Workshop
Instituições para a Estabilidade Macroeconômica no Brasil
Gabriel Leal de Barros
19 de Dezembro de 2014
Sobre a Conjuntura Fiscal e os Desafios que se colocam
2
Análise Conjuntural
Desafios do Cenário Fiscal
São 2 os Desafios Fiscais para os próximos anos:
Recuperar a capacidade de produzir saldos fiscais positivos
Reconduzir a dinâmica da dívida pública para uma trajetória de sustentabilidade
Ambos exigirão reformas mistas nas receitas, inclusive na política de desonerações, nas despesas e na política parafiscal não triviais, tanto a curto quanto à médio prazo.
O ponto de partida, o ano de 2014, encerrará com resultado fiscal nulo, menos calamitoso apenas do que o déficit recorrente de 0,7% do PIB para as contas do Governo Central)
O sucesso da consolidação fiscal em perspectiva depende ainda da retomada do crescimento econômico, o grande fiador da balança.
Baixo crescimento e elevadas desonerações minam integralmente o fôlego das receitas primárias Taxa Real de Crescimento das Receitas e Despesas Acumulado de Janeiro a Outubro
Receita Liquída
11,1
11,3 11,2
Despesa Total
11,6
7,2
6,5 3,0
1,9
5,9 2,0
0,0
-5,5
4
Taxa de Crescimento (%)
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Impostos & Contribuições
-10,2
10,4
13,6
-0,3
1,3
-1,1
Receitas Previdênciárias
4,8
11,7
9,3
6,9
5,1
4,0
Análise Conjuntural
Resultado Primário é o menor desde a edição da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), em 2000. Superávit Primário Consolidado (em R$ Bilhões) Acumulado de Janeiro a Outubro
118,6
88,2
52,3
54,8
51,2
-11,6 2009
2010
2011
2012
2013
2014
Governos Central
64,1
31,9
-14,6
Governos Regionais
22,9
19,2
5,3
Empresas Estatais
1,2
0,0
-2,3
R$ Bilhões
5
Análise Conjuntural
Composição do Resultado Fiscal (% do PIB) Deterioração pós-crise, a exceção de 2011, é forte ..
Fonte: BCB, BNDES, CEF, STN e RFB. Elaboração FGV/IBRE.
.. e generalizada. Estados e Municípios da Região Sudeste ancoram piora do resultado primário.
Fonte: BCB, BNDES, CEF, STN e RFB. Elaboração FGV/IBRE.
Arcabouço Institucional da LRF foi positivo Situação melhorou substancialmente mas estabilizou-se na margem
Fonte: BCB, BNDES, CEF, STN e RFB. Elaboração FGV/IBRE.
Caminhos para o Ajustamento O que é possível fazer para reequilibrar as contas? Reduzir o vigor do crescimento das Transferências de Renda, em particular, dos gastos com Abono Salarial e Seguro Desemprego no curto prazo. Em prazo médio, a reforma previdenciária é imperativa. Reduzir os gastos com Subsídios e Subvenções, particularmente aqueles ligados a política habitacional (Programa Minha Casa Minha Vida e Minha Casa Melhor), energética e industrial (Programa de Sustentação do Investimento). Para o ajuste de curto prazo, é inevitável cortar investimentos públicos. Algum ganho fiscal na rubrica de pessoal pode ocorrer em função de negociações para reajustes plurianuais, inferiores ao crescimento do PIB. Reversão de desonerações tributárias deve apoiar 1º ano de ajustamento, no entanto, é insuficiente para recolocar o primário na casa de 2% do PIB. Elevações ativas de carga tributária dependerão da resposta do crescimento.
Síntese da Trajetória de Consolidação Fiscal (% do PIB) Gradualismo não é fácil e exigirá esforço considerável Ajuste Fiscal é bastante mais complexo do que os anteriores
Fonte: BCB, BNDES, CEF, STN e RFB. Elaboração FGV/IBRE.
Sobre a Despesa Primária e seu financiamento via Carga Fiscal
11
Análise Conjuntural
Consolidação Fiscal Sustentável tem de estabilizar gasto com Transferência de Renda e Subsídios. 4,1 dos 5,0 pontos do PIB de aumento da despesa primária nos últimos 16 anos se devem a maiores transferências de renda Despesa Total
Pessoal
Transferência de Renda
Subs. e Subv. Ampliado
Custeio Ajustado
Investimentos (Ex-MCMV)
10,00
20,0
9,00
18,0
8,00
16,0 14,0
7,00
14,0
6,00
12,0
5,00
10,0
4,00
8,0
3,00
6,0
2,00
4,0
1,00
2,0
0,00
0,0 1997
12
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
O Desafio da Quantidade: É fundamental conter a dinâmica de elevação do quantum de beneficiários A regra do Salário Mínimo hoje explica uma parcela menor da alta no gasto social. O número de beneficiários é cada vez mais relevante. Abono e Seg. Desemprego
INSS
Bolsa Família
BPC
Total
80 70 60 50 40
7
9
30 20
18
18
19
10
20
21
21
11
22
11
22
10
12
14
15
17
9
13
20
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
11
23
12
24
13
13
14
24
25
26
22
24
26
27
28
2008
2009
2010
2011
2012
0
13
TRANSFERÊNCIAS DE RENDA Composição por tipo de benefício | Quantidade Abono e Seguro Desemprego representam cerca de 40% do quantum de beneficiados, mais relevantes do que todo o subgrupo do INSS.
Participação 100% 90%
INSS
Abono Salarial
Seguro Desemprego
Bolsa Família
BPC
Transferência de Renda
6,0
5,8
5,6
5,5
15,1
18,2
20,8
19,5
80% 70% 60%
5,6
5,5
5,5
19,6
19,1
18,0 11,5
20,4
50%
11,6
20,2
5,5
19,1
Taxa de Cresc. 5,6
19,3
11,5
11,5
12,3
12,3
12,1
11,9
11,7
21,0
24,5
25,3
25,3
26,7
27,4
27,4
30,0
25,0 20,0 15,0
40% 10,0
30% 20%
47,1
44,2
41,0
39,0
38,8
37,2
36,5
36,1
36,1
5,0
10% 0%
0,0 2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Brasil versus Brasil: Ajuste Fiscal sempre foi feito pela ótica da Receita, com aumento de Carga Tributária Carga Tributária Bruta vis-à-vis Despesas primárias (Em % do PIB)
Fonte: Receita Federal e Tesouro Nacional
15
Fatores Condicionantes da elevação (queda) da CTB diferem Ciclo a Ciclo % PIB
Delta p.p PIB
Fim de Período 1991
1994 Plano Real
1998 2002 2006
2010
2013
Fim de Período 1991
I FHC II FHC I Lula II Lula I Dilma
1994 Plano Real
1998 2002 2006
2010
2013
I FHC II FHC I Lula II Lula I Dilma
Total
25,2
29,5
27,5
32,4
33,4
33,5
35,8
Total
-
4,2
-2,0
4,9
1,0
0,2
2,2
Federal
16,7
20,5
19,1
22,6
23,3
23,2
24,0
Federal
-
3,7
-1,4
3,6
0,7
-0,2
0,9
IR
3,6
4,1
4,9
6,1
5,7
5,6
5,5
IR
-
0,4
0,8
1,2
-0,4
-0,1
-0,2
RGPS
4,7
5,0
4,8
4,8
5,2
5,6
6,1
RGPS
-
0,3
-0,2
0,0
0,4
0,4
0,5
Pis/Cofins
2,4
3,5
2,5
4,3
4,8
4,8
5,1
Pis/Cofins
-
1,1
-1,0
1,8
0,5
0,0
0,3
CSLL
0,3
0,9
0,7
0,8
1,1
1,2
1,3
CSLL
-
0,6
-0,3
0,2
0,3
0,1
0,1
CPSS
0,1
0,2
0,3
0,3
0,5
0,6
0,6
CPSS
-
0,1
0,0
0,0
0,2
0,0
0,0
FGTS
1,3
1,4
1,7
1,5
1,5
1,7
2,0
FGTS
-
0,1
0,3
-0,2
0,0
0,2
0,3
Sistema S
0,2
0,3
0,2
0,2
0,2
0,3
0,3
Sistema S
-
0,1
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
Demais
4,0
5,0
4,0
4,5
4,2
3,3
3,1
Demais
-
1,1
-1,0
0,5
-0,4
-0,8
-0,2
Estadual
7,3
8,0
7,2
8,4
8,6
8,5
9,5
Estadual
-
0,7
-0,8
1,1
0,2
-0,1
1,0
IPVA
0,1
0,2
0,5
0,5
0,5
0,6
0,6
IPVA
-
0,1
0,3
0,0
0,0
0,1
0,0
ICMS
6,9
7,4
6,2
7,1
7,1
7,1
7,6
ICMS
-
0,5
-1,2
0,9
-0,1
0,1
0,5
Demais
0,3
0,5
0,6
0,8
1,0
0,9
1,3
Demais
-
0,1
0,1
0,2
0,3
-0,2
0,5
Municipal
1,2
1,0
1,2
1,4
1,4
1,8
2,2
Municipal
-
-0,2
0,2
0,2
0,1
0,4
0,4
ISS
0,3
0,4
0,5
0,5
0,6
0,9
1,0
ISS
-
0,1
0,0
0,1
0,1
0,3
0,1
IPTU
0,5
0,2
0,4
0,4
0,4
0,5
0,5
IPTU
-
-0,2
0,2
0,1
0,0
0,1
0,0
Demais
0,4
0,4
0,3
0,4
0,4
0,5
0,8
Demais
-
0,0
0,0
0,0
0,0
0,1
0,3
Fonte: Receita Federal e Tesouro Nacional
16
Elaboração: FGV/IBRE
Espaço para elevar ainda mais a Carga Fiscal é baixo. Política Fiscal demanda novos avanços institucionais, à altura de sua relevância.
-11,8 p.p
+16,7 p.p
+8,1 p.p
Fonte: OCDE, CEPAL e Receita Federal
Sobre a Dinâmica do Endividamento Público
18
Análise Conjuntural
Dinâmica da Dívida: Mesmo com a desvalorização cambial, trajetória é de elevação da Líquida .
.. e também da Dívida Bruta. Estabilidade é possível apenas no cenário otimista. Por hipótese, todos os ativos estão constantes como % do PIB, tanto as reservas internacionais quanto capitalizações a bancos públicos
Dependência do BNDES a aportes do Tesouro é grande e limita parada brusca nas capitalizações. Estrutura de Capital do BNDES (Pré e Pós-Crise)
Considerações Finais Recomposição do esforço fiscal será lento e gradual, em particular no cenário de baixo crescimento econômico e diante de elevada rigidez do gasto, tanto primário quanto financeiro Ainda que o ajuste fiscal mais forte em algum exercício seja possível, sustentação depende da retomada do crescimento econômico e ou de elevações ativas de carga tributária, já bastante elevada (36% do PIB) Além do efeito preço, relacionado à política do salário mínimo, existe um problema de quantidade por trás da robusta evolução das despesas primárias, particularmente ligada à questão Previdenciária, que será desfavorável no futuro próximo Sem crescimento, não existe solução crível em prazo médio capaz de equilibrar as contas públicas. Algum ajuste fiscal é possível e desejável, todavia a agenda também deve ser de resgate do crescimento econômico e produtividade É preciso aperfeiçoar a institucionalidade da Política Fiscal, incorporar um papel mais estratégico na execução dos investimentos públicos e passar a avaliar o custo-benefício de Políticas e Programas A agenda social-fiscal deve ser elevada a um novo patamar, de transferência não monetária de renda às famílias, pela via de melhores serviços de utilidade pública 22
Análise Conjuntural
Obrigado
23
Análise Conjuntural