julho2011
Jornal Unesp
Ciências biológicas
Célula-tronco trata lesão em cavalo Terapia pioneira criada em Botucatu obteve sucesso no combate à tendinite em animais de corrida Um estudo da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ), Câmpus de Botucatu, propõe uma terapia mais eficiente para lesões no tendão flexor de cavalos de corrida. O procedimento utiliza células-tronco mesenquimais, que podem se “transformar” em outros tecidos do organismo. Tendões são tecidos fibrosos que fixam os músculos aos ossos. As células-tronco mesenquimais podem ser encontradas na medula óssea, no sangue das veias periféricas, no sangue do cordão umbilical, no próprio cordão e, ainda, no tecido adiposo, ou seja, no reservatório de gordura dos animais – opção empregada no estudo. O experimento foi o primeiro do mundo a utilizar células-tronco mesenquimais cultivadas em laboratório e extraídas do tecido adiposo para tratar tendinite em cavalos. Embora a medula seja a principal fonte dessas células, elas estão mais concentradas na camada de gordura do corpo. “Outra vantagem desse método é que evitamos a punção medular, um procedimento invasivo que requer treinamento prévio do médico veterinário para a correta execução”, explica o autor do estudo, Armando
Mattos Carvalho, que cursa doutorado na FMVZ. Sob a orientação de Ana Liz Garcia Alves, professora da FMVZ, o experimento começou em 2007, no mestrado de Carvalho. Em 2009, o trabalho foi publicado na revista Veterinary Immunology and Immunopathology. Este ano, mais uma etapa do estudo foi publicada no Journal of Equine Veterinary Science, com a apresentação dos resultados do tratamento, que tornou as fibras do tendão lesionado mais paralelas. “Isso significa que o tecido ficou mais organizado, mais parecido com um tendão saudável”, afirma Carvalho. Sem reincidências – O estudo selecionou oito cavalos saudáveis com idade entre 2 e 3 anos e meio. Todos receberam uma injeção de colagenase no tendão flexor de ambos os membros torácicos. A colagenase é uma enzima que digere o colágeno no tecido tendíneo, provocando uma inflamação semelhante à tendinite causada naturalmente. Na fase inicial, os equinos receberam analgésicos para aliviar a dor. A terapia tradicional consiste em repouso completo do animal nos primeiros quinze dias, com uso de
anti-inflamatórios e gelo. Quando a inflamação diminui, o cavalo é confinado em baia e passa por sessões diárias de fisioterapia. A intensidade dos exercícios aumenta de acordo com a melhora da lesão. Esse processo leva em torno de seis meses, o que é muito oneroso para o proprietário do animal. Além de acelerar a recuperação, a nova técnica diminui a reincidência da tendinite. Cultivo em laboratório – A opção em estudo envolve inicialmente uma pequena cirurgia na região do glúteo do cavalo que extrai um pedaço de tecido adiposo. Essa camada de gordura é levada ao laboratório para a realização da digestão enzimática, isto é, a quebra das substâncias em moléculas menores. Em seguida, os cientistas obtêm a fração vascular estromal, uma população celular heterogênea que inclui as células-tronco mesenquimais. Para isolá-las das outras células, os pesquisadores usam uma placa de cultura de plástico específica. Após 48 horas de cultivo, é feita a troca do meio de cultura, desprezando os demais tipos celulares. Em uma semana, renovando o meio de cultivo pelo menos três vezes, já é
possível obter a quantidade necessária para a terapia, cerca de 10 milhões de células-tronco. Aprimoramento – No primeiro semestre, o estudioso realizou dois estágios no exterior para aperfeiçoar a técnica de cultivo, marcação e diferenciação celular – um na Universidade de Guelph, no Canadá; e outro na Universidade Cornell, em Ithaca, nos EUA. Sua orientadora também está buscando aperfeiçoar a terapia, num pós-doutorado na Faculdade Real de Veterinária, na Inglaterra. Os experimentos serão retomados a partir de julho. Neles, Carvalho usará uma associação das célulastronco mesenquimais com o plasma rico em plaquetas (PRP), uma substância ainda em estudo para tratamentos ortopédicos. Por meio de biópsias, o cientista pretende comparar características dos tendões de animais saudáveis, dos tendões tratados com a associação terapêutica e daqueles que apresentam a lesão, mas sem nenhum tipo de tratamento. “Nossa expectativa é que o grupo tratado apresente expressão gênica mais semelhante ao saudável do que o grupo dos sem terapia”, comenta. Cínthia Leone Divulgação
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Processo retira camada de gordura do animal, na qual as células-tronco são isoladas e cultivadas (1), até se obter uma quantidade suficiente, que depois é injetada no tendão (2)