16
outubro2011
Jornal Unesp
Lançamento
Cunha, escola de cerâmica Grupo visita cidade para conhecer técnicas de um dos principais centros de produção do país
H
á 41 anos, um grupo de artistas japoneses e portugueses construía em Cunha (SP) um forno Noborigama, para a queima de peças de cerâmica em alta temperatura, ou seja, a mais de 1.350º C. Mieko Ukeseki, Toshiyuki Ukeseki, Maria Estrela Paes Vieira, Alberto Cidraes, Rubi Imanishi e os irmãos Vicente e Antônio Cordeiro montaram a obra no antigo matadouro municipal. Hoje, apenas Mieko e Cidraes continuam na cidade. Mas fornos construídos em rampa se multiplicaram: hoje, são cinco em operação. E o município tornou-se um dos principais centros brasileiros de cerâmica artística, reunindo diversas formas de produção em mais de 30 ateliês. A diversidade fez de Cunha o principal destino do projeto de extensão Panorama da Cerâmica Brasileira, coordenado pela professora Lalada Dalglish, do Instituto de Artes (IA), Câmpus de São Paulo. De 2 a 6 de setembro, com apoio da Pró-Reitoria de Extensão Universitária (Proex), um grupo de 35 pessoas, entre alunos de graduação, pós e da comunidade, participou de workshops sobre modelagem, queima e preparação de esmaltes para a cerâmica, com os próprios criadores. “Ao entrar no espaço desses artistas-artesãos, o aluno passa a vivenciar também as etapas de criação de uma peça, a preparação para a queima em fornos a lenha, e até a comercialização do material”, explica Lalada. O português Cidraes, que estudou cerâmica no Japão, mostrou a técnica de modelagem em um torno movido pelo pé do artesão, que precisa coordenar a velocidade, a centralização da peça e a forma final. “Modelar com o barro, usando ferramentas simples, preparadas em nossas próprias oficinas, permite criar toda a etapa da elaboração da peça”, explica. “E a queima em forno a lenha transforma o fogo em coautor da obra, pois ele muda textura e cor, e produz manchas.” Diversidade – Cidraes, Mieko, o casal Gilberto Jardineiro e Kimiko Suenaga, e os artistas Augusto Campos, Leí Galvão e Luiz Toledo – os três nascidos em Cunha – queimam
Daniel Patire
Acima, a produção de uma peça pelas mãos de Luiz Toledo e, ao lado, o grupo reunido no ateliê de Mieko Ueseki, com a cidade de Cunha ao fundo: segundo a professora Lalada, visita ajuda alunos a compreenderem todo o processo de criação, preparação para a queima em fornos a lenha e até a comercialização das obras
em forno Noborigama. Eles preparam sua própria matéria-prima, a argila, o esmalte feito com as cinzas do eucalipto usado para a queima, a palha de arroz e outros elementos descritos em receitas japonesas. Mieko lembra que Campos, Galvão e Toledo aprenderam a trabalhar durante os anos do Atelier do Matadouro, fundando depois o Instituto Cultural da Cerâmica de Cunha (ICCC). Eles ensinam crianças das escolas públicas da cidade e interessados sobre o processo de preparação da argila até a queima em diferentes tipos de fornos. “Precisamos formar a nova geração para nossa arte não morrer”, diz a artesã. A cerâmica existe na região desde que ela era ocupada pelos índios guaranis. E a atividade continuou com as chamadas paneleiras, que produziam peças utilitárias queimadas em forno
de barranco, em baixa temperatura (700º C). O grupo da Unesp observou essa técnica com Pedro Siqueira, que torneia potes e copos, e dá polimento nas peças com pedra. Já o publicitário Jotacê Carvalho desenvolveu uma técnica própria para cerâmica autoral. Ele criou soluções que dão texturas, baixos e altos-relevos, claros e escuros, cores e sombras na geometria de cada peça. Carvalho usa um forno a gás, que permite um melhor controle do processo de produção. “Elaboradas artesanalmente, as peças recebem um trabalho gráfico onde a argila é privilegiada, e o esmalte servirá para destacar um detalhe ou outro”, salientou.
participantes foram à casa de Maria Cândida Santos, que, ao lado das irmãs Maria Edith (1927-1998) e Maria Luiza, formaram uma geração de artesãs no município. Com uma máquina de moer carne, Cândida moi a argila, e com um pouco de água e estilete e outras ferramentas simples, ela molda santos católicos, presépios, pavões, bois. As peças são secas ao sol. O artesanato das figureiras remonta ao século XVII, em que frades franciscanos do Convento de Santa Clara encomendavam às mulheres da região figuras e presépios para as festas natalinas. Hoje, a arte é ensinada na Casa do Figureiro. Daniel Patire
Figureiras – O grupo também conheceu o trabalho das figureiras de Taubaté (SP), no Vale do Paraíba. Os
Para conhecer um pouco mais da arte de Cunha, visite o museu virtual Memorial da Cerâmica de Cunha .