definição, desenvolvimento e legado da copa do mundo de ... - USP

DEFINIÇÃO, DESENVOLVIMENTO E LEGADO DA COPA DO MUNDO DE 2014 EM SÃO PAULO, BRASIL RIGHI, Roberto. Professor Doutor, FAU/USP – Faculdade de Arquitetura...
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DEFINIÇÃO, DESENVOLVIMENTO E LEGADO DA COPA DO MUNDO DE 2014 EM SÃO PAULO, BRASIL RIGHI, Roberto. Professor Doutor, FAU/USP – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e FAU/MACK – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie.

RESUMO O objetivo deste artigo é avaliar a definição, desenvolvimento e legados tangíveis e intangíveis da Copa do Mundo em São Paulo. A arena Corinthians foi concebida foi construída para a realização do evento de futebol de 2014 nessa cidade, escolhida como cidade-sede, onde se realizaram a abertura oficial e mais seis jogos. Palavras-chave: Copa do Mundo, Itaquera, Arena Corinthians

ABSTRACT The aim of this paper is to evaluate the definition, development and tangible and intangible legacies of the World Cup in Sao Paulo. The Corinthians Arena was conceived and constructed to accommodate the football event in this city, chosen as host-city, where the official opening was realized and six more games. Keywords: World Cup; Itaquera, Corinthians Arena.

ARENA CORINTHIAS Este estádio inaugurado em 18 de Maio de 2014 é também chamado de Itaquerão em alusão ao bairro onde se localiza, Itaquera, na zona Leste da cidade. Sua capacidade máxima durante a Copa e até o final de 2014 é de cerca de 63 mil espectadores, que se reduzirá para aproximadamente 48.000 lugares com a retirada das cadeiras móveis. O estádio de propriedade do Sport Club Corinthians Paulista, foi construído entre 2011 e 2014 pela Odebrecht,

com previsão inicial de custos de 820 milhões de reais, mas no final gastou-se 1.150 milhões. É muito importante compreender-se a definição da Arena Corinthians. Na realidade ela preenche uma antiga expectativa do tradicional clube paulistano, que é respondida pela realização da Copa do Mundo. Sua definição envolve um enorme peso político, importantíssimo no Brasil, devido a própria prática populista corrente. O Estádio do Parque São Jorge (Estádio Alfredo Schürig), localizado junto ao Tiete é antigo e pequeno, abrigando cerca de 18 mil expectadores. Esta situação levou ao uso durante décadas do Estádio do Pacaembú da Prefeitura Municipal de São Paulo. Apesar disto, projetos não faltaram, alguns até fantásticos. Nas décadas de 1950 e 1960 o presidente Vicente Matheus sonhava com um estádio para 200 mil expectadores, que levou ao pedido à Prefeitura Municipal de São Paulo do terreno hoje ocupado, vinculado à COHAB para projetos habitacionais. Em 1968, ainda sem a área, o presidente Wadih Helu pretendeu construir um estádio para 135 mil pessoas, depois substituído pela suposta compra do Estádio do Pacaembú, não realizada. Apesar de tudo foi só em 1978 que a gleba de 197 mil metros quadrados foi cedida pelo prefeito Olavo Setubal por 90 anos, renovada em 1988, com a condição de que qualquer construção deveria ser revertida para a municipalidade sem custo após 90 anos. Cogitou-se também nos anos 1980 reformar o Parque São Jorge cobrindo e ampliando sua capacidade para 41 mil lugares. Porém nada se realizou e na administração de Alberto Dualib novos projetos surgiram e fracassaram. Cogitou a construção de um estádio novo na Rodovia dos Bandeirantes ou Ayrton Senna com parceria do Banco Excel. Na sequência também aventou: primeiro um na rodovia Raposo Tavares em parceria com a Hicks, Muse e Tate&Furst, depois voltou para Itaquera e o Parque São Jorge. Finalmente, em 2009 André Sanches, presidente do Coríntians, cogitou a compra do Pacaembú para a construção de um mega empreendimento. SÃO PAULO NA COPA DO MUNDO A Fédération Internationale de Fotball Association (FIFA), organizadora da Copa do Mundo escolheu em 30 de Outubro de 2007 o Brasil para sedia-la em

2014. Inicialmente Ricardo Teixeira, Presidente da CBF afirmou que era esta ac oportunidade para utilização de recursos do setor privado. Porém isto durou muito pouco, pois ainda em 2007, após aprovação internacional do evento no Brasil, ele mesmo conclamou o governo brasileiro a ajudar na realização, papel que se confirmou ao longo do tempo com a participação do setor público de 98,5% dos custos até 2011. A situação em São Paulo é similar, apesar de mais complexa e mutante. É importante destacar que a cidade de São Paulo como local de abertura dos jogos foi definida em processo político na sequencia da escolha do Brasil como país sede da Copa de 2014. Assim, a decisão final da realização da abertura da Copa em São Paulo em detrimento de Belo Horizonte e Brasília como fortes concorrentes foi sacramentada através de acordo entre os governadores de São Paulo, José Serra e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Isto se deu em 2009 através de acordo mútuo para que São Paulo sedia-se a abertura e o Rio de Janeiro o encerramento, apesar da insistência dos concorrentes (CARDOSO, 2011). Porém esta precoce escolha não facilitou a definição e racionalidade na definição do estádio a ser utilizado para o evento. Inicialmente o bom senso prevaleceu, com a escolha do Estádio do Morumbi do Clube São Paulo. Na ocasião sua adaptação aos padrões da FIFA foi orçada em R$ 300 milhões. Em 2011 de forma inesperada o Morumbi foi excluído por razões “técnicas”, levando a enorme aumento de custos com a construção de um novo estádio estimado em R$ 900 milhões. Também a localização tornou-se incerta que oscilou entre Pirituba e depois Itaquera, com a interferência direta de Lula com a parceria do Clube Corinthians, futuro dono do Estádio. Hoje estes custos subiram ainda mais, como já mostrado. LEGADOS DA COPA EM SÃO PAULO Quanto aos legados cabe iniciar pelos tangíveis, mais definidos e quantificáveis. As obras de mobilidade urbana em São Paulo, o legado mais significativo diante da carência urbana, também sofreram muito em sua realização com a indefinição, a absoluta falta de planejamento e mudanças inesperadas provocadas por interesses e pressões eleitoreiras. A principal obra, de presença fotogênica, foi começada e depois estranhamente prosseguida e permanece inacabada até hoje é o mono trilho, que ligaria o

Aeroporto de Congonhas e o Estádio do Morumbi e região. Em decorrência a construção do monotrilho Linha 17 - Ouro foi retirada da Matriz de Responsabilidade ( programação de obras para o evento). Com a mudança do Estádio da Copa no outro extremo da cidade este modo de transporte perdeu todo o sentido, com a presença da linha Leste-Oeste do Metro. Foi na Zona Leste e mais especificamente em Itaquera que se concentraram os legados da Copa em São Paulo. Neste bairro que abriga hoje 220 mil habitantes, restaram do evento o estádio, que conta com utilização garantida pelo Corinthias, bem como obras viárias e um pólo de equipamentos públicos, com escola e hospital. O bairro de Itaquera modificou-se bastante como resultado dos investimentos realizados. Estes investimentos foram vultuosos. Na realização do sistema viário e no pólo institucional foram gastos R$ 548,5 milhões e na ampliação do terminal urbano R$ 29,8 milhões. No estádio foram gastos R$ 400 milhões financiado pelo BNDES, mais R$ 420 pela Prefeitura e R$ 350 milhões pela Caixa Econômica Federal. Tudo isto elevou as despesas dos R$ 820 milhões previstos inicialmente para cerca de R$ 1,2 bilhão (CASADO, 2014). Os

aeroportos,

um

outro

gargalo

nos

transportes

paulistanos,

se

desenvolveram parcialmente. Guarulhos e Viracopos em Campinas continuam deficitários e desintegrados dos sistemas de transportes de alta capacidade, porém investimentos foram aplicados em reformas corretivas e emergenciais. O terminal Internacional de Guarulhos através de sua concessionária formada pela Invepar e Airports Company South Africa praticamente dobrou o número de vagas de estacionamento de automóveis e a capacidade de aeronaves no pátio. O Viracopos recebeu uma reforma, inacabada no prazo, realizada pela concessionária Aeroporto Brasil. Havia um ponto positivo no balanço paulistano na medida que a cidade era única das 12 cidades sede que atendia desde o princípio que eram as exigências de hotelaria da FIFA. No desenvolvimento regional associado aos sistemas de transportes o trem de alta velocidade era estratégico. Porém apesar do alarde inicial, já em 2009 havia dúvidas sobre a sua exequibilidade, que depois se confirmaram com o seu abandono ocorrido em função da falta de planejamento do traçado e a falta de um modelo institucional adequado e o desinteresse da iniciativa privada neste empreendimento. O projeto "trem bala" não foi adiante ligando Rio de

Janeiro, São Paulo e Campinas. Envolvia um percurso de 510,8 km que seria percorrido em 93 minutos, sob o orçamento de 33 bilhões reais. Fonte aponta que talvez o insucesso tenha sido providencial, pois a Grécia deve parte de sua crise atual a obras desta natureza de retorno e com passivos. Seria uma obra abrangente para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 (MONTEIRO, 2010). Também em outras áreas houve sérios reveses e atrasos, como em telecomunicações e energia. As melhores críticas feitas enfocam principalmente o desvio das prioridades dos investimentos necessários para a realização e sucesso dos dois grandes eventos, a Copa de 2014 e oa Jogos Olímpicos de 2016 em: aeroportos, redes hoteleiras, estradas, rodovias e estádios gigantescos. Concluem pela falta de correspondencia das obras com a necessária resposta e superação dos principais

problemas

emergentes

em

infraestrutura

no

Brasil

como:

urbanização de favelas, saúde, educação, saneamento básico, preservação ambiental e outros (MONTEIRO, 2010). Apesar de parcialmente correta esta abordagem ela não atende a complexidade da questão da extensão das deficiências, que não se limitam à área social, envolvendo também os graves gargalos na necessária para produção, seja industrial, agropecuária ou de comércio e serviços. Além disto há uma questão essencial não tratada que é necessidade de romper a estagnação brasileira, relacionada a persistencia de um modelo economico dependente e superado. Porém, mesmo considerando a importância de tudo isto, o que foi e é gasto na viabilização dos eventos nem de longe permitiria enfrentar estes desafios. Em discurso oficial da Presidente Dilma em rede nacional onde mostrou a desproporção entre as despesas realizadas em educação e saúde no mesmo período com aquelas gastas para a Copa de 2014, mostrando a fragilidade e incorreção das críticas superficiais feitas que consideram que a situação destes setores seria diferente caso se aplica-se os recursos da Copa ali. Ela de forma inteligente mostra a falácia destas críticas. Quanto ao legado intangível, mais difícil de ser avaliado de antemão, que deve ser precisado no decorrer e principalmente após o evento. Mesmo assim, o crescimento dos movimentos sociais e da violência urbana, já presentes na Copa das Confederações, tornaram difícil manter um boa imagem da Copa do Mundo de 2014. Além disto o Brasil teve sete anos para preparar tempo mais

que suficiente para a tarefa. Apesar disto no início do evento, a imagem de irresponsabilidade e improvisação no planejamento e gestão associadas ao brasileiro, era lembrada e reforçada pelo noticiário na mídia. Havia aeroportos inacabados, obras viárias com tapumes e outros desastres decorrentes de erros, atrasos, má gestão e incompetência. A matriz de Responsabilidades da Copa, na versão 2010, projetava um custo total de R$23,5 bilhões para que cada uma das cidades sede tivesse um estádio novo ou reformado no todo houvesse 93 obras de infraestrutura, incluindo nisto obras de reforma ou construção de 12 aeroportos, seis portos e 50 projetos de mobilidade urbana. Ao fim de quatro anos foram gastos cerca de R$ 26 bilhões no país, com a redução do número de obras para 81 projetos, com o consequente abandono de 12. Apesar de tudo houve saldo positivo, apesar de limitado e as vezes discutível (OLIVEIRA,2014). CONSIDERAÇÕES FINAIS Na escolha do Brasil como sede da Copa do Mundo 2014 afirmou-se que ela se realizaria sem recursos públicos e traria um legado representado principalmente por obras de mobilidade urbana, tão necessárias hoje. A situação de São Paulo não é diferente. O maior legado da Copa de 2014 em São paulo será o próprio Estádio em que se realizará o jogo de abertura, que será útil ao Clube Corinthians e a região Leste de São Paulo, tão populosa e carente de infraestrutura urbana. Apesar deste aparente benefício, é criticável a enorme concentração de recursos do próprio governo, especialmente do BNDES, que certamente poderiam ser melhor aplicados em áreas e setores mais estratégicos e rentáveis ao país. REFERÊNCIAS AMORA, D. Obras de Transporte para a Copa do Mundo de 2014 emperram. Folha

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