PARECER CFM nº 20/14 INTERESSADO:
Dr. M.A.
ASSUNTO:
Urgências e emergências oculares
RELATOR:
Cons. José Fernando Maia Vinagre
EMENTA: Define critérios para classificação de urgências e emergências em oftalmologia.
DA CONSULTA Parecer sobre urgência e emergências oculares, originário do termo de ajustamento de conduta assinado entre o Cerof/UFG (centro de oftalmologia), Secretaria Estadual de Saúde e a 53ª Promotoria de Justiça de Goiás, estabelecendo realização de mutirões de cirurgias para correção de patologias oculares. O TAC presume que se deva estabelecer parâmetros técnicos para definição de “critérios de fila” com descrição das situações cirúrgicas com seus respectivos prazos adequados para realização das intervenções necessárias e que esse procedimento deverá ser feito através de consulta ao Conselho Federal de Medicina.
DO PARECER: Embora do ponto de vista vernacular, haja pouca (ou nenhuma) diferença entre um e outro verbete, eles são encarados, do ponto de vista médico, como situações diferentes, não só em relação aos cuidados requeridos como às comorbidades que ambos envolvem. Os dicionaristas (Houaiss, 2001, por exemplo) tratam ambos como situações graves e perigosas, arrolando-os como sinônimos. Ao registrar que “urgência” é uma situação crítica ou muito grave que tem prioridade sobre as outras, Houaiss considera uma e outra como sinônimas. Etimologicamente, emergência, vem do lat., emergens, entis, situação grave, contingência, com influência do ing. emergency, ‘combinação inesperada de circunstâncias imprevistas (ou o que delas resulta) e que exige ação imediata’.
Urgência também tem origem latina, de urgentia, ae, significando ‘urgência, grande aperto, necessidade’, derivado do lat. urgere, ‘apertar, comprimir, impelir, perseguir, ameaçar, apressar, insistir’. Todavia, na definição registrada no site do Ministério da Saúde, encontramos diferença entre ambos os verbetes, encarados como conceitos de “suma importância para a decisão de prioridades de atendimento em serviços de pronto-socorro”, conforme definido na Resolução CFM nº 1451/95.
Urgência – ocorrência ou situação perigosa, de aparecimento súbito ou imprevisto, necessitando de imediata solução.
A diferença entre emergência e urgência reside em dois pontos:
Na emergência o aparecimento é súbito e imprevisto, na segunda não;
A emergência exige solução imediata; a segunda, em curto prazo, havendo apenas premência ou insistência de solução. Ambas têm em comum a periculosidade. Na área médica, ainda segundo se lê no site citado, as definições seriam:
Emergência médica: quadro grave, clínico ou cirúrgico ou misto, de aparecimento ou agravamento súbito e imprevisto, causando risco de vida ou grande sofrimento ao paciente e necessitando de solução imediata, a fim de evitar mal irreversível ou morte.
Urgência médica: quadro grave, clínico ou cirúrgico ou misto, de aparecimento ou agravamento rápido, mas não necessariamente imprevisto e súbito, podendo causar risco de vida ou grande sofrimento ao paciente, necessitando de tratamento em curto prazo, a fim de evitar mal irreversível ou morte.
E completa: Ambos têm em comum serem quadros nosológicos graves, e que, se não tratados, podem causar mal irreversível ou morte. Diferem: na emergência o aparecimento ou agravamento é súbito e imprevisto, necessitando de solução imediata – é um estado de agudeza; na urgência o aparecimento é rápido, mas não súbito e imprevisto e a solução pode ser em curto prazo – é um estado de semi-agudeza. Em Oftalmologia, as “emergências” e as “urgências” não envolvem letalidade (morte do paciente). A relação causal entre morte e emergências oculares (por exemplo,
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em consequência a traumas) estará sempre relacionada a lesões mais ou menos graves de outros órgãos ou sistemas da economia afetados ou envolvidos no episódio traumático.
Sequelas
temporárias
ou
permanentes
de
quadros
emergenciais
(comorbidades) também, em geral, são locais, limitando-se ao olho ou olhos afetados. Há alguns aspectos que o urgentista ou emergentista deve levar em conta ao atender o paciente queixando-se de uma situação emergencial. Nem sempre as queixas ou sinais oculares relatados pelo paciente caracterizam um quadro clínico de urgência ou emergência. Embora isso ocorra com relativa frequência, o estado emocional, a insegurança e a dúvida do paciente devem merecer atenção do médico, exigindo-lhe, pelo menos, a palavra, a orientação e o aconselhamento correto do paciente. Rocha, em suas Noções de Oftalmologia Para o Médico Prático, dedica um capítulo às “Emergências Oculares”, detendo-se no que o médico não especializado deve saber sobre os “estados oculares de urgência” ou ”emergências oculares”. O autor abre o capítulo com o título de “Emergências Oculares” e no corpo do texto trata ambas como sinônimas, ora falando em “urgências”, ora em “emergências”. Não são muitos os sinais de olhos em situações emergenciais ou de urgência: hiperemia (olho vermelho), edema, quemose e purgação. Entre as queixas do pacientes (sintomas) temos dor (de moderada a intensa), baixa de visão (parcial ou total), desconforto, fotofobia e plurido. Esquematicamente, podemos arrolar entre as “emergências” (que exigem atendimento imediato) e as “urgências” (que requerem tratamento a curto prazo) os quadros seguintes:
A) EMERGÊNCIAS a. Olho vermelho: conjuntivites infecciosas, irites, ceratites, glaucoma de ângulo fechado (“glaucoma agudo”); b. Traumatismos:
contuso,
penetrantes
e
lacerantes
(palpebrais
e
superciliares); c. Corpos estranhos: epibulbares e intraoculares;
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d. Queimaduras; e. Picadas de insetos; f. Endoftalmite. B) URGÊNCIAS a. Olho vermelho: hordéolo (terçol), conjuntivites não infecciosas, hemorragias subconjuntivais e dacriocistite; b. Corpos estranhos: intraorbitários.
1. OLHO VERMELHO Um “olho vermelho”, em princípio, deve nos levar a pensar em cinco hipóteses (excluímos por enquanto as hemorragias e as queimaduras, objeto de revisão adiante): a. Conjuntivite; b. Ceratite; c. Irite e iridociclite; d. Glaucoma de ângulo fechado; e. Hordéolo (“terçol”) e dacriocistite.
2. CONJUNTIVITES Entre os microorganismos envolvidos na etiologia das conjuntivites, devemos citar: pneumococo,
estafilococo,
estreptococo,
gonococo,
bacilo
de
Koch-Weeks
(Haemophilus conjunctividis), diplobaciclo de Morax-Axenfeld (Haemophilis lacunatus ou Moraxella lacunata), bacilo de Löffler (Corynebacterium diphtheriae), além de diversos vírus, como o do tracoma, especialmente. O quadro abaixo (Quadro 1) reúne os sinais e sintomas que nos ajudarão a diferençar a conjuntivite de algumas outras congestões oculares.
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Quadro 1 – Diagnóstico diferencial das várias causas da congestão ocular (olho vermelho) Olho
Pressão
Visão
Pupila
Congestão
Exsudação
vermelho Glaucoma
Opacidade corneana
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