10.00​ ​Auditório​ ​\\ Painel 6: ​Projectos colaborativos na e com a

SEXTA-FEIRA | 10 DE MARÇO 10.00​ ​Auditório​ ​\\ Painel 6: ​Projectos colaborativos na e com a antropologia Moderadora: Teresa Fradique Evocações,...
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SEXTA-FEIRA | 10 DE MARÇO

10.00​ ​Auditório​ ​\\ Painel 6: ​Projectos colaborativos na e com a

antropologia

Moderadora: Teresa Fradique

Evocações, memória “aural” e experiência performativa: reflexões sobre um processo de criação artística com jovens músicos Filipe Reis e Paulo Raposo

Partimos da experiência de conceber e realizar sessões de formação com e para jovens estudantes de escolas de música no contexto de um projeto (em curso) de criação de um espetáculo para reconstruir, de modo reflexivo, um percurso de criação artística – focado na improvisação musical – espoletado pela evocação da memória “aural” dos participantes. Através da reflexão sobre esta experiência gostaríamos de contribuir para a discussão, central a este encontro, sobre as formas de cruzamento entre práticas artísticas e conhecimento antropológico. (a apresentação incluirá a exibição de vídeo com excertos das sessões de improvisação musical). Paulo Raposo ​antropólogo, Professor no Departamento de Antropologia do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e investigador do Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA). O seu interesse pelos estudos da performance levou-o a colaborar com diversas estruturas e eventos artísticos, tendo estado recentemente na coordenação dos Seminários Nómadas em Estudos da Performance (de Novembro 2015 a Julho 2016, Lisboa, CRIA). Teve experiência profissional e formação em teatro. Como ativista político, pertenceu a vários coletivos e plataformas em Portugal, tendo co- editado com John Dawsey um dossier sobre “Artivismo” (Cadernos de Arte e Antropologia, 2015). Parte da sua investigação sobre performances culturais foi reunida em diversas publicações nacionais e internacionais e na obra Por detrás da Máscara. Ensaio em Antropologia da Performance (2011) e editou no Brasil o livro colectivo A Terra do Não-lugar. Diálogos entre performance e antropologia (2014). Filipe Reis. ​Antropólogo, Professor no ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa e investigador no Centro em Rede de Investigação em Antropologia (CRIA). Tem coordenado a Pós-graduação em Culturas Visuais Digitais (ISCTE-IUL e CRIA). Trabalhou durante muitos anos na área da antropologia da educação e, enquanto professor e investigador, tem-se envolvido em projetos de inovação pedagógica e de integração da investigação no ensino superior. Trabalha e investiga na área da antropologia dos media e da tecnologia, com um enfoque na tecnologias de som e na problematização do conceito de paisagem sonora.

“Nothinh about us without us”- processos colaborativos como forma de legitimação recíproca Diana West

Nesta comunicação pretendo argumentar que os processos colaborativos nas práticas artísticas têm um efeito de legitimação recíproca quer no campo artístico quer no social. A antropologia tem vindo a estabelecer diálogos com as práticas artísticas mas em Portugal esta relação ainda assume uma dimensão fragmentária e dispersa, nomeadamente sobre as práticas artísticas contemporâneas. Esta comunicação pretende contribuir para o aprofundamento destes diálogos ao olhar para práticas artísticas que têm na sua proposta inicial uma dimensão social expressa e que se comprometem a ter um impacto social positivo sobre os grupos com os quais colaboram. A pesquisa etnográfica que decorreu ao longo de 18 meses com o grupo de teatro Refugiacto, um grupo de teatro constituído em 2004 por refugiados no concelho de Loures e que durante três anos teve acompanhamento e direção artística de um artista profissional. Nesta pesquisa foi

possível compreender como a ambiguidade provocada por ter refugiados “reais” em palco aliada a uma linguagem ficcionada e de transposição poética amplificou a dimensão estética e artística dos trabalho e consequentemente a sua circulação e legitimação. Do mesmo modo, a iniciativa por parte dos refugiados em procurar linguagens artísticas e o acompanhamento de artistas profissionais para falarem sobre “eles” mas “com eles” remete-os para um processo reflexivo e de aprendizagem que aprofunda o impacto social deste projeto pela transformação individual e coletiva que propicia. Os processos colaborativos que se propõem a fazer “com” e “sobre” são um mote de provocação às nossas práticas na antropologia. Diana West.​ Doutoranda do CRIA/FCSH UNL. Comecei o meu percurso nas Belas Artes onde tive contacto com a disciplina de antropologia artística. Decidi então mudar e fiz todo o percurso académico na FSCH UNL em antropologia. Enquanto estudava fui desenvolvendo o meu percurso profissional nas áreas da educação e intervenção social. O projeto de investigação do meu doutoramento cruza o meu percurso académico com o meu percurso profissional e incorpora as reflexões de um longo caminho de cruzamentos disciplinares que sempre considerei enriquecedor.

Alteridades em deslocamento: recebendo e criando imagens migrantes Cristina de Branco

A partir dos deslocamentos próprios e herdados, reverbero meu olhar sobre sujeitos que também se deslocam, sobre as envolvências e eixos desses deslocamentos, sobre essa inventividade identitária de quem trespassa tamanhas fronteiras, sobre os ritmos e diversidades da criação artística migrante. Ao deslocar-se o sujeito afirma variações infindáveis de alteridades interseccionadas, ora dialógicas, ora conflitivas. Como um inevitável etnógrafo, aquele que se desloca, desloca também sua individualidade, suas percepções sobre as diversas dimensões sociais, políticas, culturais que o circundam nesse outro espaço. Outro espaço no qual o sujeito é ele mesmo o outro, a personificação de alteridade viva diante de uma sociedade ilusoriamente maioritária. Interessa-me pensar nas formas e discursos das criações e afirmações artísticas imigrantes como dispositivos de aproximação à esses modos de reinvenção cultural. Nesse sentido, pretendo estender-me sobre a criação artística e a reinvenção cultural migrante a partir do acervo audiovisual do Visto Permanente (www.vistopermanente.com), do qual faço parte desde sua concepção em São Paulo até a sua recente expansão pela Grande Lisboa. Diante disso, enlaçarei também em minha reflexão o processo de realização e filmagem do documentário Santa Mala se manifesta que se desdobra a partir de um dos vídeos do Visto Permanente sobre três irmãs rapperas, costureiras, imigrantes bolivianas em São Paulo. Cristina de Branco. Nascida em Lisboa, criada em São Paulo, sou mestre em Antropologia: Culturas Visuais, pela Universidade Nova de Lisboa, filmo e pesquiso expressões artistico-culturais imigrantes em São Paulo e recentemente em Lisboa, penso e escrevo sobre cinema e deslocamento/migração, e trabalho também em Educação para Imigrantes e sua intersecção com Arte-educação e Educação Popular.

Mediação artística ou a participação como prática na Arte Pública Sérgio Vicento, Maria Assunção Gato e Filipa Ramalhete

O comissionamento da arte pública é encarado hoje como um dos fatores de mobilização e de inclusão das comunidades locais. Nestes processos, face aos modelos de encomenda formalmente gerados a partir de condicionantes legais geridas pelo Estado e pelos Municípios, estabelecem-se modelos de trabalho a partir de uma relação topo-base, de acordo com os pressupostos e as condicionantes desse mesmo encargo. Tomaremos como referência a experiência desenvolvida em Almada, o seu Monumento à Multiculturalidade (2013) implementado sob um regime horizontal de trabalho, ou seja, um modelo não convencional de encomenda. Valoriza-se o facto de o artista ter usado ferramentas de trabalho participativo na concretização deste projeto. O lugar sobre o qual se interveio situa-se nos limites urbanos da cidade de Almada, territórios maioritariamente ocupados por conjuntos habitacionais de realojamento ou de autoconstrução, espaços nos quais a situação social e económica se reflete na degradação do espaço público. No modelo aqui testado o artista assumiu-se como mediador privilegiado num quadro multidisciplinar, no qual a perspetiva antropológica foi axial no diálogo entre os diferentes intérpretes do projeto. Procuramos aqui, a partir do olhar do artista, consubstanciar e traduzir os modos como o Projeto

trabalhou a diversidade de usos e apropriações do espaço, objetivando a criação de sinergias entre as vertentes física e imaterial, cultural e social, garantindo novas formas de diálogo com o território através da arte. Esta metodologia, ‘raptada’ à experiência antropológica, possibilitou que um grupo alargado de voluntários inseridos na comunidade associativa local participasse num projeto artístico, participativo e multidirecional. Sérgio Vicente. ​Escultor, Docente na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa no Departamento de Escultura desde 2001. Licenciado em Artes Plásticas (Escultura) e doutorado em Belas-Artes, especialidade de Escultura, pela mesma Universidade. Mestre em Design Urbano pela Universidad de Barcelona. Investigador do CIEBA, Centro de Investigação em Belas-Artes e na Unidade de Investigação VICARTE - Vidro e Cerâmica para as Artes. Atividade artística regular desde 1996, tem desenvolvido diversos projetos de escultura pública, a título individual ou em equipa, para entidades públicas e privadas. Maria Assunção Gato​. Licenciada em Antropologia, com Mestrado em Geografia – Gestão do Território e Doutoramento em Antropologia Cultural e Social pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Atualmente é Investigadora de Pós-Doutoramento (bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia) no DINÂMIA’CET (Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território) do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL), onde desenvolve um projeto baseado num estudo comparativo sobre recomposições sociais, consumos e valores em vários espaços residenciais de Lisboa. Tem publicações relacionadas com espaço urbano, representações sociais, consumos e estilos de vida. Também tem colaborado em vários projetos interdisciplinares ligados à Arquitetura e às Artes. Filipa Ramalhete. Antropóloga, mestre e doutorada em ordenamento do território. Docente do Departamento de Arquitetura e Diretora do CEACT/UAL - Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território, da Universidade Autónoma de Lisboa. Investigadora integrada do CICS.Nova - Centro de Estudos Interdisciplinares de Ciências Sociais da Universidade Nova de Lisboa. Investigação, experiência profissional e de trabalho de terreno na Península de Setúbal, desde 1994, com destaque para projetos de investigação e intervenção no concelho de Almada, desde 2010.

Biblioteca​ ​\\ Painel 7:​ ​Usos da Cultura Popular (lotação limitada a 60 lugares)

Moderadora: Sónia Vespeira de Almeida

Sete Palheiras – estudo de caso para a preservação da memória e identidade cultural local do artesanato de palha de Fafe Filipa Matias, Jorge Brandão Pereira e Heitor Alvelos

A presente comunicação desenvolve o projeto Sete Palheiras, que assume a missão cultural de preservação da memória identidade local sobre o artesanato de palha do concelho de Fafe. A estratégia, integrada num projeto de investigação-ação e intervenção no território e seus agentes, visa preservar a memória e abrir a prática do artesanato à participação da comunidade local e global, através de uma reflexão sobre meios digitais, ferramentas multimédia e técnicas de apresentação da informação na web 2.0. O objetivo fundador visa explorar as possibilidades de preservação e disseminação das heranças culturais através dos meios digitais e das ferramentas multimédia. Através do projeto teórico-prático e do trabalho de campo, conduziu-se uma investigação exploratória sobre as potencialidades dos meios digitais e das ferramentas multimédia não só para comunicar e preservar informação relacionada com questões do património cultural, mas também pela sua capacidade de transmitir registos (sonoros, visuais, audiovisuais) dos ambientes inerentes a determinadas expressões culturais. Sete Palheiras desenvolve a intenção de revitalizar o conhecimento, a memória e as estórias subjacentes ao universo do estudo de caso do artesanato da palha do concelho de Fafe. A abordagem conceptual—sobre conceções de memória e identidade cultural, sobre a presença no ciberespaço e sobre a relação destes conceitos—perspetiva os suportes digitais e multimédia como elemento aglutinador e promotor desse conhecimento, contribuindo para a valorização do território e da sua cultura.

Filipa Matias é M.A. em Multimédia, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (2016). B.A. em Arte Multimédia, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Coordenadora do projeto Sete Palheiras. Jorge Brandão Pereira é professor Assistente na Escola Superior de Design do Instituto Politécnico do Cávado e do Ave, em Barcelos, desde 2008. PhD em Media Digitais – variante Indústrias, Públicos e Mercados, Universidade do Porto (2015), integrado no programa UT Austin-Portugal. Licenciado (BA) em Design de Comunicação/Arte Gráfica (2002) e Mestre (MA) em Arte Multimédia (2007), pela FBAUP. Membro do ID+ Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura, desenvolve a sua investigação e praxis na discussão dinâmica entre design, comunicação, media participativos, culturas locais e criatividade. Regional Diretor para Portugal da United Designs Alliance. Heitor Alvelos é Professor de Design na Universidade do Porto. Diretor do PhD em Design, Universidade do Porto / U.Porto Parque de Ciência e Tecnologia (UPTEC). PhD Design/Media Culture, Royal College of Art, 2003. MFA Visual Communication, School of the Art Institute of Chicago, 1992. Outreach Director (2010-2014) do Programa UTAustin-Portugal em Digital Media. Principal curador do FuturePlaces, media lab para a cidadania (2008-presente). Membro do Conselho Científico para as Humanidades e Ciências Sociais da Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal). Director do ID+, Instituto de Investigação em Design, Media e Culture - Instituto de investigação especializado nos interfaces com a Indústria e o Tecido Social. Coordena o grupo de investigação “Media e Perplexidade”.

Alteridade na criação artística portuguesa: reflexão sobre os usos da série televisiva Povo que Canta de Michel Giacometti em dois espetáculos de dança contemporânea Sophie Coquelin

Alteridade na criação artística portuguesa: reflexão sobre os usos da série televisiva Povo que Canta de Michel Giacometti em dois espetáculos de dança contemporânea Nos últimos dez anos sucederam-se várias criações em dança contemporânea que abordam os temas da identidade portuguesa e da tradição: Vale de Madalena Victorino (2010), A Viagem de Filipa Francisco (2011), Os Serrenhos do Caldeirão, Exercícios em Antropologia Ficcional de Vera Mantero (2012) e Fica no Singelo de Clara Andermatt (2013). Estas duas últimas criações recorreram à reedição de Povo que Canta de M. Giacometti (2010, Tradisom/Público), inspirando-se para a criação coreográfica ou incluindo as próprias imagens no dispositivo cénico. Partindo da análise das duas obras e dos seus processos criativos, pretendemos refletir sobre a utilização de documentos audiovisuais de cariz etnográfico na criação artística. Centrarmo-nos na questão da alteridade que sustenta estas duas releituras, que leva a definir o que pode ser no Século XXI um exotismo do próximo ou um primitivismo na arte contemporânea. Ruralidade encantadora ou desertificada, presente sem passado - passado sem presente, distanciamento e atração pelo desconhecido dão corpo a estas duas encenações, tal como Michel Giacometti usou desta alteridade contrastante para criticar as condições de vida do interior de Portugal. Além de entrevistas feitas às coreógrafas, a pesquisa baseou-se também num questionamento autorreflexivo, estando preza em ligações emocionais. De facto, colaboramos enquanto consultora e produtora em Fica no Singelo e da mesma forma que Vera Mantero, vasculhamos a Serra do Caldeirão com propósito similar ou oposto: ir ao encontro dos habitantes daquela Serra e registar as suas práticas coreográficas e musicais. Sophie Coquelin. Licenciada em Etnomusicologia pela Universidade Paris-X-Nanterre (França, 2004) e Mestre em “Ethnologie des Arts Vivants” ;pela Universidade Nice Sofia-Antipolis (França, 2013), Sophie Coquelin investiga os processos de revitalização da dança de raiz tradicional em Portugal. Publicou o seu primeiro artigo na Post-Ip - Revista do Fórum Internacional de Estudos em Música e Dança (INET-md, polo UA): “Arte de mandar e teatralidade nos bailes de chamarritas” (http://revistas.ua.pt/index.php/postip/article/view/3436). Atualmente tem uma bolsa de investigação para Mestre no centro de investigação INET-md, polo FMH-ULisboa, onde trabalha nomeadamente no projeto Terpsicore, base de dados de dança e artes performativas em Portugal, coordenado pelo Prof. Daniel Tércio.

Arte Pastoril – do Alentejo para o Mundo Silvia ​Lézico

Projecto desenvolvido no âmbito do Mestrado em Ilustração Artística, pela Universidade de Évora, em 2014/2015, onde se explora a criação de um Alfabeto Gráfico tendo como inspiração a Arte Pastoril. Num processo criativo que não se propõe mimetizar ou copiar numa perspectiva salvaguardista, mas antes, recriar e construir novas formas visuais de um Alfabeto Gráfico inspirado pelos e nos seus elementos constitutivos, a partir de uma pesquisa aprofundada dos seus registos etnográficos. Foi assim essencial optar por uma metodologia baseada na investigação, recolha, selecção e análise de elementos decorativos que compõem as peças de Arte Pastoril em Portugal, principalmente do Alentejo. Constatou-se que existe uma grande riqueza gráfica patrimonial com extenso conteúdo a ser explorado, que pode e deve servir de incremento à criatividade e vir a constituir assim uma actualização das linguagens existentes, cruzando várias disciplinas tais como as artes decorativas, o design, a etnografia e o património. Esta investigação propõe-se a ser uma visitação, reapropriação, reinterpretação criativa de formas, soluções e imaginário popular associados à Arte Pastoril. Sílvia Lézico (Moura, 1978), licenciada em Tecnologia e Artes Gráficas pelo Instituto Politécnico de Tomar, em 2005, deu os primeiros passos como Designer Gráfica no grupo Novodesign/Brandia, passando por diversas agências de comunicação. Integra desde 2010 a equipa da BACK Communication, desenvolvendo projectos para Angola, Moçambique e Portugal. Concluiu em 2015 um mestrado em Ilustração Artística pela Universidade de Évora, tendo ganho uma bolsa de investigação artística, com este projecto, pelo Centro de Estudos Ibéricos, enquadrada na linha de acção "Património e Turismo Cultural”. Paralelamente faz ilustração e investigação em Arte e Etnografia.

A construção da memória no GEFAC: meio século de cruzamentos entre arquivo e performance Julieta Silva

Fundado em Coimbra em 1966, o GEFAC comemora cinquenta anos de actividade em torno do estudo e divulgação da cultura de proveniência rural. Tema-chave destas comemorações, a memória no GEFAC – sustentáculo do seu modelo performativo e pilar do relacionamento intergeracional – articula-se em torno de dois eixos principais: o arquivo – que inclui, entre outros, o resultado de sucessivas prospecções etnográficas empreendidas em meio rural – e a performance, através da qual este grupo tem possibilitado a migração geográfica e temporal de realidades expressivas, contribuindo para a construção de uma nova imaginação sónica (Sterne 2012). O GEFAC desde cedo procurou a legitimação (Ronström 1996) das suas representações na antropologia, apoiando a sua acção, entre outros, nos trabalhos de Jorge Dias (a quem solicitou orientação metodológica para os seus empreendimentos etnográficos) – ou nos da sua equipa. Também importante para a identificação (Ibid.) da “tradição” que o grupo passou a representar de forma criativa, foi a influência exercida por figuras ligadas a uma “etnografia crítica” (Leal 2000), como Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça.Assim objectificada (Handler 1988) em performance, acercamo-nos de uma etnografia como foi repensada por Conquergood (2002), que enfatiza tempo em vez de espaço, som e voz em vez de visão, performance em vez de texto. Nesta comunicação abordarei a forma como o GEFAC lida, hoje, com a sua memória e reflectirei sobre a operacionalidade actual dos processos legitimadores que, numa fase inicial, foram centrais. Apoio-me, para esta comunicação, em trabalho de campo com observação participante que me encontro a realizar neste colectivo. Julieta Silva tem um percurso musical e artístico ligado à música tradicional portuguesa, que encetou com a sua passagem pelo GEFAC, em Coimbra, onde teve o primeiro contacto com as etnografias e com a sua utilização a um nível performativo. Integrou posteriormente projectos como Chuchurumel, Diabo a Sete e Alacrã. Participou na concepção e realização de diversos espectáculos construídos em meio rural, envolvendo as populações locais com o intuito de cruzar linguagens musicais. Em 2009 editou “A Festa dos Montes”, um estudo etnomusicológico realizado no âmbito da pós-graduação em Estudos de Música Popular (FCSH-UNL). Concluiu o mestrado em Musicologia na Universidade de Aveiro em 2015 com a dissertação “Estéticas e Políticas do Revivalismo da Sanfona em Portugal (1976-2015)”. Frequenta actualmente, na mesma universidade, o Doutoramento em Etnomusicologia.

11.30 - 11.45 // Pausa

11.45​ ​Biblioteca​ \\ Painel 8:​ ​Modos de fazer in/visível I (lotação limitada a 60 lugares)

Moderadora: Catarina Alves Costa

Do Heroísmo à Firmeza: roteiro da resistência ao Fascismo no Porto Mário Mesquita

A história da polícia política em Portugal não se cinge à PVDE/PIDE/DGS. Contudo, pela brutalidade dos seus métodos, pela sua ligação umbilical ao poder autoritário e pela rede de condicionamento político/social/espacial que montou no território e a fez poder e saber durar, a polícia a que vulgarmente chamamos de PIDE ficará vincadamente veiculada à identidade portuguesa. O presente trabalho, associado ao conceito que pontifica, em título, esta comunicação, funda-se numa investigação de matriz etnográfica. Partindo de uma base documental, resulta, através da sua materialização, numa produção que cruza antropologia e arte, criando nesta com a retaguarda da primeira. Fixa a pluralidade de leituras do nosso imaginário colectivo (na medida do que a distância temporal já permite) sobre uma parte substancial da sua implantação na cidade, do condicionamento de vidas e consciências, do apogeu, declínio e extinção da sua acção. O local de instalação deste objecto visual (a PIDE no Porto – actual Museu Militar), para além de recuperar as suas memórias in situ, tentando maximizar as suas potencialidades espaciais, o rasto da sua ocupação e quotidiano, dele se serve para trabalhar visualmente as intersecções e interferências com a cidade, ajudando a informar/interpretar os locais de opressão/resistência, articulando a acção no interior do edifício-sede com a rede de edifícios/espaços públicos que vigiava. A matéria em trabalho – pessoas e espaços –, nas vertentes sensoriais e racionais, explora as diferentes dimensões da memória, construindo, entre analógico e digital, conjugando impressivamente representações qualitativas do espaço e dos objectos, fotografias e textos a ele associados. Mário Mesquita. ​Arquitecto (FAUP, 1995) e investigador. Doutor em Arquitectura (FAUP, 2015) e Mestre em Planeamento e Projecto de Ambiente Urbano (FAUP/FEUP, 1998) é Professor Auxiliar na FAUP (Mestrado Integrado em Arquitectura), instituição na qual exerce a docência na unidade curricular de Projecto desde 1998.

Visibilidades/Visualidades Arlindo Horta

O meu percurso, entre o cinema, os média e a antropologia, tem de algum modo – nem sempre consciente – refletido o meu interesse na produção contemporânea de imagens e na sua relação com estratégias de produção de visibilidade no mundo moderno. O filme Tão perto do silêncio, que realizei de 2010 a 2012, procurava registar a complexidade e as dificuldades de uma performance da memória entre requerentes de asilo em Portugal. Mas a minha escolha desse contexto, então praticamente invisível em Portugal, foi também informada pela possibilidade de trabalhar essa invisibilidade concreta num diálogo subterrâneo com determinadas representações visuais da categoria refugiados muito presentes nos média internacionais. Esse contexto ganhou, pelas razões mais dramáticas, uma hipervisibilidade inaudita na realidade europeia (e portuguesa). Interrogo-me como seria trabalhar hoje essas mesmas imagens, ou se tomaria as mesmas opções que na altura. Por outro lado, a minha pesquisa atual pretende analisar a produção de registos audiovisuais de patrimónios culturais locais, no contexto dos média, ao serviço das estratégias autárquicas de produção de visibilidade. A pesquisa em curso desdobra-se entre a banalidade das imagens produzidas pelos média nacionais (a televisão, em particular), e as imagens produzidas localmente no contexto dos novos média digitais. Na comunicação para este colóquio, proponho uma reflexão a partir do meu trabalho passado e presente sobre a relação entre a visualidade contemporânea e o imperativo político, económico e

social da produção estratégica de visibilidade, entendida, como sugere Nathalie Heinich (De la visibilité, 2012), como capital social específico da contemporaneidade. Arlindo Horta. ​Estudei Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema e, mais tarde, Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da UNL. Trabalhei como guionista de televisão durante boa parte do meu percurso, realizei uma curta-metragem de ficção, ​Fotocuic (2001), e o documentário ​Tão perto do silêncio (2013) sobre requerentes de asilo em Portugal, projeto final do mestrado em Antropologia - Culturas Visuais (FCSH-UNL). Atualmente, sou bolseiro FCT no programa ​Imagens e Políticas da Cultura e Museologia, com o projeto "O património ​em direto: produção de visibilidade e itinerários do popular".

Dispositivos estético-políticos: “El Siluetazo” Ana Monteiro

Esta proposta de comunicação gira em torno de uma reflexão e problematização das relações entre dispositivo, performance e memória, a partir do acontecimento estético-político que ficou conhecido como “El Siluetazo". Dia 24 de Março de 1976, ocorreu um golpe de estado militar na Argentina que se chamou “reorganização nacional”, processo que sistematizou a repressão política que tinha vindo a aumentar nos anos anteriores. Cerca de 30.000 desapareceram. As suas mães exigiram que suas filhas e filhos fossem devolvidos através do slogan “exigimos a aparição com vida” e a 30 de Abril de 1977 criaram a organização das Mães da Praça de Maio. Dia 21 de Setembro de 1983, ainda durante a ditadura, as mães organizaram a “Terceira Marcha da Resistência” na Praça de Maio que começou a encher-se de centenas de silhuetas em tamanho real, traçadas em papel. O procedimento, que partira de um projeto artístico de três artistas, Rodolfo Aguerreberry, Julio Flores e Guillermo Kexel, é rapidamente apropriado e reproduzido a nível nacional , revelando-se como exemplo da socialização de instrumentos estéticos para a produção de imagem, funcionando simultaneamente como forma de visibilização, de contravisualidade e de organização da cooperação social no espaço público. Desde então, este dispositivo tem sido utilizado na representação de desaparecidos contextos geopolíticos distintos. Ana Monteiro ​é uma coreógrafa, performer e investigadora indisciplinada. Atualmente toma parte do doutoramento em Estudos Artísticos pela Universidade Nova de Lisboa (bolsa individual FCT). De 2010-2012 participa no mestrado MA SODA pelo Centro HZT- Inter-Universitário de Dança Berlin / UDK-Universitat der Künste Berlin (bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian). Em 2007 formou-se pela Escola Superior de Teatro e Cinema (ESTC) e em 2006 leva a cabo o Curso de Pesquisa e Criação Coreográfica e o Curso de Dança na Comunidade pelo Fórum Dança, Lisboa. Aborda a coreografia enquanto prática expandida e encontra-se particularmente interessada em repensar o comum e as formas de vida. Vive e trabalha entre a America do sul e a Europa.

O projecto De Boca em Boca: Entre a Memória e a Materialidade Joana Hortas, Inês Jorge e Patrícia Bateira

Numa colaboração com o Festival Silêncio, o Anexo 1 criou uma actividade para o público que reflectia sobre as memórias do Cais do Sodré. Através desta iniciativa, pretendia-se promover a transmissão oral de histórias contadas por moradores, comerciantes e amantes do bairro, estimular o encontro e dar voz e corpo a utentes, incitando-os também a reflectir sobre a sua relação com o local. O grupo encontrou-se com o artista Thierry Simões, que deu um contributo partindo da leitura do Le Savon (1967) de Francis Ponge, foram discutidas as potencialidades narrativas dos objectos. O objecto tornou-se então o ponto de partida das histórias narradas. Embora as histórias nem sempre surgissem com facilidade, focando nos objectos, deixados a um canto do estabelecimento ou esquecidos, accionaram-se memórias que o Anexo registou. No Festival Silêncio uma actividade convidou o público a descobrir as histórias e a partilhar as suas. Os resultados obtidos motivaram a continuação do projeto. A inexistência física de alguns dos objectos conduziu à necessidade de encontrar outras formas de os representar visualmente, onde membros do Anexo e artistas foram desafiados a ilustrar as histórias e/ou objectos, acrescentando uma nova camada de interpretação a essas memórias. As histórias e ilustrações

foram reunidas numa publicação que será distribuída pelos estabelecimentos e pelo do bairro. Pretende-se que as publicações sejam lidas e transportadas, e que a transmissão destas histórias continue para além. Na comunicação propomos a apresentar todo o processo e o novo valor acrescentado da representação visual neste projeto. Inês Jorge é Licenciada em História da Arte (2011) e Mestre em História da Arte Contemporânea (2014) pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tendo defendido uma dissertação sobre a relação entre o artesanato e a arte entre os séculos XIX e XXI.Joana Hortas é licenciada em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE-IUL (2014) e Mestre em Estudos da Cultura- Gestão das Artes e Cultura pela Universidade Católica (2017), tendo defendido uma dissertação sobre a cultura e as artes em processos de reabilitação urbana. ​Tem colaborado com diversos museus e instituições culturais em áreas como a educação, a investigação, a produção e a programação. Actualmente, integra o colectivo Anexo da associação cultural Arquivo 237. Joana Hortas é licenciada em História Moderna e Contemporânea pelo ISCTE-IUL (2014) e Mestre em Estudos da Cultura- Gestão das Artes e Cultura pela Universidade Católica (2017), tendo defendido uma dissertação sobre a cultura e as artes em processos de reabilitação urbana. Actualmente, integra o colectivo Anexo da associação cultural Arquivo 237. Patrícia Pinheiro Baptista ​Licenciada em Ciências da Educação pela Universidade de Lisboa, Patrícia Pinheiro Baptista tem ​trabalhado ao longo da sua carreira na área artística. ​Trabalha ao nível da Educação Patrimonial, atualmente é professora de apoio ao estudo do 2º ciclo do ​ensino básico. Membro do ANEXO, projeto de educação não formal da Associação cultural Arquivo 237, ​onde nasceu o projeto artístico “De boca em boca” com a participação do ANEXO no festival Silêncio.

Auditório​ ​\\ Painel 9: Modos de fazer in/visível II Moderador: João Leal

Filmes e ensaios: a exibição como motor de redescoberta na produção de vídeos com carácter etnográfico e suas reformulações Inês Ponte

A produção audiovisual tem sido uma prática que tenho vindo a explorar enquanto método e produto de pesquisa, realizando filmes etnográficos e mais recentemente ensaios audiovisuais baseados em materiais de arquivos etnográficos. A partir de um terreno ou de um arquivo, o denominador comum dos trabalhos que pretendo abordar situa-se na relação entre elaborar e reformular “artefactos” visuais que incidem sobre o Sudoeste de Angola rural. Discutindo três casos de apresentação audiovisual e suas reformulações posteriores, pretendo explorar os diferentes entendimentos gerados por esses processos de exibição contemplando tanto diferentes contextos académicos como eventos para um público mais geral. Ambas vertentes de produção audiovisual, filmes e ensaios audiovisuais, foram marcadas pela realização de versões que refletem um certo entendimento alcançado em diferentes fases de pesquisa em simultâneo com a oportunidade de uso do audiovisual para exibição. A redescoberta da produção de significado a partir de diferentes propostas de exibição destes materiais audiovisuais e fotográficos, tem proporcionado continuidade ao audiovisual enquanto terreno fértil de investigação. Inês Ponte (1979, Lisboa) é doutorada em Antropologia Social com Meios Visuais (2015, Universidade de Manchester, Reino Unido, Bolseira da FCT), pós-graduada em Realização de Documentário (2006, Universidade Lusófona) e licenciada em Antropologia (2003, ISCTE). Trabalhou como investigadora em contextos etnográficos (Brasil, Angola) e museológicos (Portugal, Suíça, Holanda, Bélgica) sobre várias geografias (Angola, Índia). O seu trabalho tem cruzado a investigação com o vídeo documentário, tanto desenvolvendo projectos seus como colaborado em equipas transdisciplinares.

A memória involuntária dos arquivos: o caso do Projecto Mozambique Institute Catarina Simão

Um filme Super 8 sem som, feito em Dar-es- Salaam em 1967 mostra o ensaio de uma peça de teatro. Um homem branco orienta um grupo de jovens negros. Intuem-se ligações ternas entre eles que contrastam com a cena representada, na qual um corpo é forçado a rendição. Há coqueiros na paisagem e um letreiro afincado no chão que diz, “The Mozambique Institute”. As imagens de arquivo trazem sempre a promessa de reter a essência da verdade, mas a essa promessa vem sempre associada uma traição em potencial, quando a simples transposição no tempo pode trai-las sem esforço. Sob a forma de um pequeno ensaio visual, Effects of Wording* experimenta a separação não (apenas) entre a pista de som e a imagem, mas (também) entre a matéria visual e o seu texto; estas duas partes se relacionando remotamente não só no tempo, mas também no espaço, uma vez que um lapso geo-político ocorreu entre a captação ou transmissão de um e a publicação do outro. Neste filme-ensaio eu mostro outros documentos, fotografias e excertos de vários filmes dos anos 60-70, recolhidos durante a pesquisa que fiz sobre a emergencia duma pedagogia radical durante a Luta pela Libertação de Moçambique. O fascínio pelos regras da montagem militante são expressão da organização da matriz da Luta, e seguem regras implícitas - que por isso hoje requerem decifração. Para os descifrar, o filme reconstitui essa matriz usando os princípios teorizados pelo pedagogo brasileiro Paulo Freire, que esteve secretamente implicado no processo. Catarina Simão (n. 1972) é arquitecta, artista e investigadora independente. Desde 2009 desenvolve projetos artísticos e culturais em torno da história do cinema moçambicano, onde trabalha alternativas de recuperação e preservação através da reapropriação de filmes de arquivo. Entre 2010 e 2016 colaborou com o Festival Dockanema, a Mostra Kugoma e o Instituto Nacional de Cinema de Moçambique. Hoje vive entre Lisboa e Maputo. Na Europa, mostra o seu trabalho artístico internacionalmente, em Bienais e museus, envolvendo tanto audiências da arte contemporânea quanto a pesquisa acadêmica. Trabalha sem filiação institucional. ​www.catarinasimao.com

Fabricando um telos para a “escultura angolana”- das abstrações antropológicas de José Redinha às materializações plásticas de Acácio Videira João Figueiredo

Durante o colonialismo tardio português (1930-1970), novas oportunidades de recolha em larga escala de objectos da cultura material africana, ou de informações mais precisas sobre esta, quer escritas, pictográficas ou fotográficas, colocam um desafio urgente perante os responsáveis pela elaboração de relatórios, a catalogação de peças e a direcção de museus: como dar sentido à diversidade encontrada? Neste contexto, uma dificuldade acrescida coloca-se aos hermeneutas ocidentais, patrocinados pelo Estado imperial e o grande capital: a ausência de uma História da Arte Africana canónica, capaz de sugerir um telos pré-estabelecido contra o qual contrastar as peças recolhidas. A categoria ocidental da ‘Arte’, bem como a crítica artística, depende em larga medida da História da Arte, pois sem o recurso a esta é impossível estabelecer continuidades ou rupturas, identificar escolas de sensibilidades ou influências e, por fim, desclassificar um dado objecto como sendo ‘artesanato’, ‘folclore’ ou ‘peça etnográfica’ (os itens ‘ahistóricos’). Nesta apresentação, iremos demonstrar como o etnógrafo José Redinha abstrai, a partir das várias peças que analisa em obras como Um esquema evolutivo da escultura antropomorfa angolana ou Esboço de classificação das máscaras angolanas, uma teleologia que vai impondo a vários elementos da cultura material local, projectando esquemas ilusoriamente diacrónicos em objectos resultantes de recolhas coevas. Por outro lado, teremos em atenção a obra plástica do seu colaborador Acácio Videira, escultor e fotógrafo que, a partir das abstracções que toma como a “essência da arte africana”, irá materializar um acervo original de esculturas, buscando alcançar plenamente o telos da ‘arte africana’. João de Castro Maia Veiga Figueiredo é doutorado em Altos Estudos em História - ramo Império, Política e Pós-colonialismo, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A sua tese, de título Política, Escravatura e Feitiçaria em Angola (séculos XVIII e XIX) (2016), foi orientada pelo Prof. Dr.

Fernando Catroga, e versa sobre o papel que as acusações de prática de feitiçaria tiveram na justificação e manutenção do tráfico negreiro, bem como na criação de escravos em tempo de paz. Licenciado em Antropologia pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, dedica-se à Antropologia Histórica, ao estudo da História de Angola e das relações Afro-Brasileiras, bem como da História da Antropologia no contexto imperial português. Tem como especiais interesses a história da gestão politica das acusações de feitiçaria no contexto da África portuguesa, a História da Antropologia sobre Angola e os laços intelectuais Afro-Brasileiros ao longo dos séculos XIX e XX. Com artigos publicados em Portugal e no Brasil, havendo apresentado o seu trabalho regularmente em Portugal, Brasil e Inglaterra, bem como na Dinamarca, Suécia e Itália, é actualmente candidato a pós-doutoramento da FCT pelo Instituto das Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), sendo colaborador do Centro de Estudos Interdisciplinares do Século XX (CEIS20) da Universidade de Coimbra, e do Centro de Estudos de História e Cultura (CHSC) da Universidade de Coimbra.

iconografia uma Índia. ou várias José Capela

Propõe dar-se testemunho de uma abordagem artística (especulativa e não científica, portanto) da iconografia enquanto elemento mediador entre culturas. Em 2016, fiz a cenografia de La Bayadère na CNB, um clássico do ballet passado na Índia, que estreou na Rússia em 1877. A apropriação diz mais sobre quem apropria do que sobre o apropriado. Nas poucas imagens que encontrei do cenário original, é mais fácil identificar a pintura romântica europeia, do que a Índia. O “exótico” resume-se a alguns sinais tímidos em imagens que são tão “ocidentais” como a ideia de ballet. Se o retrato do outro está objetivamente errado, esse retrato tem um interesse que é da ordem da invenção. Aliás, por definição um retrato não é a coisa retratada (“Ceci n’est pas une pipe”). Proponho apresentar os cinco cenários de La Bayadère e discuti-los enquanto construção iconográfica de uma Índia inventada, que teve como matéria-prima: (1) um postal da década de 1900 da primeira mesquita construída na Inglaterra; (2) uma gravura de Thomas e William Daniell de um albergue de peregrinos em Madurai; (3) um selo de Jaipur de 1931 e a proteção em que foi enviado pelo ebay; (4) a caixa de um puzzle com o trono de Luís II da Baviera no Pavilhão Árabe de Linderhoff; (5) uma fotografia do Taj-Mahal; (6) um tapete oriental de bonecas; (7) a gravura de um cenário de Bibiena para Alexandre na Índia, o espetáculo de abertura da Ópera do Tejo, poucos meses antes do terramoto. José Capela é arquiteto (FAUP, 1995). Doutorou-se com a dissertação Operar conceptualmente na arte. Operar conceptualmente na arquitetura. É docente na Universidade do Minho desde 2000, onde leciona nos cursos de arquitetura e de teatro, e é investigador do Lab2PT. Foi um dos comissários da Trienal de Arquitetura de Lisboa 2010, e membro dos projetos Inquérito à Arquitetura Portuguesa do Século XX (Ordem dos Arquitetos) e Ruptura Silenciosa. Intersecções entre a arquitetura e o cinema. Portugal, 1960-1974 (FAUP / Cinemateca Portuguesa). Foi membro do conselho editorial do Jornal-Arquitetos (Ordem dos Arquitetos). Iniciou-se no teatro no TUP. Em 2003 fundou, com Jorge Andrade, a mala voadora, companhia da qual é codiretor artístico e cenógrafo. Trabalhou como cenógrafo com Rogério de Carvalho, João Mota, Miguel Loureiro, Álvaro Correia, Marcos Barbosa, Teatro Praga, Mickael Oliveira/Nuno M. Cardoso, Raquel Castro, Companhia Maior, Voadora (ES), em colaboração com Third Angel (UK) e Association Arsène (FR), e para a Casa-Museu Guerra Junqueiro, o programa Cultura em Expansão, o Teatro Maria Matos, a Companhia Nacional de Bailado e o São Luiz Teatro Municipal. Escreve regularmente sobre arquitetura e sobre cenografia, e tem apresentado comunicações em conferências nacionais e internacionais. Em 2013, publicou o livro sobre o seu trabalho Modos de não fazer nada. É Presidente da Direção da APCEN – Associação Portuguesa de Cenografia. Foi-lhe atribuído o Prémio Autores SPA 2016 na categoria de melhor trabalho cenográfico por Pirandello (mala voadora) e foi nomeado para o mesmo prémio em 2012 por memorabilia (mala voadora). 13.15 - 14.30 // Pausa para almoço

14.30 ​Auditório \\ Painel 10: Modos do fazer entre a arte e a

antropologia

Moderadora: Catarina Alves Costa

Ar no mar – Da observação à acção, poéticas em relação Virgínia Frois

Nesta comunicação apresentam-se dois projectos, ambos desenvolvidos com grupos de oleiras de Cabo Verde.1Guardar Águas (2006) teve como objectivo promover o resgate da olaria tradicional feita por mulheres. Esta acção que, ao ser desenvolvida, tornou visível experiência das oleiras, esta actividade originou o Centro de Artes e Ofícios de Trás di Munti no Município do Tarrafal de Santiago em Cabo Verde. Produzidos vários filmes de carácter etnográfico e documental. 2 Ar no Mar (2014), partimos do princípio que projectos desenvolvidos no campo da arte podem potenciar e enraizar as artes locais, e dar visibilidade a sítios periféricos. Enunciaremos três referências: a primeira, de Edouard Glissant na obra Poética da relação, a segunda de Brancusi com o Monumento Tîrgu-Jiu (1938); e a terceira, as noticias diárias dos migrantes dos desastres no mar. O processo criativo desenvolveu-se a partir das relações estabelecidas entre nós, das histórias de vida relacionadas com a olaria ou com as outras artes. A obra, foi o resultado do conhecimento e da experiência, da interacção e da diversidade das ideias/formas, desenvolvidas por cada uma, pensando com as mãos na ideia geradora, no modo de fazer da olaria, formas em rotação, empilhando recombinando, tomando o tamanho dos nossos corpos, um espaço interior presente, uma metáfora. As colunas foram expostas no Convento de São Francisco na Cidade Velha. Produzido um vídeo arte. Que inovações os processos da arte aportam a estas comunidades, como activam a memória e potenciam o renascimento destes ao lugares? Virgínia Frois | ​Escultora e professora (FBA.UL). Expõe com regularidade em Portugal e no estrangeiro onde se destaca o Projecto Ressonâncias realizado no Brasil (2012). Fundadora da Associação Oficinas do Convento (1996) em Montemor-o-Novo, onde criou o programa de residências artísticas no Projecto do Telheiro (OC-TEC). Funda no Tarrafal de Santiago, em Cabo Verde, o Centro de Artes e Ofícios de Trás di munti (2009) na sequência das actividades no âmbito da etnocerâmica Guardar águas (2006). O Projecto Ar no Mar (2014) desenvolve-se como uma pratica colaborativa , estabelece uma relação entre olaria e escultura.

Prática (e materialidade) Desenho Indireto Constança Arouca

Apresenta-se uma reflexão sobre a prática da gravura como desenho indireto na arte contemporânea portuguesa, criando relações com outras práticas artísticas. Observar a gravura como desenho indireto, mais do que um estudo do objeto impresso, remete para uma visão alargada do processo. Para além da preparação dos materiais, como primeiro gesto de transformação de quem os trabalha, do encadeamento de momentos de transferência em diferentes superfícies de impressão, e da revelação da imagem que contrai em si todos os gestos, pretende refletir sobre a interferência do corpo na feitura da gravura. Este processo, que é demorado, manual, imprevisível, lento, faseado, permite observar noções de repetição e inversão, clássicas à disciplina, como elementos que afetam o trabalho do material e criam uma distância ao suporte final, o que comporta uma desorientação a par de uma reconfiguração do corpo. A noção de colaboração na gravura será abordada como aspeto do desenho indireto, que na oficina toma o valor de tradução ou atrito e remete para diferentes regimes de atenção ou humor. Tomamos a colaboração como exemplo do desenho indireto, na arte e na antropologia. Constança Arouca.​ Nasceu em Lisboa em 1976, onde vive e trabalha. Concluiu em 2004 o Curso Avançado em Artes Plásticas e, em 2005, o Projecto Individual no Curso de Imagem em Movimento, ambos no Ar.Co. Em 2006 participou no Curso de Artes Visuais do Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística. Em 2009 e 2011 foi artista residente no AGA – Amsterdams Grafisch Atelier. Em 2016

concluiu o mestrado de Antropologia de Culturas Visuais na FCSH da Universidade Nova de Lisboa. Tem desenvolvido o seu trabalho na área do desenho, da gravura e do vídeo. Colabora com o Museu do Oriente e Museu Nacional de Arte Antiga.

Imagens em movimento, práticas cinematográficas e a questão do artístico Sofia Sampaio

Esta comunicação discute alguns resultados do projecto exploratório “Atrás da câmara: Práticas de visualidade e mobilidade no filme turístico português” (EXPL/IVC ANT/1706/2013), desenvolvido entre Abril de 2014 e Setembro de 2015, em parceria com o Arquivo Nacional das Imagens em Movimento (ANIM), da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. O projecto procurou ultrapassar uma concepção da imagem como ‘representação’ e ‘conteúdo’ (indexical ou poético), através do conceito de ‘práticas’, teoricamente situado entre aquilo que as imagens mostram e o que esteve ‘atrás da câmara’ no momento da sua captação. Também se focou em objectos fílmicos pouco estudados (filmes turísticos, filmes de utilidade, jornais de actualidades, entre outros), que operam num espaço de negação do artístico, que, como é sabido, tem dominado o campo cinematográfico. As entrevistas que fizemos a realizadores e técnicos de alguns dos filmes que visionámos, mais do que revelar-nos as práticas que assistiram à produção desses filmes, sugerem o valor que elas detinham para estes profissionais – um valor regulado, acima de tudo, pela dualidade arte-indústria, em que assenta (de forma ‘distraída’) o próprio dispositivo cinematográfico. Falar de práticas e processos de trabalho traz consideráveis ganhos para o estudo de imagens como estas – e para o estudo das imagens em movimento, em geral. Sofia Sampaio é investigadora auxiliar no CRIA-IUL. Entre Abril de 2014 e Setembro de 2015 coordenou, como Investigadora Responsável, o projecto exploratório “Atrás da câmara: Práticas de visualidade e mobilidade no filme turístico português” (EXPL/IVC-ANT/1706/2013), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Actualmente, continua a desenvolver essa linha de investigação no âmbito do projecto Investigador FCT (IF/00313/2013). É também coordenadora do Grupo de Trabalho Outros Filmes, da Associação dos Investigadores da Imagem em Movimento (AIM).

16.30​ ​Auditório​ \\ Conferência encerramento

Art, anthropology and the margins Amanda Ravetz

Moving between art and anthropology’s instituting practices, it is clear the extent to which they bring different territories into being. Despite examples of how the two disciplines' interests merge, blur or are otherwise reconfigured, differences in terms of pedagogy, professionalisation, epistemology and modes of evaluation and validation are nevertheless palpable. At the same time, the phrase ‘having a hammer turns everything into a nail’ could be a description of how art’s and anthropology’s investment in similar tools and questions leads to mutual misrecognition. Anthropology sees something that ‘looks like art’ and in mistaking it for art, fails to grasp artistic ways of doing and being. Art does the same to anthropology. One remedy might be the pursuit of equity across difference, over and above appropriation. Yet given the re-entrenchment of territory this seems to promise, what alternatives might be possible? Collaborations and actions at art’s and anthropology’s margins likely go unnoticed by their validating centres. Yet paradoxically it may be through such de-centring - seen for example in community art, or DIY culture - that the autonomy, or conceptual renewal

espoused by the two disciplines comes closest to being achieved. What might this mean for debates in and around art and anthropology? Amanda Ravetz is a social visual practitioner and writer. She teaches at the Manchester School of Art where she is a Reader in Creative Practice as Research. She has a PhD in Social Anthropology with Visual Media from the University of Manchester.

18.00​ ​Auditório​ \\ Concerto de Encerramento Concerto de Encerramento do Colóquio e Abertura da FACA I Museu Concreto por Nuno Salvado, Vahan Kerovpyan e Marius Pibarot

20.30​ ​Água no Bico | Pátio das Gaivotas, Lisboa

\\ Jantar de Encerramento MdFMdS

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