PORTUGAL
2012 FUTURO
As várias faces do “Chico” ENTRE O PRIMEIRO DIA EM QUE PISOU A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA E O DO SEU ABANDONO, MUITA COISA MUDOU NA VIDA – E NA CARA – DE LOUÇÃ
2004 REBELIÃO 1998 UNIÃO Decisão. Durante meses, Louçã, Rosas, Portas e Fazenda encontraram-se em restaurantes e em casa de Louçã para criar o BE.
Início. A acta do seu 1º dia na Assembleia começa com o incidente que provocou: recusou sentar-se atrás do PCP.
2011 MUDANÇA
Belém. Há quem defenda que pode ser o candidato presidencial unificador da esquerda. Problema: Carvalho da Silva também pode...
Saída. A derrota esmagadora nas eleições legislativas marcou-o muito. Começou a confidenciar a amigos o desejo de se afastar.
SOUNDBYTES NA ASSEMBLEIA n
Considerado um dos mais brilhantes deputados da Assembleia da República, Francisco Louçãtrabalhavamuito. Antes de umdebatesectorial,pediaàequipadeassessores que lhe desse tudo sobre o tema. Depois, isolava-se durante muitas horas. Faziauns telefonemas paratirardúvidas, preparava os soundbytes que o celebrizaram e surpreendia os próprios colegas já em plenário com tiradas de humor e exibição de gráficos ou cartazes. “Nós não sabíamos o que ele ia dizer. Era um exercício solitário de um parlamentar absolutamente notável”, recorda Fernando Rosas. “No início, alguns dos soundbytes eram sugeridos pelo Daniel Oliveira ou por outras pessoas. Mas o Francisco é que decidia o que usavae como usava”, acrescentaHeitor de Sousa, seu primeiro chefe de gabinete daAssembleiadaRepública. De todos os adversários que teve, o que mais temeu foiJosé Sócrates, pelafaltade limites que o ex-primeiro-ministro revelava no debate político. Por estar sempre à espera que o imprevisto acontecesse, preparava-se obsessivamente.
O RASPANETE n
Quando João Teixeira Lopes, hoje seu amigo,chegouao Parlamento,arelação com o líder do BE eraaindaformal. Àprocurade um registo próprio, o novo deputado fez uma intervenção na área da comunicação social que não lhe correu bem: “Acabei por deslizar para um ataque pessoal ao Arons de Carvalho [então secretário de Estado da área no governo de António Guterres]”, reconhece. Louçã ouviu e não gostou. “À saída do plenário, chamou-me à atenção, de 52
Demolidor. Louçã era impiedoso. Chegou a chamar “pateta” a Gil Garcia, o maior dos poucos adversários que teve dentro do partido.
formaaustera. Disse-me: “Essanão é anossa maneira de fazer política.”
co abonatórios. Irado, acusou-o de insinuar que ele era um vaidoso. Não admitia faltas de lealdade. “Tinha um prazer especial em fazer passar os outros por tontos, fazia humor e ironia muito pesada. Levava toda a gente à galhofa – menos as suas vítimas”, acrescentaJoão Delgado, que acabou por abandonar o partido.
”CANALHA!” E “PATETA” n
O HUMILHADOR IMPLACÁVEL n
Eraimplacávelcomos críticos internos. Sempre que, na Mesa Nacional, alguém apresentava alguma iniciativa contrária à sua linha, não hesitava em ridicularizá-la. Um dia, João Delgado lançou a ideia de as
O maioralvo de Francisco Louçãanível interno foi, desde sempre, Gil Garcia, líder da tendência Ruptura FER, que chegou a ocupar 15% dos lugares da Mesa Nacional. Uma noite, numa reunião daquele órgão, Louçãteve umadas explosões mais violentas queselheconhecem: “Canalha!”, atirou a Gil Garcia, a quem acusou de uma fuga de informação de um documento interno para o Diário deNotícias. Garcianegouaautoria da fuga e até pediu ao jornalistaparaescreverumacartaa negar que tivesse sido sua fonte. Mas Louçã nem ligou. Noutra ocasião chamou-lhe “pateta”. Umadas suas discussões mais recordadas é aquela em que Gil Garcia defendeu que o partido devia ser mais violento no ataque a José Sócrates, a propósito do processo da sua licenciatura. “O Francisco foi muito firme, ao defender que não tinha elementos para atacar de forma consistente e que deixava à Justiça o que era da Justiça”, revela Jorge Neutel, militante da Guarda. O mais curioso é que Gil Garcia (que entretanto abandonouo partido efundouo MAS) sedá bemcomafamíliaLouçã: amãe de Francisco, Noémia, defendeu-o judicialmentenum processodisciplinarquetevehámuitos anos
Nas reuniões e plenários, gosta de ter a última palavra para arrasar os críticos internos regiões se fazerem representar rotativamente. Ou seja, cada região podia ter vários representantes que, de acordo com as suas disponibilidades, se deslocariamaLisboa para as reuniões. “Chico” foi implacável: “Humilhou-me publicamente. Desenvolveu todaumateoriaintrincadabaseada em cálculos de probabilidade em que chegou à conclusão de que só estaríamos todos juntos daíacentenas de anos…” Aproposta caiu, naturalmente. Noutra ocasião, Louçã distribuiu pelos membros da Mesa Nacional fotocópias de um artigo de uma revista em que, a propósito do apoio do Bloco a Manuel Alegre nas presidenciais, João Delgado tecia uns comentários pou-
8 NOVEMBRO 2012 SÁBADO
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2009 CRÍTICOS