EXPERIÊNCIAS

SENSORIAIS

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À Pontifícia Universidade Católica de Campinas, seu corpo docente, direção e funcionários. À professora orientadora Andréia Dulianel, pelo suporte, paciência e apoio. Aos nossos pais, pelo o amor e incentivo.

// MATERIAL DIDÁTICO: EXPERIÊNCIAS SENSORIAIS

Autores: Ana Luísa Cuelbas Bruno Taliani Fernandes João Paulo Barrionuevo Gomes Ferreira Larissa Leite da Silva Thaís Bristotti Pereira da Silva Ano de 2015 Trabalho acadêmico apresentado junto ao Curso de Licenciatura em Artes Visuais da Pontifícia Universidade Católica de Campinas como requisito parcial para obtenção do Grau de Licenciado em Artes Visuais Orientadora: Profª. Me. Andréia Cristina Dulianel

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Por meio das obras dos artistas brasileiros Lygia Clark, Lygia Pape, Ernesto Neto e Hélio Oiticica, criamos situações de aprendizagem que possibilitem aos alunos analisar uma obra de arte, percebendo a importância que o momento histórico tem sobre a produção artística. Além disso, pretendemos engrandecer a reflexão acerca das obras, a partir de informações sobre os artistas. Desse modo, os alunos poderão pensar sobre o que veem e criam, em um processo de autoconhecimento e conhecimento dos próprios colegas. O material educativo foi pensado para estimular os sentidos dos alunos, que irão redescobrir como sentir o mundo e a si mesmos. A ideia é expandir a percepção das coisas, proporcionando um contato significativo com a arte. Ao apresentar aos alunos esses grandes artistas e a riqueza de suas poéticas, vamos levá-los a entender suas obras e suas inspirações, refletindo como a arte contemporânea revolucionou todas as regras das artes. Experimentando as obras desses artistas, os alunos poderão compreender de fato o que elas representam para a história da arte. Ao propor o contato com uma arte interativa, que brinca com os sentidos, o material tem por objetivo fazer com que os alunos tomem consciência dos seus sentidos, investigando materiais inusitados e experimentando todas as sensações, sabores, texturas e cheiros. Assim, acredita-se que um potencial da arte é contribuir para uma visão diferente do mundo, trazendo uma troca educacional, um meio de aprendizagem.

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Experiências Sensoriais

/ Índice

PROPOSTAS DE AULAS 08 | ARTISTA: LYGIA CLARK Biografia Poética Obra e Contextualização

11 | PROPOSTA DE AULA

Diálogo: Óculos (1968) lygia clark

Para Observar Vamos Praticar? Refletindo… Recursos e Materiais

15 | ARTISTA: LYGIA PAPE

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Biografia Poética Obra e Contextualização

Introdução

Glossário

17 | PROPOSTA DE AULA

O material educativo foi feito pensando na importância da arte no desenvolvimento do domínio cognitivo e no desenvolvimento do domínio emocional do préadolescente.

Surgiu alguma dúvida? Consulte o glossário sempre que necessário e leia as definições de termos.

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Métodos de Avaliação

Bibliografia

Descubra as diversas maneiras de avaliar os alunos.

Aprofunde seu conhecimento sobre a arte sensorial.

Para Observar Vamos Praticar? Refletindo… Recursos e Materiais

20 | ARTISTA: ERNESTO NETO Biografia Poética Obra e Contextualização

23 | PROPOSTA DE AULA Para Observar Vamos Praticar? Refletindo… Recursos e Materiais

26 | ARTISTA: HÉLIO OITICICA Biografia Poética Obra e Contextualização

29 | PROPOSTA DE AULA Para Observar Vamos Praticar? Refletindo… Recursos e Materiais

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Caro Professor,

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O material educativo, “Experiências Sensoriais”, foi pensado

autonomia para adaptar o que for necessário em suas aulas.

sobre a importância da arte no desenvolvimento do domínio

Este guia tem o objetivo de acrescentar e ampliar novos

cognitivo e emocional do pré- adolescente, com idade entre 10

conhecimentos da arte sensorial tanto para o professor quanto

a 12 anos. Nele, você encontrará diversas informações sobre a

para seus alunos, para que pensem de maneira inteligente

arte sensorial explorada nos trabalhos dos artistas Lygia Clark,

acerca de como seus corpos percebem o mundo através dos

Lygia Pape, Hélio Oiticica e Ernesto Neto, que buscavam, em seus

sentidos (como o tato, olfato, visão, paladar e audição). Além

projetos, a participação corporal dos espectadores.

disso, tem como propósito instigar e estimular a curiosidade

Com imagens, vídeos, materiais físicos e contextualização

nos alunos; exercitar o olhar; aumentar o repertório imagético;

das obras, sugerimos algumas ações que, por meio da arte,

contextualizar culturalmente e socialmente os diversos

possibilitem aos alunos explorar todos os seus sentidos,

trabalhos sensoriais realizados por artistas brasileiros;

aprofundando-se em cada um deles. No processo de descoberta

desenvolver a capacidade de leitura visual e o pensamento

e aprendizagem, o material ajudará o professor direcionar os

crítico dos alunos; encorajar o professor a trabalhar com

alunos nesse campo vasto dos sentidos, conduzindo-os até o mais

linguagens artísticas diferentes e propiciar o mais profundo

profundo autoconhecimento. O professor, no entanto, tem toda a

autoconhecimento dos alunos.

Experiências Sensoriais

O material educativo foi construído para enriquecer o repertório

que rompem com as formas convencionais de produzir e

dos alunos e dos professores sobre a arte sensorial - que tem

experimentar a arte.

como finalidade a interação humana com os objetos artísticos

Esse material estimula a expressividade, espontaneidade,

para obter uma compreensão e reabilitação dos sentidos. Esta

comunicação e interação entre os alunos e professores a

favorece a comunicação entre os corpos de forma não verbal

fim de libertar emoções e ideias de cada um. Mas também,

por meio da expressão corporal e gestual; amplia a consciência

proporciona ao indivíduo um estado de interiorização na

dos sentidos, gerando transformações no corpo e na mente e

qual ocorrem percepções e transformações no corpo e na

possibilita a liberação da imaginação criativa e uma nova visão

forma de pensar. Tendo isso em mente, além de promover

e percepção de si, do outro e do mundo.

mudanças e superação de problemas internos de cada um, as

Além disso, o material é importante, pois pretende ajudar o

questões que essa linguagem artística traz, podem contribuir

professor a abordar a arte contemporânea e a utilização do

para a formação de cidadãos com sensibilidade e olhar

corpo na arte. É interessante introduzir essa forma de arte

crítico. A seguir, apresentaremos quatro artistas brasileiros,

nas escolas para possibilitar ao aluno a oportunidade de

Lygia Clark, Lygia Pape, Hélio Oiticica e Ernesto Neto, que

aprender uma nova linguagem artística e também fornecer

realizaram obras sensoriais. Junto com o conteúdo artístico,

aos professores orientações, propostas de aulas e exercícios

seguem as propostas das aulas desenvolvidas.

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diálogo de mãos (1966) Experiências lygia clark Sensoriais

Biografia Lygia Clark, artista visual, nasceu em 1920 em Belo Horizonte/MG. Iniciou seus estudos em artes visuais em 1947 no Rio de Janeiro e em 1950 foi para Paris dedicar-se aos estudos de pintura a óleo. Foi uma das fundadoras do Grupo Frente (1954-56) e do Grupo Neoconcreto (1959). A partir de 1960 lecionou artes plásticas no Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES). Em 1970 lecionou na Faculté d’Arts Plastiques St. Charles, na Sorbonne em Paris. Participou de simpósios sobre arte sensorial e de diversas exposições ao longo da vida. Morreu em abril 1988 com 68 anos.

Poética Lygia Clark foi uma artista completa que superou os limites da arte, conseguindo, em seus trabalhos, transformar a relação espectadorobra, fazendo com que as pessoas experimentassem e vivenciassem suas obras. A partir de 1966, Lygia tem como base para o seu trabalho a corporeidade e o ato de participação dos espectadores, criando trabalhos que buscam despertar todos os sentidos, provocar a corporal, retirando o foco de sua obra para o objeto artístico em si, trazendo a atenção para o ato do espectador. A artista dedicou parte da sua carreira à arte sensorial e as suas possibilidades terapêuticas através dos “Objetos Relacionais” que eram colocados em contato com o corpo. As obras tinham o objetivo de desenvolver nos espectadores o autoconhecimento do seu corpo.

“Se a pessoa, depois de fazer essa série de coisas que eu dou, se ela consegue viver de uma maneira mais livre, usar o corpo de uma maneira mais sensual, se expressar melhor, amar melhor, comer melhor, isso no fundo me interessa muito mais como resultado do que a própria coisa em si que eu proponho a vocês.” - Lygia Clark



criatividade interior de cada um e trazer uma nova experiência

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“Através de pequenos objetos sem valor como elásticos, Ping-Pong (1966) lygia clark

pedras, sacos plásticos, formulo objetos sensoriais cujo toque provoca sensações que identifico imediatamente com o corpo. Daí o nome ‘nostalgia do corpo’, fase analítica em que decomponho o corpo em partes, mutilando-o para reconhecê-lo através do toque com grande sensualidade.” - Lygia Clark

contextualização A partir de 1966, Lygia começa a desenvolver projetos voltados para de uma fita elástica, onde todo e qualquer movimento das mãos a arteterapia. No seu primeiro projeto “Nostalgia do Corpo” (1966)

provocam um diálogo corporal já que os dois participantes devem

a artista buscou a redescoberta dos sentidos e da consciência do

fazer movimentos em sintonia.

corpo para reabilitar o sensível por meio dos objetos sensoriais. O exercício propõe a redescoberta do sentido tátil a partir do toque das Nesses trabalhos, pode-se ver que a corporeidade é um elemento

mãos sobre o outro e da intensidade desse ato. Para que a dupla fique

fundamental e que tem como intuito reviver, redescobrir e aguçar os

em harmonia, o exercício exige atenção e observação, o que pode

sentidos corporais através da relação com os objetos por meio do seu

gerar uma série de sensações, tais como insegurança, curiosidade,

peso, tamanho, textura, temperatura, sonoridade e movimentos.

atração e outras sensações, pelo fato de impor certa intimidade

Lygia realizou diversas obras dentro desse projeto como o “Livro

entre duas pessoas. Essa experiência intercorporal, segundo Tania

Sensorial” (1966), “Pedra e ar” (1966), “Água e conchas” (1966) e “Ping-

Mônica Botelho (2007) em sua tese de doutorado, “Ato artístico e ato

pong” (1966) que trabalham principalmente com o tato.

psicoterápico como Experimentação: diálogos entre a fenomenologia

No intuito de reabilitar os sentidos táteis, escolhemos a obra “Diálogo de Merleau-Ponty, a arte de Lygia Clark e a Gestalt-Terapia”, provoca das Mãos” (1966) onde “uma fita de Moebius elástica ata os pulsos um diálogo de corpos através do tato, do ato de sentir e ser tocado, do

dos participantes que dialogam com movimentos das mãos”. Nesse desencontro, do encontro e da harmonia dos movimentos. trabalho, uma dupla de participantes prendem os pulsos através

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Experiências Sensoriais

PROPOSTA DE AULA Para Observar

VAMOS PRATICAR?

No processo de apresentação e de conhecimento acerca da obra,

Os alunos podem entrar em contato com as propriedades e as

é importante que os alunos identifiquem nas imagens das obras

técnicas expressivas por meio de um exercício prático. Essa

de artes as suas particularidades e reflitam sobre os materiais

experimentação e interação com os materiais além de aumentar o

utilizados, a sua significação, além das questões da linguagem

repertório das diversas técnicas das artes visuais, fazem com que

visual como as cores, as formas, entre outros elementos, a partir

os alunos tenham novas ideias e inspirações para uma produção

de suas próprias concepções em diálogo com as impressões

artística própria. Também é importante que eles experimentem na

dos colegas também. Sobretudo, para gerar essa discussão é

prática os procedimentos dos artistas estudados e sua intenção

importante que o professor lance questionamentos e indagações

ao realizar a obra. Abaixo, foi feito um descritivo em etapas, com

para a leitura da imagem como, por exemplo:

um exemplo de proposta prática que pode ser realizada com as adaptações e desdobramentos que o professor desejar:

• O que você vê? Quais são os objetos? • O que eles estão fazendo na obra?

1) Separar os alunos em duplas: essa divisão poderá ser feita

• Isso é um registro ou a obra em si?

de diversas maneiras, seja pela livre escolha dos alunos ou por

• Que tipo de arte é essa?

sorteio dos nomes.

O ensino de arte precisa de um processo sistemático para que o

2) Distribuir os pedaços das fitas elásticas e orientar para que os

aluno aprenda a ver e investigar a arte, além de começar a pensar

alunos prendam em seus punhos. Essa orientação pode ser vista

criticamente. Dessa maneira, o professor deve deixar, num

no vídeo sobre a proposição, que vem junto ao material didático.

primeiro momento, a discussão aberta e ir fazendo perguntas para instigar o olhar dos alunos. Com isso, conseguirá fundamentar o

3) A partir disso, os alunos podem começar a atividade fazendo

aprendizado através das respostas coletivas dos alunos.

movimentos com as mãos realizando diversas experiências

Caso o professor ache interessante mostrar como eram realizadas

através do toque. A atividade deve ser conduzida pelo professor

as vivências com os objetos relacionais, anexamos no material

de forma que ele oriente e ajude os alunos caso haja dúvida.

didático uma vídeoteca com alguns vídeos para utilizar em sala de aula.Para incentivar o estudo mais aprofundado sobre a artista, é interessante mostrar para os alunos o site www.lygiaclark.org.br que reúne todas as suas obras, biografia e vídeos.

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PROPOSTA DE AULA REFLETINDO...

RECURSOS E MATERIAIS

A partir da observação, fundamentação e prática é que os alunos

A obra “Diálogo de Mãos” (1966) utiliza como material fita elástica.

conseguem investigar e desenvolver o ato de criticar e formar

Para serem utilizadas, colamos neste material didático 40 pedaços

opiniões particulares que podem ir de encontro ou contra os valores

de fitas no tamanho real da obra (16x8 cm).

estéticos da humanidade. Entendemos que é necessário que o indivíduo desenvolva um pensamento crítico e uma alfabetização visual e cultural para compreender de maneira consciente tudo aquilo que se vê. Na arte, diferente das outras disciplinas, as questões possuem infinitas possibilidades de respostas, libertando o aluno da sensação de ter que se adequar ao que é certo, estimulando sua criatividade, ensinando a olhar os problemas por vários ângulos e a respeitar a visão dos colegas. Neste sentido, num terceiro momento, indicamos que o professor faça uma roda de conversa para que os alunos desenvolvam esse pensamento crítico após terem assimilado o contexto, a técnica e a prática da obra. Para isso, selecionamos algumas perguntas que podem iniciar um debate com os alunos: • O que você sentiu? • O que você redescobriu? • Quais as dificuldades? • Qual a relação estabelecida com a dupla? • É preciso de concentração para realizar a atividade? • Você imaginava que a obra vista por vídeos/imagens fosse diferente e trouxesse outras emoções e sensações ao ser vivenciada?

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diálogo de mãos (1968) lygia clark

Experiências Sensoriais

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RODA DOS PRAZERES (1968) LYGIA PAPE

Experiências Sensoriais

Biografia Lygia Pape nasceu em 1927, em Nova Friburgo no Rio de Janeiro, deixando uma obra fortemente marcada pela abstração geométrica, além de uma grande diversificação poética, quando morreu em 2004. Sendo uma importante representante da arte contemporânea brasileira, Lygia Pape iniciou sua trajetória artística focada em valores do abstracionismo geométrico. Na década de 1950, a artista já possuía um nome de destaque na cena artística carioca, sendo signatária do manifesto neoconcreto em 1957, que foi encabeçado pelo poeta Ferreira Gullar e artista Hélio Oiticica. Inserida no movimento neoconcreto brasileiro, a artista ganhou destaque entre os artistas brasileiros mais importantes dos anos de 1960. Assim ela ajudou, ao lado de outros artistas do movimento, a revolucionar os conceitos artísticos da época, mudando o papel do espectador, que antes permanecia passivo, colocando-o numa situação de coautor das obras produzidas.

Poética Com um trabalho de múltiplas linguagens, Lygia Pape tem ampla produção em gravuras, esculturas, colagens, pinturas e cinema, além de seu trabalho acadêmico como professora, ministrando aulas na Escola de Belas Artes na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e na Faculdade de Arquitetura Santa Úrsula. exterior, foi uma importante expoente do movimento neoconcreto brasileiro juntamente com outros artistas da época, como Ferreira Gullar, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Reynaldo Jardim e Franz Weissmann. Além disso, a artista também explorou o campo da sensorialidade humana, propondo obras que brincassem com os sentidos do expectador-coautor. As obras propunham vivências únicas e experiências enriquecedoras. Precursora da arte interativa, da intervenção em espaços diversos e grande expoente da performance e da instalação, Lygia Pape se preocupava em construir e desconstruir diferentes linguagens. Destacou-se pela coerência de seu pensamento e se manteve presente e livre enquanto abalava tabus e ideias estabelecidas.

Conversamos sobre a apreensão e construção do espaço a partir da fricção direta do sujeito com o mundo, sobre a formulação de uma espacialidade a partir de dados indiciais aprendidos pelo tato, audição, paladar, cheiro. Que profundidades, nuances, cortes e simultaneidades construiriam essa sintaxe? Exterioridades acionando interioridades, o sujeito dissolvido no mundo, marcas da poética de Lygia, vieram então à tona. - Ronaldo Auad sobre Lygia



Com participação em diversas bienais brasileiras e exposições no

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DIVISOR (1968) LYGIA PAPE

contextualização Em 1968, Lygia manteve uma atividade artística intensa quando

As obras de Lygia fazem sentido quando o público vivência essa

sugeriu as experimentações sensoriais, participando em consonância

experiência artística, interagindo com a própria obra. Por exemplo,

com o trabalho realizado por outros artistas do mesmo circuito. Em

na obra “Divisor” de 1968, Lygia convida dezenas de pessoas a

suas obras, fica claro o interesse especial de Lygia pela realização de

inserirem suas cabeças em um tecido cheio de fendas. Ao fazer

uma obra sem autor definido, podendo ser repetida sem que a artista

isso, a artista propõe uma vivência de coletividade, fazendo cada

estivesse envolvida ou presente.

integrante desconectar visualmente sua própria cabeça de seu

Dessa forma, Lygia produz a obra “Roda dos Prazeres” (1968),

corpo, reconectando a com outras dezenas de cabeças que

provocando uma tomada de consciência dos sentidos, disponibilizando

também participam da experiência da obra. Com isso, a artista

diversos recipientes com líquidos coloridos. A obra convida o público

abre mão do status de artista-gênio e estabelece uma relação

a experimentar algumas gotas de água com corante alimentício de

de troca e de mediação, assim como fazem outros artistas Hélio

diferentes sabores, tingindo a língua com as cores distintas.

Oiticica e Lygia Clark.

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Experiências Sensoriais

PROPOSTA DE AULA Para Observar

VAMOS PRATICAR?

No processo de apresentação e de conhecimento acerca da obra,

Os alunos podem entrar em contato com as propriedades e as

é importante que os alunos identifiquem nas imagens das obras

técnicas expressivas por meio de um exercício prático. Essa

de artes as suas particularidades e reflitam sobre os materiais

experimentação e interação com os materiais além de aumentar o

utilizados, a sua significação, além das questões da linguagem

repertório das diversas técnicas das artes visuais, fazem com que

visual como as cores, as formas, entre outros elementos, a partir

os alunos tenham novas ideias e inspirações para uma produção

de suas próprias concepções em diálogo com as impressões

artística própria. Também é importante que eles experimentem na

dos colegas também. Sobretudo, para gerar essa discussão é

prática os procedimentos dos artistas estudados e sua intenção

importante que o professor lance questionamentos e indagações

ao realizar a obra. Abaixo, foi feito um descrito em etapas, com

para a leitura da imagem como, por exemplo:

um exemplo de proposta prática que pode ser realizada com as adaptações e desdobramentos que o professor desejar:

• O que você vê? Quais são os objetos? Pra quê servem? • O registro da obra substitui a experiência da mesma?

1) Separar a turma em dois grupos iguais, com o mesmo número

• Qual tipo de arte é essa? Como a obra se expressa?

de alunos, cada grupo criará sua própria Roda dos Prazeres com a supervisão do professor.

O ensino de arte precisa de um processo sistemático para que o aluno aprenda a ver e investigar a arte, além de começar a pensar

2) Utilizar produtos inofensivos do dia a dia, juntamente com

criticamente. Dessa maneira, o professor deve deixar, num

os corantes alimentícios, cada grupo deve criar sua Roda dos

primeiro momento, a discussão aberta e ir fazendo perguntas para

Prazeres. A ideia é explorar diferentes sabores, como salgado,

instigar o olhar dos alunos. Com isso, conseguirá fundamentar o

doce, amargo, ácido e umami, além da falta de sabor. Cada

aprendizado através das respostas coletivas dos alunos.

recipiente representará um dos cinco sabores principais, tendo

Para incentivar o estudo mais aprofundado sobre a artista, é

um sexto recipiente representando a falta de sabor. Sobretudo,

interessante mostrar para os alunos o site www.lygiapape.org.br

deve-se dar a devida importância na forma em que as cores

que reúne todas as suas obras, biografia e vídeos.

incitam sensações subjetivas, relacionando a visão com o paladar. 3) Cada integrante de um grupo experimentará algumas gotas da Roda dos Prazeres do grupo oposto, não sabendo qual cor representa tal sabor.

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PROPOSTA DE AULA REFLETINDO...

RECURSOS E MATERIAIS

A partir da observação, fundamentação e prática é que os alunos

A obra “Roda dos Prazeres” utiliza 6 recipientes, produtos

conseguem investigar e desenvolver o ato de criticar e formar

orgânicos (ou não) variados e cores básicas de corante alimentício.

opiniões particulares que podem ir de encontro ou contra os valores

Com o auxílio dos alunos, a turma deve reunir produtos que sejam

estéticos da humanidade. Entendemos que é necessário que o

ricos em diferentes gostos e fazer uma solução do mesmo em

indivíduo desenvolva um pensamento crítico e uma alfabetização

água com corante alimentício. Os principais gostos indicados são:

visual e cultural para compreender de maneira consciente tudo

amargo, ácido, doce, salgado e umami. Diluí-los em diferentes

aquilo que se vê.

recipientes e diferentes cores. Exemplos: amargo: cafeína,

Na arte, diferente das outras disciplinas, as questões possuem

chicória e escarola. Ácido: laranja, lima e limão. Doce: açúcares e

infinitas possibilidades de respostas, libertando o aluno da

mel. Salgado: sal grosso, algas e amendoim. Umami: chá verde,

sensação de ter que se adequar ao que é certo, estimulando sua

espinafre, tomates maduros e cogumelos.

criatividade, ensinando a olhar os problemas por vários ângulos e a respeitar a visão dos colegas.

Atenção! Tomar cuidado, pois alguns alunos podem ter

Neste sentido, num terceiro momento, indicamos que o professor

intolerância a certos tipos de alimentos, como, por exemplo, o

faça uma roda de conversa para que os alunos desenvolvam esse

açúcar – diabéticos não podem ingerir esse alimento.

pensamento crítico após terem assimilado o contexto, a técnica e a prática da obra. Para isso, selecionamos algumas perguntas que podem iniciar um debate com os alunos: • O que você sentiu? Quais sabores e cores foram mais marcantes? • Quais foram as maiores dificuldades? E as maiores facilidades? • Qual a relação estabelecida entre o paladar e a visão (gostos e cores)? • Quais foram as maiores surpresas? As cores influenciavam no gosto esperado?

RODA DOS PRAZERES (1968) LYGIA PAPE

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Experiências Sensoriais

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Flower Crystal Power (2014) ERNESTO NETO Experiências Sensoriais

Biografia Ernesto Neto nasceu em 1964 no Rio de Janeiro. Sofreu influências do movimento Neoconcreto e de artistas como Lygia Clark e Hélio Oiticica, por isso convida os espectadores a participarem ativamente na obra. Trabalha com diversas técnicas como a escultura, fotografia, desenho, pintura, porém é conhecido por suas instalações gigantescas. Já participou de diversas exposições individuas e coletivas, além de inúmeras mostras nacionais e internacionais como a Feira Internacional de Arte Contemporânea de Madri, Bienal de Veneza e a Art Basel. Juntamente com Laura Lima e Marcio Botner criou a galeria “A Gentil Carioca”, localizada no centro e em Ipanema no Rio de Janeiro. Em 1990, conquistou o prêmio Brasília de Artes Plásticas do Museu de Arte Brasileira do Distrito Federal e atualmente é considerado um dos artistas brasileiros de maior prestígio no mundo.

Poética Os trabalhos de Ernesto Neto encontram-se entre a escultura e a instalação, onde são propostas experimentações dos sentidos e a superação da experiência visual. Em algumas obras, o artista convida o espectador a redescobrir os sentidos ao sentar, a tocar como areia, especiarias aromáticas, isopor, ervas, esponjas, lycra e tecidos. Com forte influência de Lygia Clark e Hélio Oiticica, Ernesto Neto cria ambientes imersivos que alteram e aumentam as nossas percepções diante do nosso entorno, desafiando a noção de escultura como objeto estático e investigando as maneiras de transformação entre as alterações no espaço com as pessoas. Interessa-se pela ciência, incluindo a matéria, a vida e o cosmo, por isso ao realizar uma obra preocupa-se com a vivência do corpo, com a escultura no tempo da experimentação sensorial. Suas obras exploram as possibilidades físicas por meio do peso, do cheiro e da elasticidade.

“Acho que meu trabalho tem realmente uma questão de textura, de toque, de sensualidade, isto é, um entorno do corpo que tem muito a ver com a Lygia e, sinceramente, acho que o que ela fez a partir da teorização da “linha orgânica” é simplesmente uma obra monumental. Acho que são poucos artistas no mundo que podem ter gerado tamanha complexidade, assim como o Hélio, de forma diferente. Os dois foram absolutamente incansáveis, indo aos limites mais extremos de sua própria obra, se reinventado, acreditando na vida, na vontade de viver e cavar, explodir, voar.” - Ernesto Neto



e ao desenvolver a percepção olfativa. Para isso utiliza materiais

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tambor (2014) ERNESTO NETO

contextualização A partir de 1990, Ernesto Neto começa a desenvolver trabalhos que são podem parar de pensar e ter um viés sobre a vida diferente, por outro propositivos e levam à experimentação sensorial, utilizando materiais

ângulo.

elásticos de redes e membranas. Petra Joos, diretora curatorial do Já a segunda obra, intitulada de Flower Crystal Power (2014), exposta Museu Guggenheim de Bilbao, em Milão, na Itália, disse em entrevista

na instalação Gratitude no Aspen Art Museum no Colorado, trabalha

à agência internacional de notícias AFP (Agence France-Passe) que

com tecido semitransparente e convida o público a experimentar a

Neto quer que suas obras sejam táteis, cheiradas e sentidas, ou seja, peça em um nível multissensorial. Na obra encontram-se formas desperte todos os sentidos. Suas obras dão a oportunidade para o

do mundo natural, como flores, sementes e raízes, utilizando ervas

espectador desacelerar, parar e redescobrir as qualidades essenciais que expelem cheiros. A instalação tem caráter orgânico e biomórfico, da experiência sensorial.

evocando simultaneamente pele e sistemas corporais internos.

Escolhemos duas obras para serem analisadas nessa aula, que têm Os tecidos, que parecem com os cristais, são suspensos e caídos, como característica a grande escala transformando a percepção do

pairando um pouco acima do alcance do espectador.

espectador com o seu entorno. A primeira obra é uma instalação Pode-se notar nas duas obras que Ernesto busca utilizar tecidos intitulada de Tambor (2010), que consiste em um piano de cauda com elasticidade, temperos e sons para aguçar os sentidos táteis, preso por uma gigantesca rede colorida repleta de instrumentos auditivos e olfativos. A interação física dos espectadores é um aspecto de percussão, dessa maneira o artista tenta criar um espaço para a fundamental para o trabalho, que pode tocar, cheirar ou apenas poesia, onde os visitantes podem escapar da correria do dia a dia e entrar no espaço da instalação.

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Experiências Sensoriais

PROPOSTA DE AULA Para Observar

VAMOS PRATICAR?

No processo de apresentação e de conhecimento acerca da obra,

Os alunos podem entrar em contato com as propriedades e as

é importante que os alunos identifiquem nas imagens das obras

técnicas expressivas por meio de um exercício prático. Essa

de artes as suas particularidades e reflitam sobre os materiais

experimentação e interação com os materiais além de aumentar o

utilizados, a sua significação, além das questões da linguagem

repertório das diversas técnicas das artes visuais, fazem com que

visual como as cores, as formas, entre outros elementos, a partir

os alunos tenham novas ideias e inspirações para uma produção

de suas próprias concepções em diálogo com as impressões

artística própria. Também é importante que eles experimentem na

dos colegas também. Sobretudo, para gerar essa discussão é

prática os procedimentos dos artistas estudados e sua intenção

importante que o professor lance questionamentos e indagações

ao realizar a obra. Abaixo, foi feito um descrito em etapas, com

para a leitura da imagem como, por exemplo:

um exemplo de proposta prática que pode ser realizada com as adaptações e desdobramentos que o professor desejar:

• O que você vê? Quais são os objetos? Pra quê servem? • O registro da obra substitui a experiência da mesma?

1) Após a observação das obras, pensando na integração do

• Qual tipo de arte é essa? Como a obra se expressa?

corpo à experiência artística dos alunos, a sugestão é fazer uma instalação na escola, procurando oferecer novos estímulos

O ensino de arte precisa de um processo sistemático para que o

sensoriais. Os alunos poderão utilizar os materiais disponíveis

aluno aprenda a ver e investigar a arte, além de começar a pensar

para fazer seu próprio feixe de sensações, poderão escolher

criticamente. Dessa maneira, o professor deve deixar, num

várias opções dentre os materiais disponibilizados pelo professor,

primeiro momento, a discussão aberta e ir fazendo perguntas para

como por exemplo: materiais reciclados, meias-calças, bexigas,

instigar o olhar dos alunos. Com isso, conseguirá fundamentar o

areia, bolinhas de gude, tambores, chocalhos, caxixi, sino de vaca,

aprendizado através das respostas coletivas dos alunos.

ganza, e também temperos e cheiros, como alecrim, erva-doce,

Para incentivar o estudo mais aprofundado sobre a artista, é

hortelã, canela, cravo e café.

interessante mostrar para os alunos mais imagens de obras na Internet e vídeos das exposições que podem ser facilmente

2) Criar uma instalação no pátio da escola, posteriormente

encontrados na nossa referência bibliográfica eletrônica e no site

estimular cada aluno para experimentar a obra do outro.

www.fortesvilaca.com.br/artistas/ernesto-neto.

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PROPOSTA DE AULA REFLETINDO...

RECURSOS E MATERIAIS

A partir da observação, fundamentação e prática é que os alunos

A instalação poderá utilizar diversos materiais como: bexigas,

conseguem investigar e desenvolver o ato de criticar e formar

garrafas PETs, linhas, barbantes, areia, bolinha de gude, tambor,

opiniões particulares que podem ir de encontro ou contra os valores

chocalho, arroz, temperos variados, meias calças, entre outros.

estéticos da humanidade. Entendemos que é necessário que o

Com o auxílio do professor, os alunos devem criar suas linhas de

indivíduo desenvolva um pensamento crítico e uma alfabetização

sensações e escolher os materiais de seu gosto.

visual e cultural para compreender de maneira consciente tudo

Com o auxílio do professor os alunos devem criar suas linhas de

aquilo que se vê.

sensações escolhendo os materiais de seu gosto.

Na arte, diferente das outras disciplinas, as questões possuem infinitas possibilidades de respostas, libertando o aluno da sensação de ter que se adequar ao que é certo, estimulando sua criatividade, ensinando a olhar os problemas por vários ângulos e a respeitar a visão dos colegas. Neste sentido, num terceiro momento, indicamos que o professor faça uma roda de conversa para que os alunos desenvolvam esse pensamento crítico após terem assimilado o contexto, a técnica e a prática da obra. Para isso, selecionamos algumas perguntas que podem iniciar um debate com os alunos: • O que você sentiu? Quais materiais você utilizou? • Quais as maiores dificuldades? E as maiores facilidades? • Qual a relação estabelecida entre o tato, o olfato e a audição (sentir, cheirar e escutar)? • Quais foram as maiores surpresas? • A instalação ficou do jeito que você esperava? Qual foi a obra que você mais gostou da experiência? • As pessoas da escola se sentiram confortáveis em participar da instalação?

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Experiências Sensoriais

EGG BED CRYSTAL SHELL (2014) ERNESTO NETO

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B55 Bolíde Área 2 (1967) HÉLIO OITICICA Experiências Sensoriais

Biografia Hélio Oiticica nasceu no Rio de Janeiro em 1937, foi um grande artista performático, pintor e escultor da cena carioca. Iniciou seus estudos de pintura com o irmão César Oiticica, estudando desenho com Ivan Serpa no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). Em 1954, escreveu seu primeiro texto sobre artes plásticas, a partir daí o registro escrito de reflexões sobre arte se tornou um hábito. Participou do Grupo Frente em 19551956 e, em 1959, passa a integrar o Grupo Neoconcreto Brasileiro. Nesse período, Hélio abandona os trabalhos bidimensionais e cria relevos espaciais, bólides, capas, estandartes, tendas e penetráveis. Em 1964, começa a fazer as chamadas Manifestações Ambientais.

Poética Hélio Oiticica traz em suas obras proposições vivenciais que desenvolvem o domínio intelectual e comportamental de cada espectador. O artista propõe a criação de ambientes que estimulem todos os sentidos humanos e que liberem o poder criador de cada indivíduo, suas obras precisam, necessariamente, da participação vivência suprasensorial. Dessa maneira, o conceito de suprasensorial desenvolvido por Hélio Oiticica propõe que o espectador consiga ampliar sua percepção e suas capacidades sensoriais, levando-o a redescobrir seu centro criativo interior que possa estar adormecido devido à rotina do dia a dia.

“A busca daquilo que Hélio Oiticica chamou de suprasensorial visava um descondicionamento de cada participante, para que este redescobrisse em si uma capacidade de criar. O suprassensorial era constituído de uma série de exercícios de criação, de experiências abertas onde o objeto não era mais do que um pretexto, e onde os cinco sentidos deveriam ser despertados.” - Elisa Tessler sobre Hélio



ativa do receptor. O estado de criatividade foi definido como uma

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B55 Bolíde Área 2 (1967) HÉLIO OITICICA

“Ao todo, de 1963 a 1980, incluindo o Para-bólide e os Contra-bólides, ocorrem aproximadamente setenta inscrições denominadas Bólides. Até 1965 são realizados em torno de trinta peças entre Bólides-caixa e Bólidesvidro e, de 1966 em diante, acrescido da experiência das Manifestações Ambientais e da conceituação dos termos “apropriação” e “antiarte”, o Bólide passa a se desdobrar em diversas outras espécies, como Bólidebacia, Bólide-pedra, Bólide-lata, Bólide-saco e Bólide-cama.” - Ângela Loeb sobre Hélio -

contextualização Na série Bólides, Hélio Oiticica coloca o participador em contato com

atitude ética formada pela participação, coletividade e mudanças,

diferentes recipientes (a princípio potes e caixas) de plástico, vidro e

definindo essas experiências como uma forma de dissolver as

madeira, todos vem recheados de materiais como pigmento, terra e fronteiras entre a arte e o corpo, entre o artista e o espectador, entre zarcão. Nas obras de série Bólides, Hélio explora a relação espectador- a obra e o espectador. objeto de forma desvinculada a uma ação útil, estabelecendo uma

Entretanto, graças às dificuldades colocadas nas diversas bólides

relação puramente intuitiva com o público.

criadas pelo artista, o mesmo desloca o prazer da experiência de suas

Destacamos três grandes obras da série Bólides: o “B31 BÓLIDE

obras do campo da sensibilidade tátil e o direciona no vencimento

VIDRO”, “B52 BÓLIDE Saco” (1966) e “B55 BÓLIDE área” (1967), que

da adversidade colocada por eles para o sujeito. Ao dificultar a

utilizam materiais como pedra, palha e saco plástico, na qual o

participação do espectador, Oiticica tenta aproximar a esfera da arte

espectador pode atuar com liberdade utilizando o seu próprio corpo,

com a experiência da vida cotidiana. Ele induz o espectador à mesma

envolvendo-se ou apenas pisando nos materiais dispostos. Para Hélio condição imposta pela vivência social, organizando estruturalmente essa integração seria capaz de conduzir o espectador a uma nova sua ideia de que se vive da adversidade. 28

Experiências Sensoriais

PROPOSTA DE AULA Para Observar

VAMOS PRATICAR?

No processo de apresentação e de conhecimento acerca da obra,

Os alunos podem entrar em contato com as propriedades e as

é importante que os alunos identifiquem nas imagens das obras

técnicas expressivas por meio de um exercício prático. Essa

de artes as suas particularidades e reflitam sobre os materiais

experimentação e interação com os materiais além de aumentar o

utilizados, a sua significação, além das questões da linguagem visual

repertório das diversas técnicas das artes visuais, fazem com que

como as cores, as formas, entre outros elementos, a partir de suas

os alunos tenham novas ideias e inspirações para uma produção

próprias concepções em diálogo com as impressões dos colegas

artística própria. Também é importante que eles experimentem na

também. Sobretudo, para gerar essa discussão é importante que

prática os procedimentos dos artistas estudados e sua intenção

o professor lance questionamentos e indagações para a leitura da

ao realizar a obra. Abaixo, foi feito um descrito em etapas, com

imagem como, por exemplo:

um exemplo de proposta prática que pode ser realizada com as adaptações e desdobramentos que o professor desejar:

• O que você vê? Quais são os objetos presentes? • Como podemos interagir utilizando o objeto disponível?

1) Propor aos alunos uma aula de experimentações táteis, peça a

• Alguma vez em sua vida já viu algo igual ou parecido?

eles para trazerem diferentes materiais e recipientes para a aula (vide tópico 6.5 Recursos e Materiais).

O ensino de arte precisa de um processo sistemático para que o aluno aprenda a ver e investigar a arte, além de começar a pensar

2) Criar diferentes caixas sensoriais junto com os alunos. Separar

criticamente. Dessa maneira, o professor deve deixar, num primeiro

os alunos em duplas e propor que eles coloquem as mãos dentro

momento, a discussão aberta e ir fazendo perguntas para instigar o

da caixa com os olhos fechados. Enquanto os alunos estiverem

olhar dos alunos. Com isso, conseguirá fundamentar o aprendizado

em contato com o material, o professor deve solicitar que prestem

através das respostas coletivas dos alunos.

atenção nas diferentes texturas e sensações, sem se esquecerem

Para incentivar o estudo mais aprofundado sobre o artista, é

do seu próprio corpo, controlando a respiração e percebendo os

interessante mostrar para os alunos o site www.heliooiticica.org.br

estímulos do momento.

que reúne todas as suas obras, biografia e vídeos. 3) Após isso, solicitar que um dos alunos tire as mãos da caixa para que cada um tenha a mesma experiência tanto em dupla quanto individualmente.

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PROPOSTA DE AULA REFLETINDO...

RECURSOS E MATERIAIS

A partir da observação, fundamentação e prática é que os alunos

A proposta é que os alunos tragam caixas de sapatos (tamanho

conseguem investigar e desenvolver o ato de criticar e formar

padrão) para que consigam colocar as mãos no interior da caixa

opiniões particulares que podem ir de encontro ou contra os valores

de forma confortável e papel picado e/ou pedaços de tecidos

estéticos da humanidade. Entendemos que é necessário que o

cortados em tiras de tamanhos variados, que serão colocados no

indivíduo desenvolva um pensamento crítico e uma alfabetização

interior da caixa de sapato para a realização do experimento.

visual e cultural para compreender de maneira consciente tudo aquilo que se vê. Na arte, diferente das outras disciplinas, as questões possuem infinitas possibilidades de respostas, libertando o aluno da sensação de ter que se adequar ao que é certo, estimulando sua criatividade, ensinando a olhar os problemas por vários ângulos e a respeitar a visão dos colegas. Neste sentido, num terceiro momento, indicamos que o professor faça uma roda de conversa para que os alunos desenvolvam esse pensamento crítico após terem assimilado o contexto, a técnica e a prática da obra. Para isso, selecionamos algumas perguntas que podem iniciar um debate com os alunos: • O que você sentiu? É bom? Ruim? • Qual a sensação de colocar as mãos dentro da caixa? • Logo após colocar as mãos na caixa, qual foi a sua primeira sensação? • Qual relação estabelecida entre a dupla durante a realização do experimento? • O colega ao lado influenciou as sensações que você sentiu? • O que você sentiu enquanto o colega também estava com as mãos na caixa? E após ele sair?

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Experiências Sensoriais

Métodos de avaliação Todas as aulas propostas neste material tiveram o momento de

• Elaboração de registros pessoais para sistematização e

contextualização, prática e reflexão sobre o exercício realizado.

assimilação das experiências através de um caderno de anotações;

Isso é importante para que os alunos desenvolvam a habilidade de

• Participação no debate feito em sala sobre o exercício;

observar, analisar e saber se expressar diante dos exercícios. Sendo

• Autoavaliação, escrita ou oral, para que o aluno relate o que

assim, o professor deve avaliar a participação do aluno no exercício,

aprendeu e as suas atitudes em sala de aula;

a assimilação do conteúdo por meio do reconhecimento das técnicas

• Participação do exercício proposto.

e procedimentos utilizados pelos artistas, a capacidade de identificar

Dessa forma, o professor consegue analisar se o aluno teve interesse,

e conceituar termos das artes visuais e as informações históricas e

respeito e autonomia para apreciar a produção dos artistas estudados

sociais.

e participar das atividades propostas, desenvolvendo a capacidade

Deixamos em aberto opções para documentar a avaliação do aluno.

de expressar suas ideias, sentimentos e percepções. É importante

Todavia, separamos alguns exemplos e estratégias que podem ser

também avaliar se houve valorização e identificação das diferentes

utilizadas para a avaliação, sejam juntas ou não:

formas de manifestações artísticas, além da sensibilidade crítica.

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Experiências Sensoriais

Glossário A

E

O

Abstração: tudo que não é concreto, que Estética: ciência que trata do belo em geral

Objetos Relacionais: nome designado pela

só existe na ideia ou no conceito; operação e do sentimento que ele desperta em nós; artista Lygia Clark para se referir aos seus intelectual.

beleza.

objetos sensoriais.

Arte contemporânea: é a arte dos dias atuais desenvolvida em torno de um conteúdo, há F

P

profusão de estilos, formas e práticas. Utiliza Fundamentar: dar fundamento a, estabelecer, Percepções: ação ou efeito de perceber, diversos materiais sendo ou não do campo provar, documentar.

capacidade de assimilar através dos sentidos

das artes visuais, as obras não tem regras Fita de Moebius: uma fita elástica de apenas

(cheirar, olhar, sentir, ouvir) ou da inteligência

lineares e a arte é para ser sentida e não um lado e de superfície não orientável.

(deduzir, conceber, constatar).

entendida.

Performático: no contexto das artes, o termo

Arteterapia: é um processo terapêutico G

performance

através da arte, é a criação de obras que Ganza: chocalho feito de um cilindro de metal

de dança, canto, teatro, mágica, mímica,

designa

as

apresentações

expressam níveis profundos da consciência e

que contém pedras ou sementes.

da alma do paciente.

Gestual: relativo aos gestos, que se faz com seu executante como performer.

malabarismo, happenings, referindo-se ao

gestos, que se executa espontaneamente C Caxixi:

S

sem outro objeto preciso. instrumento

de

percussão

que

Simpósios:

conferência,

congresso,

consiste numa pequena cesta de vime

I

seminário.

fechada contendo sementes secas.

Imagético: que se exprime por meio de

Sistemático: que segue um sistema, que é

Coautor: aquele que com outrem produz imagens. Imersivo: que faz imergir. qualquer coisa.

Interiorização: ato ou efeito de interiorizar.

Cognição: função da inteligência ao adquirir

Suprasensorial: junção das palavras supra e sensorial que remetem, respectivamente,

um conhecimento.

M

Conceituar: formar conceito acerca de; julgar.

Movimento

Concepção: conceber, compreender.

artístico onde há a interação e a liberdade de

Consonância: reunião de sons que formam

experimentações das criações artísticas pelo

a super e sobre, a sentidos e sensações. Neoconcreto:

movimento

harmonia agradável, uniformidade de sons o público. Obras que estimulam os sentidos. na terminação das palavras; rima.

metódico ou ordenado.

Percepção total da obra. U Umami: gosto saboroso.

Multissensorial: que envolve ou implica dois ou

Corporeidade: característica, particularidade mais estímulos sensoriais simultaneamente.

Z

do que é corpóreo (material); corporalidade.

Zarcão: cor de laranja avermelhada.

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referências ALVIM, Mônica Botelho. Ato artístico e ato psicoterápico como Experimentação: diálogos entre a fenomenologia de MerleauPonty, a arte de Lygia Clark e a Gestalt-Terapia. 2007. 374 f. Tese (Doutorado em Psicologia) – Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. Disponível em: . Acesso em: 20 de março de 2015.

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Experiências Sensoriais

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busca

do

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de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro, 1967. Disponível em . Acesso em: 20 de março de 2015.

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experiências sensoriais O material didático visa, por meio das obras dos artistas brasileiros Lygia Clark, Lygia Pape, Ernesto Neto e Hélio Oiticica, criar situações de aprendizagem que possibilitem aos alunos analisar uma obra de arte, percebendo a importância que o momento histórico tem sobre a produção artística.