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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Implantação de cultivo experimental de algas marinhas da espécie Grac...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Implantação de cultivo experimental de algas marinhas da espécie Gracilaria cornea (Rodophyta, Gracilariales) nas comunidades de Galeão e Garapuá, Cairu – Ba.

SÉRGIO RICARDO COSTA DE OLIVEIRA ORIENTADOR: Prof. Dr. MIGUEL DA COSTA ACCIOLY

Salvador - Bahia Dezembro - 2005

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE BIOLOGIA

CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Implantação de cultivo experimental de algas marinhas da espécie Gracilaria cornea (Rodophyta, Gracilariales) nas comunidades de Galeão e Garapuá, Cairu – Ba.

por SÉRGIO RICARDO COSTA DE OLIVEIRA

Monografia apresentada ao Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia, como exigência para obtenção do grau de Bacharel em Ciências Biológicas, modalidade Zoologia: Organismos Aquáticos.

Colegiado do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal da Bahia

Projeto: Gestão de Recursos Ambientais do Baixo Sul Subprojeto: Maricultura em Garapuá e Galeão - Implantação de cultivo de algas marinhas da espécie Gracilaria cornea (Rodophyta, Gracilariales) nas comunidades de Galeão e Garapuá, Cairu – Ba. Órgão Financiador: Fundo Nacional do Meio Ambiente, do Ministério do Meio Ambiente Órgão Executor: Fundação Movimento OndAzul Órgão Coordenador: Universidade Federal da Bahia Parceiros: Bahia Pesca; Centro de Recursos Ambientais (CRA); Prefeitura Municipal de Cairu; Associação dos Moradores e Amigos de Guarapuá (AMAGA); Associação São Francisco Xavier; Instituto Galeão

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Aos meus pais, que sempre deram o melhor de si para que eu obtivesse mais essa vitória e me tornasse quem sou.

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AGRADECIMENTOS

 À Fundação OndAzul e ao Professor Ronan, pela oportunidade e pelo apoio;  Ao Professor Miguel, pela orientação e ajuda nos momentos de dificuldades e pela confiança no desenvolvimento do trabalho;  A Zé Landia, Dida, Cirlene, D. Maria, Maria José, Helena, Jardi e Lúcia pela colaboração nos trabalhos de campo, sem vocês tudo seria muito mais difícil.  Aos colegas estagiários pela solidariedade e companheirismo;  Aos professores, que sempre procuraram compreender as faltas para viagens a campo.

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BANCA EXAMINADORA

Professor Dr. Miguel da Costa Accioly Instituto de Biologia - UFBA

Professor Msc. Ronan Rebouças Caires de Brito Instituto de Biologia - UFBA

Luiz Eduardo Portela M de Souza Instituto de Biologia - UFBA

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RESUMO A aquacultura é uma atividade em plena expansão mundialmente, dentro desta atividade, a modalidade da algicultura, que apesar de ser uma atividade muito antiga no oriente, a arte de cultivar algas já vinha sendo desenvolvida pelos chineses com o objetivo de obter alimento, mas essa técnica ganhou muita força após a segunda guerra mundial no ocidente, e começou a se desenvolver e se espalhar pelo mundo com mais rapidez depois que as industrias descobriram como poderiam ser usados os produtos químicos extraídos desse organismo tão simples. Os produtos das algas têm um largo emprego, desde materiais de cultura em laboratório e exames médicos a produtos de beleza, passando por alimentos industrializados, estabilizantes, conservantes. No Brasil, esta atividade é realizada a mais de dez anos, atingindo diversos estados como Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, São Paulo e Rio de Janeiro. Com o objetivo de fornecer às comunidades pesqueiras fontes alternativas de renda, o Projeto de Gestão de Recursos Ambientais do Baixo Sul teve como uma das metas a implantação do cultivo de algas na comunidade de Garapuá, Cairú – BA, uma atividade nova para a comunidade. Este processo ocorreu, inicialmente, através reuniões com a comunidade para explicar como o trabalho se desenvolve e saber o grau de interesse dela na atividade, também para ter uma noção das possíveis áreas onde comportava um cultivo sem interferir na pesca ou no tráfego das embarcações locais. Após esses encontros, foi realizada uma reunião para saber quem gostaria de integrar o grupo para desenvolver o trabalho propriamente dito. Enquanto era aguardada uma resposta da comunidade, foi feito o levantamento dos locais possíveis, levando em consideração o tipo de fundo (lama, areia ou pedra), correnteza, tráfego de barcos, atividade de pesca, profundidade e a cor (limpeza) da água. Ao implantar uma estrutura flutuante para teste com algas do gênero Gracilaria, trazidas da comunidade de Barra dos Carvalho (município de Nilo Peçanha – BA), e realizar algumas medições no crescimento das mesmas, chegou-se à conclusão de que havia a necessidade de alterar a profundidade em que as algas ficavam da superfície, mesmo fazendo essa mudança, as algas continuavam apresentando uma grande quantidade de sujeira, outros organismos crescendo sobre elas (epifitismo) e muita predação por peixes , isso fez com que a equipe de trabalho pensasse em mudar o local da estrutura, mas com a dificuldade de encontrar um novo lugar apropriado para implantação, foi necessária a adaptação da estrutura, que passou a ser submersa, pois ficaria numa área com tráfego intenso de embarcações. Com as novas condições experimentais foi observado um crescimento muito mais uniforme e rápido, chegando a haver um aumento de 52% no aumento das plantas em 25 dias e sendo percebido um estado de limpeza muito favorável. O aspecto bom é que apesar das algas encontrarem-se a uma profundidade que varia de 2 a 4 metros de profundidade, aproximadamente, em virtude de a água ser limpa está havendo um crescimento considerado muito bom. Além do que, foi observado que há uma predação muito pequena, quase nula e também são encontrados, com freqüência, crustáceos (camarões, siris e lagostas), peixes e poliquetas em diferentes fases de desenvolvimento, desde muito jovens a espécimes quase adultos, configurando um atraente substrato para reprodução. A descrença da comunidade no cultivo, certamente, por não haver nenhum tipo de atividade semelhante com algas na região, a necessidade de desempenhar outras atividades, por parte das mulheres que compõem o grupo, dificuldade em obter matrizes para plantio, distância da praia e o sistema de fixação das algas nas cordas configuraram-se em fatores limitantes para o melhor desempenho do experimento, ocasionando um grande retardo na implantação do cultivo propriamente dito e, conseqüentemente, inviabilizando-o pela proximidade do prazo final de execução do referido projeto. No entanto, vale ressaltar que a técnica utilizada ainda pode ser melhorada, no intuito de obter resultados mais otimistas na localidade, a qual apresentou um excelente potencial para o cultivo.

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SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT SUMÁRIO ..................................................................................................VII ÍNDICE DAS FIGURAS ................................................................................VIII ÍNDICE DOS GRÁFICOS ...............................................................................IX 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................10 1.1. ALGICULTURA ...........................................................................12 1.2. OBJETIVO .................................................................................14 2. MATERIAL E MÉTODOS .........................................................................14 2.1. ÁREA DO ESTUDO .....................................................................14 2.2. PROCEDIMENTO .......................................................................16 2.3. ESTRUTURAS DE CULTIVO ........................................................17 2.4. SINALIZAÇÃO DO CULTIVO .......................................................21 2.5. COLETA DE MATRIZES ..............................................................23 2.6 BIOMETRIA ...............................................................................24 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................25 4. CONCLUSÕES .......................................................................................36 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................37

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ÍNDICE DAS FIGURAS FIGURA 1. Arquipélago de Tinharé, mostrando o canal Taperoá, a baía de

Guarapuá e a localização dos cultivos experimentais..............................15

FIGURA 2. Material escolhido para montagem das estruturas ...............................16 FIGURA 3. Representação do MLL fixado com estacas de ferro, ocupando 0,5 ha ...17 FIGURA 4. Visão esquemática do MLL .................................................................17 FIGURA 5. MLL flutuante experimental ................................................................19 FIGURA 6. MLL submerso experimental ...............................................................19 FIGURA 7. Fixação da alga na corda ....................................................................20 FIGURA 8. Trabalho em conjunto com pessoas da comunidade ..............................21 FIGURA 9. Figura esquemática da sinalização implantada ......................................22 FIGURA 10. Uma das bóias de sinalização na baía de Garapuá ..............................22 FIGURA 11. Lanterna de ostras adaptada para armazenar algas em Garapuá ........23 FIGURA 12. Algas armazenadas em saco de nylon no Galeão ................................23 FIGURA 13. Balança Digital Gota, utilizada na execução de biometrias ..................24

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ÍNDICE DOS GRÁFICOS

GRÁFICO 1. Transparência medida na Baía de Garapuá e no Galeão no período de

11 meses ........................................................................................................28

GRÁFICO 2. Salinidade medida na Baía de Garapuá e no Galeão no período de 11 meses .....30

GRÁFICO 3. Relação Peso da muda X Quantidade de cordas plantadas para demonstrar

progresso do cultivo .........................................................................................34

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1. INTRODUÇÃO De acordo com a FAO - FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, “Aquacultura é o cultivo de organismos aquáticos incluindo peixes, moluscos, crustáceos e plantas aquáticas. O cultivo implica alguma forma de intervenção no processo de criação de modo a aumentar a produção, tal como armazenamento regular, fornecimento de alimento, proteção de predadores, etc. O cultivo implica ainda a posse individual ou associativa do stock cultivado. Para fins estatísticos, contribuem para a aquacultura os organismos aquáticos pertencentes a um indivíduo ou associação que os tenha criado, enquanto que os organismos aquáticos que são explorados pelo público como um recurso natural, com ou sem licenças apropriadas, correspondem ao produto das pescas”. (FAO 1996a). Segundo Neiva (1998), há alguns anos, o cultivo de animais e plantas aquáticos tornou-se um excelente negócio na Ásia, América Latina, América do Norte e Europa. A atividade trouxe importantes benefícios econômicos e nutricionais para muitos países em desenvolvimento. Na realidade, a aqüicultura concentrou-se esmagadoramente em países em desenvolvimento os quais respondiam por 85% da produção mundial em volume e 71% em valor, segundo dados da FAO 1996. Ainda, segundo a FAO (1996a), o potencial da aqüicultura para produzir alimentos de qualidade, gerar riquezas e empregos, demonstrou pela rápida expansão do setor que cresceu, desde 1984, a uma taxa anual de 10%, comparado com 3% da pecuária de corte e 1,6% da pesca extrativa. Segundo a Neiva (2003), a produção total de peixes, crustáceos, moluscos e plantas aquáticas no mundo alcançou, em 1995, a cifra de 112,91 milhões de toneladas. De 1990 a 1995, a produção cresceu 14,94 milhões de toneladas. E em 2000 a produção marinha mundial atingiu o valor recorde de 130,4 milhões de toneladas. Segundo a FAO (2002), se considerarmos, apenas, a produção de peixes, crustáceos e moluscos pela aqüicultura, ela representou, em 2000, 27,3% da produção total dessas categorias. Se incluirmos a produção de plantas colhidas e cultivadas, a produção da aqüicultura sobe para 35,1% da produção total.

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A produção aqüícola situa-se, predominantemente, na Ásia que representa mais de 90% da produção mundial. China, Índia e Japão respondem, respectivamente, por 47,7% (17,0 milhões de toneladas), 10,5% (3,74 milhões de toneladas) e 13,9% (4,97 milhões de toneladas) da produção mundial. Entre outros menores produtores, destacam-se: Taiwan (0,03% ou 1,09Mt), Filipinas (0,05% ou 1,89Mt), Tailândia (0,08% ou 2,91Mt). Segundo a FAO (2002), de todos os setores de produção animal, a aqüicultura é a atividade que cresce mais rapidamente. Desde 1970 a aqüicultura cresceu a taxas médias de 9,2 % ao ano, enquanto a pesca extrativa cresceu a taxas de 1,4 % e a criação de animais para produção de carne, a taxas de 2,8%. Na China, a aqüicultura continental cresceu, naquele período, a taxas de 11,5%, frente a 7,0 % no resto do mundo. Relativamente à aqüicultura marinha, cresceu na China a taxas de 14,0 % e, no resto do mundo, a taxas de 5,4 %. Segundo Neiva 2003, a aqüicultura na América cresceu, entre 1984 e 1995, a uma taxa média de 12,8%. A produção total em 1995 foi de, aproximadamente, 499.000 t. com um valor de US$ 1,87 bilhões, representando 1,8% e 4,4% da produção mundial em volume e valor, respectivamente. Em 1995, a aqüicultura contribuiu com 2,3%, em volume, para o total da produção pesqueira da região (captura + cultivo). Em 2000, a produção total da aqüicultura, incluída as plantas aquáticas, foi de 45,7 Mmt, com um valor de 56,5 bilhões de dólares. A China produziu 71,0 % da produção total, correspondendo a 49,8% do valor total da aqüicultura. A produção em água salobra representou, em peso, 4,6% da produção aqüicola mundial em 2000, porém 15,7% do seu valor total. Em água doce predominaram os cultivos de peixes. Em água salobra predominaram os crustáceos e peixes de valor elevado. Em águas marinhas se produziu, principalmente, moluscos bivalves e plantas aquáticas. Sete países representam, aproximadamente, 92% da produção total aqüícola da América Latina, em 1995: Chile (41,4%), Equador (18,3%), México (13,8%), Colômbia (7,3%), Brasil (6,1%), Cuba (4,2%), Costa Rica (1,4%). Das três sub-regiões, a produção foi de 378.000 t (75,8%) na América do Sul; 94.000 t (18,9%) na América Central e 26.000 (5,3%) no Caribe. As taxas de crescimento anuais,

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na América do Sul, foram de 21,8%, entre 1984 e 1988, e de 15,1%, entre 1990 e 1995. A aqüicultura na América do Sul está voltada, basicamente, para a exportação, destacando-se os salmonídeos e os camarões cultivados. Quanto as algas, a Gracilaria é produzida, principalmente, no Chile (49.000t. em 1995). Mas já se tem notícia de diversos cultivos se desenvolvendo lentamente no nordeste do Brasil.

As aqüiculturas marinha e estuarina sofrem a ameaça da poluição costeira, cada vez mais intensa, principalmente de poluição orgânica acarretada pelos esgotos, contaminação microbiana, sedimentação, etc. Outrossim, a instalação de projetos de cultivos nas regiões litorâneas, por exemplo, passou a atuar, em contrapartida, como um importante obstáculo inibidor para projetos industriais potencialmente poluidores dessas áreas, bem como um importante indicador da ocorrência de poluição em conseqüência dos efeitos danosos sobre os cultivos. A importância da expansão de cultivos em áreas litorâneas, neste sentido, é da maior importância para a melhoria das suas condições ambientais, pelas conseqüências legais que poderão atingir os responsáveis pela poluição, obrigando-os a pagar pelos prejuízos não só ambientais como também, pelos prejuízos econômicos e sociais causados aos cultivadores e por danos à saúde dos consumidores. A disseminação dos cultivos litorâneos, assim, além das vantagens sócio-econômicas que produzem, pressionarão as autoridades governamentais para serem mais exigentes e atuantes nas suas ações voltadas para a melhoria da qualidade dos ambientes estuarinos e marinhos.

No momento em que o País necessita gerar riquezas e trabalho, a curto e médio prazos, a aquacultura é uma das atividades mais promissoras que existe para o alcance desses objetivos.

1.1 ALGICULTURA O cultivo de algas é uma atividade que surgiu na China como uma forma alternativa de obtenção de alimento e assim permaneceu por um longo período, até a comercialização se intensificar e, posteriormente, a indústria descobrir como processar os ficocolóides, surgindo assim uma diversidade grande de emprego para as algas e seus produtos. Com a demanda crescente do extrativismo os bancos naturais começaram a diminuir drasticamente, então surgiu a idéia de

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implantação de cultivos sustentáveis pelo mundo, visando produzir as algas com maior valor comercial, maior aceitação no mercado e melhor produtividade.

Para muitos brasileiros que aprenderam a conviver com as comunidades orientais, a alga é quase sinônimo de sushi. Mas suas aplicações industriais são pouco conhecidas do grande público. “Vegetais” que se desenvolvem em águas doces ou marinhas, as algas produzem ágar-ágar, carragena e extratos que funcionam como espessantes, gelificantes e estabilizantes nas indústrias alimentícias ou hidratantes, emolientes e antioxidantes em produtos cosméticos.

A produção de algas cultivadas cresceu na última década, com 6,1 milhões de ton 1995 e hoje representa 86% da oferta total de algas. A China, maior produtor, exporta alga, como alimento, principalmente, para a República da Coréia e Japão. A República da Coréia, por sua vez, exporta alga vermelha (Porphyra) e alga marrom (Undaria) para o Japão (21.000 t, 21.000t). O mercado europeu importou 58.000 t de algas, em especial, das Filipinas, Chile e Indonésia, maiores supridores.

Em 2001 a FAO elaborou uma pesquisa para descobrir a viabilidade do cultivo de algas como uma fonte de renda alternativa em alguns estados do nordeste brasileiro, Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, chegando à conclusão de que o mercado de derivados de algas no Brasil é promissor e tem crescido muito nos últimos anos, acompanhando especialmente o desenvolvimento dos setores lácteo e de carnes industrializadas que têm apresentado um desempenho acima da média do crescimento industrial do País e que com a implantação dos cultivos algumas famílias acresceriam de R$ 45 a R$ 120 sua renda familiar, o que para alguns casos seria o equivalente a dobrar a receita. Com base nos resultados obtidos decidiram por empreender projetos pilotos de cultivo de algas em algumas localidades litorâneas desses estados.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) contabilizam importações de algas e derivados da ordem de 2.500 t ou US$ 15 milhões, em 2001. Segundo levantamento da Christo, Manesco & Associados, empresa contratada pela FAO para elaborar o estudo de mercado para o projeto, as importações naquele ano chegaram a 3.200 t, com dispêndios próximos dos US$ 20

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milhões, considerando que muitos produtos derivados de algas são importados em forma de "blends", misturados a outras substâncias.

Os dois objetivos principais do projeto elaborado pela FAO eram: oferecer uma oportunidade de complementação de renda para as populações carentes da região e promover o cultivo de algas de modo social e ambientalmente sustentáveis, permitindo a formação de parcerias com empresas que buscam certificado de origem de matérias-primas e serviços em toda a cadeia produtiva.

1.2 OBJETIVO Esse trabalho teve como objetivo: Avaliar a implantação do cultivo de algas da espécie Gracilaria cornea, em escala comercial, nas comunidades de Galeão e Garapuá, Cairú – Ba, dentro do Projeto Gestão de Recursos Ambientais do Baixo Sul.

2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1. ÁREA DO ESTUDO O estudo foi desenvolvido na Região do Baixo Sul baiano, sendo subdividido em duas áreas, próximo a cada comunidade envolvida, ambas no arquipélago de Tinharé, no município de Cairú – BA (Figura 1). Uma área encontra-se no Galeão, na região noroeste do arquipélago, em frente ao canal de Taperoá, e a outra a leste na baía de Garapuá.

O cultivo experimental do Galeão foi instalado próximo à vila, a cerca de 1000m da ponte principal, em direção à jusante. Em Garapuá foram instalados dois, o primeiro, flutuante, ficou próximo ao recife a cerca de 200m da praia, o segundo, submerso, foi colocado mais distante da praia e dos recifes, a aproximadamente 1000m (figura 1).

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Figura 1 Arquipélago de Tinharé, mostrando o canal Taperoá, a baía de Guarapuá e a localização dos cultivos experimentais. Baixo Sul do Litoral Baiano – Macro Região: Costa do Dendê. (Fonte: Secretaria de Cultura e Turismo do Estado da Bahia. SUDETUR, 2001)

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2.2. PROCEDIMENTO Para o desenvolvimento dos trabalhos foram realizadas viagens semanais para coletas de dados, reuniões com a comunidade, montagem e manutenção das estruturas de cultivo. Dados de profundidade, salinidade, velocidade de corrente e amostras de substrato foram coletados para análise e escolha do local de instalação do cultivo. Esses pontos foram levados à apreciação das comunidades em reuniões com as respectivas Associações de pescadores. Após serem determinados os locais, as estruturas de cultivo foram montadas e instaladas. Todo o processo de escolha do local até a instalação do cultivo foi sempre acompanhado por, pelo menos, uma pessoa da comunidade, a qual fornecia as informações de tráfego de embarcações e atividades de pesca. As estruturas foram planejadas com base nos Manuais de Maricultura do BMLP – Nº 03 – Cultivo de Algas (Accioly, 2003) para usar material de baixo custo, grande durabilidade, fácil aquisição no mercado local, manejo simples, leve, que sofresse pouca ou nenhuma influência das condições ambientais (velocidade de corrente, variação de temperatura, variação de profundidade e etc.), que não fosse prejudicial ao ambiente ou aos usuários e que fosse compatível com as condições sócioeconômicas e culturais dos moradores daquela localidade. (Figura 2)

Figura 2 – Material escolhido para montagem das estruturas

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2.3. ESTRUTURAS DE CULTIVO Foi pesquisada e posteriormente adaptada uma estrutura que se adequasse aos diversos aspectos sócio-econômicos, culturais e ambientais inerentes às comunidades onde os trabalhos foram desenvolvidos. Foi usada a técnica do Multi Long Line – MLL (Accioly, 2003) (Figura 3) com algumas modificações no tamanho e na flutuabilidade do conjunto, sendo testados dois tipos de estruturas, a flutuante e a submersa.

Figura 3 – Representação de 8 MLLs fixados com estacas de ferro, ocupando 0,5 ha.

Figura 4 – Visão esquemática do MLL

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Material empregado para a construção de 1 MLL ƒ

Corda de Polipropileno – 6 mm (220m) – Linha mestra

ƒ

Corda de Polipropileno – 4 mm (147m)

ƒ

Tubos de PVC – 25 mm (63m - 10,5 varas)

ƒ

Cordas torcida de ráfia ou de seda – 3mm (1.200m)

ƒ

Fitilho (1.152m)

ƒ

Bóias nº 02 (40)

ƒ

Bóia baleia (4)

ƒ

Sacos de ráfia ou nylon (4) O MLL flutuante experimental utilizado nesse trabalho foi composto por duas linhas mestras que

iam de uma poita a outra e eram responsáveis por fornecer toda a sustentação ao cultivo, entre essas linhas foram montados os quadros que eram responsáveis pela fixação dos long lines, os quais eram compostos por cordas de ráfia, onde foram amarradas as algas. As linhas mestras foram confeccionadas em cordas de polipropileno de 6mm de diâmetro e distavam de 3m entre si, as poitas que as fixavam ao substrato foram montadas com sacos de nylon de 100 litros preenchidos com areia, cimento e algumas pedras, até aproximadamente 60% da capacidade máxima e amarrados com a extremidade da linha mestra, a distância do saco até o primeiro tubo foi de três vezes a profundidade da área onde foi montada a estrutura, aprox. 20m, as duas primeiras bóias de cada extremidade, foram grandes, bóia baleia, para sustentar a flutuabilidade da estrutura e proteger o MLL. Os quadros eram compostos por dois tubos de PVC de 25mm de diâmetro e 3m de comprimento, sendo atravessado por uma corda de polipropileno de 4mm, com 7m de comprimento, e fixado às linhas mestras com um intervalo de 4m de um tubo para outro, formando assim um quadro de 4m de comprimento por 3m de largura. Para não haver emendas nas extremidades dos tudos, o que favoreceriam a possibilidade de afrouxamento e conseqüente perda de material, foi utilizada uma única corda, com 7m de comprimento, para fazer a fixação do tubo à linha mestra e das bóias aos tubos, para tal procedimento passa-se a corda de 4mm por dentro do tubo e faz-se dois nós, um em cada extremidade do tubo, deixando 1,5m para cada lado, em seguida amarra-se uma bóia pequena, nº 02, em cada extremidade com um nó, essa mesma corda é amarrada na linha mestra deixando-a ajustada ao tubo, a bóia fica a uma distância de 1,2m da linha mestra, assim está formado um lado do quadro, as cordas de algas, long lines, são amarradas nos tubos. Cada MLL experimental é composto por 5 quadros (Figura 5), cada quadro sendo preenchido com 12 long lines, cada long line

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foi preparado com corda torcida de seda de 2mm, com 5m de comprimento e comporta, aproximadamente, 160 mudas de algas.

Figura 5 – MLL flutuante experimental O MLL submerso experimental (Figura 6) é semelhante à estrutura flutuante, as cordas usadas e os comprimentos são todos iguais, mudando apenas a posição da bóia que agora é fixada na extremidade do cano, na extremidade da corda de 1,5m é amarrada um peso de aproximadamente 1 Kg, nesse caso foi utilizada uma garrafa plástica de água mineral (500ml) preenchida com areia, um pouco de cimento e água, próximo ao primeiro tubo, foram fixadas bóias maiores para indicar o local exato do cultivo, bem como para manter a flutuabilidade da estrutura, pois embora ela fosse submersa, não devia tocar o fundo. Neste MLL a distância constante é do fundo para a estrutura, 1,5m, enquanto que no outro à distância se mantinha em 1,2m da superfície da água.

Figura 6 – MLL submerso experimental

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No manejo de ambas as estruturas foi acrescentado o uso de quatro bóias de serviço, compostas por bóias grandes fixadas a um gancho e colocadas nos vértices do quadro para mantê-lo flutuando enquanto o pessoal trabalha no quadro. A fixação das algas nas cordas se dava através de fitilhos, da seguinte maneira: cortava-se um pedaço de fitilho de aproximadamente 10 a 12cm, o qual era subdivido longitudinalmente em 8 a 10 partes do mesmo tamanho, em seguida, pegava-se um fragmento de alga, com aproximadamente 2g e, de preferência, com ramificações, buscava-se um ponto de bifurcação para executar uma amarração confiável e a executava com dois nós sobrepostos, sendo o primeiro folgado e o segundo firme, de modo que não apertasse a alga, por fim, a corda era destorcida, o fitilho introduzido no espaço formado por essa ação e em seguida retorcida, fazendo uma fixação final usando nós do fitilho sobre a corda (figura 7). As amarrações das algas eram realizadas com uma distância de 2,5cm entre mudas, tomando por base o polegar. Inicialmente, o long line foi montado com corda torcida de nylon com 4mm de diâmetro, mas em virtude do excesso de silte e epifitismo acumulados, foi alterada para corda torcida de seda com 2,5mm. A mudança do tipo de corda facilitou muito o manuseio das mesmas, o acúmulo de sedimentos passou a ser mínimo, não chegando a interferir significativamente na biometria, a amarração das cordas na estrutura foram facilitadas, tornaram-se mais firmes e o custo foi reduzido.

Figura 7 – Fixação da alga na corda

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As estruturas experimentais foram montadas em conjunto com as pessoas da comunidade envolvidas no projeto. (Figura 8)

Figura 8 - Trabalho em conjunto com pessoas da comunidade.

2.4. SINALIZAÇÃO DO CULTIVO Em virtude da implantação do cultivo em uma área navegável e com um relativo movimento de embarcações se fez necessário a colocação de estruturas sinalizadoras para alertar aos marinheiros da existência de uma estrutura montada no local, para tal foi desenvolvida sinalização composta por uma bóia com uma vara de pescar confeccionada em bambu, nº 6 ou 7, presa pela sua parte mais grossa numa garrafa plástica, com capacidade de 2 litros, preenchida com areia molhada e cimento na razão de 4:1, a uma distância de aproximadamente 1m da garrafa, foi colocada uma bóia grande (bóia baleia) encastoada. Na extremidade superior da vara foi colocado um pedaço de plástico fino de cor amarela, servindo como bandeira, medindo 90 X 70cm. A sinalização foi fixada ao substrato com o mesmo método utilizado na estrutura experimental (Figuras 9 e 10). Nas primeiras bóias de sinalização montadas em Garapuá, foi observada a ação de organismos perfurantes que se incrustaram na parte inferior da vara de bambu, imediatamente abaixo da bóia, o que comprometeu de forma significativa a resistência da estrutura sinalizadora, ocasionando a quebra pela ação de

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ventos mais fortes ou ação das ondas, para resolver esse problema foi colocada uma mangueira de borracha na parte da vara que ficava submersa e exposta a ação de organismos incrustantes, sendo que antes a área foi preenchida com uma mistura de cola com cimento, na razão de 3:1, para garantir a fixação da mangueira.

Figura 9 - Figura esquemática da sinalização implantada

Figura 10 - Uma das bóias de sinalização na baía de Garapuá - 22 -

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2.5. COLETA DE MATRIZES A coleta de matrizes foi realizada numa região próxima ao cultivo, para evitar a possibilidade de introdução de alguma espécie de organismo exótica. Ela se dava na Ponta dos Castelhanos, próximo à comunidade de Cova de Onça, localizada ao sul da Ilha de Boipeba. Estas matrizes foram limpas, triadas e armazenadas para o posterior plantio. Em Garapuá esse armazenamento se dava, inicialmente, em uma gaiola flutuante, depois passou a uma lanterna de ostras (Figura 11), enquanto que no Galeão, se fazia no mesmo saco que as transportava do local coletado até lá (Figura 12).

Figura 11 – Alternativas usadas para armazenamento de algas em Garapuá. a. Primeira alternativa – Gaiola flutuante. b. Segunda alternativa - Lanterna de ostras adaptada.

Figura 12 – Algas armazenadas em saco de nylon no Galeão

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2.6. BIOMETRIA A biometria foi realizada em intervalos de no máximo 30 dias, normalmente com 15 dias. Nesta oportunidade retiravam-se as algas da estrutura para limpeza, contagem do número de plantas existentes e pesagem das cordas com plantas e posterior comparação com os dados coletados na biometria anterior. Era também o momento de se realizar a avaliação do desempenho da estrutura, da adaptação das algas às novas condições e dar a manutenção devida ao cultivo. Antes da pesagem das algas era realizada uma limpeza, que tinha a finalidade de retirar as incrustações, evitando que se registrasse um dado incorreto e também permitir um crescimento mais uniforme, era também a oportunidade de se verificar se havia ação de herbívoros ou outros organismos que pudessem interferir no desenvolvimento das mesmas. Para execução dessa atividade foi utilizada a balança digital Gota – Mod. MEA-06100 –

do

fabricante Plenna, com capacidade para 5kg e sensibilidade de 1g (Figura 13). Para obter os resultados numéricos, TCR- Taxa de Crescimento Relativo, foi usada a seguinte fórmula: TCR (% Dia) = 100((Pf / Pi)1/∆t) - 1), sendo “Pf” o peso final dado em gramas (g), “Pi” o peso inicial também em

1

gramas, e “∆t” o intervalo de tempo em dias (Wallner et al, 1992).

Figura 13 – Balança Digital Gota, utilizada na execução de biometrias

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3. RESULTADOS E DISCUSSÕES A implantação do cultivo de algas visou fornecer aos integrantes das comunidades uma fonte alternativa de renda, em virtude da dificuldade crescente em se obter o pescado, além disso, as algas demonstram ser uma interessante oportunidade de negócios, tendo em vista a grande diversidade de possibilidades de uso dos ficocolóides, produtos delas extraídos. A escassez desse tipo de atividade no Brasil, principalmente na Bahia, associada a uma vasta extensão de praias inexploradas existentes no litoral e com potencial favorável, tornaram-se mais um incentivo no desenvolvimento dessa atividade. O que atrapalha a implantação de um cultivo como esse, é a falta de conhecimento, pois a comunidade baiana não tem o costume de usufruir do comércio de algas, como se vê em outras comunidades nordestinas. A nova atividade proposta levou algumas pessoas das comunidades a questionar, empiricamente, a viabilidade de se investir tempo para cultivar um “limo que os pescadores passam a vida toda jogando fora” quando vêm presos nas redes ou em outras ferramentas utilizadas na pesca artesanal. Em alguns estados do nordeste como Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, não ocorre tal rejeição, pois já existe a tradição de coleta das algas “arribadas”, lançadas na praia pelas ondas do mar, ou coletadas nos recifes próximos, para vender aos atravessadores que circulam pelas comunidades costeiras, pagando um preço bem baixo por quilograma. É válido ressaltar que o comércio fraco se dá em virtude da qualidade do produto coletado na praia, que é muito inferior. No processo de coleta e secagem são reunidos diversos gêneros de algas num mesmo lote, sem falar na quantidade de areia e sal associados ao produto comercializado, pois as mesmas são coletadas e postas para secar sobre a areia da praia, depois reunidas com o auxílio de um ancinho, ou vassoura, e ensacadas para aguardar a comercialização. Nesse processo rudimentar de comércio não há nenhum tipo de preocupação com a qualidade do produto, apenas é aproveitada a possibilidade de obter um retorno financeiro explorando um recurso que estaria sendo perdido se não fosse recolhido e os pescadores não tem idéia do valor real do mesmo, o que já não acontece com as algas oriundas de cultivos, que são secas em lugares apropriados e apresentam uma qualidade bem superior. Para selecionar o local do cultivo foram estabelecidos alguns critérios levando em consideração as condições de visibilidade da água, área disponível para expansão, facilidade de acesso ao cultivo, velocidade de corrente, tipo de substrato, profundidade, presença de herbívoros, salinidade, tráfego de embarcações, atividades de pesca e impacto visual causado pela estrutura na área. Por se

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tratarem de ambientes distintos, com perfis diferentes, cada localidade teve que ser analisada atribuindo mais importância a parâmetros diferenciados. O cultivo tinha que ser posicionado numa área que não prejudicasse as atividades pesqueiras da região, pois se trata da principal fonte de renda local. Para tal, foram solicitadas reuniões, nas comunidades, com as associações de pescadores e moradores para se obter informações a respeito dos possíveis locais onde a implantação de um cultivo de algas não atrapalharia as atividades deles, havendo um retorno muito favorável, pois houve participação bem ativa de todos os participantes. A atividade pesqueira está diretamente ligada ao tráfego de embarcações, tendo em vista a proximidade de um grande pólo de escoamento de pescados, a cidade de Valença, no entanto em Garapuá, embora haja pesca e tráfego de embarcações, há também o turismo, por isso o impacto visual seria mais danoso. A presença de herbívoros na área de cultivo pode trazer muitos prejuízos ao algicultor, no que se refere ao ganho de biomassa das algas, pois segundo Marques (2003) se estima uma taxa de mordida de 150.000 vezes.m-2.dia-1, mostrando que peixes ou ouriços, sozinhos são capazes de remover quase 100% da produção diária. Por isso, segundo Carpenter (1986) a produção líquida é mais limitada por herbivoria que por fatores limitantes como luz, nutrientes ou fluxo d’água. Por esse motivo é recomendável verificar, com muita atenção, a existência da ação de herbívoros antes de implantar uma estrutura definitiva. Algumas espécies de algas desenvolvem sistemas de defesas para proteção contra herbívoros, segundo Marques (2003) essas defesas podem se manifestar de duas formas: na abundância, sugerindo que esse crescimento é um reflexo da atividade de pastoreio, ou produzindo metabólitos secundários, o que parece ser o mais comum. Segundo Hay (1996), os metabólitos secundários podem ser terpenos, acetogeninas, alcalóides ou polifenólicos e afetam os herbívoros de duas formas: (a) diretamente, através da qualidade do alimento (palatabilidade da alga); e (b) indiretamente, através da interação mediada por agentes patógenos e predadores. Outra situação onde os predadores podem ter ação direta sobre o desenvolvimento do cultivo é no caso de haver organismos, como poliquetas, incrustados sobre as algas, pois, ao tentar se alimentar, os peixes acabam causando danos às algas. Houve observação de herbivoria no primeiro experimento montado em Garapuá, mas quando houve relocação para montagem do segundo experimento esse problema foi solucionado. No Galeão não houve indício de herbivoria.

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Quanto à área disponível para expansão, foi levada em consideração a necessidade de se ocupar uma área com, no mínimo, um hectare (10.000m2) de extensão para se montar 16 Multi Long Lines, tendo cada um 100m de comprimento por 3m de largura, para se obter uma produção de algas satisfatória, visto que em experimentos realizados anteriormente (Accioly, 2003) foi constatado que para cada 100kg de algas úmidas são obtidos, aproximadamente, 20Kg de algas, após a secagem, portanto é necessária a ocupação de uma área de 100X100m ou 200X50m, dependendo da disponibilidade do local. Com base em cálculos realizados a partir de dados biométricos obtidos das algas plantadas na região estimou-se uma produtividade de aproximadamente 2.500 kg de algas secas por hectare/mês. Pois foi observado que há uma taxa de crescimento de cerca de 100% a 120% de biomassa em 30 dias, ou seja, a cada mês as mudas dobram de tamanho e esse crescimento possibilita uma estimativa de colheita bem satisfatória. A velocidade da correnteza é muito importante porque tem incidência direta sobre a forma de montagem e fixação da estrutura, método de amarração das algas, resistência da espécie trabalhada à ação mecânica, pois se na localidade selecionada houver uma correnteza muito forte, forçará a estrutura e pode até levar a perda de biomassa, sem contar que a técnica de fixação precisa ser muito mais robusta e, conseqüentemente, cara. Por outro lado se a correnteza for muito fraca, ocorrerá um acúmulo indesejável de silte, e outras partículas encontradas na massa d’água, sobre as algas prejudicando o seu desenvolvimento. Segundo Accioly (2003) a correnteza é a principal responsável por trazer nutrientes e movimentar as algas para que recebam luz de maneira uniforme, caso a correnteza de uma área seja inferior a 0,2m/s, então essa área é considerada inadequada para o cultivo. Segundo Viana (2005) o menor valor de correnteza obtido na enseada de Garapuá, num período de 9 meses foi 0,04m/s e o maior 0,39m/s. Durante as campanhas, o mês de abril obteve o menor valor médio 0,05m/s e o mês de maio o mais elevado 0,27m/s. A preamar apresentou menor valor médio com 0,10 m/s e maior valor médio na baixa-mar com 0,17m/s. No Canal de Taperoá a velocidade oscilou entre 0,07m/s na enchente e 0,67m/s na vazante (em marés de sizígia). A única campanha realizada em maré de quadratura, foram obtidos os menores valores da velocidade da correnteza: 0,03m/s (vazante) e 0,04m/s (enchente). Em relação às velocidades da corrente por pulso de maré, o valor médio mais alto calculado foi de 0,44m/s na vazante. O método utilizado foi o do

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correntômetro de superfície, no qual se utilizou uma laranja, vinculada a uma corda fina de tamanho conhecido, então soltava-se a laranja na correnteza e, com o auxílio de um cronômetro, era medido o tempo decorrido até que a corda fosse completamente esticada. O procedimento foi repetido três vezes em cada coleta e feita uma média aritmética para obtenção do valor médio. Segundo Viana (2005) foram realizadas algumas medições da transparência da água com o método do disco de secchi e obteve-se, em Galeão, a melhor transparência em dez/2003 com 1,15m e a pior em mai/2004, com 0,50m, em média a transparência local foi de 0,72 ± 0,19m de profundidade (gráfico 1). Enquanto que em Garapuá foi obtido o melhor resultado em dez/2003 com 3,31m e o pior em jul/2004 com 0,75m, com uma transparência média de 2,22 ± 0,88m de profundidade. Em Garapuá esse parâmetro foi medido no centro da enseada, com o auxílio de uma embarcação, enquanto que no Galeão, a medição foi realizada da ponte. Segundo Couto (2004) e Pompêo (1999) a luz do sol consegue penetrar até três vezes a transparência medida com o disco de Secchi, a depender da quantidade de matéria orgânica suspensa na coluna d’água. Considera-se como visibilidade da água o resultado da presença de partículas em suspensão e a cor da água, porque esses itens têm interferência direta na penetração da luz e conseqüentemente no crescimento das

5,00 4,50 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 1,50 1,00 0,50 0,00

Galeão Garapuá

1/ 12 23 /20 /1 03 2 14 / 20 /1 0 3 /2 5/ 00 2 4 27 /20 /2 04 20 /200 /3 4 11 /200 /4 4 /2 3/ 004 5 25 /20 /5 04 16 /200 /6 4 /2 8/ 004 7 30 /20 /7 04 21 /20 /8 04 12 /200 /9 4 /2 00 4

Profundidade (m)

algas em função da profundidade da estrutura.

Período

Fonte: Viana 2005

Gráfico 1 – Transparência medida na Baía de Garapuá e no Galeão no período de 11 meses.

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Outra característica muito importante para a implantação do cultivo é a profundidade, ela está diretamente ligada com a maré no local. O local requerido tem que apresentar uma profundidade mínima que permita a instalação da estrutura sem que as cordas toquem o substrato, pois se houver contato constante com o fundo pode ocorrer perda de biomassa e/ou acúmulo de resíduos nas algas. A depender da forma utilizada são requeridas maiores ou menores profundidades. No caso da estrutura flutuante, é bom que o local tenha no mínimo 2m de profundidade, ou seja, com a baixamar (0,0m) ainda ter 2m de profundidade, para garantir que a estrutura fique a pelo menos 0,5m de distância do fundo. A corda que une o tubo até a bóia mede aproximadamente 1,2m e é responsável por definir a profundidade da estrutura. No caso da estrutura submersa é necessária uma área com profundidade maior, pelo menos 4m, pois a estrutura precisa ficar a 1,5m do fundo. Para que embarcações possam trafegar, sobre a estrutura, com segurança deve haver pelo menos 2,5m da superfície até o cultivo. Ressalto que mesmo atendendo a essa exigência, não é aconselhável usar essa via de tráfego rotineiramente, devendo ser evitada sempre que possível. Em Garapuá o cultivo foi implantado numa área com profundidade média de 6m, enquanto que no Galeão a profundidade do local escolhido tinha uma profundidade média de 2,5m, portanto menor do que o mínimo ideal.

Segundo Lee (1998), a variabilidade na salinidade interfere significativamente na resposta fisiológica das algas, por conta disso esse parâmetro não pode ser desprezado. Segundo BEVERIDGE (1996), a salinidade em um estuário está relacionada com a precipitação, maré, distância do mar aberto e vazão do rio. As algas marinhas não toleram a água doce, então não é possível implantar um cultivo em áreas onde deságüem grandes volumes de água doce, ou haja uma variação muito grande. Segundo Viana (2005), através de medições realizadas a cada 4 horas, nos dias de campanha, uma vez ao mês, com o uso de Refratômetro Manual Modelo AT 10 (Cole Parmer Instrument CO.) e em seguida extraindo a média dos valores obtidos, foram encontrados os seguintes resultados: na área de Garapuá a salinidade variou em 37 ± 0,8 ‰, enquanto que no Galeão variou 29,1 ± 2,5 ‰.

Segundo Accioly (2003) quanto mais elevada e uniforme a salinidade do cultivo, melhor. É possível observar com base no gráfico 2 que a salinidade na enseada de Garapuá, além de mais elevada é mais uniforme, possibilitando o surgimento de um ambiente mais propício ao cultivo do que na região do Galeão, no entanto não é inviabilizada a implantação do cultivo nessa segunda localidade porque apesar de mais baixa ainda oferece condições satisfatórias.

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45,00 40,00

Salinidade

35,00 30,00 25,00

Galeão

20,00

Garapuá

15,00 10,00 5,00

Datas de medição

6/9/2004

20/9/2004

23/8/2004

9/8/2004

26/7/2004

12/7/2004

28/6/2004

14/6/2004

31/5/2004

17/5/2004

3/5/2004

19/4/2004

5/4/2004

22/3/2004

8/3/2004

23/2/2004

9/2/2004

26/1/2004

12/1/2004

29/12/2003

15/12/2003

1/12/2003

0,00

Fonte: Viana 2005

Gráfico 2 – Salinidade medida na Baía de Garapuá e no Galeão no período de 11 meses

A facilidade de acesso é relevante por haver a necessidade de uma circulação constante na área do cultivo e principalmente pela necessidade de se chegar e sair do local com facilidade, visto que é requerida uma visitação periódica. Se não for um local de fácil acesso por parte dos trabalhadores o serviço torna-se desmotivante e a tendência é a desistência, no entanto se o cultivo for implantado numa área onde seja permitido ao trabalhador visitar com freqüência sem muito sacrifício, ele terá maior empenho.

Em ambas as comunidades, pontos de acesso fáceis e rápidos foram selecionados visando minimizar o desgaste do algicultor na sua atividade quase diária. Foram considerados como fáceis os pontos que possibilitasse aos trabalhadores se deslocar até cultivo sem muito esforço.

Em Garapuá foram realizados dois experimentos. No primeiro houve a implantação de uma estrutura experimental flutuante para avaliar as condições de crescimento e adaptação das algas plantadas. Como a atividade de pesca é pouco intensa e as embarcações saem para desenvolver essas atividades a uma distância maior da costa, apenas esporadicamente há arrastos com redes na praia, mas como não é em qualquer lugar da enseada que há essa possibilidade, então para evitar

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qualquer tipo de problema foram colhidas informações junto à comunidade local de onde eles ocorriam preferencialmente e essas áreas foram evitadas. Depois da análise dos dados apurados nas primeiras biometrias foi percebida a necessidade de deslocamento da estrutura para outro lugar, pois estava havendo uma perda elevada de biomassa por predação de herbívoros e excesso de epifitismo, sendo este segundo problema causado pela associação de muitas partículas em suspensão que acabavam se assentando nas algas, tornando-as mais propícias à fixação de outros organismos ou esporos de outras algas. Foram encontradas, nas áreas próximas, algumas algas produtoras de terpenos, sugerindo que as algas cultivadas seriam alimentos mais apropriados aos herbívoros ali existentes, ao mudar de lugar essa herbivoria foi acentuadamente reduzida. A nova área selecionada, associada ao método de cultivo escolhido, apresentavam condições muito favoráveis para o desenvolvimento da atividade e expansão para até dois hectares, com 200X100m, cujos vértices eram ponto 1 (S 13º 28’ 42,3”; W 38° 54’ 37,3”), ponto 2 (S 13° 28’ 38,9”; W 38° 54’ 44,3”), ponto 3 (S 13° 28’ 39,7”; W 38° 54’ 35,5”) e ponto 4 (S 13° 28’ 36,4”; W 38° 54’ 42,6”). Outro fator relevante foi a profundidade em que o cultivo experimental estava sendo realizado, porque a visibilidade era limitada e, ao colocar a estrutura numa profundidade maior, haveria o comprometimento da taxa de crescimento das algas. Ao mudar de lugar esse problema foi resolvido, pois a visibilidade era melhor, mas surgiu a necessidade de fazer uma adaptação na flutuabilidade da estrutura, visto que a nova área disponível para o cultivo possuía um tráfego maior de embarcações. Depois de definir com exatidão a nova área experimental na enseada, foi implantada uma estrutura submersa, que pareceu ser bem mais segura para as embarcações e originou resultados mais promissores. A grande vantagem dessa variação do MLL é que os barcos podiam passar sobre o cultivo, desde que tomassem cuidado com as bóias das extremidades. Associada a essa vantagem é possível citar a redução do impacto visual, que já era pequeno, levando o cultivo a ser quase imperceptível, a não ser pelas bóias de sinalização e bandeiras.

Na implantação do segundo cultivo experimental, houve o treinamento das marisqueiras, o qual gerou duas cordas, inicialmente. A partir dessa data elas ficaram responsáveis por executar as amarrações e deixavam as algas amarradas na lanterna, para que fossem levadas para o MLL após a biometria. Por esse motivo se vê no gráfico 3, o crescimento do número de cordas juntamente com o

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crescimento do peso médio das algas, sendo que na ultima biometria não houve acréscimo no número de cordas. Levando em consideração que a biometria inicial das algas plantadas entrava no cálculo do peso médio juntamente com as que já estavam na estrutura, a curva de crescimento verdadeira é demonstrada na última biometria. Esse fato explica também a redução do peso médio na segunda biometria,

pois

foram

acrescentadas

três

cordas

com

algas

menores,

o

que

interferiu

consideravelmente no cálculo do peso médio, fazendo o mesmo ter uma pequena redução, apesar das primeiras algas terem crescido. O trabalho foi desenvolvido desta forma com o intuito de avaliar o crescimento geral do cultivo. No mesmo período em que foi implantada a estrutura submersa em Garapuá, houve a implantação de uma estrutura flutuante no Galeão. No Galeão a pesca é muito explorada para captura do siri, usando armadilhas artesanais, ou ainda a captura de peixes utilizando as “camboas”, que são armadilhas em forma de cercado feitas com madeiras finas que aprisionam os peixes que entram na maré alta e os pescadores os recolhem na maré baixa. O experimento foi implantado num local onde havia condições de expandir para até um hectare, caso houvesse implantação definitiva, mas nem todos os parâmetros puderam ser levados em consideração na hora da escolha, em virtude da localização da comunidade, da intensa atividade pesqueira na região e, sobretudo do tráfego de embarcações, o que restringiu muito as possibilidades de área para escolha. As áreas livres disponíveis eram pouco extensas, o que ocasionaria um cultivo segmentado, abrangendo mais de uma área para completar o hectare necessário. Foram realizadas algumas biometrias no período do experimento, respeitando um intervalo máximo de 30 dias entre elas. Foi obtida, em Garapuá, uma taxa de crescimento relativo (TCR) de 1,42 ± 0,33 % Dia-1, por muda plantada, no primeiro experimento com estrutura flutuante durante um período de 118 dias, as mudas de algas foram plantadas com um peso médio inicial de 2,61 ± 0,19 g e na transferência estavam com 14,38 ± 4,38 g, as cordas possuíam 186,5 ± 46,06 g no plantio e 175 ± 131,32 g na transferência. Parece uma contradição falar em crescimento quando se planta cordas mais pesadas do que se colhe, mas vale ressaltar que a análise levava em consideração o número de algas no início e no fim do período e o peso de cada uma em cada fase, ou seja, apesar das perdas por herbivoria ou ação de correnteza, quando se avaliava o peso médio das mudas podia notar o

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crescimento, bem como a avaliação visual permitia perceber o desenvolvimento. O segundo experimento, num período de 62 dias de cultivo, foi povoado com mudas de peso médio inicial de 1,40 ± 0,21 g e no final retiradas com 2,37 ± 0,76 g. No segundo experimento os dados foram analisados ao nível de corda e não mais por muda plantada, portanto para as cordas foram obtidos TCR 0,39 ± 0,51 % Dia-1, sendo iniciado o experimento com cordas de 185 ± 107,8 g e concluído com 235,38 ± 84,03 g.

No Galeão, seguindo o mesmo método de cálculo que em Garapuá, foi obtido um TCR de – 0,86 ± 1,07 % Dia-1, ao final de 29 dias, tendo como peso inicial 7,11 ± 0,77 g e peso final 5,75 ± 1,91 g. Observa-se aqui a mesma situação encontrada no primeiro experimento de Garapuá, nesse caso, em virtude de muitos galhos, folhas e outros objetos que constantemente passavam sobre o cultivo e nessa oportunidade danificavam as algas plantadas. É válido ressaltar também que apesar das algas terem apresentado um crescimento muito bom, não chegou a ultrapassar o crescimento do cultivo de Garapuá, embora os números demonstrem isso, o fato é que no período considerado houve um acúmulo grande de silte nas cordas e nas algas, mascarando os dados, embora tenha sido realizada uma limpeza parcial. Não houve condição de efetuar a limpeza total das cordas antes da biometria, em função da quantidade de pessoas envolvidas, apenas três pessoas, o que ocuparia um tempo muito longo e inviabilizaria a execução de outras atividades programadas. Em virtude do retardo nas atividades de implantação ocasionado pela dificuldade de se estabelecer uma equipe de trabalho nas comunidades e também pelos dados obtidos nas primeiras biometrias da fase experimental, o manejo da estrutura e a implantação não foram devidamente acompanhados pelas pessoas das comunidades, estas apenas aprenderam a realizar as amarrações e conservação das algas.

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Peso médio/planta Cordas 2,5

12

Peso médio/muda (g)

8 1,5 6 1 4 0,5

Nº de cordas do cultivo

10

2

2

0

0 15/8/2004

29/8/2004

19/9/2004

16/10/2004

Período

Gráfico 3 – Relação Peso da muda X Quantidade de cordas plantadas para demonstrar progresso do cultivo, em Garapuá.

Em Garapuá, oito marisqueiras da comunidade demonstraram interesse em desenvolver o trabalho, sendo que a maior parte do dia elas dedicavam a sua atividade principal e dispunham de tempo, apenas no final da tarde ou a noite, por conta disso foram empregadas principalmente na amarração das algas. O plantio das mudas era realizado à noite, pelas mulheres, quando elas se reuniam e preparavam as cordas de algas, depois acondicionavam-nas em um pano umedecido com água salgada, para, na manhã seguinte, colocá-las de volta ao mar. A idéia era de que, com o desenvolvimento da atividade, houvesse maior envolvimento e dedicação por parte delas. No Galeão apenas uma família se mostrou interessada em desenvolver o cultivo, por ser uma atividade nova para todos na região, por conta disso a dificuldade de prestar a devida manutenção, foi bem maior, até porque a quantidade de material em suspensão era maior. Na enseada de Garapuá a predominância é de substrato rochoso coberto por uma camada de areia que se torna mais ou menos espessa quando se aproxima da região da praia, mas também é possível observar áreas com recifes completamente descobertos, expondo as pedras. O tipo de

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substrato a ser escolhido tem influência sobre a forma de fixação da estrutura ao fundo e a quantidade de partículas em suspensão existente na área de interesse. Tratando de formas de fixação da estrutura, existem diversas possibilidades. Em Garapuá Foi utilizada uma opção considerada menos impactante e mais simples de ser lançada na fase experimental, que foi a poita, feita com sacos de ráfia, como citado anteriormente, e para a estrutura definitiva, pensou-se numa ancora construída em concreto, a qual não chegou a ser confeccionada. A idéia do uso de concreto, ao invés de uma âncora normal feita de metal foi sugerida em função do impacto causado pelo metal, a durabilidade superior que uma âncora de concreto apresentaria e o custo de confecção, que seria bem inferior no caso do uso de concreto. Quanto ao Galeão, embora tenha sido usado o saco de ráfia também na fase experimental, havia o planejamento de fazer uso de estacas de ferro (vergalhão de 1,5 polegadas), com 1,50 m de comprimento e três “barbelas” na parte inferior para se prender ao substrato e possibilitar uma melhor fixação. Foi observado que no Galeão a estrutura, juntamente com as cordas de algas, foi atingida por um galho de árvore ocasionando o contato com o substrato por um tempo, o resultado foi claro nas perdas de biomassa e acúmulo excessivo de material incrustado nas algas. Para evitar esse tipo de problema, seria necessário implantar nas extremidades do cultivo um tipo de proa, conforme sugerido por Morais (2002) para cultivos de camarão em gaiolas. A manutenção na estrutura se dá com uma periodicidade de no máximo duas semanas, onde os tubos são limpos com o auxílio de uma faca e as algas agitadas dentro da água para a remoção das partículas de silte e esporos de epífitas da sua superfície. Com esse sistema de colheita gradativa as cordas estarão sempre sendo manuseadas e acredita-se que sejam necessárias duas pessoas para dar manutenção em 6 quadros por dia.

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4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ¾ No momento da limpeza é importante verificar também a firmeza dos nós, fixação de tubos e bóias e amarração dos long lines. Essa verificação constante passa a funcionar como uma manutenção preventiva, pois evita que o algicultor tenha surpresas desagradáveis por nós folgados, ocasionando perda de material ou cordas plantadas e garante a colheita da quantidade prevista de algas. ¾ A colheita deve ocorrer de forma gradativa e sistemática, nos períodos em que se dirigir ao cultivo para realizar a manutenção da estrutura, o algicutor efetuará a limpeza e cortará as algas que estiverem ultrapassando 5cm de comprimento, deixando a porção da alga amarrada para rebrotar e pondo a parte retirada em sacos de ráfia ou nylon. As partes cortadas são lavadas com água doce e postas para secar, após a secagem as algas são armazenadas em local seco. ¾ Como fonte alternativa de renda para Guarapuá, o cultivo de algas apresenta um grande potencial em virtude das condições ambientais favoráveis e disponibilidade de área. No entanto é necessário que seja desenvolvido um trabalho paralelo de conscientização da comunidade quanto às vantagens do aprimoramento da técnica para eles e para o ambiente.

¾ Assim como para Garapuá, o cultivo é viável financeiramente para a comunidade de Galeão, desde que seja realizada uma pesquisa mais detalhada e uma conscientização melhor da equipe que se prontificar a desenvolver a atividade.

¾ As pesquisas de melhor forma de manejo devem prosseguir até que seja desenvolvida uma rotina que se adeqüe perfeitamente aos usuários.

¾ A estrutura demonstrou uma boa adaptabilidade ao local, mas com testes realizados em escala experimental, ao expandi-la a uma escala comercial certamente serão necessários alguns ajustes.

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