Práticas de Letramento Digital de Jovens de Periferia ... - Nehte - UFPE

PRÁTICAS DE LETRAMENTO DIGITAL DE JOVENS DE PERIFERIA ATRAVÉS DAS NARRATIVAS DIGITAIS Márcio Henrique Melo de Andrade1 (UFPE) Márcia Gonçalves Nogueir...
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PRÁTICAS DE LETRAMENTO DIGITAL DE JOVENS DE PERIFERIA ATRAVÉS DAS NARRATIVAS DIGITAIS Márcio Henrique Melo de Andrade1 (UFPE) Márcia Gonçalves Nogueira2 (UFPE) Patricia Carvalho Matias 3 (UFPE)

Resumo: Este artigo discute como a produção de narrativas digitais que empregam características do microblog Twitter podem contribuir para estimular o letramento digital de jovens de comunidade periféricas das cidades de Recife e Olinda. Para este estudo, realizou-se a oficina Twittando e Retwittando Contos no Twitter, para criar microcontos com alunos de uma escola municipal da cidade do Recife pelo Programa de Extensão ProiDigit@l. A produção contou com a criação escrita individual em papel, seguida da união dos contos em duplas e da transferência dos textos para o microblog, finalizando com todos os participantes interferindo nas narrativas uns dos outros por meio das ferramentas # (hashtag) e retweet. Os resultados apresentam o perfil dos participantes da oficina, a descrição das atividades realizadas na oficina e um comparativo com os tipos de postagens realizadas pelos participantes após a oficina. Pelo teor das últimas - registros de atividades diárias, reflexões e sentimentos que não se relacionem de forma direta com a criação literária ficcional -, conclui-se que a produção de narrativas digitais com teor literário ficcional servem como estímulo à “criação de narrativas de si” pelos jovens. Palavras-chave: Narrativas Digitais, Narrativas de Si, Letramento Digital, Twitter. Abstract: This article discusses how the digital narratives production, which employs features of the microblog Twitter, can contribute to stimulate the digital literacy among youths of Recife and Olinda cities outskirts communities. For this study, the workshop Twittando e Retwittando Contos no Twitter was undertaken, in order to create micro-tales with the students of municipal school of Recife taking part in the Extension Program ProiDigit@l. The production had a written individual conception on the papers, followed by the gathering of the tales forming pairs and the transferring of narratives from one to the other through # (hashtag) and Retweet tools. The results present a profile of the partakers of the workshop, a description of the activities undertook in the workshop and a comparison of the kinds of postings made after the workshop. From the content of these last - the recordings of the daily activities, reflections and feelings that are not directly related to the fictional literature creation -, it's concluded that the digital novel production with a fictional literary content serves as a spur towards "creation of novel from one itself" by the youths.

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Palavras-chave: Digital narrative, Narratives of Self, Digital Literacy, Twitter

Introdução Na sociedade contemporânea, a nova geração de crianças e adolescentes convive em um mundo em constante transformação cultural, onde as informações transitam com mais velocidade e por diversos espaços midiáticos. Dessa forma, novos conceitos são construídos e outros são reformulados, caracterizando, assim, uma mudança sociocultural que altera as relações sociais, os comportamentos e as formas de perceber e se comunicar com o outro. A partir do surgimento e difusão em massa das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), da internet, da web 2.0, da comunicação emergente por meio de dispositivos móveis etc., os indivíduos - principalmente, os jovens - crescem convivendo com um universo virtual com possibilidade infinitas de buscar informações, criar e publicar suas próprias mensagens em um contexto de comunicação descentralizada e independente. Contudo, é necessário pensar se essa imersão no universo digital pode ser caracterizada como um vislumbre acrítico com as facilidades que as tecnologias promovem e refletir sobre conceitos como Letramento Digital, debatido por Warschauer (2006), Xavier (2005) e Soares (2002). Afinal, o simples acesso ao equipamento e à informação ou as habilidades para operar um computador são insuficientes para promover a inclusão social e todos os aspectos que lhe são pertinentes, pois existem outras competências que precisam ser consideradas para que este ‘acesso’ ou esta ‘informação’ estabeleçam sentido e façam diferença na vida destes sujeitos.

Ou seja, é preciso considerar que

promover acesso à informação não determina a aquisição de conhecimento, mas cria condições para que um passo adiante - o Letramento Digital - aconteça de forma decisiva para transformar o acesso em inclusão. Nesse contexto, a internet pode

ser reconhecida como um espaço de

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produção e propagação de

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conhecimento, sendo um pilar seminal para que se construa uma nova dinâmica cultural que demanda dos jovens novas formas de inclusão social numa perspectiva da construção da autonomia e de um posicionamento crítico em relação às TIC. Neste trabalho, pretende-se enfatizar o uso de uma das novas ferramentas de comunicação criadas dentro do ciberespaço, o Twitter, como forma de praticar a narratividade como forma de produzir sentidos nas experiências cotidianas dos sujeitos. O ato narrativo funciona com uma forma dos sujeitos ressignificarem a realidade a partir de um olhar subjetivo, expressando, dessa forma, sentimentos, opiniões, crenças a partir das histórias que contam. O Twitter pode ser considerado, atualmente, uma plataforma que permite a publicação deste tipo de narrativa no ciberespaço, junto com tantas outras ferramentas, como blogs, vlogs, flogs etc. Ele, na verdade, se caracteriza como um microblog, já que suas postagens permitem somente a inclusão de 140 caracteres - o mesmo número de uma mensagem de texto enviada via celular. De acordo com Zago (2008), os microblogs podem ser atualizados por meio de várias ferramentas, inclusive dispositivos móveis, como celulares, tablets, mensagens instantâneas (IM) ou ferramentas convencionais para acesso à internet - computadores, notebooks, netbooks etc. Esse tipo de ferramenta permite os mais diversos tipos de postagens textuais: notícias, mini ou microcontos, relatos, anedotas, comentários etc., podendo ser incluídas fotos, vídeos e links de quaisquer materiais que forem desejados. Este tipo de produção pode ser chamado de narrativa digital (SOARES, 2009; PERRECINI, 2010), considerada uma forma particular de narrativa, visto que Costa (2002) define a narrativa como uma “forma de comunicação humana que, estimulando a imaginação e o devaneio, propõe uma experiência intersubjetiva na qual a realidade que a circunda se apresenta de forma indireta” (p. 12). Dessa forma, os meios digitais podem contribuir no sentido de difundir os produtos desse processo de forma ampla e dinâmica. Diante desta contextualização, define-se como problema desta pesquisa: a produção de narrativas digitais promove práticas

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de letramento digital numa perspectiva inclusiva dos jovens de periferia? Considerando como práticas de letramento digital (XAVIER, 2005; SOARES, 2002) a leitura, interpretação e autoria de textos multimidiáticos a partir das tecnologias digitais na construção de sua visão de mundo, defende-se como hipótese que a produção de narrativas digitais por meio do microblog Twitter amplia as possibilidades de práticas de Letramento Digital de jovens de periferia numa perspectiva inclusiva, no que se refere à ressignificação da realidade por meio das ‘narrativas de si’. O campo empírico para realização da pesquisa foi uma escola municipal em que foi ministrada a oficina Twittando e Rettwitando Microcontos, através do Programa de Extensão Proi-Digit@l: Espaço de criação para inclusão digital de jovens da periferia de Recife, Olinda e Caruaru da Universidade Federal de Pernambuco. Este programa utiliza quatro produtos comuns nos meios digitais – Blog, Áudio, Animação e Vídeo – com a finalidade de fomentar habilidades essenciais ao letramento digital - leitura, interpretação e produção de conteúdos digitais. A partir destas atividades, pretende-se promover aos participantes das oficinas – mais precisamente, jovens de comunidades periféricas de Recife, Olinda e Caruaru - um espaço em que possam criar e refletir sobre como podem empregar as tecnologias digitais afim de ressignificar sua realidade e, dessa forma, ampliarem suas perspectivas de se conscientizarem sobre suas próprias histórias. A partir dos resultados obtidos nas oficinas propostas inicialmente pelo Programa, resolveu-se inserir novas oficinas com outras ferramentas que não haviam sido contempladas no projeto original, entre elas o Twitter, como forma integrar e desenvolver as habilidades e competências adquiridas pelos jovens em diferentes espaços midiáticos. Como objetivo geral deste trabalho, almeja-se verificar como a produção de narrativas digitais amplia as possibilidades de práticas de Letramento Digital com esses jovens, numa perspectiva inclusiva, que pode ser dividido em dois objetivos específicos: a) conhecer o perfil dos participantes, interesses e hábitos

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informacionais; b) identificar práticas de Letramento Digital que os participantes afirmam realizar antes da oficina de produção de narrativas digitais; c) identificar as características das postagens realizadas posteriormente à execução da oficina.

Práticas de Letramento Digital na Cibercultura utilizando o Twitter Na internet, as formas de interação com o outro começam a se distinguir daquelas que as precederam, consideradas por Castells (1999) como o coração de um novo paradigma sociotécnico, passando a fundamentar novas formas de relação social, de trabalho e de comunicação. Esse espaço cibernético possibilita processar a virtualidade e transformá-la em realidade, constituindo, assim, a sociedade em rede, interconectada, dinâmica e em tempo real, ou seja, a sociedade informacional e tecnológica que vivenciamos. Nesse universo multimidiático, começam a surgir ferramentas como o Twitter,

que

possibilitam

novas

dinâmicas

culturais

com

capacidade

comunicacional de interagir em tempo real e simultaneamente com pessoas de diversas localidades por meio de pequenos textos, ampliando as possibilidades de compartilhamento de informações e produção de conhecimento. Lançado em 2006 e atualmente bastante popular na web em vários países, Seixas (2011) afirma que o Twitter nasceu como um site de microblogging1 e se caracterizou pela possibilidade de “publicação de conteúdo em ordem cronológica inversa” (ZAGO, 2008, p.3), assim como o blog convencional, diferenciando-se deste pelo limite de caracteres - no caso, 140. Recuero e Zago (2009; 2010), em seus estudos, optaram por referir-se ao Twitter como um micromensageiro, por conta das apropriações de seus usuários quanto ao uso da ferramenta, fazendo com que se distanciasse da ideia de um blog e se aproximasse da lógica de um mensageiro, como o MSN Messenger, por 1

Microblogging é uma forma de publicar em blogs que permite aos usuários fazer postagens breves e curtas de textos - geralmente até 200 caracteres -, sendo oferecida em redes sociais como Twitter, Facebook, MySpace e Orkut. Fonte - http://pt.wikipedia.org/wiki/Microblogging

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exemplo. Pode ser considerado uma rede social, pois possibilita aos

usuários,

chamados de “twitteiros”, a construção de perfis públicos, trocar informações entre eles. Sobre sua funcionalidade, as autoras afirmam: O Twitter funciona através da criação de uma conta pelo ator, a qual lhe dá acesso a uma página onde poderá publicar suas mensagens. Cada ator pode determinar quem deseja seguir (a categoria following, aqueles atores de quem receberá as atualizações) e também poderá ser seguido por outros usuários (os followers, aqueles que vão receber as suas atualizações) (RECUERO; ZAGO, 2010, p.70; Grifo no Original)

Quando se está conectado, cada mensagem, o tweet, pode ser visualizada na página do perfil de cada usuário e na página inicial do Twitter, caso esteja seguindo aquele perfil específico. Os tweets mais recentes ficam no início da página inicial, e a cada atualização os tweets mais novos ficam em cima e os outros descem na página. Pode-se responder o tweet dos usuários assim como pode “retwittar”, ou seja, com um clique / toque, repassar de maneira integral a mensagem postada para sua rede de seguidores, e esses poderão visualizar também o usuário que “twittou” a mensagem. Ainda segundo as autoras, além de tornar públicas as conexões entre os usuários, portanto, o Twitter ainda permite que as trocas de informações entre os usuários possam ser acompanhadas, o que torna esse site de rede social propício para o estudo da difusão de informações (RECUERO; ZAGO, 2010, p. 71).

Nessa rede, podemos ter várias conexões entre usuários, compartilhando informações e suas produções, como no uso das hashtags (#) que são utilizadas, na maioria das vezes, “para organizar informações, como uma forma de tornar possível o resgate de tweets sobre um determinado tópico, o que pode inclusive vir a suscitar conversações” (RECUERO; ZAGO, 2010, p.72). Esse mecanismo foi utilizado na oficina, a ser descrita posteriormente, como modo de organizar os tweets dos microcontos produzidos pelos jovens participantes, a fim de visualizar e

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acompanhar, numa única página, os tweets postados e as interações feitas no microconto. A partir deste cenário multimidiático, emergem novos letramentos que vão além da leitura e escrita no papel e passam a ser mediados por computador, considerados por Soares (2002) como espaços de escrita e leitura que possibilitam novos processos cognitivos, novos conhecimentos e maneiras de ler e escrever na era digital, ou seja, de dialogar com o mundo. Partindo deste pressuposto, este autor trabalha com conceitos como ‘alfabetizados digitais’ e ‘não-letrados digitais’, em que o alfabetizado é tido como aquele que consegue decifrar e utilizar os códigos, ou seja, ler as informações disponíveis nos espaços de leitura variados, enquanto que o letrado consegue ultrapassar a decodificação e aplicar estes códigos e informações às suas necessidades em diferentes contextos, dandolhes sentidos subjetivos, produzindo e compartilhando suas narrativas em diferentes mídias. Considerando essa interconexão, dinamicidade e difusão de informação, as mídias sociais funcionam como espaço emergente para práticas de leitura e escrita no ciberespaço, como meio de estimular a produção de narrativas digitais de sujeitos numa prática que não se restrinja ao decodificar e codificar textos. Nesse sentido, ter acesso às tecnologias e fazer uso de todos os seus recursos e linguagens pressupõe

um

processo

muito

mais

amplo

de

inclusão

neste

contexto

contemporâneo tecnológico e social, o letramento digital, que não se caracterize exclusivamente pelo acesso ao equipamento e a conectividade e sim pela possibilidade da leitura e produção crítica das informações que circulam no meio digital, como citado: inclusão digital implica muito mais do que apertar teclas, reconhecer telas, utilizar programas com respostas prontas. A formação de um cidadão para o mundo atual deve propiciar o letramento digital, que significa aprendizagem e utilização consciente das TIC.” (PELLANDA, 2005, p. 26)

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Um dos pilares para se alcançar este tipo de letramento reside na capacidade dos sujeitos compreenderem o mundo ao redor por meio da criação artística, da expressividade, da comunicação por meio das diversas linguagens disponíveis para se apropriar. No caso deste trabalho, enfatiza-se a linguagem escrita por meio da criação narrativa como uma forma de aprimorar a leitura e a interpretação da realidade a fim de desenvolver a consciência crítica e criativa necessária para agir sobre ela.

A autoria nas narrativas digitais e de si O ser humano convive diariamente com narrativas em diversos formatos e suportes - músicas, filmes, seriados, contos, depoimentos, dentre outras. Boehs (2000) compreende a narrativa como uma atividade de reflexão do ser humano sobre fatos de um passado imediato ou distante ou ainda de situações e personagens imaginados, com o objetivo de compreender situações do presente e conceber ações práticas na realidade. Sobre essa temática, pode-se estabelecer a possibilidade de existência de ‘narrativas de si’, que, de algum modo, relacionamse ao nosso cotidiano de forma mais concreta do que os universos imaginados em histórias fantasiosas. Scholze (2007), ao pesquisar sobre narrativas de si, observa que nossa capacidade de reflexão sobre o que fazemos, em especial sobre o que fazemos com nós mesmos, e o que deixamos fazer conosco é da nossa condição humana, e ela se dá pela linguagem como possibilidade de constante reinvenção de nós mesmos (SCHOLZE, 2007, p. 62).

Problematizando autores como Foucault (1992) e Hall (2002), a autora entende o narrar-se como um ato político, como uma forma de estabelecer a relação consigo mesmo e, assim, desenvolver um exercício de política, sobre o que afirma: “uma forma de conhecer o sujeito ou como o sujeito se dá a conhecer é

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pela sua escrita. Na sua produção o sujeito se revela, se desvela” (SCHOLZE, 2007, p. 64). Partindo dessa contextualização, pode-se compreender o ato narrativo como uma ressignificação da própria experiência do sujeito no mundo que multiplica as possibilidades do sujeito tomar consciência de sua própria condição – social, econômica, cultural etc. – e conceber alternativas que lhe sejam convenientes e adequadas aos seus objetivos. Leroux (2010) caracteriza as narrativas de si como um gênero específico que se relaciona à autobiografia e, de modo geral, procura unir a experiência íntima e a exposição pública, a ânsia de extravio e o rigor do compromisso com a verdade. Uma só expressão e vários sentidos que colocam em jogo sua função como prática filosófica, pedagógica, espiritual, psicológica, social, ou como gênero literário (LEROUX, 2010, p. 260)

Esse gênero perpassa a História como uma prática social: na Antiguidade, como descreve a autora, são encontrados registros em primeira pessoa que descrevem as realizações reais ou ficcionais de tiranos e heróis; na tradição ocidental, usar a primeira pessoa, o olhar subjetivo e histórias pessoais aparecem em poesias épicas, em lírica intimista, em crônicas satíricas ou em orações fúnebres. Esse ato narrativo se desenvolve de diversas formas, ganhando sofisticação e complexidade no aspecto material – no que se refere ao suporte -, no imaterial – no que se refere ao conteúdo, ao conceito - e no próprio ato de criação - as motivações, técnicas e processos criativos do sujeito. Leroux (2010) ainda afirma que, a partir da modernidade, a escrita de si foi elevada como um gênero específico e virou tema de polêmicas que se relacionam, principalmente, aos seguintes tópicos: ao caráter verídico ou ficcional do que é narrado; à relação entre autor, narrador e personagem, entre esses e seu leitor; ou, ainda, à diferenciação desse tipo específico de escritura face ao «pacto» romanesco; às distinções que fazem do sujeito da autobiografia um autor de sua escrita (portador de uma identidade já elaborada que

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ele expressa), um simples efeito textual (criado discursivamente no e pelo ato autobiográfico); ou, mesmo, uma mistura dos dois – causa e conseqüência de sua expressão; e, por fim, à possibilidade da manifestação autobiográfica através de outros suportes que não a literatura (LEROUX, 2010, p. 262. Grifos no original)

Entretanto, estes questionamentos conduzem a uma antiga problematização, sobre a legitimidade do que é exibido como verdade nestes relatos, já que essa prática mescla-se à criação artística, pois a escrita de si não se reduz à procura de uma “verdade” sobre fatos ou a uma confissão ou a um relato distanciado do presente. Sobre isso, a autora entende a narrativa de si como uma autoficção que procura as “relações entre autocriação do um sujeito autônomo e a exigência de expressão” (p. 261), sendo este ‘sujeito autônomo’ uma pessoa comum que descobre a possibilidade de questionar, de decidir e de se expressar para si e para os outros os sentidos que concebe. Depois da escrita nas cavernas, nos pergaminhos e da invenção da imprensa, o período da Revolução Industrial construiu o conceito da produção em massa intensificado também na criação artística e narrativa, que passaram a ser concebidos como bens culturais que, na mesma medida em que representavam a experiência humana, eram vendidos em escala e proporção cada vez maior. No final dos anos 80, a digitalização de conteúdos como textos, imagens e sons permitiu à computação gráfica a criação de diversas formas de arte e narrativa: arte computacional, arte poética digital, ambientações multimídia, ciberarte, net art, web art, ciberinstalações, webinstalações, caracterizando a chamada arte eletrônica. As mídias digitais, de acordo com Santaella (2010), caracterizam-se pela liberação do polo de emissão de mensagens, pela possibilidade dos usuários interagirem e pela produção descentralizada em relação às grande empresas comunicacionais, permitindo aos sujeitos a geração de múltiplos sentidos nos textos que ele concebe ou lê, por conta destas novas possibilidades estéticas, culturais e comportamentais.

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As artes eletrônicas podem ser definidas como obras abertas, rizomáticas e interativas, caracterizando-se principalmente por demandar a participação do público para se completar como manifestação artística, tendo como principal meta a navegação, a interatividade e a simulação. Segundo Lévy (2000) funcionam como “novas modalidades de produção e de recepção de obras do espírito” (p.135) capazes de multiplicar os conceitos e possibilidades de (re)criação estética da experiência de mundo por autores e espectadores e provocar experiências que as mídias anteriores não possibilitavam. As principais características destes “gêneros” ou “tendências” são a participação – em que se “convida” o usuário/experimentador/explorador para completar/intervir diretamente na execução da obra -, a criação coletiva – como a colaboração entre os artistas e os participantes, registros de interação que podem compor uma obra etc. – e a criação contínua – a “abertura” de uma obra para interações e eventualidades imprevisíveis diante do participante. Murray (2003) acredita que este tipo de produção procura resgatar certa espontaneidade para a criação artística, lembrando que ele envolve a produção contínua e colaborativa de histórias que misturam o narrado com o dramatizado e que não foram feitas para serem lidas ou ouvidas, mas compartilhadas pelos jogadores como uma realidade alternativa na qual todos vivem (MURRAY, 2003, p. 55)

Com essa diversidade, a produção a ser realizada pelos jovens participantes da oficina pode partir do pressuposto de que a aprendizagem das técnicas para a criação não se finda em si mesma, mas precisa ser contextualizada de acordo com os objetivos definidos, respeitando o processo de criação que eles almejam atravessar

e

enfatizando

a

experimentação

com

as

tecnologias

digitais,

investigando as possibilidades expressivas e comunicativas que a narratividade proporciona como ação concreta na sociedade. Percebe-se, portanto, que a criação de narrativas digitais não enfatiza somente a concepção de um produto final que

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possa ser apreciado e consumido de forma passiva, mas focaliza principalmente o processo de recepção deste usuário/explorador/experimentador, tornando-o parte da criação em si.

Metodologia Para

a

realização

desta

pesquisa,

foram

aplicados,

inicialmente,

questionários por meio do formulário online Google Docs2 com o objetivo de conhecer os sujeitos da pesquisa, mapear os perfis e compreender suas práticas de letramento digital. O questionário, segundo Gil (1989), é uma “técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas” (p. 24). Nesta pesquisa, ele foi empregado a fim de descrever o perfil dos jovens que participaram das oficinas, além de identificar as noções que possuem sobre o ato narrativo por meio da internet como forma de letramento digital. Além do questionário, a pesquisa caracterizou-se pela observação das ações dos participantes desenvolvidas ao longo do processo de criação dentro de uma oficina de narrativas digitais que empregou o Twitter, com a intenção de possibilitar mudanças nas práticas de letramento digital e sua relação com o desenvolvimento de narrativas digitais. Para a produção destas narrativas, foram utilizados métodos que mesclam a criação artística e a reflexão sobre o que se produziu, a fim de que estes jovens percebessem como a linguagem utilizada por eles funciona para a construção e manutenção de símbolos e ideologias. Com duração de três horas, divididas em dois dias de oficina, foram discutidos tópicos como web, redes sociais, inclusão digital, letramento e narrativas digitais, para 2

O Google Docs, é um pacote de aplicativos do Google baseado em AJAX que funciona totalmente online e permite aos usuários criar e editar documentos ao mesmo tempo colaborando em tempo real com outros usuários, incluindo formulários que podem ser preenchidos como questionários. Fonte - http://pt.wikipedia.org/wiki/Google_Docs

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que os participantes percebessem e refletissem sobre essas temáticas. Feito isso, foi apresentado o vídeo “Comédia MTV - Forró do Twitter# - Tem que twitta” para descontrair os jovens e despertar a curiosidade de participar do Twitter, conhecer suas ferramentas, linguagens e contextos de uso. Para aqueles que não possuíam conta, foi feita uma breve apresentação da plataforma, assim como permitiu-se que todos pudessem “navegar” na mesma - para “tweetar”, deixar postagens para os colegas, seguir e ser seguido pelos outros. Houve a exibição do vídeo “Quem conta um ponto aumenta um conto”, para que se discutisse o gênero textual conto e estimulasse a criação dos contos dos participantes. Posteriormente, foi proposto aos alunos que criassem um conto individual, escrito em papel, para que, posteriormente, em duplas, as narrativas pudessem ser unidas e, a partir disso, criados novos contos. Estes foram postados no Twitter pelas duplas em trechos curtos com até 140 caracteres por tweet, criando uma hashtag (#) com o título do conto para identificar e reunir as postagens de acordo com o mesmo - como no exemplo: #titulodoconto. Após a postagem, os jovens foram incentivados a continuar as produções textuais dos colegas, twittando suas ideias para recriar a história à sua maneira, concebendo novas cenas para o ínício, o meio e o final dos microcontos, usando a hashtag (#) do título do conto para identificar a qual deles pertencia.

Resultados Os dezesseis (16) jovens participantes da oficina - que possuem entre 11 e 16 anos de idade - ao responderem ao questionário, permitiram aos pesquisadores conhecer as suas Práticas Digitais na Internet antes da realização da oficina, sendo classificadas nos seguintes tópicos: Local de Acesso à Internet - Dentre os dezesseis (16) participantes, a maioria sete (07) deles afirmam acessar a internet através de lan house, tendo

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somente quatro (04) deles que tem acesso constante ao computador em casa, por exemplo. Nota-se que nenhum dos jovens cita a escola como um destes lugares, caracterizando-a como um espaço em que os jovens têm pouco ou nenhum contato com a internet e, se o têm, ele não acontece de forma relevante ou memorável. Hábitos de Acesso à Internet - Neste aspecto, nove (09) dos respondentes afirma que seus hábitos e práticas digitais incluem a Participação em Redes Sociais (Orkut, Msn, Facebook, Twitter etc.), podendo caracterizar a comunicação como um dos principais hábitos destes sujeitos, por meio de que eles podem compartilhar seus pensamentos e sentimentos e interagir com outros sujeitos por meio da linguagem. Em seguida, aparecem as opções Jogar online (05), Acesso a Diversos Tipos de Mídia - Músicas, Fotos, Vídeos etc. (04) e Pesquisa de Trabalhos Escolares (04) Hábitos de Escrita na Internet - Neste tópico, as opções mais escolhidas pelos participantes foram Trabalhos Escolares (08) e Conversas em Chats (07) e Comentários em Blogs, Fotologs, Vídeos no Youtube etc. (05), caracterizando uma opção pela comunicação rápida e interativa com sujeitos que lhes sejam familiares, como os colegas de escola e amigos mais próximos. Entretanto, percebe-se alguns participantes exercitando a criação narrativa e literária com a seleção de opções como: Contos (pequenas histórias), com 04 respondentes; e Poemas (Textos em verso), com 03. Interesse de Participação na Oficina - Dentre os participantes, doze (12) afirmaram interessar-se pela oficina com o objetivo de aprender a usar o Twitter, dois (02) por curiosidade, um (01) para aprender a escrever textos no computador, um (01) para usar a Internet. Contudo, seis (6) deles declararam estar participando para aprender a ‘mexer’ no computador, evidenciando certa dimensão instrumental quanto ao uso do computador. Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

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A partir do que se percebeu nos questionários, pode-se afirmar que os participantes ainda desconhecem parte das possibilidades criativas e críticas que esse acesso pode lhes oferecer, atendo-se somente a questões técnicas primordiais. Já durante a oficina, os participantes foram estimulados a construir conteúdos e discursos que favoreçam os sentimentos e reflexões que lhes acompanham em seu cotidiano. O resultado desse processo foi a criação de cinco (05)

microcontos:

a)

#minhatiaemeuprimo;

b)

#ogatoeomenino;

c)

#oretrovisoreagoiaba; d) #aquedacomacachorra; e) #adordoarrependimento. As postagens

de

um

destes

microcontos

-

no

caso,

#oretrovisoreagoiaba,

apresentamos a seguir3: @perfil014: #ORETROVISOREAGOIABA o menino jogol agoiaba no retroviso do @perfil06: #ORETROVISOREAGOIABA cachorros a gente saiu correndo com medo dos cachorros.... @perfil06: #ORETROVISOREAGOIABA então fomos tirar goiaba na casa do homem que a gente não conhecia ai ele chegou na hora e soltou os... @perfil04: #ORETROVISOREAGOIABA e eles foram para casa e fizeram um suco de goiaba quando chegaram @oficineira5:

#ORETROVISOREAGOIABA

achei

a

goiaba

da

história

brasilescola.com/frutas/goiaba... @perfil04: #ORETROVISOREAGOIABA e eles foram pra casa @oficineira: #ORETROVISOREAGOIABA Pois um caminhão havia passado na rua apertada e derrubou o retrovisor @perfil04: #ORETROVISOREAGOIABA com os amigos o retrovisor não estava lá. 3

O microconto e os tweets são apresentados da forma que foram publicados pelos sujeitos, ou seja, sua leitura segue a dinâmica do Twitter, ou seja, de baixo para cima. 4 Os nomes dos sujeitos foram modificados para preservar a identidade dos participantes. 5 Professora integrante do grupo de oficineiros do Proi-Digit@l.

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@perfil04: #ORETROVISOREAGOIABA um certo dia Gilberto estava andando na rua quando ele viu um carro parado,ele foi seolharnoespelho Como

se

percebe,

a

narrativa

digital

criada

no

Twitter

possui

particularidades que a distinguem dos outros tipos de narrativa, descritas anteriormente: participação - visto que, pela característica dialógica e breve do Twitter, outros usuários podem colaborar facilmente com as narrativas que estiverem sendo criadas, como foi o caso da @oficineira -, criação coletiva - por essa característica participativa, foi possível aos participantes interferirem uns nas narrativas dos outros, criando microcontos que, ao invés do tradicional formato “começo, meio e fim” conduz a uma estrutura mais rizomática ou hipertextual, em que os caminhos e pontos narrativos multiplicam-se e divergem ao invés de convergirem - e a criação contínua - a partir dos aspectos descritos anteriormente, pode-se afirmar que os microcontos podem ser continuamente recriados a partir de novas postagens que empreguem as mesmas hashtags, perpetuando a obra literária de forma contínua e, ainda assim, rizomática. Dentre os dezesseis (16) sujeitos participantes da pesquisa, oito (08) deram continuidade às postagens na plataforma, desta vez sem empregar características da narratividade ficcional, podendo receber a alcunha de “narrativas de si”, visto que apresentam como principal característica a ressignificação das experiências destes sujeitos no mundo, como uma memória dos fatos pelo que eles possuem apreço, ou seja, relacionam “a experiência íntima e a exposição pública” (LEROUX, 2010, p. 260). Para que suas postagens e ações fossem melhor categorizadas, estes sujeitos receberam a seguinte codificação: Sujeito 01 - @perfil01 Sujeito 02 - @perfil02 Sujeito 04 - @perfil04 Sujeito 06 - @perfil06

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Sujeito 07 - @perfil07 Sujeito 08 - @perfil08 Sujeito 09 - @perfil09 Sujeito 10 - @perfil10 Dentre estes sujeitos, os de numeração 02, 04, 06 e 08 afirmaram, no questionário, não possuírem conta no Twitter até a realização da oficina, enquanto que os sujeitos 01, 07, 09 e 10 já possuíam conta antes desse momento e realizavam postagens com regularidade variada - uns, postando bastante; outros, pouco. A seguir, encontram-se as postagens feitas pelos primeiros, demonstrando certo caráter de compartilhamento de ações cotidianas - como na postagem do Sujeito 08 (@perfil08) - e um caráter conversacional com outros perfis - como na postagem do Sujeito 02 (@perfil02). @perfil08: to assistindo progama do ratinho :) @perfil02: @famoso1 te amo soou uma de suuas fã me manda um recado para o meu TWITTER TE AMOOOOOOO @perfil02: @famoso2 vooc estar graviida mermo? Entretanto, ao comparar as postagens realizadas durante a oficina e posteriormente a ela, percebe-se que as relações que podem se estabelecer entre a criação de narrativas digitais e o letramento digital ainda podem ser consideradas frágeis, ao menos com esse público. As intenções dos sujeitos da pesquisa ao utilizar o Twitter relacionavam-se mais às possibilidades comunicativas com indivíduos que lhes fossem próximos (amigos, colegas de classe, familiares) ou, como em alguns casos, celebridades que possuem conta na plataforma. Ou seja, ao utilizar o Twitter, os jovens não estão necessariamente interessados na criação narrativa ficcional, mas, considerando os dois sujeitos que começaram a compartilhar suas narrativas de si após a oficina, pode-se considerá-la, de certa Universidade Federal de Pernambuco NEHTE / Programa de Pós Graduação em Letras CCTE / Programa de Pós Graduação em Ciências da Computação

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forma, um impulso para introduzir as técnicas de postagem e compartilhamento da ferramenta Twitter aos jovens interessados sem enfatizar demasiadamente e exclusivamente seus aspectos técnicos. Dessa forma, as potencialidades criativas e comunicativas nos espaços que estes jovens frequentam - no caso desta pesquisa, o espaço escolar - podem ser ampliadas, pois, como os jovens almejam expor a si mesmos nas mídias sociais, expressarem suas ideias, empregando uma narratividade de si mesmos, a criação literária pode funcionar como um estímulo a este tipo de produção.

Considerações Finais Diante dos resultados iniciais dispostos neste trabalho, pode-se conjeturar que os jovens participantes da oficina ainda se configuram dentro de um estágio bastante inicial de letramento digital, em que a escrita estabelece-se por meio da comunicação dialógica via redes sociais e a aprendizagem técnica é almejada como uma finalidade em si mesma. Dentro deste contexto, reflete-se se a produção de narrativas digitais com a utiltização do Twitter como ferramenta de mediação pode motivar e proporcionar práticas de letramento digital de modo a incentivar a autoria dos jovens e considerar as qualidades que são desenvolvidas nesse sentido. Porque, com as mudanças na construção e recepção narrativa por conta da difusão dos meios digitais, é necessário que se formem novos “receptores” com a capacidade de produzir novas narrativas, novos protagonistas, ou seja, novos “autores”. Em trabalhos posteriores, será incluída uma segunda categoria de análise, identificada como Relação entre Produção de Narrativas Digitais e Letramento Digital, em que serão descritas as relações que se podem fazer entre a produção de narrativas digitais e o letramento digital, identificadas na observação das atividades desenvolvidas pelos participantes das oficinas e nas postagens realizadas pelos mesmos durante e após a oficina, refletindo sobre questões como criatividade, reflexão crítica e emprego das tecnologias digitais.

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Se a construção narrativa reverbera na construção de identidade – individual ou coletiva -, passamos a significar e nos relacionar com o ambiente material e social à nossa volta de modo distinto das ações cotidianas. Ao definir como objeto de pesquisa as potencialidades expressivas da criação narrativa digital por jovens de comunidades periféricas, almeja-se traçar um painel dos processos de criação e relacionamento destes jovens com as possíveis demandas de um letramento digital a partir de uma perspectiva expressiva.

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Márcio ANDRADE, Mestrando Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica [email protected] 2

Márcia NOGUEIRA, Mestranda Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica [email protected] 3

Patrícia MATIAS, Mestranda Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica [email protected]

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