Teorias sócio-espaciais - UFF

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etc, espaço, tempo e crítica Revista Eletrônica de Ciências Humanas e Sociais e outras coisas ISSN 1981-3732 http://www.uff.br/etc

15 de Julho de 2007, n° 2 (2), vol. 1

Teorias sócio-espaciais: diante de um impasse? * Geraldo Magela Costa Professor Associado do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-graduação em Geografia – IGC/UFMG Pesquisador do CNPq

Resumo O artigo discute a hipótese da existência de impasse ou crise no processo de produção do conhecimento sobre os processos sócio-espaciais. São consideradas duas passagens nesse processo: das abstrações teórico-filosóficas para proposições teóricas e metodológicas concretas e destas para a identificação de possibilidades de práticas de mudança social. A análise se desenvolve a partir da revisão de contribuições recentes de alguns autores (especialmente David Harvey, Henri Lefebvre e Edward Soja), procurando identificar como eles abordam as duas passagens acima mencionadas. As conclusões dessa análise terminam sendo favoráveis à abordagem de Lefebvre, que, sugere-se, fosse ainda vivo teria respondido que tal impasse ou crise não existe. Certas tentativas de se avançar para além de sua forma dialética de leitura do espaço apresentaram, pelo menos até o momento, resultados frustrantes. Avalia-se que muitas dessas tentativas não passam de proposições vagas, sem consistência conceitual e teórica. Outras formas de leitura de Lefebvre resultaram em tentativas equivocadas de transformar a forma de raciocínio dialético deste autor em categorias de análise espacial. Além da importância da contribuição teórica de Lefebvre em si, o artigo enfatiza a sua propriedade como suporte teórico-metodológico para a análise de processos sócio-espaciais específicos. Palavras-Chave – teorias sócio-espaciais, produção do espaço, processos sócio-espaciais, espaço abstrato, espaço social.

Sociospatial theories: are we at an impasse? Abstract

Based both on the political economy and the poststructuralism approaches, I develop some arguments around the two moments when questions or uncertainties in the production of knowledge about the sociospatial processes may be occurring: from philosophy to concrete theoretical and methodological frameworks, and from those to the identification of social change practices. The analysis focuses on recent contributions of some authors (specially David Harvey, Henri Lefebvre and Edward Soja), trying to identify the way they approach the two mentioned moments. My conclusions are in favor of Lefebvre's approach. I suggest that if he were still alive, he would say that such impasse in the production of knowledge does not exist. Some attempts to go beyond his dialectical readings of space have presented, at least until the present moment, frustrating results. I argue that many of these attempts are just loose propositions without theoretical and conceptual consistency. Other readings of Lefebvre's theory result in mistaken attempts to transform the author's dialectical reasoning in typologies of spatial analysis. Besides Lefebvre's theoretical contribution in itself, the paper emphasizes its potential as a methodological support to analyze specific sociospatial processes. Key- Words – sociospatial theories, space production, socio-spatial processes, abstract space, social space *

Uma primeira versão desse artigo foi publicada nos Anais do VIII Encontro Nacional da Anpur (Costa, 1999). Posteriormente, partes dele foram também incorporadas a dois outros textos: Costa & Costa (2005) e Costa (2005).

etc..., espaço, tempo e crítica. N° 2 (2), VOL. 1, 15 de julho de 2007, ISSN 1981-3732 Recebido para Publicação em 28.06.2007.

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Geraldo Magela Costa

Introdução: impasse ou incertezas? Textos recentes sobre formas diversas de leitura do espaço urbano e regional têm deixado a impressão de que o conhecimento em relação a este aspecto da realidade passa por um momento de crise. Se esta crise existe, ela não é nova. Começa a se manifestar em fins dos anos oitenta, por meio da descoberta da insuficiência das análises macrossociais em dar conta dos processos sócioespaciais em toda a sua complexidade. Em 1987, Christian Topalov (1988) ao escrever sobre a experiência francesa de pesquisa urbana desde 1965, procurou refletir a respeito dessa possível crise nas formas de produção do conhecimento sobre a questão urbana. Para esse autor, a crise se manifestava em três níveis naquele momento: o objeto da pesquisa urbana havia se dissipado, as instituições responsáveis por tais pesquisas se esfacelaram e os conceitos teóricos se esgotaram (TOPALOV, 1988 :12). Esse era um momento de reflexão sobre as possibilidades do paradigma de inspiração marxista, especialmente da chamada economia política da urbanização, que havia tido um período relativamente longo de hegemonia em termos de análise urbana. Minha intenção não é rever aqui todo o artigo de Topalov que é uma referência importante para aqueles que se dedicam ao tema, mas registrar aquele momento como marco inicial de uma discussão sobre uma possível crise na produção do conhecimento sobre a questão urbana. A crise, no entender de Topalov, fez com que ressurgissem velhos conceitos e teorias, cuja principal marca era o abandono dos fenômenos macrossociais e o conseqüente favorecimento do "objeto local", do "microssocial" e do "cotidiano" (idem :23). Suas indagações sobre "em qual direção irão os desenvolvimentos em curso", continuam até o presente como motivo de discussões e debates. Topalov

conclui seu artigo dizendo que parece claro que "os paradigmas que emergiram deste questionamento não adquiriram ainda o alcance e a influência dos precedentes" (idem:23). Após esta pequena síntese caberia formular algumas questões. Haveria de fato uma crise relacionada às formulações teóricas sobre os processos sócioespaciais? Esta crise estaria caracterizada principalmente pela inexistência de um paradigma hegemônico? Haveria a necessidade de tal paradigma dominante ou poderíamos ver este momento de questionamento, em que novas e velhas formas de leitura dos processos sócioespaciais competem, como rico em novas perspectivas de análise? Pretendo ao longo deste artigo argumentar em torno destas e outras questões relacionadas. Em primeiro lugar, argumento que, havendo ou não a crise, uma situação de incertezas parece persistir ao longo destes dez últimos anos. Um primeiro aspecto desta possível crise refere-se aos questionamentos em torno da suficiência dos paradigmas críticos de orientação estruturalista e marxista em dar resposta à complexidade dos fenômenos sócioespaciais urbanos. Com isto, ganharam espaço análises que apresentam visões parciais da realidade, a exemplo das questões relacionadas a raça, gênero, cotidiano, comunidade, etc. Por um lado, estes novos estudos, que são rotulados de pós-estruturalistas por alguns e pósmodernistas por outros, enfocam aspectos relevantes da dinâmica sócio-espacial que teriam sido esquecidos na perspectiva totalizante e economicista das abordagens estruturalistas. Por outro lado, no entanto, a maioria dessas análises acaba por apresentar resultados particulares, fragmentados e parciais, ou seja, não procuram inserir as questões acima mencionadas em um quadro teórico abrangente dos fenômenos estudados. Mais recentemente, questões relacionadas aos processos de globalização da economia,

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aos conseqüentes processos gêmeos de homogeneização e fragmentação sócioespacial e às novas formas de organização da produção e de relações de trabalho, têm introduzido novos elementos à discussão da questão sócio-espacial urbana e regional. Por um lado, estes novos elementos são reais e, portanto, não podem deixar de ser considerados na análise. Por outro lado, no entanto, ao serem considerados como um novo paradigma suficiente para o entendimento dos processos sócioespaciais, resultam, na maioria das vezes, em interpretações vagas e parciais. Um exemplo disto são as abordagens de oposição binária entre homogeneização espacial seletiva e fragmentação que colocam esta última como uma inevitável forma de expressão sócio-espacial relacionada ao momento atual do modo desigual de desenvolvimento capitalista. Com isto, a possível situação de incertezas parece aumentar. Harvey (1996) procura refletir em torno dessas incertezas ao discutir o que denomina "possíveis mundos urbanos". Após constatar a insuficiência tanto do enfoque da "globalização" quanto do de "comunidade", pergunta: "Se as linguagens de 'comunidade' e de 'globalização' devem ambas ser rejeitadas, então para onde ir?" (HARVEY, 1996 :429). No campo teórico, Harvey sugere como uma possível resposta a esta pergunta, o conceito de "desenvolvimento geográfico desigual", que está centrado "nas condições concretas dentro das quais a ação sócio-ecológica é possível e o modo no qual a atividade humana, por sua vez, transforma as condições sócio-ecológicas" (idem :429). "Como mover-se deste momento puramente discursivo no processo social para os reinos do poder, práticas materiais, instituições, crenças e relações sociais", Harvey sugere, "é (…) onde a prática política começa e a reflexão discursiva termina" (idem :438). Com isto, percebe-se que mesmo havendo uma proposta teórica de solução para a

possível crise, permanece a incerteza em relação a como avançar na direção de uma praxis para a transformação social. Em relação a esta questão as contribuições de Harvey continuam orientadas pelos princípios de justiça social e pela adoção da análise marxista, claramente afirmada e reafirmada em seus trabalhos, em especial na introdução ao The Urban Experience (1989) 1 . Em seu clássico artigo Social Justice, Postmodernism and the City, por exemplo, Harvey (1992) sugere o planejamento com justiça social e as práticas políticas como caminho a ser perseguido para a supressão do que ele, citando Young (1990), denomina cinco faces da opressão. Apesar de se observarem algumas situações de incertezas, eu sugeriria que isto não caracteriza uma situação de impasse. Ao contrário, a crise tem permitido que se avance na direção de uma abordagem multiparadigmática e transdisciplinar na análise dos processos sócio-espaciais, além de contribuir para que se avalie empiricamente e de forma mais aprofundada as práticas socioespaciais observadas no Brasil, em especial aquelas relacionadas a novas formas de gestão ao nível local. Acredito que estes novos procedimentos analíticos são de fundamental importância para se avançar no conhecimento dos fenômenos e processos sócio-espaciais e no questionamento de algumas "certezas" teóricas que tentam explicá-los. Em pesquisa realizada nos anos 1990 (COSTA, 1996; 1998), procurei avançar na direção da produção do conhecimento dos processos sócio-espaciais e, também, questionar algumas dessas "certezas" teóricas. O objetivo do estudo foi o de 1

Em suas próprias palavras: “(…) eu me voltei para a meta-teoria marxista no início dos anos 1970 em parte porque eu a considerava (e ainda considero) o mais poderoso de todos os esquemas explicativos disponíveis. Ele tem a potencialidade (…) de captar questões tão diversas quanto formação do ambiente construído e desenho arquitetônico, cultura de rua e micro-política, economia urbana e política assim como o papel da urbanização na rica e complexa geografia histórica do capitalismo” (Harvey, 1989 : 4).

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Geraldo Magela Costa

entender "novas" formas de urbanização observadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e que estariam expressando conseqüências, na forma de exclusão sócio-espacial, do momento atual de reestruturação produtiva e de inserção econômica global. O caso de uma manifestação urbana no município de Betim, RMBH, que surgiu e cresceu em relação estreita com a implantação e consolidação da planta industrial da Fiat Automóveis, revelou-se apropriado para o objetivo proposto. A hipótese geral para a pesquisa sugeria que, apesar de não haver dúvidas em relação ao caráter de fragmentação e exclusão sócio-espacial da manifestação urbana em análise, este fato não poderia ser tomado como uma conclusão absoluta, em função de certas particularidades do lugar que poderiam ser mais bem avaliadas por meio da investigação empírica. O suporte teórico para o estudo de caso estava baseado na contribuição de Henri Lefebvre (1979), sobre o confronto entre o espaço abstrato, ou a "externalização de práticas econômicas e políticas que originam com a classe capitalista e o Estado", e o espaço social, "ou o espaço de valores de uso produzido pela complexa interação de todas as classes na procura da vida cotidiana" (LEFEBVRE, 1979 :241). Apesar de os pressupostos teóricos propostos por Lefebvre serem apropriados para a formulação de hipóteses de pesquisa empírica, eles não são suficientes para se proceder a uma avaliação de seus resultados. Daí a importância de certas contribuições teóricas apresentadas por Milton Santos (1996) sobre o potencial do impacto da novidade como fonte de novas descobertas e novos conhecimentos para o indivíduo imigrante e que poderiam levar a práticas emancipadoras. Os moradores da manifestação urbana pesquisada são, em sua maioria, imigrantes pobres e recentes, que começaram a ocupar o lugar somente a partir de meados dos anos setenta.

Somando-se esses insights de Santos a outras contribuições teóricas sobre lugar, comunidades e práticas sócio-espaciais, em especial as de Doreen Massey (1994), David Harvey (1996) e Manuel Castells (1996; 1997), foi possível estruturar uma interpretação para as particularidades dos processos sócio-espaciais em análise, contribuindo para o seu conhecimento e para realimentar os estudos teóricos que procuram discutir a difícil passagem da teoria para a identificação de possibilidades de práticas de mudança social. A pesquisa domiciliar aplicada permitiu constatar um certo grau de otimismo dos moradores do lugar frente ao novo, apesar da pobreza e da precariedade ambientais do lugar. As conclusões sugerem uma inserção marginal dos moradores do lugar, explicada por um processo de "transferência de renda", propiciado pela presença da Fiat Automóveis, pela localização próxima a postos de trabalho na RMBH e, talvez o mais importante, pela boa qualidade de serviços urbanos básicos, a exemplo de educação e saúde, em boa parte devida à forma democrática e participativa como vinha sendo a gestão municipal de Betim 2 . Apesar dos avanços obtidos quanto ao conhecimento de formas recentes de urbanização e ao questionamento de "certezas" teóricas, fica clara a necessidade de novos estudos, tanto empíricos quanto teóricos, sobre a questão. O presente artigo pretende avançar em relação a estes últimos.

Tendências teóricas recentes As abordagens teóricas e metodológicas de análise dos processos sócio-espaciais vêm sendo desenvolvidas por autores americanos em termos de três tendências principais: as análises baseadas na economia política, as interpretações pósestruturalistas e o que denominam populismo urbano. Com base em Susan 2

Mais detalhes sobre os resultados desse estudo de caso podem ser encontrados em Costa (1996, 1998).

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Fainstein (1997), farei uma síntese crítica das principais características destas formas de abordagem. 3 Começando com a economia política urbana ou da urbanização, a autora reconhece, de início, que essa não se limita à abordagem de orientação marxista. Haveria também análises que estariam dentro do enfoque de orientação para o mercado. Considerando os argumentos que desenvolvo neste capítulo, adotarei o mesmo procedimento dessa autora ao restringir (...) a definição de análise políticoeconômica aos esforços de entender desenvolvimento urbano [processos sócioespaciais, no meu caso] que começam suas explicações com processos econômicos e que criticam os resultados do desenvolvimento capitalista principalmente com base em seus impactos para o welfare de grupos relativamente desprovidos (FAINSTEIN, 1997 :19).

Estariam incluídos neste enfoque, de acordo com a autora, os escritos pioneiros de Manuel Castells – A questão urbana – e de David Harvey – Justiça social e a cidade. Outros textos destes autores e de outros serão considerados mais adiante neste artigo. Fainstein (1997) sugere que o fato de a economia política ter como ponto de partida a base econômica representa ao mesmo tempo vantagens e desvantagens deste tipo de enfoque. Em suas próprias palavras: A mais óbvia deficiência do enfoque da economia política é também a sua grande força – seu ponto de partida na base econômica das cidades. [No processo de] identificar a lógica econômica da urbanização capitalista, a política econômica delineia – eu penso que corretamente – os limites da reforma e os processos recorrentes que continuamente geram desenvolvimento econômico desigual,

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Apesar de o artigo de Susan Fainstein referir-se mais especificamente à análise do espaço urbano, seu esquema classificatório pode perfeitamente ser útil para uma abordagem ampliada dos processos sócio-espaciais.

subordinação e insegurança. Mas o favorecimento do econômico na corrente de explicação causal leva a um freqüente cálculo mecânico de interesses reais, assim como à negação da validade de percepções subjetivas que orientam o comportamento humano (FAINSTEIN, 1997 :23).

Mark Gottdiener (1985) também oferece uma boa contribuição a esta discussão sobre o potencial e os limites da economia política da urbanização. Sua argumentação está principalmente no fato de que a ênfase que a economia política dá aos processos de produção do ambiente construído e à circulação do capital é essencialmente econômica, desconsiderando a importância da dimensão espacial para a análise dos fenômenos urbanos. Este reconhecimento de limites do enfoque da economia política é muito importante como contribuição para a discussão das incertezas hoje observadas na produção do conhecimento teórico sobre os processos sócio-espaciais. Por um lado, não tenho dúvidas de que tal enfoque tem poder explicativo, o que o torna imprescindível à análise dos processos sócio-espaciais. Por outro lado, no entanto, não se pode esquecer que ele apresenta os limites acima mencionados. A questão é saber se é possível manter o enfoque da economia política, procurando inserir e acomodar os insights de outras formas correntes de análise de processos sócio-espaciais. O enfoque pós-estruturalista, que ganhou espaço nos últimos anos, não constitui por si só resposta às incertezas aqui discutidas. Concordo com Fainstein (1997 :25-26), que apresenta de forma muito clara sua crítica a respeito da insuficiência deste enfoque: "Pósestruturalismo", ela afirma, "é um termo impreciso que abarca uma variedade de formulações que enfatizam contingência sobre estrutura no processo de explicar resultados" e que, portanto, resulta em explicações reducionistas. Continuando em sua conceituação do enfoque, a autora diz que "A cultura mais do que a

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economia torna-se origem de identidade política no pensamento pós-estruturalista. Os indivíduos existem como membros de grupos sócio-culturais dos quais eles obtêm suas identidades, derivam seu welfare e constróem estratégias de resistência e ações objetivas" (idem :27), de caráter intencional. Nesta categoria de pós-estruturalismo estão incluídas as análises de comunidades, de identidade sócio-espacial, do cotidiano, bem como os estudos não necessariamente urbanos ou regionais a respeito de gênero, raça e cultura em geral. Numa avaliação sintética deste tipo de análise, Fainstein escreve: "De fato, no seu esforço para transcender o reducionismo econômico marxista, os pós-estruturalistas parecem ter abandonado tanto a análise econômica quanto o reconhecimento dos interesses de classe" (idem :28). Além disso, e levando em consideração os aspectos sócio-espaciais e políticos da questão, o pós-estruturalismo, (...) por defender a identificação de grupos e simultaneamente se opor à segregação espacial, (…) endossa uma situação em que antagonismos são abertamente expressos e podem facilmente resultar não no crescente entendimento do Outro, mas em ciclos de ações hostis e vingança (idem :30).

Pode parecer, com essas colocações, que o pós-estruturalismo é um total equívoco. Harvey (1996) também demonstra suas preocupações em relação à forma generalizada como as análises baseadas neste tipo de enfoque têm crescido. Em suas próprias palavras: "(…) a influência proliferante do que são vagamente denominados 'pós-estruturalista' e 'pósmodernista' modos de pensar e de escrever, torna particularmente difícil nos dias atuais encontrar algo tão mundano quanto uma linguagem comum para expressão, particularmente na academia" (HARVEY, 1996 :14). De fato, os textos hoje produzidos sobre o urbano e os processos sócioespaciais, perderam a linguagem comum

de um paradigma dominante, que permitia um melhor entendimento de conceitos utilizados. A Torre de Babel que se instalou nos últimos anos, no entanto, não significa, no meu entender, um retrocesso na produção do conhecimento sobre os processos sócio-espaciais. Ao contrário, pode-se pensar positivamente no sentido de que este momento de incertezas pode ser também um momento de criatividade em termos de proposições de avanços de transformação social. Pode significar o fim de um período um tanto cômodo, propiciado pelo enfoque marxista de análise, em que os claros e, acredito, verdadeiros esquemas analíticos baseados na lógica da acumulação e do desenvolvimento capitalista pareciam ser suficientes para fornecer todo o suporte explicativo para a desigualdade sócioespacial, mas que deixavam em aberto as formas de se avançar da teoria para a ação transformadora. Não estou com isto dizendo que o enfoque pós-estruturalista seria capaz de tal façanha. Ao contrário, os comentários acima realizados mostram que a forma fragmentada daqueles tipos de análises leva à proposição de formas parciais e às vezes equivocadas de ação e de luta. Por último, o populismo urbano que carateriza um tipo de enfoque analítico em que democracia e direitos individuais são valores centrais. Trata-se de um enfoque que prioriza as preferências da população, significando que ele existe mais em termos de prática do que em teoria. De acordo com Fainstein (1997 :31), "o populismo urbano compartilha os mesmos objetivos igualitários dos economistas políticos". A diferença estaria em que os autores e ativistas do populismo urbano "raramente se engajam em sofisticadas análises da estrutura econômica e tendem a ver a riqueza nascendo do poder, mais do que vice-versa". A principal vulnerabilidade deste tipo de teoria de direitos, Fainstein afirma, "está no seu fracasso em situar a fonte de direitos individuais, a não ser na

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forma de uma intuição aparentemente natural que é o comportamento ético" (FAINSTEIN, 1997 :31). Poder-se-ia, portanto, afirmar que não se trata exatamente de uma teoria, mas de uma crença em certos princípios e direitos baseados na ética da democracia liberal. Em uma breve síntese, poder-se-ia dizer que os três enfoques economia política, pós-estruturalismo e populismo urbano estariam respectivamente ligados aos conceitos de igualdade, diversidade e democracia (ver FAINSTEIN, 1997 : 33). Não seria então possível a unificação de contribuições relacionadas aos três enfoques? A proposição não é nova. Ela vem sendo mencionada repetidas vezes como uma saída para a possível crise na produção do conhecimento. Fainstein sugere que a reconciliação desses valores em sociedades divididas por classe e sentimentos comunitários representa um grande desafio para qualquer agenda relacionada ao pensamento da esquerda, apesar de todos os três enfoques serem inerentes ao conceito de justiça social (ibidem :33, 38). Pensando no caso brasileiro, poder-seia afirmar que as análises de planejadores e de propositores de políticas urbanas de algumas administrações locais progressistas tentam buscar este tipo de junção de enfoques. As proposições sobre as necessidades de se levar em consideração a função social da terra urbana, por exemplo, mesmo sendo fundamentalmente orientadas pelo enfoque da economia política, estão certamente também baseadas nos princípios da ética e da justiça social. Estariam essas dificuldades e esses desafios caracterizando um momento de crise no avanço do conhecimento sobre os processos sócio-espaciais? Acredito que para alguns, a crise não existe. Seriam aqueles que passaram ao largo dos avanços teóricos a partir dos anos sessenta em relação a esta questão, a exemplo dos positivistas. Para estes,

talvez tenha havido somente uma maior complexidade na construção de modelos e fórmulas, exigindo a introdução de novas variáveis e de técnicas mais avançadas de cálculos, propiciadas pelas descobertas da ciência computacional. O impasse talvez também não exista para aqueles marxistas ortodoxos que acreditam unicamente no determinismo econômico na realidade do mundo capitalista. Ou ainda, o impasse não existe para os que se dedicam às narrativas históricas 4 . Acredito que a crise ou o impasse está mais claramente presente nos textos de certos autores que acreditam no potencial da produção do conhecimento para o processo de mudança social. Ou seja, aqueles autores que colocam o socialismo, como um projeto político. É este aspecto da questão que dá a idéia de uma crise ou de incertezas. No campo teórico, a crise estaria relacionada à difícil passagem da filosofia para a ciência ou da filosofia para o pensamento filosófico, nos dizeres de Lefebvre em alguma parte de sua vasta obra sobre a produção do espaço. Outras dificuldades estariam na subsequente fase de passar de formulações teóricocientíficas concretas para as propostas de práticas de mudanças sociais. Passagens da obra de Harvey mostram sua visão destas dificuldades. Não obstante afirme que o "socialismo tem que ser entendido como um projeto político, uma visão alternativa de como a sociedade funcionará, como as relações sócioecológicas se desdobrarão, como as potencialidades humanas podem ser realizadas mesmo que dentro de uma geografia da diferença", (1996 :433) reconhece, também, como é difícil concretizar práticas que levem a este tipo

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De acordo com Escobar (1995, citando Donna Haraway, 1989 e 1991), “narrativas não são nem ficção nem opostas a “fatos”. Narrativas são, de fato, texturas tecidas de fato e ficção”. Continuando, Escobar afirma que “Mesmo os mais neutros domínios científicos são narrativas nesse sentido” (1995:19). Ainda mencionando Donna Haraway, Escobar está defendendo a idéia de que tratar a ciência como narrativa não é ser superficial.

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de transformação social, quando escreve: "A dificuldade é, como sempre, encontrar tanto a retórica quanto os meios tangíveis para colocar juntas forças opositoras divergentes engajadas na luta anticapitalista". (ibidem) Para outros autores, como Soja, as dificuldades estariam relacionadas ao reconhecimento de um novo status ontológico para espaço na busca do conhecimento dos processos sócioespaciais. Isto está expresso tanto em sua discussão sobre a dialética sócio-espacial (Soja, 1989), quanto em Thirdspace (Soja, 1997). Discutindo a dialética sócioespacial, por meio da contribuição de autores como Castells, Mandel e, principalmente Lefebvre, Soja oferece boa contribuição ao avanço do conhecimento em relação aos processos espaciais. Suas reflexões sobre a importância do espaço enquanto uma dimensão comparável a outras como as forças produtivas e as relações sociais da sociedade, são bem elaboradas. Em Terceiro Espaço (Thirdspace), no entanto, sua tentativa de avançar para além daquela visão dialética, sugerindo uma "trialética" a ser explorada entre espacialidade-historicidade-sociabilidade, não representou avanços. Além disso, em Thirdspace Soja sugere que estaria, a exemplo de Lefebvre, trabalhando no campo de uma metafilosofia, onde o prefixo meta teria mais o sentido de além (beyond) do que de depois (after). No entanto, o que se observa é que Soja, na tentativa de propor um novo status ontológico para espaço, permanece atado à epistemologia vigente, sem perspectivas de avanços significativos. Portanto, se Soja reconhece a existência de uma crise, eu estou sugerindo que sua última análise sobre a "trialética" não traz contribuições significativas para a sua superação. O termo sugere menos um conceito e mais um rótulo, portanto sem o conteúdo científico e teórico necessário ao avanço do conhecimento sobre os processos sócio-espaciais.

A contribuição de H. Lefebvre Se Lefebvre ainda estivesse vivo e se perguntado se existe uma crise na produção do conhecimento dos processos sócio-espaciais, sua resposta talvez fosse não. Seus vários espaços às vezes dão origem a certa confusão para o leitor 5 . A complexidade de sua obra é também mencionada como de difícil assimilação, mas ao mesmo tempo com um grande potencial para o avanço do conhecimento teórico-científico. As palavras de Eleonore Kofman e Elizabeth Lebas (1996) na introdução à sua tradução para o inglês de vários textos de Lefebvre sobre a cidade (Writings on Cities), revelam esta dupla percepção em relação à sua obra: "Ser Lefebvriano, tem que ser dito, é mais uma sensibilidade do que um sistema fechado; e de fato, muitos têm achado seus insights teóricos difíceis de serem aplicados devido à fluidez, dinâmica e abertura de seu pensamento" (KOFMAN e LEBAS, 1996 :8). A essência de sua reflexão sobre produção do espaço, no entanto, é bastante clara e coerente ao longo de todos estes vários anos em que ele se dedicou à análise desta questão, apesar das dificuldades que às vezes o leitor encontra em ver com clareza sua proposta de uma teoria única para espaço. "O projeto que estou esboçando", escreve Lefebvre (1993 :16), "(…) não objetiva produzir um (ou o) discurso de espaço, mas sim expor a real produção do espaço por um processo de trazer os vários tipos de espaço e as formas de suas origens, juntos em uma teoria única". Para isto, o autor sugere que é necessário destruir os códigos existentes sobre a análise do espaço, principalmente aqueles dos especialistas. No meu entender, a característica mais significativa deste seu projeto está no uso

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Ver, por exemplo, menção aos vários tipos de espaço contidos no livro The Production of Space, no artigo de Michael Dear (1997), sobre a questão pós-moderna.

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do método dialético. Nas palavras do autor: A mudança que estou propondo em orientação analítica em relação ao trabalho de especialistas nesta área precisa agora estar clara: ao invés de enfatizar os aspectos rigorosamente formais de códigos, eu estarei ao contrário dando ênfase ao seu caráter dialético (1993 :17,18).

Kofman e Lebas (1996 :10) também comentam esta importante característica da obra de Lefebvre: "O dialético, ele [Lefebvre] comenta, é freqüentemente obstruído por metáforas". Acredito que obstruções são também introduzidas, de forma involuntária talvez, por meio de certas tentativas de se criarem categorias analíticas a partir da contribuição teórica de Lefebvre sobre a produção do espaço. Leituras recentes da sua obra (Soja, 1997; Merrifield, 1998; Madanipour, 1996; Dear, 1997 e até mesmo Harvey, 1989) em algumas passagens terminam por empobrecer a sua contribuição na medida em que tentam, dentro da racionalidade, construir categorias de espaços, que certamente não era a intenção de Lefebvre ao enumerar os tipos de espaço que ele usa com o objetivo de construir, por meio da argumentação dialética, uma teoria única sobre a produção do espaço. Com isto, estaria perdida, no meu entender, a principal força da contribuição de Lefebvre ao avanço do conhecimento dos processos sócio-espaciais. Dentro deste seu projeto, Lefebvre tenta trabalhar com as duas passagens que consideramos aqui como sujeitas à existência de possíveis crises ou incertezas: da filosofia para as formulações teóricas concretas e da teoria para a possibilidade da prática. Em relação à primeira, Lefebvre certamente deu boas contribuições no sentido de se avançar na produção do conhecimento do espaço e sua produção. A passagem da filosofia para proposições teóricas concretas não significa, no entanto, sua descrença no pensamento filosófico.

Como Kofman e Lebas (1996 :44) afirmam, Lefebvre sempre disse "morte à filosofia, vida longa ao pensamento filosófico". 6 Sua preocupação com o senso da totalidade faz com ele esteja sempre apegado ao pensamento filosófico. De acordo com Lefebvre (Kofman & Lebas, 1996 :175) os "conhecimentos parcial e fragmentário pretenderam ter encontrado certezas e realidades, mas somente comunicaram fragmentos". Nestas leituras parciais estariam incluídas as descrições fenomenológicas da vida urbana e as reconstituições semiológicas da realidade urbana (idem :92). Por outro lado, Lefebvre também critica a pretensão de certos filósofos que procuram expressar uma filosofia da cidade, por meio da extensão de conceitos da filosofia tradicional, tais como "essência" da cidade, ou cidade como "espírito", como "vida", etc. Nesta perspectiva, Lefebvre afirma: "Conceitos filosóficos não são operativos, mesmo que eles situem a cidade e o urbano – e toda a sociedade – como uma totalidade acima e por cima de fragmentações analíticas" (idem :93). Em um primeiro momento, Lefebvre (1993 :11) diz que a "teoria unitária" sobre espaço que procura apresentar, tem como objetivo "descobrir ou construir uma unidade teórica entre 'campos' que são apreendidos separadamente, da mesma forma que forças molecular, eletromagnética e gravitacional são em física". Para o caso do espaço, estes "campos" seriam, "primeiro, o físico – natureza, o Cosmos; segundo, o mental, incluindo abstrações lógicas e formais; e terceiro, o social" (ênfases do original). Concordo com Soja (1996 : 62, ênfases no original) quando sugere que nesta primeira tríade apresentada por Lefebvre, o espaço social tem duas diferentes qualidades. "Ele é ao mesmo tempo um 6

Em inglês: “death to philosophy, long live philosophical thinking”.

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campo separável, distinguível de espaço físico e espaço mental, e/também uma aproximação para um modo abrangente de pensamento espacial". De fato, esta aparente dupla conceituação de espaço social está presente ao longo de todo o texto de Lefebvre sobre produção do espaço. Essa proposta de quebra de códigos antigos e/ou específicos relacionados ao espaço é o primeiro passo do autor na construção de uma teoria unitária de espaço, na qual o conceito de espaço social é ao mesmo tempo distinguível de outros espaços (físico e mental) e uma composição transcendente de todos espaços (Soja, 1996 :62). Lefebvre (1993) diz, no entanto, que a sua intenção não é a de elaborar uma teoria crítica. Em suas próprias palavras: "A substituição de uma utopia tecnológica dominante por uma utopia negativa e crítica já não é mais suficiente. Teoria crítica, depois de ter sido usada como oposição prática, (…) teve os seus dias" (idem :25). 7 Continuando, Lefebvre afirma que (...)é muito tarde para se destruir códigos em nome de uma teoria crítica". Ao invés disso ele se propõe a descrever a já completa destruição daqueles códigos, "para medir seus efeitos, e (talvez) construir um novo código por meio de um 'supercódigo' teórico" (idem :26).

Sua proposta não é a de procurar um substituto para uma tendência dominante, mas reverter tal tendência. Está nesta passagem do livro de Lefebvre um ponto central de sua contribuição teórica, quando apresenta a sua proposta: Como tentarei (…) mostrar, mesmo que uma prova absoluta seja impossível, tal reversão ou inversão consistiria como no tempo de Marx em um movimento de produtos (estudados em geral ou em

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Importante notar que esta avaliação da teoria crítica foi feita por Lefebvre em 1974, quando a versão original de A produção do espaço foi escrita em francês (La production de l’espace). No meu entendimento, no entanto, A produção do espaço é uma teoria crítica, como se verá ao longo desse artigo.

particular, descritos ou enumerados) para produção (idem :26, ênfases no original).

Ou seja, está expressa nesta citação a intenção do autor de dar ênfase a processos na construção de sua teoria sobre a produção do espaço. Para ele "espaço (social) é um produto (social)" (ibidem :26, ênfases no original), numa afirmação que o próprio autor reconhece ser tautológica e óbvia, mas que deve ser examinada com cuidado. Neste exame, Lefebvre, além de procurar avançar em sua formulação teórica sobre a produção do espaço, dá os passos iniciais no sentido de entender a segunda passagem que menciono neste artigo, ou seja, da construção teórica para as propostas de práticas de mudança sócio-espacial. Começando o exame de sua afirmação Lefebvre (1993 :26) escreve: Muitos acharão difícil endossar a noção de que espaço tem assumido, dentro do presente modo de produção, dentro da sociedade como ela realmente é, um tipo de realidade própria, uma realidade claramente distinta, ainda que muito semelhante, àquelas assumidas no mesmo processo global por mercadorias, dinheiro e capital.

Além de ser um meio de produção, o autor afirma, mais adiante, o espaço é também "um meio de controle, e, portanto, de dominação, de poder". Apesar deste seu poder político, Lefebvre adverte que, como tal, espaço escapa em parte daqueles que fazem uso dele. Ele escreve: "As forças sociais e políticas (Estado) que geraram este espaço agora procuram, mas falham, dominá-lo completamente; o próprio agente que forçou a realidade espacial na direção de um tipo de autonomia incontrolável agora se esforça para subjugá-lo e, então, algemá-lo e escravizá-lo" (idem :26). Na relação entre as forças geradoras deste espaço e a dinâmica social que impede o seu domínio completo, o autor constrói sua teoria de práticas sócio-espaciais, que procurarei desenvolver mais adiante neste artigo.

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No momento, considero que a discussão sobre o espaço enquanto um produto social deve passar por algumas perguntas e respostas elaboradas por Lefebvre (1993 :27) como forma de continuar a sua busca teórica. São elas: Este espaço, é um espaço abstrato? Sim, mas ele é também "real" no sentido em que abstrações concretas tais como mercadorias e dinheiros são reais. Então ele é concreto? Sim, porém não no sentido em que um objeto ou produto é concreto. Ele é instrumental? Sem dúvida, mas como conhecimento, ele vai além de instrumentalidade.

O autor então propõe o envolvimento de novas idéias para se avançar nesta construção teórica. Para isto ele introduz a idéia de uma diversidade ou multiplicidade de espaços diferente daquela que resulta da segmentação e cortes de espaço ad infinitum. Sua proposta de inserir esta nova forma de multiplicidade de espaço no contexto histórico mostra, mais uma vez, sua preocupação com processos mais do que com stasis. Com isto, Lefebvre (1993 :27) afirma: O espaço social será revelado em suas particularidades à medida que deixa de ser indistinto do espaço mental (como definido pelos filósofos e matemáticos) de um lado, e do espaço físico (como definido pela atividade prático-sensorial e a percepção da "natureza") de outro lado. O que estarei procurando demonstrar é que tal espaço social não é constituído nem por uma coleção de coisas ou um agregado de dados (sensoriais), nem por um vazio embrulhado como um pacote com vários conteúdos, e que é irredutível a uma "forma" imposta sobre fenômenos, sobre coisas, sobre a materialidade física.

Portanto, quando Lefebvre decodifica espaço em prática espacial (espaço percebido), representações de espaço (espaço concebido) e espaço de representações 8 (espaço vivido), sua

intenção não é a de criar uma categorização fragmentadora do todo espacial, mas sim procurar entender as relações entre uma nova multiplicidade de espaços que integram o espaço social, com suas particularidades e dinâmicas próprias, que não podem ser considerados de forma isolada, mas em um relação dialética que está na base de sua proposta teórica sobre o processo de produção do espaço. Lefebvre (1993 :38) procura especificar o seu entendimento de cada um desses espaços. Começando com prática espacial, sugere que ela "incorpora uma associação estreita, dentro do espaço percebido, entre a realidade diária (rotina diária) e a realidade urbana (as rotas e redes que ligam lugares reservados para trabalho, vida 'privada' e lazer)". De acordo com Harvey (1989 :261), tratam-se de práticas espaciais materiais, uma vez que incorporam os fluxos físicos e materiais, transferências e interações que ocorrem no e através do espaço para assegurar produção e reprodução social. Representações do espaço, ou espaço concebido, por sua vez, constitui o "espaço dos cientistas, planejadores, urbanistas, tecnocratas e engenheiros sociais", um espaço que tende a ser verbalizado; enquanto o espaço de representações, seria aquele "diretamente vivido através de suas imagens e símbolos associados (…), o espaço que a imaginação procura mudar e apropriar" (Lefebvre, 1993 :39). Este último tende a ser não verbalizado. As relações dialéticas entre estes "três momentos do espaço social" (Soja, 1996 :65) são vistas por Lefebvre como o fulcro de uma tensão "através da qual a história das práticas espaciais pode ser lida" (Harvey, 1989 :261). Novamente de acordo com Harvey (1989 :261-263), qualquer tentativa de analisar estas relações supondo que as

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“Espaço de representações” é uma tradução da expressão utilizada por Harvey (1989) e Soja (1996), “spaces of representations”, que eles consideram mais

apropriada do que “representational spaces”, utilizada na versão para o inglês de Lefebvre (1993).

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práticas espaciais determinam diretamente as outras duas dimensões – representações de espaço e espaços de representação – seria equivocada. Citando uma passagem de Marx em O capital que diz: "O que distingue o pior dos arquitetos da melhor das abelhas é que o arquiteto ergue sua estrutura na imaginação antes de ergue-la na realidade" (Capital, vol. 1: 178), Harvey (1989: 262-263) afirma: "Os espaços de representação, portanto, têm o potencial não somente de afetar a representação de espaço, mas também de agir como força produtiva material em relação a práticas espaciais". Por um lado, concordo com Harvey quando diz que mesmo com este tipo de interpretação, a proposição de relações entre as três dimensões de espaço social de Lefebvre ainda permanece muito vaga. Por outro lado, no entanto, insistir em criar, a partir destas três dimensões, um esquema fechado de análise dos processos sócio-espaciais teria, no meu entendimento, o risco de volta aos esquemas fragmentários de análise do espaço, que Lefebvre tentou destruir. Lefebvre procura, com sua proposição de análise de relações dialéticas entre os componentes da "tríade", uma forma de não cair em teorias de oposições binárias ou em dualismos, que pouco ou quase nada tem a contribuir para o avanço do conhecimento. Por último, e talvez mais importante para a discussão de processos sócioespaciais, caberia a pergunta: a dimensão espacial é realmente importante quando se procura avançar nas formas de conhecimento da realidade social com o objetivo de transformá-la? Em uma passagem de A Produção do Espaço, Lefebvre (1993) faz a seguinte observação a este respeito: "Do ponto de vista do conhecimento (connaissance), espaço social funciona (junto com seu conceito) como uma ferramenta para a análise da sociedade". O autor sugere que aceitar isto significa eliminar imediatamente "o modelo simplista de um-para-um ou a

"pontual" correspondência entre ações sociais e localizações sociais, entre funções espaciais e formas espaciais", um esquema estrutural que, "continua freqüente em nossa consciência e conhecimento (savoir)" (1993 :34, destaque no original). A análise torna-se certamente mais simples quando se pensa não em espaço social, com toda a sua complexidade e dimensões, mas em espaço (ambiente) construído. Esta tem sido a perspectiva da economia política da urbanização. Sua contribuição tem sido valiosa ao longo de todos estes anos de análise marxista da questão urbana, mas seu enfoque espacial se limita às práticas espaciais (espaço percebido), deixando de lado as duas outras dimensões de espaço social anteriormente mencionadas. A teoria de Lefebvre além de permitir uma visão de processo, leva em consideração todas dimensões do espaço social, com suas relações complexas. No entanto, fica ainda a dúvida quanto ao sucesso ou não de Lefebvre em especificar claramente um novo status ontológico para o espaço, como sugerem, por exemplo, Soja (1989, 1996) e Dear (1997). Lefebvre (1993) enfatiza de fato este novo status do espaço quando escreve: Embora [seja] um produto para ser usado, para ser consumido, [ espaço] é também um meio de produção; redes de troca e fluxos de matéria prima e energia, moldam o espaço e são determinados por ele. Portanto este meio de produção, assim produzido, não pode ser separado das forças produtivas, incluindo tecnologia e conhecimento, ou da divisão social do trabalho que lhe dá forma, ou do estado e das superestruturas da sociedade (1993: 85, ênfases no original).

O autor repete este seu argumento em outras partes de sua obra, em especial em um pequeno artigo (Lefebvre, 1979), que foi exaustivamente explorado por Gottdiener (1985). Em uma passagem deste artigo Lefebvre afirma que

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Teorias sócio-espaciais: diante de um impasse? O arranjo espacial de uma cidade, uma região, uma nação ou um continente, aumenta as forças produtivas, da mesma forma que equipamento e máquinas em uma fábrica ou em um negócio, mas a um outro nível. Usa-se espaço da mesma forma que se usa uma máquina (1979: 288).

Por um lado, estas afirmações sugerem avanços na forma de se pensar o espaço, uma vez que lhe dá um novo status, comparável ao das forças produtivas. Por outro lado, no entanto, tais afirmações identificam-se com textos da economia política da urbanização, que tão somente enfatizam o papel do ambiente construído para o processo de acumulação capitalista, sem desenvolver de fato uma teoria de produção do espaço. No entanto, a contribuição de Lefebvre para o entendimento de processos sócioespaciais não pode ser avaliada por meio de passagens isoladas. Sua discussão sobre a dialética entre valor de troca e valor de uso do espaço, por exemplo, leva a avanços ainda mais significativos na análise dos processos sócio-espaciais. Para se entender esta discussão, é necessário rever as reflexões do autor sobre as contradições do/no espaço. Um primeiro conceito importante para isto, é o de espaço absoluto. "Espaço absoluto", escreve Lefebvre (1993: 48, ênfases no original), "religioso e político em caráter, foi um produto dos vínculos de consangüinidade, terra e linguagem, mas dele desenvolveu-se um espaço que era relativizado e histórico", um espaço com origem na antigüidade. Não que o "espaço absoluto tenha desaparecido no processo; ao contrário ele sobreviveu como fundação do espaço histórico e base de espaços de representação (simbolismos religiosos, mágicos e políticos)". Um espaço da acumulação, o espaço abstrato, começa a se sobrepor ao espaço absoluto na passagem para o capitalismo. Nas palavras do autor: "Foi durante este tempo que a atividade produtiva (trabalho) deixou de ser parte integrante do processo de reprodução que perpetuava a vida social; mas, ao tornar-

se independente daquele processo, o trabalho torna-se presa da abstração, por isso trabalho social abstrato – e espaço abstrato" (1993: 49, ênfase no original). Este espaço abstrato abriga, principalmente, além de velhas contradições que permaneceram ao longo da história, novas contradições relacionadas ao novo modo de produção. Estas contradições estariam expressas no (...) confronto entre espaço abstrato, ou a externalização de práticas econômicas e políticas que originam com a classe capitalista e o estado; e espaço social, ou espaço de valores de uso produzido pela complexa interação de todas as classes na procura da vida cotidiana (Gottdiener, 1985 :127).

Este tipo de enfoque, que introduz a dimensão política da questão, constitui um aspecto importante de diferenciação da análise de Lefebvre daquela da economia política tradicional. Esta, ao considerar, por exemplo, a imprescindível participação do Estado na produção do ambiente construído, não introduz de fato a dimensão política da questão, mas tão somente inclui o nível da superestrutura de um esquema de análise em que o econômico é determinante. Importante para a continuidade desta segunda passagem na abordagem dos processos sócio-espaciais - ou seja, das formulações teóricas para a análise de possíveis práticas de mudanças sociais – é o conceito de espaço diferencial. Este espaço é germinado a partir das contradições inerentes ao espaço abstrato. De acordo com Lefebvre (1979 :290, ênfases no original), por causa "dessas contradições, nós nos defrontamos com um fenômeno extraordinário, pouco notado: a explosão de espaços. Nem o capitalismo nem o Estado podem manter o caótico, contraditório espaço que eles produziram". Daí a explosão de espaços em todos os níveis, do lugar ao internacional, passando pelos níveis das cidades e das regiões. O autor desenvolve seu raciocínio da seguinte forma: "A

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reprodução das relações sociais de produção dentro deste espaço [abstrato] obedece inevitavelmente duas tendências: a dissolução de velhas relações de um lado e a geração de novas relações de outro lado". Com isto, o (...) espaço abstrato contém dentro de si mesmo as sementes de um novo tipo de espaço. Chamarei este novo espaço de "espaço diferencial", porque, na medida em que espaço abstrato tende para a homogeneidade, para a eliminação de diferenças ou peculiaridades existentes, um novo espaço não pode nascer a não ser que ele acentue diferenças (1993 :52).

Tais diferenças, no entanto, não estão baseadas em particularidades ou individualismos; elas emergem da luta, conceitual e vivida. Em termos sócioespaciais poder-se-ia traduzir este processo na forma de uma luta que procura manter ou resgatar o valor de uso do espaço da tendência de transformá-lo acentuando o seu valor de troca. Este processo, que não pode ser visto de forma separada da luta política, está relacionado à idéia de direitos associados com diferença inscrita na igualdade, como forma de concretizar democracia e socialismo (Kofman e Lebas, 1996, :26-27, comentando Lefebvre). Refletindo sobre a questão da dimensão política de sua análise, Lefebvre (1993 :60) se pergunta: "Estamos falando de um projeto político?" E responde: "Sim e não. Ele certamente incorpora uma política do espaço, mas ao mesmo tempo vai além da política uma vez que ele pressupõe uma análise crítica de toda política espacial assim como de toda política em geral". 9 No meu entender, os argumentos do autor em torno da relação dialética entre valor de troca e valor de uso do espaço é um excelente suporte teórico para a formulação de hipóteses de pesquisa sobre os processos sócioespaciais. A este respeito Lefebvre (1979

:292) sugere que "Apesar do espaço não ter sido analisado em o Capital, certos conceitos, tais como valor de troca e valor de uso, aplicam-se hoje ao espaço. No momento atual, nós devemos usar a distinção, que Marx não considerou, entre a dominação e a apropriação da natureza. Este conflito se desdobra no espaço: em espaços dominados e espaços apropriados". As lutas que se dão em torno deste conflito entre espaço abstrato (dominado) e espaço social (apropriado)10 , contribuiriam para o processo mais amplo de mudanças sociais? O estudo sobre novas formas de urbanização na região metropolitana de Belo Horizonte, mencionado na introdução deste artigo (Costa, 1996, 1998), foi desenvolvido partindo-se da hipótese de que o objeto de análise, um assentamento urbano próximo à fábrica da Fiat Automóveis, em Betim, seria o palco de conflitos desta natureza, cujos efeitos e resultados poderiam ser apreendidos por meio da pesquisa empírica. De fato, uma pesquisa domiciliar, idealizada a partir das contribuições teóricas de Lefebvre sobre a relação entre espaço abstrato e espaço social, aplicada aos moradores do assentamento, revelou-se útil para se avaliar aquela forma complexa de manifestação sócio-espacial urbana. Trata-se de uma perspectiva de análise sócio-espacial que leva em conta, além dos princípios teóricos da economia política, aspectos importantes das contribuições relacionadas aos estudos do cotidiano, de identidade, de comunidade, etc., que alguns poderiam considerar incompatíveis com o primeiro enfoque. Entendo, no entanto, que este tipo de "integração" na prática da pesquisa empírica, que incorpora contribuições de enfoques de análise tanto de processos quanto de "cotidianidades", está implícita

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Nota: Política, nesta citação é uma tradução de politics e não de policy.

Note-se que aqui espaço social tem o sentido de espaço apropriado socialmente e não a idéia integradora de espaço desenvolvida anteriormente neste capítulo.

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ou explicitamente expressa nas contribuições teóricas de Lefebvre. Esta é uma forma possível, de se ir da formulação teórica para a proposição de possíveis práticas de mudança social. Merrifield (1997 :431) comenta este aspecto da contribuição de Lefebvre: "Assim para a teoria ser comunicável e praticável politicamente, deve-se tentar ativamente reintroduzir a narrativa nela, usando metáforas da vida cotidiana". Penso que quando Lefebvre introduz a luta cotidiana como forma de resgatar o valor de uso do espaço da tendência homogeneizadora do espaço abstrato, ele está sugerindo este tipo de tentativa. Concluindo, sugiro que uma hipotética pergunta que procurasse desvendar se Lefebvre seria um precursor do pensamento pós-moderno, como alguns acreditam (ver por exemplo, Soja, 1996, 1997), ou se seria um adepto do enfoque da economia política, um modernista (ver Kofman e Lebas, 1996 :45) ou essencialmente um filósofo, teria talvez como resposta, que sua contribuição teórica para o avanço do conhecimento dos processos sócio-espaciais prescinde de quaisquer destes rótulos. Sua discussão teórica tem contribuído para avançar no conhecimento de processos sócio-espaciais específicos, o que é importante quando se pensa, por exemplo, em formulação de políticas, ao mesmo tempo em que busca uma teoria única de espaço, cuja visão do todo permite elaborar objetivos relacionados ao ideal de um espaço socialista, o que é fundamental para a construção de formas de mudanças sociais, mesmo quando se sabe que tal espaço é uma utopia. oOo

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