Universidade Federal de Mato Grosso Instituto de Saúde Coletiva

Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde – MT

Danielly Cristina de Andrade Palma

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Saúde Coletiva Orientador: Prof. Antonio Pignati

Dr.

Wanderlei

Co-orientadora: Profa. Dra. Carolina Lourencetti

Cuiabá 2011

Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde – MT

Danielly Cristina de Andrade Palma

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva para a obtenção do título de Mestre em Saúde Coletiva. Área de concentração: Saúde Coletiva Orientador: Prof. Antonio Pignati

Dr.

Wanderlei

Co-orientadora: Profa. Dra. Carolina Lourencetti

Cuiabá 2011

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte

P171a

Palma, Danielly Cristina de Andrade. Agrotóxicos em leite humano de mães residentes em Lucas do Rio Verde - MT / Danielly Cristina de Andrade Palma. – 2011. 103 f. : il. (algumas color.) ; 30 cm. Orientador: Wanderlei Antonio Pignati. Co-orientadora: Carolina Lourencetti. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Mato Grosso, Instituto de Saúde Coletiva, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Cuiabá, 2011. Inclui bibliografia. 1. Agrotóxicos. 2. Leite humano – Contaminação por agrotóxicos. 3. Agrotóxicos – Lucas do Rio Verde – Mato Grosso. 4. Agronegócio. I. Título. CDU 612.664:632.95.024(817.2)

Ficha Catalográfica elaborada pelo Bibliotecário Jordan Antonio de Souza - CRB1/2099 Permitida a reprodução parcial ou total desde que citada a fonte

4

"O

que

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será um veneno violento." (Lucrécio)

Aos meus pais, Shirlei e José (in memoriam), por serem à base de tudo em minha vida.

Agradecimentos A Deus, Senhor de todas as coisas e da minha vida, que tornou tudo possível. À minha mãe Shirlei, pelo exemplo de vida, de garra, de coragem, de determinação e perseverança. Por acreditar em meus sonhos e não medir forças para torná-los realidade. À minha irmã Grazy e meu cunhado Fabrício, por todas as palavras de encorajamento e carinho. Por acreditarem que mais esse sonho era possível e por fazerem parte do meu dia-a-dia. Aos meus “anjos” sem asas Ana Silvia, Bélin, Débora, Isabela, Juliana e Paula. Por estarem ao meu lado nos momentos mais difíceis. Pelos momentos de extrema alegria. Pela torcida. Pela amizade verdadeira. Obrigada sempre. Ao Anderson, por compartilhar comigo desse sonho. Obrigada pelo apoio, paciência, amor e carinho. À tia Irani e a minha avó Iracema, pelo amor incondicional de vocês. Pelo apoio constante, pelas palavras de força, de ânimo que sempre me ajudaram e muitas vezes me levantaram em minhas caminhadas. Ao professor Wanderlei Antonio Pignati pela orientação ao longo do curso. À professora Carolina Lourencetti (Carol), por toda ajuda durante essa jornada, mas principalmente pela sua amizade. Deixo aqui toda a minha admiração pela profissional e pessoa que você é. À professora Eliana Freire Gaspar de Carvalho Dores, por ceder o Laboratório de Análise de Resíduos de Biocidas (LARB) e por toda ajuda. Ao professor Alício Alves Pinto, pelas idas a campo, sua presença fez toda a diferença. Pela amizade e pelas conversas sempre animadas. À professora Marta Gislene Pignatti, pelas conversas e esclarecimentos. Ao professor Ageo Mário Candido da Silva, pela ajuda nas análises estatísticas, pela paciência e pelas palavras de encorajamento na reta final. Ao professor Paulo Roberto Bezerra de Mello, pelas trocas de ideias no início do projeto. Aos professores Josino Costa Moreira e Frederico Peres, por todo apoio durante a realização deste projeto.

À professora Edna Lopes Hardoim, minha eterna “orientadora”, pela amizade em todos os momentos e aos sábios conselhos. À Marli Eliane Uecker, por toda ajuda desde o início do trabalho e pela amizade. À Ana Cristina Simões Rosa, pela ajuda na validação do método e todas as demais no decorrer do trabalho. À Thais Hernandes, pela ajuda na validação do método. À turma do mestrado em Saúde Coletiva 2009, pela convivência que foi gratificante. Aos colegas do LARB, pelos momentos divididos e divertidos. Ao Sandro, pela ajuda na revisão. Valeu. À Jurema e ao Hailton, por serem sempre prestativos. A todas as mães que aceitaram participar dessa pesquisa, sem a colaboração de vocês a realização deste projeto não seria possível. À Secretaria Municipal de Saúde de Lucas do Rio Verde, na pessoa do secretário, Pascoal de Oliveira Junior, por ter cedido dados e por ter autorizado a realização do projeto nas dependências dos PSF. À Barbara Marconi Thiago Ferreira, Fernanda Dotto, Jorge Vanini e Fábio Montanha por toda a atenção e ajuda. Sem a colaboração de vocês a realização desse projeto não seria possível. Muito obrigada. Às enfermeiras Vivian Favaro (PSF I), Franciele Carlo (PSF II), Cintia Primon (PSF III) Cristiane Souza (PSF V), Taís Garcia (PSF VI), Karime Souto (PSF VII), Daniela Lins Viana (PSF VIII), Heloísa Sartori (PSF X), Maria Aldina Meurer (PSF Rural) e a equipe do PSF IV por terem aderido e colaborado com o projeto. Às agentes comunitárias de saúde, por terem ajudado nas coletas residenciais. À Thais e a senhora Leo do PSF rural da comunidade São Cristovão, por toda a atenção e ajuda nas coletas residenciais nas fazendas. Ao senhor Nilfo e a senhora Idália, pelo empréstimo do alojamento do Sindicato dos Trabalhadores Rurais. Ao Banco de Leite do Hospital Universitário Julio Muller, na pessoa do seu diretor, Roberto Diniz Vinagre, pelas amostras cedidas e pela realização do crematócrito em suas dependências.

À Universidade Federal de Mato Grosso, por possibilitar a realização desse trabalho. Ao CNPq, pelo financiamento, através da bolsa de estudos concedida durante estes dois anos e o financiamento do projeto “Avaliação do risco à saúde humana decorrente do uso de agrotóxicos na agricultura e pecuária na região Centro-Oeste” (CNPq n. 555193/2006-3), que foram, com certeza, imprescindíveis para a concretização deste trabalho. A todos que de alguma forma colaboraram na realização desse projeto.

Resumo Os agrotóxicos são poluidores e podem causar agravos à saúde humana. Devido ao crescimento do agronegócio no Estado de Mato Grosso e no município de Lucas do Rio Verde-MT, calcula-se que a população do município está exposta a 136,35 litros de agrotóxicos habitante/ano, trinta e sete vezes maior que a média nacional. Parte desses produtos utilizados na lavoura atinge a “peste” alvo, parte dissipa-se no ambiente podendo acumular-se no organismo humano ocasionando malformações, abortos, interferentes endócrinos e alguns tipos de câncer e podem ser detectados no leite humano. Considerando esses aspectos, este trabalho teve como objetivo determinar resíduos de agrotóxicos em leite de mães residentes em Lucas do Rio Verde – MT. Dez substâncias (α-endossulfam, β-endossulfam, α-HCH, lindano, aldrim, p,p’-DDE, p,p’-DDT, cipermetrina, deltametrina e trifluralina) foram determinadas (n = 2) em amostras de leite materno (n = 62), coletada entre a 3ª e a 8ª semana após o parto, utilizando método analítico multirresíduo com extração por ultrassom e dispersão em fase sólida e identificação e quantificação por CG-DCE. Cem por cento das amostras analisadas (n = 62) apresentaram contaminação por p,p’DDE (0,32 – 12,03 µg g-1 de gordura), 44% por β-endossulfam (0,54 – 0,61 µg g-1 de gordura) e 13% por o p,p’-DDT (2,62 – 12,41 µg g-1 de gordura). As demais substâncias analisadas foram encontradas abaixo do limite de quantificação do método (0,0013 – 0,108 μg mL-1). Deltametrina foi detectada em 37% das amostras, aldrim e α-endossulfam, ambos em 32%, α-HCH em 18%, trifluralina em 11% e lindano em 6%. Entre as variáveis estudadas, ter tido aborto foi uma variável que se manteve associada à presença de três agrotóxicos, β-endossulfam (RP = 2,05; IC 95%: 0,87 – 4,80), aldrim (RP = 2,18; IC 95%: 1,04 – 4,58) e deltametrina (RP = 1,92; IC 95%: 1,08 – 3,43), quando da realização dos modelos finais de regressão. Estes achados são concordantes com a literatura que menciona que alguns desses agrotóxicos apresentam efeitos adversos sobre o sistema reprodutivo e hormonal, podendo induzir o aborto. Além desses efeitos, a literatura menciona os possíveis efeitos teratogênicos, mutagênicos e cancinogênicos desses agrotóxicos. Descritores: Agronegócio; Contaminação; Agrotóxicos; Leite humano.

Abstract Pesticides are polluting and can cause human health problems. Due to the growth of agribusiness in the state of Mato Grosso and the municipality of Lucas do Rio VerdeMT, it is estimated that the population of the city is exposed to 136,35 liters of pesticides inhabitant per year, thirty-seven times greater than average national. Part of these products used in the crop reaches the "plague" target portion dissipates in the environment can accumulate in the human body causing deformities, endocrine disruptors and some types of cancer and can be detected in breast milk. Considering these aspects, this study aimed to determine pesticide residues in milk from mothers living in Lucas do Rio Verde - MT. Ten substances (α-endosulfan, β-endosulfan, αHCH, lindane, aldrin, p, p'-DDE, p, p'-DDT, cypermethrin, deltamethrin and trifluralin) were determined (n = 2) in breast milk samples (n = 62), collected between the 3rd and 8th week postpartum, using a multiresidue analytical method with ultrasonic extraction and solid-phase dispersion and identification and quantification by GC-ECD. One hundred percent of the analyzed samples (n = 62) showed levels of p,p'-DDE (0.32 – 12.03 μg g-1 lipid), 44% of β-endosulfan (0.54 – 0.61 μg g-1 lipid) and 13% of p,p'-DDT (2.62 – 12.41 μg g-1 lipid). The other analytes were found below the limit of method quantification (0.0013 – 0.108 μg mL-1). Deltamethrin was detected in 37% of the samples, aldrin and α-endosulfan, both in 32%, α-HCH in 18%, trifluralin in 11% and lindane in 6%. Among the variables studied, have had abortion was the variable that remained associated with the presence of three pesticides, β-endosulfan (RP = 2.05, 95% CI 0.87 – 4.80), aldrin (RP = 2, 18, 95% CI: 1.04 – 4.58) and deltamethrin (RP = 1.92, 95% CI 1.08 – 3.43) when completed the final regression models. These findings are consistent with the literature that mentions that some pesticides have adverse effects on the reproductive and hormone system, which can induce abortion. Apart from these effects, the literature mentions the possible teratogenic, mutagenic, and cancinogênicos these pesticides. Keywords: Agribusiness; Contamination; Pesticides; Breast milk.

Lista de Tabelas Tabela 1:

Produção agrícola (milhões hectares) e consumo de agrotóxico na agropecuária (milhões de litros) no Estado de Mato Grosso; 1998 a 2009.

Tabela 2:

Produção agrícola (mil hectares) e consumo de agrotóxico na agropecuária (milhões de litros) em Lucas do Rio Verde – MT; 1998 a 2009.

Tabela 3:

Média anual do consumo de agrotóxicos em litros, com maior utilização entre 2005 a 2009 por tipo de uso, classe toxicológica e forma de aplicação em Lucas do Rio Verde – MT.

Tabela 4:

Classificação toxicológica dos agrotóxicos em função da DL50.

Tabela 5:

Resultados de pesquisas sobre contaminação em leite humano por organoclorado.

Tabela 6:

Caracterização da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 7:

Caracterização domiciliar da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 8:

Exatidão, precisão e limites de detecção e quantificação do método analítico utilizado.

Tabela 9:

Comparação de métodos da literatura com o método atual para determinação de agrotóxicos em leite humano.

Tabela 10:

Número de substâncias detectadas em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 11:

Total de amostras detectadas e frequência de detecção de agrotóxicos analisados em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 12:

Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg mL-1 de leite, 2010.

Tabela 13:

Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg g-1 de gordura, 2010.

Tabela 14:

Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por β-endossulfam, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 15:

Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por aldrim, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Tabela 16:

Modelo Final de Poisson – Razão de prevalência de contaminação do leite humano deltametrina, Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Lista de Figuras Figura 1:

Comportamento e destino dos agrotóxicos no meio ambiente.

Figura 2:

Estrutura química do α-endossulfam, β-endossulfam e sulfato de endossulfam .

Figura 3:

Estrutura química γ-HCH.

Figura 4:

Estrutura química aldrim e dieldrim.

Figura 5:

Estrutura química do p,p’DDT e o,p’DDE.

Figura 6:

Chrysanthemum cinerariaefolium e Chrysanthemum coccineum

Figura 7:

Estrutura química da cipermetrina.

Figura 8:

Estrutura química da deltametrina.

Figura 9:

Estrutura química da trifluralina.

Figura 10:

Mapa de localização do município de Lucas do Rio Verde-MT.

Figura 11:

Fluxograma do processo de análise multirresíduo de agrotóxicos em leite humano

Figura 12:

Tempo de residência em Lucas do Rio Verde-MT.

Figura 13:

Distribuição espacial das residências das nutrizes doadoras de leite humano na zona urbana de Lucas do Rio Verde-MT, 2010.

Figura 14:

Imagem via satélite de Lucas do Rio Verde-MT.

Lista de Abreviaturas ACE

Acetilcolinesterase

ANVISA

Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ATSDR

Agency for Toxic Substances and Disease Registry

BLH-IFF

Banco de Leite Humana – Instituto Fernandes Figueira

CEP

Comitê de Ética em Pesquisa

CG

Cromatografia gasosa

CNPq

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CNS

Conselho Nacional de Saúde

CPRC

Carcinogenicity Peer Review Committee

DCE

Detector de captura de elétrons

DDD

Diclorodifenildicloroetano

DDE

Diclorodifenildicloroetileno

DDT

Diclorodifenitricloroetano

DEA

Desitilatrazina

DIA

Desisopropilatrazina

DL

Dose letal

ECE

European Commission Environment

EPA

Environmental Protection Agency

EXTOXNET

Extension Toxicology Network

FIOCRUZ

Fundação Oswaldo Cruz

HCB

Hexaclorociclobenzeno

HCH

Hexaclorociclohexano

HSDB

Hazardous Substance Data Bank

HUJM

Hospital Universitário Julio Muller

IARC

International Agency for Research on Cancer

IBAMA IBGE

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IgM

Imunoglobulina M

IPCS

International Programme on Chemical Safety

MAPA

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

MMA

Ministério do Meio Ambiente

MS

Ministério da Saúde

MT

Mato Grosso

NC

Nível de confiança

NPTN

National Pesticide Telecommunications Network

OMS

Organização Mundial da Saúde

OPAS

Organização Pan-Americana da Saúde

PCB

Bifenilas policloradas, do inglês, Polychlorinated biphenyls

PCDD

Dibenzodioxinas policloradas, do inglês, Polychlorinated dibenzo-pdioxins

PCDF

Dibenzofuranos

policlorados,

do

inglês,

Polychlorinated

dibenzofurans PMLRV

Prefeitura Municipal de Lucas do Rio Verde

POP

Poluentes Orgânicos Persistentes

PPDB

Pesticide Properties DataBase

PSF

Programa de Saúde da Família

RDC

Resolução da Diretoria Colegiada

SCPOP

Stockholm Convention on Persistent Organic Pollutants

SNAD

Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária

UFMT

Universidade Federal de Mato Grosso

SUMÁRIO 1. 2.

INTRODUÇÃO REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 AGROTÓXICOS E MEIO AMBIENTE 2.2 AGROTÓXICOS: CARACTERÍSTICAS, INTERAÇÕES E BIOACUMULAÇÃO 2.3 PROPRIEDADES E TOXICIDADE DOS GRUPOS DE AGROTÓXICOS ESTUDADOS (ORGANOCLORADOS, PIRETRÓIDES E DINITROANILINAS) 2.3.1 Organoclorados: origem, propriedades e estrutura química 2.3.2 Organoclorados: mecanismo de ação tóxica no homem 2.3.3 Piretróides: origem, propriedades e estrutura química 2.3.4 Piretróides: mecanismo de ação tóxica no homem 2.3.5 Dinitroanilina: origem, propriedades e estrutura química 2.3.6 Dinitroanilina: mecanismo de ação tóxica no homem 2.4 CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICO EM LEITE HUMANO 3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERAL 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 4. MATERIAL E MÉTODO 4.1 LOCAL DE ESTUDO 4.2 SELEÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS ANALISADAS 4.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO 4.4 POPULAÇÃO DE ESTUDO 4.5 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO 4.6 ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO 4.7 COLETA E ARMAZENAMENTO DAS AMOSTRAS DE LEITE HUMANO 4.8 DETERMINAÇÃO DO TEOR DE GORDURA 4.9 VALIDAÇÃO DE MÉTODO ANALÍTICO PARA DETERMINAÇÃO DE AGROTÓXICOS EM LEITE HUMANO 4.10 ANÁLISE DOS DADOS 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 5.1 ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO 5.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA AMOSTRA NO MUNICÍPIO 5.3 RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS NO LEITE HUMANO 5.3.1 Validação do método analítico proposto 5.3.2 Detecção de resíduo de agrotóxico no leite humano 5.3.3 Níveis de resíduo de agrotóxico no leite humano 5.5 FATORES DE ASSOCIAÇÃO 6. CONCLUSÃO 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Anexo A: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Anexo B: Questionário aplicado Anexo C: Modelo do laudo apresentado

15 29 29 33 36 37 41 45 47 48 50 50 56 56 56 57 57 58 59 59 60 60 61 61 61 65 66 66 69 71 71 75 76 78 83 84 86 99 100 103

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1. INTRODUÇÃO

A influência do ambiente sobre a saúde humana é inquestionável e consequentemente os estudos destas relações é objeto do campo da Saúde Pública. Essas relações incorporam todos os elementos e fatores que potencialmente afetam a saúde, incluindo, entre outros, desde a exposição a fatores específicos como substâncias químicas, elementos biológicos ou situações que interferem no estado psíquico do indivíduo, até aqueles relacionados com aspectos negativos do desenvolvimento social e econômico dos países (TAMBELLINI e CÂMARA, 1998; PORTO, 2007). O processo de desenvolvimento econômico é apontado como um dos principais fatores da degradação ambiental, influenciando as alterações dos perfis de saúde da população humana (PIGNATI e MACHADO, 2007). O Brasil começou a utilizar agrotóxicos em larga escala a partir da década de 70, quando eles foram incluídos nos financiamentos agrícolas juntamente com os adubos e os fertilizantes químicos (ARAÚJO et al., 2007). Atualmente o Brasil é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo (PACHECO, 2009). Dentro do cenário nacional o Estado de Mato Grosso se destaca como um dos grandes produtores agrícolas e consumidores de agrotóxicos, tendo Lucas do Rio Verde como município destaque na produção de soja, milho safrinha e grande consumidor de agrotóxicos dentro do estado (PIGNATI et al., 2007). O uso intensivo de agrotóxicos tem sido impulsionado para atender a crescente demanda de produção agrícola. Isso tem colocado em risco a saúde dos produtores, dos trabalhadores, do meio ambiente e dos consumidores (ARAÚJO et al., 2007). Nos países em desenvolvimento, especialmente aqueles com economias baseadas no agronegócio, como é o caso do Brasil, a extensiva utilização de agrotóxicos e fertilizantes químicos representa um grave problema de saúde pública. Os agravos à saúde relacionados à utilização desses químicos, em Mato Grosso, constituem uma situação que tem ultrapassado os limites das grandes fazendas de monocultura, atingindo toda a população regional onde há o desenvolvimento do agronegócio (PIGNATI e MACHADO, 2007).

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No Brasil, a adoção do pacote tecnológico recomendado pela chamada de Revolução Verde, permitiu a implantação em larga escala de sistemas monoculturas com emprego intensivo de fertilizantes e agrotóxicos, além de ter proporcionado a abertura de um imenso mercado de máquinas, sementes e insumos agrícolas (AGUIAR e MONTEIRO, 2005). A escolha desse modelo central implicou na predominância quase absoluta das culturas de ciclo curto. Esse e outros fatores exigem das culturas brasileiras uma intensa utilização de insumos químicos, para garantir uma alta eficiência produtiva e retorno econômico. Esse modelo implica também em desmatamento e mecanização intensivos que, por sua vez, desencadeiam outros processos problemáticos. Um deles é a compactação do solo, que, junto com os sistemas de revolvimento das áreas de cultivo contribui para acentuar a erosão causada pelas chuvas e/ou eólica (NOVAIS, 2001; AGUIAR e MONTEIRO, 2005). No caso do cerrado que vem passando por uma ampla expansão da atividade agrícola, a característica de possuir um solo pouco fértil para a agricultura, intensifica o uso de fertilizantes e agrotóxicos para atingir a alta produtividade que vem sendo obtida nessas áreas de solo mais pobre, ocasionando sérios problemas ambientais (SOARES e PORTO, 2007). Mas, o uso de agrotóxico não gera somente impacto ambiental gera também impactos sociais e sanitários consequentes das atividades produtivas que geram produtos e serviços (SOARES e PORTO, 2007). Esses impactos são agravados pela ampla utilização desses produtos, o desconhecimento dos riscos associados a sua utilização, o desrespeito às normas de segurança, a livre comercialização, a pressão comercial por parte das empresas produtoras e distribuidoras e os problemas sociais presentes no meio rural (MOREIRA et al., 2002). No Estado de Mato Grosso as aplicações de agrotóxicos nas monoculturas são realizadas através de pulverizações por tratores e aviões agrícolas, e as névoas de agrotóxicos produzidas, além de atingirem os alvos (inseto, fungo ou erva daninha), também atingem os trabalhadores o ar/solo/água, os moradores, os animais e outras plantas que estão no entorno das lavouras. Como na maioria dos municípios matogrossenses predomina o processo produtivo denominado de “agricultura moderna”, o cotidiano da população é a convivência com tratores, pulverizadores e seus ruídos e com os odores dos fertilizantes e agrotóxicos (PIGNATI et al., 2007).

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O Estado de Mato Grosso se destaca como um dos grandes produtores agrícolas e consumidores de agrotóxicos no Brasil, tendo Lucas do Rio Verde como município destaque na produção de soja, milho safrinha e grande consumidor de agrotóxicos dentro do estado (PIGNATI et al., 2007; MOREIRA et al., 2010). Os dados apresentados nas Tabelas 1 e 2, mostram a produção agrícola e o consumo de agrotóxico, em uma série histórica de doze anos, do Estado de Mato Grosso e do município de Lucas do Rio Verde, respectivamente. Esses dados demonstram a evolução da produção agrícola e junto com ela o aumento no consumo de agrotóxicos. Tabela 1 - Produção agrícola (milhões hectares) e consumo de agrotóxico na agropecuária (milhões de litros) no Estado de Mato Grosso; 1998 a 2009. Mato 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Grosso Soja 2,6 2,6 2,9 3,1 3,8 4,4 5,3 6,1 5,8 5,1 5,5 5,9 (em grão) Milho 0,5 0,5 0,6 0,5 0,7 0,9 0,9 1,1 1,1 1,7 1,8 2,0 (em grão) Algodão 0,1 0,2 0,3 0,4 0,3 0,3 0,5 0,5 0,4 0,6 0,5 0,5 herbáceo Outros* 0,6 0,9 0,9 0,8 0,7 0,7 1,1 1,2 0,6 0,6 0,8 1,1 Total 3,9 4,4 4,8 5,0 5,7 6,5 8,0 9,1 8,1 8,0 8,7 9,5 Agrotóxicos 33 30 42 42 49 55 64 72 75 87 92 105 Fonte: IBGE (2009); INDEA-MT (2009). Outros: arroz, borracha, cana-de-açúcar, feijão (em grãos), sorgo (em grãos).

De acordo com a Tabela 1 observa-se que em 1998 utilizava-se 8,46 milhões de litros de agrotóxicos por milhões de hectares plantados. Já em 2009 utilizou-se 11,05 milhões de litros de agrotóxicos por milhões de hectares plantados, ou seja, houve um aumento de 23% no consumo de agrotóxico para a mesma quantidade de área cultivada.

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Tabela 2 - Produção agrícola (mil hectares) e consumo de agrotóxico na agropecuária (milhões de litros) em Lucas do Rio Verde – MT; 1998 a 2009. Lucas do 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Rio Verde Soja 140 153 160 175 180 201 216 222 224 216 226 237 (em grão) Milho 36 63 71 78 123 140 100 146 147 175 161 147 (em grão) Algodão 3 12 10 11 6 5 15 10 7 15 11 8 herbáceo Outros* 6 41 18 11 6 12 10 5 2 6 12 18 Total 185 269 259 275 315 358 341 383 380 412 410 410 Agrotóxicos 1,9 2,4 2,4 2,6 3,0 3,3 3,3 3,7 4,2 4,1 4,2 4,5 Fonte: IBGE (2009); INDEA-MT (2009). Outros: arroz, borracha, cana-de-açúcar, feijão (em grãos), sorgo (em grãos).

Analizando a mesma relação de dados para o município de Lucas do Rio Verde (Tabela 2), observa-se que houve um acréscimo de 6% no consumo de agrotóxico para a mesma quantidade de área cultivada. O aumento no consumo de agrotóxico é maior que o aumento de área agricultável, tanto do Estado de Mato Grosso como em Lucas do Rio Verde. O que prova a intensificação do uso de agrotóxico. O aumento no consumo de agrotóxico faz surgir alguns questionamentos: onde foi parar essa quantidade de agrotóxico? Qual fração se dissipou em cada compartimento ambiental (água, ar, solo, biota)? A exposição da população brasileira aos agrotóxicos é de 3,66 litros/habitante. A população de Mato Grosso está exposta a 29,80 litros/habitante, uma exposição oito vezes maior que a média da população brasileira. Quando se fala em exposição da população residente em Lucas do Rio Verde-MT, a população está exposta a 136,35 litros/habitante, uma exposição cinco vezes maior que a média do estado e trinta e sete vezes maior que a média nacional (MOREIRA et al., 2010). A Tabela 3 apresenta a média anual de consumo dos agrotóxicos (princípio ativo) mais utilizados no município de Lucas do Rio Verde. Dos pricipios ativos em destaque 40% são classificados como extremamente tóxicos, e 15% altamente tóxico a saúde, somando, mais da metade dos princípios ativos apresentam alto risco à população e meio ambiente. Além da diversidade, pois são mais de vinte princípios ativos, cada um com suas particularidades químicas, físicas, biológicas, o que lhe conferem.

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Tabela 3 - Média anual do consuno de agrotóxicos em litros, com maior utilização entre 2005 a 2009 por tipo de uso, classe toxicológica e forma de aplicação em Lucas do Rio Verde - MT. Agrotóxico Média de Uso Classe Toxicológica1 (principio ativo) consumo anual2 GLIFOSATO ATRAZINA METAMIDOFÓS ENDOSSULFAM 2,4-D DIQUAT S-METACLORO PARATIONA METÍLICA ACEFATO CLORPIRIFÓS PARAQUATE TRIFLURALINA PERMETRINA CIPERMETRINA MALATIONA MSMA FIPRONIL MONOCROTOFOS CARBOFURAN DELTAMETRINA OUTROS

Herbicida Herbicida Inseticida Inseticida Herbicida Herbicida Herbicida Inseticida Inseticida Inseticida Herbicida Herbicida Inseticida Inseticida Inseticida Herbicida Inseticida Inseticida Inseticida Inseticida Vários

IV - POUCO TÓXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO II - ALTAMENTE TÓXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO II - ALTAMENTE TÓXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO II - ALTAMENTE TÓXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO I - EXTREMAMENTE TÓXICO III - MEDIANAMENTE TOXICO VÁRIOS

TOTAL GERAL Fonte: 1 ANVISA (2011); 2 INDEA-MT (2010).

1.261.957 390.061 381.438 216.950 184.970 141.005 87.120 77.497 73.280 47.145 28.643 23.094 22.985 19.636 11.911 9.860 8.047 4.792 3.981 1.179 1.333.935 4.329.486

A saúde humana pode ser afetada pelos agrotóxicos diretamente, por meio do contato direto com estas substâncias. Não somente os moradores do meio rural estão sujeitos a contaminação humana e ambiental, os do meio urbano também se encontram sob risco, devido à contaminação ambiental e dos alimentos. A avaliação da contaminação ambiental é de fundamental importância para a compreensão da contaminação humana por agrotóxicos (MOREIRA et al., 2002), uma vez que os seres humanos podem receber resíduos provenientes de matrizes ambientais contaminadas, como água e ar. O uso de agrotóxicos na agricultura nas últimas décadas proporcionou um grande benefício para a produção de alimentos. Entretanto, em paralelo a esses

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benefícios, surgiu o efeito potencial de resíduos de agrotóxicos remanescentes nos alimentos, sendo a ingestão de alimento contendo agrotóxicos uma das principais rotas de exposição humana (MELLO, 1999). O homem se encontra no final da cadeia alimentar, o que faz com que possa ingerir toda sorte de substâncias químicas, inclusive os agrotóxicos estáveis que foram se acumulando ao longo de toda a cadeia. Ainda os recebe dos resíduos provenientes de contaminação das águas e do ar. Os agrotóxicos são agentes poluidores e podem resultar em problemas de saúde para o homem. Assim, a questão da qualidade ambiental é um aspecto de investigação com ênfase no que se refere ao seu impacto na saúde da população (NUNES e TAJARA, 1998). O uso de agrotóxico gera externalidades no meio ambiente e na saúde humana, sendo que muitos desses impactos ainda são desconhecidos a longo prazo. (SOARES e PORTO, 2007). Indivíduos que trabalham diretamente com os agrotóxicos estão sujeitos a riscos diferentes da população em geral. A população em geral pode estar exposta aos agrotóxicos através da ingestão de alimentos contaminados (carne, peixe, laticínios, frutas e vegetais), por exposição dérmica após aplicações domésticas ou pulverizações em culturas ou ambientes públicos ou inadvertidamente por inalação durante a aplicação de spray (NUNES e TAJARA, 1998). A elevada estabilidade de alguns grupos de agrotóxicos à degradação ambiental, associada a outras propriedades físicas e químicas, que favorecem suas distribuições pelos diferentes compartimentos ambientais, suas propriedades de bioacumulação em tecidos ricos em lipídios e uso intenso, são fatores que colocam os agrotóxicos como importantes contaminantes ambientais. Estudos atuais têm relatado associações estatísticas positivas entre a exposição humana a agrotóxicos e problemas de saúde, tais como aumento de certos tipos de câncer de mama e/ou do trato

reprodutivo,

redução

da

fertilidade

masculina,

anormalidades

no

desenvolvimento sexual entre outros (MEYER et al., 1999). Alguns agrotóxicos atuam como interferentes endócrinos. Segundo a União Européia, os interferentes endócrinos podem: danificar diretamente um órgão endócrino; alterar diretamente a função de um órgão endócrino; interagir com um receptor de hormônios ou, alterar o metabolismo de um hormônio em um órgão

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endócrino (ECE, 2010). As substâncias sintéticas que apresentam essa ação são geralmente persistentes no ambiente podendo se acumular ao longo da cadeia trófica. Além disso, MEYER et al. (1999), assinalam que muitas destas substâncias são excretadas através do leite materno, constituindo uma fonte de contaminação de recém-nascidos. Os agrotóxicos não são as únicas substâncias que possuem a capacidade de afetar

o

sistema

endócrino.

Substâncias

sintéticas,

também denominadas

xenoestrogênios, como (alquilfenóis, ftalatos, policlorados de bifenilas (PCD), bisfenol A, substâncias farmacêuticas, entre outras) e substâncias naturais (estrogênios naturais e fitoestrogênios), também possuem essa capacidade (BILA e DEZOTTI, 2007; GHISELLI e JARDIM, 2007). KOIFMAN et al. (2002), verificaram correlação positiva entre a exposição da população aos agrotóxicos consumidos na década de 1980 e os distúrbio reprodutivos observados na década de 1990. O estudo realizado em 11 estados brasileiros observou coeficientes de correlação moderado e alto entre venda de agrotóxicos e mortalidade por câncer de mama, principalmente entre as mulheres de 50-69 anos de idade em 1995-1997 e mortalidade por câncer de ovário. Alguns estudos toxicológicos com animais apresentam evidencias que altas doses de alguns agrotóxicos podem alterar a função reprodutiva e produzir malformações congênitas (HEEREN et al., 2003; CALVERT et al., 2007). Na África do Sul, mulheres expostas aos agrotóxicos apresentaram um risco sete vezes maior de ter filhos com alguma malformação congênita do que mulheres não expostas a essas substâncias, sugerindo uma relação entre a exposição aos agrotóxicos e o nascimento de crianças com malformações congênitas (HEEREN et al., 2003). Foi verificado na Espanha (REGIDOR et al., 2003), a existência de associação entre a exposição paterna durante o primeiro trimestre da gravidez a agrotóxicos e o risco de morte fetal a partir de malformações congênitas. COOPER et al., (2006), verificaram que mães expostas a inibidores da acetilcolinesterase (ACE) no primeiro trimestre de gravidez tinham um risco 2,7 vezes maior de ter filhos com alguma malformação congênita do que mães não expostas a essas substâncias.

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Os dados obtidos em diferentes estudos sobre a relação entre os resultados reprodutivos adversos e ocupação dos pais na agricultura são inconsistentes. Enquanto alguns estudos mostram que filhos de agricultores têm uma maior frequência de morte fetal e/ou mortalidade perinatal do que filhos de nãoagricultores, provavelmente devido à exposição a pesticidas, outros estudos não encontraram diferenças (REGIDOR et al., 2003; LEITE et al., 2007). Conforme REGIDOR et al. (2003), uma possível explicação para esses resultados inconsistentes é que as principais causas de óbito fetal e morte perinatal são diferentes de um lugar para outro. SERGEEV e CARPENTER (2005) avaliaram as taxas de hospitalização por doenças coronarianas e infarto agudo do miocárdio e a proximidade da residência de áreas contaminadas por poluentes orgânicos persistentes (POP) e outros poluentes no Estado de Nova Iorque nos Estados Unidos. Uma análise realizada no sangue e na urina de moradores da zona urbana e rural de Lucas do Rio Verde-MT mostra a contaminação por agrotóxicos das duas populações. A pesquisa observou que substâncias como o glifosato, muito utilizado na região, e piretróides foram detectados nos dois grupos pesquisados. Porém, os níveis de glifosato encontrados na população rural foram duas vezes superiores aos níveis da população urbana. Já os níveis de piretróides, essa relação se inverte, indicando uma possível influência dos agrotóxicos domissanitários. Os níveis de organoclorados foram maiores da população rural, quando comparados com a população urbana (MOREIRA et al, 2010). As crianças são particularmente vulneráveis à exposição a agentes químicos presentes no ambiente devido as suas características fisiológicas. Sendo assim, quaisquer agentes químicos presentes no ar, água, solo e alimentos têm probabilidade maior de ser absorvidos por crianças do que por adultos (LANDRIGAN et al., 2004). A criança que se alimenta do leite humano está no ápice da cadeia alimentar e assim pode receber uma maior carga de contaminantes eliminados por esta via, principalmente aqueles capazes de sofrerem o fenômeno da biomagnificação (MELLO, 1999). O leite humano é um veículo importante para eliminação de xenobióticos do organismo e pode se constituir em uma fonte de contaminação para o lactente (CAMPOY et al., 2001). A grande preocupação com a contaminação do

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leite materno deve-se ao fato dele ser a única fonte de alimentação dos recémnascidos até aproximadamente os seis meses de idade bem como ao fato das crianças apresentarem maior vulerabilidade devido a imaturidade de seus sistemas vitais dentre os quais o imunológico. O leite materno pode se constituir em uma importante fonte de transferência de resíduos de agrotóxicos, em adição à transferência placentária, para as crianças em fase de lactação (MELLO, 1999). O risco de exposição a agentes químicos inicia ainda na vida intra-uterina. O termo barreira placentária revelou-se totalmente inapropriado desde os eventos relacionados à talidomida e ao dietilstilbestrol nos anos 1950 e 1960. Estudos demonstram que agrotóxicos lipofílicos como os organoclorados se acumulam na gordura da mãe, passam do seu sangue ao do feto através da placenta e são mobilizados nos depósitos de gordura durante a lactação para serem excretados pelo leite materno (NUNES e TAJARA, 1998; MELLO, 1999; MELLO-DA-SILVA e FRUCHTENGARTEN, 2005). O leite humano é produzido pela ação de hormônios e reflexos. Durante a gravidez os hormônios preparam o tecido glandular para a produção de leite. O tecido glandular se desenvolve mais e as mamas ficam maiores. O tamanho das mamas está relacionado com a quantidade de tecido mamário e depósitos de gordura intra e inter lobular, mas não reflete a sua capacidade funcional. Logo após o parto, os hormônios fazem com que a mama comece a produzir leite (MS, 2001; ORFÃO e GOUVEIA, 2009). A glândula pituitária, localizada na base do cérebro, produz a prolactina, um hormônio que estimula as células glandulares da mama a produzir leite. Cada vez que a criança suga, estimula as terminações nervosas do mamilo, que levam o estímulo para a parte anterior da glândula pituitária. Através da circulação sanguínea a prolactina atinge as mamas que produzem o leite (MS, 2001; ORFÃO e GOUVEIA, 2009; WAGNER, 2010). A prolactina atua depois que a criança mama e produz leite para a próxima mamada. A glândula pituitária produz mais prolactina durante a noite do que durante o dia. Portanto, o aleitamento materno à noite ajuda a manter uma boa produção de leite. A prolactina juntamente com outros hormônios inibe os ovários, retardando o retorno da fertilidade e da menstruação (MS, 2001).

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O leite é ejetado por pequenas células musculares, situadas ao redor do tecido glandular, que se contraem e jogam o leite para fora. O hormônio ocitocina é responsável pela contração dessas células, é produzido na parte posterior da glândula pituitária e vai através da corrente sanguínea para as mamas. A ocitocina atua enquanto a criança está sugando e faz o leite descer durante a mamada. A ocitocina faz com que o útero se contraia o que auxilia na eliminação da placenta. O aleitamento materno pode ajudar a parar o sangramento após o parto e reduzir o tempo em que a mulher perde os lóquios (MS, 2001; ORFÃO e GOUVEIA, 2009; WAGNER, 2010). Apesar da prolactina agir de forma independente da ocitocina, em diferentes receptores celulares, suas ações combinadas são essenciais para o sucesso da lactação (WAGNER, 2010). O leite materno nem sempre tem exatamente a mesma composição. Há algumas modificações importantes e normais com o passar do tempo. A composição do leite também apresenta pequenas variações com a alimentação da mãe, mas essas alterações raramente têm algum significado (MS, 2001). A secreção láctea apresenta diferentes fases. O colostro, secretado até o 5º dia após o parto, contém um alto teor de proteínas, principalmente imunoglobulinas e lactoferrina, e contém pouca gordura (2%) em relação ao leite maduro (3,5%). O colostro é também rico em fatores de crescimento que estimulam o intestino imaturo da criança a se desenvolver. O fator de crescimento prepara o intestino para digerir e absorver o leite maduro e impede a absorção de proteínas não digeridas. O colostro é laxativo e auxilia a eliminação do mecônico (primeiras fezes muito escuras). Isto ajuda a evitar a icterícia. (MS, 2001; SILVA e GIOIELLI, 2009). Se a criança recebe leite de vaca ou outro alimento antes de receber o colostro, estes alimentos podem lesar o intestino e causar alergias. No leite de transição, secretado entre o 6º e o 15º dia após o parto, há um aumento na quantidade de lactose, gordura e vitaminas hidrossolúveis, e diminuição na quantidade de imunoglobulina (SILVA e GIOIELLI, 2009). O leite maduro, secretado após o 15º dia de lactação, é comparado ao colostro. É uma secreção mais fina e aquosa. A secreção aquosa, secretada no início na mamada, tem a função de suprir a sede e as necessidades líquidas do bebê. Nesse período, o leite é rico em proteínas, lactose, vitaminas, minerais e água. O leite do

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final da mamada tem quatro vezes mais gordura que o leite inicial, com a função de fornecer calorias ao lactente. Ele fornece mais da metade da energia do leite materno (MS, 2001; SILVA e GIOIELLI, 2009). Quanto às proteínas, o leite humano possui 80% de lactoalbumina, sendo a relação soro/caseína de aproximadamente 80/20. Essa baixa concentração de caseína facilita a digestão por formar um coalho gástrico mais leve. O leite humano contém altas concentrações de cistina e taurina, aminoácidos essenciais de alto valor biológico, fundamentais para o crescimento do sistema nervoso central. O principal carboidrato no leite humano é a lactose, que facilita a absorção de cálcio e ferro e promove a colonização intestinal com Lactobacillus bifidus. No colostro, a concentração de lactose é cerca de 4% e no leite maduro de 7% (SILVA e GIOIELLI, 2009). De acordo com MULLER (2003), o aleitamento materno, do ponto de vista ecológico, pode ser considerado sob alguns aspectos. O primeiro diz respeito à própria ecologia, lembrando que o gênero humano pertence à classe Mammalia, seres animais que mamam. Amamentar é próprio da natureza humana e possui raiz ecológica. O segundo aspecto desta questão é a saúde ambiental, ou do meio onde vive a nutriz, que pode afetá-la com contaminações complexas. Na amamentação, os contaminantes podem passar para a criança e causar danos tanto graves como permanentes, inclusive pelo potencial câncerígeno de alguns poluentes. O terceiro aspecto da questão destaca um aspecto cultural, onde as mães assumem que a amamentação artificial é um modernismo desejável. A propaganda incutiu a mamadeira, prática e conveniente, e minou a confiança de muitas mães na sua capacidade de alimentar os filhos. Finalmente, o quarto aspecto refere-se à questão agrária e industrial que envolve todo o processo da produção do leite em pó. A amamentação é a melhor maneira de proporcionar o alimento ideal para o crescimento saudável e o desenvolvimento dos recém-nascidos, além de ser parte integral do processo reprodutivo, com importantes implicações para a saúde materna (OPAS, 2003). O aleitamento materno fortalece a imunidade, mantém o crescimento e

desenvolvimento

normais,

melhora

o

processo

digestivo

no

sistema

gastrointestinal, favorece o vínculo mãe-filho e facilita o desenvolvimento emocional, cognitivo e do sistema nervoso (LANDRIGAN et al., 2002; SILVA et al.,

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2007). Crianças em aleitamento materno têm menos quadros infecciosos porque o leite materno é estéril, isento de bactérias e contém fatores anti-infecciosos que incluem leucócitos, imunoglobinas, fator bífado e lactoferrina (MS, 2001). A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que todas as crianças sejam alimentadas exclusivamente com o leite materno até os seis meses de idade. Depois dos seis meses, com o objetivo de suprir suas necessidades nutricionais, a criança deve começar a receber alimentação complementar segura e nutricionalmente adequada, juntamente com a amamentação, até os dois anos de idade ou mais (OPAS, 2003). Entre os fatores determinantes da saúde infantil, as condições ambientais são responsáveis por uma parcela significativa, já que situações desfavoráveis contribuem para a morbidade e mortalidade significativa de crianças (MELLO-DASILVA e FRUCHTENGARTEN, 2005). O relacionamento da criança com o seu ambiente tem importância que transcende à verificada para o adulto, tendo em vista a característica ímpar dos seres vivos jovens, o crescer e o desenvolver, a partir de um ponto de vulnerabilidade máxima (ao nascimento) decrescente ao longo do processo de crescimento: quanto mais jovem a criança, mais dependente do ambiente (MARCONDES, 1982). O risco de exposição a agentes químicos inicia ainda na vida intra-uterina, uma vez que o termo barreira placentária revelou-se totalmente inapropriado desde os eventos relacionados à talidomida e ao dietilstilbestrol (ETZEL et al., 2003). Estudos demonstram que agrotóxicos lipofílicos como os organoclorados se acumulam na gordura da mãe, passam do seu sangue ao do feto através da placenta e são mobilizados dos depósitos de gordura durante a lactação para serem excretados pelo leite materno (MELLO, 1999; MELLO-DA-SILVA e FRUCHTENGARTEN, 2005). Alguns processos fundamentais, como o desenvolvimento do sistema nervoso, ocorrem predominantemente na vida fetal e durante os primeiros anos de vida.

No período neonatal, observa-se um maior risco de absorção de agentes

químicos através da pele, pois a queratinização só se completa por volta do quinto ao oitavo dia de vida. As vias de biotransformação de agentes químicos que ingressam no organismo não estão completamente desenvolvidas ao nascimento e durante os

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primeiros meses de vida. Em muitos casos, como na exposição ao chumbo e a inseticidas organofosforados, as crianças são menos aptas a lidar com esses agentes, pela ausência ou deficiência de enzimas necessárias para sua biotransformação e eliminação. Outro aspecto a considerar é que eventuais dificuldades na metabolização de agentes tóxicos pode representar para a criança, no caso de exposição continuada ou crônica, o acúmulo desses agentes em órgãos ou tecidos de depósito, como ossos e células adiposas. As repercussões dessas exposições poderão vir a ser observadas somente após muitos anos, com o possível desenvolvimento de câncer associado à exposição a esses compostos presentes desde a vida intra-uterina até o ambiente doméstico durante a infância (MELLO, 1999; MELLO-DA-SILVA e FRUCHTENGARTEN, 2005). O leite é produzido nas glândulas mamárias alveolares. Para sua produção, os componentes do leite e seus precursores passam por uma membrana que separa o fluxo sanguíneo dos capilares, das células epiteliais alveolares da mama. Durante este processo, algumas substâncias químicas que estejam presentes no organismo materno podem passar para o leite, em concentrações que refletem as concentrações existentes no organismo. A lipossolubilidade do composto químico é um fator importante para sua incorporação ao leite humano (NEEDHAM e WANG, 2002). Existe uma forte correlação entre a concentração de agrotóxicos organoclorados no tecido adiposo materno ao final da gestação e aquela determinada na fração gordurosa do leite humano. Este fato pode ser devido à natureza altamente lipofílica destes compostos, que tem seus níveis aumentados no organismo de mulheres com mais gordura corporal (CAMPOY et al., 2001; MESQUITA, 2001; CERRILO et al., 2005; LLOP et al., 2010). Devido à lipossolubilidade dos organoclorados, sua acumulação no tecido adiposo pode ser entendida como uma estratégia do corpo para remover substâncias tóxicas da circulação ativa. Quando ocorre uma deficiência nutricional, os depósitos de gordura se mobilizam e as substâncias são liberadas, retornando a corrente sanguínea. Se a concentração no sangue alcançar níveis elevados pode produzir efeitos tóxicos agudos. Nestes casos a redução dos sintomas, no entanto, pode não significar a eliminação do composto do organismo, mas sim a sua remoção da

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circulação sanguínea. Os sintomas agudos cessam, mas permanece o risco de ação tóxica crônica no organismo. As doenças e intoxicações causadas pelos agrotóxicos já representam um problema de Saúde Pública no país. Aproximadamente 15% do serviço de toxicologia nos prontos-socorros das grandes cidades brasileiras são de vitímas desses produtos. O uso indiscriminado de agrotóxicos pode elevar o índice de doenças crônicas. Como essas doenças nem sempre são diagnosticadas com precisão, também se elevam os índices de subnotificações, retardando assim o combate a esse problema (PINHEIRO, 2009). Este trabalho foi um subprojeto da pesquisa “Avaliação do risco à saúde humana decorrente do uso de agrotóxicos na agricultura e pecuária na região CentroOeste (CNPq n. 555193/2006-3) finalizada em junho de 2010, cujos dados, também serão discutidos neste trabalho para melhor caracterizar a exposição aos agrotóxicos a que estão submetidos à população e o ambiente em Lucas do Rio Verde-MT (MOREIRA, et al., 2010).

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2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1. AGROTÓXICOS E O MEIO AMBIENTE

Desde o momento em que o homem passou a dominar a natureza, fazendo da agricultura uma notável forma de apropriação do espaço, iniciou-se as transformações neste meio (AZEVEDO e MONTEIRO, 2009). A biodiversidade fornece a matéria-prima para a nossa alimentação e para outras necessidades fundamentais do ser humano, sendo seu uso, fundamental para o desenvolvimento da humanidade. Dessa forma, o homem quando degrada o ambiente, degrada também sua qualidade de vida. O uso indiscriminado de agrotóxicos, em qualquer região do planeta, a princípio, gera efeitos locais e regionais. Entretanto, dependendo dos ecossistemas atingidos, tais efeitos provocam uma onda de reflexos que se alastra por todo um ecossistema (GRISOLIA, 2005). A contaminação ambiental é uma importante via de contaminação para o ser humano, que está exposto a todos os compartimentos ambientais. Na maioria das vezes a exposição ambiental envolve a exposição a múltiplas substâncias, o que pode alterar seu comportamento toxicológico, tornando os efeitos tóxicos mais pronunciados. Uma vez que, os efeitos tóxicos conhecidos, são estabelecidos de acordo com estudos toxicológicos e epidemiológicos, levandose em consideração a ação individual de cada substância. O setor agrícola degrada os recursos hídricos de várias maneiras. O uso intensivo do solo, aliado a um manejo inadequado, potencializa um processo natural de erosão e assoreamento dos cursos de água. Associado ao problema da erosão está o uso indiscriminado dos agrotóxicos. O uso desses produtos químicos é um dos mais graves fatores de deterioração da qualidade dos recursos hídricos (AZEVEDO e MONTEIRO, 2009). Estudos em várias regiões do país demonstram que a contaminação dos recursos hídricos por agrotóxicos representa um problema real que pode trazer sérias consequências para o meio ambiente e para a saúde humana (DORES e DE-LAMONICA-FREIRE, 2001; VEIGA et al., 2005).

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Em um estudo realizado por MARCHESAN et al. (2007) nos Rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim no Estado do Rio Grande do Sul, durante o período de plantio de arroz, foi detectada a presença de pelo menos um herbicida em 41% das amostras no rio Vacacaí e 33% das amostras no rio Vacacaí-Mirim. O herbicida clomazona foi detectado com maior frequência nos dois rios. Em outro estudo realizado na Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape no Estado de São Paulo por MARQUES et al. (2007), mostrou a presença de agrotóxicos em 24% das 152 amostras coletadas. Substâncias tais como carbamatos, triazinas e nitroanilinas foram detectadas particularmente durante a estação chuvosa, revelando que a qualidade da água está associada com a variação sazonal. Alguns estudos desenvolvidos na região de Primavera do Leste, Mato Grosso detectaram contaminação por agrotóxicos em água potável, superficial e subterrânea. Em estudo realizado por DORES et al. (2006) ao analisar amostras de água subterrânea e água superficial foram detectados resíduos de agrotóxicos em 14 amostras das 20 amostras coletadas. As substâncias detectadas foram atrazina, simazina, metaloclor e metribuzim. Simazina, metribuzim, metolaclor, atrazina, trifluralina, e dois metabólitos da atrazina, desisopropilatrazina (DIA) e desitilatrazina (DEA), foram detectados em amostras de água superficial e subterrânea. As concentrações encontradas variam de 0,14 a 1,7 µg/L (DORES et al., 2008). CARBO et al. (2008), analisaram amostras (n=110) de água subterrânea em lavouras de algodão. Das doze substâncias analisadas, oito (acetamiprido, aldicarbe, carbendazim, carbofurano, diurom, imidacloprido, metomil e teflubenzurom) foram detectadas nas amostras de água, sendo que 18% continham pelo menos um dos pesticidas, com concentrações variando de 0,78 a 68,79 μg L-1, excedendo em alguns casos, os níveis estabelecidos pela União Européia e outros organismos nacionais e internacionais. Esses resultados confirmam a vulnerabilidade do lençol freático à contaminação por pesticidas. MOREIRA et al. (2010), detectaram contaminação em 10 poços artesianos em Lucas do Rio Verde, 83% dos poços selecionados (n=12). Foram detectadas as substâncias atrazina, metaloclor, clorpirifós, β-endossulfam, sulfato de endossulfam, flutriafol e permetrina. As concentrações variaram de 0,01 a 4,78 µg/L. Na maioria das amostras, os níveis dos resíduos não ultrapassaram os Limites Máximos de

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Resíduos permitidos para a água potável (portaria 518/MS), porém, aqueles que ultrapassaram, são agrotóxicos mais estáveis, mais solúveis e de alta toxicidade crônica. A mesma pesquisa analisou 35 amostras de água superficial, coletadas em oito pontos em rios do município. Os resultados apontaram a presença de atrazina, metaloclor, clorpirifós, β-endossulfam, sulfato de endossulfam, flutriafol e malation. As concentrações variaram de 0,01 a 8,8 µg/L, sendo que 81% das amostras de água superficial apresentaram pelo menos um tipo de resíduo de agrotóxico. Os agrotóxicos não são encontrados apenas em água superficial ou subterrânea, mas também em água de chuva, como foi detectado em águas coletadas em quatro pontos do município de Lucas do Rio Verde-MT. Substâncias como melaloclor e β-endossulfam foram detectadas em 56% das amostras, flutriafol em 51%, atrazina em 43% e sulfato de endossulfam 38%. As concentrações variaram de 0,01 a 47,21 µg/L. Esses resultados indicam uma dispersão dos agrotóxicos aplicados, atingindo não somente a população rural, mas também a população urbana (MOREIRA et al., 2010). Outros estudos evidenciaram contaminação de água de chuva em outros países como Bélgica (QUAGUEBEUR et al., 2004), França (SCHEYER et al., 2006) e Grécia (ROUVALIS et al., 2009). A presença de agrotóxicos nos recursos hídricos pode afetar à saúde humana e também outros organismos. Em alguns animais, os efeitos encontrados foram: problemas na reprodução e declínio populacional; funcionamento anormal da tireóide e outras disfunções hormonais; feminilização de machos e masculinização de fêmeas; sistema imunológico comprometido; tumores e cânceres; anormalidades comportamentais e maior incidência de malformação fetal (MIRANDA, 2006). As populações de anfíbios encontram-se em declínio globalmente e os agrotóxicos estão entre as inúmeras causas responsáveis por esta queda. A maioria dos estudos que relacionam os efeitos dos agrotóxicos sobre os anfíbios concentramse sobre a toxicologia desses compostos, determinando apenas sua letalidade e relações com malformações externas. Pouco se sabe sobre os efeitos de interferência endócrina nessa população. Um estudo realizado por HAYES et al. (2006), demonstrou que apesar de alguns agrotóxicos, individualmente, inibirem o crescimento e desenvolvimento larval, as misturas desses compostos tiveram efeitos muito maiores, alterando o

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tempo e o tamanho da metamorfose. Estudo realizado por LAJMANOVICH et al. (2010), demonstrou que a conversão de ecossistemas nativos em lavouras de soja pode levar ao aumento dos riscos ecológicos de anfíbios anuros devido ao aumento do uso de agrotóxicos e outras substâncias químicas utilizadas na agricultura. Em pesquisa realizada em Lucas do Rio Verde-MT, várias substâncias foram encontradas no sangue de anfíbios coletados em cursos de água do município. Substâncias como µ-HCH, β-HCH, dieldrim, µ-endossulfam, β-endossulfam, endrim, heptacloro, mirex, o,p’- DDD, PCB tetraclorobifenil, foram detectadas em concentrações que variaram de 0,20 a 2,88 ng/mL de sangue. Nessa mesma pesquisa casos de malformação, como ectromelia e sindactilia, foram detectadas (MOREIRA et al., 2010). Diversos trabalhos apresentaram a presença de agrotóxicos em amostras de peixes, como no caso do estudo realizado por CALDAS et al. (1999), que detectou a presença de HCH total e lindano (γ-HCH) em amostras de peixe do Lago Paranoá em Brasília. No estudo realizado por TARDIVO e REZENDE (2005) verificou a presença de HCB, γ-HCH e PCB-200 em amostras de peixes dos três pontos estudados da Bacia do Betari, no Vale do Ribeira, São Paulo. Ainda no Estado de São Paulo, na bacia do Rio Piracicaba, SILVA et al. (2008) encontraram resíduos de vários agrotóxicos organoclorados nas espécies Prochilodus scrofa (curimbatá) e Pimelodus maculatus (mandi-amarelo). Os valores mais altos foram encontrados para α-HCH (0,051 – 0,203 µg g–1), γ-HCH (0,108 – 0,184 µg g–1) e aldrim (0,067 – 0,134 µg g–1) na espécie Prochilodus scrofa. Heptacloro, α-endossulfam, dieldrim, DDE e DDT também foram observados, mas em valores menores, como também observado para a espécie Pimelodus maculatus. Estudos

desenvolvidos

em

outros

países

também

demonstram

a

contaminação de peixes por agrotóxicos. No interior da Índia DHANANJAYAN e MURALIDHARAN (2010), demonstraram contaminação de peixes da espécie Anguilla bicolor bicolour e Heteropneustes fossilis por agrotóxicos organoclorados como o HCH, DDT, dieldrim, heptacloro epóxido e endossulfam. Estudo realizado por COSCOLLÀ et al. (2010) na área rural e urbana da França, analisou a presença de 56 agrotóxicos no ar, destes, 41 foram detectados.

34

Herbicidas tais como trifluralina, acetoclor, pendimetalim e o fungicida clorotalonil foram encontrados com frequência. O estudo demonstrou tendência sazonal, com a maioria das detecções e as concentrações mais elevadas durante a primavera e o inicio do verão. Houve pequena diferença entre as áreas rurais e urbanas. Demonstrando que não apenas a população rural está exposta a essas substâncias. 2.2.

AGROTÓXICOS:

CARACTERÍSTICAS,

INTERAÇÕES

E

BIOACUMULAÇÃO De acordo com a lei 7.802/89, agrotóxicos são:

“os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.” Os agrotóxicos podem ser classificados de acordo com os alvos preferenciais sobre os quais atuam, que é a classificação mais comum (inseticidas, acaricidas, larvicidas, nematicidas, moluscocidas, bacteriostáticos e bactericidas, fungicidas, herbicidas, pediculicidas e rodenticidas) e de acordo com a classe química a que pertencem (organoclorados, organofosforados, carbamatos, piretróides, triazinas e outros). Essa classificação é útil para o diagnóstico das intoxicações e instituição de tratamento específico (OPAS, 1996; BARBOSA, 2004). Segundo o Decreto 4074/02, compete ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) realizar a avaliação de eficácia agronômica, ao Ministério da Saúde (MS) executar a avaliação e classificação toxicológica e ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) avaliar e classificar o potencial de periculosidade ambiental. Os agrotóxicos são classificados, ainda, segundo sua toxicidade (Tabela 4). Esta classificação é fundamental para o conhecimento da toxicidade de um produto, do ponto de vista de seus efeitos agudos (OPAS, 1996). Essa classificação obedece a

35

testes ou estudos realizados em laboratório que tentam estabelecer a dose letal (DL) do agrotóxico em 50% dos animais utilizados no estudo (Portaria no 03, de 16 de janeiro de 1992).

Tabela 4 - Classificação toxicológica dos agrotóxicos em função da DL50. DL50 Cor da faixa no rótulo do Classe Grupo (mg/kg de peso vivo) produto Extremamente Classe I < 50 Vermelha tóxicos Classe II Altamente tóxicos 50-500 Amarela Medianamente Classe III 500-5000 Azul tóxicos Classe IV Pouco tóxicos 5000 ou + Verde o Fonte: Portaria n 03, de 16 de janeiro de 1992.

A avaliação e a classificação do potencial de periculosidade ambiental de um agrotóxico são baseadas em estudos físicos e químicos, toxicológicos e ecotoxicológicos. Dessa forma um agrotóxico pode ser classificado quanto à periculosidade ambiental, em classes que variam de I a IV (IBAMA, 1996): Classe I - produtos altamente perigosos ao meio ambiente Classe II - produtos muito perigosos ao meio ambiente Classe III - produtos perigosos ao meio ambiente e Classe IV - produtos pouco perigosos ao meio ambiente. O agrotóxico quando aplicado, tem por objetivo exercer a sua ação sobre um organismo alvo, seja ele uma “erva daninha”, um inseto, um fungo ou uma bactéria. De acordo com CHAIM (2004) cerca de 32% dos agrotóxicos aplicados nas lavouras são retidos nas plantas, 19% é transportado através do ar para outras localidades e 49% atinge o solo. Da fração que atinge o solo, parte evapora, outra parte pode ser transportada através da camada de solo atingindo o lençol freático e outra parte é degradada. A introdução dos agrotóxicos em qualquer um dos compartimentos ambientais e suas conseqüentes distribuições, constitui a contaminação ou poluição ambiental. Os agrotóxicos quando utilizados e pulverizados por tratores, aviões ou equipamento costal, uma fração atinge seus alvos (insetos, fungos ou erva daninhas) e outra fração será dispersa em quatro grandes compartimentos no ambiente: água,

36

ar, solo e biota. A fração do produto que vai atingir em cada compartimento, ou seja, a sua destinação no ambiente é definida pelas suas propriedades físicas, químicas e biológicas, bem como a quantidade de uso, características bióticas e abióticas do ambiente e as condições meteorológicas (LINDE, 1994; SPADOTTO 2006). Essas condições variam de acordo com o produto e com os fatores relacionados à sua aplicação, desse modo é difícil prever-se com exatidão o comportamento biológico ou ambiental dos agreotóxicos, através de um único modelo. No entanto, alguns processos de dispersão são conhecidos e descritos para tentar explicar o comportamento desses compostos no ambiente, tais como retenção (sorção), transformação (degradação química, biológica e fotólise) e transporte (deriva, volatilização, lixiviação e carreamento superficial), e por interações desses processos (Figura 1). Esses processos podem predizer como o produto se comportará nos diferentes compartimentos ambientais e nos organismos (SPADOTTO, 2006; RIBAS E MATSUMURA, 2009). Figura 1 - Comportamento e destino dos agrotóxicos no meio ambiente (modificado de GRISOLIA, 2005).

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A introdução de agrotóxicos no ambiente pode provocar efeitos indesejáveis, como a alteração da dinâmica bioquímica natural pela pressão de seleção exercida sobre organismos, tendo como conseqüência, mudanças no funcionamento do ecossistema afetado (SPADOTTO, 2006). Alguns agrotóxicos são enquadrados no grupo dos Poluentes Orgânicos Persistentes (POP), compostos altamente resistentes a degradação por meios biológicos, químicos ou fotolíticos. Os POP são caracterizados por certas propriedades físicas e químicas que lhes conferem um alto poder de persistência no meio ambiente, como baixa solubilidade na água e alta solubilidade em lipídios, o que facilita sua acumulação no organismo animal, principalmente no tecido adiposo o que aliado ao seu tempo de meia-vida longo, aumenta seu potencial de bioacumulação. Essa característica aumenta consideravelmente os riscos de contaminação pelos organismos no topo da cadeia trófica (SCPOP, 2010).

2.3. PROPRIEDADES E TOXICIDADE DOS GRUPOS DE AGROTÓXICOS ESTUDADOS (ORGANOCLORADO, PIRETRÓIDE E DINITROANILINA)

A pertinência de análise de agrotóxicos prende-se às extensas discussões sobre a sua potencialidade em exercer efeitos adversos sobre a saúde dos seres vivos, podendo vir a influir, assim, sobre o equilíbrio de todo um ecossistema. Nesta pesquisa foram trabalhados três grupos de agrotóxicos, contemplando alguns princípios ativos largamente utilizados no passado e outros ainda utilizados na atual realidade da agricultura mundial. Dentre os grupos estudados estão os organoclorados (α-endossulfam, β-endossulfam, lindano, α-HCH, aldrim, p,p’- DDT, p,p’-DDE), piretróides (cipermetrina e deltametrina) e dinitroanilina (trifluralina). Os que possuem seu uso ainda liberado (endossulfam, cipermetrina, trifluralina e deltametrina) estão esntre os vinte agrotóxicos mais utilizados na área de estudo.

38

2.3.1. ORGANOCLORADOS: ORIGEM, PROPRIEDADES E ESTRUTURA QUÍMICA

Em 1874, o DDT (Diclorodifeniltricloroetano), precursor e membro mais popular e controverso do grupo dos organoclorados, foi sintetizado por Othmar Zeidler. Entretanto suas propriedades inseticidas só foram descobertas, durante a Segunda Guerra, em 1939 , por Paul Müller que patenteou o DDT em 1940. Essa descoberta lhe valeu posteriormente o Prêmio Nobel de Medicina devido ao uso do DDT no combate à malária. Outros agrotóxicos orgânicos foram sintetizados durante a Guerra, isso porque várias regiões onde as tropas serviam eram áreas endêmicas de diversas doenças tropicais como a malária. Foi nesse período também que surgiu o HCH (hexaclorociclohexano). O γ-HCH, único isômero com atividade inseticida, foi sintetizado por Michael Faraday em 1825. A existência dos isômeros foi descoberta por Van der Linden em 1912, e a descoberta de suas propriedades inseticidas foi feita por Dupaire e Rancourt, na França em 1942 (BARBOSA, 2004). Os compostos organoclorados apresentam átomos de cloro em comum na sua estrutura química, alta lipossolubilidade, elevado tempo de meia-vida e valores elevados de pressão de vapor. Essas propriedades conferem a essas substâncias alto potencial de bioacumulação em solo/sedimento e organismos vivos, elevada persistência e capacidade de se deslocarem pela atmosfera e atingir locais remotos, processo esse definido como destilação global (MORONI et al., 2000; CIPRO, 2007; SILVA, 2009). Devido a sua persistência, muitos pesticidas organoclorados tornaram-se poluentes onipresentes, resultando em bioacumulaçao ao longo da cadeia trófica sendo detectados em animais e seres humanos (MORONI et al., 2000). As substâncias organocloradas de interesse neste estudo serão brevemente apresentadas. São elas: endossulfam (α e β), lindano α-HCH, aldrim, p,p’DDT e p,p’DDE. O endossulfam é um inseticida e acaricida do subgrupo clorociclodieno, que atua como um veneno para uma ampla variedade de insetos e ácaros. Embora ele também possa ser utilizado como um conservante de madeira. Foi introduzido no mercado em 1956 pela Hoeschet AG (EUA). Sua utilização se dá em culturas de

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café, soja e algodão para o controle de diversas espécies de insetos e ácaros mediante contato e ingestão dos produtos formulados (ANVISA, 2010a). O endossulfam é uma mistura de dois estéreo-isômeros (α e β) (Figura 2). O endossulfam técnico é estável à ação da luz solar, pouco estável à ação dos ácidos, bastante instável à ação dos álcalis, praticamente insolúvel em água e consideravelmente lipofílico, sendo solúvel em solventes orgânicos como acetato de etila, etanol, hexano e tolueno. Estável quando exposto à luz, apresenta baixa estabilidade em meio básico. Tende a sofrer hidrólise lenta a endossulfam-diol e a endossulfam dióxido sulfúrico (LARINI, 1999; IPCS, 2000; PPDB, 2010).

Figura 2 - Estrutura química do α-endossulfam (A); β-endossulfam (B) e sulfato de endossulfam (C) - (WEBER et al., 2010).

Devido à sua elevada toxicidade, ao seu potencial de biocumulação e também por ser um interferente endócrino, o endossulfam foi banido em mais de 62 países, incluindo a União Europeia e várias nações ao Oeste da África e Ásia. Entretanto, continua sendo extensivamente usado em outros países, como Índia, Austrália e Brasil. Em agosto de 2010, o uso do ingrediente ativo endossulfam foi revisto considerando

suas

características

genotóxicas,

neurotóxicas,

imunotóxicas,

toxicidade endócrina ou hormonal e toxicidade reprodutiva sobre o desenvolvimento embriofetal. De acordo com a Resolução – RDC no 28 de 09 de agosto de 2010, prazos e limites para a produção e comercialização são estabelecidos até a data de proibição da produção e comercialização, que é 31 de julho de 2013.

40

O HCH (hexaclorociclohexano) é um pesticida com elevada persistência no ambiente e bioacumulação em seres vivos. O HCH de grau técnico é uma mistura de vários isômeros, incluindo α-HCH (60-65%), β-HCH (5-14 %), γ-HCH (12-15%), δHCH (6-8 %) e ε –HCH (3-4 %), podendo essa proporção variar de acordo com a fabricação (Figura 3). Dos isômeros citados, o isômero γ é extremamente mais tóxico para os insetos do que os isômeros α e δ. Os isômeros β e ε são geralmente quase inertes. Como colocado anteriormente, o HCH foi sintetizado no período da Guerra. Seu único isômero com atividade inseticida o γ-HCH (Lindano) foi sintetizado por Michael Faraday em 1825. A existência dos isômeros foi descoberta por Van der Linden em 1912, e a descoberta de suas propriedades inseticidas foi feita por Dupaire e Rancourt, na França em 1942. (Mello, 1999). O lindano (γ-HCH) foi utilizado para o tratamento de sementes, solo, árvores, madeira e contra ectoparasitose humana (MORONI et al., 2000). Figura 3 - Estrutura química γ-HCH (HERNANDES, 2007).

O Aldrim foi amplamente utilizado para culturas de milho e algodão entre 1950 e 1970. O Aldrim é rapidamente epoxilado e convertido em Dieldrin (Figura 4), mais tóxico que o composto original (CARVALHO et al., 1990). O Aldrim é facilmente metabolizado pela luz do sol e bactérias, e por esse motivo o Dieldrim é mais facilmente encontrado no meio ambiente. Ambos se adsorvem as partículas do solo e volatilizam-se lentamente. O Dieldrim é armazenado no tecido adiposo humano e sua liberação é lenta. Preocupações dos danos ao meio ambiente e dos riscos para a saúde humana, levaram a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA – Environmental Protection Agency) a banir todas as suas utilizações

41

em 1974, com exceção para o controle de cupins, e em 1987, foram banidas todas as formas de uso (ATSDR, 2002a).

Figura 4 - Estrutura química aldrim (a); e dieldrim (b) (HERNANDES, 2007).

O DDT (Diclorodifeniltricloroetano)

não ocorre naturalmente no meio

ambiente. Ele é um pesticida que já foi amplamente utilizado para controle de insetos em culturas agrícolas e insetos que transmitem doenças como a malária e tifo, mas agora é usado apenas em alguns países para controlar a malária. O DDT de grau técnico é uma mistura de três formas, p,p'-DDT (85%), o,p'-DDT (15%), e outros em menores proporções (Figura 5). O grau técnico de DDT também pode conter DDE (1,1-dicloro-2 ,2-bis (p-clorofenil) etileno) e DDD (1,1-dicloro-2 ,2-bis (p-clorofenil) etano) como contaminantes. Ambos DDE e DDD são produtos de degradação do DDT.

Figura 5 - Estrutura química do p,p’DDT (a) e o,p’DDE (b) (HERNANDES, 2007).

O DDT, com sua pronunciada propriedade inseticida, aliada à baixa solubilidade em água, alta persistência e sua forma de ação, desconhecida no momento de sua síntese, propiciou resultados verdadeiramente notáveis e seu uso rapidamente se expandiu (HERNANDES, 2007). Após 1972, o uso do DDT já não

42

era permitido nos Estados Unidos, exceto em casos de emergência de saúde pública (ASTDR, 2002b). No Brasil a comercialização, o uso e a distribuição dos produtos agrotóxicos organoclorados, destinados à agropecuária, dentre outros como: aldrim, BHC, canfeno clorado (toxafeno), DDT, dodecacloro, endrim, heptacloro, lindano, endossulfam, metoxicloro, nonacloro, pentacloro-fenol, dicofol e clorobenzilato, foi proibida pela Portaria no. 329/1985 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, com algumas exceções: o uso do Aldrim em forma de iscas formicidas e também como cupinicidas para o emprego em florestamento e reflorestamento, o uso dos referidos produtos quando aplicados pelos órgãos públicos competentes, em campanhas de saúde pública de combate a vetores e, uso emergencial na agricultura, a critério da Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária - SNAD - do Ministério da Agricultura. Entretanto, algumas substâncias como o endossulfam e o dicofol, foram liberadas em caráter emergencial para comercialização, distribuição e uso em algumas culturas através da Portaria nº. 95, de 21 de novembro de 1985. Em 1998, o Ministério da Saúde publicou a Portaria no. 11, proibindo o uso definitivo dessas substâncias, até as que eram utilizadas em caráter emergencial no combate de vetores em campanhas de Saúde Pública.

2.3.2 ORGANOCLORADOS: TÓXICA NO HOMEM

MECANISMO

DE

AÇÃO

O alvo de ação dos organoclorados é o sistema nervoso motor e sensorial e o córtex motor (GRISOLIA, 2005). Sua toxicidade compromete a transmissão do impulso nervoso central e autônomo, provocando alterações comportamentais, sensoriais, do equilibrio, da atividade da musculatura voluntária e de centros vitais, particularmente da respiração (OPAS, 1996). Podem penetrar no organismo humano por via dérmica, pulmonar, gástrica e respiratória (RODRIGUES, 2006). Em casos de intoxicação aguda, após duas horas aparecem sintomas neurológicos de inibição, hiperexcitabilidade, parestesia na língua, nos lábios e nos

43

membros inferiores, desassossego, desorientação, fotofobia, escotomas, cefaléia persistente, fraqueza, vertigem, alterações do equilíbrio, tremores, ataxia, convulsões tônico-crônicas, depressão central severa, coma e morte. Já as manifestações crônicas salientam-se neuropatias periféricas, inclusive com paralisias, discrasias sanguíneas diversas, inclusive aplasia medular, lesões hepáticas com alterações das transaminases e da fosfatase alcalina, lesões renais, arritmias cardíacas a dermatoses, como cloroacne. (OPAS, 1996). Há pouca diferença de toxicidade entre o endossulfam e seu metabólito, sulfato de endossulfam. No entanto, o isômero α tem demonstrado ser aproximadamente três vezes mais tóxico que o isômero β. Dados em animais indicam que a toxicidade também pode ser influenciada por espécie e por nível de proteína na dieta (ATSDR, 2000). O endossulfam, seus isômeros e metabólitos apresentam sérios efeitos negativos na saúde humana e no meio ambiente, especialmente para o sistema neurológico, reprodutor, endócrino e imunológico em seres humanos (ANVISA, 2010b). O endossulfam pode afetar o sistema endócrino, e o metabolismo orgânico, através de sua atividade nas glândulas hipófise, tireóide, supra-renais, mamas, ovários e testículos, provocando efeitos no metabolismo do organismo, alterando a produção de hormônios (BELDOMENICO et al., 2007). Em mulheres grávidas expostas, o endossulfam atinge o feto através do cordão umbilical e placenta e continua afetando a criança após o nascimento através da amamentação (CERRILLO et al., 2005). A toxicidade do HCH varia segundo o isômero. O α-HCH parece ser o mais importante desencadeador de nódulos hepáticos e hepatocarcinomas, mas há estudos limitados sobre o mesmo. O ß-HCH tende a ser o isômero de maior importância toxicológica devido à sua persistência no ambiente e efeitos estrogênicos em células mamárias de animais, ratos e cobaias (WILLET et al., 1998). Estudos desenvolvidos com ratos expostos oralmente, confirmaram o sistema nervoso como alvo da toxicidade do HCH.

Além de hiperexcitabilidade e

convulsões, o tratamento com HCH em animais produziu alterações neuroquímicas no cérebro, alterações de comportamento em animais adultos, e em prole de animais

44

expostos. Diminuição do número de glóbulos vermelhos, brancos e de hemoglobina foram relatados em ratos após administração repetida de γ-HCH (Lindano) de grau técnico (ATSDR, 2005). Nos seres humanos os efeitos da exposição ao HCH consistem de hiperexcitabilidade e convulsões que, eventualmente, levam à morte. Vômitos e náuseas são manifestações habituais de ingestão de γ-HCH

e também foram

relatados após exposição cutânea. Há também relatos de efeitos adversos hematológicos em humanos expostos a γ-HCH após a inalação e/ou exposição dérmica aos produtos domésticos que contém γ-HCH e após a exposição ocupacional crônica. Não há evidências que o HCH altera a imunocompetência em humanos, embora haja um relatório dos níveis de IgM sérica (Imunoglobulina M) em um pequeno estudo com trabalhadores expostos ao HCH grau técnico. Não há estudos conclusivos quanto a ação genotóxica do HCH, uma vez que nos estudos realizados outras substâncias organocloradas foram detectadas. Também são inconclusivos os estudos em relação a problemas reprodutivos e de desenvolvimento fetal, considerando os poucos estudos realizados. Efeitos hepáticos, tais como o aumento das enzimas hepáticas, têm sido relatados em humanos expostos ao HCH (ATSDR, 2005). Tanto o aldrim como o seu metabólito dieldrim afetam a saúde de maneira semelhante. O efeito mais documentado de exposição aguda ao aldrim em seres humanos é a excitação do sistema nervoso central, culminando em convulsões. Dores de cabeça, tontura, irritabilidade e vômitos são outros sintomas documentados. Já a exposição crônica em seres humanos também documenta efeitos sobre o sistema nervoso central, mas outros efeitos tóxicos em pessoas expostas rotineiramente tem sido estabelecidos. A toxicidade renal e no fígado, anemia hemolítica, toxicidade fetal e aumento da mortalidade pós-natal, e diminuição da função reprodutiva estão entre os efeitos tóxicos apresentados por pessoas que ingeriram aldrim (ATSDR, 2002a). Não há estudos conclusivos quanto à carcinogenicidade do aldrim em humanos. A EPA dos Estados Unidos determinou que o aldrim fosse classificado como um provável carcinógeno humano. Já a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) não o classifica como carcinógeno humano. Mas, para

45

ATSDR (2002a), tanto o aldrim como o seu metabólito dieldrim demonstraram-se capazes em provocar câncer de fígado em camundongos. Os efeitos do DDT no organismo ocorrem após a atuação sobre o equilíbrio de sódio/potássio nas membranas dos axônios, provocando impulsos nervosos constantes, que levam à contração muscular, convulsões, paralisia e morte (D’AMATO et al., 2002).

O DDT, após a absorção, é biotransformado em DDE,

ambos os compostos se armazenam preferencialmente do tecido adiposo. O seu armazenamento em orgãos e tecidos apos a ingestão repetida é proporcional ao teor de gordura neutra. A maior parte do DDT e DDE ingerido numa única dose é distribuido para outros tecidos, sofrendo uma absorção lenta pela gordura. Quando a dose é menor, mas numa sequência maior de ingestão, a absorção é realizada pelo tecido adiposo de forma acelerada no início e mais gradual no final, até o alcance de um estado estacionário. Esse equilibrio no homem pode ser alcançado em um ano (MARONI et al., 2000). Além de sua ação neurotóxica , o DDT é capaz de induzir alterações acentuadas na reprodução e no desenvolvimento de animais. Isto é atribuído aos hormônios que alteram as ações de isómeros de DDT e/ou seus metabólitos. Níveis elevados de DDE durante a gestação têm sido associado a uma maior probabilidade de gerar recém-nascidos pré-termo e com alguma anomalia. Estudos realizados com animais mostraram que o DDT e seus metabolitos DDE e DDD podem causar câncer, principalmente hepático. A associação entre a exposição ao DDT e vários tipos de cânceres humanos, principalmente o câncer de mama, tem sido extensivamente estudada. Possíveis efeitos genotóxicos em seres humanos têm sido relatados, mas a exposição simultânea a outras substâncias químicas e a falta de controle das variáveis de confundimento impedem que os resultados sejam coclusivos (ATSDR, 2002b).

46

2.3.3 PIRETRÓIDES: ESTRUTURA QUÍMICA

ORIGEM,

PROPRIEDADES

E

As piretrinas são inseticidas de origem botânica e tiveram suas propriedades reconhecidas em torno de 1800 na Ásia (ATSDR, 2003). Todavia sua utilização mais intensa tem acontecido na atualidade, principalmente após modificações estruturais originando a classe de inseticidas piretróides (HERNANDES, 2007). Os piretróides são substâncias sintéticas análogas às piretrinas, inseticida natural extraídos do pyrethrum, o óleo-resina do Chrysanthemum cinerariaefolium (Figura 6a) e do Chrysanthemum coccineum (Figura 6b). Suas flores são bastante atraentes e muitas de suas variedades são utilizadas como decoração.

Figura 6 - Chrysanthemum cinerariaefolium (direita); Chrysanthemum coccineum (esquerda).

O extrato do pyrethrum é composto por seis substâncias com atividade inseticida: os ésteres do ácido crisantêmico - piretrina I, cinerina I e jasmolina I, e os ésteres do ácido pirétrico - piretrina II, cinerina II e jasmolina II (ATSDR, 2003; HERNANDES, 2007). Os piretróides são produtos químicos sintéticos muito semelhantes em estrutura química as piretrinas, mas são muitas vezes mais tóxicos para os insetos, bem como aos mamíferos e persiste mais tempo no ambiente do que as piretrinas.

47

Embora sejam eficientes inseticidas, há um uso restrito das piretrinas devido à sua baixa persistência no ambiente ocasionada pela fotosensibilidade. O grupamento químico éster é o responsável pela atividade inseticida tanto das piretrinas quanto dos piretróides. Embora tenham sido desenvolvidas muitas substâncias, apenas algumas são largamente empregadas em todo o mundo para controle de insetos (ATSDR, 2003), como a cipermetrina e a deltametrina, substâncias de interesse para este estudo. A cipermetrina (Figura 7) é um piretróide sintético conhecido quimicamente como (RS)-α-cyano-3-phenoxybenzyl (1RS,3RS; 1RS,3SR)-3-(2,2-dichlorovinyl)2,2-dimethylcyclopropane carboxylate (ANVISA, 2010c). Foi sintetizada em 1974, é utilizada como inseticida em grande escala comercial em aplicações agrícolas, bem como em produtos de consumo para fins domésticos. Ela se comporta como uma neurotoxina de ação rápida em insetos. É facilmente degradada no solo e plantas, mas pode continuar com eficácia tóxica durante semanas, quando aplicada em superfícies inertes interior. A exposição à luz solar, água e oxigênio aceleram a sua decomposição (NPTN, 1998).

Figura 7 – Estrutura química da cipermetrina (ANVISA, 2010c).

A deltametrina (Figura 8) também é um inseticida sintético baseado estruturalmente nas piretrinas naturais. É conhecida quimicammente como (RS)-αcyano-3-phenoxybenzyl

(1RS,3RS;

1RS,3SR)-3-(2,2-dichlorovinyl)-2,2-

dimethylcyclopropane carboxylate (ANVISA, 2010d), age principalmente sobre as ações centrais, ou pelo menos, ações originárias dos mais elevados centros nervosos do cérebro, paralisando rapidamente o sistema nervoso dos insetos. A morte dos

48

insetos parece ser devido a danos irreversíveis ao sistema nervoso que ocorrem quando a exposição dura mais do que algumas horas.

O envenenamento por

deltametrina ocorre através de penetração cuticular ou ingestão oral.

A

susceptibilidade dos insetos é dependente de uma variedade de fatores e pode variar como acontece com muitos inseticidas, de acordo com as condições ambientais (EXTOXNET, 2010a). Figura 8 – Estrutura química da deltametrina (ANVISA, 2010d).

2.3.4. PIRETRÓIDES: MECANISMO DE AÇÃO TÓXICA NO HOMEM

As piretrinas e piretróides são amplamente utilizadas como inseticidas eficazes para vários insetos, tóxicas para o homen e animais e são classificadas como medianamente toxico (classe III) e altamente toxico (classe II) para os humanos, e altamente perigosas (classe II) para os outros animais. As vias de exposição podem ser: alimentar e água e, através de outros componentes ambientais (ar, chuva, solo, etc) ou direta como na pulverização nas “pragas da lavoura” (ANVISA,2011). Sinais e sintomas de toxicidade aguda variam de acordo com o tipo de piretróide para o qual a pessoa pode ser exposta (ATSDR, 2003). A produção de piretróides com diferentes proporções de isômeros é uma das razões para as variações reportadas da toxidade dos produtos a base de piretróides. Por exemplo, a cipermetrina pode ser formulada com quatro diferentes substâncias (alfa, beta, teta e zeta-cipermetrina) e dependendo da proporção entre os isômeros, o produto resultante terá diferente toxicidade (HERNANDES, 2007).

49

Os efeitos sistêmicos causados pelos piretróides também são variados, contudo estão presentes em muitos sistemas como hepático, neurológico e reprodutivo (ABDOLLAHI et al., 2004). No entanto, quase todos os efeitos estão relacionados à ação de piretrinas e piretróides sobre o sistema nervoso. O primeiro sítio de ação das piretrinas e piretróides é o canal de sódio nas membranas de células de tecido nervoso, causando repetitiva descarga neural e uma prolongada excitação (ATSDR, 2003). O contato direto dessas substâncias com a pele pode causar parestesia temporária, ou seja, sensações anormais da pele, como formigamento, queimação, ardência, dormência e comichão. Essas sensações se limitam à área de contato. Alguns estudos com animais sugerem que os efeitos de neurodesenvolvimento, reprodutivos, imunológicos e bioquímicos podem resultar da exposição em níveis de piretróide abaixo daqueles que induzem a sintomas de neurotoxicidade. Estudos quanto à carcinogenicidade dos piretróides para humanos, ainda não são conclusivos, da mesma forma que para o potencial dos piretróides em atravessar a barreira placentária e interferir no desenvolvimento fetal (ATSDR, 2003). As piretrinas e piretróides que entram no organismo são eliminadas rapidamente pela urina. Esses compostos sofrem uma quebra pelo organismo transformando-se em moléculas mais simples. A concentração dessas substâncias aumenta na urina conforme aumenta a exposição. Ocorrendo uma exposição prolongada a essas substâncias, elas podem acumular no tecido adiposo permanecendo no organismo por um período maior. Alguns piretróides podem permanecer por longos períodos no cabelo e também na pele (ATSDR, 2003).

2.3.5

DINITROANILINA:

ORIGEM,

PROPRIEDADES

E

ESTRUTURA QUÍMICA

Os primeiros herbicidas foram descobertos em 1945, eles pertenciam ao grupo químico fenociacéticos. As dinitroanilinas, grupo químico da trifluralina, foram descobertas em 1965 (VICTORIA FILHO, 2010). A atividade biológica de um herbicida na planta ocorre de acordo com a absorção, a translocação, o metabolismo e a sensibilidade da planta a este herbicida

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e/ ou, a seus metabólitos. Por isso, o simples fato de um herbicida atingir as folhas ou ser aplicado no solo não é suficiente para que ele exerça a sua ação. Há necessidade de que ele penetre na planta, transloque e atinja a organela onde irá atuar. Um mesmo herbicida pode influenciar vários processos metabólicos na planta, entretanto a primeira lesão biofísica ou bioquímica que ele causa na planta é caracterizada como o seu mecanismo de ação (FERREITA et al., 2010). Os principais mecanismos de ação dos herbicidas são: inibidores da divisão celular, do crescimento inicial, da fotossíntese, e da síntese de pigmentos, mimetizadores de auxina e destruidores de membrana (VICTORIA FILHO, 2010). A trifluralina é um herbicida do grupo químico das dinitroanilinas (Figura 9) e sua nomenclatura é α,α,α-trifluoro-2,6-dinitro-N,N-dipropyl-p-toluidine (ANVISA, 2010e). Figura 9 – Estrutura química da trifluralina (ANVISA, 2010e).

A trifluralina pertence ao grupo dos herbicidas inibidores do arranjo dos microtúbulos (FERREIRA et al., 2010). O mecanismo de ação da trifluralina nas plantas é a inibição da divisão celular nos tecidos meristemáticos, inibindo a germinação das sementes e a formação de novas células na radícula e caulículo, sendo eficientes apenas quando usados em pré-emergência, porque a sua ação principal se manifesta pelo impedimento da formação do sistema radicular das gramíneas (DALRI et al., 2010; FERREIRA et al., 2010).

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2.3.6 DINITROANILINAS: MECANISMO DE AÇÃO TÓXICA NO HOMEM

A trifluralina grau técnico geralmente apresenta baixa toxicidade aguda. Esse princípio ativo é classificado como um sensibilizador cutâneo. O CPRC (Carcinogenicity Peer Review Committee) classificou a trifluralina como um possível carcinógeno humano (EPA, 1996). Sintomas como náuseas e desconforto gastrointestinal podem ocorrer após a ingestão de trifluralina. A exposição prolongada ou repetida com a pele pode causar dermatite alérgica. Estudos em animais têm demonstrado danos aos rins, fígado e tireóide após exposição oral crônica. De acordo com os estudos é pouco provável que a trifluralina cause algum dano reprodutivo, teratogênico ou mutagênico em humanos (EXTOXNET, 2010b).

2.4. CONTAMINAÇÃO POR AGROTÓXICOS EM LEITE HUMANO

Observando a realidade não apenas no Estado de Mato Grosso, mas de todas as áreas que fazem uso intensivo de agrotóxicos, surge outro questionamento: A exposição da população a esses agrotóxicos pode levar a contaminação do leite humano? Sim, a contaminação do leite humano é ampla e é consequência de décadas de poluição descontrolada do ambiente por produtos tóxicos (LANDRIGAN et al., 2002). Desde o século XVIII quando a Revolução Industrial trouxe para a sociedade um avanço das ciências e da produção tecnológica, trouxe também como consequência profundas mudanças na relação do homem com a natureza. Estudos realizados em várias partes do mundo indicam contaminação do leite humano por organoclorados. O uso indiscriminado dessa classe de substâncias ao longo do tempo fez com que houvesse bioacumulação ao longo da cadeia alimentar e inclusive em humanos. Estudos realizados no Brasil evidenciam a contaminação de leite humano em diferentes regiões do país. MATUO et al. (1992), realizou estudo na região de Ribeirão Preto e, foram analisadas 37 amostras de leite humano (colostro) para

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determinar os níveis de resíduos de agrotóxicos organoclorados. As doadoras foram classificadas como ocupacionalmente expostas e não expostas a agrotóxicos. O lindano foi encontrado em 32% das amostras em quantidades inferiores a 0,001 mg/kg; o heptacloro foi encontrado em 65% das amostras, também com teores médios de 0,001 mg/kg; dieldrim foi detectado em apenas uma amostra a um nível de 0,038 mg/kg; o DDT e o DDE foram relatados como DDT, e pelo menos um desses compostos esteve presente em cada amostra. Os níveis encontrados foram maiores nas doadoras ocupacionalmente expostas, com uma média de 0,149 mg/Kg. O um estudo realizado por OLIVEIRA (1997), em Cuiabá, com 32 mulheres, observou-se que 100% das amostras encontravam-se contaminadas com algum tipo de substância organoclorada. Os maiores níveis foram detectados em mulheres que residiam em zona rural ou que referiram já ter residido e/ou trabalhado em zona rural. MELLO (1999) analisou os níveis de organoclorados em 14 amostras provenientes da Cidade dos Meninos, Rio de Janeiro. Das amostras analisadas do grupo exposto 100% apresentaram resultado positivo para β-HCH, p,p’ DDE e p,p’ DDT; 71,4% para γ-HCH e α-HCH e 42,8% para p,p’ DDD. Das amostras analisadas do grupo não exposto 100% apresentaram resultados positivos para α-HCH, γ-HCH e p,p’DDE; 85,7% para β-HCH; e apenas uma amostra apresentou resultado positivo para p,p’DDT. PAUMGARTTEN et al. (2000), analisaram 40 amostras de leite materno na cidade do Rio de Janeiro para a determinação de dibenzodioxinas policloradas (PCDDs), dibenzofuranos policlorados (PCDFs), bifenilas policloradas (PCBs) e outros compostos organoclorados. Os níveis encontrados foram α-HCH 0,0001; βHCH 0,27; γ-HCH 0,005; HCB 0,012; DDT total 1,7; dieldrim 0,023 e cishepepóxido tachlor 0,008; todos em microgramas por grama de gordura do leite. No Rio de Janeiro, em estudo realizado por MESQUITA (2001), foi realizada a análise de leite de 50 mulheres não expostas ocupacionalmente. Destas, todas as amostras evidenciaram contaminação multiresidual por agrotóxicos organoclorados com uma frequencia de 100% para o p,p’DDE, 90% para o p,p’DDT, 84% para o βHCH, 82% para o p,p’DDD, 78% para o α-endossulfam, 74% para o γ-clordano, 56% para o α-HCH, 32% para o lindano, 54% para o aldrim e 52% para o dieldrim.

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Embora com uma frequência baixa foram ainda encontrados entre as amostras analisadas: HCB (12%), transnonacloro (6%), endrim (20%), β-endossulfam (14%), metoxicloro (20%) e mirex (38%). Nas cidades de São Paulo e Belo Horizonte KRAUSS et al. (2004) demonstraram

contaminação multiresidual por agrotóxicos organoclorados em

ambas as cidades. No estudo foram analisadas duas amostras compostas, uma de cada cidade. As amostras faziam parte de um pool de 10 amostras coletadas em ambas as cidades. Em ambas as amostras os níveis mais elevados foram encontrados para p,p’DDE, 0,596 mg/g de gordura em São Paulo e 0,155 mg/g de gordura em Belo Horizonte, seguido do β-HCH, 0,027 mg/g de gordura e 0,022 mg/g de gordura respectivamente. As concentrações dos outros compostos analisados foram similares, ou na maioria dos casos, abaixo do limite de detecção do método utilizado (0,001 mg/g de gordura). AZEREDO et al. (2008) verificaram níveis de DDT total em amostras de doadoras ao longo do Rio Madeira, Amazônia, uma região conhecida por seu grande número de casos de malária. Foram analisadas 69 amostras e todas apresentaram contaminação por DDT e seus metabólitos, variando entre 25,4 a 9361 ng de DDT total/g de lipídeos. Não apenas no Brasil há estudos relatando a contaminação do leite materno. Na Bielorússia BARKATINA et al. (1998) estudaram 246 amostras de leite materno provenientes de seis regiões da Bielorrússia. As amostras foram obtidas de locais diferentes, sendo que: 32 amostras eram de áreas ecologicamente limpas; 116 de regiões industriais e 98 amostras de regiões contaminadas por indústrias e radionuclideos. Em todas as amostras foram encontrados resíduos de DDE. Resíduos de β-HCH, γ-HCH e DDT foram detectados em algumas amostras. Não houve diferença significativa entre as diferentes áreas estudadas. Amostras de leite de 197 mulheres de duas cidades da Ucrânia foram analisadas por GLADEN et al. (1999) para determinação de p,p’DDT, p,p’DDE, dieldrim, endrin, epóxido-heptacloro, trans-nonaclor, HCB, oxiclordano, HCH e mais dezoito congêneres dos PCBs. Todas as substâncias foram encontradas em pelo menos uma das amostras. O p,p’DDE foi encontrado em maiores concentrações, seguido do β-HCH. As mulheres mais velhas apresentaram maiores níveis do que as

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mulheres mais jovens. As diferenças se apresentaram maiores quando incluídas somente mulheres primíparas. Os níveis encontrados nesse estudo estão acima dos encontrados em outros trabalhos realizados na Europa. BURKE et al. (2003) analisarem 10 amostras de leite de mulheres residentes na área urbana (n=5) e na área rural (n=5) da Indonesia. Em todas as amostras foram detectados resíduos de p,p’DDT e p,p’DDE. Resíduos de HCB, β-HCH, αendossulfam e dieldrim também foram detectados em algumas amostras. Não houve diferença estatisticamente significativa (NC = 95%) nos níveis de agrotóxicos entre área urbana e rural. KUMAR et al. (2006), analisaram 50 amostras de leite de mulheres residentes em Anupgarh, Índia. Elas foram agrupadas em quatro categorias: área de residência, quanto ao hábito de fumar, ocupação e dieta alimentar. Em todas as amostras foram encontrados resíduos de HCH e seus isômeros, DDT e seus metabólitos, heptacloro e endossulfam. As maiores concentrações foram encontradas em mulheres que residiam em área rural (5,0625 mg/L), que tinham o hábito de fumar (4,185 mg/L), trabalhavam no campo (4,333 mg/L) e tinham uma dieta não vegetariana (4,037 mg/L). Já nas amostras de mulheres residentes da área urbana (3,243 mg/L), que não fumavam (3,748 mg/L), não trabalhavam no campo (3,209 mg/L) e apresentavam uma dieta vegetariana (3,048 mg/L) as concentrações foram menores quando comparadas as mulheres presentes nas categorias anteriores. O metabólito p,p’-DDE e o HCB foram encontrados em todas as amostras de leite materno coletadas (n=87) na Tunísia (ENNACEUR et al., 2007). A média para esses compostos foram 2,421 e 0,260 mg/Kg de gordura, respectivamente. Outros organoclorados detectados foram dieldrim (38%), β-HCH (22,9%) e γ-HCH (6,8%). WANG et al. (2008) analisaram 36 amostras de leite (colostro) de mulheres que tiveram parto prematuro em Harbin, China. Das amostras analisadas, 27,8% apresentaram resíduos de DDT e 5,56% apresentaram resíduos de dieldrim. BOUWMAN et al. (2006), determinaram as concentrações de DDT e piretroídes em 152 amostras de leite materno de mulheres residentes em três cidades da província de Kwazulu-Natal, África do Sul. Todos os compostos (DDT, permetrina, ciflutrina, cipermetrina e deltametrina) foram encontrados nas amostras.

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Concentrações médias de HCH e seus isômeros, DDT, PCB e HCB em amostras de leite humano (n=53) coletadas em 2 cidades na Costa Sul do Mar Cáspio, Iran, foram 3780, 2554, 1560 e 930 ng/g de lipídeo, respectivamente (BEHROOZ et al., 2009). Não houve diferença significativa entre as duas cidades. Houve uma diferença significativa nos níveis de DDT entre as mães que consumiam peixe apenas uma vez por semana e as que faziam consumo de peixe mais vezes semanalmente (p>0,05). Outros resultados podem ser observados na Tabela 5 que elenca vários estudos realizados em diversos países, analisando organoclorados em leite humano.

Tabela 5 – Resultados de pesquisas sobre contaminação em leite humano por organoclorado.

Níveis encontrados Heptacloro Heptacloro epóx Oxiclordane p,p’-DDE Dieldrin DDE DDD α-HCH β-HCH γ-HCH HCB β-HCH p,p’- DDE p,p’- DDT DDTs HCHs HCBs CHLs Σ DDT

dicofol α-HCH γ-HCH p,p’- DDE p,p’- DDT

0,053 µg L-1 0,259 µg L-1 0,277 µg L-1 0,214 µg L-1 1,70 µg L-1 104 ng g-1 13 ng g-1 2 ng g-1 12 ng g-1 14 ng g-1 5 ng g-1 0,066 mg kg-1 1.423 mg kg-1 0,405 mg kg-1 370 - 960 ng g-1 180 - 350 ng g-1 2.0 - 3.7 ng g-1 3.8 - 7.6 ng g-1 5.4 µg kg-1 0.36 µg kg-1 0.32 µg kg-1 0.039 µg kg-1 0.005 µg kg-1 0.001 µg kg-1 2.8 – 3.1 ng g-1 3.6 – 4.4 ng g-1 537.7 ng g-1 32.5 – 32.8 ng g1

País

Referência

Brasil

CALEFFI, 2005

Croácia

KRAUTHACKER et al.,2009

México

WALISZEWSKI et al., 2009

Índia

SOMEYA et al., 2010

China Korea Japão

China

FUJII et al., 2011

ZHOU et al., 2011

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Os níveis e o tipo de contaminantes encontrados variam entre países e regiões conforme as normas e intensidade de utilização (PRONCZUK et al., 2002). Níveis mais elevados de contaminantes são observados em mulheres residentes em áreas agrícolas de países em desenvolvimento com intenso uso de agrotóxicos (LANDRIGAN et al., 2002). Em países onde o uso de poluentes orgânicos persistentes foi proibido, está havendo uma significativa diminuição desses compostos no leite humano no decorrer dos anos. Entretanto, outros compostos químicos que ainda são pouco estudados no leite humano e que têm seu uso permitido, tende a manter ou até mesmo elevar seus níveis de contaminação nesta matriz (SOLOMON e WEISS, 2002). Alguns fatores podem alterar significativamente a concentração dos agrotóxicos no leite, uma vez que são múltiplas as alterações fisiológicas que ocorrem durante a gravidez e o período de gestação. Entre esses fatores estão a quantidade lipídica, o peso materno, o número de gestações e o tempo entre uma gestação e outra (SIM e MC’NEIL, 1992; MESQUITA, 2001). A não padronização de protocolo da metodologia analítica e de coleta dificulta a comparação entre estudos. Entretanto, independentemente dos métodos analíticos utilizados, os resultados são preocupantes, pois todos os estudos demonstram contaminação das amostras por pelo menos uma substância organoclorada. Embora as vantagens do aleitamento materno superem os riscos da presença de contaminantes no leite humano, é de extrema importância a contínua identificação desses compostos no leite, para que medidas de saúde pública possam ser tomadas para a diminuição dessa contaminação (SOLOMON e WEISS, 2002).

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3. OBJETIVOS

3.1. OBJETIVO GERAL

Avaliar o nível de contaminação por agrotóxico no leite de mães residentes em Lucas do Rio Verde – Mato Grosso.

3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar a amostra de nutrizes estudada utilizando variáveis sóciodemográficas, de saúde, sanitária e ambiental.

Validar método analítico multirresíduo para a determinação dos agrotóxicos α-endossulfam, β-endossulfam, lindano, α-HCH, aldrim, p,p’-DDT, cipermetrina, deltametrina, trifluralina e do metabólito p,p’-DDE em leite humano.

Analisar leite humano de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT para determinação dos agrotóxicos estudados.

Fazer uma análise descritiva das variáveis reprodutiva, ocupacional e ambiental como possíveis determinantes dos níveis de resíduos de agrotóxicos no leite humano.

Analisar a associação dos teores de resíduos de agrotóxicos encontrados nas amostras de leite humano com variáveis reprodutiva, ocupacional e ambiental.

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4. MATERIAL E MÉTODO

4.1. LOCAL DE ESTUDO

O município de Lucas do Rio Verde está localizado a 350 km da capital do Estado de Mato Grosso, Cuiabá, e possui uma área de 3.645,23 Km2 (PMLRV, 2010), representado na Figura 10 abaixo. O desenvolvimento de Lucas do Rio Verde se deu de forma dinâmica, o aumento do contingente populacional e o constante crescimento econômico fizeram com que, em 1985, o pequeno vilarejo se tornasse distrito de Diamantino, sendo que em apenas três anos se tornou município. FIGURA 10 - Mapa de localização do município de Lucas do Rio Verde -MT.

Os indicadores econômicos e sociais apontam o município de Lucas do Rio Verde como um dos três melhores índices de desenvolvimento social do Estado de Mato Grosso. Contudo, o processo de ocupação do seu cerrado é bastante impactado pelas agressões do desenvolvimento local e regional. Segundo FRANÇA et al. (2003), para implantação da agropecuária foram consumidos 86% de seu cerrado

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nativo. Sua cobertura vegetal natural, praticamente já foi totalmente substituída pela agricultura moderna de grãos. Com a profunda modificação dos ecossistemas, houve perda dos principais potenciais bióticos, alterações da qualidade da água, erosão laminar dos solos, agregado ao uso intensivo de produtos químicos (PMLRV, 2007). A produção agrícola é a principal mantenedora do sistema econômico regional e também uma das alavancas que impulsionam o crescimento econômico do Estado de Mato Grosso. A soja é o principal produto agrícola cultivado no município, que se destaca como o 5º maior produtor do estado. O município é um dos grandes produtores nacionais de milho safrinha, sendo essa cultura uma das mantenedoras do PIB municipal. O plantio de algodão ainda possui poucas áreas de produção, não estando o município entre os grandes produtores do estado (PMLRV, 2010). Durante o ano de 2009, esse município cultivou e/ou produziu: soja (em grão): 237.500 hectares, com produção de 704.025 toneladas; milho (em grão): 138.000 hectares, com produção de 809.370 toneladas; algodão (em caroço): 4.980 hectares, com produção de 18.378 toneladas; feijão (em grão): 9.910 hectares, com produção de 13.971 toneladas; sorgo (em grão): 2.000 hectares, com produção de 4.200 toneladas; arroz (em casca): 130 hectares, com produção de 507 toneladas; tomate: 24 hectares, com produção de 1.440 toneladas; mandioca: 20 hectares, com produção de 400 toneladas (IBGE, 2010). Nesse mesmo ano, o município utilizou 5.162.029 litros de agrotóxicos em produtos formulados, distribuídos nas seguintes classes: herbicida: 3.112.344 litros; inseticida: 681.845 litros; fungicida: 475.967 litros; acaricida: 639.158 litros; adjuvantes, espalhantes, adesivos: 232.413 litros; reguladores do crescimento: 16.141 litros; outros agrotóxicos: 4.161 litros. 4.2. SELEÇÃO DAS SUBSTÂNCIAS ANALISADAS. A escolha das substâncias analisadas neste projeto, α-endossulfam, βendossulfam, lindano, α-HCH, aldrim, p,p’- DDT, p,p’- DDE, cipermetrina, deltametrina e trifluralina, se deu por algumas razões específicas:

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- A utilização de um único método analítico capaz de identificar e quantificar simultaneamente todas as substâncias de interesse. - A intensidade de uso, tanto no passado, daquelas que hoje possuem seu uso proibido, como no presente, das que ainda são utilizadas na área de estudo. - Segundo a classificação The Extension Toxicology Network, essas substâncias apresentam potencial de acumulação lipídica ou degradação lenta e ainda um possível potencial cancerígeno, teratogênico e mutagênico (EXTOXNET, 2010c).

4.3. CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Como critérios de inclusão das nutrizes foram estabelecidos: - encontrar-se com idades entre 18 e 49 anos; - assinar o Termo de Consentimento Livre Esclarecido; - encontrar-se entre a terceira e a oitava semana após o parto (OMS, 2007); - estar em boa condição de saúde. Como critérios de exclusão foram considerados: - nutrizes sem possibilidade de ordenha manual; - não atender aos critérios de inclusão estabelecidos.

4.4. POPULAÇÃO DO ESTUDO

Durante o período de coleta, foram realizados 418 partos em Lucas do Rio Verde. Excluindo as mães que não atendia aos critérios de inclusão, como a idade estabelecida e o período após o parto na data das coletas, restaram 310 mães. Destas 62 aceitaram participar do projeto, o que correspondeu a 20% da população apta a participar do projeto. As nutrizes foram convidadas a participarem do projeto pelas agentes comunitárias de saúde de cada PSF (Programa de Saúde da Família). As que aceitaram e atendiam aos critérios de inclusão, compareceram na data marcada ao PSF ao qual pertenciam para a realização da coleta. Para aquelas que aceitaram participar e estavam aptas a fazer a doação de leite, mas que por algum motivo não

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puderam comparecer ao PSF no dia e hora marcada, a coleta foi realizada em suas residências.

4.5. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

A cada uma das nutrizes foi esclarecido o objetivo do estudo bem como os benefícios que iriam incidir da pesquisa. Àquelas que concordaram em participar do estudo, foi requerida a assinatura de um termo de consentimento (Anexo A) no qual constava que a pessoa era entendedora dos objetivos do estudo e estava participando voluntariamente do mesmo. O presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Julio Muller sob parecer No. 511/CEP-HUJM/08, conforme Resolução 196/96 CNS/MS.

4.6. ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Durante a elaboração deste instrumento, o mesmo foi aplicado a nutrizes internadas no Hospital Universitário Julio Muller como pré-teste para assim, possibilitar os ajustes necessários à aplicação na área de estudo. O questionário foi aplicado no momento da coleta das amostras de leite, pela própria pesquisadora. Além de informações demográficas, informações sobre o período de gestação e o recém-nascido, o marido/companheiro, o ambiente de residência e trabalho da mãe e, quanto ao uso de agrotóxico domissanitário também foram abordadas (Anexo B). As questões foram elaboradas com o objetivo de caracterizar as mães participantes, conhecer seu hábito de vida e tentar associar essas informações com a presença de resíduos de agrotóxicos no leite.

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4.7. COLETA E ARMAZENAMENTO DAS AMOSTRAS DE LEITE HUMANO

As coletas das amostras de leite humano foram realizadas entre a 3ª e a 8ª semana após o parto (OMS, 2007), no período de fevereiro a junho de 2010. Para auxiliar a descida do leite e minimizar algum desconforto que pudesse vir a ser causado pela dor na nutriz, foi realizada massagem manual nas mamas. A coleta procedeu por compressão manual das mamas e um volume aproximado de 15 mL de leite foi coletado diretamente no frasco coletor de vidro, previamente limpo conforme os cuidados necessários para a análise de resíduos de agrotóxicos. Durante o período de coleta, as amostras foram armazenadas em caixa de isopor com gelo, sendo imediatamente congeladas após o término da coleta e assim mantidas durante o transporte até o Laboratório de Análise de Resíduos de Biocidas UFMT em Cuiabá. Quando no laboratório, as amostras foram mantidas sob refrigeração (-4 ºC) e as determinações de resíduos de agrotóxicos e teor de gordura foram realizadas o mais rapidamente possível, não ultrapassando 72 horas (OMS, 2007). 4.8. DETERMINAÇÃO DO TEOR DE GORDURA A determinação do teor de gordura das amostras de leite foi realizada utilizando o crematócrito, que consiste na determinação do teor de creme e permite o cálculo do teor de gordura e do conteúdo energético do leite. A técnica analítica foi realizada conforme descrito no BLH-IFF/NT- 30.05 (ALMEIDA et al., 2005). 4.9.

VALIDAÇÃO

DE

MÉTODO

ANALÍTICO

PARA

DETERMINAÇÃO DE AGROTÓXICOS EM LEITE HUMANO O procedimento de extração foi validado a partir de uma metodologia desenvolvida no Laboratório de Análise de Resíduos de Biocidas (LARB). O método inicialmente era utilizado apenas para extração de piretróides em leite de vaca. Para

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se chegar ao método utilizado, algumas alterações foram realizadas e várias soluções extratoras foram testadas para garantir a extração de todas as substâncias de interesse dentro dos padrões analíticos estabelecidos. O procedimento de extração multirresíduos de agrotóxicos da matriz consistiu de dispersão em fase sólida com Celite®, previamente ativada em mufla a 600 ºC por 12 horas, e sonicação. Duas misturas de solventes extratores foram utilizadas considerando as diferentes propriedades dos agrotóxicos estudados. As amostras foram analisadas em duplicata. Este procedimento analítico utilizou estudo de recuperação com amostras de leite humano controle fortificadas com solução mista dos agrotóxicos de interesse em dois níveis de fortificação. As amostras controle foram constituídas de um pool de amostras pasteurizadas de leite materno, proveniente do Banco de Leite do Hospital Júlio Muller, Cuiabá-MT, ordenhadas de mulheres residentes na zona urbana e não expostas diretamente aos agrotóxicos estudados. O cálculo da concentração dos analitos nas amostras foi feito a partir da comparação da relação de áreas (resposta cromatográfica) dos analitos e do padrão interno (heptacloro) com a relação de áreas dos padrões dos agrotóxicos e do padrão interno adicionados nas amostras controle (n = 2), sendo o menor nível de fortificação correspondendo ao limite de quantificação do método. Para cada dois dias seguidos de análise, duas amostras controles foram analisadas para avaliar a presença de possíveis interferentes para as análises cromatográficas, duas amostras controle foram extraídas e fortificadas antes da concentração do extrato e cerca de 12 amostras foram analisadas. Esse método de quantificação foi escolhido para evitar possíveis interferências matriciais nos resultados. A identificação e quantificação dos analitos estudados foram feitas utilizando cromatógrafo a gás (HP 6890 series CG System), equipado com detector de captura de elétrons (DCE) e coluna cromatográfica HP-5 com 30 m de comprimento, 0,25 µm de espessura de filme (5% fenilmetilsiloxano) e 250 µm de diâmetro. Nitrogênio foi utilizado como gás de arraste com fluxo constante de 20 mL/min. As temperaturas do injetor e de detector foram 175 ºC e 280 ºC, respectivamente e o volume de injeção (modo splitless) foi de 1 µL. A temperatura inicial da coluna foi

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de 92 ºC, seguida por aquecimento de 15 ºC min-1 até 175 ºC, sendo essa temperatura mantida por 13 min, e aquecimento de 10 ºC min-1 até 280 ºC, sendo a mesma mantida por 8,47 min. O tempo da corrida cromatográfica foi de 40 min. O procedimento de extração pode ser observado conforme Figura 11 abaixo.

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Figura 11 – Fluxograma do processo de análise multirresíduo de agrotóxicos em leite humano. Amostra (5 mL de de leite materno) 5 mL de acetona Ultrassom (5 minutos) Amostra + Acetona 2 g de Celite 10 mL de solução extratora hexano-acetona (1:1) Ultrassom (20 minutos)

2x

Sobrenadante 1

Fase sólida

10 mL de solução extratora hexano-diclorometano (4:1) 2 x Ultrassom (20 minutos)

Fase sólida

Sobrenadante 2

Sobrenadante 1 + 2 5 gotas de Tolueno Concentração (rotaevaporador) Adição de 50 uL de Heptacloro (PI) (≈ 10 μg mL Vf ≈ 2 mL

CG/DCE

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4.10. ANÁLISE DOS DADOS

Os questionários foram revisados e digitados no programa Epi-Info 3.5.1 e as análises foram conduzidas utilizando-se o programa Stata 8.0. Na análise descritiva foram feitas tabelas de contingências e gráficos de barra para as variáveis categóricas. Para as análises numéricas os resultados foram expressos em média, valor máximo e valor mínimo. Para a associação entre as variáveis de exposição e prevalências de resíduo de agrotóxico em leite materno foi utilizado o teste do qui-quadrado Mantel-Haenszel. Foram realizadas uma regressão múltipla para cada “agrotóxico” estudado. O método utilizado para as análises múltiplas foi o da regressão de Poisson, com ajuste robusto para a variância. O critério utilizado para a seleção das variáveis para os modelos múltiplos foi aquelas que apresentaram o valor de p < 0,20 (KLEIBAUM et al., 1982), quando das análises brutas.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. ANÁLISE DESCRITIVA DOS DADOS DO QUESTIONÁRIO Este estudo reuniu 62 nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, que participaram do inquérito realizado no período de fevereiro a junho de 2010, onde responderam a um questionário e forneceram amostras de leite destinadas à dosagem de resíduos de agrotóxicos. Os resultados apresentados a seguir são uma descrição dos dados obtidos durante o estudo. A Tabela 6 mostra variáveis de identificação materna como idade, raça, estado civil e escolaridade. TABELA 6 - Caracterização da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio VerdeMT, 2010. Idade n Frequência % < de 20 anos 8 0,13 13 De 20 a 29 anos 40 0,64 64 De 30 a 39 anos 14 0,23 23 Raça n Frequência % Branca 33 0,53 53 Preta 2 0,03 3 Parda 26 0,42 42 Indígena 1 0,02 2 Estado Civil n Frequência % Solteira 12 0,19 19 Casada 24 0,39 39 Amasiada 25 0,40 40 Separada 1 0,02 2 Grau de Escolaridade n Frequência % Fundamental incompleto 14 0,22 22 Fundamental completo 9 0,14 14 Médio incompleto 16 0,26 26 Médio completo 16 0,26 26 Ensino superior 6 0,10 10 Pós-graduação 1 0,02 2 Total 62 1,00 100 Observa-se que 64% das nutrizes apresentavam idade entre 20 e 29 anos. A média de idade encontrada na amostra foi de 26 anos (DP = 6). As raças, branca (53%) e parda (42%), foram as mais declaradas pelas nutrizes. Quanto ao estado

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civil, 79% se declararam casadas/amasiadas. O grau de escolaridade das nutrizes demonstra que 100% são alfabetizadas com no mínimo o ensino fundamental incompleto. Os dados profissionais maternos demonstram que 21% das nutrizes já trabalharam na lavoura. Apenas uma nutriz (1,6%) declarou trabalhar com agrotóxico, na função de engenheira agrônoma responsável por um armazém de grãos. Algumas nutrizes (6,5%) trabalham na zona rural, mas não trabalham em contato direto com agrotóxico. Quanto a residir na zona rural 43,5% declaram já ter residido por algum período na zona rural. Sobre a gestação e o parto das nutrizes, 71% eram multíparas e 29% primíparas, com média gestacional de três partos. Todas as nutrizes realizaram prénatal com uma média de aproximadamente 10 consultas. O parto cesárea sobrepôs o normal com 55% e 45%, respectivamente. O hábito de fumar está presente em 11,3% das nutrizes, que relataram ter fumado durante toda a gestação e continuam fumando. Casos de malformação em gestações anteriores foram relatados por 3,2%, abortos por 19,4% e morte fetal por 4,8% das nutrizes. Os dados sobre os recém-nascidos revelam que 13% nasceram pré-termo, ou seja, com menos de 37 semanas de gestação. Uma malformação foi evidenciada, um caso de gastroquise, defeito na formação da parede abdominal. Entre os que nasceram com algum problema de saúde (10%), o caso mais grave é o de rabdomioma cardíaco. Quanto à amamentação, 74% se alimentam exclusivamente do leite materno e 26% recebem algum tipo de complemento. O complemento mais ofertado é o leite em pó 88%, seguido de chá e/ou água 12%. A média alimentar é de 10 mamadas diárias. Em relação ao marido/companheiro, 50% já moraram na zona rural, 43,5% já trabalharam na lavoura. Atualmente 11% trabalham na zona rural, destes 13% usam algum tipo de agrotóxico na atividade exercida. O hábito de fumar está presente em 20% dos maridos/companheiros, sendo que 31% destes fumavam perto da nutriz durante a gestação. As características domiciliar como, tipo de moradia, tratamento de água e destinação do lixo são descritas na Tabela 7.

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TABELA 7 - Caracterização domiciliar da amostra (n=62) de nutrizes de Lucas do Rio Verde-MT, 2010. Tipo de Moradia n Frequência % Tijolo 54 0,87 87 Madeira 8 0,13 13 Tratamento de água n Frequência % Filtrada 14 0,23 23 Fervida 10 0,16 16 1 Direto SAAE 35 0,56 56 Poço 3 0,05 5 Lixo n Frequência % Coletado 59 0,95 95 Enterrado 1 0,02 2 Queimado 2 0,03 3 1 Serviço autônomo de água e esgoto.

De acordo com esses dados podemos inferir que as nutrizes possuem boas condições de moradia. Uma vez que a maioria é contemplada com os serviços básicos de tratamento de água e coleta de lixo e residem em moradia de tijolo. Quanto ao uso de agrotóxico domiciliar, 50% relataram usar algum tipo de produto. Os piretróides foram os mais citados, tanto na versão spray como em pastilha para aparelho elétrico. Entre as nutrizes que confirmaram utilizar agrotóxico dentro de casa, 33% disseram que a frequência de uso é de 1 ou 2 vezes por semana e 15% disseram utilizar diariamente. Quando a questão é sobre a dedetização feita por empresas especializadas, 36% disseram ter utilizado desse serviço, 53% nos últimos seis meses. Quanto ao tempo de residência em Lucas do Rio Verde, podemos observar através da Figura 12 que aproximadamente 81% das nutrizes residem no município há no máximo dez anos, destas aproximadamente 26% residem há apenas um ano.

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Figura 12 - Tempo de residência em Lucas do Rio Verde-MT.

Essa característica pode ser um reflexo do ritmo de crescimento em que o município se encontra. Lucas do Rio Verde vem se desenvolvendo em um ritmo acelerado, principalmente a partir de 2006, com o início das obras da unidade agroindustrial da Sadia, que começou a operar em outubro de 2008. Com investimentos superiores a R$ 800 milhões e a promessa de gerar 15 mil empregos indiretos e 5 mil empregos diretos, a oportunidade de serviço chamou a atenção de muitos trabalhadores de outras regiões, fazendo com que a população saltasse de 27.832 em dezembro de 2006 para 45.134 pessoas em 2010, segundo dados preliminares do censo demográfico do IBGE (PMLRV, 2010; SIAB, 2010; IBGE, 2010). 5.2. DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA AMOSTRA NO MUNICÍPIO Todos os PSFs do município foram contemplados com as coletas. Alguns PSFs apresentaram um número maior de nutrizes participantes, isso ocorreu porque nesses PSFs houve maior adesão ao projeto por parte dos profissionais de saúde. As coletas abrangeram 14 bairros do município, distribuídas conforme plotado no mapa dos bairros e residências, conforme a Figura 13. Observa-se que a maioria das amostras ficou concentrada na porção maior do município, ao lado direito da BR-163. Na Figura 14 observa-se a distribuição espacial das lavouras (soja e milho), pecuária e área de mata ciliar no entorno da cidade de Lucas do Rio Verde.

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Figura 13 - Distribuição espacial das residências das nutrizes doadoras de leite humano na zona urbana de Lucas do Rio Verde-MT, 2010 (alterado PMLRV, 2010).

Figura 14 - Imagem via satélite de Lucas do Rio Verde-MT (GOOGLE EARTH, 2010).

72

Conforme a Figura 14, observamos que a região, onde ocorreu à maior parte das coletas de amostras de leite humano, está mais afastada das grandes lavouras de monoculturas do município. Esta região da cidade, diferente das outras, está cercada de chácaras de suinocultura e pecuária leiteira, além de estar próximo a uma grande área de especulação imobiliária e também ter a mata ciliar e o Rio Verde entre o município e as lavouras. Em um município como Lucas do Rio Verde, onde as monoculturas estão ao redor de toda a cidade, morar “longe” das lavouras não significa estar protegido da exposição aos agrotóxicos. Com a ocorrência da deriva, deslocamento das gotículas de pulverização de agrotóxico para fora da área de cultura, causado pela ação do vento e da evaporação da água usada na preparação da calda, todo o município fica exposto à contaminação por agrotóxico. Uma vez que as gotículas que ficam flutuando ou que se evaporam por completo deixam em suspensão no ar e na chuva, os principios ativos dos agrotóxicos, que podem ser carregados a distâncias consideráveis. Como observado pelo trabalho de SANTOS et al. (2011), que encontrou resíduos de agrotóxicos, α e β-endossulfam e atrazina, no ar da área urbana de Lucas do Rio Verde-MT e resíduos (α e β-endossulfam, cipermetrina e outros) na chuva no centro da mesma cidade (MOREIRA et al., 2010).

5.3. RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS NO LEITE HUMANO

5.3.1. VALIDAÇÃO DO MÉTODO ANALÍTICO PROPOSTO

A eficiência do método foi avaliada considerando a exatidão, porcentagem de recuperação, e precisão, coeficiente de variação dos resultados obtidos em replicata (n = 5). Os resultados obtidos, porcentagem de recuperação entre 70 e 120% e coeficiente de variação menor do que 20% são considerados satisfatórios para análise de resíduo de agrotóxicos nos níveis estudados (THIER e ZEUMER, 1987). Esses níveis foram selecionados considerando o limite de quantificação do sistema cromatográfico utilizado (CG-DCE). Os limites de quantificação do equipamento foram 75 ng para as substâncias trifluralina, aldrin, alfa endosulfan, DDE e beta endosulfan, de 125 ng para o lindano e de 500 ng para o DDT, alfa HCH,

73

deltametrina e cipermetrina. Os limites de detecção e quantificação do método foram calculados a partir dos resultados de recuperação obtidos com o menor nível de recuperação estudado e das amostras controle (THIER e ZEUMER, 1987) (Tabela 8).

Tabela 8 - Exatidão, precisão e limites de detecção e quantificação do método analítico utilizado. LQM Menor nível de fortificação Maior nível de fortificação LDM Substâncias NF NF Media* (%) CV Media* (%) CV (µg mL-1) (µg mL-1) (µg mL-1) (Intervalo) (%) (µg mL-1) (Intervalo) (%) α-Endossulfam 0.015 67 (65-73) 3 0.103 71 (66-84) 6 0.003 0.015 β-Endossulfam 0.013 72 (64-83) 6 0.108 75 (67-92) 9 0.006 0.013 α-HCH 0.027 78 (63-97) 14 0.109 72 (69-77) 2 0.027 0.027 Lindano 0.028 85 (67-105) 16 0.111 73 (68-80) 4 0.022 0.028 Aldrin 0.015 77 (74-79) 2 0.101 70 (66-78) 4 0.002 0.015 DDT 0.107 75 (65-92) 11 0.153 71 (63-88) 8 0.079 0.107 DDE 0.015 120 (112-132) 13 0.109 75 (70-82) 4 0.005 0.015 Cipermetrina 0.104 79 (74-84) 3 0.157 71 (59-88) 9 0.019 0.104 Deltametrina 0.108 93 (81-111) 12 0.144 71 (67-80) 4 0.057 0.108 Trifluralina 0.015 84 (67-11) 20 0.107 70 (66-73) 2 0.015 0.015 NF: Nível de fortificação. * média de 5 repetições. CV: Coeficiente de variação. LDM: Limite de detecção do método. LQM: Limite de quantificação do método.

O procedimento proposto apresenta uma alternativa para a determinação simultânea de diferentes classes de agrotóxicos (organoclorados, piretróides e dinitroanilinas). Este método apresenta bons resultados de exatidão, precisão, além de limites de detecção e quantificação, como os trabalhos descritos na literatura (Tabela 9). O método também é simples, não requer equipamentos sofisticados e utiliza pouca quantidade de solvente orgânico. O uso de dispersão em fase sólida com Celite® possibilitou a extração dos agrotóxicos e a purificação do extrato em uma mesma etapa.

Tabela 9 - Comparação de métodos da literatura com o método atual para determinação de agrotóxicos em leite humano. Procedimento analítico Agrotóxicos

Extração

α-endossulfam, β-endossulfam, lindano, αHCH, aldrim, p,p’-DDT, p,p’-DDE, cipermetrina, deltametrina, trifluralina α-HCH, β-HCH, γ-HCH, δ-HCH, o,p’DDE, p,p’-DDE, o,p’-DDD, p,p’-DDD, o,p’-DDT, p,p’-DDT

DFS (Celite®; hexano, acetona, diclorometano) EFS (C18;metanol, n-hexano)

α-HCH, β-HCH, γ-HCH, HCB, dieldrim, HeEp, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD

Ciclohexano, acetato de etila

α-HCH, β-HCH, γ-HCH, HCB, aldrim, γclordano, α-endossulfam, dieldrim, transnanocloro, β-endossulfam, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, metoxicloro, mirex

EFS (C18; hexano, acetato de etila, metanol, acetonitrila) Agitação (hexano, acetona)

CPG (BioBeads SX3), sílica desativada EFS (Florisil; diclorometano, acetato de etila, acetona, éter de petróleo, hexano) EFS (Florisil, hexano, diclorometano)

DFS (sulfato de sódio, hexano, acetato de etila)

CPG (Bio-Beads S-X3 com hexano e acetato de etila)

α-endossulfam, β-endossulfam, β-HCH, γHCH, aldrim, dieldim, HCB, p,p’-DDT, p,p’-DDE HCB, o,p’-DDT, o,p’-DDE, o,p’-DDD, p,p’-DDE, p,p’-DDD, p,p’-DDT, dieldrim, endrim, cis-heptaclorepoxi, α-clordano, γclordano, oxy- clordano, trans-nonacloro, Σ Parlar (toxafeno), α-HCH, β-HCH, γ-HCH Σ endossulfam p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’DDT, o,p’-DDE, o,p’-DDD, ciflutrina deltametrina, cipermetrina, permetrina

OC: acetona, hexano Piretróides: acetonitrila, hexano

Clean-up

Instrumento

% Recup.

CV

LD/LQ

Referência

-

CG/DCE

67 - 120

3 - 20

0,003 – 0,079 (µg mL-1

Este trabalho

-

CG/DCE

79,8 – 92,9

0,56 – 9,86

0,0004 mg.kg-1de leite

MELLO, 1999

CG/DCE

75 - 110

-

0,0005 µg. g-1 de gordura

PAUMGARTTEN et al., 2000

CG/DCE

71,5 - 110

2,2 – 5,8

0,0030 – 0,1720 ng.ml-1

MESQUITA, 2001

CG/DCE

53 – 109

-

0,01 – 0,04 mg.kg-1

BURKE et al, 2003

CG/DCE

-

-

0,001 µg. g-1 de gordura

KRAUSS et al., 2004

OC: sulfúrico

OC: 0,0420,049 mg.l-1

ácido CG/DCE

Piretróides: éter etílico, hexano

-

-

Piretróides: 0,181-0,576 mg.l-1

BOUWMAN et al., 2006

75

HCB, β-HCH, γ-HCH, Σ-HCH, dieldrim, o,p’-DDE, p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’DDD, o,p’-DDT, Σ-DDT

Hexano, acetonitrila, etanol

p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD

EFS (C18 – acetato de etila, acetona, metanol)

p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’DDE, o,p’-DDD, α-HCH, β-HCH, γ-HCH

Hexano, diclorometano

DDE, DDD, α-HCH, β-HCH, γ-HCH, HCB

Clorofórmio, metanol, hexano

β-HCH, p,p’-DDE, p,p’-DDT

Hexano

DDTs, HCHs, HCBs, CHLs p,p’-DDT, p,p’-DDE, p,p’-DDD, o,p’DDT, dicofol α-HCH, β-HCH, γ-HCH (lindano), δ-HCH, p,p’-DDT, o,p’-DDT, p,p’-DDE, o,p’DDE, p,p’-DDD, o,p’-DDD, HCB, aldrin, dieldrin, endrin, trans-clordano, cisclordano, trans-nonacloro, cis-nonacloro, oxyclordano, heptacloro, transheptacloro epoxide, cis-heptacloro epoxide, mirex

Éter dietílico, hexano Hexano, etanol, éter dietílico, diclorometano

Hexano, diclorometano

EFS (Florisil, sulfato de sódio; diclorometano, hexano) EFS (C18 – diclorometano, acetato de etila, éter de petróleo, acetona, hexano

CG/DCE

80 – 93

-

1 ng.g-1 de gordura

ENNACEUR et al., 2007

CG/DCE

82,2 – 102,6

2,2 – 3,1

0,0040 – 0,0340 ng.ml-1

AZEREDO et al., 2008

EFS (Silíca; ácido sulfúrico)

CG/DCE

90 - 110

-

Ácido sulfúrico

CG/DCE

-

-

-

CG/DCE

88 - 96

-

-

CG/DCE

92 – 101

-

-

CG/EM

84 – 94

CPG (Bio-Beads S-X3 com acetato de etila e hexano)

CG/NCI/EM

85 - 130

-

0,01 – 0,2 ng.g-1 de gordura 0,98 – 1,64 ng.g-1 de gordura 0,001 – 0,002 mg.kg-1 de gordura

BEHROOZ et al., 2009 KRAUTHACKER et al., 2009 WALISZEWSKI et al., 2009

-

SOMEYA et al., 2010

0,01 – 0,20 ng.g-1 de gordura

FUJII et al., 2011

0,05 – 3,0 ng.g-1 de gordura

ZHOU et al., 2011

EFS: Extração em fase sólida; DFS: Dispersão em fase sólida; CG: Cromatografia gasosa; DCE: Detector de captura de elétrons; EM: Espectrometria de massa; CPG: Cromatografia por permeação em gel; -: não apresentado.

A não padronização de protocolo da metodologia analítica, de coleta e a não uniformidade das unidades de concentração em que os resultados são expressos pelos diversos autores dificulta a comparação entre estudos. Alguns estudos não apresentam os valores de precisão e exatidão do método, impossibilitando maiores comparações com o método aqui proposto.

5.3.2. DETECÇÃO DE RESÍDUO DE AGROTÓXICOS NO LEITE HUMANO

Todas as amostras analisadas apresentaram algum dos agrotóxicos estudados. Conforme a Tabela 10 observa-se que em 85% das amostras foram detectados mais de um agrotóxico, ou seja, uma contaminação multiresidual.

Tabela 10 - Número de substâncias detectadas em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010. Número de substâncias n Frequência % detectadas nas amostras 1 9 0,15 15 2 18 0,29 29 3 12 0,19 19 4 15 0,24 24 5 7 0,11 11 6 1 0,02 2 TOTAL 62 1,00 100 A frequência de detecção por agrotóxicos encontrados nas amostras são apresentados na Tabela 11. A cipermetrina foi o único agrotóxico que não foi detectado em nenhuma amostra analisada.

77

Tabela 11 – Total de amostras detectadas e frequência de detecção de agrotóxicos analisados em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT, 2010. Detectado Detectado Substância Total de amostras % de abaixo do LQM acima do LQM Detecção (n=62) detectadas p,p’- DDE

62

44

18

100%

β-endossulfam

27

25

2

44%

deltametrina

23

23

0

37%

aldrim

20

20

0

32%

α-endossulfam

20

20

0

32%

α-HCH

11

11

0

18%

p,p’- DDT

8

5

3

13%

trifluralina

7

7

0

11%

lindano

4

4

0

6%

O p,p’- DDE aparece em 100% das amostras analisadas. Dentre os metabólitos do p,p’- DDT, o p,p’- DDE é o que ocorre em maior frequência na população geral, pela sua baixa taxa de metabolização e ao fato da alimentação ser sua fonte primária de contaminação. Essa prevalência do p,p’- DDE sobre o p,p’DDT sugere uma exposição passada ao DDT, já que o tempo médio necessário à metabolização do p,p’- DDT em p,p’- DDE é de doze meses (MATUO et al., 1992). No ambiente o isômero β-endossulfam tem menor estabilidade e se converte para o isômero α-endossulfam depois da aplicação (SANTOS et al., 2011). Porém, o β-endossulfam é mais facilmente absorvido que o α-endossulfam, após distribuição inicial para o tecido adiposo, acumula em uma extensão maior do que o βendossulfam (ANVISA, 2010b; HSDB, 2010). Talvez isso explique o fato de maior detecção do isômero β-endossulfam em relação ao isômero α-endossulfam nas amostras de leite.

5.3.3. NÍVEIS DE RESÍDUOS DE AGROTÓXICOS NO LEITE HUMANO Apenas dezenove amostras (31%) apresentaram contaminação acima dos valores de quantificação do método para alguma das três substâncias (β-endossulfam, p,p’- DDT e p,p’- DDE), e por isso puderam ser quantificadas. Os níveis de

78

agrotóxicos encontrados nas amostras de leite das mães doadoras de Lucas do Rio Verde são apresentados na Tabela 12 com valores expressos em µg mL-1 de leite.

Tabela 12 - Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg mL-1 de leite, 2010. Média Valores Valores Substância % -1 (µg mL ) máximos mínimos β-endossulfam 3,23 0,018 0,020 0,016 p,p’- DDT 4,84 0,295 0,397 0,170 p,p’- DDE 29,03 0,130 0,543 0,021 Considerando que os compostos organoclorados apresentam bioacumulação preferencial nos tecidos adiposos, a determinação do teor de gordura das amostras de leite se faz necessária (MESQUITA, 2001). Assim, o teor de gordura das amostras coletadas foi determinado para excluir essa fonte de variação durante a obtenção dos resultados. As concentrações após o controle dessa variável são apresentadas na Tabela 13.

Tabela 13 - Níveis de resíduos de agrotóxicos em leite humano em amostra (n=62) de nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT em µg g-1 de gordura, 2010. Média do teor Média Valores Valores Substância % de gordura (%) (µg g-1) máximos mínimos β-endossulfam 3,23 3,08 0,57 0,61 0,54 p,p’- DDT 4,84 4,14 8,87 12,41 2,62 p,p’- DDE 29,03 3,78 3,75 12,03 0,32 Em comparação aos trabalhos realizados no Brasil, os níveis encontrados nas amostras de leite das nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT encontram-se: abaixo dos níveis de DDT total (DDT+DDE) e lindano encontrados por MATUO et al.

(1992)

em Ribeirão

Preto

em

mulheres

expostas

e

não

expostas

ocupacionalmente; acima dos níveis de DDE e DDT e abaixo dos níveis de α-HCH, lindano e α-endossulfam encontrados por MESQUITA (2001) na cidade do Rio de Janeiro em mulheres doadoras do Banco de Leite do Instituto Fernandes Figueira; acima dos níveis de DDE e DDT encontrados por KRAUSS et al. (2004) em São Paulo e Belo Horizonte de mães selecionadas conforme protocolo estabelecido pela WHO (World Health Organization); abaixo dos níveis de DDE encontrados por

79

CALEFFI (2005) em mulheres residentes em áreas rurais do Rio Grande do Sul; acima dos níveis de DDT encontrado por AZEREDO et al. (2008) na região no Rio Madeira, Amazônia, em população que foi diretamente exposta nos anos 1990 com aplicações residenciais ao combate a malária. Quando comparados com trabalhos internacionais, os níveis aqui encontrados estão: acima dos níveis de DDE e abaixo dos níveis de α-HCH e lindano encontrados por KRAUTHACKER et al. (2009); acima dos níveis de DDE e DDT encontrados por SOMEYA et al. (2010); abaixo dos níveis de α-HCH e lindano e acima dos níveis de DDE e DDT encontrados por ZHOU et al. (2011). Independentemente dos métodos analíticos utilizados, o resultado é preocupante, pois todos os estudos demonstram contaminação das amostras por pelo menos uma substância, na maioria das vezes, organocloradas em um alimento que deveria ser isento de todo e qualquer tipo de contaminante. Todas as nutrizes que participaram da pesquisa receberam um laudo (Anexo C) com os resultados das análises realizadas e com a expressa recomendação de continuarem a amamentação, uma vez que a amamentação apresenta vários fatores importantes para a saúde, tanto do bebê como da mãe, como já descrito anteriormente.

5.5. FATORES DE ASSOCIAÇÃO

O resultado da análise de regressão múltipla do modelo que avaliou a prevalência de contaminação do leite humano para o agrotóxico β-endossulfam, encontra-se descritas na Tabela 14.

Tabela 14 - Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por β-endossulfam, Lucas do Rio Verde-MT, 2010. Variáveis e categorias % RP (IC 95%) p valor Aborto Não 11,4 1,00 Sim 29,6 2,05 (0,87 – 4,80) p < 0,098 O pai trabalha na zona rural Não 8,6 1,00 Sim 14,8 2,93 (0,92 – 9,32) p < 0,069

80

Cumpre dizer que todos os resultados das variáveis do modelo final do βendossulfam, foram em situação estatística limítrofe, ou seja, com p-valor próximo da significância estatística. As variáveis que permaneceram no modelo final foram a mãe ter tido aborto (RP = 2,05; IC 95%: 0,87 – 4,80) e o fato do pai trabalhar na zona rural (RP = 2,93; IC 95%: 0,92 – 9,32). No modelo final quando o agrotóxico estudado foi o aldrim, permaneceram no modelo de Poisson, as variáveis descritas na Tabela 15.

Tabela 15 - Modelo Final de Poisson - Razões de prevalência de contaminação do leite humano por aldrim, Lucas do Rio Verde-MT, 2010. Variáveis e categorias % RP (IC 95%) p valor Aborto Não 14,3 1,00 Sim 30,0 2,18 (1,04 – 4,58) p < 0,039 Estado civil Solteira/separada 71,4 1,00 Casada/amasiada 90,0 3,17 (0,89 – 11,27) p < 0,074 O pai trabalha na zona rural Não 4,8 1,00 Sim 25,0 3,23 (1,65 – 6,29) p < 0,001

A variável estado civil, apresentou uma situação estatística limítrofe (p < 0,074), porém com forte força de associação (RP = 3,17; IC 95%: 0,89 – 11,27). As variáveis com estatística significante que permaneceram no modelo final do aldrim foram, ter tido aborto (RP = 2,18; IC 95%: 1,04 – 4,58) e o fato de o pai trabalhar na zona rural (RP = 3,23; IC 95%: 1,65 – 6,29). Finalmente, a Tabela 16 contempla o modelo final da regressão múltipla para o agrotóxico deltametrina. Neste último permaneceu, a variável aborto (RP = 1,92; IC 95%: 1,08 – 3,43) que apresentou associação estatisticamente significante. Tabela 16 - Modelo Final de Poisson – Razão de prevalência de contaminação do leite humano deltametrina, Lucas do Rio Verde-MT, 2010. Variáveis e categorias % RP (IC 95%) p valor Aborto Não 10,3 1,00 Sim 34,8 1,92 (1,08 – 3,43) p < 0,026

Importante salientar que ter tido aborto foi uma variável que se manteve associada à presença dos três agrotóxicos (β-endossulfam, aldrim e deltametrina),

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quando da realização dos modelos finais. Estes achados são concordantes com a literatura que refere esses agrotóxicos com efeitos sobre o sistema reprodutivo e hormonal, chegando, inclusive, a serem excretados pelo leite materno (MEYER et al., 1999; KOIFMAN et al., 2002; CALVERT et al., 2007; HEEREN et al., 2003). Quanto à toxidade dos agrotóxicos, vários autores referem que o βendossulfam pode chegar ao feto através do cordão umbilical e placenta (CERRILLO, et al., 2005), levando à ocorrencia de malformações e, por isso, ser considerado um desregulador endócrino (BELDOMENICO et al., 2007; ANVISA, 2010b). Já outros estudos sugerem que o aldrim também pode passar pela placenta humana e se acumular no feto em desenvolvimento, podendo induzir ao aborto (ATSDR, 2002a). Quanto a deltametrina, apesar dos efeitos sistêmicos dos piretróides sobre o sistema reprodutivo (ABDOLLAHI et al., 2004), os estudos são inconclusivos em afirmar o potencial dos piretróides em atravessar a barreira placentária e interferir no desenvolvimento fetal (ATSDR, 2003). Cumpre dizer que outras variáveis podem influenciar na ocorrência de aborto, tais como caráter imunológico, fator autoimune, distúrbio hormonal, fator genético e problemas anatômicos (BARINI et al., 2000; CAETANO et al., 2006). Essas variáveis não foram avaliadas no presente estudo, o que pode levar a possíveis confundimentos nas análises dos modelos finais. Outros estudos epidemiológicos tais como os estudos de seguimento (coorte) permitiriam uma melhor avaliação da associação entre os fatores de exposição (agrotóxicos) e o desfecho estudado, ou seja, a presença dessas substâncias no leite materno, já que estes permitem um melhor controle destas variáveis de confundinento. Cabe ainda dizer das limitações dos estudos transversais: um dos principais problemas é a possibilidade de ocorrência de causalidade reversa. Como a exposição e o desfecho foram coletados simultaneamente, não há como saber qual deles procedeu ao outro, podendo levar a associações espúrias. Contudo, supõe-se que tal situação não tenha ocorrido nesta pesquisa, devido ao rigoroso controle de condições adversas pelos pesquisadores quando da realização do trabalho de campo. Informações extra-oficiais de servidores da saúde local trazem à luz a possibilidade da ocorrência do alto número de abortos nos últimos anos. Considerando-se o nível de exposição da população residente em Lucas do Rio

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Verde aos agrotóxicos e a persistente associação entre ocorrência de abortos e presença de agrotóxicos no leite materno, sugere-se que essa variável possa ser utilizada como marcadora de exposição a agrotóxicos neste município. O fato do marido/companheiro trabalhar na zona rural ficou no modelo final de regressão com associação estatisticamente significativa com os agrotóxicos βendossulfam e aldrim. Assim, inferimos que essa associação pode estar relacionada com o contato físico entre marido e mulher, ou no contato entre a nutriz e as roupas contaminadas do marido. Desta forma, a mulher estaria sendo contaminada através da pele, já que uma das formas de contaminação é via dermal. Ser casada ou amasiada se manteve presente no modelo final de regressão com associação estatisticamente significativa com o agrotóxico aldrim, esta variável pode estar sendo influenciada por algumas variáveis de confundimento. Por exemplo, a idade materna, mesmo não se mantendo com associação significativa na regressão, pode estar associada tanto ao estado civil, porque as casadas tendem a ser mais velhas, quanto à detecção de agrotóxico no leite, porque as mães com maior carga de contaminantes, também tendem a ser mais velhas. Desta forma, pode-se considerar o estado civil como sendo uma variável “proxy” de idade, uma vez que, os agrotóxicos se acumulam no organismo humano ao longo da vida, e, quanto maior a idade, maior o tempo de exposição a esses compostos. Outro fator que pode estar associado à variável estado civil é a lavagem das roupas de serviço em casa pela própria nutriz. Mesmo essa variável não tendo dado associação significativa com a variável resposta, ela poderia influenciar o resultado, já que as nutrizes podem estar se contaminando de agrotóxicos através do manuseio e contato com as roupas de serviço do marido ou companheiro, que são lavadas junto com as demais roupas da família. Algumas variáveis demonstraram uma tendência à associação com os níveis de agrotóxicos encontrados. Uma possível causa para isso seja o n amostral, que talvez seja insuficiente para mostrar essa associação. Alguns agrotóxicos tiveram uma freqüência baixa de detecção nas amostras e não foi possível a realização de análise de regressão, para estes (α-HCH, p,p’- DDT, lindano, trifluralina, α-endossulfam) as variáveis, que de alguma forma poderiam

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justificar a presença de resíduos desses agrotóxicos no leite humano, foram descritas em freqüências. No grupo das nutrizes em que foi detectado o α-HCH (n=11), 63,6% eram primíparas, 27,3% relataram já ter sofrido ao menos um aborto. Nas nutrizes em que foi detectado o p,p’- DDT (n=8), 75% eram primíparas, 25% relataram já ter sofrido ao menos um aborto, 12,5% relataram ter um filho com alguma malformação e, 12,5% relataram prematuridade na última gestação. Nas nutrizes em que foi detectado o lindano (n=4), 75% era primípara e, 25% relataram ter um filho com alguma malformação. Nas nutrizes em que foi detectado trifluralina (n=7), 71,4% eram primíparas, 28,6% relataram já ter sofrido ao menos um aborto, 28,6% relataram que o marido/companheiro trabalha na lavoura, 28,6% relataram residir próximo de lavouras. As variáveis a respeito do trabalho do marido/companheiro e o residir próximo a lavouras, podem ter influenciado na detecção desse composto no leite, uma vez que, a trifluralina é utilizada na região de estudo, numa média de 23.094 litros/ano. Nas amostras em que foi detectado o α-endossulfam (n=20), 29% das nutrizes eram primíparas, em 6,5% o último parto foi prematuro, 3,2% a criança nasceu com alguma malformação e 19,4 relataram já ter sofrido ao menos um aborto. O αendossulfam é um isômero de um agrotóxico organoclorado com aplicação média de 216.950 litros/ano no município de estudo, conforme Tabela 3. Algumas variáveis relacionadas à moradia e ocupação, tanto do marido/companheiro como da mãe, podem estar relacionada a exposição por habitante e das nutrizes a esse agrotóxico. Quanto à proximidade da lavoura 34% das nutrizes relataram residir próximo a lavouras, 63% moram a mais de um ano na mesma residência, 43,5% já moraram na zona rural, 21% já trabalharam na lavoura e, 43,5% dos maridos/companheiros trabalham na lavoura.

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6. CONCLUSÃO

As amostras de leite humano provenientes das nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde-MT apresentaram evidente contaminação multiresidual por agrotóxicos organoclorados, piretróides e dinitroanilinas. O p,p' - DDE foi encontrado em 100% das amostras analisadas, o que sugere uma exposição passada ao p,p' - DDT, já que este é o seu metabólito mais estável e foi bastante utilizado até 1985 na agricultura e até 1998 no controle de vetores. O β-endossulfam foi encontrado em 44% das amostras analisadas, sugerindo uma exposição atual, já que é muito utilizado como inseticida na agricultura na região de estudo. As nutrizes que tiveram aborto apresentaram associação com a presença dos agrotóxicos β-endossulfam, aldrim e deltametrina, estando em concordância com a literatura que descreve os efeitos desses agrotóxicos sobre o sistema reprodutivo e hormonal. O fato do marido/companheiro trabalhar na zona rural apresentou associação com a presença de resíduos de β-endossulfam e aldrim em amostras de leite analisadas. Independente do local de residência das nutrizes, quanto à distância das lavouras, as mesmas estão expostas aos efeitos dos agrotóxicos, devido a localização do município em relação às lavouras e possivelmente foram contaminadas através dos alimentos e componentes ambientais (ar, água, solo). O processo produtivo agrícola adotado no município de Lucas do Rio Verde, com o uso intensivo de agrotóxicos nas lavouras, foi determinante para a contaminação dos vários componentes ambientais, relatados em outros trabalhos aqui citados, e também deve ter contribuído para a contaminação da população, das nutrizes e do leite humano.

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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo produtivo agrícola adotado no município de Lucas do Rio Verde, na busca por grandes produções, leva o município a um desenvolvimento insustentável, uma vez que degrada o meio ambiente local, polui os recursos hídricos, o solo, o ar e, consequentemente a população, acarretando em sérios problemas de saúde. A contaminação do leite das nutrizes residentes em Lucas do Rio Verde é apenas um efeito causado por esse processo. Os serviços de saúde pública municipal devem ficar atentos aos indicadores de saúde que possam estar relacionados ao uso intensivo de agrotóxicos no município, como a incidência de abortos, malformações, neoplasias e doenças neurológicas, já que vários agrotóxicos possuem ação mutagênica, teratogênica, cancerígena, desrregulação endócrina, e destúrbios neurológicos e psiquiátricos.

Os dados apresentados e discutidos no presente trabalho mostram um problema de saúde pública, o qual trabalhadores e população vizinha a áreas de produção de soja, milho ou algodão se encontram em situação de vulnerabilidade, face aos efeitos nocivos dos agrotóxicos sobre a saúde humana. Isso indica que deve ser implantadas estratégias de avaliação e gerenciamento de riscos, fundamentais para a vigilância da saúde dos trabalhadores e população em geral, exposta aos agrotóxicos por conta do combate (pulverização) às “pragas” da lavoura.

Sugere-se a implantação imediata de algumas ações de vigilância a saúde em Lucas do Rio Verde e em todos os municípios brasileiros em que predomina a monocultura intensiva e químico dependente, tais como: a) proibir a pulverização de qualquer tipo de agrotóxico por avião; b) limitar a aplicação de agrotóxicos a uma distância mínima de 500 metros do perímetro urbano ou no entorno de aglomerados humanos, criação de animais, nascentes de córregos e abastecimentos de água potável; c) implantar sistema de notificação e vigilância para as intoxicações agudas e crônicas; d) realizar vigilância em saúde nos casos de derivas de agrotóxicos; e)

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implantação de Sistema de Monitoramento de Resíduos de Agrotóxicos em águas de córregos, rios, lagos, poços artesianos, no ar, na chuva e nos alimentos.

Apesar de termos encontrado contaminação em 100% das amostras analisadas, é necessário não desprezar os benefícios da amamentação para o bebê do ponto de vista nutricional, imunológico, psicológico e na promoção da saúde. Apesar dos possíveis danos que possam vir a ser causados pela exposição dos bebês aos agrotóxicos, qualquer atitude em relação ao desaconselhamento à amamentação tem que ser avaliado considerando-se o risco/benefício e os múltiplos fatores envolvidos no processo de aleitamento.

Há necessidade urgente de se ampliar estas avaliações e análises dessas contaminações do leite humano por agrotóxicos provindos do processo produtivo agropecuário, coordenado pelo agronegócio, para que possamos implantar medidas de saúde coletiva, com participação dos afetados/agravados, dos técnicos da saúde, da agricultura e ambiente, num movimento com a sociedade organizada, de forma articulada com a democracia e justiça ambiental, em busca de outro modelo de agricultura, seja ele agroecológico ou aquele que tenha com eixo o desenvolvimento da vida, da saúde, da democracia e da felicidade.

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100

ANEXO A UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA DEPARTAMENTO DE SAÚDE COLETIVA CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Você está sendo convidada para participar, como voluntária, da pesquisa “Detecção de resíduos de agrotóxicos em leite humano em Lucas do Rio Verde – Mato Grosso”. Este estudo tem como um dos principais objetivos conhecer o grau de contaminação por agrotóxico do leite de mães que moram em Lucas do Rio Verde e compará-las com amostras de leite materno coletadas das doadoras do Banco de leite do HUJM/UFMT, Cuiabá. Sua participação na pesquisa consistirá em responder a um questionário e doar 20 mL de leite. Não há riscos relacionados à sua participação. O beneficio relacionado com a sua participação é a contribuição para a construção de estratégias educativas e de comunicação de risco que contribuam para diminuir os efeitos prejudiciais dos agrotóxicos sobre a saúde humana e o ambiente. O seu beneficio individual será receber orientações para uma possível mudança dos seus hábitos diários que possam contribuir para a diminuição dos valores encontrados e conseqüente melhoria na qualidade de seu leite.Você não receberá dinheiro pelo fornecimento destas informações e amostras de leite. As informações obtidas através dessa pesquisa serão secretas e garantimos o sigilo sobre a sua participação. Você será identificada apenas, pela sua idade e profissão. As respostas do questionário serão usadas para que melhor possamos entender a realidade do seu dia-a-dia. As respostas do questionário serão reproduzidas apenas em publicações científicas, respeitando-se o sigilo do seu nome. Todo o material ficará sob a guarda do pesquisador principal e ao final de 04 anos, os questionários serão destruídos. Em caso de recusa você não terá nenhum problema. Em caso de dúvida você pode procurar o Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Júlio Müller- UFMT- pelo telefone (65) 3615-7254. Você receberá uma cópia desse termo onde tem o nome, telefone e endereço do pesquisador responsável, para que você possa localizá-lo a qualquer momento. Considerando os dados acima, CONFIRMO que fui informada por escrito e verbalmente dos objetivos desta pesquisa e em caso de divulgação por foto e/ou vídeo AUTORIZO a publicação. Eu................................................................................................................................................. .............., idade:............. Naturalidade:.....................................................portadora do documento RG Nº:............................................................declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar.

________________________________________ Assinatura do sujeito da pesquisa e/ou responsável

________________________________________ Assinatura do pesquisador principal

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AXEXO B LOCALIZAÇÃO 1. NR:______2. DATA DE ENTREVISTA:____/____/________ 3. HORÁRIO:_____:_____HS 4. N DO PSF:______5. FAMÍLIA:_______ 6. GESTAÇÃO No._____________________________ 7. COORDENADAS GEOGRÁFICAS:______________________/__________________________ 8. ENDEREÇO:____________________________________ 9. BAIRRO:_____________________

IDENTIFICAÇÃO MATERNA 10. NOME:______________________________________________________________________ 11. IDADE:________anos 12. PESO ATUAL:_________Kg 13. ESTATURA:______________m 14. RAÇA: ( ) IGNORADO ( ) BRANCA ( ) PRETA ( ) PARDA ( ) AMARELA ( ) INDÍGENA 15. ESTADO CIVIL: ( ) SOLTEIRA ( ) CASADA ( ) AMASIADA ( ) SEPARADA 16. GRAU DE ESCOLARIDADE: ( ) NÃO SAB ( ) SEM ESCOLARIDADE ( ) FUND. INCOMPLETO ( ) FUND. COMPLETO ( ) MÉD. INCOMPLETO ( ) MÉD. COMPLETO ( ) CURSO TÉCNICO ( ) ENSINO SUPERIOR ( ) PÓS-GRADUAÇÃO 17. NATURALIDADE:_______________________________________18. ESTADO:___________ 19. HÁ QUANTO TEMPO RESIDE EM LRV:_________________anos.

DADOS PROFISSIONAIS MATERNOS 20.PROFISSÃO:_____________________21.ATIVIDADE EXERCIDA:______________________ 22. TOTAL DE HORAS TRABALHADAS POR SEMANA:________hs 23. TRABALHA PRÓXIMO A ALGUM TIPO DE LAVOURA: ( ) SIM ( ) NÃO 24. QUE TIPO DE LAVOURA:_________________________________________ 25. JÁ MOROU EM ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 26. TRABALHA NA ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 27. JÁ TRABALHOU NA LAVOURA: ( ) SIM ( ) NÃO 28. EM QUE TIPO DE LAVOUA TRABALHA:________________________________________ 29. FAZ USO DE ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 30. QUAL:________________________________________ 31. FAZ USO DE ALGUM EPI: ( ) SIM ( ) NÃO 32. QUAL:_____________________________________________________ 33. AS ROUPAS DE TRABALHO SÃO LAVADAS EM CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 34. VOCÊ QUE LAVA AS ROUPAS: ( ) SIM ( ) NÃO

GESTAÇÃO/PARTO 35. DATA DO PARTO:_____/_____/______36. TIPO DO PARTO: ( )NORMAL 37. NÚMERO DE:GESTAÇÕES:_____PARTOS:_____ABORTOS:_____ FILHOS VIVOS: ______ 38. HOUVE ALGUMA MALFORMAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 39. QUAL MALFORMAÇÃO:__________________________ 40. FEZ PRÉ-NATAL: ( ) SIM ( ) NÃO 41. QUAL FOI O NÚMERO DE CONSULTAS:__________ 42. HOUVE ALGUMA INTERCORRÊNCIA: ( ) SIM ( ) NÃO

( ) CESÁRIA

NATIMORTOS:_____

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43. QUAL:________________________________________ 44. FEZ USO DE ALGUMA MEDICAÇÃO DURANTE A GRAVIDEZ: ( ) SIM ( ) NÃO 45. QUAL:___________________ 46. ATUALMENTE FAZ USO DE ALGUMA MEDICAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 47. QUAL:__________________________ 48. FUMOU DURANTE A GRAVIDEZ: (

) SIM ( ) NÃO

49. QUANTOS CIGARROS POR DIA: ______________________ 50. FUMA ATUALMENTE: ( ) SIM ( ) NÃO

51. QUANTOS CIGARROS POR DIA: ______

52. PESO PRÉ-GESTACIONAL:_______Kg 53. PESO PÓS-GESTACIONAL:______Kg

DADOS DO RÉCEM NASCIDO/AMAMENTAÇÃO 54. SEXO: ( ) MAS. ( ) FEM. 55. PESO AO NASCER:_________________gr 56. PREMATURO: ( ) SIM ( ) NÃO 57. IDADE GESTACIONAL: ( ) DE 20 A 24 ( ) DE 24 A 28 ( ) DE 28 A 32 ( ) DE 32 A 37 ( ) DE 37 A 42 ( ) > 42 58. RAÇA: ( ) IGNORADO ( ) BRANCA ( ) PRETA ( ) PARDA ( ) AMARELA ( ) INDÍGENA 59. NASCEU COM ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE: ( ) SIM ( ) NÃO 60. QUAL:________________________________ 61. APRESENTA ALGUMA MALFORMAÇÃO: ( ) SIM ( ) NÃO 62. QUAL MALFORMAÇÃO:_____________________ 63. No. DE MAMADAS DIÁRIAS:_____64. DURAÇÃO MÉDIA DE CADA MAMADA:____min. 65. AMAMENTAÇÃO EXCLUSIVA: ( ) SIM ( ) NÃO 66. QUE COMPLEMENTO UTILIZA: ( ) LEITE ( ) CHÁ ( ) ÁGUA 67. TIPO DE LEITE:________________68. NO. DE COMPLEMENTAÇÕES POR DIA: _________ 69. VOLUME DE CADA COMPLEMENTO:_____________Ml HÁBITOS DO MARIDO/COMPANHEIRO 70.PROFISSÃO:_________________71.ATIVIDADE EXERCIDA:_________________________ 72. QUANTO TEMPO DE PROFISSÃO:______ 73. QUANTAS HORAS SEMANAIS ELE TRABALHA:______hs 74. ELE JÁ MOROU EM ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 75. ELE JÁ TRABALHOU NA LAVOURA: ( ) SIM ( ) NÃO 76. HOJE ELE TRABALHA NA ZONA RURAL: ( ) SIM ( ) NÃO 77. COM QUE TIPO DE LAVOURA ELE TRABALHA:_________________________________ 78. ELE FAZ USO DE ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 79. QUAL:__________________________________ 80. AS ROUPAS DE TRABALHO SÃO LAVADAS EM CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 81. É VOCÊ QUE LAVA AS ROUPAS: ( ) SIM ( ) NÃO 82. ELE É FUMANTE: ( ) SIM ( ) NÃO 83. QUANTOS CIGARROS ELE FUMA POR DIA:____________ 84. DURANTE A GRAVIDEZ ELE FUMAVA PRÓXIMO A VOCÊ: ( ) SIM ( ) NÃO CARACTERÍSTICAS DOMICILIAR 85. TEMPO DE MORADIA NO LOCAL:__________anos 86. TIPO DE MORADIA: ( ) TIJOLO/ADOBE ( ) TAIPA REVESTIDA ( ) TAIPA NÃO REVESTIDA ( ) MADEIRA ( ) MATERIAL APROVEITADO 87. TRATAMENTO DE ÁGUA NO DOMICILIO: ( )FILTRAÇÃO ( ) FERVURA

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( ) CLORAÇÃO ( ) S/ TRATAMENTO 88. DESTINO DO LIXO: ( ) COLETADO ( ) ENTERRADO ( ) QUEIMADO ( ) CÉU ABERTO 89. HÁ LAVOURA PRÓXIMA DA SUA CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 90. HÁ QUANTOS METROS DE DISTÂNCIA:______m 91. QUE TIPO LAVOURA:______________________________________________________ 92. POSSUI HORTA/POMAR EM CASA: ( ) SIM ( ) NÃO 93. UTILIZA ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 94. QUAL VENENO VOCÊ UTILIZA:_________________________________________________ 95. CONSOME OS ALIMENTOS QUE PRODUZ: ( ) SIM ( ) NÃO 96. FAZ USO DE VENENO DOMICILIAR: ( ) SIM ( ) NÃO 97. QUE PRODUTO UTILIZA:________________________ 98. QUAL É A FREQUÊNCIA SEMANAL: ( ) DIARIAMENTE ( ) DE 1-2 VEZES ( ) DE 3-5 VEZES 99. SUA CASA JÁ FOI DEDETIZADA: ( ) SIM ( ) NÃO 100. QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ:_______________meses

DADOS SOBRE INTOXICAÇÃO 101. ALGUMA VEZ SE SENTIU INTOXICADA POR ALGUM TIPO DE VENENO: ( ) SIM ( ) NÃO 102. SE SIM, ESTA FOI: ( ) LEVE ( ) MODERADA ( ) GRAVE ( ) INTERNAÇÃO HOSPITALAR 103. QUAL TIPO DE VENENO: ( ) DOMICILIAR ( ) DE LAVOURA 104. QUAL:__________________________________________________

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ANEXO C UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE SAÚDE COLETIVA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA Projeto: Detecção de resíduos de agrotóxicos em leite humano em Lucas do Rio Verde – Mato Grosso. RESULTADO DE ANÁLISE Tipo de amostra: Leite materno

Quantidade: 5 mL

Identificação da amostra: Data da coleta: Substância analisada

Método

Trifluralina Alfa-hexaclorociclohexano (α-HCH) Lindano Aldrin Alfa-endossulfam Beta-endossulfam Dicloro-Difenil-Tricloroetano (DDT) Cipermetrina Deltametrina Dicloro-Difenil-Dicloroetileno (DDE)

CG/ECD CG/ECD CG/ECD CG/ECD CG/ECD CG/ECD CG/ECD CG/ECD CG/ECD CG/ECD

Resultado (ug/mL)

Valor de Referência * * * * * * * * * *