A EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO: UM ESTUDO DE CASO

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Mestrado em Educação Revista Profissão Docente UNIUBE – Universidade de Uberaba ISSN:1519-0919 www.uniube.br/propep/mestrado/revista/

A EVASÃO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO: UM ESTUDO DE CASO

THE SCHOOL DROPOUT IN HIGH SCHOOL: A CASE STUDY

BATISTA, Santos Dias Licenciado em Geografia, Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC - Ilhéus-Bahia. [email protected] SOUZA, Alexsandra Matos Licenciado em Geografia, Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC - Ilhéus-Bahia. [email protected] OLIVEIRA, Júlia Maria da Silva Doutora em Educação pela Université de Montréal, Montréal - Quebec, Canadá. Professora Adjunta do Departamento de Ciências da Educação, Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, Ilhéus, Bahia. [email protected]

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RESUMO O objetivo deste estudo foi analisar, descrever e compreender, a partir da percepção dos discentes e docentes, o fenômeno da evasão escolar. Optamos por uma abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Os participantes da pesquisa foram 25 alunos do 1° ano do Ensino Médio, do turno noturno e 10 docentes que ministraram aulas nessas classes, no Colégio Estadual de Ilhéus. Empregamos como instrumento para coleta dos dados, a entrevista semi-estruturada. Verificamos que apesar dos importantes avanços e conquistas materializados na educação básica, o problema da evasão escolar persiste entre os jovens e adultos que estão no ensino médio, sobretudo no espaço pesquisado. Esse problema têm causas distintas e diversificadas, no entanto os participantes dessa pesquisa enfatizaram as condições socioeconômicas como um dos principais fatores que os conduziram a abandonarem a escola. Concluímos que a escola continua distante de responder aos anseios dos jovens e adultos que a buscam, bem como o Estado não efetiva políticas públicas eficazes que possam garantir melhores condições de trabalho para os docentes que nela atuam. Palavras-Chave: Educação. Ensino médio. Evasão escolar.

ABSTRACT The aim of this study was to analyze, describe and understand, from the perception of students and teachers, the phenomenon of dropout. We chose a qualitative approach, the type of case study. Participants were 25 students of the 1st year of high school, the night turn and 10 teachers who teach these classes in state college of Ilheus. We put as a tool for data collection, the semi-structured. We found that despite important advances and achievements materialize in basic education, the problem of dropout persists among young people and adults who are in school, especially in the area searched. This problem has different causes and diversified, however the participants of this study emphasize the socio-economic conditions as one of the main factors leading to dropping out of school. We conclude that the school is still far from responding to the wishes of those who seek it, and the state doesn’t effective public policies that can ensure better working conditions for teachers who work in it. Key Words: Education. High school. School dropout.

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1. INTRODUÇÃO A evasão escolar é um problema que vem sendo discutido por diversos pesquisadores e educadores há muito tempo. Porém, essa é uma questão que está longe de ser resolvida e os índices de abandono da escola têm aumentado a cada ano, bem como as altas taxas de reprovação que juntos caracterizam o fracasso escolar. São muitos os motivos que conduzem o estudante a abandonar seus estudos. Dentre eles, destacam-se os fatores internos, associados ao desenvolvimento psíquico do aluno, bem como os fatores externos de natureza socioeconômica. Muitas vezes, jovens vêem-se obrigados a optar por trabalhar em lugar de estudar, devido à necessidade de contribuir para o sustento da família. Além disso, o modelo de escola da atualidade, já não desperta o interesse do aluno. Lara (2003) corrobora essa análise, ao afirmar que o fenômeno da evasão escolar associado ao fato da escola estar pouco preocupada em possibilitar aos alunos e professores a experiência do acontecer das idéias, na sua produção, em consonância aos desafios concretos da vida, contribui conseqüentemente ao abandono da escola, caminho que parece mais certo. A complexidade que esse tema suscita nos instigou a desenvolver nosso Trabalho de Conclusão do Curso, na Licenciatura em Geografia. Pretendemos analisar e compreender a evasão escolar, a partir da percepção dos alunos e professores, nas turmas do 1º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual de Ilhéus/Bahia. 2. REVISÃO DE LITERATURA A Constituição Federal de 1988, em seu art. 205, diz que a educação é um direito de todos e dever do Estado e da família, assim como estabelece os princípios de igualdade de condições para acesso e permanência na escola (art. 206, inciso I). Esse direito é ratificado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/1996, a qual apresenta a organização do sistema educacional brasileiro. A despeito do direito assegurado na CF de 1988, a realidade da educação brasileira é permeada por problemas seculares, ainda não resolvidos na atualidade. Esses problemas dizem respeito àqueles que foram configurados como fracasso escolar, isto é, a repetência e a evasão escolar.

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O problema da evasão escolar, objeto do nosso estudo, pressupõe uma análise contextual que possa ser suscitada em sua estrutura enquanto produção social, singular e na instituição escolar. 2.1 Fracasso escolar: repetência e a evasão escolar O fracasso escolar, segundo Snyders (2005), é o fracasso escolar da política vigente. Esse autor considera que a abertura política proporcionou ao campo educacional brasileiro, uma abordagem que privilegiou a construção de uma sociedade democrática e esta, por sua vez, superaria as relações sociais capitalistas. Entretanto, a escola parece ter recebido como função, posta por uma sociedade capitalista, a qual apresenta na sua estrutura, uma ideologia de desigualdade: a de reclassificar os alunos de diferentes classes sociais, tendo como critério suas motivações e potencialidades inatas. Essa função não é explicitada, porém ao discutir o fenômeno do fracasso escolar, uma das primeiras explicações que surge, está relacionada à origem social do educando. É inegável o processo de democratização do sistema educacional brasileiro. Assim, as pessoas menos favorecidas financeiramente estão tendo mais acesso à escola por meio do aumento do número de matriculas nas unidades de ensino. Entretanto, cabe considerar que somente o acesso não garante ao aluno êxito na continuidade de seus estudos. Segundo Connel (1999) jovens, vindos de famílias pobres, são, em geral, os que têm menos êxito se avaliados através dos procedimentos convencionais de medidas. Isto porque, perde-se a função da escola no que tange à responsabilidade de transmitir o saber, associado às trocas de experiências entre os sujeitos envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Nesse sentido, a escola necessita inovar e adotar como subsídio à proposta pedagógica e curricular, a troca múltipla de experiências num processo criativo e isso, por conseguinte, poderá nortear as experiências por meio mútuo dos conhecimentos compartilhados. Nesse sentido, acompanhar o aluno em todo o seu aprendizado, enquanto sujeito individual e social ainda constitui uma prática válida no sistema educacional. Assim, todo o saber – fomentado em sala de aula e na troca de experiência entre educando x educador, passa a ser relevante no tocante à construção de um modelo de ensino-aprendizagem (CASTRO, 2006).

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Gagné (1974, p.55) em seu texto sobre como realizar a aprendizagem, afirma que “a experiência é o maior dos mestres”. Dessa forma, não se pode adotar a postura do “fazer de conta” no que tange ao conhecimento, bem como não se pode desprezar as experiências do aluno, sejam elas empíricas ou cognitivas, uma vez que estas já fazem parte do seu contexto social, até porque o sujeito se encontra em constante formação e desenvolvimento psíquico. Esse processo abarca em sua dimensão geográfica, um olhar crítico e reflexivo acerca dos fenômenos, fatos e processos sociais que têm desencadeado diversas leituras de mundo. É a partir desse olhar aguçado que o indivíduo constrói os seus próprios conceitos acerca da complexidade que é a convivência entre seres em formação. Segundo Cortella (2006) a educação, como direito objetivo de cidadania, fortalece a percepção de que, no momento em que as classes trabalhadoras passam a freqüentar mais amiúde os bancos escolares, os paradigmas pedagógicos, em execução, passam a ser insuficientes para dar conta plenamente desse direito social e democrático. O abandono à escola é composto então pela conjugação de várias dimensões que interagem e se conflitam no interior dessa problemática. Dimensões estas de ordem política, econômica, cultural e de caráter social. Dessa maneira, o abandono escolar não pode ser compreendido, analisado de forma isolada. Isto porque, as dimensões socioeconômicas, culturais, educacionais, históricas e sociais entre outras, influenciam na decisão tomada pela pessoa em abandonar a escola. Neves (2007) aponta que esse problema continua sendo visto como um fato isolado e psicológico, ou seja, como conseqüência de um problema individual próprio da criança ou do jovem que fracassa. No entanto, de acordo com o autor, a explicação de que a evasão escolar e a repetência são causadas por problemas individuais, não consegue esclarecer porque isso continua acontecendo em grande escala com um número significativo de jovens oriundos de classes menos favorecidas economicamente. Nesse mesmo sentido de idéias, Melo (1987) assinala como fato amplamente reconhecido que as crianças e os jovens pobres são as que mais repetem e abandonam a escola. Em oposição a essa população, há outros grupos sociais para os quais: cursar o ensino médio é algo tão natural quanto comer, tomar banho etc. E, muitas vezes, sua motivação está bastante associada à possibilidade de recompensa (seja por parte dos pais ou pelo ingresso na universidade). A questão está naquele grupo social para o qual o ensino médio não faz parte Revista Profissão Docente, Uberaba, v.9, n.19, 2009

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5 nem de seu capital cultural nem de sua experiência familiar e, por isso, o jovem desse grupo, geralmente não é cobrado para continuar estudando. É aí que está o desafio de criar a motivação pela escola (KRAWCZYK, 2009, p. 9).

O desafio de possibilitar aos jovens, aos adultos a aquisição dos instrumentos necessários e possíveis, que lhes permitam romper com o ciclo de pobreza no qual estão inseridos. Instrumentos estes que poderão lhes possibilitar participarem de forma ativa, enquanto atores sociais, protagonistas e cidadãos, dos bens culturais e econômicos produzidos pela e na sociedade. 2.2 (Des) caminhos do ensino médio No Brasil, muitos jovens e crianças abandonam a escolar para ingressarem no mercado de trabalho. Para estas pessoas a prioridade não é a educação, mas a própria sobrevivência. Isto está legitimamente posto, pois, sabe-se que o Brasil é um dos países mais perversos em distribuição de renda do continente – os 10% mais ricos concentram mais da metade da renda nacional (PLANO DECENAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1993, p. 20). Muitos obstáculos persistem, os quais são produtos dessa situação, sejam: A heterogeneidade e a rigidez das estruturas econômicas; a concentração do progresso técnico e da riqueza acumulada; os elevados índices de desigualdade regional e social de renda; um mercado interno relativamente limitado em face de seu porte demográfico (PLANO DECENAL DE EDUCAÇÃO PARA TODOS, 1993, p. 20).

Tal situação levou o Brasil a desenvolver diversas estratégias com a finalidade de enfrentar, mesmo que de forma paliativa, os problemas que emergem do setor educacional. Sabe-se que a ampliação das matrículas no ensino fundamental, sobretudo, é algo concreto, entretanto políticas públicas efetivas que possibilitem a permanência das crianças, dos jovens e dos adultos na escola é um entrave de grande porte, o qual ainda persiste. Na tentativa de dirimir os altos índices de evadidos da rede pública de educação, o governo federal pactuou com os entes federados a implementação do Programa Bolsa Família. Esse programa é destinado a atender, por meio de uma bolsa no valor de até R$ 120,00 (Cento e vinte reais) mensais. O Programa Bolsa Família é uma forma de tornar obrigatória a permanência da criança e do jovem na escola.

Assim, para que a família obtenha esse benefício

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pecuniário, faz-se necessário que a criança e o jovem freqüentem a escola, caso contrário, perde-se o benefício. O Programa Bolsa Família, Lei de nº 10.219, foi implementado no Brasil no dia 11 de abril de 2001, na tentativa de combater a fome e a pobreza e promover a emancipação das famílias mais pobres do país. Contrapondo a criação desse projeto de cunho social com a questão da evasão escolar, verificou-se que mesmo assim, esta perdura. Com isso, não se reduz o grande contingente de alunos que abandonam as escolas. O número de matrículas tem aumentado nos últimos anos em todos os níveis e modalidades da educação. No entanto, o contingente de alunos que concluem o ensino fundamental e médio continua sendo inferior ao número de matrículas propostas. Isto é, o percentual de evadidos é maior do que o dos que ingressam na rede de ensino. Segundo o INEP, em 1997, o número de evadidos no ensino médio foi de 212.431, sendo que 153.160 pertencem à rede estadual na região nordeste. Na Bahia, esse percentual foi de 45.948 e, no que diz respeito à rede estadual de ensino foi de 34.414 no mesmo ano. Em Ilhéus, em 2007, o total de estudante matriculados no ensino médio na rede estadual de ensino foi de 50.522, destes 27.456 abandonaram a escola. Esses números absolutos demonstram que a evasão não diminuiu significativamente ao longo dos últimos dez anos nesse nível de ensino. Krawczyk (2009, p.9) afirma que: a evasão, que se mantém nos últimos anos, após uma política de aumento significativo da matrícula no ensino médio, nos revela uma crise de legitimidade da escola que resulta não apenas da crise econômica ou do declínio da utilidade social dos diplomas, mas também da falta de outras motivações para os alunos continuarem seus estudos.

Isto porque, a evasão escolar não é um problema restrito aos muros intraescolares, uma vez que reflete as profundas desigualdades sociais existentes em nosso país e se constitui como um problema social. A situação é alarmante, principalmente por se tratar de uma parcela jovem da população que está excluída dos bens culturais da sociedade. Além disso, encontra-se fora do mercado de trabalho, por não atender às exigências da sociedade hodierna, cada vez mais integrada à globalização e aos ditames do projeto neoliberal no que diz respeito à qualificação da mão-de-obra. Nessa perspectiva, o Governo Federal cria pela Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005, e institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem; assim como o Revista Profissão Docente, Uberaba, v.9, n.19, 2009

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Conselho Nacional da Juventude – CNJ e a Secretaria Nacional de Juventude. Alguns dispositivos constantes nessa Lei são revogados pela Lei nº 11.692 de 10 de junho de 2008, como por exemplo, amplia a faixa etária do público alvo a ser atendido de 18 a 24 anos para 18 a 29 anos. Para além desse programa, o MEC propõe a reestruturação e expansão no ensino médio (GT Interministerial instituído pela Portaria nº 1.189 de 05 de dezembro de 2007 e a Portaria n° 386 de 25 de março de 2008) que tem como ponto central da proposta, o ensino médio integrado, o qual seria segundo (Krawczyk, 2009, p. 16) uma “alternativa de ruptura com a histórica dualidade entre formação propedêutica e profissionalizante, que tinha se aprofundado na reforma dos anos 1990”. Para o MEC (2008) a articulação do ensino médio “com a educação profissional técnica de nível médio constitui uma das possibilidades de garantir o direito à educação e ao trabalho qualificado”. Ainda é cedo para se fazer alguma avaliação sobre o ensino médio integrado, entretanto sabemos que o alvo das críticas a todos os programas concernem à descontinuidade das suas ações e a sobreposição destas. Outrossim, não podemos negar que esses programas são exemplos de estratégias materializadas pelo governo federal em parceria com os entes federados para reduzir o número significativo do contingente de jovens que estão fora das escolas ou as abandonaram em algum momento da sua trajetória estudantil. São programas que objetivam criar condições para que essas pessoas possam ingressar de forma imediata no mercado de trabalho. 3. CAMINHOS DA PESQUISA A abordagem privilegiada na nossa pesquisa foi qualitativa, e se inscreve na perspectiva de um estudo de caso. A pesquisa foi realizada no Colégio Estadual de Ilhéus – BA. A escolha desse Colégio foi motivada pela apresentação do alto índice de evasão escolar por seus alunos do primeiro ano do ensino médio, bem como pelo fato de não termos encontrado nenhum registro de pesquisa feita anteriormente acerca da evasão escolar nesta unidade de ensino. O Colégio Estadual de Ilhéus – BA, é um dos mais antigos da cidade e, atende aos alunos do ensino fundamental e médio nos três turnos.

3.1 Seleção dos participantes da pesquisa

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Os participantes da pesquisa foram 25 alunos do 1° ano do Ensino Médio da própria instituição do turno noturno e, todos os docentes (10) que ministram aulas nessas classes. Os alunos participantes foram selecionados com base no relatório anual do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação), o qual destaca que em 2008 o maior número de alunos evadidos se encontrava no 1° ano do ensino médio noturno. A escolha dos alunos foi intencional e fizeram parte da pesquisa apenas aqueles que em algum momento da vida abandonaram a escola, mas que retornaram à instituição. 3.2 Coleta dos dados A coleta de dados foi realizada no Colégio Estadual de Ilhéus – BA, bem como nos sites do IBGE, INEP, PNAD e na DIREC 6 – Secretaria de Educação do Estado da Bahia com o objetivo de levantar o maior número de informações possíveis concernentes à evasão no ensino médio. 3.3 Instrumentos da pesquisa Como instrumento privilegiado para a coleta dos dados, empregamos a entrevista semi-estruturada, que foi aplicada aos alunos e corpo docente, no intuito de analisar e compreender o processo da evasão escolar no referido Colégio. Para isso, fizemos uma reunião com os docentes e estudantes para explicar os objetivos da pesquisa, assim como para convidá-los a se tornarem participantes da mesma. No momento posterior, marcamos o momento adequado para o participante assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, bem como para responder as questões da entrevista. 3.4 Procedimentos éticos O projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Santa Cruz – Ilhéus -Bahia. 4. APRESENTAÇÃO E DESCRIÇÃO DOS DADOS Os dados aqui apresentados são frutos da nossa pesquisa, desenvolvida no Colégio Estadual de Ilhéus, no período de julho a agosto de 2009. Esse estudo tem como objetivo analisar, descrever e compreender, a partir da percepção de discentes que

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estão cursando o 1º ano do ensino Médio, bem como dos docentes que atuam nessa turma, o fenômeno da evasão escolar. 4.1 Dos alunos participantes da pesquisa Na nossa pesquisa participaram 25 alunos, com idade entre 18 e 54 anos; a maioria (70%) tem renda mensal de um salário mínimo; da totalidade dos entrevistados 56% declararam morar com os pais, 20% com cônjuge, 12% com filhos e 12% afirmaram morar sozinhos; 60% dos participantes dizem ter filhos. Das declarações dos entrevistados, o trabalho é o principal motivo assinalado por 56% dos participantes por abandonarem os estudos, e o segundo motivo é o fator filho. No Colégio Estadual de Ilhéus, em 2008, foram matriculados 597 alunos no 1º ano do ensino médio, no período do noturno. Desse total de alunos matriculados, 07 (sete) pediram transferência, 98 (noventa e oito) foram aprovados, 82 (oitenta e dois) reprovados e 410 (quatrocentos e dez) alunos abandonaram a escola. Assim, temos um percentual de 68,7% de estudantes do noturno que evadiram. Os motivos apresentados pelos participantes dessa pesquisa para abandonarem a escola foram: 52% referiram-se à dificuldade de concentração nas aulas, devido o cansaço físico decorrente da jornada de trabalho; 20% apontaram filhos e gravidez como causa do abandono e os demais motivos apresentados coincidiram em 4%, sejam: influência de colegas, a certeza de que seriam reprovados, dificuldades financeiras para condução (transporte) até a escola. Para tanto, concluir o ensino médio é o objetivo de 16% dos participantes; 12% deles visam concluir o ensino médio, a fim de ingressarem no ensino superior; 8% afirmaram ter sido motivados por considerarem os estudos importantes. Esse percentual coincide com àqueles que declararam uma preocupação com o seu futuro e com àqueles que não responderam à questão; 4% dos entrevistados voltaram à escola porque querem recuperar o tempo perdido. O mesmo percentual se repete para os que afirmaram que só agora tiveram oportunidade de retornar à escola. Para melhor visualização desses dados, vide figura 1:

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10

4%

8%

20%

4%

8%

20%

8% 12% 16%

Figura 1: Motivos pelos quais os entrevistados retornaram à escola. Fonte: C.E.I, 2009.

Todos os participantes da pesquisa afirmaram ter alguma dificuldade na escola. Entre as dificuldades apontadas estão: aprender matemática, citado pela maioria dos entrevistados, seja 70%, da amostra, como podemos observar na figura 2:

5% 5% 5%

Aprender matemática Não responderam

15% Falta de professores Relacionamento com colegas

70%

Outros motivos

Figura 2: Dificuldades encontradas na escola pelos alunos entrevistados. Fonte: C.E.I, 2009

4.2 Docentes participantes da pesquisa Da nossa pesquisa também fazem parte os docentes que ministram aulas no 1º ano do Ensino Médio do período noturno do Colégio Estadual de Ilhéus. Esses professores têm idade entre 37 e 61 anos; com mais de 10 anos de exercício docente;

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80% trabalham na área de formação, 10% não possuem graduação na área em que estão trabalhando e 10% não declararam a área de formação na qual atuam. Constitui-se, também, objetivo da nossa pesquisa, investigar a percepção dos docentes sobre a evasão. Dessa forma, solicitamos aos docentes que elencassem os motivos que levam os alunos a abandonarem a escola. Para 60% dos docentes o trabalho se configura como a principal causa do abandono. Pontuam que após um dia de trabalho, os alunos chegam cansados à escola, o que gera desânimo e, ao final de um momento os jovens desistem da escola. 20% acreditam que a família é a causa do abandono. Isto porque crêem que a família exerce um papel fundamental na permanência do aluno na escola, assim, quando não há um apoio adequado desta, o aluno não se sente motivado para os estudos. Além disso, destacam, ainda, os problemas familiares como divórcio, brigas, entre outros, como fatores que influenciam a decisão em abandonar a escola. 20% apontam que a falta de interesse dos alunos pelos estudos os conduzem ao abandono. Os professores, por sua vez, reconhecem ainda que além destes fatores que incidem sobre a evasão escolar, há também o fator escola que não desperta nenhum interesse no aluno. No que concerne ao retorno desses alunos à escola, os professores observam que o mercado de trabalho está cada vez mais exigente e, por isso, os alunos se vêem obrigados a concluir o ensino médio, pois isso poderá possibilitar à sua inserção no mercado de trabalho. Outros acreditam que os estudantes retornam aos estudos motivados pelo Programa Bolsa Família, assim como pela possibilidade de obterem a carteira de estudante. Ressaltam, ainda, no que diz respeito às mulheres, que muitas destas desejam proporcionar melhores condições de vida a seus filhos. Procuramos saber dos docentes/participantes, qual o procedimento adotado quando observam que um estudante falta muito as suas aulas: 77,8% respondeu que comunicam o fato à direção da escola; 11,1% disseram que procuram informações com os colegas do aluno, ou esperam, pois caso o estudante retorne em algum momento, eles conversam diretamente com o aluno e; 10,1% declararam não dispor de tempo para verificar os motivos das ausências. Os docentes, participantes da nossa pesquisa, enfatizaram que os estudantes possuem dificuldades significativas quanto ao domínio da leitura e interpretação de textos. Para 66,7% dos docentes os estudantes não são competentes na língua materna; Revista Profissão Docente, Uberaba, v.9, n.19, 2009

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22,2% dos docentes mencionam como dificuldade a falta de concentração, bem como a ausência de acompanhamento familiar; para 11,1% dos professores, a falta de interesse e dedicação dos alunos aos estudos são as maiores dificuldades apresentadas (vide figura 3).

80%

70% 60% 50% 40% 30%

20% 10% 0%

Dificuldade de leitura e interpretação de texto

Falta de Concentração

Falta de interesse e dedicação

Figura 3: As dificuldades apresentadas pelos estudantes, segundo os professores Fonte: C.E.I, 2009.

A Figura 3 demonstra que a dificuldade de leitura e interpretação de texto é dominante, o que nos leva a inferir que esse aspecto influenciará diretamente na produção de outro índice que tem crescido exponencialmente: o alfabetismo funcional da população. Isto é, pessoas que concluíram ou estão em curso, mas que apresentam significativas dificuldades em usar a leitura e a escrita (compreensão e interpretação de textos) em atividades cotidianas, nas quais estas competências são demandadas.

5. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 5.1 Trabalho x Escola A categoria trabalho x escola prepondera tanto no discurso dos docentes quanto dos discentes. Isto nos leva a inferir que o trabalho está intrinsecamente relacionado com o elevado índice de evasão escolar no Colégio Estadual de Ilhéus. Apesar de a evasão escolar ser percebida para muitos dos participantes dessa pesquisa como um problema grave, uma vez que impacta significativamente na vida profissional, a

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prioridade não é para a educação, mas para o trabalho que se impõe como forma de atender às necessidades básicas de sobrevivência. A inserção do jovem ao mercado de trabalho passa a ser uma exigência continua e, esses jovens e adultos são chamados cedo, considerando suas restrições financeiras, a ingressarem nesse mundo. Muitos destes tentam conciliar o estudo com o trabalho, na perspectiva de adquirirem um melhor emprego e, conseqüentemente, maior remuneração. Entretanto, o cansaço físico, as exigências do trabalho, entre outros motivos, termina por influenciar fortemente a decisão de abandonar à escola. Segundo Carraher (1993), a questão do trabalho passa a percutir sobre a demanda - sustento familiar. Este autor observa que os pais das classes desfavorecidas, não podem assegurar aos seus filhos uma educação prolongada, desse modo, terminam por empregá-los precocemente para contribuir para o sustento da família. No Brasil, boa parte da população de jovens, que ingressam cedo no mercado de trabalho, possui baixo grau de escolarização (Gomes, 1989). Isto tem reflexos sobre toda a vida ativa do indivíduo, uma vez que este poderá ter maiores dificuldades em ascender ou acessar postos que lhe proporcione maior remuneração, maior satisfação com o trabalho que desenvolve; acesso aos bens culturais e melhoria das condições materiais de vida, a qual poderá conduzir à mobilidade social, entre outros aspectos. Melo (1987), nesse cenário conflituoso entre trabalho e educação, assinala que esta se insere numa zona intermediária entre a necessidade e a possibilidade; entre a estrutura e a infra-estrutura; entre o real e o imaginário; entre a ação e a responsabilidade. Assim, o estudante – trabalhador vive a dualidade: inserção no mercado de trabalho e a continuidade de seus estudos. Isto porque, as exigências do mercado de trabalho quanto à escolaridade torna-se cada vez maior. A mídia tem reforçado a idéia de que o despreparo dos trabalhadores é uma das causas de desemprego e dificuldades de ascensão profissional. Esse fator tem motivado muitos jovens a retornarem às salas de aulas na esperança de melhorar suas condições de vida. Entretanto, a revolução da microeletrônica e da informação provocou mudanças na organização do trabalho e da produção, permitindo diminuição dos gastos e, conseqüentemente, o aumento dos lucros. Mas, essa nova organização do trabalho requer poucos trabalhadores/dirigentes altamente qualificados e, uma pequena massa de trabalhadores que continua realizando tarefas

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14 mecânicas, que não exigem muitas habilidades cognitivas. (KRAWCZYK, 2009, p. 12).

A integração ao mercado, objetivo de grande parte dos sujeitos pesquisados, fica assim cada vez mais distante, considerando que ao concluir o ensino médio a pessoa poderá não se inserir imediatamente no mercado de trabalho, pois este elevará suas exigências concernentes à escolarização, situação que diverge daquela propalada pela mídia. 5.2 Vários discursos: docentes x discentes A evasão escolar é resultado da somatória de diversos fatores que se conflitam entre si. Entretanto, na nossa pesquisa, o trabalho é o fator preponderante na tomada de decisão por abandonar a escola. Para os docentes, participantes da nossa pesquisa, a família é um aspecto relevante no conjunto dos fatores que conduzem à evasão. No contexto desse estudo, essa questão é complexa, uma vez que a nossa amostra é composta por pessoas jovens e adultas, situadas na faixa etária de 18 a 54 anos, que cursam o período noturno. Isto quer dizer diferentes composições familiares. Desse modo, por um lado, os docentes afirmam que não há acompanhamento da família para os estudos; por outro lado, alguns discentes apontam como causa do abandono, o cuidado com os filhos e a gravidez. Os docentes sublinham, ainda, a desestruturação familiar ocasionada por problemas familiares, tais como: divórcio, violências domésticas, entre outros, como causas do abandono escolar. Podemos inferir, então, a partir dos discursos, a existência de um descompasso entre a forma como a escola – por seus docentes - percebe alguns dos motivos que conduzem à evasão e àqueles pontuados por seus discentes. Isto porque, os jovens já não dependem mais dos pais para levá-los à escola e estes creditam sobre os filhos a assunção da responsabilidade total pelo desempenho escolar. Desse modo os jovens possuem a opção de escolha e, o outro grupo de adultos, já são sujeitos autônomos, portanto, podem decidir sobre o curso de suas vidas. Observamos ainda no discurso dos docentes, ao apontarem os alunos, a família como causa da evasão escolar, a reprodução dos pressupostos que prevaleceram na década de 1970, os quais responsabilizavam o indivíduo e seu entorno pelo fracasso escolar (MATTOS, 2007). Revista Profissão Docente, Uberaba, v.9, n.19, 2009

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Nesse mesmo sentido de idéias, um estudo realizado sobre “o estado da arte da pesquisa sobre o fracasso escolar” Angelucci, Kalmus, Paparelli e Patto (2004, p. 59) detectaram “a presença significativa de pesquisas que concebem o fracasso escolar como fenômeno estritamente individual (...)”. Assim, apesar de atravessarmos décadas e décadas com a temática em pauta, os discursos veiculados no interior das escolas e de pesquisas se repetem. Porém, sabemos que não se trata de buscar culpados ou vitimas, mas encontrar alternativas que possam permitir que escola, família e o individuo consigam compreender os fatores externos e internos das relações que nesse espaço se estabelecem e, que interferem de forma significativa no processo educativo. Embora constatemos a existência de uma intricada teia tecida em torno da questão da evasão no interior do espaço educativo – escola -, indagamo-nos: o quê motiva o estudante a retornar à escola? As transformações ocorridas, nas últimas décadas, no mundo do trabalho e nos padrões societários em geral, resultaram na produção de uma complexa gama de análises explicativas, muitas vezes, opostas. Isto implica dizer que, o sujeito – tanto o aluno quanto o professor - no que tange à sua formação que é contínua está inserido numa esfera global de interesses divergentes. O docente se prepara para um aluno que não existe e, o discente integra uma escola que não responde aos seus interesses. Entretanto, ambos são trabalhadores. Se por um lado os discentes reclamam do cansaço físico decorrente da sua carga horária de trabalho, por outro lado o docente também se reporta à extenuante carga horária a cumprir. Portanto, esse é um aspecto comum para ambos trabalhadores. Percepções e discursos convergentes, mas que não se cruzam no interior da escola, pois se percebem em campos opostos. Essa pluralidade de questões remete a uma compreensão das múltiplas configurações e manifestações sociais inseridas nesse problema social, requer uma investigação acerca das transformações ocorridas nos padrões de organização da produção e reprodução da classe trabalhadora. O sistema capitalista, neoliberal junto com o processo de globalização cultural, econômico (...) enfatiza(m) que a educação deve estar subordinada às necessidades do mercado de trabalho, estão se referindo a uma questão muito específica: a urgência de que o sistema educacional se ajuste às demandas do mundo dos empregos (GENTILI, 1996, p. 25, grifo do autor).

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Desse modo, o discurso dos docentes e dos discentes corresponde aos ideais neoliberais que vem sendo disseminados desde a década de 1970. Discurso este legitimado pelo Estado, o qual obedece às recomendações explícitas do Banco Mundial, do FMI, bem como de outras agências internacionais quanto ao mercado como agente de regulação social. Isto se torna evidente quando o Estado implementa programas educacionais que visam o retorno desse estudante à escola para qualificação da mão-deobra. A função da escola, nesse contexto, é “promover o que os neoliberais chamam de empregabilidade” (Gentili, 1996, p. 25, grifo do autor). Aqui, a educação como direito social é destinada a responder às necessidades do mercado. Assim, a cidadania, como direito humano do exercício pleno do indivíduo na sociedade, passa a ser percebida na perspectiva do “cidadão privatizado, o entrepeneur, o consumidor” (GENTILI, 1996, p. 21, grifo do autor). Nesse cenário, o acesso, sobretudo a permanência dos estudantes nas escolas a fim concluírem seus estudos, não vem sendo alvo de políticas públicas efetivas do Estado. Nessa perspectiva, o Estado tem se mostrando incapaz de promover mudanças verticais na sua estrutura. O ensino médio, gradativamente desmantelado e sem identidade própria, apesar da LDB 9.394/1996 dizer o contrário, ao considerá-lo como etapa final da educação básica e assegurar a possibilidade de se integrar com a profissionalização, encontra-se numa zona nevoada, pois não permite ao estudante integrar-se ao ensino superior e dar prosseguimento aos seus estudos, como tampouco o habilita, adequadamente, para exercer uma função específica no mercado de trabalho. O elevado índice de evasão escolar nesse nível de ensino demonstra que há uma discrepância entre o legítimo, posto pela Lei e o real vivenciado pelos muitos estudantes das nossas escolas públicas brasileiras.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados dessa pesquisa demonstraram que o discurso da escola, representada aqui por seus docentes, ainda é o de culpar os jovens, os adultos e a família pela evasão escolar. Acreditamos que muito mais que procurar a quem atribuir à culpa, é preciso compreender que existem fatores exteriores que determinam na tomada de

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decisão dos discentes em abandonar a escola, que envolvem: as condições sociais, culturais, econômicas, históricas, que permeiam a problemática da evasão escolar. A escola, a família, os jovens, os adultos não podem assumir toda responsabilidade nessa questão. Percebemos que o Estado tem cada vez mais recuado na assunção dos seus compromissos com a educação. Afirmar que esta parcela da população está na escola, não implica dizer que foi criada as condições necessárias para que ela aí permaneça. Constatamos que a permanência dos alunos na escola, bem como o retorno de muitos jovens e adultos a ela está norteada pelas transformações ocorridas no cenário do trabalho e nos padrões societários em geral. Essas transformações enfatizam a necessidade do jovem inserir-se ao mercado de trabalho. Nessa perspectiva, o retorno dos jovens, bem como dos adultos ao ambiente escolar pressupõe a aquisição das competências básicas que possam atender as exigências do sistema capitalista. Os discursos dos docentes e discentes refletem o descompasso entre a forma como a escola percebe alguns dos motivos que conduzem à evasão e aqueles pontuados por seus discentes. O discurso e as práticas são antigas, por um lado a escola continua a não responder aos anseios dos jovens e adultos que nela estão; por outro lado, o Estado não efetiva políticas públicas que possam possibilitar a melhoria das condições de trabalho dos docentes que atuam nesse espaço educativo. Desse modo, talvez seja o momento de se buscar alternativas as quais propiciem que escola, família e o individuo consigam compreender as relações internas e externas que nesse espaço se estabelecem, que interferem de forma significativa no processo ensino-aprendizagem e que acabam por conduzir o abandono da escola por uma parcela jovem da população, o que, conseqüentemente, impacta na vida sócio-econômica e cultural das futuras gerações.

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Adejan Santos Batista Licenciado em Geografia, Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC- Ilhéus- Bahia . Endereço eletrônico: [email protected]

Alexsandra Matos Souza Licenciada em Geografia, Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais, Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC - Ilhéus-Bahia. Endereço eletrônico: [email protected]

Julia Maria da Silva Oliveira Doutora em Educação pela Université de Montréal, Montréal - Quebec, Canadá. Professor Adjunto do Departamento de Ciências da Educação, Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, Ilhéus, Bahia. Endereço eletrônico: [email protected]

Artigo recebido em novembro/2009 Aceito para publicação em janeiro/2010

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