INFORMAÇÕES TÉCNICAS

Arborização de Cafezal com Seringueiras

Ângelo

Paulo

A

arborização na agricultura é uma técnica muito utilizada em países equatoriais para a proteção de cafezais contra as adversidades climáticas e promover a sustentação da cultura. Esse benefício, porém, é pouco aproveitado no Brasil, em parte pela confusão que se faz entre os conceitos de sombreamento e de arborização. Por sombreamento, estende-se simplesmente sombrear uma cultura com árvores e arbustos, sem considerar a densidade da sombra na cultura coberta. A arborização é diferente. É uma prática agronômica especial visando a melhorar o ambiente, ou seja, o microclima, mas mantendo a insolação necessária aos cafeeiros para permitir a fotossíntese normal. Sua verdadeira função não é sombrear, mas, principalmente, reduzir os danos das adversidades climáticas aos cafeeiros, como do vento predominante, cujos efeitos mecânicos imediatos ou fisiológicos cumulativos, são muito sérios (Camargo, 1998). A arborização na região tropical do Sudeste brasileiro deve ser bem leve para permitir a chegada aos cafeeiros de pelo menos de 70 a 80% da radiação solar direta, afim de que possam receber luz suficiente para a fotossíntese normal. As árvores de sombra devem ficar isoladas, distanciadas de 15 a 20 m entre si. (Camargo & Ferreira, 1994). Em região equatorial, como no Nordeste brasileiro, bem mais ensolarado, a arborização deve ser mais densa, ficando as árvores de sombra a 10 m uma das outras. 38

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Árvores isoladas concorrem muito pouco em água e nutrientes com os cafeeiros, mesmo porque são utilizadas de preferência aquelas com sistema radicular profundo, que exploram horizontes edáficos inferiores aos dos cafeeiros. O solo de um cafezal arborizado é pouco perturbado. Fica protegido da ação das intempéries e das capinas freqüentes, e, principalmente, dos danos da erosão. O solo se mantém sustentável e sem a tendência de depauperamento com o tempo. As árvores protetoras devem ter a copa ereta, como a grevílea e a seringueira. A copa ereta projeta sombra móvel, ambulante, que muda de lugar durante o dia. Com isso, não resulta alteração da fisiologia do cafeeiro. Uma sombra esparramada, estática, fechada, pode provocar estiolamento e alterar a fenologia e a frutificação do cafeeiro. Na arborização, os cafeeiros são plantados com espaçamento normal. As seringueiras devem ser mantidas com os fustes limpos, sem galhos, para não aumentar o sombreamento, com a idade.

Em trabalho publicado em Bragantia (Carvalho et al., 1961), seus autores apresentaram os resultados de experimentos de sombreamento de cafezais conduzidos no período de 1947 a 1956, em diversas estações experimentais do IAC. O sombreamento utilizado foi bem adensado, como se admitia na época. Houve drástica redução na produtividade nos cafeeiros sombreados. A causa da baixa produtividade foi certamente a deficiência de luz aos cafeeiros. Mas o assunto continuou em pauta. Observou-se que a arborização em outros países era diferente, bem mais leve, deixando passar mais da metade da radiação solar direta para os cafeeiros. Após 1975, com o programa de revigoramento da cafeicultura no País promovido pelo IBC, foram conduzidos numerosos experimentos de densidade de arborização no Sudeste, região tropical, e no Nordeste, região equatorial. Na região tropical, do Estado de São Paulo e sul de Minas, as maiores produções foram obtidas nas parcelas O Agronômico, Campinas, 56(2), 2004

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com as coberturas mais ralas, cobrindo apenas 20 a 25 % do terreno do cafezal. As produções chegaram mesmo a ser superiores nas parcelas com a arborização mais rala que naquelas a pleno sol. Na região equatorial, do Nordeste brasileiro, vários experimentos mostraram que a melhor cobertura foi um pouco mais densa, cobrindo cerca de 50% do cafezal. Em experimento clássico de espaçamento de seringueiras, realizado na Malásia, verificou-se que a produção de látex por planta cresceu bastante com o aumento das distâncias entre elas. A produção anual de borracha seca, aos vinte anos, no espaçamento menor, muito apertado, de 3 m x 3 m, foi apenas 0,6 kg por seringueira. No espaçamento médio, de 6 m x 6 m, a produção aumentou para 3,5 kg por planta e no bem maior, de 9 m x 9 m, a produção atingiu 7,5 kg por planta. A produção de látex por planta cresceu consideravelmente com o aumento da distância entre elas. Ora, numa arborização de cafezal, com seringueiras espaçadas cerca de 15 m, a produção de látex por sangria deve aumentar bastante em relação à obtida nos espaçamentos menores das seringueiras de plantação comercial, o que favorecerá certamente o trabalho e o rendimento do seringueiro. A heveicultura no clima tropical de São Paulo e região, onde a estação hibernal é acentuada, mostrase livre da grave enfermidade conhecida como mal-das-folhas, causada pelo fungo Microcyclus ulei. Assim, não deverá haver problema sanitário com esse fungo na arborização do cafezal com seringueira. Considerando-se o preço atual do látex, bem elevado, pela escassez do produto no mercado, podese admitir que a arborização do cafezal com seringueira seja uma prática muito promissora para o Estado de São Paulo e região Sudeste. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAMARGO, A.P. A arborização de cafezal como meio de reduzir as adversidades climáticas e promover a sustentação da

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cafeicultura. In: 16º CBPC, Espírito Santo do Pinhal, 1998, p.6-7. CARMAGO, A.P. & PEREIRA, A.R. Agrometeorology of the coffee crop. World Meteorological Organization. Geneve Report, n.58, 1994, 43 p. CARVALHO, A.; KRUG, C.A.; MENDES, J.E.T.; ANTUNES FILHO, H.; JUNQUEIRA, A.R.; ALOISI SOBRINHO, J.; ROCHA, T.R. & MORAES, M.V. Melhoramento do cafeeiro. XXI – Comportamento regional de variedades, linhagens e progênies de café ao sol e a sombra. Bragantia, Campinas, 20 (46): 1045-1141, 1961.

Ângelo Paes de Camargo Pesquisador Científico aposentado do Instituto Agronômico Paulo de Souza Gonçalves Instituto Agronômico - Programa Seringueira fone: (19) 3241-5188 ramal 321 endereço eletrônico: [email protected] 39

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