Muita história em um lugar Repórter: Anna Clara Souza Sales
Imagine um lugar onde você pode visitar a evolução da tecnologia durante o Século XX e, na sala ao lado, a evolução do comércio alagoano. Mais à frente, se deparar com um espaço em que é possível ter acesso a diversos LP´S daquele artista que você conhece graças ao Youtube ou Spotify. Imagine só, visitar um lugar que tem uma das maiores relíquias na América Latina, de peças que estiveram na Segunda Guerra Mundial e ainda mais, esse lugar datar de 1820. E se ainda estiver disposto, pode caminhar mais um pouco e se deparar com dois prédios cheios de histórias: de um lado, um palácio que foi sede de diversos governos e abriga mobílias do século XIX, mas também, salas modernas de dois famosos escritores alagoanos. Do outro lado, um belo lugar abriga arte sacra, barroca e moderna, que enchem os olhos de qualquer visitante. Agora, imagine que este acervo se localiza em partes centrais de sua cidade, nas quais você passa e não dá valor a o que tem ali. Só os turistas visitam e às vezes, por falta de informação, nem eles conseguem visitar. É isto que acontece em Maceió. Lugares cheios de história para contar, ficam esperando que alguém os conheça e se interesse por seus acervos e histórias. A pouca divulgação e as informações desencontradas contribuem para o baixo número de visitantes. O Museu da Segunda Guerra sofre com esse problema. A maioria dos alagoanos desconhece sua existência, apesar do museu possuir um dos maiores acervos da América Latina de peças que estiveram no campo de batalha. Além disso, o mesmo se situa no segundo prédio construído em Alagoas, datado de 1820, onde na época abrigava-se a enfermaria de um forte que combatia piratas na praia da Avenida. Hoje, o prédio abriga a 20ª Circunscrição de Serviço Militar. O fato do museu se encontrar dentro desse local acaba afastando os visitantes por dois motivos. Há uma forte crença de que entrar em um quartel é algo difícil e geralmente os turistas demoram a encontrar o prédio em que está o museu, que foi idealizado e criado pela Major Elza, que foi a primeira mulher brasileira a se voluntariar para servir na guerra. Apesar de ser carioca, os pais eram alagoanos e por amor a Alagoas, decidiu criar o museu em solo alagoano. O acervo conta com armamentos, fardamentos, medalhas e meios de comunicação, que estiveram presentes na Segunda Guerra, além de fotografias reproduzidas de seu arquivo pessoal. “Major Elza tinha um jeito peculiar de conseguir as peças. Ela ligava para seus colegas ex-combatentes e perguntava se eles ainda possuíam alguma peça que foi utilizada na guerra e pedia que eles mandassem para ela. Chegavam muitas caixas de correio para cá, endereçadas no nome dela. Dentro das caixas vinham utensílios de guerra, bandeiras, uniformes, armas, capacetes... Ela ia pegando aquilo e colocava aqui no museu do jeito que ela imaginava.” Explicou Coronel Frederico. O museu também tenta atrair as escolas. O museu está com um projeto que também envolve o memorial do TRT. As escolas
começam a visitação lá e terminada a visita, o pessoal da 20ª Circunscrição de Serviço Militar acolhe os estudantes e os trazem para o da Guerra. A visita começa coma exibição um filme curto sobre o que foi a Segunda Guerra, para que se entre no clima do museu. A linguagem é adequada para a faixa etária deles e isso tem surtido um efeito muito positivo para o museu. Um prédio suntuoso que não passa despercebido e é muito conhecido pelos alagoanos é a Associação Comercial de Maceió. Situada no Jaraguá, o lugar chama atenção por sua arquitetura e grandiosidade. Muito conhecida também por conta dos formandos, que costumam usar a escadaria para tirarem as fotos de formatura. Porém, poucas pessoas sabem que a Associação abriga dois museus: Museu da Tecnologia do Século XX e o Museu do Comércio. O primeiro foi inaugurado por acaso. “Após a revitalização do Jaraguá e da restauração do Palácio do Comércio, nossa intenção era criar o museu do comércio. Então, começamos a ver as doações possíveis. Porém, nas doações, recebemos peças que tinham mais a ver com tecnologia do que com comércio. Então, criamos uma exposição sobre tecnologia do Século XX e logo após, criamos o museu, que reúne peças, invenções e equipamentos do Século XX. O Museu do Comércio acabou sendo criado depois, pois nossa intenção era retratar o comércio em Alagoas e a sua relação com a Associação Comercial.” Contou Benedito Ramos, coordenador de Cultura e Patrimônio da Associação Comercial. O museu não possui guias, mas é autoexplicativo, pois cada sala pertence a uma década do século 20. Por ser um prédio grande e bem localizado, os visitantes costumam dessa maneira, saber que ali é um museu. Há também a lenda de que existe o fantasma de um padre que aparece no prédio e por conta disso, a Associação está entre um dos 40 lugares mais assombrados do Brasil, o que atrai visitantes para o local. Apesar dessa riqueza cultural, o museu não pode criar novas exposições, pois não conta com verba nem da iniciativa pública, nem da privada. Os gastos do museu são pagos apenas com a taxa de ingresso e o dinheiro só dá para pagar os funcionários e a manutenção, impedindo que eles criem novas exposições, que poderiam atrair mais visitantes. Na mesma rua da Associação Comercial, temos também o Museu da Imagem e do Som de Alagoas (MISA). Fundado em 1981, com a intenção de preservar a memória audiovisual de Alagoas, o MISA funcionou no Teatro Deodoro e em 1989, após restauro, ele se muda para o prédio que se encontra nos dias de hoje, na Rua Sá e Albuquerque. O museu conta com acervo de fotografias e documentos sobre Maceió antiga, além de vários LPS e meios de comunicação antigos, como os primeiros telefones e máquinas de escrever. Também ocorrem variadas exposições temporárias e na última sexta de cada mês, há o “MISA Acústico”, que é um show realizado gratuitamente no auditório. O MISA costuma ser visitado pelo público local, que se sente atraído pelas exposições temporárias. Além disso, possui um trabalho conjunto com as escolas, como explica o diretor do museu, Fernando Lobo: “Nós fazemos um trabalho conjunto com as escolas, o que possibilita a vinda dos alunos. Temos um número razoável de escolas que perceberam que a educação não precisa ser só a formalidade de sala de aula, também pode ser dinâmica. A nossa grande luta é quebrar o paradigma de que museu é um lugar que serve para guardar coisas velhas e
quinquilharias e que tudo está morto. O museu tem que quebrar essa rigidez e facilitar o acesso ao público.” O centro de Maceió também abriga dois museus que ficam próximos um do outro: Palácio do Governo e Museu de Arte Sacra. Ambos estão situados em prédios históricos na Praça dos Martírios. Antiga sede do governo, construída em 1902 e utilizada como sede e residência do governador até 2006, o Palácio possui mobiliário dos Séculos 19 e 20, além de obras do pintor alagoano Rosalvo Ribeiro, que é mundialmente conhecido. O museu também conta com duas salas com as memórias de dois alagoanos famosos: O dicionarista Aurélio Buarque de Holanda e o poeta Lêdo Ivo. A sala em homenagem a Aurélio conta com alguns pertences, uma linha do tempo com sua história e alguns escritos originais dele. Já a sala em homenagem a Lêdo Ivo possui uma interação bem interessante: Em uma parede, poesias dele escritas ao contrário. Na parede de frente, espelhos em todos os ângulos. Olhando por qualquer ângulo do espelho, se consegue ler a poesia que estão nas paredes. Em outra parte dessa sala, o farol de Ponta Verde foi recriado com fotos e a parede da sala possui uma foto do porto de Maceió e uma poesia sobre o mar de Maceió. O museu, apesar de bem conhecido pelos alagoanos, é pouco visitado pelo público local. O guia do museu, Eric Oliveira, conta: “Quase em sua totalidade, os visitantes são de outros estados do Brasil. Ainda vemos a cultura de visitar os museus pouco disseminada entre os alagoanos. Temos poucos visitantes de outros países, porém esse pouco ainda é maior que o número de alagoanos que nos visitam.” O outro museu da praça, Museu de Arte Sacra Pierre Chalita, tem em seu acervo obras de arte sacra, barroca e moderna, além de móveis do Século XIX e pinturas de Pierre Chalita da “Série do Paraíso” e “Série do Baile”. Apesar das obras encherem os olhos de qualquer visitante, o museu é pouco conhecido e visitado. Em dias de maior visitação, o museu recebe 10 visitantes. E para piorar, as informações nem sempre são verdadeiras. “Turistas chegam aqui procurando peças de Tarsila do Amaral e Candido Portinari, que não existem aqui no museu. Isso dificulta ainda mais, pois o visitante vem na esperança de encontrar algo que não existe no museu, o que não é bom para nossa imagem. As pessoas pensam que aqui é uma igreja. Os turistas conseguem chegar aqui depois de procurarem em algum site que foque nos museus de Maceió, pois não há divulgação nos hotéis e pousadas” diz Luciano da Silva, guia do museu.