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MEDICINA REGENERATIVA

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Células-tronco: Células da esperança

~]ij~()Junqueira DeI Carlo MÇdico Veterinário, CRMV/MG n° 1759, MSc,DSc., Professor Titular Departamen(ô de Veterinária IUFV, Diretor do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Unive($idadeFederal de Viçosa (UFV), MG, Bolsista Produtividade em Pesquisa CNPq. E-mail: rí[email protected]

A pesquisa com células-tronco está revelando o conhecimento sobre como um organismo se desenvolve a partir de uma única célula e como as células saudáveis substituem as danificadas em organismos adultos. Esta promissora área da ciência também está conduzindo à possibilidade de terapias celulares .para tratar doenças, o que é denominado como medicina regenerativa ou de reparo. A geração de um organismo pluricelular a partir da simples união dos gametas feminino (óvulo) e masculino (espermatozóide) sempre representou, no estudo da biologia, o maior fascínio e desafio à compreensão. Pelo processo sexuado de reprodução, todo ser vivo (animal ou vegetal) origina-se de uma única célula, a célula-ovo ou zigoto. Após a união do espermatozóide (menor célula do organismo) com o óvulo (a maior), em sucessivas divisões, por mitose, o zigoto forma o conjunto inicial de células (Figura 1) capazes de originar qualquer parte do organismo.

Imagem de um embrião se dividindo. Fonte: NIHlWeb/200S.

MANUTENÇÃO

.

DA VIDA

De uma geração para outra, a vida mantém-se permanentemente pela reprodução celular. No ser humano, em aproximadamente quatro dias após a fecundação do óvulo, as células resultantes da mitose começam a formar uma estrutura esférica, a blástula, que se apresenta ~m duas partes: a externa, que dará origem à placenta e a interna, que evolui para o embrião. Após a segunda semana, o processo de diferenciação celular se consolida, ou seja: grupos distintos de células vão adquirindo posições e funções biológicas com características próprias. Células com as mesmas funções 'básicas e idêntica morfologia reunem-se para a formação de um tecido específico. Mesmo com toda a sua complexidade, basicamente o organismo humano apresenta quatro tipos de tecido: epitelial, conjuntivo, muscular e nervoso, que não existem isoladamente, ao contrário, juntam-se uns aos outros, em proporções variáveis, para a constituição dos diversos órgãos e sistemas do corpo. As células-tronco têm duas características importantes que as distinguem de outros tipos celulares. Primeiro, elas são células não especializadas que se renovam por períodos longos, por meio de divisões celulares. Segundo, sob certas condições fisiológicas ou experimentais, elas podem ser induzidas a transformar-se em células com funções especiais (Figura 2), como as células do músculo cardíaco ou as células produtoras de insulina do pâncreas.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI- NQ35 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2005

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MEDICINA REGENERATIVA

tecidos humanos (menos a placenta e anexos embrionários); oligopotentes, as que conseguem diferenciar-se em poucos tecidos; e unipotentes, as que se diferenciam em um único tecido.

As células-tronco totipotentes e pluripotentes (ou multipotentes) só são encontradas nos embriões. As totipotentes são aquelas presentes nas primeiras fases da divisão, quando o embrião tem até 16- 32 células (até três ou quatro dias de vida). Já as pluripotentes ou multipotentes surgem quando o embrião atinge a fase de blastocisto (a partir de 32 -64 células, aproximadaJ?ente a começar do 5° dia de vida). As células internas do blastocisto são pluripotentes enquanto as células da membrana externa do blastocisto destinam-se a produzir a placenta e as membranas embrionárias. As células-tronco

Células-tronco embrionárias podem se transformar em qualquer célula do corpo humano. Fonte: NIH/Web/200S.

CLASSIFICAÇÃO DAS CÉLULAS-TRONCO As células-tronco são classificadas em totipotentes ou embrionárias (células-tronco precursoras) que conseguem se diferenciar em todas as 75 trilhões de células existentes nos diferentes tecidos que formam o corpo humano; pluripotentes ou multipotentes (alguns autores as classificam separadamente, Figuras 3 e 1) são aquelas que conseguem se diferenciar em quase todos os

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PROPRIEDADES DAS CÉLULAS-TRONCO

Células de tecido fetal, cordão umbilical ou célula-tronco adulta

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- Brasília/DF - Ano XI - NQ35

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Células Pluripotentes Revista CFMV

populações de celulas-tronco adultas promovem a renovação das célulàs que foram perdidas pelo desgaste natural, lesão, ferimento, ou doença.

outros tipos celulares do corpo. fudependentemente da fonte, possuem três.pro;: priedades: não são especializadas, são capazes de se dividir e de renovar-se por longos períodos e podem gerar tipos celulares especializados. Células-tronco não são especializadas. Uma das propriedades

adultas, que têm funções e características diferentes. Os métodos de obtenção de células-tronco de embriões de ratos

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volvimento dão origem a múltiplos tipos celulares especializados que formam coração, pulmão, pele e outros tecidos. Em alguns tecidos adultos, como a medula óssea, o músculo e o cérebro, discretas

As células-tronco são diferentes dos

unipotentes estão presentes no tecido cerebral adulto e na próstata, por exemplo. Pesquisadores trabalham primariamente com dois tipos de células-tronco derivadas de animais e humanos: células-tronco embrionárias e células-tronco

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Células-tronco são importantes para os organismos vivos por muitas razões. Em embriões de 3 a 5 dias (blastocistos) as células-tronco dos tecidos em desen-

oligopotentes ainda são objeto de pesquisas e encontram-se no trato intestinal. As

Células de blastocito de 5-14 dias

IEmbriãodeà dias I.

são conhecidos há mais de 20 anos. Em 1998 foi descoberto como isolar célulastronco de embriões humanos e como fazeIas crescer em laboratório. Estas são as chamadas células-tronco embrionárias humanas.

Células Multipotentes Maio/Junho/Julho/Agosto

de 2005

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MEDICINA REGENERATIVA fundamentais

de uma célula-tronco é

contato físico com as células vizinhas

guíneas tornando-se neurônios, celulas do fígado que podem produzir insulina, e células-tronco hematopoiéticas que podem gerar músculo cardíaco. A possibilidade de utilização das células-tronco adultas para terapias celulares transformou-se em uma área muito ativa de investigação.

que não tem nenhuma estrutura tecidoe por determinadas moléculas do microambiente. específica que permita que execute funções especializadas. Ela não pode partiAs células-tronco adultas geram cipar do bombeamento sanguíneo atra- tipos celulares do tecido em que resivés do corpo (como uma célula do mús- dem. Uma célula-tronco adulta que forculo cardíaco), não pode carregar molé- mará uma célula sanguínea na medula culas de oxigênio através da corrente san- óssea dá origem a vários tipos celulaguínea (como uma célula vermelha do res, como, por exemplo, células vermesangue), e não pode disparar sinais lhas do sangue, células brancas e eletroquímicos a outras células que per- plaquetas. Até recentemente, acreditamitam que o corpo se mova ou fale (como va-se que uma célula que dava origem uma célula nervosa). Entretanto, as célu- às células sanguíneas na medula óssea, hemalas-tronco não especializadas podem dar chamadas de células-tronco origem a células especializadas, incluindo .topoiéticas, não poderiam dar origem à células do músculo cardíaco, células do células de tecidos muito diferentes, tais como células nervosas no cérebro. Ensangue ou células nervosas. Células-tronco são capazes de se di- tretanto, pesquisas realizadas nos últimos vidir e de renovar-se por longos períoanos levantaram a possibilidade de que dos. Ao contrário das células musculares, as células-tronco de um tecido podem dar sanguíneas ou nervosas, que normalmen- origem a tipos celulares de tecidos comte não se replicam, as células-tronco po- pletamente diferentes, um fenômeno codem replicar muitas vezes. Quando as nhecido como plasticidade (Figura 5). células se replicam muitas vezes, este proExemplos dessa plasticidade: células sancesso é denominado

proliferação.

gerar milhões de células. Se as células re-

sultantes

continuarem

Em humanos, as células-tronco embrionárias são originadas de embriões de ovos fertilizados in vitro e doados para finalidades de pesquisa com o consentimento dos doadores. Não são derivados dos ovos fertilizados presentes no útero de uma mulher. Os embriões dos

quais as células-troncoembrionárias humanas são derivadas possuem tipicamente quatro ou cinco dias (blastocisto), e possuem três estruturas: o trofoblasto, que é a camada de células que cerca o blastocisto; a blastocele, que é a cavi-

Uma

poI2-u!açãoinicial de células-tronco que proliféra por vários meses em laboratório pode .

CÉLULAS-TRONCO EMBRIONÁRIAS

a ser não

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especializadas, como as células-mãe, pode-

se dizer que estas células são capazes de auto renovaçãoa longoprazo. Células-tronco podem dar origem a células especializadas. Quando célulastronco não especializadas dão origem a células especializadas, este processo é chamado diferenciação. Os sinais celulares internos e externos que disparam a diferenciação celular estão começando a ser elucidados. Os sinais internos são controlados pelos genes da célula, que estão contidos em longas cadeias de DNA, e carregam instruções codificadas para todas as estruturas e funções da célula. Os sinais externos para a diferenciação celular incluem os sinais químicos secretados por outras células, pelo

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Plasticidade de células-tronco. Células cultivadas em laboratório não estão restritas a uma única via de diferenciação. Por exemplo, células-tronco do sistema nervoso central formam os diferentes tipos celulares do cérebro, mas podem também se diferenciar em células-tronco hematopoiéticas. As células-tronco sanguíneas originam os diferentes tipos celulares encontrados no sangue, mas podem também se diferenciar em células-tronco do músculo esquelético e células do sistema nervoso central. Células-tronco embrionárias (célula ES) são pluripotentes e participam da formação de todos os tecidos dos mamíferos, como fígado e pâncreas, por exemplo. Fonte: Mckay, R. (2000).

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI - NQ35 Maio/Junho/Julho/ Agosto de 2005

MEDICINA REGENERATIVA

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Blastocisto de rato com 5 dins de idade. Camada interna de células indicada pela seta. Fonte: N/H/web/2005.

dade oca dentro do blastocisto, e a mas-

contrário das células-tronco embrioná-

trabalhos, a maioria dos cientistas acre-

rias, que são definidas pela sua origem, as células-tronco adultas são de origem desconhecida.

ditava que as células nervosas não podiam ser geradas no cérebro do adulto. Apenas nos anos 90 concordaram que o cérebro adulto contém células-tronco

Nos anos 60, pesquisadores descobriram que a medula óssea contém pelo menos dois tipos de células-tronco. Uma população, chamada células-tronco hematopoiéticas, forma todos os tipos de célula sangüínea do corpo. Uma segunda população, chamada de células do estroma da medula óssea, foi descoberta alguns anos mais tarde e geram osso (Figura 8), cartilagem, gordura e o tecido conjuntivo fibroso.

sa interna da célula (Figura 6), que é um grupo de aproximadamente 30 células em uma extremidade da blastocele.

e que são capazes de gerar os astrócitos e os oligodendrócitos, que são células não-neurais e neurônios (Figura 9).

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CÉLULAS-TRONCO ADULTAS Célula-tronco adulta é uma célula indiferenciada encontrada entre as células diferenciadas de um tecido ou órgão. Seu papel em um organismo vivo é manter e reparar o tecido em que se encontram. Atualmente, o termo célulastronco adultasvem sendosubstituídopor células-tronco somáticas (Figura 7)~Ao

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Regeneração óssea após expansão ex vivo de células-tronco derivadas da medula e utilização de partículas de hidroxiapatita/ fosfato tricálcico como veículo. O composto pode ser transplantado a um defeito ósseo segmentar e subseqüentemente regenerar in vivo. Fonte: Bianco e Robey (2001).

Célula-tronco multipotente da medula óssea precursora de vários tipos de células sangüíneas. Fonte: MacLaren, A. (2001).

Neurônios dopaminérgicos derivados de células somáticas do cérebro de camundongos. Fonte: MacLaren, A. (2001).

Também nos anos 60, cientistas que estudavam ratos descobriram duas regiões do cérebro que continham células em divisão, capazes de transformaremse em células nervosas. Apesar destes

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI - NQ35 Maio/Junho/Julho/Agostode 2005

ORIGEM E FUNÇÃO DAS CÉLULAS-TRONCO ADULTAS Células-tronco adultas têm sido identificadas em muitos órgãos e tecidos. Entretanto, há um número muito pequeno delas em cada tecido. Acredita-se que residam em área específica de cada tecido onde podem permanecer sem se dividir por muitos anos até que sejam ativadas por uma doença ou por lesão. Os tecidos onde fora~ encontrados indícios de existência de células-tronco adultas incluem o cérebro, a medula óssea, o sangue periférico, os vasos sangüíneos, o músculo esquelético, a pele e o fígado.

MEDICINA REGENERATIVA

Onde as células -tronco podem ser encontradas? Embriões recém-fecundados(blas-

tocistos) criados por fertilização in vitro

Vantagens do uso das Células Totipotentes Embrionárias x Células Multipotentes Adultas

aqueles que não serão utilizados no tratamento de infertilidade ("embriões disponíveis") ou desenvolvidos

Obtenção de um número maior de tipos celulares do que no uso da célula-tronco adulta.

especificamente

Maior abundância em relação à célula-tronco facilidade de isolamento.

para pesquisa.

Embriões recém.fecundados criados por insarção do núcleo celular de uma célula adulta em um óvulo que teve seu núcleo removido (reposição do núcleo celular, "clonagem").

Maior facilidade no controle do crescimento e da diferenciação em comparação com a célula-tronco adulta.

Possibilidade de utilização do conhecimento pluripotentes embrionárias de animais.

adulta e, conseqüentemente,

advindo da experimentação

Pesquisas com células pluripotentes embrionárias das técnicas com células-tronco adultas.

maior

com células

podem acelerar o desenvolvimento

Células germinativas ou órgãos de fetos abortados. tecidos maduros e os métodos para exCélulas sangüíneas do cordão pandir seu número em cultura não alumbilical no momento do nascimento. . Alguns tecidos adultos (comomedula cançam muito sucesso. Esta é uma dióssea). ferença importante, pois, é necessário Células maduras de tecido adulto grande número de células nas.,terapias reprogramadas para ter comportade reposição. mentode célula-tronco.

mitidas em todos os países. Essas células além de ser obtidas a partir de embriões excedentes descartados em clínicas de fertilização, por não oferecerem qualidade para implantação ou terem sido congelados por muito Uma vantagem ao usar célulastempo (Figura 10), também podem ser ---tronco adultas é que células próprias obtidas pela técnica de donagem teraSEMELHANÇAS E poderiamser expandidasem culturae pêutica. DIFERENÇAS ENTRE então introduzidas novamenteno paA terapia celular objetiva tratar doCÉLULAS-TRONCO ciente. As células não sofreriam re- enças e lesões por meio da substituiEMBRIONÁRIAS jeição pelo sistema imune, que é um ção de tecidos doentes por células E ADULTAS problema a ser contornado com dro- saudáveis. Por exemplo, o transplangas lmunossupressoras. te de medula óssea em pacientes porTanto as células-tronco embrionáritadores de leucemia. A medula óssea CÉLULAS- TRONCO do doador contém células-tronco as quanto as adultaspossuem vantagens DE EMBRiÕES e desvantagens em relação ao potencial sangüíneas que vão diferenciar-se em de uso em terapias celulares novas células sangüíneas sadias. regenerativas.Naturalmente, as célulasAs pesquisas com células-tronco Os cientistas apontam para a hipótetronco adultas e embrionárias diferem embrionárias humanas não são per- se de que a terapia com célula-tronco em número e tipo de células diferenciadas em que podem se tomar. As céfatores de lulas-tronco embrionárias podem transdiferenciação formar-se em todos os tipos celulares do corpo porque são pluripotentes. As células-troncoadultassão geralmentelimitadas para diferenciar-se em tipos diferentes de células de seu tecido de origem. Entretanto, evidências sugerem 1. ovo ferti Iizado ín vítro. 2. estágio de blastocisto (5-7 dias idade). que existe plasticidade nas células-tron3. massa interna de células-tronco co adultas, aumentando o número de tiremovidas. 4. células tronco indiferenciadas cultivadas. pos celulares que uma delas pode se 5. células especializadas: transformar. a. células sanguineas. b. células neurais. Células-tronco embrionárias podem c. células musculares. crescer facilmente em cultura, enquanto células-tronco adultas são raras nos Cultivo de célula-tronco embrionária. Fonte: Bianco e Robey (2001). Revista CFMV - Brasília/DF -Ano XI- NQ35 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2005

MEDICINAREGENERATIVA possa, em algum ponto no futuro, transformar-se na base para o tratamento de doenças como Mal de Parkinson, diabetes e cardiopatias, dentre outras.

na transferência de núcleos para fins terapêuticos as células são multiplicadas em laboratório, para formar tecidos. Enquanto a clonagem reprodutiva requer a inserção em um útero. A clonagem reprodutiva humana, condenada pelos cientistas, consiste em técnica mediante a qual se pretende fazer cópia de uma pessoa. Nela, faz-se a transferência do núcleo de uma célula, que pode ser de um adulto ou de um embrião, para um óvulo sem núcleo. Se o óvulo com esse novo núcleo começasse a se dividir,fosse transferido para um útero humano e se desenvolvesse, ter-se-iauma cópia do indivíduodo qual foi retirado o núcleo da célula.

Principais interesses no uso das Células-Tronco I I

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I CQl1Jopopulações puras de células específipss diferenciadas respondem a nov()sprodutos.

Transferência nuclear de célula somática. Um núcleo de célula adulta é injetado (direita) em um ovo de camundongo (acima, centro) que teve seu material genético removido. O ovo é,então estimulado a se desenvolver em um embrião do qual as células-tronco podem ser derivadas em cultura. Se as células-tronco foram originadas desta maneira, usando o núcleo de um paciente, o risco de rejeição do transplante pode ser minimizado. FiJnte: MACLAREN, A. (2001).

CLONAGEM - UM ASSUNTO POLÊMICO

Terapia. gênica: as células-tronco I poderi~lrT1serusadas como vetores I para entrega de genes. Exemplo: I I célulao;t[(:1°rOhematopoiética modifi' cada~eneticamente tornando-se I I resistente aO~IV. I CLONAGEM TERAPÊUTICA Produção de linhagens celulares especificaS para transplantaçijo:

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Toda nova tecnologia gera polêmicas (Figura 13). Os argumentos dos que se opõem à clonagem terapêutica são no sentido de que ela poderia abrir caminho para a c10nagem reprodutiva e, com isso, gerar o comérCio de óvulos e embriões. Entretanto, em se tratando de c1onagem, existe um obstáculo intransponível, que é

VERSUS CLONAGEM REPRODUTIVA

tronco pluripotente para produção

de populaçõespuras e saudáveis I

I

delipos celulares a serem usados para reparar tecidos doentes ou

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lesados.

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---

A clonagem terapêutica, muitas vezes confundida com terapia celular, consiste na transferência do núcleo de uma célula para um óvulo sem núcleo (Figura 11). A grande vantagem é que, ao transferir o núcleo de uma célula de uma pessoa para um óvulo sem núcleo, esse novo óvulo (ao dividir-se) gera, em laboratório, células potencialmente capazes de produzir qualquer tecido. A clonagem terapêutica evita a rejeição se o doador for o próprio indivíduo. É o caso de reconstituir a medula de um paciente que se tornou paraplégico, ou substituir o tecido cardíaco de um órgão enfartado (Figura 12).

A diferença fundamental entre os dois procedimentos consiste em que

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Células-Tronco

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Tecldos/C.élulas para Terapia

Neurônlos O potencial da clonagem terapêutica

Revista CFMV - Brasília/DF - An9 XI- NQ35 Maio/Junho/Julho/Agostode 2005

Células do Músculo Cardiaco

Células do Pâncreas

MEDICINA REGENERATIVA

Aspectos éticos do uso das células-tronco embrionárias humanas

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Células-tronco embrionárias humanas, pluripotentes, são capazes de gerar qualquer tipo celular do organismo, excetoa célula da placenta. Sabe-se que 90% dos embriões gerados em clínicas de fertilização e que são inseridos em um útero, em condições

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Clonagem reprodutiva veterinária. Fonte: NIH/web/200S.

PESQUISAS NA UFV

o útero. Basta proibir, para coibir qualquer possibilidade nessa direção, a transferência para o útero de embriões produzidos por c10nagem terapêutica. Quanto ao comércio de óvulos ou embriões, trata-se damesma situação que ocorre hoje em relação ao de órgãos. Qualquer nova tecnologia traz, em seu bojo, riscos e benefícios.

A ÉTICACOM O USO DE ANIMAIS Termos como quimera ou híbrido são amplamente usados em biologia experimental e a idéia possui alta tradição cultural. A palavra "quimera" representa uma besta mística, uma combinação de leão,'ovelha e serpente (Figura 14). Influências culturais sugerem que a mistura de duas categorias de animais simboliza o demônio. Esta conotação, provavel~ mente, tem impactado negativamente a percepção da combinação interespécies. Apesar disto, a produção de quimeras em biologia tem ocorrido por anos. Pesquisadores em medicina hu-

ideais, não geram vida. Embriões de má qualidade, que não tem potencial de gerar vida, mantêm a capacidade de gerar linhagens de células-tronco embrionárias e, portanto, de gerar tecidos. A certeza de que células tronco embrionárias humanas podem produzir células e órgãos que são geneticamente idênticos I ao paciente ampliaria a lista de pacientes elegíveis para tal terapia. É ético deixar um paciente afetado por uma doença letal morrer para preservar um embrião cujo destino é o lixo?

Quimera representando uma combinação humano/não humano. Fonte: Karpowicz, P. (2004).

mana tem proposto os limites para os experimentos com quimeras. Cabe aos comitês de ética veterinária estabelecerem os limites que permitam a manutenção do respeito e da dignidade dos animais utilizados em pesquisa. Deve-se primar pela utilização criteriosa de animais, inclusive com maior vigilância e transparência.

Pesquisadores do programa de pósgraduação em Medicina Veterinária da Universidade Federal de Viçosa, integrantes da equipe coordenada pelo professor Ricardo Junqueira DeI Cado, estão utilizando células-tronco adultas, coletadas na medula óssea (Figura 15), na reparação de falhas ósseas (Figura 16), na consolidação difícil e no desenvolvimento de artrodeses vertebrais (Figuras 17e 18), tanto em trabalhos experimentais quanto na rotina cirúrgica. Atualmente, pesquisas vem sendo conduzi das associando as célulastronco da medula óssea a proteína óssea morfogenética (BMP) e a aloenxertos corticais e, analisando a viabilidade de condrócitos cultivados, in vitro, implantados em falhas osteocondrais.

CONSIDERAÇÕES

FINAIS

Após a aprovação do Projeto de Lei de Biossegurança pelo Senado Nacional, liberando o uso de embriões huT

Revista CFMV - Brasília/DF

-Ano XI - NQ35

Maio/Junho/Julho/

Agosto de 2005

MEDICINA REGENERATIVA

A e B: Aspectos anatômicos para coleta. C: Coleta de medula óssea na crista ilíaca direita de cão. Fonte: Dei Carlo, R.]. et ai. (2004).

Auto-enxerto

de crista ilíaca associado

à medula óssea autógena fresca na união vertebral dorsolaterallombar em coelhos. Aspectos radiográficos da área de enxertia às nove semanas' de pósoperatório (união óssea bilateral). Fonte: Silva, A.S.A. et ai. (2005).

Aspecto daformação óssea direta (setas), uma.semana após aplicação percutânea de medula óssea autógena, em falha óssea experimental no rádio de coelho. A: medula óssea integral e B: medula óssea concentrada. Fonte: Barros, S. v.G et ai. (2001).

manos para a extração de célulastronco embrionárias, foi gerada enorme expectativa na população, que se pergunta: após a aprovação, quantos pacientes sairão das filas de transplantes? Na verdade, nenhum hoje, e mesmo nos próximos anos, mas provavelmente muitos a longo prazo. Entretanto, a lei deve ser clara para evitar a utilização dessas células sem a seriedade necessáiia. Mais do que uma questão científica, religiosa ou política, essa é uma questão filosófica. É óbvio que os cientistas dos diversos países que realizam pesquisas com blastocistos não acreditam que estão destruindo vidas, pois seu objetivo é justamente salvar vidas. Ao lado dessa discussão filosófica, focando o aspecto científico, a possibilidade de pesquisa e uso clínico

das células-tronco

embrionárias

a

partir do blastocisto, pode ser a única chance de salvar a vida de inúmeros pacientes que sofrem de doenças incuráveis e que têm nessas pesquisas a única esperança de sobrevida. Sendo assim, é importante que seja debatida a possibilidade do uso dessas células do ponto de vista ético e clinicamente eficaz. O destino a ser dado às células-tronco embrionárias, qu pré-embriões congelados, deve ser discutido. Além disso, deve ser considerada a possibilidade da utilização dessas células no desenvolvimento de pesquisas que possam vir a ajudar no tratamento de diferentes enfermidades. Só através da discussão e conscientização da comunidade poderemos constituir uma sociedade

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI - NQ35 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2005

Matriz óssea homóloga desmineralizada associada à medula óssea autógena fresca na artrodese vertebral dorsolateral lombar em coelhos. Aspecto radiográfico às nove semanas após a cirurgia: artrodese bilateral. Fonte: Rizzo, D. etai (2005).

MEDICINA REGENERATIVA

onde a ética e a ciência possam caminhar na mesma direção para a construção de um futuro melhor. A pluripotencialidadedas células-tronco adultas colocaa questãodo uso medicinal dessas células em bases totalmente novas. São eliminadas não só as questõesético-religiosasenvolvidasno emprego das células-troncoembrionárias,mas também os problemas de rejeição imunológica,jáquecélulas-troncodopróprio paciente adulto podem ser usadas para regenerar seus tecidosou órgãos lesados.Toma aindapossívelimaginarque um dia não haverá mais filas para os transplantesde órgãos,nem famíliasaflitas em busca de doadores compatíveis. Em breve, em vez de transplantes de órgãos, os hospitais farão transplantes de célulasretiradasdoprópriopaciente.Não há dúvida de que a terapia com célulastronco será a medicina do futuro.

Glossário ICélula-tronco: célula com a capaCidade ,de divisão por período indefinido em cultura e origina células espeCializadas. Célula-tronco embrionária (totipo'tente): célula primitiva (indiferenciada) de embrião que tem potencial para se tornar uma variedade de tipos celulares lespecializados. Célula-tronco adulta (multipotente): célula indiferenCiada encontrada em um tecido diferenCiado que pode renovar-se e (com certa limitação) diferenCiar-se para produzir o tipo de célula especializada do tipo do qual se origina. P Ias ti cidade/tra nsdiferenciação: capaCidade da célula-tronco de um teCido adulto gerar tipos celulares diferenCiados I

de outrostecidos.

. Proliferação: células com capaCidade de dividir (replicar) e renovar-se por longos períodos. Diferenciação: processo por meio do qual uma célula embrionária nãoespeCializada adquire características de ,célula especializada, tais como as do coração, fígado emúsculos. Sinais: fatores internos e externos que controlam modificações na estrutura e função da célula.

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Questões a serem respondidas Quantos são os tipos de células-tronco adultase em quaisJecidoselas existem? Quais são as fontes de células-tronco adultas no corpo? Elas são "sobras" de células-tronco embrionárias ou se originam de algum Ol!tro caminho? Porque permanecem em estado indiferenciado quando todélsascélulas ao seu redor estão diferenciadas? As células-tronco adultas normalmente exibem plasticidade ou somente se transdiferenciam quando manipulada!! experimentalmente? O que são os sinais

que regulam a proliferação e diferenciação da células-tronco que demonstramplasticidade? É possível maqipular células-tronGo adultas para ampliarsua proliferaçãoat~ que um tecidopara transplantepossa ser produzido? Existe um tipo de célula-tronco único, possivelmente na medula óssea ounp sangue circulante, que pode gerarél~ célulasde algumórgãooutecido? O que são os fatores que estimll.lâffi células-tronco a moverem-se P€i~a diferenteslocaisde lesão?

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XI - NQ35 Maio/Junho/Julho/Agosto de 2005