Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014 Aracaju, Brasil, 18-21 novembro 2014
RECONHECENDO A REGIÃO METROPOLITANA DO VALE DO RIO CUIABÁ COM AUXILIO DOS SOFTWARES LIVRES TERRAVIEW E QGIS Vanderley Severino dos Santos¹, Thiago Statella², Roberto Nunes Vianconi Souto³, Rosana Maria da Silva4 ¹Geógrafo, Professor, IFMT, Cuiabá-MT,
[email protected] ²Eng. Cartógrafo, Professor, IFMT, Cuiabá-MT,
[email protected] ³Geógrafo, Professor, IFMT, Cuiabá-MT,
[email protected] 4 Licenciada em Letras, Professora, IFMT, Cuiabá-MT,
[email protected]
RESUMO: Este trabalho apresenta o relato de uma atividade didática das disciplinas denominadas Sistemas de Informações Geográficas, Cartografia Digital, Interpretação de Imagens e Relatórios Técnicos, ministradas para os alunos do curso técnico em Agrimensura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus Cuiabá. Objetivou-se iniciar a construção de um banco de dados geográfico com informações ambientais da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (RMVRC), situada no centro sul do Estado de Mato Grosso, formada pela Capital Cuiabá e pelos municípios de Várzea Grande, Santo Antonio do Leverger e Nossa Senhora do Livramento. A metodologia utilizada consistiu em pesquisar dados do local disponibilizados para downloads em sites oficiais e representá-los com o software TERRAVIEW E QGIS. O trabalho foi executado por alunos a partir da produção de diferentes cartas temáticas com os principais atributos do meio físico do local: solo, relevo, vegetação e geomorfologia. Os resultados deste trabalho contribuíram com o desenvolvimento do aprendizado dos alunos e os produtos cartográficos gerados auxiliarão na caracterização e reconhecimento do local. As caracterizações obtidas com as cartas podem também contribuir para o avanço das reflexões referentes aos problemas ambientais que afetam a região. PALAVRAS-CHAVE: geotecnologias, ensino, agrimensura INTRODUÇÃO: As tecnologias estão cada vez mais presentes na educação, gerando novas formas de aprendizado (Carvalho et. al. 1999), provocando novas relações no ensino e democratizando o acesso ao conhecimento. Seguindo esta tendência, as geotecnologias vêm sendo incluídas nas ementas dos cursos da área de Geomática do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso (IFMT). Nestes cursos foram introduzidas aulas com uso de estação total, VANTs, GPS, teodolito eletrônico e aulas práticas com o uso dos softwares SPRING, QGIS e o TerraView. O TerraView, por exemplo, é um software livre utilizado como visualizador de dados geográficos. Foi desenvolvido no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), posteriormente, incorporou funções para o processamento digital de imagens e a edição de arquivos vetoriais. O QGIS também é um software livre de geoprocessamento que suporta dados vetoriais, raster e base de dados. A Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (RMVRC) é formada pela Capital Cuiabá e pelos municípios de Várzea Grande, Santo Antonio do Leverger e Nossa Senhora do Livramento. Foi instituída pela Lei Complementar Estadual do Mato Grosso nº 359, publicada em 28 de maio de 2009. Sendo assim, considerando a necessidade de apresentar e orientar os alunos para o uso de um sistema que permita manipular informações georreferenciadas, bem como de caracterizar a RMVRC, este trabalho objetiva apresentar os resultados de uma atividade didático-pedagógica, desenvolvida para capacitar e instrumentalizar os alunos do Curso de Agrimensura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso - Campus Cuiabá, a utilizarem os softwares QGIS e TerraView, a pesquisarem dados espaciais disponibilizados na WEB e a interpretar os mapas confeccionados em suas atividades. MATERIAL E MÉTODOS: Para o desenvolvimento do trabalho os alunos receberam orientações para realizarem pesquisas de dados espaciais da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, principalmente nos sites do IBGE, MMA/IBAMA e INDE. Também foram orientados de como obterem e a utilizarem os softwares TerraView e QGIS para visualizar, manipular, calcular área, calcular perímetro e produzir os mapas apresentados neste trabalho, posteriormente, realizaram a interpretação desses mapas e cartas.
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As imagens da área foram pesquisadas e solicitadas pelo catálogo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), posteriormente, foram compostas e utilizadas na confecção da carta imagem. Os mapas com os temas pedologia, zoneamento, geomorfologia, vegetação e geologia foram produzidos com arquivos no formato shapefile baixados do site do Ministério do Meio Ambiente. A área de estudo é a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, está localizada no Estado de Mato Grosso entre as coordenadas 15º 04’S, 17º 22’S, 54º50’W e 57º 13’W. Segundo o IBGE a população total da região em 2013 era estimada em 863.621 habitantes. A RMVRC se estende por áreas do bioma Pantanal e do Cerrado. Segundo a classificação de Köeppen, o tipo climático é o Aw - clima tropical, com inverno seco. Apresenta estação chuvosa no verão, de novembro a abril, e estação seca no inverno, de maio a outubro (julho o mês mais seco). A precipitação média na região está entre 1.300 a 1.500 mm anuais e a temperatura média anual em torno de 22º C. RESULTADOS E DISCUSSÕES: Os alunos utilizaram o TerraView e compreenderam que este software é um visualizador de dados geográficos e para operá-lo é necessário criar e/ou conectar a um Sistema Gerenciador de Banco de Dados. Também utilizaram o QGIS e compreenderam que no segmento de softwares livres para geoprocessamento o QGIS é um SIG Desktop que apresenta versões para Linux, Unix, Apple e Windows. Viram que o QGIS possui uma integração com o GRASS por meio de uma barra de ferramentas semelhante ao Arctoolbox que contém mais de 400 módulos que inclui ferramentas de geoprocessamento, análise vetorial, análise raster, análise de redes, análise espacial, tratamento de imagens, banco de dados, visualização 3D, etc. Utilizando os softwares e de posse dos arquivos com as informações da área, os alunos importaram e manipularam os arquivos, produziram mapas temáticos e extraíram informações espaciais da RMVRC. Entre essas informações, por meio de operações com os arquivos originais extraíram o perímetro da região metropolitana e calcularam que a sua área é de 22.534,88 km², divergindo dos 21.545,07 km² encontrados no site http://www.ibge.gov. br/cidadesat. A carta imagem foi elaborada com imagens do Landsat 5 (bandas 3, 5 e 2) (Figura 1). Nesta atividade os alunos adquiriram informações para cadastrar, obter gratuitamente e, baixar as imagens no site do INPE. Também receberam instruções para importar, compor, manipular histograma, georreferenciar e mosaicar as imagens de sensoriamento remoto. Segundo Sausen (2002) a carta imagem contém informações dos aspectos naturais e artificiais e permite avaliar distâncias, direções e a localização geográfica dos objetos.
Figura 1 - Carta Imagem de Cuiabá e Várzea Grande (elaborada pela aluna Gabriela Rondon). Durante a elaboração e interpretação do mapa de solos (Figura 2), foram identificados que na Região os da classe Plintossolos ocorrem em maior quantidade. Eles ocupam 28,33% da área e, segundo Coutinho (2005), esses solos são encontrados em superfícies planas, suavemente onduladas ou em várzeas. Os Latossolos Vermelhos Amarelos, por sua vez, ocupam 10,20% da área, têm textura média e possuem limitações de ordem química para o uso agrícola, entretanto, com adubação e calagem, tornam-se produtivos. Os Cambissolos ocupam 9,83% da área e os Podzólicos Vermelhos Amarelos
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ocupam 8,69%. Segundo Coutinho (2005), os Podzólicos Vermelhos Amarelos constituem-se em uma das classes de solos mais importantes do Estado do Mato Grosso, porém, são susceptíveis à erosão, principalmente quando há maior diferença de textura do horizonte A para o B, presença de cascalhos e relevo com fortes declividades, por isso, são mais indicados para uso com pastagem.
Figura 2 - Mapa de solos da Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá (elaborada pelo aluno Pedro Lopes dos Santos). As demais classes de solos apresentadas no mapa são: Solos Concrecionários Podzólicos com 8,30%; Solos Concrecionários Latossólicos com 7,64%, Solos Litólicos com 7,15%; Solos Concrecionários Cambicos com 6,22%; Areias Quartzosas com 3,99%; Latossolo Vermelho-Escuro com 3,01%; Solos Aluviais com 2,38%; Planossolo com 1,91%; Areias Quartzosas Hidromórficas com 1,21%; Glei Pouco Húmico com 1,12%; Solos Orgânicos com apenas 0,02% da área. O terceiro mapa apresentado neste estudo é o mapa do Zoneamento, este permite conhecer algumas das limitações e potencialidades da área estudada (Figura 3). Nele também, verifica-se a ocorrência de áreas com estrutura produtiva consolidada ou a consolidar-se que se caracterizam por apresentar as maiores atividades produtivas. É com base neste tipo de zoneamento que se recomendam vários tipos de intervenções para a manutenção da produção e proteção ambiental. Segundo Becker e Egler, (1996), o zoneamento é um dos instrumentos usados na racionalização da ocupação dos espaços e de redirecionamento de atividades.
Figura 3 – Mapa do zoneamento da RMVRC (elaborada pela aluna Lucas C. do Amaral). No arquivo que deu origem ao mapa da Figura 3, foi quantificado um total de 7.345 km² de áreas que possuem estrutura consolidada ou a consolidar. Neste mapa, observa-se que a área dos locais que requerem manejos específicos é de aproximadamente 10.416 km². Essas áreas precisam de cuidados especiais para garantir sua manutenção e para sua exploração da maneira mais racional possível, para
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que não venham sofrer impacto e deixem de apresentar suas características naturais. A Figura 3 contém informações sobre áreas protegidas que geralmente são reservas naturais protegidas por lei. Na tabela do banco de dados do zoneamento da RMVRC, estão cadastradas importantes unidades de conservação que podem ser visualizadas a qualquer momento com o TerraView ou no QGIS. Somando todas as áreas totalizam-se 2.242 km² de áreas protegidas. Há também terras ocupadas por remanescentes de Quilombos, como exemplo, o Quilombo Mata Cavalo que se encontra localizado no Município de Nossa Senhora de Livramento, sua área total é de 147 km². Portanto, visualiza-se que a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá possui áreas protegidas que necessitam de cuidados especiais para que continuem mantendo suas características naturais. Entre as formações vegetais da região os alunos observaram o predomínio da Savana (cerrado), também observaram outros tipos de vegetação, tais como, Floresta Estacional Decidual, Floresta Estacional Semidecidual e Formações Pioneiras (Figura 4).
Figura 4 - Mapa com as classes de vegetação da RMVRC (Elaborado pelos alunos Eduardo Luiz Delgado e Matheus Henrique de Lima).
Em relação à geomorfologia nos estudos realizados pelos alunos verificaram que as formas de relevo predominantes na área são constituídas a partir de processos de acumulação resultantes do depósito de sedimentos (Figura 5) e abrangem aproximadamente 7.645 Km² da RMVRC. Relevos tabulares abrangem aproximadamente 7.256 Km². As Formas Erosivas, conforme os dados do mapa (Figura 5) abrangem aproximadamente 2.721 Km² e ocorrem em maior parte em Santo Antônio de Leverger. As formas de relevo entalhadas pelos agentes erosivos abrangem 1.704 Km².
Figura 5 - Mapa geomorfologico da RMVRC (Elaborado pelas alunas Eliane S. Arruda e Priscila Campos). Ao analisarem o mapa geológico os alunos relataram que na área predominam as rochas do Grupo Cuiabá e a Formação Pantanal. O Grupo Cuiabá abrange os municípios de Várzea Grande, Nossa Senhora do Livramento e Cuiabá e pequenas manchas que se distribuem ao longo do município de
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Santo Antônio do Leverger. A Formação Pantanal ocorre no leste do município de Nossa Senhora do Livramento, em uma pequena mancha no sul de Cuiabá, entretanto, predomina no município de Santo Antônio do Leverger (Figura 6). Outras feições geológicas encontradas foram: Coberturas Detrito - Lateriticas Neogênicas; Coberturas Detríticas e Lateriticas Pleistocenicas; Formação Raizama; Formação Sepotuba; Formação Araras; Formação Botucatu; Vulcânicas de Mimoso; Aluviões Fluviais; Formação Palermo; Suíte Intrusivas São Vicente; Intrusivas Ponta do Morro e formação Coimbra (Figura 6).
Figura 6 - Mapa Geológico da RMVRC (Elaborado pelo aluno Tiago Henrique). CONCLUSÕES: A realização desta atividade proporcionou a aprendizagem dos conteúdos das disciplinas, uma vez que, os alunos adquiriram informações sobre a RMVRC e aprenderam a utilizar os softwares TerraView e QGIS. Percebeu-se que ocorreram diferenças no envolvimento dos alunos para a execução das atividades propostas e os mapas apresentaram imperfeições que precisam ser sanadas com mais práticas. Detectou-se que há carência de orientações para a pesquisa e a necessidade de que mais disciplinas possam dar ênfase a propostas deste tipo, pois elas poderiam instrumentalizar os alunos a utilizar adequadamente a tecnologia cada vez mais disponível às pessoas de diferentes áreas profissionais. REFERÊNCIAS: BECKER, B. K.; EGLER, C. A. G. Detalhamento da Metodologia para Execução do Zoneamento Ecológico-Econômico pelos Estados da Amazônia Legal. Brasília. SAE- Secretaria de Assuntos Estratégicos/ MMA-Ministério do Meio Ambiente. 1996. Disponível em: ; acesso em 25/03/2007. CARVALHO, F. C. A. de, B. TRINDADE e J. E. E. CASTRO, “Ensino à distância na graduação em engenharia de produção da UFSC utilizando a internet como ferramenta”, in: Anais em CDROM do XXVII COBENGE, 1999. COUTINHO, A.C. Dinâmica das Queimadas no Estado do Mato Grosso e Suas Relações com as Atividades Antrópicas e a Economia Local. Tese de Doutorado do Departamento de Ciências Ambientais, USP, 2005. SAUSEN, T. M. Projeto educa SeRe - Elaboração de carta imagem para o ensino de sensoriamento remoto: utilização de cartas imagens - CBERS como recurso didático em sala de aula. In: RUDORFF, Bernardo Friedrich Theodor; MORAES, Elisabete Caria; PONZONI, Flávio Jorge; CAMARGO JÚNIOR, Hélio; CONFORTE, Jorge Conrado; MOREIRA, José Carlos; EPIPHANIO, José Carlos Neves; MOREIRA, Maurício Alves; KAMPEL, Milton; ALBUQUERQUE, Paulo Cesar Gurgel de; MARTINI, Paulo Roberto; FERREIRA, Sérgio Henrique; TAVARES JÚNIOR, Stélio Soares; SANTOS, Vânia Maria Nunes dos (Ed.). Curso de uso de sensoriamento remoto no estudo do meio ambiente. São José dos Campos: INPE, 2002. p. 19. Capítulo 13. (INPE-8984-PUD/62). Available from: . Access in: 2011, July 13.
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