SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO DIRETORIA DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PORTAL DIA A DIA EDUCAÇÃO Sequência de Aulas – Sociologia Autoras: Professora Elisandra Angrewski – Curitiba/PR Professora Ângela Dorcas de Paula – Curitiba/PR 1. Nível de ensino: Médio 2. Conteúdo Estruturante: Direito, Cidadania e Movimentos Sociais 2.1 Conteúdo Básico: Vulnerabilidade social 2.2 Conteúdo Específico: Migração 3. Objetivos ● Identificar a arte como reflexo, não apenas as emoções do artista, mas do meio social em que vive. ● Compreender a saga dos nordestinos em busca de um trabalho e de melhores condições de vida. ● Associar o ato de migrar à questões socioeconômicas e não, somente, ao desejo individual. 4. Número de aulas estimado: 3 aulas 5. Justificativa No Brasil, os processos migratórios estiveram presentes em todos os ciclos econômicos importantes da história e a “questão da imigração” esteve atrelada a recalques e ressentimentos que alimentam os preconceitos de parcelas da população, especialmente nos estados das regiões Sul e Sudeste. Nas abordagens sobre violência urbana, desemprego ou crise educacional, o migrante é construído, explícita ou implicitamente, como um “problema” a ser enfrentado e, frequentemente, é associado aos males que afetam os espaços metropolitanos. No entanto, alguns questionamentos se colocam: Por que o migrante deixa sua terra natal? Quais as condições de vida que

levaram o migrante a ver na mudança a única saída? Segundo as DCE de Sociologia “As desigualdades sociais podem ser consideradas a matéria-prima dos resultados sociológicos na atualidade e sua explicação está no fato de não resultarem, necessariamente, das diferenças individuais, mas das oportunidades desiguais na sociedade capitalista.” (DCE p. 84). Nesse sentido, o contexto socioeconômico é decisivo no processo migratório. Para análise dessa situação, pode-se fazer uso de diferentes estratégias e entre elas destacamos, nessa sequência de aulas, o trabalho a partir do livro trailer do poema "Morte e Vida Severina", de João Cabral de Melo Neto e da obra "Retirantes" (1944) do artista Portinari, que retratou muito do que viu na infância pois, desde pequeno, convivia com vai e vem das famílias que fugiam da seca do Nordeste à procura de trabalho. Essas imagens marcaram a vida do artista de tal modo que pintou a realidade do lugar em que vivia. Ambas as obras denunciam a saga nordestina, a esperança de trabalho e melhores condições de vida em uma cultura distinta. Essa mudança de trajetória é exatamente o que o nordestino faz: muda de cidade, trabalho, ambiente, cultura, tudo para fugir da miséria e se arriscar na cidade grande. Compreender que a situação de vulnerabilidade social pode, também, influenciar a mobilidade social, é fundamental para a descontrução de esterótipos pejorativos que em nada contribuem para a compreensão da realidade, ao contrário, geram distorsões. 6. Encaminhamento: 1ª Aula Conhecimentos prévios: o aluno deverá ter noções de movimentos migratórios. Iniciar a aula informando aos alunos que eles assistirão a uma animação da "Série Livro Trailer" que traz vídeos baseadas em obras literárias disponíveis nas bibliotecas das escolas. O trailer animado mostra trechos e informações sobre a obra literária "Morte e vida Severina" e de seu autor João Cabral de Melo Neto. Pedir que os alunos observem a animação procurando identificar o tema central da obra em questão.

Animação disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=17410 Caso os alunos não consigam identificar o tema, o professor deverá comentar que o poema conta a história do retirante Severino, que parte do sertão para o litoral (parte da morte do sertão para encontrar a vida em Recife). Como guia, Severino tem o Rio Capibaribe, mas, durante o percurso, só encontra morte e miséria. Ao chegar em Recife, a decepção: também lá há muita morte e tristeza. Resolve, então, “saltar fora da ponte e da vida”, atirando-se no Capibaribe (tenta suicídio); nesse tempo, em conversa com o mestre José carpina, uma mulher avisa que o filho (de José) “saltou para dentro da vida” (nasceu). O nascimento da criança devolve-lhe a esperança de vida, mesmo que seja uma vida severina. Após a identificação do tema central, que é a dura trajetória de um migrante nordestino (retirante) em busca de uma vida mais fácil e favorável no litoral, deve-se apresentar a imagem "Os Retirantes".

Disponível em: http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/galeria/detalhe.php? foto=862&evento=6. Acesso em mar 2013 Leitura de Imagem Apresentar aos alunos a obra e pedir que exponham suas percepções sobre ela a partir das seguintes questões.

- De quem é essa obra e qual é o título dela? Caso ninguém consiga responder a pergunta, o professor deve informar aos alunos: Título: Retirantes Autor: Cândido Portinari Data: 1944 Técnica: Óleo sobre tela Dimensão: 190 x 180 cm A obra pertence ao Museu de arte de São Paulo Assis Chateaubriand - Quantas pessoas podem ser observadas na imagem e como podemos descrevêlas? Espera-se que os alunos comentem sobre a presença de nove figuras humanas, sendo duas crianças de colo e mais três crianças maiores. Um velho com um cajado, duas mulheres: uma com a trouxa na cabeça e uma criança no colo, outra com uma criança no colo. Um homem mais novo também carregando uma trouxa nas costas, um céu escuro, chãos seco, urubus sobrevoando. Os personagens ilustrados por Cândido Portinari aparecem muito magros, e parecem famintos, sedentos de água. Percebe-se o olhar triste destas pessoas, aquele olhar que nos diz que já não existe esperança por uma vida melhor. Todas as pessoas apresentadas na obra têm partes do corpo à mostra, parecem não ter pele, apenas ossos e músculos, provavelmente fracos e frágeis.

- Qual o significado do título da obra e a que ele remete? A partir da resposta dos alunos, o professor deverá explicar que nesta obra, Cândido Portinari procura retratar o sofrimento dos migrantes, representados por pessoas magérrimas e com expressões que transmitem sentimentos de fome e miséria. Os retirantes nordestinos fugiram dos problemas provocados pela seca, pela desnutrição e pelos altos índices de mortalidade infantil e da acentuada desigualdade social do Nordeste.

Sugestão de leitura para o professor: NETO, Manuel Alves da Rocha. Possibilidades de leitura na obra “Retirantes” de Cândido Portinari. Monografia apresentada ao curso de Artes Plásticas da Universidade Federal de Uberlândia, no ano de 2006. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/modules/mydownloads_01/singlefile.php? cid=82&lid=7268. Acesso em 17/jul./2010.

Sobre a leitura de imagem: A leitura da imagem deve considerar tanto o sentido denotativo quanto o conotativo. A denotação refere-se àquilo que é visível na imagem, já a conotação refere-se às diversas interpretações que a imagem possibilita. Para esta atividade, o aluno fará necessariamente uso de estratégias cognitivas, culturais e afetivas. Vale lembrar também que a leitura de uma imagem não é linear, nem obedece uma sequência.

Para finalizar esse momento, deve-se solicitar que os alunos identifiquem as semelhanças e/ou diferenças entre a animação e a imagem. Caso os alunos não consigam identificar, o professor pode apontar alguns elementos: - Ambas tratam da migração - Ambas relatam a história de migrantes nordestinos - As personagens são movidas pela busca de uma vida melhor - Ambas foram criadas nos anos de 1940 e 1950 Na sequência, pedir que os alunos produzam um pequeno texto, versando sobre a afirmação: 'Portinari pintou muitos Severinos” Os alunos poderão terminar a atividade em casa. 2ª Aula A aula deverá acontecer na biblioteca da escola ou no laboratório de informática e como retomada de conteúdo, o professor pode solicitar que alguns alunos leiam suas produções da aula anterior, enquanto tece comentários sobre a temática das obras. Depois da leitura, apresentar o fragmento do texto Tendências e Modalidades Recentes das Migrações Internas e Distribuição Populacional no Brasil: um olhar para o nordeste, em que a autora apresenta as motivações histórico-sociais das migrações no Brasil.

“Os movimentos migratórios no Brasil, como se sabe, assumiram uma grande magnitude

e expressão a partir dos anos 1950 do século passado, num processo concomitante com a intensa urbanização do período e um acirramento das desigualdades regionais. Os intensos fluxos de população estiveram interligados à concentração da atividade econômica, aliada à produção de um excedente populacional no campo e a própria incapacidade das áreas urbanas das regiões mais atrasadas em absorver essa população”. (PATARRA, 2004, p. 50) Explicar para a turma que o fragmento associa o ato de migrar às questões socioeconomias, retirando do campo da individualidade ou do desejo, a ação migratória. Neste sentido, é possível investigar no laboratório de informática ou na biblioteca da escola a situação do povo nordestino no período em que as obras apresentadas foram concebidas, afim de compreender em que medida o contexto histórico influenciou o processo migratório e a confecção das obras. 3ª Aula Pesquisa de campo Nesta aula, o professor desenvolverá, acompanhado dos alunos, um roteiro para pesquisa de campo sobre o tema migração e imigração. É importante, antes de propor essa pesquisa, verificar se há incidência de migrantes na comunidade onde a escola está inserida. Após verificado isso, se inicia a confecção do roteiro para a pesquisa de campo. Antes da pesquisa de campo: Iniciar a aula falando para os alunos que eles farão uma pesquisa de campo, afim de verificar a incidência de migrantes na comunidade onde a escola está inserida e os motivos da migração. Para tanto, será necessário elaborar um roteiro. Obs: O planejamento de uma pesquisa de campo envolve a definição: – do tema/problema – dos objetivos – dos instrumentos de coleta de dados – de quem serão as pessoas envolvidas na pesquisa – da forma que se pretende tabular e analisar os dados •

Tema/problema: Na vida cotidiana, vivenciamos situações semelhantes às das obras “Morte e Vida Severina” e “Retirantes”?

•

Objetivo: verificar os motivos e as circunstâncias que levam as pessoas a migrarem. – guerras – condições econômicas desfavoráveis – adversidades naturais

•

Instrumentos de coleta: Pesquisa quantitativa – questionário

As questões aqui indicadas são apenas sugestões e cabe ao professor, junto aos seus alunos, verificar a inclusão ou supressão das mesmas de acordo com a realidade onde a pesquisa será efetuada. - Qual sua região/cidade de origem? - Com quantos anos você deixou sua cidade de origem? - O que te moveu a deixar sua cidade de origem? - Costuma visitar sua cidade de origem? - Gostaria de voltar a residir na sua cidade de origem? - Alguém mais da sua família deixou a cidade de origem? • No

População: moradores da comunidade onde a escola está inserida endereço

http://www.sociologia.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?

conteudo=694 você poderá encontrar mais informações sobre realização da pesquisa de campo, como organização, cuidados necessários, sugestões, etc. Depois da pesquisa de campo Fazer a tabulação e interpretação dos dados, afim de verificar a incidência de questões socioeconômicas na ação migratória. As conclusões podem ser expostas para toda a comunidade escolar, através do site da escola ou de um mural. 7. Relações interdisciplinares Ao analisar as obras Morte e Vida Severina e Retirantes, está se fazendo uso de conhecimentos de Arte e, ao investigar o contexto, as décadas que precederam a confecção da obra, está se trabalhando com elementos próprios da História e da Geografia. 8. Aprendizagem esperada Ao final desta sequência de aulas, espera-se que os alunos identifiquem a relação próxima entre algumas obras de arte e o contexto de sua produção, bem como, associem o fenômeno da migração às questões socioeconômicas, retirando do campo da

individualidade ou do desejo, a ação migratória. 9. Referências PATARRA, Neide. Tendências e Modalidades Recentes das Migrações Internas e Distribuição Populacional no Brasil: um olhar para o nordeste. Disponível em: http://www.fgf.org.br/centrodedocumentacao/publicacoes/qsqsne/05_NeidePatarra.pdf. Acesso em 15/jul./2010.