DO CAOS,

Para vencer na vida pessoal e profissional www.revistagestaoenegocios.com.br O céu é o limite Sucesso do franchising no Brasil tem estimulado algum...
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Para vencer na vida pessoal e profissional

www.revistagestaoenegocios.com.br

O céu é o limite

Sucesso do franchising no Brasil tem estimulado algumas redes a alçarem voos para o exterior. Entenda como as diferenças culturais têm influenciado as estratégias dessas marcas.

LONGE

DO CAOS,

PERTO DO SUCESSO!

Ritmo de trabalho mais tranquilo, baixos custos operacionais, impostos menores e mão de obra mais barata, são alguns dos muitos motivos que têm levado empresas dos grandes centros urbanos para o interior do Brasil. Parece bom? Quem já foi garante que sim!

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Montar uma startup pode ser a saída para

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INTERIOR

texto de Angela Miguel e Carolina Fagnani

A hora e a vez do interior 38

Custos operacionais mais baixos, mão de obra barata e demanda reprimida são três dos principais fatores que têm levado empresas a investir no interior dos grandes centros. Será que vale a pena arriscar?

O

trânsito e a violência crescente nas grandes metrópoles têm provocado uma forte migração de parte da população para municípios do interior, com o objetivo de conquistar um trabalho de ritmo mais tranquilo e melhor qualidade de vida. No entanto, nas últimas duas décadas, o interior das grandes cidades tem atingido um crescimento econômico admirável, graças a setores como o têxtil, o calçadista, o da construção, o da tecnologia e, especialmente, o do agronegócio. No ano passado, o interior do Brasil ultrapassou as regiões metropolitanas na geração de empregos com carteira assinada, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego. Em nove estados – Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul –, o interior criou mais de 340 mil postos formais, enquanto as áreas metropolitanas geraram abaixo, aproximadamente 211 mil empregos. Seguindo esse movimento, o setor de franquias tem apostado no crescimento do poder aquisitivo da população interiorana, investindo na expansão em direção a essas localidades. Aos poucos, redes conhecidas e consagradas dos centros têm se voltado para municípios com 50 mil, ou mais, habitantes para dar um salto em suas vendas. Uma série de vantagens atrai esse franqueador que sabe se arriscar – com consciência – e pretende conquistar uma nova fatia de clientes. Sem dúvida, a mão de obra mais barata e os preços de terrenos e aluguéis mais baixos são grandes atrativos. Conheça a seguir franquias que escolheram o interior como o ponto mais badalado de sua expansão e quais os cuidados ao se enveredar pelos caminhos do interior brasileiro.

Mudanças irreversíveis De acordo com a Associação Brasileira de Franchising (ABF), 20% das franquias estavam no interior do País em 2002. Dez anos depois, esse volume ultrapassou os 40% e tem crescido a cada ano. O interior não é mais um lugar distante de tudo e atrasado. Houve uma mudança no perfil das cidades e dos que ali vivem. Se antes grande parte da população escolhia o interior para buscar paz e tranquilidade, hoje a predominância é de casais recém-formados e bem-sucedidos, jovens em busca de chances profissionais na região e pessoas apaixonadas pela praticidade dos grandes centros, mas que buscam custos menores. Para o diretor de expansão do interior paulista da ABF e franqueador da rede Água Doce Cachaçaria, Delfino Golfeto, essas regiões se modificaram em aspectos importantes nos últimos anos. “Trabalhamos na noite do interior há mais de 20 anos com a Água Doce e posso dizer que mais do que a mudança no estilo de vida, percebemos que o crescimento econômico das classes C, D e E no interior mudou seu comportamento. Hoje, todos querem aproveitar as coisas boas e as vantagens das grandes cidades, mas com preços menores”, afirma. Por outro lado, a própria dinâmica dessas cidades interioranas modificou-se, chamando a atenção de franqueadores das metrópoles. Como exemplo, o interior de São Paulo apresentou na última década um crescimento de renda per capita, motivada inicialmente pela expansão de atividades como o agronegócio, seguida por um forte nível de industrialização, o que levou a região a se tornar o maior centro consumidor do País a partir de 2012. Paralelamente, o governo investiu em processos de privatizações, trazendo empresas privadas para setores-cha39

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ve da logística, e ofereceu generosos incentivos fiscais municipais, formando um quadro propício para a migração das empresas, como explica o professor do Centro Universitário Senac de Águas de São Pedro, Antonio Carlos Bonfato. “Montadoras, multinacionais e grandes centros distribuidores concentraram grandes investimentos no denominado ‘eixo Anhanguera-Bandeirantes’, pois já entenderam o movimento e programaram sua expansão para o interior. Nesse momento, cidades de menor porte também passam pelo mesmo processo, acolhendo futuras instalações de empresas de significância, como é o caso de Itirapina e Iracemápolis que receberão as fábricas de duas grandes montadoras. Acaba-se criando uma grande teia de troca de insumos e produtos entre elas, então vemos que esse deslocamento de eixo econômico para o interior é um fenômeno já maturado e irreversível. Todo o cenário está armado para os que buscam novas oportunidades, desde que ofereçam produtos com qualidade e custo-benefício aceitável para o consumidor”, completa o professor. A mudança do perfil dos consumidores no interior foi uma das razões que levou a Demark Administração de Shopping Centers a investir na cidade de Porto Feliz, em São Paulo, com 240 mil habitantes. Em abril, a cidade recebeu seu primeiro shopping center, o Porto Miller Boulevard, com 90 lojas em um espaço de 14 mil metros quadrados. O estabelecimento deve atender a população das cidades de Boituva, Cerquilho, Tietê, Salto e Jumirim e conta com marcas como Subway, Casa do Pão de Queijo, Lojas Americanas, Hering, O Boticário e Pontal Calçados. O shopping deve gerar mais de 800 empregos diretos e fomentar a valorização imobiliária da cidade, segundo o sócio da Demark, André Pinto Dias. “Porto Feliz é a bola da vez na região devido a uma série de transformações econômicas que o município vem passando, merecendo a confiança e os investimentos 40

“Os consumidores são conservadores, gostam de ser tratados pelo nome, como se estivesse em casa, gostam de criar um relacionamento estreito com os comerciantes. Se a franquia chega ao interior com a mesma postura da cidade grande, o caminho será muito mais difícil de ser superado. Depois de o primeiro contato bem feito, esse consumidor não vai te abandonar, ir para o concorrente. Ele vira fã e traz outros clientes com ele” Delfino Golfeto, da ABF e Água Doce Cachaçaria de empresas de diferentes segmentos, como indústria, serviços, comércio e na área imobiliária. Lojistas e empresários de Porto Feliz e cidades próximas acreditam no incremento econômico e social que o Shopping Porto Miller Boulevard trará, e estamos contando com o empreen­dedorismo de todos para que possamos caminhar juntos e fazer um centro de compras que se torne, em pouco tempo, uma grande referência para a região”, emenda Dias.

Há treze anos à frente da primeira franquia da Seven Idiomas no interior de São Paulo, em Vinhedo, o diretor Flaudemir Matiazzo Junior assistiu as mudanças que a região tem passado nas últimas décadas. Segundo ele, a principal dificuldade no início foi tornar a marca conhecida entre a população, passar confiabilidade e seriedade nos negócios. Atualmente, a competitividade alta na região faz com que todos tenham que buscar a excelência e os diferenciais no dia a dia para ganhar a atenção da clientela. “No interior ainda existe a preferência de se fazer negócios com conhecidos, os consumidores daqui esperam isso além do bom serviço profissional. Hoje, observo em Vinhedo e na região uma quantidade muito grande de empresas para um número pequeno de habitantes. Isso faz com que nossa busca pelos clientes se torne cada vez mais árdua. São muitas opções, os consumidores estão cada vez mais exigentes e querendo pagar menos”, aponta.

Competição acirrada A conquista do interior parece fácil, mas possui uma série de obstáculos. Não basta levar uma marca de grande reconhecimento e esperar que os clientes batam à sua porta ou oferecer um produto de qualidade indiscutível. A clientela interiorana requer uma combinação de preço bom e justo, além de atendimento que se assemelha a uma relação de amigos. O desafio de enfrentar comerciantes locais que conhecem os moradores por nome e sobrenome é importante para o êxito da operação. Para Delfino Golfeto, o atendimento é o principal diferencial que os players locais largam na frente diante das franquias dos grandes centros. “Os consumidores são conservadores, gostam de ser tratados pelo nome, como se estivesse em casa, gostam de criar um relacionamento estreito com os comerciantes. Se a franquia chega ao interior com a mesma postura da cidade grande, o caminho será muito mais difícil de ser superado. Depois de o primeiro contato bem feito, esse consumidor não vai te

abandonar, ir para o concorrente. Ele vira fã e traz outros clientes com ele”, reitera o diretor da ABF. A fim de ajudar o franqueador nessa situação, Golfeto acredita que a melhor estratégia é buscar franqueados na própria cidade que a empresa pretende se instalar. São pessoas que conhecem a cidade, têm familiaridade com os moradores e conhece os hábitos do consumo local, auxiliando na adaptação junto aos players do próprio município. Essa, pelo menos, é a tática utilizada pela Água Doce Cachaçaria há 20 anos e também pela rede paulista de lojas de milk-shake Mr. Mix. Em 2013, a loja dobrou de tamanho e alcançou as 150 unidades, metade delas estabelecidas no interior de 24 estados do País. “Normalmente os franqueados já são da própria cidade onde a loja é implantada e possuem influên­cia no mercado. Buscamos, então, fazer um bom investimento no marketing local. Além, disso, a franqueadora procura adaptar o cardápio de acordo com a região”, conta o diretor da franqueadora, Clederson Cabral.

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Vantagens imperdíveis

1. Custos mais baixos: montar uma

unidade-piloto ou um escritório de franquias hoje em grandes cidades é um obstáculo facilmente superado quando o empreendedor vai para o interior. O valor do metro quadrado de terrenos é consideravelmente mais baixo que nas metrópoles, assim como o custo dos materiais utilizados para a construção dessas unidades. O aluguel de imóveis para montar uma empresa também é bem mais em conta do que em bairro-chaves de centros já saturados.

2. Mão de obra barata: o interior

tem criado mais empregos do que os grandes centros e os pagamentos costumam ser menores do que os praticados em capitais em diversas profissões. Facilita também o fato de a grande maioria dos empregados residir próximo da empresa, o que garante qualidade de vida a ele e um melhor desempenho dentro da companhia.

3. Demanda reprimida: geralmente,

cidades menores possuem também menos opções de consumo. É comum que pessoas se desloquem de municípios pequenos para encontrar comércio de qualidade em cidades mais badaladas. Isso significa que sempre há espaço para uma nova empresa nesses lugares.

“Normalmente, para ele não é só o momento da compra que é importante, mas também o pós-compra. Isso se deve à própria cultura do interior, onde a conversa e o diálogo sempre fizeram parte das relações sociais. Então há a necessidade de o fornecedor do produto ou serviço manter uma relação mais próxima com esse cliente, pois ele provavelmente voltará a procurá-lo depois da aquisição” Antonio Bonfato, do Senac 41

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A rede cresceu 70% em faturamento no ano passado e espera inaugurar mais 140 lojas até o final de 2015, investindo sempre em cidades menores, como no interior do Ceará. “A região Nordeste é a menina dos olhos. Hoje, as pequenas, médias e grandes redes de franquias almejam conquistar as cidades da região. Há mercado onde existe uma grande demanda reprimida e não existem muitas opções de consumo. Além disso, o crescimento econômico tem permitido a expansão nessas praças. E quando um novo concorrente chega, queremos evidenciar a qualidade do nosso produto, pro-

curando manter os padrões já existentes de atendimento e lançamento de campanhas”, emenda Cabral. O professor do Senac concorda com a visão de que o interiorano quer uma relação que vai além do custo-benefício, pois deseja proximidade, um contato mais aberto com o fornecedor do serviço. “Normalmente, para ele não é só o momento da compra que é importante, mas também o pós-compra. Isso se deve à própria cultura do interior, onde a conversa e o diálogo sempre fizeram parte das relações sociais. Então há a necessidade de o fornecedor do produto ou serviço man-

10 empresas que apostam no interior

Empresa: Mr. Mix Milk-Shakes

Empresa: China House

Segmento: Alimentação

Segmento: Alimentação

Site: www.mrmixmilkshakes.com.br

Site: www.chinahouse.com.br

Telefone: (19) 3874-9404

Telefone: (11) 2239-9900

Empresa: Seven Idiomas

Empresa: Croasonho

Segmento: Educação

Segmento: Alimentação

Site: www.sevenidiomas.com.br

Site: www.croasonho.com.br

Telefone: (11) 3170-1638

Telefone: (54) 3021-2700

Empresa: Mahogany

Empresa: HOPE Lingerie

Segmento: Beleza

Segmento: Vestuário

Site: www.mahogany.com.br

Site: www.hopelingerie.com.br

Telefone: (11) 3604-2600

Telefone: (11) 2169-2200

Empresa: VestCasa

Empresa: Prima Clean

Segmento: Móveis/Decoração

Segmento: Limpeza

Site: www.vestcasa.com.br

Site: www.primaclean.com.br

Telefone: (11) 5627-5599

Telefone: (11) 5535-4110

Empresa: Ares Perfumes

Empresa: Tennis Express

Segmento: Beleza/Cosméticos

Segmento: Calçados

Site: www.aresperfumes.com.br

Site: www.tennisexpress.com.br

Telefone: (11) 2769-8494

Telefone: (11) 3150-4440

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ter uma relação mais próxima com esse cliente, pois ele provavelmente voltará a procurá-lo depois da aquisição”, projeta. Além do atendimento especial e a aposta em franqueados locais, as franquias já estabelecidas em metrópoles podem utilizar a força de suas marcas para atrair o interesse do consumidor. Como reforça o professor Antonio Bonfato, “há a necessidade de romper com a forte concorrência local com algum aspecto de destaque que a notabilize, como o reconhecimento da sofisticação do produto, a qualidade ou a inovação oferecida”. Essa é a arma da Starbucks, rede de cafés norte-americana que chegou ao Brasil em 2006 e é reconhecida internacionalmente. Para a companhia, a ideia é despertar a atenção dos consumidores por meio do nome e da reputação da marca no mercado mundial. “O mercado do interior está sofrendo uma mudança de hábito nos últimos anos não só pela migração das pessoas dos grandes centros para o interior, mas também pelo fácil deslocamento das pessoas do interior para as grandes cidades e para viagens ao exterior. Dessa forma, o público passa a conhecer e a desejar as marcas de redes nacionais e internacionais. A vantagem sobre os players locais é que existe o forte desejo pela marca internacional, o conhecimento e a confiança nos seus padrões de qualidade e o diferencial na experiência de consumo, sem contar na novidade dos produtos”, aborda a diretora de desenvolvimento da Starbucks Brasil, Renata Rouchou. Diversos nichos têm ganhado destaque nessas regiões, mas o ramo de serviços continua sendo o mais procurado para qualquer nova empresa. Segundo Antonio Bonfato, o mercado de serviços mostrou um crescimento vertiginoso nos últimos anos e está longe ainda do seu ápice no interior. O mercado de produtos de luxo é outro que tem chamado a atenção dos empreendedores, e se expandido a taxas acima da média de outros negócios. Com 22 anos no mercado brasileiro, a companhia de produtos de beleza Mahogany vê como seu principal diferencial o investimento em inovação, lan-

çamentos e qualidade diferenciada. “A Mahogany é uma marca nacional, com tradição no mercado e proposta única em seu segmento. Cada vez mais as pessoas estão globalizadas, independentemente do lugar em que moram e por terem referências daquilo que é bom e do que está em alta nos Estados Unidos e na Europa, por isso também desejam para si e em sua cidade. Conquistamos cada vez mais consumidores justamente por oferecermos ao público soluções completas, com sofisticação, tecnologia e qualidade”, afirma o gestor de expansão de franquias da marca, Peter Schmidt.

Planejamento A possível economia que o interior pode proporcionar para uma empresa é a primeira vantagem aos olhos de qualquer empreendedor na hora de optar pela expansão. Mas há diversos fatores que devem ser analisados antes de o empresário se aventurar por novas – e pouco conhecidas – terras. Delfino Golfeto conta que, ainda que tenha surgido na cidade de Tupã, no estado de São Paulo, a Água Doce Cachaçaria sempre faz um estudo para descobrir onde vale a pena investir a abertura de uma nova loja da marca. Com presença em mais de 60 cidades do estado, a Água Doce se expandiu pelo interior de Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. “Para que a franquia tenha sucesso, ela precisa ter uma unidade-piloto e que seus futuros franqueados tenham todo o suporte necessário. Nessa situação, o valor por metro quadrado do interior é muito mais barato do que o dos grandes centros. Aliás, não há mais terrenos disponíveis nas metrópoles, o metro quadrado está supervalorizado, em alguns lugares, até dez vezes mais que nas capitais”, explica. A análise da cidade, sua renda per capita e movimentação; a escolha do franqueado local, aquele que conhece o mercado e as pessoas; o ponto e a localização do empreendimento, de preferência com estacionamento; e o produto de alta qualidade são fundamentais no planejamento da abertura de lojas em novas regiões, segundo Golfeto. De acordo com

“O mercado do interior está sofrendo uma mudança de hábito nos últimos anos não só pela migração das pessoas dos grandes centros para o interior, mas também pelo fácil deslocamento das pessoas do interior para as grandes cidades e para viagens ao exterior. Dessa forma, o público passa a conhecer e a desejar as marcas de redes nacionais e internacionais. Renata Rouchou, da Starbucks

o professor do Senac, Antonio Bonfato, um bom plano de marketing para o lançamento da marca e do produto é essencial, assim como o planejamento operacional e mercadológico do empreendimento e um orçamento pró-forma de necessidades de investimentos e captação de recursos. “Não se deve pensar o empreendimento em um universo temporal de curto prazo, mas sim o retorno que o negócio gerará em médio e longo prazos. Atualmente a concorrência se acirra nos chamados polos regionais, dificultando a entrada de novos players”. Segundo ele, a tendência é a busca de

cidades que ainda estão no processo de expansão de riqueza, a maioria hoje encontra-se na faixa dentre 70 e 150 mil habitantes, e estas cidades possuem os melhores potenciais de expansão de riqueza em um prazo dentre cinco e dez anos, abrigando as melhores oportunidades. A Mahogany tem apostado em bons pontos comerciais, mix de serviços e de marcas premium voltadas ao público feminino. “Com lojas de ruas e quiosques em shoppings das regiões que estão sendo inaugurados, podemos levar a marca aos mercados emergentes do interior”, aposta o gestor Peter Schmidt. A marca tem o 43

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Na ponta do lápis O estudo de viabilidade econômicofinanceiro é fundamental para que a expansão seja feita com clareza, mas também há de se analisar: • Mercado: análise das tendências macro e micro ambientais do universo onde pretende se instalar, como levantar as características valorizadas pelos clientes naquele tipo de negócio, os possíveis fornecedores locais, a logística de recebimento e distribuição do produto/ serviço na região • Localização: os pontos positivos e negativos em relação à localização do empreendimento no tecido urbano, considerando a acessibilidade do local, a adaptabilidade do terreno, as leis urbanas incidentes, as taxas a serem pagas e os aspectos críticos para a distribuição do produto ou do oferecimento do serviço • Concorrência: levantando os pontos fortes e fracos da concorrência local, os aspectos de destaque e diferenciais de cada um dos concorrentes, o poder de retaliação de cada um deles e a possibilidade de se fazer um benchmarking • Comportamento de consumo da demanda: o poder de gastos médio dos vários segmentos-alvo e o que esse possível cliente consome hoje. Fonte: Antonio Bonfato, professor do Centro Universitário Senac de Águas de São Pedro, com especialização nas áreas de hotelaria, urbanismo e estudos mercadológicos.

foco nesse momento nas regiões Norte e Nordeste, em Minas Gerais e no interior de São Paulo e do Rio de Janeiro com duas novas plataformas: o Mahogany em Casa, um canal de vendas diretas, e o Quiosque 2.0, espaço para shoppings com o conceito cozy romantic da companhia, ideal para empreendedores. Já no caso da Mr. Mix, como explica o diretor Clederson Cabral, a ideia é alcançar um crescimento de 70% em 2014 e o mesmo em 2015. “O Mr. Mix é um tipo de negócio rentável para o interior. No geral, negócios na área de alimentação são sempre uma boa alternativa, principalmente se as empresas disponibilizarem no car44

dápio algumas opções que possuem fortes características regionais. Apenas vale ressaltar que esse é um ramo que demanda o dobro de atenção, pois a qualidade do ambiente, do alimento e do atendimento devem estar em perfeito estado para garantir o bom andamento do negócio e fidelizar os consumidores”, ressalta. A Starbucks tem analisado as características de cada ponto para prosseguir com seu plano de expansão e reconhecimento no interior de São Paulo. São analisados número de habitantes por cidade, hábitos e potencial de consumo, crescimento populacional e econômico da região versus a média do Brasil, instalação de novos shoppings, novas fábricas e o desempenho atual dos demais varejistas. “Existem duas importantes vertentes de crescimento no País hoje: o Nordeste e o interior de São Paulo. Como a Starbucks® está em sua primeira fase de expansão, atuando somente com lojas próprias no eixo Rio Janeiro-São Paulo, focamos bastante no interior em

“Cada vez mais as pessoas estão globalizadas, independentemente do lugar em que moram e por terem referências daquilo que é bom e do que está em alta nos Estados Unidos [...]” Peter Schmidt, da Mahogany

nossas últimas inaugurações. Das lojas abertas ou a abrir nos próximos meses, em torno de 60% estão no interior de São Paulo”, afirma Renata Rouchou. Ela completa ainda que o maior desafio é trazer a marca para uma nova cidade e fazer os consumidores conhecerem plenamente o conceito e os produtos. Mas introduzir a marca em um novo mercado é sempre um desafio para que ela seja entendida como em todo o resto do mundo. Isso começa no design da loja e termina no atendimento de cada um dos baristas na integração diária com cada cliente. Segundo Golfeto, é difícil apontar uma fórmula mágica para que o empreen­ dedor se dê bem no interior e alcance o sucesso, mas há aspectos que precisam ser levados em consideração com seriedade: “una franqueados que conheçam o mercado, busque conhecer a cidade e as pessoas, encontre uma equação que te permita oferecer produtos a preços mais baixos e se dedique a um atendimento personalizado”, conclui.

“A região Nordeste é a menina dos olhos. Hoje, as pequenas, médias e grandes redes de franquias almejam conquistar as cidades da região. São mercado onde existe uma grande demanda reprimida e não existem muitas opções de consumo.” Clederson Cabral, da Mr Mix

Muito mais que a Capital Mundial da Celulose

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município de Três Lagoas, localizado no estado do Mato Grosso do Sul, ilustra a pujança e desenvolvimento do interior. A um ano do seu centenário de fundação, Três Lagoas experimentou uma revolução nos últimos dez anos. Mudou o perfil pecuário e agrícola para industrial, viu sua população saltar drasticamente para 110 mil habitantes, além de um público flutuante de mais de 30 mil profissionais de outras regiões. Atingiu o segundo maior Produto Interno Bruto (PIB) industrial do estado e do País, e nos últimos cinco anos gerou mais de 13 mil empregos diretos e aproximadamente 25 mil indiretos. No final do ano passado, a cidade conquistou oficialmente o cognome de “Capital Mundial da Celulose”, e fez girar um ciCentro de Três Lagoas 45

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clo virtuoso de desenvolvimento e incentivos em todos os setores da economia. Quando a população local experimentou o primeiro grande impacto de desenvolvimento, com a instalação da Usina Hidrelétrica de Jupiá, na divisa com o estado de São Paulo, nem sequer imaginava, que em poucos anos passaria a atrair profissionais de todos os estados brasileiros. Com o incentivo do ICMS (imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços) do Estado e incentivos municipais como a doação de área em conformidade com a lei, a isenção do Imposto Sobre Serviço (ISS) durante a construção e a isenção do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), por tempo determinado, Três Lagoas recebeu nos últimos anos indústrias de grande porte como a Eldorado Brasil (celulose), Fibria (produtos florestais), a International Paper (papel), Mabel (alimentos), Metalfrio (eletrodomésticos), Emplal (embalagens) e Petrobras (fertilizantes). Três Lagoas corresponde, atualmente, a 50% do volume de exportação industrial do estado de Mato Grosso do Sul, sendo os principais itens a celulose e o farelo de soja. A importação também segue crescente, devido à demanda para a produção das indústrias, principalmente produtos de consumo industrial, os materiais têxteis, cereais e siderurgia. Já se contabiliza 54 indústrias de grande e médio porte e quase três mil empresas instaladas. Além dos incentivos fiscais e infraestrutura, a cidade se destaca pela potencialidade logística, com rodovia duplicada cortando todo o estado de São Paulo, até o do Rio de Janeiro, possui ferrovia que está sendo completamente recuperada, hidrovia e já tem um estudo, habilitando um porto seco. Para fechar o cenário do potencial industrial possui energia em abundância, gasoduto da Bolívia e uma termoelétrica. A prefeita Márcia Moura destaca que o desenvolvimento econômico da industrialização é proporcionalmente sentido nas obras de infraestrutura da cidade, nos investimentos em drenagem, malha asfáltica, saúde, moradia, segurança e 46

educação, além das oportunidades profissionais. “Não temos crianças pedindo esmolas na rua, elas estudam em período integral ou participam de projetos alternativos no período alternado às aulas, não temos pessoas em estado de miséria e a cada ano avançamos para as pessoas saírem da pobreza. Éramos há cinco anos a cidade das bicicletas, hoje somos a cidade das motos e este ano vamos alcançar 95% da cidade com água e esgoto tratado. Hoje temos neurologista infantil, somos referência na Costa Leste em saúde para 10 municípios e 250 mil pessoas, estamos iniciando o atendimento em alta complexidade e atendimento em radioterapia e investimos aproximadamente 32% em saúde, média bem superior a outros municípios de grande porte”, conta a prefeita. A capacitação dos profissionais e geração de empregos dentro da região só foi possível porque o Senai, o Senac e outros centros profissionalizantes disponibilizam cursos específicos voltados para as diversas áreas de atuação das indústrias locais. As parcerias entre as escolas, prefeitura e empresas, tem assegurado quase que garantia de contratação, além do desenvolvimento das universidades. O campus da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), em Três Lagoas, que há alguns anos tinha ape-

Jeferson Paiva

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“Éramos há cinco anos a cidade das bicicletas, hoje somos a cidade das motos e este ano vamos alcançar 95% da cidade com água e esgoto tratado. Hoje temos neurologista infantil, somos referência na Costa Leste em saúde para 10 municípios e 250 mil pessoas, estamos iniciando o atendimento em alta complexidade, e atendimento em radioterapia e investindo aproximadamente 32% em saúde, média bem superior a outros municípios de grande porte” Prefeita Márcia Moura

nas seis cursos de licenciatura, hoje conta com seis novos cursos de bacharelado, oferece pós-graduação, mestrando e doutorado, e já atingiu 2,1 mil alunos e 140 professores, sendo 80% dos professores com doutorado e concursados. “Temos alunos de todas as regiões do Brasil, mas a cada ano cresce o percentual de alunos da nossa própria região. E para acompanharmos o desenvolvimento, passamos a oferecer cursos como Engenharia de Produção, Sistemas da Informação e vamos iniciar o curso de Medicina no segundo semestre deste ano. O papel da universidade no desenvolvimento da região é importantíssimo, não apenas abrimos mais vagas, mas investimos na qualidade necessária. Sentimos o reflexo do mercado e retribuímos com formação à altura”, ressalta o diretor do campus, José Antônio Menomi. Muitas empresas incentivam a continuidade da capacitação dos profissionais com bolsas e planos de carreira. O gerente geral da unidade da International Paper, em Três Lagoas, Marcelo Nale, conta que o investimento da empresa na formação antecede a instalação da indústria. “Dois anos antes do início das atividades já iniciamos o processo de seleção e treinamento por meio dos cursos técnicos oferecidos pelo Senai (papel e celulose, química, manutenção, elétrica e mecânica). Os colaboradores que hoje somam 220 funcionários diretos e 140 terceirizados passam por treinamentos frequentes. Oferecemos bolsas para que eles sigam estudando, como o ingresso em cursos de Engenharia, e oportunidades para o desenvolvimento de suas carreiras dentro da empresa. Há novas vagas todos os meses e temos crescimento previsto para muitos anos”, conta. Hoje, 60% das vagas na área industrial estão preenchidas por profissionais do município. Na área florestal, 80% dos empregados são de Três Lagoas. A fábrica de fertilizantes da Petrobras está sendo construída para a produção de amônia em uma planta com capacidade para produzir 761,2 mil toneladas por ano, e uma planta para produção da ureia deverá produzir 1,210 milhão de toneladas anualmente. A expectativa é que as operações iniciem neste segundo se-

“Os colaboradores que hoje somam 220 funcionários diretos e 140 terceirizados passam por treinamentos frequentes. Oferecemos bolsas para que eles sigam estudando, como o ingresso em cursos de Engenharia, e oportunidades para o desenvolvimento de suas carreiras dentro da empresa. Há novas vagas todos os meses e temos crescimento previsto para muitos anos” Marcelo Nale, International Paper

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mestre e será a maior planta da América Latina. Durante a construção, a obra gerou cerca de 5 mil empregos diretos e depois de pronta deve empregar de 500 a 600 trabalhadores. No estado, a Petrobras oferecerá 708 vagas para cursos gratuitos dentro do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp). Todas as vagas serão oferecidas em Três Lagoas. Em 1 no e 5 meses de operação na cidade, a Eldorado Brasil já emprega 3,6 mil funcionários e iniciou um projeto de expansão para ser concluída até 2017, além de gerar outras vagas. A unidade da Fibria em Três Lagoas conta hoje com 950 empregados próprios e 2,4 mil terceiros. Na unidade, 69% dos profissionais próprios são contratados localmente. O gerente de desenvolvimento humano e organizacional da Fibria, em Três Lagoas, Arnaldo Milan destaca as vantagens competitivas da região, a logística favorável, a disponibilidade de terras para a silvicultura, e principalmente a disposição de sua população na busca pela qualificação. “A atividade industrial era relativamente nova no estado, a população procurou se informar e conhecer sobre o assunto, participou de qualificações promovidas pela empresa e hoje é sua principal mão de obra. A Fibria investe na região de várias formas. Em cursos de qualificação, por exemplo, já foram investidos mais de R$1,9 milhão. Outro exemplo é o investimento em programas e projetos sociais, que chega a R$10 milhões nos úl-

timos cinco anos, beneficiando cerca de 30 mil pessoas nos municípios de Três Lagoas, Água Clara, Ribas do Rio Pardo, Brasilândia e Selvíria. Na construção da fábrica em si, foram investidos US$1,5 bilhão. Podemos afirmar que a cidade é um celeiro de oportunidades em todas as áreas. Os profissionais de fora trazem seus familiares e todos acabam encontrando oportunidades, mesmo fora da atuação industrial, como comerciantes, professores, profissionais de saúde, prestadores de serviços, advogados, enfim, há um ciclo de boas possibilidades”, de acordo com o gerente. As empresas em parceria com a prefeitura promovem iniciativas para a busca de possíveis fornecedores de bens e serviços em Três Lagoas e na região e, segundo a prefeita, a industrialização garante trabalho para os moradores e ainda atrai muitas pessoas de fora do Estado.

“A atividade industrial era relativamente nova no estado, a população procurou se informar e conhecer sobre o assunto, participou de qualificações promovidas pela empresa e hoje é sua principal mão de obra” Arnaldo Milan, Fibria “Nós temos vagas e oportunidades para muito mais pessoas. Estamos de braços abertos para todos os profissionais, fornecemos capacitação, e estamos a pleno vapor para trazer mais desenvolvimento com o apoio do Governo do Estado e inclusive Federal, há muitos desafios na gestão, mas o avanço é constante. Há muita oportunidade no comércio, precisamos de todas as áreas de serviços profissionais e esperamos por empreendedores”, conclui Márcia Moura.

Fibria, em Três Lagoas (MS) 48