COMPUTERWORLD Julho 2013
SmartCities
Cidades “inteligentes” com pessoas....................................2 Como evitar as TIC de tipo “emplastro”...............................4 Integração valoriza Smart Cities Portugal ...........................6 Governo não financia mas cria complementaridades ...........7 Aproveitamento de financiamento depende de políticas.......8 Tecnologias críticas para a “inteligência”............................9
Atitude da administração autárquica tem de mudar.............9 Desafios vistos pelo sector das TIC ...................................10 Sociedade repensada pela hiperconectividade...................11 Living PlanIT tem continuado a investir em “colaboratório” ...........................................................12 Base de parceiros internacionais “é crucial” ....................12 Julho 2013 - COMPUTERWORLD
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Comunicações Unificadas SmartCities
Cidades “inteligentes” com pessoas A implantação de iniciativas para a gestão mais inteligente e proactiva dos centros urbanos está a ganhar novo impulso inserida num movimento global e europeu. Enfrenta desafios locais conhecidos, além daquele fundamental e chave do seu sucesso: servir e envolver as pessoas.
Ganha cada vez mais impulso a implantação de iniciativas para tornar a gestão dos espaços urbanos mais “inteligente”. Por isso, entende-se gerir as várias dimensões das cidades de forma mais optimizada e integrada, particularmente com o tecido social e com o ambiente. Em Portugal, a dinamização do tecido económico e do ensino superior – envolvendo a investigação e desenvolvimento (I&D) – afigura-se especialmente oportuna, dado o estado da economia. Mas, na implantação de “smart cities" (ou "cidades inteligentes”), a importância de alocar recursos, mais escassos, de forma optimizada não pode significar a erosão da qualidade de vida das pessoas. Até porque, para singrar, tem de envolver as pessoas, procurando a sua participação para lhes proporcionar maior qualidade de vida, mas protegendo a dimensão humana das urbes – cada vez mais em risco. O desafio é enorme e não está completamente resolvido. Importa evitar a implantação de universos absolutistas na sua gestão e funcionamento, onde o ser humano passa a ser apenas uma unidade de trabalho, de energia e de consumo. Ao mesmo tempo, com a escassez de financiamento vigente e no espírito de uma gestão eficiente, ganha pertinência que as TIC e outras soluções não se tornem elementos supérfluos. Não há margem para serem meros “gadgets” ou elementos de manifestação de riqueza exterior. Por todo o mundo, estão a desenvolver-se projectos de transformação das cidades. Em Portugal, existem já importantes experiências com resultados positivos. Outras ainda não COMPUTERWORLD - Julho 2013
Conceito sociotécnico O conceito de "smart city", ou "cidade inteligente”, não é tecnológico mas um conceito sociotécnico. Esta é a visão da Inteli e tende a prevalecer. Integra três vertentes essenciais: a tecnologia, as pessoas e as instituições. “A tecnologia é um meio, não um fim em si mesmo. Uma 'smart city' tem que centrar a sua actuação nos cidadãos e nas comunidades onde vivem e trabalham”, estabelece Catarina Selada. Nesse enquadramento, deverá ser uma cidade atractiva para talentos, visitantes e investidores pela aliança entre inovação, qualidade do ambiente e inclusão social e cultural. Implica “um contexto de governação aberta e de conectividade com a economia global, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos”, diz.
passaram de uma fase inicial – como é exemplo a iniciativa PlanIT Valley, em Paredes. O clima de crise não ajuda. Os projectos movidos no espírito das “smart cities” ganham cada vez mais apoio do poder político, embora em Portugal esse desafio tenda a ser remetido para a iniciativa privada e a sociedade civil. Mesmo assim, em 2012, a Comissão Europeia anunciou um investimento de 365 milhões de euros para I&D em tecnologias capazes de transformar áreas urbanas em cidades e comunidades “inteligentes”. E perto de 970 milhões de euros deverão ser canalizados para financiar PMEs com actividade neste campo e noutros associados. Cinco conclusões a ter em conta Apesar da importância da I&D, é cada vez mais um ponto assente que muito se pode fazer com inovação sem ser de base tecnológica. O uso das TIC, embora seja um factor de sustentabilidade ambiental, por exemplo, também tem impactos nocivos neste campo (devido ao consumo energético). Esse consumo de energia em centros de dados, não obstante os esforços de optimização, é bastante relevante. Um levantamento da revista CIO (da IDG, grupo a que pertence o Computerworld) com especialistas de várias consultoras chega a cinco conclusões sobre as “smart cities”: 1 - Não tem tudo a ver com tecnologia “fixe”. Embora a definição do termo "smart city" ainda seja confusa, sugere a utilização de avanços tecnológicos na área dos transportes, das TIC, das infra-estruturas, sustenta-
SmartCities bilidade e governação para melhorar a qualidade de vida urbana. Mas as cidades “inteligentes” não precisam sempre da tecnologia mais sofisticada e mais recente. “Ser ‘inteligente’ tem a ver com a redefinição de processos e o envolvimento dos cidadãos", diz Jennifer Belissent, analista da Forrester Research. Por exemplo, a autoridade de gestão das águas no Dubai criou uma aplicação com a qual os cidadãos podem pagar as contas da água, energia eléctrica e utilização de esgotos. A IDC estima que a despesa mundial em soluções “inteligentes” para gestão da água ascenda a 1,8 mil milhões de dólares em 2013, por exemplo. Já a cidade de Vancouver (Canadá) criou o site Recollect.net onde é publicada a agenda de recolha de lixo reciclável e os alertas são enviados pelo Twitter, SMS ou mesmo por chamada telefónica. 2 – É preciso mais do que TIC. Muitos ónus das iniciativas “inteligentes” caem sobre os “ombros” das equipas de TIC. Mas estas devem partilhar a carga de trabalho e comunicar com os outros departamentos da administração das cidades. "Se os departamentos não conversarem entre si, vamos fazer buracos na mesma rua, cinco vezes" (para introduzir infra-estrutura), diz Jesse Berst, analista-chefe da Smart Grid News e presidente do Smart Cities Council. 3 – Os cidadãos devem ter uma palavra a dizer. Os cidadãos esperam poder obter informações sobre a administração pública nos seus PCs, smartphones e tablets, sempre que quiserem. As cidades terão de ser capazes de oferecer isso e de comunicar com o público usando as redes sociais. Segundo Berst, "não se pode simplesmente enviar relatórios em papel, uma vez por ano". A Forrester Research diz que 53% das organizações governamentais locais classificam as iniciativas de melhoria do acesso do cidadão às informações e serviços de admi-
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Índice Smart City - Resultados Integrados
Um estudo da Inteli avaliou as 25 cidades com projectos “inteligentes” de acordo com cinco parâmetros: grau de inovação, de sustentabilidade, de inclusão, de governação e de conectividade.
nistração pública como a sua principal prioridade. Os moradores também querem uma forma de manifestar a sua opinião. A cidade do Rio de Janeiro pediu aos cidadãos opiniões sobre a disponibilização de dados públicos e iniciativas associadas, baseadas em aplicações móveis – e obteve 1876 ideias. 4 – É mais barato trabalhar com fabricantes. As tecnologias para plataformas “inteligentes” produzem uma enxurrada de dados. Por isso, as cidades devem considerar a utilização de modelos como o Software as a Service (SaaS) e outras ofertas baseadas em cloud computing para reduzirem as cargas de trabalho e custos. Por exemplo, a cidade de South Bend, no Indiana (EUA), foi a primeira no mundo a gerir os seus sistemas de água em cloud computing, de acordo com a IBM, fornecedora de SaaS para essa cidade. O sistema reduziu em 23% as inundações
devido ao mau tempo e evitou 120 milhões de dólares em custos de infra-estrutura, segundo a IBM. 5 – As outras cidades são os termos de comparação. As cidades competem entre si para o desenvolvimento económico e pelo suporte dos fabricantes. Assim, é importante comparar métricas específicas de cidades (como as de congestionamento do tráfego) face a urbes de dimensão semelhante: para compreender os níveis de concorrência e determinar as áreas onde a intervenção é prioritária. "As cidades olham umas para outras e concorrem entre si", diz Belissent. "A concorrência é o factor impulsionador entre as cidades" na evolução para as “smart cities”, segundo a consultora Forrester. Cooperação é mais importante para Portugal Catarina Selada, directora de políticas e investigação da Inteli, concorda com a opinião Julho 2013 - COMPUTERWORLD
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SmartCities
de Belissent mas acrescenta-lhe alguns elementos de localização. “Em Portugal, e aparentemente de forma contraditória, a cooperação entre cidades afigura-se como essencial para a obtenção da massa crítica necessária à afirmação nacional e internacional”. A Inteli gere a rede de cidades portuguesas RENER – Living Lab para a Inovação Urbana. A ideia não é original tendo sido aplicada em Espanha, por exemplo, na sua Rede Espanhola de Cidades Inteligentes, com 40 cidades. A matriz portuguesa tem 25 cidades. O mesmo espírito deverá sustentar o desenvolvimento da Rede Smart Cities Portugal, a qual procura conjugar actividades de várias empresas e entidades para um objectivo nacional comum: tornar Portugal um fornecedor de tecnologias e soluções integradas para "smart cities". A iniciativa “pretende afirmar o país como espaço de desenvolvimento e experimentação de soluções urbanas inteligentes orientadas para o mercado internacional”, explica Selada. Segundo esta responsável, estimativas da Pike Research já deste ano apontam que o
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Catarina Selada
valor das receitas mundiais referentes a tecnologias para projectos de cidades inteligentes deve crescer dos 6,1 mil milhões de dólares de 2012 para 20,2 mil milhões de dólares em 2020. A taxa anual de crescimento será de 16,2%, segundo as projec-
ções Adoptando uma perspectiva mais abrangente, a Marketsandmarkets previu no ano passado que o mercado global das "smart cities" irá crescer até um bilião de dólares em 2016. Para o mercado português, Catarina Selada não tem números concretos. Mas a Inteli está “a trabalhar num sistema de informação sobre 'smart cities' que vai permitir calcular esses indicadores”, diz. Apesar da dinâmica do mercado mundial, a consultora Ovum considera que a sua evolução está a ser travada pela imaturidade das normas tecnológicas e pela rigidez das infra-estruturas, constituídas em silos. De outra perspectiva, as limitações aos investimentos e as decisões fragmentadas e politizadas são importantes entraves. Por isso, a Ovum considera que a modernização tecnológica das administrações públicas é um passo essencial para as cidades poderem responder aos desafios do crescimento demográfico, das mudanças climáticas ou da escassez de recursos – objectivos relevantes no quadro das cidades “inteligentes”.
Þ Como evitar as TIC de tipo “emplastro” Alguns aspectos do conceito de “smart city” devem ser questionados, nota o professor catedrático da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Eduardo Fernandes, num artigo de opinião na revista Imobiliária. Segundo o também presidente da Agência de Energia do Porto, as “cidades nunca poderão ser sustentáveis” dado que a “vocação delas é o processamento – dito consumo – dos recursos que nelas convergem porque é nelas que reside mais de 50% dos destinatários desses recursos à escala planetária”. Neste contexto, alerta que as TIC não resolvem os problemas de base decorrentes da arquitectura mal concebida das cidades. Ao Computerworld, o docente afirma que “as COMPUTERWORLD - Julho 2013
TIC deverão assegurar a continuidade/contiguidade nos serviços prestados pelos equipamentos/sistemas incluindo pelo ajustamento aos valores das variáveis envolvidas, previsíveis ou imprevisíveis em cada instante”. Contudo, citando Peter Suter, da École Polytechnique Fédérale de Lausanne e Zurique, refere que “não há sistema de informação por mais sofisticado que seja que torne bom um processo (edíficio, operação produtiva, cidade, etc.) mal concebido, desenhado, projectado e construído”. Na sua visão, é aqui que “surge a diferença entre a cultura, a ciência e a sageza, por um lado, e o modismo e a ‘gadgética’, por outro”. Mas como evitar que as TIC se transformem
em “gadgets”? “Evitar as TIC do tipo ‘emplastro’ requer conhecimento e sentido de responsabilidade”, responde. “Em Julho de 1992, em entrevista a um semanário, um arquitecto português interpelado sobre a relação da energia nos edifícios e a arquitetura respondeu - cito de memória - que não se preocupava com isso já que a ciência e a tecnologia tinham evoluído de tal maneira que estariam em condições para 'vir depois' da arquitectura e responder pelo desempenho energético”. Para Eduardo Fernandes, é uma ideia completamente errada, mas resulta em “prática comum na arquitectura e na construção em Portugal”.