas e com a diversidade, presente em vários segmentos sociais.
Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa, Língua Inglesa e literatura – SEED/SUED/DEDI Professora da Rede Estadual de Ensino – Biologia – SEED/SUED/DEDI 45 Professor da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DEDI 46 Professor da Rede Estadual de Ensino – Arte – SEED/SUED/DEDI 43
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Tal diversidade torna-se objeto de estudo, diante da necessidade de seu enfrentamento, por meio da construção de políticas públicas, em defesa e promoção dos direitos humanos das pessoas que sofrem discriminação por causa de sua cor, raça, etnia, orientação sexual, gênero e condição sociocultural. De acordo com o Conselho Nacional de Educação, no Parecer CNE/CP Nº 8/2012 de 6/3/2012: [...] todas as pessoas, independente do seu sexo; origem nacional, étnico-racial, de suas condições econômicas, sociais ou culturais; de suas escolhas de credo; orientação sexual; identidade de gênero, faixa etária, pessoas com deficiência, altas habilidades/superdotação, transtornos globais e do desenvolvimento, têm a possibilidade de usufruírem de uma educação não discriminatória e democrática. (BRASIL, 2012, p.02)
A Declaração Universal dos Direitos Humanos aprovada pela ONU em 1948 sustenta e amplia o respeito à diversidade. Tendo por respaldo esse documento, após a década de 1990, com a dissolução do mundo socialista e a globalização, o pluralismo cultural ganhou mais espaço nas agendas políticas dos governos e movimentos sociais. Para garantir a ideia de respeito à diversidade, destacamos a Resolução nº 1, de 30 de maio de 2012, do Conselho Nacional de Educação/Conselho Pleno, do Ministério da Educação: Art. 3º A Educação em Direitos Humanos, com a finalidade de promover a educação para a mudança e a transformação social, fundamenta-se nos seguintes princípios: I – dignidade humana; II – igualdade de direitos; III – reconhecimento e valorização das diferenças e das diversidades; IV – laicidade do Estado; V – democracia na educação; VI – transversalidade, vivência e globalidade; e VII – sustentabilidade socioambiental. (BRASIL, 2012, p. 01)
No Brasil, a busca pela preservação da pluralidade cultural tem sido a pauta de diversos movimentos sociais que, pela persistência e luta, promovem mudanças de visão dos organismos públicos, os quais, por sua vez, geram políticas públicas capazes de tratar a diversidade com dignidade, de forma a garantir aos cidadãos os direitos humanos. Nesse contexto diverso, que nos caracteriza enquanto paranaenses e brasileiros, como um povo mestiço e, portanto, com diversas identidades culturais, o futebol configura-se como elemento de união dessa diversidade, dandonos uma identidade comum. À medida que se aproxima mais uma competição da seleção brasileira, o futebol atua como aglutinador, reunindo o povo, fortalecendo o sentimento de patriotismo, comum a todos os brasileiros. Nessa perspectiva, diante da relevância dada ao futebol no Brasil e de sua prática por diversos sujeitos, a temática apresenta-se como elemento a oportunizar o trabalho da diversidade cultural nos espaços e tempos escolares, em todos os níveis e modalidades de ensino, de acordo com as Diretrizes Orientadoras Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná. Esse processo desencadeará o desenvolvimento de um trabalho pedagógico a partir das questões políticoeconômicas, socioculturais, de territorialidade e raça/etnia, relacionados ao cotidiano, inerentes à diversidade sexual e à abrangência que um evento mundial como a Copa do Mundo.
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Para respaldar o processo acima citado, referenciamos a Resolução nº 2, de 30 de janeiro 2012, título III, artigo 16, inciso XV, do projeto político-pedagógico e do sistema de ensino do CNE: XV – valorização e promoção dos direitos humanos mediante temas relativos a gênero, identidade de gênero, raça e etnia, religião, orientação sexual, pessoas com deficiência, entre outros, bem como práticas que contribuam para a igualdade e para o enfrentamento de todas as formas de preconceito, discriminação e violência sob todas as formas (BRASIL, 2012, p. 07).
Dessa forma, propõe-se um olhar diferenciado, crítico, sobre o alcance e a repercussão para o ser diferente, evidenciando que não é um problema, dificuldade ou doença, mas simplesmente o fato de existirem pessoas com entendimentos e compreensões diversificadas umas das outras, mas não menos legítimas ou importantes. Como esporte profissional, o futebol apresenta característica multicultural, sendo disputado no mundo inteiro, com jogadores de diferentes países que atuam em uma mesma equipe. Na escola, como elemento estruturante, esse esporte subsiste em função de sua pluralidade, por inúmeros referenciais advindos das diferentes realidades de seus estudantes e dos profissionais da educação, gerando múltiplas compreensões, entendimentos e, também, diferentes formas de lidar com a diversidade. O respeito aos sujeitos da diversidade tem como uma de suas bases o artigo 6º, inciso I, da Resolução nº 7 CNE/CEB, de 14 de dezembro de 2010: I – Éticos: de justiça, solidariedade, liberdade e autonomia; de respeito à dignidade da pessoa humana e de compromisso com a promoção do bem de todos, contribuindo para combater e eliminar quaisquer manifestações de preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 2010, p. 02)
Esse evento deixará um legado diverso, não somente aos setores econômicos, culturais, sociais e políticos do país, mas também à educação, pois inspirará docentes e estudantes de diferentes lugares do Brasil e do mundo, que terão o futebol como tema principal em suas ações escolares. Está chegando o momento da maior confraternização esportiva! Pessoas com outras línguas, saberes e conhecimentos, diferentes leituras de mundo se convergem num mesmo espaço, diverso e multicultural para assistir e viver o futebol. Rola a bola no campo! A cada partida, o agito das bandeiras, os recadinhos em papelões para se comunicarem com seus times, familiares e amigos geram muita emoção. A saudade do jeito caloroso e receptivo dos brasileiros marcará um período sem igual. As transformações sociais, a busca pelo respeito e pela liberdade de ser o que se é, estará impressa não só nos estádios, mas em todos os espaços sociais. Quem sabe um dia, consigamos nos entender, uns aos outros, como seres humanos, com equidade de direitos asseguradas para o esporte e para a vida em qualquer espaço social. Urge o entendimento e o respeito dos sujeitos da diversidade que adotam formas de viver, diferentes das convencionais. Esses cidadãos do mundo, ainda são privados de muitas coisas pela atual sociedade e apesar de estarmos no século XXI, continua idêntica a que o criou. O homem
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cria políticas públicas como forma de garantir direitos humanos universais para todos, indistintamente, independente de raça, credo, cor e orientação sexual, mas que somente serão efetivas quando criarem vida.
SUGESTÕES A composição de grupos de adolescentes protagonistas constitui-se em uma estratégia importante pela qual se assumem como agentes principais dessas discussões. Para desenvolver atividades pedagógicas relacionadas a um evento com dimensões mundiais, faz-se necessário observar os objetivos de desmistificar estereótipos que podem relacionar a modalidade exclusivamente a um determinado grupo de gênero ou étnico-racial, possibilitando discussões sobre o exercício do futebol e o legado deixado pelo evento, como atividade sociorrecreativa e profissional, para além do atleta. Dessa maneira, evidencia-se a função social da escola em tratar dos conhecimentos produzidos por meio da articulação sobre esses conhecimentos com o cotidiano dos estudantes, no que tange aos aspectos políticos, sociais, culturais, econômicos, éticos e étnicos, além dos referenciais de classe, raça/etnia, territorialidade, gênero e diversidade sexual. COMO FAZER? As atividades intervencionistas não precisam seguir um padrão. Os adolescentes podem promover um debate em sala de aula, uma apresentação artística durante o intervalo, uma ação envolvendo o comércio e a comunidade local, mesas redondas temáticas com outros estudantes, programações diferenciadas para os horários de início, intervalo e final de aula, exposições de painéis temáticos, formalização de parcerias com outras unidades de ensino e
performances, sob a ótica da diversidade. Enfim, o grupo poderá proporcionar ações diferenciadas que tragam ao debate os questionamentos dos sujeitos pertencentes à diversidade; abordar o conceito de que ser diferente não é um problema, nem uma dificuldade, mas consiste em vivenciar o mundo de forma diferente do que é definido como “normal”. A diversidade é positiva e enriquece o mundo, tornando-o plural, e esses protagonistas serão os responsáveis pela criação e elaboração dessas estratégias – segundo seus olhares, entendimentos e pertencimentos – de intervenção, envolvendo outros colegas, bem como a comunidade escolar, a partir do recorte sobre essas manifestações esportivas, relacionado à diversidade. A partir dessa expectativa, o futebol como atividade escolar se diferencia do esporte performance, reportado frequentemente às pessoas dotadas de características específicas para sua prática. O futebol busca agregar todos os que desejam se aproximar, procurando evitar a exclusão dos que não se enquadram no aspecto normativo do esporte performance. É de suma importância fazer com que o estudante sinta-se parte integrante do processo na constituição
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dos grupos de protagonistas. Portanto, os adolescentes são convidados a participar das discussões pertinentes ao evento em oficinas/aulas ministradas pelos profissionais da educação. É importante, durante todas as atividades protagonistas, que os docentes assumam o papel de provocadores e facilitadores.
CONSIDERAÇÕES A constituição dos grupos de jovens protagonistas e suas produções pode proporcionar a formação de uma rede estadual de intervenção construída a partir das expectativas e concepções dos estudantes das escolas públicas de educação básica do Estado do Paraná, de forma a gerar um intercâmbio entre os adolescentes responsáveis por essas discussões. Também pode ser uma oportunidade para a construção de uma carta coletiva de ações sobre o evento. Interações entre estudantes de diferentes regiões do Estado fortalecem o vínculo protagonista, agregando discussões com pertencimentos diversificados. A repercussão dessas ações pode constituir-se em um referencial de política pública educacional para a juventude. Além disso, relações culturais estabelecidas entre diferentes sujeitos promovem a troca de experiências, com diferentes compreensões e entendimentos – questões valorizadas pelas instituições de ensino. Finalizando, ressalta-se o fato de que essa manifestação pode ser considerada uma experiência única, é capaz de fazer com que as pessoas de raça/etnia, credo, gênero, territorialidade, escolarização e nível cultural e/ou econômico diferentes vibrem e torçam por um mesmo objetivo e mesmo ideal, não sendo vítimas de preconceito e discriminação. Nesse sentido, verifica-se a relevância do futebol pelo alcance que possui como formador e gerador de cultura.
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BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA BRASIL. Lei n. 11.645/2008. - Disponível em: . Acesso em: 18 mar. 2013. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Departamento da Diversidade. Diretrizes curriculares de gênero e diversidade sexual da Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Curitiba: SEED/ DEDI, 2010. Disponível em:. Acesso em: 04 mar. 2013. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Paraná. Curitiba: SEED, 2008. Disponível em: . Acesso em: 04 mar. 2013.
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O PROF ISSIONAL QUE FAZ A COPA ACONT ECER
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O PROFISSIONAL QUE FAZ A COPA ACONTECER Ana Nelly de Castro Gregório47 Andréa de Paula Ceccatto48 Cícero Vieira Torres Júnior49 Edna Aparecida de Souza50 Marcia Maria Girola51 Silvia de Lima Matioski52
INTRODUÇÃO A Educação Profissional, no contexto nacional e mundial, caracteriza-se como importante estratégia para que os cidadãos tenham efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da sociedade. Essa requer, além do domínio operacional de um determinado fazer, a compreensão global do processo produtivo com a apreensão do saber tecnológico, a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões no mundo do trabalho (BRASIL, 2012, p. 08). Neste cenário, o trabalho docente na Educação Profissional proporciona formação específica, visando possibilitar não somente o acesso a conhecimentos científicos e tecnológicos, mas também promover a reflexão crítica sobre os padrões culturais que se constituem em normas de conduta de um grupo social, assim como sobre a apropriação de referências e tendências estéticas que se manifestam em tempos e espaços históricos, os quais expressam concepções, problemas, crises e potenciais de uma sociedade, que se vê traduzida e/ou questionada nas suas manifestações e obras artísticas, evidenciando a unicidade entre as dimensões científicas, tecnológicas e culturais (BRASIL, 2012 p. 30). Nesta perspectiva, a realização do evento futebolístico no Brasil torna-se um desafio na elaboração do plano de ação dos professores que atuam em cursos Técnicos de Nível Médio. Com a realização desse acontecimento, que é uma manifestação cultural importante no contexto mundial, entende-se que há possibilidade de proporcionar aos estudantes uma discussão entre os diversos campos do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura como referências fundamentais para a formação específica. (PACHECO, 2012 p. 66). As Diretrizes Curriculares para a Educação Profissional no Paraná apresentam como pressupostos para a construção do currículo os eixos norteadores: o trabalho, a ciência, a cultura e a tecnologia. Assim, são apresentadas sugestões de atividades relacionando os Eixos da Educação Profissional com a realização do grande evento futebolístico.
Professora da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DET Professora da Rede Estadual de Ensino – Biologia – SEED/SUED/DET 49 Professor da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DET 50 Professora da Rede Estadual de Ensino – Matemática – SEED/SUED/DET 51 Professora da Rede Estadual de Ensino – Pedagoga – SEED/SUED/DET 52 Professora da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DET 47
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SUGESTÕES No ano de 2013, a rede pública estadual é responsável pela oferta de 53 (cinquenta e três) cursos técnicos em nível médio, divididos em 13 (treze) eixos tecnológicos. Para este documento foram selecionados 07 (sete) desses eixos tecnológicos com o objetivo de exemplificar atividades a serem desenvolvidas conforme as especificidades de cada curso e as metodologias dos docentes.
Eixo Tecnológico Ambiente e Saúde “Cuidado! Idoso a caminho do estádio...” Beltrano tem 80 anos, caminha vagarosamente, apoiando a mão esquerda em uma bengala que ganhou de presente dos netos, no dia dos avós. Essa é a primeira vez que ele coloca os pés em um estádio de futebol. Não fora antes, porque nenhum time local lhe chamava a atenção. Mas como um bom patriota, e depois de tantos anos de impostos pagos, vai usufruir o direito de isenção que lhe cabe para torcer pelo time brasileiro. De dentro do transporte público, sentado em um banco preferencial, observa pelo caminho, as latas de lixo abarrotadas e deixa de lado o controle da pressão, da emoção cardíaca, para se questionar onde irá parar toda a produção de lixo orgânico e reciclável que está sendo gerado nessa movimentação de indivíduos que participam ou que prestigiam as sedes do evento. Além disso, pensa em que será o impacto desse fenômeno, que agita os pequenos e grandes comércios locais, ao meio ambiente. No embalo constante do ônibus, Beltrano cochila por cinco minutos e acorda assustado com a sensação de que estava caindo. Parecia tão real a sensação de ter chegado ao estádio e ao descer um degrau, um passo em falso o fez cair sentado e sentir que não deveria ter saído de casa sozinho... Traçando um paralelo com a animação “Tá chovendo hamburguer”, em relação ao acúmulo de lixo, qual seria a estratégia ideal, da conscientização à coleta e destino do lixo? Pensando que senão tivesse sido apenas um sonho, se Beltrano tivesse chegado à na Arena da Baixada e sofresse uma queda, quais seriam os procedimentos a serem adotados para resolver essa situação? E quais as ações preventivas para evitar outras cenas semelhantes?
Eixo Tecnológico Gestão e Negócios “É pra lá que eu vou...” Logística está calculando um trajeto, verificando as melhores formas de deslocamento e criando um roteiro estratégico para visitar as doze cidades brasileiras que recebem a Copa. Quer conferir se os bilhões investidos em aeroportos, estádios e novos sistemas de transportes deram conta de adequar a infraestrutura para receber milhares de turistas. Como o roteiro será
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patrocinado pela empresa onde Logística presta serviço de consultoria sobre Gestão de negócios, na volta, Logística precisará entregar um relatório contendo análise quantitativa e qualitativa do atendimento realizado pelo comércio, transporte e recursos humanos envolvidos em todo o seu itinerário percorrido. Será que Logística conseguirá visitar todas as cidades-sede no período em que está acontecendo o evento? Ou quanto tempo seria necessário para concluir as visitas? Qual seria a melhor rota estratégica e quais os possíveis itens a serem avaliados no percurso e qual o modelo de relatório final para apresentar no retorno a empresa?
Eixo Tecnológico Turismo, Hospitalidade e Lazer “Se for assistir, não beba.” Seca preferiu ficar em casa e assistir aos jogos pela TV com sinal HD, pois assim vai poder beber com os amigos e parentes reunidos em volta da mesa, com pipoca fresquinha pulando da panela, aperitivos crocantes, doces e salgados. Mas na rua, tem gente de dentro e de fora da cidade, de perto e de muito longe, agitando os apitos, cantando hinos, gritando vitórias antecipadas, perdendo a voz com toda a imensa torcida sacudindo a arquibancada. Considerando o misto de idades novas e avançadas e a proibição de bebidas alcoólicas durante os jogos, como garantir aos torcedores, um roteiro turístico gastronômico na capital paranaense?
Eixo Tecnológico Produção Cultural e Design “Quem conta um conto, aumenta o placar”. Fulaninho vive em um município distante da cidade paranaense que sedia os jogos do campeonato mundial. Levanta todos os dias com o cacarejar do galo, esfrega os olhos, espreguiça a ossatura, despe-se das roupas de dormir, veste o uniforme, calça os sapatos, ingere um reforçado café da manhã e atravessa o portão rumo à escola. Pula sobre pedras, desvia das poças d’água, se equilibra na madeira sobre o córrego e para na ponte, onde os colegas de caminhada o aguardam para ouvir uma nova história. Como Fulaninho não tem condições financeiras para acompanhar os jogos de perto, na torcida que lota a arquibancada, ele imagina situações cômicas e trágicas que acontecem nos bastidores, ou longe do alcance das câmeras... E essas histórias contadas por Fulaninho parecem reais, pois enquanto ele conta um conto, em um canto distante da Arena da Baixada, o placar está aumentando um ponto. Partindo dessa cena, como seria uma das histórias contada por Fulaninho? Que tal criar um áudio, vídeo ou peça teatral contando uma situação em que um conto é capaz de aumentar o placar?
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Eixo Tecnológico Produção Industrial “Roupa, tesoura e papel... um bolso, um réu.” Modelito é fanático por bonés, tanto que no seu quarto eles ocupam todas as prateleiras de sua estante. Em destaque numa das prateleiras está o boné de seu time do coração “Azulão Esporte Clube”. O boné é azul com o escudo bordado na parte frontal. Modelito pretende incluir na sua coleção o boné da seleção brasileira, lançado recentemente para marcar os jogos da COPA, porém, como ele ainda não dispõe do montante necessário para efetuar a compra, terá que aguardar o pagamento do seu salário no início do próximo mês. Sabendo que no Estado do Paraná, depois da indústria agroalimentar, que mais emprega no estado, estão as fábricas de tecelagem e confecção, pesquise em que cidades do estado estão concentradas as indústrias têxteis de: bonés; moda bebê; moda masculina; malharias; jeans.
Eixo Tecnológico Produção Alimentícia “Eu como, Tu comes, Ele come, Nós comemos, Eles comem...” Famintos é o sobrenome de uma família consideravelmente grande que está de passagem assistindo um dos jogos na Arena da Baixada. Durante o intervalo, experimentaram os quitutes que estavam sendo vendidos nas barraquinhas e durante o jogo, aproveitaram para degustar iguarias oferecidas por palhaços, heróis, vilões, animais e fantasias engraçadas que pisavam nos pés e atrapalhavam a visão. Antes do jogo já haviam pego vários catálogos de lanches e jantares ofertados nas redondezas e após, resolveram se deliciar com alimentos e bebidas regionais. Considerando a produção alimentícia do Estado do Paraná, quais seriam os alimentos industrializados, ou não, que a família Famintos poderia levar para casa como típicos do Paraná, de acordo com normas de segurança e qualidade?
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CONSIDERAÇÕES A proposta de educação profissional na rede pública estadual paranaense, por meio da oferta de cursos técnicos de nível médio, procura levar os estudantes a articular os conhecimentos gerais e específicos, a relacionar teoria e prática, com vistas a propiciar aos egressos uma formação que não seja apenas técnica, mas sim uma formação humana integral. Tendo por base a concepção apresentada acima, a proposta curricular integra trabalho, ciência, tecnologia e cultura, e busca uma formação plena, adequada à atuação do cidadão contemporâneo no mundo do trabalho e nas relações sociais. Espera-se que as discussões aqui apresentadas possam traçar um paralelo entre um evento mundial e a Educação Profissional Técnica de Nível Médio, indicando que os estudantes paranaenses estão habilitados a participar efetivamente nos mais variados setores da economia, bem como a interagir de mandeira cidadã.
REFERÊNCIAS BRASIL. Resolução n. 6, de 20 de setembro de 2012. Define Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de Nível Médio. Brasília, 2012 PACHECO, Eliezer (Org). Perspectivas da educação profissional técnica de nível médio: proposta de diretrizes curriculares. São Paulo: Moderna, 2012. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência da Educação.Diretrizes da educação profissional: fundamentos políticos e pedagógicos. Curitiba: SEED-PR, 2006. BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA BRASIL. Resolução n. 4, de 6 de junho de 2012.Dispõe sobre alteração na Resolução CNE/CEB nº3/2008, definindo a nova versão do Catálogo Nacional de Cursos Técnicos de Nível Médio. Brasília, 2012.
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ALTAS HABILIDADES/ SUPERDOTAÇÃO
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ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO Denise Maria de Matos Pereira Lima53
INTRODUÇÃO A temática sobre “inclusão” tem recebido especial atenção dos Sistemas de Ensino e, nos últimos anos, essa ação política vem se fortalecendo no Brasil. Neste texto, nosso destaque será para alunos com altas habilidades/ superdotação, porque estes compõem, juntamente com os que apresentam deficiências e transtornos globais do desenvolvimento, o público-alvo da educação especial. Talvez isso cause algum estranhamento para aqueles que desconhecem a temática, mas o fato é que muitos alunos com Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD) vivenciam o processo de exclusão dentro de um sistema que deveria ser de ensino inclusivo. No cotidiano, a escolarização deste alunado tem demonstrado que a falta de informação do professor a respeito do assunto, pode trazer-lhes prejuízos importantes no processo ensino-aprendizagem. As dificuldades enfrentadas na identificação do superdotado poderão levar o professor a evidenciar práticas discriminatórias e a negar a necessidade que estes apresentam de um atendimento educacional especializado, considerando, muitas vezes de forma equivocada, que o comportamento diferenciado que apresentam trata-se de indisciplina, desatenção, desinteresse ou, em outros casos mais graves e não menos comuns, são levantadas hipóteses de transtornos neurológicos ou déficits de atenção e inteligência. Muitos talentos acabam se perdendo, mas por certo, já estiveram à frente de um professor que não soube conduzir com maestria a curiosidade intensa, o poder de associação e síntese, a criatividade, o senso de justiça, a habilidade de abstração, a forma rápida como se apropria de conhecimentos novos, a invejável memória, dentre tantas outras características que o aluno superdotado pode apresentar. É por isso que consideramos que o meio ambiente tem seu papel determinante na identificação das altas habilidades/superdotação, bem como no desenvolvimento do potencial apresentado por eles. O meio social, considerando o ambiente escolar como importante nesta referência, precisa criar oportunidades para que a alta habilidade/superdotação se manifeste e se desenvolva. A criança ou jovem que apresenta esse potencial, não dispensa, em hipótese alguma, a intervenção dos docentes na mediação de sua aprendizagem, em especial, cabem a eles a elaboração e proposição de desafios adequados, que atendam as necessidades desse alunado, de acordo com o perfil de superdotação de cada um. Desse modo, é oportuno citar o conceito que o MEC apresenta, na atualidade, sobre o aluno com altas habilidades/superdotação: Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, liderança, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização de tarefas em áreas de seu interesse. (BRASIL, 2008, p. 9)
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Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa – SEED/SUED/DEEIN
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Considerando essa citação, vale dizer que o aluno com altas habilidades/superdotação não, necessariamente, se sairá bem em todas as atividades propostas na escola. Encontraremos aqueles que se destacarão em áreas específicas do conhecimento, das artes ou que envolvem alto desempenho psicomotor. Antes de pensar nas facilidades de aprendizagem que esse aluno possui, o professor deve pensar na ânsia que ele tem por novas aprendizagens, na expectativa e disponibilidade com que o superdotado apresenta-se diante de situações desafiadoras e, principalmente, no quanto ele espera da escola como fonte do saber! Inúmeras vezes a escolarização é dificultada por causa de ideias errôneas que o professor tem acerca da superdotação. Consideramos que a desapropriação dos mitos que envolvem esta temática precisa ser priorizada, para que o professor desempenhe com mais tranquilidade e êxito o trabalho pedagógico. Segundo Ellen Winner (1998, p.11): Talentosas, superdotadas, criativas, prodigiosas – as crianças com estes rótulos sempre nos intrigaram, inspirando fascínio e espanto, bem como intimidação e inveja. As crianças superdotadas foram temidas como possuídas, porque sabem e entendem coisas demais, cedo demais. Assim como as crianças com retardo, as crianças superdotadas têm sido temidas como estranhas, esquisitas, excêntricas.
Um mito bastante difundido nas escolas descreve o superdotado como ‘antissocial’, que ‘não gosta de fazer amigos’ e ‘prefere o isolamento’. Sobre essas afirmativas não há fundamento teórico comprobatório, ao contrário, na prática, observa-se que esses alunos são isolados pelas pessoas que os cercam, especialmente pelo desconhecimento e pela falta de compreensão dos demais com relação aos seus comportamentos. Em sala de aula, ocorrem com frequência problemas de relacionamento interpessoal. A forma como manifestam suas ideias, seus conhecimentos e até mesmo argumentam sobre determinados assuntos, nem sempre é compreendida como “adequadas” pelo professor ou pelos colegas. De um modo geral, o assincronismo35, inerente ao superdotado, se constitui um dos grandes vilões neste contexto, porque a manifestação desse comportamento pode ser observada quando, ao mesmo tempo em que é capaz de compreender e formular conceitos complexos para sua idade, demonstrando alto nível de conhecimento, a criança ou jovem superdotada apresenta comportamentos próprios para a sua idade. ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO No período em que a nação brasileira estará sediando o grande evento futebolístico, em 2014, prevê-se o envolvimento da população, o que, por certo, refletirá diretamente na pauta dos assuntos entre crianças e jovens em idade escolar. Este é um momento importante que permitirá aos docentes a elaboração de práticas pedagógicas para observação de seus alunos sob a ótica da inteligência corporal cinestésica (GARDNER, 1994) que contribuirá para identificação daqueles que apresentam altas habilidades/superdotação em áreas relacionadas à psicomotricidade. É comum relacionar as altas habilidades/superdotação sob a ótica da temática da psicomotricidade de imediato com aqueles que possuem talentos extraordinários e se destacam nos grandes times nacionais e europeus,
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Em geral, nas crianças com AHs, há um assincronismo entre o desenvolvimento específico na área de destaque (superior ao nível esperado para seus pares) e o desenvolvimento emocional (muitas vezes aquém do esperado para a idade) (PEREZ, 2003). 35
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medalhistas de grandes eventos esportivos, por que se pensa que o alto nível de desempenho psicomotor deverá estar ligado com o atletismo e desporto. De fato, podemos encontrar renomados atletas ao investigarmos essa especificidade nos comportamentos de superdotação, no entanto, crianças e jovens que apresentam altas habilidades/superdotação na área psicomotora, nem sempre se destacarão em atividades esportivas. Para identificação desse perfil de superdotação é preciso saber que as características são evidenciadas na demonstração da necessidade de movimento, de experimentar novos desafios com o corpo, diferentemente daqueles cuja inteligência se destaca principalmente nas áreas acadêmicas e que são mais facilmente identificadas pelos docentes em função das notas exemplares nas avaliações que utilizam instrumentos formais (testes e provas). No futebol, esporte que é disputado no campeonato mundial, os atletas demonstram habilidades psicomotoras extraordinárias. Indivíduos que dependem de processos táteis ou cinestésicos e precisam manipular ou experimentar o que aprendem para compreender e reter as informações, apresentam, em geral, inteligência corporal-cinestésica como um destaque no seu desenvolvimento, comportamentos estes que, nem sempre, estarão relacionados somente com os esportes (CAMPBELL;CAMPBELL; DICKINSON, 2000). A discriminação visual, a projeção ótica, as imagens mentais, o raciocínio espacial, o reconhecimento e manipulação de imagens, sejam elas internas ou externas, bem como a percepção detalhada do espaço ou objeto de forma tridimensional, farão parte das habilidades que o superdotado na área psicomotora poderá apresentar. A escola é um ambiente propício para a promoção de estímulos e de propostas pedagógicas que desenvolvam ao máximo o potencial de seus alunos, em todas as áreas do conhecimento, das artes e dos esportes. Com essa temática em voga, os docentes encontrarão um ambiente favorável para a organização de atividades que vão para além das tradicionais lições com lápis e papel: é o momento de explorar ainda mais o corpo, os movimentos, e mesmo as atividades mais intelectivas poderão estar focando os esportes, as artes e outras áreas relacionadas ao movimento. As práticas pedagógicas indicadas para atender as necessidades de alunos superdotados são aquelas que promovem enriquecimento curricular, ou seja, possibilitem a ampliação e aprofundamento dos temas trabalhados. Este enriquecimento deverá estar previsto nas atividades das salas de aula comum, partindo daquelas que são propostas a todos os alunos da sala, bem como, nas salas de apoio que atendem esse público. Propor atividades de enriquecimento curricular não significa, necessariamente, modificar a temática trabalhada, mas sim, redimensionar as atividades, de forma que se tornem mais desafiadoras e tenham níveis de complexidade diferenciados. As estratégias pedagógicas utilizadas na proposição e no manejo dos conteúdos poderão fazer toda a diferença para que se consiga envolver e despertar o interesse dos alunos superdotados. Os alunos que possuem habilidade e interesse pelos esportes não deverão ser os únicos a se beneficiarem das atividades escolares propostas em função do evento. É necessário que o professor esteja atento para propor atividades que, além de explorar os movimentos, atendam as necessidades de aprendizagem dos que possuem perfis como o de liderança, pensamento criativo produtivo, ou até mesmo os que possuem área de interesse e habilidade que abranjam as demais áreas do conhecimento, como por exemplo, História, Geografia, Biologia, Linguagem dentre outras.
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Para atender a grande abrangência dos perfis de superdotação, sugerimos que os docentes elaborem atividades corporais envolvendo sensibilidade ao ritmo, expressividade, controle corporal, criação de ideias de movimento, primando para que esses movimentos sejam criativos. A flexibilidade, coordenação e controle corporal são componentes indispensáveis nessas dinâmicas (JIE-QUI, 2001). Aquelas atividades comumente desenvolvidas nas escolas, especialmente nas aulas de Educação Física, consideradas pré-requisitos para o desporto, podem ser redimensionadas e associadas aos conteúdos históricos, linguísticos, matemáticos, para que os alunos se sintam motivados e todos participem com entusiasmo. Outra sugestão que pode contribuir para o interesse e participação ativa do alunado em questão, é que as atividades sejam problematizadas e necessitem do envolvimento corporal e cognitivo para serem solucionadas – corpo e mente. É necessário lembrar que alunos superdotados precisam de desafios para que se sintam motivados a executar atividades de qualquer ordem. As atividades meramente repetitivas ou que reproduzem modelos tornam-se desinteressantes e devem ser evitadas.
ESTRATÉGIAS DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR SOB A ÓTICA DO MODELO DE RENZULLI Joseph Renzulli (1997), renomado pesquisador norte-americano que estuda sobre superdotação, talento e criatividade, propõe uma estratégia interessante para o enriquecimento curricular, que poderá envolver todos os alunos da escola e, inclusive, beneficiar o desenvolvimento do potencial de alunos superdotados. Ele apresenta três tipos de enriquecimento que descreveremos a seguir. O Enriquecimento do Tipo I consiste em experiências e atividades designadas para colocar o aluno em contato com os tópicos ou áreas de estudo pelas quais ele pode vir a desenvolver interesse. Por meio do envolvimento com experiências do Tipo I, os alunos poderão ficar estimulados para decidir se gostariam de fazer uma pesquisa mais aprofundada sobre um problema particular ou área de interesse. Todos os docentes, alunos e até mesmo a comunidade poderá participar dessas atividades. Considerando a temática no Brasil, em 2014, há inúmeras possibilidades para execução desse tipo de enriquecimento, como por exemplo: visitar estádios e campos de futebol, apresentar filmes que contam histórias relacionadas ao futebol, promover palestras com atletas reconhecidos na cidade ou na região, assistir jogos de futebol em um campo da cidade, visitar museu ou exposição sobre a temática do futebol, realizar um bate-papo com alguém que já presenciou ou trabalhou nesse tipo de evento, enfim, todas as atividades que envolvam a temática e que não necessitem de conhecimento específico dos alunos, poderão ser propostas neste momento. Os alunos participam como “expectadores”. As atividades de Enriquecimento do Tipo II consistem na organização de materiais, métodos e técnicas instrucionais que dizem respeito ao desenvolvimento de um nível mais elevado de processos de pensamento e, dependendo do assunto, de sentimentos. Esses processos incluem pensamento crítico, resolução de problemas, treinamento em investigação, pensamento divergente, desenvolvimento de consciência e pensamento criativo ou produtivo. São atividades abertas e semiestruturadas. As atividades do Tipo II também são projetadas para introduzir os
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alunos em estudos mais avançados ou em pesquisas. Ao organizar Enriquecimento do Tipo II, os docentes necessitarão de conhecimentos mais específicos para desenvolver os trabalhos e, para isso, sugerimos que haja parceria entre os profissionais da escola (professores especialistas). Os alunos poderão formar pequenos grupos, de acordo com suas habilidades e interesses de estudo e pesquisa. Os grupos desenvolverão estudos, oficinas e pesquisas. Em se tratando da referida temática, partindo das atividades propostas e desenvolvidas no Enriquecimento do Tipo I, para as atividades do Tipo II sugere-se: organização de uma peça teatral que conte a história das Copas do Mundo; estudo biográfico de grandes personalidades do futebol; entrevistas com pessoas ligadas ao esporte para compor estudos e produção de textos; análise geográfica da localização dos estádios nas cidades sede do evento; análise do custo benefício para um município sediar o evento; organização de um campeonato de futebol na escola ou interescolar, dentre tantas outras possibilidades de atividades a serem desenvolvidas. Vale destacar a importância da construção de projetos para organizar e nortear de forma eficaz os trabalhos. Para execução do Enriquecimento do Tipo III, conforme o nível de trabalho e o foco dado pelos projetos no Enriquecimento do Tipo I e II, poderá haver a necessidade de participação de professores especialistas, alunos com habilidades específicas e até mesmo, parcerias com instituições de ensino superior ou órgãos especializados da comunidade, porque nesta etapa a proposta é chegar a um “produto”. No Tipo III os alunos se tornam investigadores reais de um problema real usando métodos apropriados de investigação e é por esse motivo que nem todos os trabalhos desenvolvidos no Enriquecimento do Tipo II atingirão o Tipo III. Para chegar neste nível, os alunos terão que estar extremamente envolvidos e aptos a produzir algo que possa ser socializado com a comunidade. Esaa produção poderá ser a organização e publicação de um livro, de um artigo científico para apresentação em um evento específico da área, construção de uma mídia informativa para distribuir na comunidade, ou a criação de outro produto que tenha sido pesquisado e possa ser socializado na comunidade. Utilizando o modelo de Enriquecimento de Renzulli (2001), acredita-se que todos os alunos, independente do perfil e da(s) área(s) que apresenta maior talento ou habilidade, se beneficiarão em suas aprendizagens e sentir-se-ão motivados a participar e interagir com todos na escola.
REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Política nacional de educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Brasília: MEC/SEESP, 2008. CAMPBELL, L.; CAMPBELL, B.; DICKINSON, D. Ensino e aprendizagem por meio das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. GARDNER, H. Estruturas da mente: estruturas das inteligências múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 1994. JIE-QUI, C. Atividades iniciais de aprendizagem. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
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PEREZ, S. G. P. B. Os e crenças sobre as pessoas com altas habilidades: alguns aspectos que dificultam o seu atendimento. Cadernos de Educação Especial, n. 22, 2003. Disponível em . Acesso em: 29 abr. 2013. RENZULLI, J. S. Enriching curriculum for all students.Illinois: SkyLight Training and Publishing Inc –Arlington Heights, 2001. RENZULLI, J. S. The schoolwide enrichment model – A how-to guide for educational excellence.Connecticut : Creative Learning Press, 1997. WINNER, E. Crianças superdotadas: mitos e realidades. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
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ACESSIBILIDADE EM E V ENTOS ESPORT IVOS: PARA TODOS?
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ACESSIBILIDADE EM EVENTOS ESPORTIVOS: PARA TODOS?
Marisa Bispo Feitosa54 Walmir Marcelino Teixeira55
INTRODUÇÃO Eventos esportivos de grande porte podem e devem proporcionar à comunidade que o hospeda resultados que extrapolem os serviços prestados durante o exato transcorrer do mesmo. A seguir, pretende-se descrever como uma competição internacional de futebol influencia nas mudanças sociais de organização e reorganização do meio para assegurar acessibilidade, em particular das pessoas com deficiência. Haja vista a necessidade de acolher pessoas, delegações nacionais e internacionais, compondo a diversidade, fez-se necessário o estabelecimento de critérios a serem cumpridos, descritos por meio de leis, decretos e acordos entre o país sede e organismos internacionais interessados na realização da competição. Assim, o atendimento à parcela de necessidades levantadas para a realização do evento poderá ser considerado como legado à comunidade local e regional. LEGISLAÇÃO: IMPACTOS NA ACESSIBILIDADE A reunião de pessoas em torno de evento internacional tende a caracterizar o futebol – esporte praticado no mundo todo – como esporte de grande potencial agregador das diferenças econômicas, sociais e culturais. Assim, pode-se trazer à tona a reflexão sobre a necessidade de organização estrutural, na promoção da acessibilidade urbana, a qual impacta a copa na constituição do legado na comunidade local. Nesse sentido, ao reunir as diferenças sociais e culturais, Canguilhem (2006, p.102, apud BRAGANÇA; PARKER, 2009, p.39) considera que (...) na hipótese de ocorrerem modificações do meio, a vida possa encontrar a solução do meio, a vida possa encontrar a solução para o problema da adaptação que, brutalmente, se vê forçada a resolver. Um ser vivo é normal em um determinado meio na medida em que ele é a solução morfológica e funcional encontrada pela vida para responder a todas as exigências do meio.
A partir dessa reflexão, pode-se dizer que a concepção desejável seja a organização do meio à pessoa. Desse modo, ações como a destinação de 1% de assentos a pessoas com deficiência nas arenas (estádios de futebol) para o respectivo evento, ingressos com redução tarifária e a acessibilidade arquitetônica corroboram com o enfoque da adaptação do meio para todos (BRASIL, 2012a).
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Professora da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DEEIN Professor da Rede Estadual de Ensino – Arte – SEED/SUED/DEEIN
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O protagonismo das pessoas com deficiência, historicamente, vem denunciando e motivando os diferentes contextos para a ressignificação de seus conceitos, atitudes e ações, no sentido de construir uma sociedade que acolha com respeito e dignidade todas as pessoas. Que reconheça as diferenças inerentes à diversidade humana (BRASIL, 2007a). O enfoque, antes concentrado no esforço da pessoa com deficiência, se desloca para o contexto da sociedade, a qual se deve abrir para acolher todas as pessoas, incluindo aquelas que, em razão de limitações físicas, sensoriais ou intelectuais não podem chegar ou estar em todos os lugares sem ajuda, apoio, adaptação física, recurso tecnológico e de comunicação e, acima de tudo, sem o respeito que merecem enquanto cidadãos. Garcia (2008, p.55) contempla essa responsabilização da sociedade em geral quando expressa o conceito de desenho universal que “coexiste com outros termos, tais como desenho inclusivo ou desenho integrador, menos conhecidos, mas de significado similar”. Nessa linha de pensamento: As propostas de acessibilidade dentro das noções de desenvolvimento inclusivo devem incorporar o princípio do desenho universal na construção dos edifícios, das vias de acesso e todos os espaços envolventes para a planificação de programas de proteção social com a inclusão de grupos de pessoas com deficiência. (GARCIA, 2008, p.140)
A autora continua refletindo acerca dos possíveis desdobramentos do princípio do desenho universal que incluem grupos de pessoas com deficiência: Esses grupos que devem ser beneficiários de políticas sociais têm também uma contribuição a oferecer a partir de experiências diferenciadas que vão amealhando no correr dos anos, nas áreas de saúde, habitação e infraestrutura.
Desse modo, as experiências das pessoas com deficiência enriquecem o desenho universal e propõem um desenvolvimento inclusivo, em sociedade que se reconhece na diversidade humana, social e cultural (GARCIA, 2008). A respeito dos recursos de acessibilidade que devem estar disponíveis para todos, Damasceno e Galvão (2002, p.1) dizem que: O acesso aos recursos oferecidos pela sociedade, pela cultura, escola, tecnologias, etc., influenciam determinantemente nos processos de aprendizagem da pessoa. Desenvolver recursos de acessibilidade seria uma maneira concreta de neutralizar as barreiras e inserir esse indivíduo nos ambientes ricos para a aprendizagem, proporcionados pela cultura.
Vale salientar que, além da acessibilidade arquitetônica, há a acessibilidade de informação e comunicação, que envolve os recursos de tecnologia assistiva. Segundo o Comitê de Ajudas Técnicas (BRASIL, 2007b, p.1): Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidades ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social.
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As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) vêm se tornando, de forma crescente, importantes instrumentos de nossa cultura e, sua utilização, um meio concreto de inclusão e interação no mundo. Dentre os recursos de TIC’s, a tecnologia assistiva é destinada, principalmente, às pessoas com deficiência física neuromotora, àquelas que, por motivo de graves sequelas motoras, utilizam esses recursos para comunicação e interação, nos ambientes educacionais, sociais e laborais considerados imprescindíveis para a efetiva participação (DAMASCENO; GALVÃO, 2002). Tornar os espaços acessíveis beneficia a todos, não somente às pessoas com deficiência. Exemplo disso é a arquitetura inclusiva, quando propõe a colocação de piso com faixa tátil de orientação para a pessoa com deficiência visual e uma programação de comunicação visual que contemple as necessidades da pessoa surda, piso antiderrapante, porta alargada, banheiro adaptado, guias, corrimãos e rampa de acesso para a pessoa com deficiência física – contribuem, sobremaneira, à qualidade das relações e principalmente para a garantia do direito de ir e vir de todos os cidadãos (DAMASCENO; GALVÃO, 2002). Um espaço acessível é de fácil compreensão e permite à pessoa ir e vir, participando de atividades com segurança, conforto e autonomia. Nessa perspectiva, apresentam-se os quatro principais componentes da acessibilidade espacial, de acordo com a Orientabilidade, Deslocamento, Comunicação e Uso (DISCHINGER, 2005). A orientabilidade e comunicação compreendem o atendimento da pessoa cega e surda: inserir informações adicionais em Braille, mapas táteis, pictogramas; instalar placas nas portas dos ambientes em Braille; implantação de totens informativos; diferenciação de setores através de cores; utilização de referências sonoras para auxiliar deficientes visuais, integrar visualmente as edificações com o entorno imediato; oferecer meios alternativos de informação a todo tipo de usuário, incluindo linguagem em libras e aparelhos de tecnologia assistiva. No atendimento à pessoa com deficiência física e mobilidade reduzida, em relação ao deslocamento destacase: a criação de rampas conforme normativas estabelecidas – Associação Brasileira de Normas Técnicas; a execução de preenchimento do piso ou piso elevado nas circulações a fim de eliminar os desníveis existentes entre os ambientes e a circulação e a instalação de elevadores. Ressalta-se que todas as alterações que se façam necessárias visando à adaptação de qualquer imóvel antigo ou novo, deve obrigatoriamente obedecer ao previsto na norma técnica NBR 9050 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Por fim, o uso que compreende a instalação de sanitários acessíveis, com dimensões internas adequadas, equipamentos mínimos e em alturas pré-estabelecidas, por meio de normativas da Associação Brasileira de Normas Técnicas; a permanência de pessoas usuárias de cadeiras de rodas em locais de maior aglomeração de pessoas – como, por exemplo, anfiteatro – e propor rotas de fuga com segurança a todos, especialmente àqueles com mobilidade reduzida (BRASIL, 2007). Para assegurar a acessibilidade da pessoa com deficiência importa salientar a existência de legislação específica na promoção de direitos. O Decreto Federal nº 5296/04 dá prioridade de atendimento às pessoas com deficiência e estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade.
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Embora o referido Decreto Federal tenha previsto o percentual de 2% de lugares a pessoas que utilizam cadeiras de rodas e outros 2% a deficientes visuais, obesos e pessoas de pouca mobilidade, o Decreto Federal nº 7783/12, no artigo 11, estabelece que será observada a destinação mínima de 1% da capacidade total de espaços e assentos do estádio ou outra instalação para pessoas com deficiência (BRASIL, 2012a). Observa-se, no entanto, que o Decreto nº 7783/12 é específico para a Copa das Confederações 2013, Competições Internacionais de Futebol e a Jornada Mundial da Juventude, 2013. Nesse sentido, a Convenção dos Direitos da Pessoa com Deficiência (2008) descreve como princípio a acessibilidade aos meios físico, social, econômico e cultural, à saúde, à educação e à informação e comunicação. Outro princípio igualmente importante trata do estabelecimento dos serviços e instalações da comunidade para a população em geral, tanto quanto para a pessoa com deficiência. Assim, o Parágrafo 7 da Lei nº 12.663/12 (comumente conhecida como a Lei da Copa) procura atender a esses princípios quando especifica: § 7º Os entes federados e a FIFA poderão celebrar acordos para viabilizar o acesso e a venda de Ingressos em locais de boa visibilidade para as pessoas com deficiência e seus acompanhantes, sendo assegurado, na forma do regulamento, pelo menos, 1% (um por cento) do número de Ingressos ofertados, excetuados os acompanhantes, observada a existência de instalações adequadas e específicas nos Locais Oficiais de Competição (BRASIL, 2012b).
Dessa forma, percebe-se que o trabalho de organizações da sociedade civil, em conjunto com os poderes legalmente constituídos, pode resultar em ações que atendem às necessidades e anseios da própria sociedade.
CONSIDERAÇÕES Conhecer a pessoa com deficiência, reconhecer as suas necessidades, respeitar seus direitos e valorizar o seu potencial são princípios inerentes a toda política pública e, em particular, à política de promoção da acessibilidade aos bens e serviços ao alcance de todos. Para que ocorra o pleno desfrute de vida independente e inclusão na sociedade da pessoa com deficiência, leis e decretos específicos como a chamada Lei da Copa contribuem para garantir a todos seus direitos e a participação na comunidade em igualdade de oportunidades. Como visto, muitas são as ações que antecedem à construção da legislação e que regem a organização da sociedade. A Lei da Copa concretiza demanda social estabelecida por grupo de pessoas que requerem o atendimento de suas necessidades. Posto isso, percebe-se gradativa mudança social na concepção de sociedade igualitária, inclusiva e acessível.
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REFERÊNCIAS BRAGANÇA, Soraya; PARKER, Marcelo. Igualdade nas diferenças: os significados do “ser diferente” e suas repercussões na sociedade. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2009. BRASIL.Decreto nº 7.783, de 7 de agosto de 2012. Regulamenta a Lei nº 12.663, de 5 de junho de 2012, que dispõe sobre as medidas relativas à Copa das Confederações FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA 2014 e à Jornada Mundial da Juventude – 2013. Brasília, 2012a. BRASIL. Lei nº 12.663, de 5 de junho de 2012. Dispõe sobre as medidas relativas à Copa das Confederações FIFA 2013, à Copa do Mundo FIFA 2014 e à Jornada Mundial da Juventude - 2013, que serão realizadas no Brasil; altera as Leis nos 6.815, de 19 de agosto de 1980, e 10.671, de 15 de maio de 2003; e estabelece concessão de prêmio e de auxílio especial mensal aos jogadores das seleções campeãs do mundo em 1958, 1962 e 1970. Brasília, 2012b. BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência: Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Brasília: CORDE, 2007a. _____.Reunião, 7, Brasília, 2007b. Ata. Brasília, 2007b. (CORDE/SEDH/PR) Disponível em: Acesso em: 19 abr. 2013. DAMASCENO, Luciana Lopes; GALVÃO FILHO, Teófilo Alves. As novas tecnologias como tecnologia assistiva:utilizando os recursos de acessibilidade na educação especial. In: CONGRESSO IBERO-AMERICANO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO ESPECIAL, 3., 2002. Anais. [s.l.]; CIIEE, 2002. Disponível em: http://www.ufrgs.br/niee/eventos/CIIEE/2002/ programacao/Demonstracoes.pdf Acessado em: 19 abr. 2013. DISCHINGER, Marta; BINS ELY, Vera H. M. Promovendo acessibilidade nos edifícios públicos: guia de avaliação e implementação de normas técnicas. Florianópolis: Ministério Público do Estado, 2005. GARCIA, Carla Cristina. Sociologia da acessibilidade. Curitiba: IESDE, 2008.
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O ESPORT E
PARA O SURDO
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O ESPORTE PARA O SURDO Fabiana Ceschin Ribas56
INTRODUÇÃO A surdez não é identificada à primeira vista. Comparando-a com outras deficiências que são perceptíveis visivelmente, muitas vezes uma pessoa surda ou com deficiência auditiva passa despercebida entre os demais. Fisicamente não apresenta dificuldade cognitiva, diferença física e nem limitações corporais, porém não ouve, não escuta o que lhe é pedido. É surdo e a única dificuldade que enfrenta é a barreira da comunicação, a sua deficiência está somente em seu aparelho auditivo, sem prejudicá-lo nem limitá-lo corporalmente pois seu desenvolvimento motor segue os padrões da ‘normalidade’. O surdo não é visto mais como aquele a quem a falta da audição precisa ser superada; mas como um ser eficiente, que se comunica por outro canal e, consequentemente, tem outra língua. O uso da expressão surdo revela uma amplitude social que situa a perda auditiva apenas como um fator, aos níveis médico e terapêutico, no contexto de vida da pessoa surda, sem ocupar uma posição tão significativa para seu desenvolvimento individual e grupal. A ausência da audição faz com que os surdos recorram a outros caminhos para desenvolver suas necessidades linguísticas, como a língua de sinais. A LÍNGUA DE SINAIS As Línguas de Sinais são línguas visual-espaciais, utilizando da experiência visual para expressarem-se, como Capovilla (2011) refere-se a uma modalidade quiroarticulatória-visual e não oroarticulatória-auditiva como as línguas orais que são oral-auditiva. As Línguas de Sinais não são universais, cada país tem a sua própria língua influenciada pela sua cultura nacional, como a Língua de Sinais Americana, Francesa, Inglesa, e outras. As Línguas de Sinais também possuem expressões que diferem de região para região, como nas línguas orais. No Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida como meio legal de comunicação e expressão dos surdos pela Lei Federal n. 10.436, de 2002. (BRASIL, 2002). As línguas de sinais são línguas gestuais-visuais baseadas no uso das mãos, dos olhos, do rosto, da boca, enfim de todo o corpo. Elas representam a resposta criativa do surdo para a experiência visual da surdez, e oferece a oportunidade de expressarem-se, desenvolvendo seu potencial de forma diferente da linguagem oral. É erroneamente generalizada entre leigos como mímica, sendo esta, a forma de expressão através de gestos naturais que procuram imitar imagens do que se quer fazer compreender. As línguas de sinais têm as mesmas funções das línguas orais, pois apresentam uma organização interna que define seu conjunto de regras próprias, em todos os níveis linguísticos, e podem expressar pensamentos mais
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Professora da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DEEIN
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complexos e as ideias mais abstratas, sendo adequadas para transmitir informações, para o ensino e, principalmente, representam a identidade entre as pessoas surdas. São consideradas naturais quando próprias das comunidades de falantes, que as têm como meio espontâneo de comunicação, podendo ser naturalmente adquiridas, por meio do convívio social, como primeira língua (ou língua materna), por qualquer um de seus membros, desde a infância. Um grande número de pessoas ouvintes ainda apresenta dificuldades em aceitar a Língua de Sinais, devido a influências sociais e a preconceitos diversos. Para Quadros e Karnoop (2004), as línguas de sinais são línguas naturais que possuem propriedades linguísticas características de todas as línguas e não como um problema do surdo ou como uma patologia de linguagem. É por meio da língua que um sujeito constrói sua identidade e desenvolve seus aspectos afetivo, cognitivo e social, quando utilizada entre seus pares e no meio em que vive. Segundo Capovilla (2001), a língua define um povo e a linguagem define um indivíduo, sendo assim, o povo brasileiro é definido por uma língua em comum, o Português, e a comunidade surda brasileira também é definida por uma língua em comum, a Língua Brasileira de Sinais. O Governo do Estado do Paraná reconhece a Libras, pela Lei Estadual nº 12.095/98, (PARANÁ, 1998) e outros recursos de expressão a ela associados, como meio de comunicação, atendendo especificidades linguísticas e culturais dos alunos surdos inclusos na rede pública e conveniada de ensino, incluindo também as atividades corporais e o esporte, por meio da Educação Bilíngue.
ADAPTAÇÕES PARA O ESPORTE
Para que o surdo possa participar efetivamente das práticas corporais e dos esportes, as adaptações deverão servir como um apoio, pois com o domínio da Língua de Sinais é possível a comunicação. Tratando-se de atividades esportivas, os esportes não sofrem adaptações em suas regras e sim na arbitragem, como o apoio visual com bandeiras sinalizadoras, substituindo o comando da voz e o uso do apito, e recursos de iluminação nas tabelas de basquete, como sinalizador, propiciando a igualdade entre os participantes surdos e ouvintes. Lopes propõe que se olhe a surdez não pela falta, mas pela marca de sua diferença. E que: quem tem surdez parte de uma condição narrada como diferenciada em relação a quem tem audição. Muito além de um corpo, aqui estão implicadas formas de se relacionar, formas de se identificar com alguns e se distanciar de outros, formas de se comunicar e de utilizar a visão como um elo aproximador entre sujeitos semelhantes.
As práticas corporais contribuem para o aprimoramento das capacidades do sujeito surdo como um indivíduo pleno, que não apresenta limitações físicas e sim sensoriais e que podem ser sanadas pela Libras, a língua natural dos surdos, possibilitando assim a sua participação enquanto sujeito crítico, integrante de um grupo, capaz de se movimentar e refletir de maneira significativa sobre a execução das práticas corporais vivenciadas, e não como um mero executor, repetidor de movimentos físicos.
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SUGESTÕES DE ATIVIDADES Para Bueno e Resa (1995), ao planejar e executar atividades físicas para surdos e/ou deficientes auditivos, deve-se considerar: a posição do educador no momento das instruções; a clareza das explicações; utilização de sinais visuais; adequação do número de participantes nas atividades em grupos (especialmente os exercícios de equilíbrio); utilização de recursos materiais para enriquecer a aula. Ferreira (1994); Bueno; Resa, (1995); Pérez (1995), apud Cidade e Freitas (2002, p. 54-56) sugerem também fazer uma escolha adequada quanto à metodologia a ser utilizada, o material e a aplicação. Sendo assim, indicam: - analisar os objetivos, sequenciando-os, seguindo uma evolução adequada, para facilitar o progresso do educando; - se for necessário, ensinar a tarefa por partes para que depois o aluno possa realizá-la totalmente; - tentar alcançar a máxima individualização do educando, a maior participação possível e estimular a criatividade; - utilizar atividades baseadas na resolução de problemas e, em determinados momentos, baseadas em estilos dirigidos; - incentivar a participação, a colaboração e a sociabilização dos educandos através da adaptação às regras, das trocas constantes de pares e dos exercícios em grandes grupos.
Além das atividades a serem trabalhadas sobre o futebol, como: pesquisar a origem desse evento, os paísessede, os países vencedores e os mascotes; conhecer as regras do futebol como: o campo de jogo, a bola, o número de jogadores, o árbitro, o uniforme, a duração da partida, o início de jogo, o gol, o impedimento, o tiro livre, as faltas, o pênalti, o arremesso lateral e o escanteio; identificar os países participantes do evento, como a população, sua bandeira, seus costumes e hábitos e a culinária típica, e conhecer os sinais (da Libras) dos países participantes. Propõe-se também que assistam a vídeos esportivos, como de partidas de Futebol de surdos, ou outras modalidades esportivas, observando suas adaptações na arbitragem. Pesquisas em sites, como na Confederação Brasileira de Desportos Surdos (CBDS), e nas edições das Olimpíadas para Surdos; a fim de estimular a participação dos alunos surdos em suas praticas corporais dentro da escola.
CONSIDERAÇÕES Sabe-se que por meio do esporte, qualquer indivíduo desenvolve suas habilidades físicas, podendo transformar sua vida, vivenciando valores e regras, respeitando suas diferenças e limitações físicas, cognitivas e sensoriais. O surdo apenas não ouve, sua deficiência está somente em seu aparelho auditivo, sem prejudicá-lo nem limitá-lo corporalmente. Para o indivíduo surdo não é diferente, e independentemente de qualquer fator racial, social ou cultural, a forma de comunicação ainda é geradora de estudos e questionamentos, porém a Libras é um termo consagrado pela comunidade surda brasileira, e com o qual se identifica, pois o surdo não é visto mais como aquele a quem a falta da audição precisa ser superada; mas como um ser eficiente, que se comunica por outro canal e, consequentemente, tem outra língua.
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E a comunicação deve ser a primeira barreira a ser quebrada, por meio das práticas corporais ou esportivas, agindo como uma ferramenta para a elevação da autoestima, valorizando as diferenças, minimizando a marginalidade, incluindo e socializando, para que assim os surdos descubram suas capacidades diante de si e do mundo, construindo uma sociedade mais justa e igualitária.
REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto nº 5.626. Regulamenta a Lei nº10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras, e o art. 18 da Lei nº10.098, de 19 de dezembro de 2000. Diário Oficial da União, Brasília, 22 de dez. 2005. CAPOVILLA, F. C.; RAPHAEL, W. D. Dicionário enciclopédico ilustrado trilíngue da Língua de Sinais Brasileira. São Paulo: EDUSP, 2001. CIDADE, Ruth Eugênia Amarante; FREITAS, Patrícia Silvestre. Introdução à educação física e ao desporto para pessoas portadores de deficiência. Curitiba: UFPR, 2002. LOPES, Maura Corsini. Educação e surdez. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. PARANÁ. Lei estadual n. 12.095/98. Curitiba,1998. QUADROS, R. M.; KARNOPP, L. B. Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. Porto Alegre: Artmed, 2004.
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A IMPORTÂNCIA DO ESPORT E PARA OS DEF ICIENT ES V ISUAIS
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A IMPORTÂNCIA DO ESPORTE PARA OS DEFICIENTES VISUAIS Maira de Lurdes Zuchi57 Miria de Souza Fagundes58 Ricardo José de Lima59
INTRODUÇÃO Muitos teóricos tentaram entender ou explicar a cegueira por meio das pessoas que enxergam. Vygotski (1989) foi além, tentando compreender o significado social e individual que a cegueira pode causar, como também a forma dessas pessoas viverem sem o sentido da visão. Para o autor: Cegueira não é apenas a falta de visão, é meramente ausência de visão (o defeito de um órgão específico), senão que assim mesmo provoca uma grande reorganização de todas as forças do organismo e da personalidade. A cegueira, ao criar uma formação peculiar de personalidade, reanima novas forças, altera as direções normais das funções e, de uma forma criadora e orgânica, refaz e forma a psique da pessoa. Portanto a cegueira não é somente um defeito, uma debilidade, senão também, em certo sentido, uma fonte de manifestação das capacidades, uma força (por estranho e paradoxal que seja!). (VYGOTSKI, 1989, p.74)
Para Vygotsky, uma pessoa que nunca enxergou, não pode ter noção do que é a cegueira a não ser por referências sociais ou por atitude de reflexão. Para ele, a psicologia do cego é construída como conhecimento científico, não pode ser apenas o estudo de suas funções e habilidades sensoriais ou desvios isolados, mas sim a compreensão de todas as suas manifestações durante sua vida, a sua totalidade expressando-se em cada sentido. Vygotsky acredita que até a década de 20, quando ele trouxe à luz seus estudos sobre defectologia, pouco a ciência havia feito em relação à análise da personalidade do cego na sua totalidade, para poder compreender o seu caminho de desenvolvimento. O desenvolvimento da pessoa cega e/ou de baixa visão sofre interferência da perda visual, acarretando dificuldades para a compreensão e organização do meio. O esporte para pessoas com deficiência tem sido abordado desde os séculos XVIII e XIX, afirmando a importância da atividade física como agente reeducador e reabilitador dessas pessoas. Em 1984, foi criada a Associação Brasileira de Desporto para Cegos (ABDC), com o intuito de organizar e desenvolver o esporte para atletas com deficiência visual (ABDC, 2000). A perda total ou parcial da visão não significa que a pessoa está impedida da prática de educação física escolar, ginástica, dança, natação ou demais esportes. Pelo contrário, há uma necessidade dessas atividades, pois devido à privação visual, seus espaços de locomoção ficam limitados, sua postura sofre alterações pelo uso da bengala e a integração com os demais segmentos da sociedade ficam restritos. A inclusão do deficiente visual na atividade física e nos desportos passa pelos mesmos estágios de uma pessoa vidente, ambos desenvolvem coordenação motora, maturação cognitiva, despertar dos demais sentidos e equilíbrio.
Professora da Rede Estadual de Ensino – Língua Portuguesa – SEED/SUED/DEEIN Professora da Rede Estadual de Ensino – Educação Física – SEED/SUED/DEEIN 59 Agente Educacional II – Rede Estadual de Ensino – SEED/SUED/DEEIN 57
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HISTÓRICO A ideia de criar uma organização que pudesse coordenar o esporte para cegos no Brasil surgiu em 1980, quando se realizaram os Jogos das APAEs - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, no sul do país. Mas somente em 1981, no Campeonato Nacional de Desportos para Deficientes Físicos, em Curitiba – PR, o projeto amadureceu. Diversos campeonatos de futebol para cegos foram disputados em 1982 e 1983, acelerando assim a criação da Fundação da Confederação Brasileira de Desportos para Cegos – CBDC. Em 19 de janeiro de 1984, em uma sessão do Conselho Nacional de Desportos, ocorreu a assembleia definitiva para efetivação da entidade. Várias instituições consideradas pioneiras no movimento participaram dessa reunião: Centro Desportivo de Deficientes do Estado do Rio de Janeiro (CEDEVERJ, RJ); Serviços de Assistência São José Operário (SASJO, RJ); Associação dos Deficientes Visuais do Paraná (ADEVIPAR, PR); União dos Cegos D. Pedro II (UNICEP, ES); Sociedade Luís Braille (SEDLB, ES); e Associação Catarinense para a Integração do Cego (ACIC, SC). A Fundação CBDC passou a ter a designação de Confederação Brasileira de Desportos para Cegos, após aprovação em Assembleia Geral Extraordinária realizada em Campinas – SP em dezembro de 2005, tendo como objetivo fomentar e desenvolver o desporto de cegos e de baixa visão no Brasil, representando-o nacional e internacionalmente. Em 2009, a CBDC passa a se chamar Confederação Brasileira de Desporto de Deficientes Visuais – com a sigla CBDV. Trata-se de uma Associação sem fins lucrativos, que congrega entidades de e para cegos, atletas cegos e técnicos esportivos. São da responsabilidade da CBDV a gestão e o desenvolvimento das modalidades esportivas para deficientes visuais. Esse trabalho é desempenhado em diversas frentes, como participação e conquista de campeonatos internacionais; promoção de um calendário nacional de competições; treinamento e orientações das organizações da sociedade civil. Com essas ações, a CBDV possibilita a inclusão social de várias pessoas ao difundir a prática esportiva pelos cegos em diferentes partes do Brasil, viabilizando assim a integração desses atletas no calendário internacional.
CLASSIFICAÇÃO DA DEFICIÊNCIA VISUAL Existem vários tipos de classificação da deficiência visual, mas citaremos o Decreto nº 3298, de 20 de dezembro de 1999 (BRASIL, 1999). Art. 4º É considerada pessoa portadora de deficiência a que se enquadra nas seguintes categorias: III – deficiência visual – acuidade visual igual ou menor que 20/200 no melhor olho, após a melhor correção, ou campo visual inferior a 20º (tabela de Snellen), ou ocorrência simultânea de ambas as situações;36
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Classificação de acordo com a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 1999.
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CLASSIFICAÇÃO ESPORTIVA PARA DEFICIENTES VISUAIS A IBSA (sigla em inglês para Federação Internacional de Desportos para Cegos), entidade que regulamenta e organiza competições paradesportivas que envolvam esportes para deficientes visuais, determina que estão aptos a participar de seus campeonatos atletas que se enquadrem nas categorias B1, B2 e B3. A letra B é a inicial da palavra inglesa blind (cego) e a seguir descreveremos as categorias: B1: refere-se a indivíduos que não apresentam resíduo visual (cegos) até aqueles que têm alguma percepção de luz, mas que não possuem capacidade de reconhecer formas ou imagens a qualquer distância. B2: desde indivíduos que distinguem a forma ou imagem até aqueles que apresentam uma acuidade visual de 2/6037 e/ou campo visual de pelo menos 5 graus. B3: engloba indivíduos com acuidade visual entre 2/60 e 6/60 e/ou um campo de visão de mais de 5 graus e menos de 20 graus38. JOGOS PARALÍMPICOS Em 1976 foram criados os Jogos Paralímpicos, destinados aos deficientes físicos, visuais e paralisados cerebrais, são realizados paralelamente aos Jogos Olímpicos. Atletas cegos e de baixa visão de vários países têm participado desses jogos desde sua criação. Os jogos paralímpicos têm sido caracterizado como o mais importante evento esportivo mundial para os deficientes. Participam os melhores para-atletas, transformando o evento em termos de complexidade, duração e número de participantes equivalente aos Jogos Olímpicos para atletas não deficientes. Atletismo, Natação, Goalball, Judô e Futebol são alguns dos esportes entre outros, praticados por atletas deficientes visuais. ATLETISMO As provas do atletismo adaptado podem ser disputadas por atletas com qualquer grau de deficiência visual, pois os mesmos serão distribuídos em classificações B1, B2, B3, tanto na categoria feminina quanto na categoria masculina, competindo entre si nas provas de pista, de campo e na maratona. No atletismo adaptado para atletas deficientes visuais, os atletas B1 e B2 possuem o direito de correr em duas raias, unidos por uma guia de 5 a 50 cm, ao atleta-guia. O atleta-guia poderá passar instruções de colocação e posição nas raias para o atleta e estará impedido de dar orientações técnicas e de pronunciar palavras de motivação aos atletas. Nas provas de campo, os atletas B1 e B2 também poderão fazer uso do atleta-guia, sendo que o mesmo passará instruções de localização de para onde e quando os atletas deverão arremessar ou saltar. Os atletas B3 não possuem o direito de usar o atleta-guia nem em provas de campo nem nas de pista, e só poderão correr em uma raia, deferente dos atletas B1 e B2 que poderão correr em duas raias.
2/60 significa que o objeto que uma pessoa com visão normal enxerga a 60 pés (20m) uma pessoa com deficiência visual só consegue enxergar a 2 pés (66cm). 38 Classificação retirada do site da International Blinds Sports Federation (IBSA), disponível em http://www.ibsa.es Acesso em: 02 de maio de 2013. 37
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NATAÇÃO Poucas regras foram adaptadas para a prática de deficientes visuais. Elas se baseiam nas normas da FINA Federação Internacional de Natação - e as provas disputadas são as mesmas: livre, costas, peito e borboleta, divididas por categorias de classificação oftalmológica B1, B2 e B3, sendo que cada uma disputa entre si. No início da década de 1980, foi introduzido o tapper nas provas para atletas B1 e B2. O tapper nada mais é do que um técnico que fica à beira da piscina segurando um bastão com uma bola de tênis na ponta, que serve para tocar nas costas do atleta para que ele saiba a hora exata da virada. Para os nadadores B1 é obrigatório o uso de uma venda totalmente opaca. Foi apenas em 1988, nas Paralimpíadas de Seul, que a natação para deficientes passou a fazer parte do quadro paralímpico.
JUDÔ Judô é a única arte marcial dos Jogos Paralímpicos. Essa modalidade tornou-se paralímpica em Seul, 1988. A estreia das mulheres foi em 2004, nos Jogos de Atenas. Com a filosofia de ética, respeito ao oponente e às regras, o esporte dá ao atleta um grande aperfeiçoamento do equilíbrio estático e dinâmico, fundamentais no cotidiano dos deficientes visuais. Aprender a cair é também muito importante para dar segurança ao judoca. Insegurança gera tensão muscular, o que atrapalha os movimentos. As principais competições internacionais são as Paralimpíadas, Jogos Mundiais da IBSA, Campeonato Mundial, Campeonatos Continentais e a Copa Mundial. Judocas das três categorias oftalmológicas, B1, B2 e B3, lutam entre si e o atleta cego (B1) é identificado com um círculo vermelho em cada ombro do quimono. As regras são as mesmas da Federação Internacional de Judô - IJF, com as seguintes adaptações: - A luta é interrompida quando os competidores perdem contato; - Os judocas não são punidos quando saem da área de combate.
GOALBALL Essa modalidade foi criada especialmente para os deficientes visuais, ao contrário de outras, que foram adaptadas. O Goalball é um esporte coletivo, em que participam duas equipes de três jogadores com, no máximo, mais três atletas reservas. Competem, namesma classe, atletas classificados como B1, B2 e B3, segundo as normas de classificação desportiva da International Blind Sports Federation (IBSA), separados nas categorias masculinas e femininas. O desenvolvimento do jogo é baseado no uso da percepção auditiva para a detecção da trajetória da bola, que tem guizos, e requer uma boa capacidade de orientação espacial do jogador para saber onde está localizada. Por isso, o silêncio absoluto é muito importante para o desenvolvimento da partida. O principal objetivo é que cada equipe jogue a bola rasteira para o campo adversário e marque o maior número de gols em dois tempos de 10 minutos jogados.
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Os três jogadores atacam e defendem. O local de competição deve ser um ginásio com uma quadra retangular, dividida em duas metades por uma linha central, com um gol (de 9 metros de largura e 1,3 de altura) em cada extremo. Não é permitido o uso de próteses, óculos ou mesmo lentes de contato. Todo jogador deve usar vendas de pano totalmente opacas (ou óculos opacos de esqui), de modo que aquele que possui visão residual não possa obter vantagem sobre um companheiro totalmente cego. FUTEBOL Tem-se verificado, nos últimos anos, que o interesse dos atletas com deficiência em praticar uma atividade física tem aumentado. Segundo algumas instituições, os deficientes visuais sempre procuram informações e lugares onde possam desenvolver algum tipo de esporte adaptado a sua deficiência. Dentre todas as atividades esportivas, o futebol é o mais difícil de ser praticado, porém é o mais procurado entre os deficientes visuais. O futebol de cinco, também conhecido como futsal e futebol para cegos, é uma adaptação do futebol para atletas com deficiência visual. A quadra tem as mesmas dimensões de uma quadra de futsal para videntes. A bola utilizada nas partidas deve apresentar as seguintes características: esférica, com circunferência entre 60 e 62 centímetros e ser de couro ou qualquer outro material adequado. A sua grande particularidade reside no som que ela emite, para que os jogadores possam percebê-la na quadra. Esse sistema de som é geralmente composto por guizos, que fazem barulho conforme a bola se movimenta. A quadra deve ser cercada com uma proteção de madeira de 1,20 m de altura para evitar que a bola saia do jogo e ser descoberta para evitar eco. Todos os jogadores devem usar vendas, pois alguns deficientes visuais percebem vultos, o que pode trazer alguma vantagem; somente o goleiro tem visão normal. Atualmente, o futebol para cegos é praticado em mais de 30 países. Sua estreia oficial em Jogos Olímpicos para pessoas com deficiência – Paralimpíadas – ocorreu em 1994, na cidade de Atenas. Desde então, os atletas dessa modalidade vêm sendo reconhecidos, especialmente no Brasil, país vencedor do futebol de cinco nos Jogos de Atenas.
ATIVIDADES ESCOLARES O aluno com deficiência visual total pode apresentar defasagens no desenvolvimento geral, mais especificamente na área motora, quando privados de estimulação adequada e pela limitação de experiências motoras. Torna-se frequente o medo de situações e ambientes desconhecidos, insegurança em relação as suas possibilidades de ação física, dependência, apatia, isolamento social, desinteresse, autoconfiança prejudicada e dificuldade no estabelecimento de relações com pessoas e ambiente. A educação física adaptada ao aluno com deficiência visual (cego e/ou de baixa visão) trabalha abrangendo o seu desenvolvimento, não somente na área psicomotora, como também os aspectos cognitivos, sociais afetivos e sensoriais. A criança cega tem necessidade de descobrir, conhecer, dominar e relacionar seu corpo com o ambiente e com as pessoas.
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Nas aulas de vôlei, o professor orientará o aluno cego quanto ao posicionamento dentro da quadra, fazendo com que perceba a dimensão da mesma; ensinará o rodízio de jogadores, colocando o aluno em todas as posições e devidas funções; também poderá ensinar ao aluno todo o processo de recepção, passe, levantamento, saque, ataque e bloqueio. A bola pode ser adaptada, usando uma de borracha e de tamanho maior, para facilitar os movimentos. O aluno pode executar o saque e, quando acertar, deve ser comunicado do acerto e elogiado. Nas aulas que envolvem atividades relacionadas com o atletismo, o professor deverá fazer algumas adaptações para que o aluno cego possa participar. No ensino correto da técnica da corrida, o aluno deve tocar no professor ou no colega para perceber os movimentos corretos, e em seguida tentar executá-los para que o professor faça uma avaliação e correção dos mesmos. Nessa atividade, sempre que possível, deverão ter um guia correndo ao seu lado. No salto na caixa de areia, o professor deverá inicialmente mostrar ao aluno o local a ser executado o salto, dessa forma ele irá construir o mapa mental do local que irá fazer os saltos. Em seguida o professor colocará o aluno no local correto do início da corrida e após a caixa de areia, coloca-se um aluno que enxerga fazendo algum sinal sonoro para que o aluno cego tenha como base a direção no momento da largada e durante todo o percurso.
CONSIDERAÇÕES Maciel (2000) aponta que o processo de exclusão social de pessoas com deficiência é tão antigo quanto a socialização do homem. A sociedade sempre as marginalizou, tornando-as alvo de atitudes preconceituosas. Conforme evidenciam Abrantes, Luz e Barreto (2006), atividades físicas e relacionadas ao desporto são importantes para o processo inclusivo do deficiente visual no esporte, pois apresentam regras, treinamento, competição e outros fatores que favorecem a inclusão dessas pessoas no ambiente de atividade física, possibilitando o encaminhamento para o esporte competitivo. Para as pessoas com deficiência, praticar esportes pode representar muito mais que saúde, são vários os aspectos positivos. O esporte melhora a condição cardiovascular dos praticantes, aprimora a força, a agilidade, a coordenação motora, o equilíbrio e o repertório motor. No aspecto social, o esporte proporciona a oportunidade de sociabilização entre pessoas com e sem deficiências, além de torná-las mais independentes no seu dia a dia. Isso sem levar em conta a percepção que a sociedade passa a ter das pessoas com deficiência, acreditando nas suas inúmeras potencialidades. No aspecto psicológico, o esporte melhora a autoconfiança e a autoestima, tornando-as mais otimistas e seguras para alcançarem seus objetivos. Sabemos que num mundo organizado para cidadãos que enxergam, as pessoas deficientes visuais enfrentam algumas limitações. A experiência dessas pessoas na sociedade estruturada para indivíduos sem limitações demonstra que é necessário lutar contra a exclusão social.
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A exclusão social é mais que uma simples questão econômica: contempla as barreiras sociais, arquitetônicas e atitudinais que impedem às pessoas deficientes visuais de participar plenamente da sociedade. Portanto, um dos desafios é oferecer um atendimento adequado a essas pessoas, dando-lhes igualdade e oportunidade.
REFERÊNCIAS ABDC. Associação Brasileira de Desportos para Cegos. Histórico do desporto no Brasil. São Paulo: {s.n.}, 2000. Disponível em: . Acesso em: 12 abr. 2013. ABRANTES, G. M.; LUZ, L. M. R. da; BARRETO, M. M.Manual de orientação para professores de Educação Física. Natação paraolímpica. Brasília, 2006. BRASIL. Decreto nº 3298, de 20 de dezembro de 1999. BRASIL, Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 1999. Brasília, 2000. MACIEL, M. R. C. Portadores de deficiência: a questão da inclusão social. São Paulo em Perspectiva, v.14, n. 2, abr./ jun.2000. Disponível em: Acesso em: 17 abr. 2013. VYGOTSKI, L. S. Obras completas – tomo V. fundamentos de defectologia, Ciudade de La Habana: Pueblo Educación, 1989.
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A PESSOA COM DEF ICIÊNCIA INT ELECT UAL E MÚLT IPLA DEF ICIÊNCIA V IV ENCIANDO O E V ENTO F UT EBOLÍST ICO
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A PESSOA COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL E MÚLTIPLA DEFICIÊNCIA VIVENCIANDO O EVENTO FUTEBOLÍSTICO Mozart Petruy60
INTRODUÇÃO Este texto tem como objetivo subsidiar a elaboração de atividades pedagógicas contemplando o evento futebolístico, a serem desenvolvidas pelas Escolas de Educação Básica - Modalidade de Educação Especial, que ofertam Educação Infantil, Ensino Fundamental - anos iniciais e a Educação de Jovens, Adultos e Idosos- Fase I, mantidas pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais- APAE e demais mantenedoras, adaptando-as às realidades locais e às necessidades específicas. Diante do quadro das necessidades educacionais especiais dos educandos inseridos no sistema educacional, entende-se que o trajeto para a realização de atividades significativas para os alunos com deficiência intelectual e múltipla deficiência exige esforços de todos. Na reflexão pedagógica voltada a essa modalidade educativa, tem especial relevância as dimensões social, ética e política. A concepção referencia a importância do valor educativo, do diálogo e da participação, considerando o educando como sujeito construtor de saberes, que devem ser reconhecidos. Os educadores que desenvolvem suas atividades pedagógicas com os alunos com Deficiência Intelectual e Múltipla Deficiência, que requeiram atenção individualizada nas atividades da vida autônoma e social, recursos ou ajudas intensos e contínuos, adaptações curriculares significativas que a escola comum não consiga prover, podem encontrar apoio nos princípios da Educação Especial. Para a realização de atividades voltadas à temática do evento apresentamos algumas sugestões. A concepção proposta para as ações a serem desenvolvidas nas Escolas de Educação Básica na Modalidade Educação Especial deve ser a dialógica, reflexiva e crítica, voltada para as questões sociais, culturais, políticas, dentre outras, compreendendo o educando como sujeito que participa e interfere na construção histórica da sociedade em que vive. A partir da temática A pessoa com deficiência intelectual e múltipla deficiência vivenciando o evento futebolístico, pode-se articular os conteúdos acadêmicos funcionais para os conteúdos acadêmicos formais relacionados às atividades, privilegiando estratégias que contemplem as diferentes linguagens verbal ou alfabética e não verbal, iconográfica (leitura de imagens, desenhos, filmes, outdoors) e cinética (sonora, olfativa, tátil, visual e gustativa), para que o educando reconheça as diferentes formas de falar, escrever e interpretar, bem como os efeitos dessas linguagens. A problematização da temática deve possibilitar ao educando a aprendizagem de novos conhecimentos, por meio da articulação entre os saberes e experiências por ele acumulados e os saberes científicos, utilizando as várias
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Professor da Rede Estadual de Ensino – Matemática – SEED/SUED/DEEIN
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linguagens textuais e situações-problema como mediadoras do processo de construção individual e coletiva do conhecimento. Essa possibilidade de diálogo entre educador e educando poderá revelar o conhecimento prévio que possuem sobre o assunto. Outros fatores, tais como fonte, interlocutor, data, local, suporte de texto, contexto histórico, autor, entre outros, contribuem para a contextualização da temática. Esses elementos também contribuem para localizar informações explícitas, implícitas, e para que o educando possa estabelecer relação com outros textos a partir da leitura alfabética. Esta deve destacar elementos da construção dos gêneros de apresentação do texto verbal. Isso compreende o discurso histórico, político, econômico, filosófico, científico, senso comum, entre outros, que possibilitem a compreensão dos diversos pontos de vista para que o educando possa posicionar-se diante das diferentes situações do cotidiano. As atividades desenvolvidas a partir da leitura e análise de cada área do conhecimento devem culminar com uma produção oral ou escrita que revele o posicionamento a respeito do assunto, bem como o nível de aprendizagem do educando. O texto verbal ou não verbal produzido pelo educando indica os conteúdos apreendidos ou não no processo ensino-aprendizagem e que permitem o redirecionamento do trabalho pedagógico e ainda subsidiam a avaliação.
OBJETIVOS Os objetivos a serem atingidos devem possibilitar que os educandos sejam capazes de: - dominar instrumentos básicos da cultura letrada, que lhes permitam melhor compreender e atuar no mundo em que vivem; - ter acesso a outros graus ou modalidades de ensino básico e profissionalizante, assim como a outras oportunidades de desenvolvimento cultural; - incorporar-se ao mundo do trabalho com melhores condições de desempenho e participação na distribuição da riqueza produzida; - valorizar a democracia, desenvolvendo atitudes participativas, conhecer direitos e deveres de cidadania; - desempenhar de modo consciente e responsável seu papel no cuidado e na educação dos jovens, adultos e idosos, no âmbito da família e da comunidade; - conhecer e valorizar a diversidade cultural brasileira, respeitar diferenças de gênero, raça e credo, fomentando atitudes de não discriminação; - aumentar a autoestima, fortalecer a confiança na sua capacidade de aprendizagem e valorizar a educação como meio de desenvolvimento pessoal e social; - reconhecer e valorizar os conhecimentos científicos e históricos, assim como a produção literária e artística como patrimônios culturais da humanidade; - exercitar sua autonomia pessoal com responsabilidade, aperfeiçoando a convivência em diferentes espaços sociais.
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De acordo com Thomas (1992), o currículo acadêmico funcional é uma proposta de atividades que objetiva ensinar habilidades que tenham função para a vida. Trabalhar habilidades úteis que possam ser usadas pelo aluno, no momento, ao longo de sua vida, em diversos ambientes que contribuam com a sua independência, produtividade e autonomia. Moreira e Silva (1997) define o currículo acadêmico formal como um terreno de produção e de política cultural, no qual os materiais existentes funcionam como matéria-prima de criação e recriação e, sobretudo, de contestação e transgressão, sendo um campo permeado de ideologia, cultura e relações de poder, pode-se afirmar que esta é a veiculação de ideias que transmitem uma visão do mundo social.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES Articulando a ponte entre o currículo acadêmico funcional e o formal constituindo uma rede de saberes, representações e ações que objetivem o processo de formação do educando, orientando ações práticas para a vida, sugere-se algumas atividades apresentadas no quadro: QUADRO 1 - CURRÍCULO Currículo Acadêmico Funcional Higiene (lavar as mãos, lavar o rosto, vestuário, alimentação);
PARA Currículo Acadêmico Formal Português - Produção de Texto Verbal - utilizando-se dos uniformes das seleções. Ciências - Corpo Humano- cuidados com corpo e alimentação (utilizar dos pratos típicos de cada nação).
Localização (perto e longe); Quantidade (pouco e muito) e dinheiro; Família, EU, Comunidade;
Geografia - Espaço Territorial - (utilizar do mapa mundial e dos mapas específicos de cada País que está participando da Copa). Matemática Medidas e Valor monetário (utilizar como referência a alimentação dos jogadores das diversas seleções e a moeda corrente de cada país que está participando da Copa).
Estimulação sensorial; História - Hábitos Culturais (utilizar o uniforme das seleções que estão participando da seleção, articulando as principais Equilíbrio, lateralidade, orientação espacial, caminhar, pular característica de cada país). e outros. Arte - Música ( utilizar como referência o hino de cada país que está participando da Copa). Educação Física - Movimento e Futebol (utilizar a imagem visual das equipes que estão participando da Copa e proporcionar atividades esportivas - Futebol, trabalhando as regras e os valores).
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QUADRO 2 – TRABALHANDO COM ELEMENTOS DO EVENTO FUTEBOLÍSTICO Currículo Acadêmico Funcional
PARA
1 Bola jogar a bola; chutar a bola; pegar a bola; perceber a bola; identificar o material que a bola é confeccionada; tamanho da bola; peso da bola; formato da bola; cor da bola. 2 Trave forma da trave; tamanho da trave; material utilizado para construir uma trave; cor. 3 Campo de Futebol
Currículo Acadêmico Formal Matemática
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Números e operações Construção do conceito de número: classificação e seriação. Conjuntos numéricos: abordagem histórica. Números naturais, inteiros, racionais; Números racionais (relação entre fracionários e decimais). Algoritmos e operações. Medidas Tempo: calendário, relógio e relações com o sistema de numeração decimal, uso das medidas de tempo e conversões. Temperatura corporal e climática. Sistema monetário. Conversões e relação entre as principais moedas: real, dólar, euro, pesquisa de mercado. Medidas de comprimento. Língua Portuguesa
cor; tamanho; desenhos no campo- figuras geométricas. 4 Rede tamanho; forma; cor; tipo. 5 Jogadores quantidade; uniforme de cada seleção; idade cronológica; moradia. 6 Instrumento Apito identificação do som; intensidade sonora; percepção auditiva; descriminação auditiva; memória auditiva; consciência auditiva.
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• • • •
Variedades linguísticas Norma culta, dialetos, gírias, regionalismos, outras formas de registros. Linguagem verbal e não verbal. Fonética do vocábulo- bola. Geometria
• • • •
Conceitos de: direção e sentido;. Figuras geométricas- formas. Figuras geométricas planas: quadriláteros, triângulos, círculos e polígonos regulares. Relações entre figuras planas.
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Currículo Acadêmico Funcional
PARA
7 Hino de cada País que está participando cultura de cada país; identificação do som; intensidade sonora; percepção auditiva; descriminação auditiva; memória auditiva; consciência auditiva.
Currículo Acadêmico Formal Educação Física
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Atividade física na produção de saúde. Sedentarismo e suas consequências; Hábitos posturais. Diversas manifestações culturais e esportivas. Expressão corporal – atividades rítmicas. Danças da cultura local. Lazer e benefícios para saúde.
8 Mascote do Evento percepção visual; percepção tátil; memória visual; discriminação visual; tamanho; animais. 9 Bandeiras dos Países forma; cor; figuras geométricas; diferenças; semelhanças.
Estudos da Sociedade e da Natureza Identidade Cultural • O educando e seu espaço de vivência. • História pessoal. • A escola. • A comunidade. • Festividades e manifestações culturais. • Patrimônio cultural e memória. Organização Social • Serviços públicos. • Órgãos de administração pública. • Movimentos sociais.
10 Alimentação dos Jogadores verduras; frutas; líquidos; legumes; massas; cereais; tipo de carne. 11 Horário dos Jogos orientação temporal; medida de tempo; diferenças de fuso horário.
Cultura e Diversidade Cultural • Caráter dinâmico da cultura. • Formação da sociedade brasileira. • Diversidade cultural brasileira. Os espaços da produção: campo e cidade • O espaço agrícola. • O processo industrial. • Industrialização no Paraná. • Transporte, comunicação e consumo. • Movimentos sociais no campo. • Tecnologia no campo e na cidade.
12 Taça forma; tamanho.
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Currículo Acadêmico Funcional 13 Medalhas material; forma; peso; tamanho.
PARA
Currículo Acadêmico Formal
Relações de trabalho • Trabalho escravo no passado e na atualidade. • Relações de trabalho no campo e na cidade. • Desemprego. • Trabalho informal. Organização socioespacial brasileira • Formação do estado nacional. • O território brasileiro. • Organização político administrativa. • Os três poderes. • Ocupação e formação do espaço paranaense. • Movimentos migratórios. • Desigualdade econômica no Brasil. Cidadania e participação • Cidadania e trabalho. • Legislação trabalhista (CLT). • Estatuto da criança e do adolescente. Questões ambientais no campo e na cidade • Degradação ambiental. • Poluição. • Questão da água. • Preservação ambiental. • Solo. • Problema do lixo. O ser humano, constituição, saúde e qualidade • O corpo humano. • Reprodução • Alimentação e saúde. • Qualidade de vida. Ecossistema • Planeta Terra – movimentos e consequências. • O sol como fonte de energia. • Relações dos seres vivos com o ecossistema. • Ciclos naturais. • Cadeia alimentar e fotossíntese.
Conclusão Currículo Acadêmico Funcional
PARA
Currículo Acadêmico Formal
Noções de cartografia • Leitura de mapas. • Escala. • Localização e orientação espacial.
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CONSIDERAÇÕES A efetivação do processo ensino-aprendizagem necessita da relação interativa entre o sujeito e o meio no qual está inserido, sendo assim, destaca-se que cada sujeito apresenta suas características pessoais para o desenvolvimento das aprendizagens que não são transferidas de um para o outro. O contexto para a aprendizagem não pode apenas estar baseado no repasse das informações, mas no conjunto das articulações como: estímulos, motivação, significação dos conteúdos, condições cognitivas, didáticopedagógica, respeito à temporalidade do desenvolvimento do aluno (criança, jovem, adulto e idoso) e a relação do currículo acadêmico funcional para o currículo acadêmico formal. O trabalho com a pessoa com deficiência intelectual e múltipla deficiência deve sempre considerar as potencialidades de cada um, observando o desenvolvimento da pessoa, o interesse e possibilitando a participação nos diversos segmentos da sociedade. No efetivo trabalho pedagógico não podemos ignorar a transição entre o aluno e os saberes próprios de sua cultura, portanto, o professor deve valorizar os inúmeros agentes mediadores da aprendizagem, não sendo o centralizador do processo, embora seja o agente privilegiado pela sistematização pedagógica, pelos objetivos da aprendizagem e a intencionalidade dos conteúdos. O trabalho pedagógico deve considerar o ponto de partida e de chegada do aluno em relação ao seu conhecimento. Pesquisando novas formas de interação, de acessar o conhecimento pessoal e coletivo, trabalhando pedagogicamente o saber universal, sem deixar de considerar o que o aluno traz de casa, de suas convicções visando propiciar uma relação com o saber diferente do que possui, ampliando sua autonomia pessoal, garantindo outras formas de acesso ao conhecimento.
REFERÊNCIAS MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa. Currículos e programas no Brasil. Campinas: Papirus, 1990. MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; SILVA, Tomaz Tadeu. (Org.). Currículo, cultura esociedade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997. THOMAS J. LeBlanc: Control abstraction in parallel programming languages.[S.L]: ICCL, 1992.
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T RANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLV IMENTO – ORIENTAÇÕES E EST RATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA O E V ENTO F UT EBOLÍST ICO EM 2014
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TRANSTORNOS GLOBAIS DO DESENVOLVIMENTO – ORIENTAÇÕES E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS PARA O EVENTO FUTEBOLÍSTICO EM 2014 Shirley Aparecida dos Santos61 Eredi Mirta Kruger Albuquerque62
INTRODUÇÃO No cotidiano escolar, manifesta-se uma multiplicidade de alunos com problemas de aprendizagem e de comportamento, mas que, na maioria das vezes, não são identificados e atendidos nas suas reais necessidades. Muitos dos problemas encontrados se distanciam da formação docente, da prática e da ação pedagógica, e o que se verifica são medidas de intervenção incompatíveis com suas necessidades educacionais especiais, e, por consequência, não são alcançados os resultados esperados. Todo sujeito, independente de seu estado físico ou psíquico, tem sua história pessoal, familiar e social, em que necessariamente, resguardar, respeitar e possibilitar sua subjetividade, configura-se no pressuposto para qualquer ação educacional. A força que impulsiona a subjetividade não é dada de uma só vez, mas construída no decorrer da existência. Nesse sentido, todos estamos, a todo momento, referenciando, possibilitando e fortalecendo o nascimento de sujeitos. Os princípios que norteiam e que fundamentam a concepção teórica que dá suporte a este trabalho e as intervenções pedagógicas que impulsionam as ações são baseados nas leis que regem os Direitos Universais, promovidos principalmente pela Educação. “Loucura”, “Doença Mental”, são nomes populares (senso-comum) carregados de discriminação e preconceitos. A nomenclatura adotada pelo Ministério da Educação é Transtornos Globais do Desenvolvimento, a partir do Documento Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (Portaria nº 555, de 07/01/08). Todos os que trabalham com crianças e adolescentes são cotidianamente confrontados com questões relacionadas ao desenvolvimento, à evolução e à história. De fato, são diversas as possibilidades evolutivas da criança: a maturação neurológica, o desenvolvimento sensório-motor, os hábitos alimentares e de higiene, o desenvolvimento cognitivo, a constituição subjetiva, os processos de adaptação escolar e social. O próprio Estatuto da Criança e do Adolescente – que os reconhece como sujeitos de pleno direito – postula sua “condição peculiar” de “pessoas em desenvolvimento”. Assim, aos diferentes fenômenos ocorridos no organismo, agregam-se características psicológicas e comportamentais, o chamado “desenvolvimento emocional ou afetivo” (CIRINO, 2001, p.15).
Professora da Rede Estadual de Ensino – Pedagoga SUED/DEEIN Professor da Rede Estadual de Ensino – Arte – SEED/SUED/DEEIN
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CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROCESSO HISTÓRICO Desde os tempos mais remotos da civilização, os grupos humanos vêm sentindo necessidade de analisar o desafio da convivência com pessoas consideradas “insanas”, acometidas de algum mal, por vezes misterioso, que passaram a se comportar de forma estranha. O homem demorou séculos para entender e explicar cientificamente alguns entre tantos transtornos mentais. Até encontrar uma compreensão a respeito dessas doenças graves, conviveu com explicações das mais variadas, que distanciavam da necessidade ou da importância de encarar esses fenômenos como uma realidade humana. Durante a Idade Média, com a Igreja Católica fortalecida, predominava a crença de que as pessoas que apresentavam comportamentos que fugiam ao esperado, estavam possuídas pelo demônio; entendia-se que a cura da loucura estaria na aplicação de relíquias sagradas na cabeça do doente e o exorcismo de espíritos maus. Na época Clássica (séculos XVII e XVIII), os critérios para o diagnóstico não eram médicos, mas sim sujeitos à percepção de instituições como a igreja, a justiça e a família, com critérios referentes às transgressões da lei e da moralidade. Apesar da busca da construção do conhecimento médico em relação à loucura, a medicina da época era baseada na história natural e seu método classificatório não conseguia abranger a complexidade de manifestações desses quadros. Na segunda metade do século XVIII, iniciaram-se as reflexões médicas e filosóficas que situavam a loucura como algo que ocorria no interior do próprio homem, como perda de sua própria natureza, considerada alienação. É nesse período que as superstições por trás das doenças mentais começaram a perder força. As reformas políticas e sociais que ocorreram na Europa, especialmente na França, no final do século XVIII, inspiraram o médico Philippe Pinel a ocupar-se dos loucos. Com ele, surgiu a Psiquiatria, passando o louco a ser visto como um doente que deveria ser submetido a um tratamento moral. De acordo com as ideias de Pinel, a pessoa mentalmente doente deveria ser isolada em um espaço para ser reeducada. A ação da psiquiatria era moral e social, voltada para a normatização desses sujeitos concebidos como capazes de se recuperar. A proposta de educação dos sujeitos com doença é recente, data do início do século XIX. Jean Itard, médico discípulo de Pinel, é considerado seu iniciador, na tentativa de tratar o jovem Victor de l’ Aveyron, que foi encontrado em um bosque da França, vivendo como um selvagem. Especialista na educação de surdos-mudos, Itard dispôs-se a tratar de Victor, aplicando-lhe o que era chamado na época de tratamento moral, isto é, o tratamento incidia não sobre o corpo, mas sobre as faculdades mentais. Para muitos educadores, o método humanizador de Itard cedeu lugar a esforços de treinamento. A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR De acordo com o Documento Subsidiário à Política de Inclusão (BRASIL, 2005), dentre as dificuldades encontradas para a sustentação do processo de inclusão, os quadros psicopatológicos graves, comumente qualificados de doença mental, apresentam, primeiramente, um problema conceitual relacionado à grande diversidade de
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terminologias utilizadas por diferentes correntes teóricas – uso corrente de termos abrangentes como “transtornos invasivos de desenvolvimento”, “condutas típicas”, “quadros psíquicos” ou “transtornos globais do desenvolvimento”, e acrescenta-se, ainda, a dificuldade diagnóstica associada a esses casos. Em decorrência disso, é comum encontrar crianças precipitadamente taxadas como deficientes intelectuais, e equívocos dessa natureza têm consequências nas formas como esses estudantes serão, a partir de então, tratados e, consequentemente, nos investimentos terapêuticos e pedagógicos que definirão seu desenvolvimento. Assim, muitas vezes, ao discutir a minha impressão sobre determinada criança, quando afirmo que, na minha compreensão, se trata de um transtorno invasivo do desenvolvimento sem outra especificação, a pessoa do outro lado da mesa ou do outro lado da linha diz “aliviada”: “ Ah! Que bom! Achei que pudesse ser um quadro de autismo!”. Esse é um duplo equívoco: primeiro, porque o diagnóstico nessa área nada mais é do que a organização de um conhecimento, sendo que o comportamento da criança, por si só, já mostra quais são suas limitações, possibilidade e incapacidades (“chamá-la” ou não de autista não modifica essa condição); e segundo (aqui um desconhecimento do termo) porque dizer que é um transtorno invasivo do desenvolvimento tem o mesmo status, em termos da complexidade do quadro, que o transtorno autista. (MERCADANTE; SCAHILL, 2005)
Cabe ressaltar que os Transtornos Globais do Desenvolvimento não são definidos pelas alterações nos processos de desenvolvimento cognitivo ou de aprendizagem, mas por falhas na estruturação psíquica. Essa estruturação permite pensar como uma criança significa e interpreta o mundo, como constrói laços sociais, a forma como se relaciona com a lei, com as regras e com seus objetos de aprendizagem. Sendo assim, esses estudantes não devem ser enquadrados como sujeitos com deficiência intelectual, apesar de essa última estar associada aos quadros em determinados casos. Diante disso, entendemos cada estudante como um sujeito singular. Nos Transtornos Globais do Desenvolvimento, incluem-se educandos com autismo, síndromes do espectro do autismo (entre elas Síndrome de Asperger) e psicose infantil. Assim, o aluno da área dos Transtornos Globais do Desenvolvimento é aquele que apresenta alterações qualitativas das interações sociais recíprocas e na comunicação, um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. De acordo com Teixeira (2006), o autismo é um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento caracterizado por prejuízos na interação social, atraso na aquisição de linguagem e comportamentos estereotipados e repetitivos. Foi descrito pelo médico e professor da Johns Hopkins University, o austríaco Leo Kanner, em 1943. O autor aponta ainda, que a incidência é de dois a cinco casos para cada dez mil crianças e ocorre em torno de quatro vezes mais em meninos do que em meninas. Ainda segundo Teixeira (2006), a Síndrome de Asperger foi descrita pela primeira vez em 1944, pelo médico austríaco Hans Asperger. Ele relatou crianças com déficit na socialização, interesses circunscritos, déficit na linguagem e na comunicação. A síndrome de Asperger também é classificada como um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, no entanto diferentemente do autismo infantil, a criança ou adolescente com esta síndrome pode apresentar desenvolvimento cognitivo e intelectual normal e não apresentar atraso na aquisição da fala. A definição sobre psicose, fornecida pelo Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (DSMIV), da Associação Americana de Psiquiatria (1994) é entendida como uma perda dos limites do ego ou um amplo prejuízo no senso da realidade.
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De acordo com alguns autores, a psicose é um transtorno mental caracterizado pela distorção do senso de realidade, uma inadequação e falta de harmonia entre o pensamento e a afetividade. O termo psicótico refere-se a delírios, quaisquer alucinações proeminentes, discurso desorganizado ou catatônico. O vínculo com a realidade é tênue e frágil, alguns aspectos da realidade são negados totalmente e substituídos por concepções particulares e peculiares que atendem unicamente as características da doença. Uma confusão entre o mundo imaginário e o mundo real. O currículo, no Ensino Regular, a ser desenvolvido com estudantes que apresentam Transtornos Globais do Desenvolvimento, é o mesmo estabelecido para os demais, em qualquer etapa/nível escolar. Porém, o trabalho pedagógico deve ser sistemático, em pequenos grupos ou individualizado, conforme a necessidade. O estudante necessita de estratégias pedagógicas (utilização de múltiplas linguagens, uso de mapas, de experiências, de vídeos) pautadas inicialmente nos aspectos de ensino e aprendizagem pertinentes ao campo do desenvolvimento cognitivo relativo à familiarização com o ambiente, domínio da rotina escolar, ao estabelecimento de vínculos e estratégias de comunicação/antecipação e a destinação de sentido à experiência no meio social da escola, de modo a ofertar todas as informações necessárias para o desenvolvimento da autonomia. Nesse sentido, é importante considerar essas dificuldades propondo flexibilizações curriculares nas atividades, levando em conta o que o estudante é capaz de realizar. Deixar todos no mesmo nível de atividades seria não considerar as diferenças individuais. Um estudante que apresenta uma hipótese diagnóstica de psicose, por exemplo, ao ser chamado, dificilmente responderá da mesma forma que os colegas. Muitas vezes esse estudante, ao ser chamado para ocupar um lugar no social, pode ter uma crise, ou ignorar o chamado e ainda ser incisivo ao marcar sua presença. A sistematização de estratégias escolares para a inclusão de estudantes não pode desconsiderar o que é próprio de cada um. É preciso compreender os fundamentos de cada estratégia para que ela possa ser flexibilizada mediante o conhecimento sobre o nosso estudante – quem ele é, para além do seu diagnóstico. Com base em pressupostos teóricos, passaremos a refletir sobre atividades pedagógicas que podem ser desenvolvidas em sala de aula. Evidentemente, essas reflexões não se configuram como “receitas”, mas, sim, como sugestões baseadas em estudos teóricos e vivências das autoras. A partir dos exemplos citados aqui, muitos outros poderão surgir, uma vez que cada estudante é singular e tem interesses que lhe são peculiares. Uma primeira questão para ser pontuada diz respeito às estereotipias. O professor precisa estar atento para dar significado, ou melhor, dar sentido a elas. Por exemplo, o professor, ao desenvolver o conteúdo sobre o futebol, ao passar para o concreto, o estudante agarra-se à bola e fica manipulando-a sem colocá-la no jogo. Esse “agarrar” a bola e não dar ao objeto a função adequada pode-se considerar como uma estereotipia, no entanto o professor faz a interferência dizendo: “vamos jogar futebol? Se você segurar a bola não tem como jogarmos”. Nesse exemplo, o professor dá sentido ao objeto e faz o convite para participar do jogo. Mesmo que o estudante não consiga participar, ele está no mesmo movimento dos seus colegas. Ainda, é possível flexibilizar a proposta pedagógica no sentido de realizar uma pesquisa sobre o tema proposto ou mesmo exercer outras funções como gandula, cuidar do placar, entre outras.
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Uma segunda questão para a reflexão diz respeito à resistência a alterações de rotina. Ao trabalhar com o tema o professor pode propor visitas aos estádios de futebol, por exemplo, e acaba saindo da rotina escolar. A ferramenta nesse exemplo é o diálogo, explicando com certa antecedência que a rotina sofrerá alterações. É necessário que o professor dê sentido à mudança e compreenda a angústia do estudante, pois faz parte da especificidade do quadro que apresenta. E ainda, o estudante público-alvo da área dos Transtornos Globais do Desenvolvimento pode apresentar dificuldades para levar em conta as ideias (ponto de vista) dos outros e, mais ainda, para confrontá-las com as suas. Certamente a proposta de trabalho em pequenos grupos favorecerá o desenvolvimento de suas possibilidades de cooperação mais do que se a proposta de trabalho for individual ou em grupo total. Se este estudante tiver que expor uma informação ao seus colegas (relatar oralmente as datas dos jogos que serão realizados na cidade Curitiba), poderá precisar de algum tipo de “muleta” auxiliar para poder participar cooperativamente: por exemplo no intercâmbio oral poderá sustentar-se na escrita para participar e de modo mais organizado (organizar uma tabela escrita com as datas dos jogos na cidade de Curitiba). As dificuldades nas relações interpessoais introduz obviamente um obstáculo na possibilidade da comunicação, sem dúvida requer flexibilizações curriculares que irão ter peso nos conteúdos atitudinais, como por exemplo, de respeito pela produção dos outros quando falam. De certa forma provoca uma série de outras flexibilizações, em relação aos objetivos, à organização didática e ao planejamento de atividades. Assim, para que o professor possa favorecer um ambiente organizado para o estudante é importante considerar algumas flexibilizações. SUGESTÕES A seguir informamos sugestões de flexibilizações para ambientes com estudantes da área dos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Promova eventos previsíveis • Desenvolva uma programação. • Faça experiências narrativas previsíveis. • Evite surpresas. • Não faça mudanças sem prévia comunicação. • Mantenha uma estrutura e uma rotina. • Saiba como o indivíduo administra o seu tempo livre. (SMITH, 2008, p.372) É importante observar no contexto escolar quando alguma alteração na rotina causa ansiedade ou desconforto ao estudante.
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Comunique cuidadosamente as instruções e as consequências • Procure coerência nas reações de todos os alunos para comportamentos inapropriados. • Dê explicações diretas. • Não utilize gírias ou metáforas. • Evite usar somente pistas não verbais. • Use cuidadosamente os pronomes pessoais. (SMITH, 2008, p.372) Esses estudantes possuem algumas particularidades no desenvolvimento da fala. Sua fala é peculiar por alterações no ritmo, entonação, altura e timbre. A compreensão da linguagem também ocorre de forma singular, pois, apresentam dificuldades em compreender metáforas, interpretando tudo de forma literal. A frase “esse jogo está mamão com açúcar”, por exemplo, pode levá-los a se recusarem a participar por não gostarem de mamão. Estimule a participação positiva • Apresente feedback sobre a adequação de reações. • Lembre-se de dizer ao indivíduo quando o comportamento está adequado. • Crie tarefas que o sujeito possa realizar e que tenham função. • Traduza o tempo em algo tangível ou visível. • Enriqueça as comunicações verbais com ilustrações ou figuras. • Use exemplos concretos. (SMITH, 2008, p.372) As áreas de interesses precisam ser trabalhadas de forma transversal com os conteúdos estruturantes curriculares estabelecidos que farão as possíveis associações. Estratégias educacionais • Fale olhando diretamente para ele. • Evite fazer “cobranças” de atividades feitas por ele, principalmente na frente dos outros estudantes. • Proporcionar outras formas de respostas aos conteúdos aprendidos. • Leia a pergunta em voz alta, certifique-se que foi compreendido e não interfira no raciocínio dele dizendo o que é para fazer. • Apresente atividades da parte para o todo. • Estabeleça relações entre o conteúdo e o cotidiano. • Sugira “dicas”, “atalhos”, “jeito de fazer”, “associações”, que auxiliem a lembrar de como executar as tarefas ou resolver problemas.
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CONSIDERAÇÕES A prática pedagógica aqui tratada consiste em criar possibilidades para fazer um deslocamento daquilo que esse estudante traz no seu sintoma, nas suas estereotipias, nas suas repetições da fala, para, a partir disso, formular o seu projeto pedagógico único, pois esse sujeito é único. Aqui, a função da escola é criar maneiras de marcar a realidade e instrumentalizar para a vida. Os conteúdos trabalhados servem para que esse estudante possa desenvolver o conhecimento de si próprio, o reconhecimento do seu lugar e adquirir ferramentas necessárias para diferenciar-se do outro. Cada estudante e docente constrói a sua caminhada e é impossível sair da mesma maneira que entramos, tanto pelas experiências positivas quanto pelas experiências frustradas. A forma como esse aprendizado chega a cada um de nós é diferente, porque somos diferentes uns dos outros, porque a nossa identidade é única. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Educação inclusiva – documento subsidiário à política de inclusão. Brasília, 2005. CIRINO, O. Psicanálise e psiquiatria com criança: desenvolvimento ou estrutura. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. MANUAL diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders – DSM): DSM – IV. Trad. Dayse Batista. 4 ed. Porto Alegre: Artes, 1994. MERCADANTE, M.T; SCAHILL, L. Psicofarmacologia da criança. São Paulo: Memnon, 2005. SMITH, D.D. Introdução à Educação Especial: ensinar em tempos de inclusão. Porto Alegre. Editora Artmed, 2008. TEIXEIRA, G. Transtornos comportamentais na infância e adolescência. São Paulo: Rubio, 2006.
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