PLANO DE MANEJO RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJÓS ... - ICMBio

PLANO DE MANEJO RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJÓS-ARAPIUNS Volume 3 - ANEXOS – Brasília - DF, 02 de setembro de 2014 i MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTI...
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PLANO DE MANEJO RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJÓS-ARAPIUNS Volume 3 - ANEXOS –

Brasília - DF, 02 de setembro de 2014 i

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DIRETORIA DE CRIAÇÃO E MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

Presidente da República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Ministra de Estado de Meio Ambiente - MMA Izabella Teixeira Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO Roberto Ricardo Vizentin Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação DIMAN/ICMBio Sérgio Brant Rocha Coordenação Geral de Criação, Planejamento e Avaliação de Unidades de Conservação – CGCAP/DIMAN/ICMBio Lilian Letícia Mitiko Hangae Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo – COMAN/CGCAP/DIMAN/ICMBio Alexandre Lantelme Kirovsky Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em Unidades de Conservação – DISAT / ICMBIO – Acordo de Gestão João Arnaldo Novaes Júnior Coordenação Geral de Populações Tradicionais – CGPT/DISAT/ICMBio Acordo de Gestão Leonardo Tortoriello Messias Coordenação de Produção e Uso Sustentável – COPROD/DISAT/ICMBio Acordo de Gestão Cecil Roberto de Maya Brotherhood de Barros Chefe da RESEX Tapajós-Arapiuns Mauricio Mazzotti Santamaria Tapajoara – Organização das Associações da Reserva Extrativista Todas as Comunidades da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns ii

Equipe Técnica da Elaboração do Plano de Manejo: Msc Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Mauricio Mazzotti Santamaria – Analista Ambiental RESEX Tapajós-Arapiuns Alexandre Kirovsky – COMAN/CGCAP/DIMAN/ICMBio Elildo A.R. Carvalho Jr – Analista Ambiental ICMBio Wolfgang Meier – Economista – IARA Nilson da Silva Vieira – Engº. Agrônomo Nilvanda Alves de Lima – Advogada Rosária Sena Cardoso Farias – Advogada – Chefe da Reserva Extrativista do Renascer Carlos Eduardo Guidorizzi de Carvalho – Analista Ambiental ICMBio Gustavo Pinheiro Rego – Analista Ambiental PARNA Juruena Jackeline Nóbrega Spínola – Analista Ambiental RESEX Tapajós-Arapiuns Colaboradores: Rosinaldo Santos dos Anjos – TAPAJOARA Leônidas Bentes Farias – TAPAJOARA Alexandre Goudinho Imbiriba – TAPAJOARA Edivaldo Cícero Gama Lima – TAPAJOARA Célio Aldo – TAPAJOARA Cleida Silva – TAPAJOARA Lêda Luz – GOPA/GIZ Valéria Bentes – GDA Luzia Fati – ISAM/PMS Cleiton Adriano Signor -- ICMBio Instituições participantes do Grupo de Trabalho – GT Plano de Manejo Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns – TAPAJOARA Grupo de Defesa da Amazônia – GDA Universidade Federal do Pará – UFPA Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém - SSTR Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aveiro – STTR-Aveiro Prefeitura Municipal de Santarém – ISAM/PMS Prefeitura Municipal de Aveiro – PMA Associação Intercomunitária da Região do Tapajós – MAÍRA Associação dos Produtores Rurais da Margem Esquerda do Tapajós – APRUSPEBRAS Associação comunitária do Nuquini – ASCON Associação YANE-CAETÉ Associação Intercomunitária dos Rios Arapiuns, Maró e Aruã – AIRAMA Associação Comunitária de Vila Franca – ACOVIFRAN Associação dos Comunitários de São José I – ACOSJORA Associação dos Pequenos Agricultores Rurais do Mentai no Arapiuns – APEPROMA Conselho Nacional dos Seringueiros- CNS

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Consolidação e Formatação do Texto Final: Msc. Cesar Haag - Consultor GOPA/GIZ Mauricio Mazzotti Santamaria – Analista Ambiental da RESEX TapajósArapiuns Alexandre Lantelme Kirovsky – COMAN/CGCAP/ICMBio Revisão Desiree Silva – COMAN/CGCAP/ICMBio

Maria Goretti M. Pinto - COMAN/CGCAP/ICMBio

Diagnóstico Meio Socioeconômico Jarine Rodrigues Reis – Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns Caroline Yoshida – Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns.

Dinael Cardoso dos Anjos – TAPAJOARA Alexandre Imbiriba Goudinho – TAPAJOARA Leonidas Bentes Farias - TAPAJOARA

Consolidação do texto final do Diagnóstico Socioeconômico Msc. Marcelo Rodrigues – Consultor Msc. Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Diagnóstico Meio Físico Luis Cláudio Barbosa – CI-Brasil Msc Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Rogério Rodrigues - COMAN/CGCAP/ICMBio Diagnóstico Meio Biológico Inventário da Ictiofauna Luciano Fogaça de Assis Montag- UFPA Bruno da Silveira Prudente- UFPA Cristiane de Paula Ferreira- UFPA Guilherme Moreira Dutra- - MPEG Naraiana Loureiro Benone- UFPA Thiago Augusto - UFPA Pedroso Barbosa- UFPA Tiago Octavio Begot Ruffeil – UFPA Inventário da Avifauna Alexandre Aleixo - MPEG Sidnei Dantas- UFPA Rodrigo Teixeira- MPEG

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Inventário da Mastofauna André Luís Raveta – MPEG Inventário da Herpetofauna Teresa Cristina Sauer de Avila Pires - MPEG Marinus Steven Hoogmoed- MPEG Annelise Batista D´Angiolella- MPEG Ariane Auxiliadora Araújo Silva- MPEG Jerriane Oliveira Gomes- MPEG Marcélia Basto da Silva- MPEG Marcelo José Sturaro- MPEG Victor Tasso Gomes Ferreira- MPEG Inventário de Plantas Ana Luisa Albernaz - MPEG Jerriane Oliveira Gomes- MPEG Angelo Dourado- MPEG Carlos da Silva Rosario - Parabotânico responsável pela identificação das plantas nas comunidades de Nova Canaã e Alto Mentai Carlos Alberto Santos da Silva - Parabotânico responsável pela identificação das plantas nas comunidades de Quem Dizia e Capixauã Consolidação do texto final dos Inventário de Biodiversidade Noella Markstein - consultora Mapas: Luis Cláudio Barbosa – CI-Brasil Rogério Rodrigues – COMAN/CGCAP/ICMBio

v

PLANO DE MANEJO RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS VOLUME 3 – ANEXOS SUMÁRIO Anexo 1: Documento Técnico Orientador da COMAN para elaboração de Planos de Manejo.

Pág. 01

Anexo 2: PARECER nº 066/2009/CPMA/CGREX.

Pág. 05

Anexo 3: Compêndio de Relatórios das Expedições de Pesquisas de Biodiversidade da RESEX Tapajós-Arapiuns.

Pág. 20

Relatório 1: Ictiofauna na RESEX Tapajós Arapiuns

Pág.14

Relatório 2: Avifauna na RESEX Tapajós Arapiuns

Pág.44

Relatório 3: Mamíferos de médio e grande porte na RESEX Tapajós Arapiuns

Pág. 73

Relatório 4: Herpetofauna na RESEX Tapajós Arapiuns

Pág. 86

Relatório 5: Mamíferos voadores (morcegos) na RESEX Tapajós Arapiuns

Pág.104

Relatório 6: Plantas na RESEX Tapajós Arapiuns

Pág. 121

Anexo 4: Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns.

Pág. 140

Anexo 5: Decreto de Criação da RESEX Tapajós-Arapiuns.

Pág. 210

Anexo 6: Relatório “Caçando Onças na RESEX Tapajós-Arapiuns”.

Pág. 213

Anexo 7: Relatório do Programa de Capacitação de Conselheiros da RESEX Tapajós-Arapiuns – Momento Legal.

Pág. 232

Anexo 8: Portaria de Renovação do Conselho Deliberativo da RESEX Tapajós-Arapiuns

Pág. 271

Anexo 9: Informe de Gestão da RESEX Tapajós-Arapiuns 2013

Pág. 275

Anexo 10. Instrução Normativa ICMBio 029/2012.

Pág. 283

vi

Anexo 11: Parecer 015/2013 COPT/DISAT/ICMBIO.

Pág. 290

Anexo 12: Resolução 01/2013 do Conselho Deliberativo da RESEX Tapajós-Arapiuns

Pág. 298

Anexo 13: Tabela de Petrechos de pesca de utilização permitida pelo Acordo de Gestão.

Pág. 300

Anexo 14: Estrutura Organizacional do ICMBio 2011

Pág. 302

Anexo 15: Memorial Descritivo do Zoneamento da RESEX TapajósArapiuns

Pág. 304

Anexo 16: Acordo de Gestão da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns

Pág. 326

Anexo 17: Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU) da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns Pág. 333

vii

- ANEXO 1 Documento Técnico Orientador de Diretrizes da COMAN para elaboração de Planos de Manejo

1

Diretrizes para elaboração de planos de manejo de unidades de conservação federais A partir da experiência dos servidores da COMAN/DIMAN em elaboração de planos de manejo de UCs e com objetivo de estabelecer diretrizes gerais comuns a todas as categorias de UCs, numa perspectiva de simplificação, eficiência e agilização dos processos, orientações foram levantadas, discutidas e estruturadas. Após avaliação e chancelamento superior, as orientações deverão se transformar em diretrizes institucionais do ICMBio para elaboração de planos de manejo. Entende-se que, independentemente da categoria da UC, todos os planos de manejo devem seguir três etapas básicas comuns: i. organização do planejamento, ii. diagnóstico e iii. planejamento. Assim, foram elaboradas orientações de caráter geral, que perpassam todo o processo de elaboração do plano, bem como orientações específicas, pertinentes a cada uma das três etapas.

Diretrizes Gerais: 1- Alinhar o Plano de Manejo (PM) ao planejamento estratégico do ICMBio; 2- Articular a elaboração do PM com os macroprocessos institucionais; 3- Agrupar a elaboração de PMs de UCs limítrofes, visando reduzir o passivo de PMs, sempre que possível; 4- Buscar servidores dentro da instituição, nas UCs, CRs e Centros, para atuarem como “pontos focais” do plano de manejo, com vistas a disseminar o conhecimento e a prática de elaboração de PMs e dar mais celeridade ao processo de elaboração de planos; 5- Considerar diferentes métodos na elaboração do plano de manejo para contemplar diferentes categorias de UC; 6- Garantir um processo participativo; 7- Considerar os aprendizados anteriores sem julgamentos preconcebidos; 2

8- Capacitar os atores envolvidos, sobretudo os técnicos, em todas as etapas; 9- Registrar todo o processo de construção do PM, visando subsidiar a reflexão e o aprendizado institucional; 10- Ajustar previamente os PMs de UCs de fronteira às exigências do Conselho Nacional de Defesa – CDN/GSI; 11- Dissociar ações de pesquisa, subsídios para o diagnóstico, do cronograma e orçamento do PM; 12- Submeter todos os PMs publicados à avaliação anual de sua implementação.

Diretrizes Específicas:

Etapa 1: Organização do Planejamento (OP)

1- Proceder à organização do planejamento (UC e COMAN) antes de elaborar TDR e licitação, quando for o caso; 2- Garantir a participação de toda a equipe da UC no processo; 3- Analisar as informações prévias sobre a UC para orientar o processo de planejamento; 4- Conduzir a OP com base na realidade da UC e orientá-la pelos desafios de gestão; 5- Produzir relatório de dados existentes sobre a UC de acordo com os itens previstos para o diagnóstico.

Etapa 2: Diagnóstico

1- Garantir participação intensiva dos servidores da UC; 2- Produzir diagnóstico com base em dados pré-existentes da UC, voltados aos objetivos da categoria e aos desafios de gestão e para a gestão; 3

3- Se houver necessidade de novos levantamentos, esses devem ser direcionados para responder problemas da UC.

Etapa 3: Planejamento

1- A equipe da UC e COMAN deve coordenar a construção do planejamento. Em caso de necessidade pode-se proceder à contratação externa somente para auxiliar o processo; 2- Planejar em função dos objetivos da UC, priorizando as atividades vinculadas a esses objetivos; 3- Construir normas para as atividades, no que couber.

4

- ANEXO 2 PARECER nº 066/2009/CPMA/CGREX

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6

7

8

9

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11

12

- ANEXO 3 Compêndio de Relatórios das Expedições de Pesquisa de Biodiversidade da RESEX Tapajós-Arapiuns

Relatório 1. Ictiofauna na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil Relatório 2. Avifauna na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns Relatório 3. Inventário de Médios e Grandes Mamíferos na Resex Tapajós-Arapiuns Relatório 4. Herpetofauna na Resex Tapajós-Arapiuns Relatório 5. Mamíferos Voadores (Morcegos) na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns Relatório 6. Plantas na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns

13

RELATÓRIO 1 Ictiofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil Luciano Fogaça de Assis Montag1*; Bruno da Silveira Prudente1; Cristiane de Paula Ferreira2; Guilherme Moreira Dutra3; Naraiana Loureiro Benone1; Thiago Augusto Pedroso Barbosa1; Tiago Octavio Begot Ruffeil1

1

Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Belém, Pará.

2

Universidade Federal do Pará, Instituto de Geociência, Faculdade de Oceanografia, Belém, Pará.

3

Museu Paraense Emílio Goeldi, campus de pesquisa. Coordenação de Zoologia, Belém, Pará. * Autor para correspondência: E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO A região neotropical abriga a maior riqueza de espécies de peixes de águas continentais do mundo, onde de acordo com Reis et al. (2003), existem aproximadamente 4.500 espécies válidas e mais 1.500 espécies ainda não descritas, totalizando aproximadamente 6.000 espécies de peixes para esta região, com sua grande maioria distribuídas em território brasileiro (Buckup et al. 2007). Esse número reflete a grande diversidade de hábitats, bem como uma longa e complexa história evolutiva desses organismos. Considerado o maior sistema fluvial do mundo, cobrindo uma área de aproximadamente sete milhões de quilômetros quadrados a bacia Amazônica, comporta aproximadamente 2.500 espécies de peixes (Schaefer, 1998; Reis et al., 2003). No entanto, as lacunas de amostragem em áreas remotas, como suas diferentes mesobacias e microbacias, e a existência de problemas taxonômicos complexos dificultam na elaboração de estimativas precisas sobre a riqueza da ictiofauna amazônica. (Vari & Malabarba, 1998; Lowe-McConnell, 1999; Lundberg et al., 2000; Reis et al., 2003; Buckup et al. 2007). O crescimento explosivo da população humana mundial, ocorrido nos últimos séculos, gerou uma crescente necessidade de exploração dos recursos 14

naturais causando um aumento na degradação dos hábitats (poluição, eutrofização e assoreamento), além da introdução de espécies exóticas que estão entre as principais consequências para os ambientes aquáticos (Araújo, 1998; Bastos & Abilhoa, 2004; Gomiero & Braga 2008; Aquino et al., 2009; Rodrigues et al., 2010). Dessa forma, um dos principais desafios para a humanidade é lidar com a "crise ambiental” e a gradativa perda da diversidade biológica (Simões et al., 2008), sendo a existência de Unidades de Conservação (UC), mesmo de uso direto, como as reservas extrativistas, uma importante iniciativa para combater esses problemas ambientais (Ferreira et al., 2005). Áreas protegidas nas quais os organismos aquáticos têm sido intensamente inventariados tem demonstrado a importância desse esforço no levantamento de informações relevantes para o manejo e conservação da biodiversidade como um todo (Agostinho et al., 2005). A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns foi criada por Decreto presidencial s/n publicado em 09 de setembro de 1998, com uma área de 647.610 ha de superfície, sendo que a maior parte de suas terras pertence ao domínio da União. A Reserva Extrativista está definida no Art. 18º dessa Lei como: “(...) uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade”. A RESEX Tapajós-Arapiuns ocupando uma área de 647.610 ha, tendo o rio Arapiuns, principal afluente da margem esquerda do rio Tapajós, tem como principais afluentes os rios São Pedro, Mentai e Maró/Inambu, sendo este último o que possui a bacia mais desabitada e com melhor potencial de preservação (ICMBio, 2008). A falta de estudos nos rios da reserva resulta em uma subestimativa da diversidade de peixes nesta bacia. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo, fornecer uma lista de espécies de peixes da RESEX Tapajós-Arapiuns, levando em consideração a complementaridade dos diferentes ambientes dos principais sistemas de drenagem, rios Tapajós, Mentai e Maró, além das estimativas de riqueza de 15

espécies baseada em cinco estimadores de incidência. Esta lista contribuirá para o atual conhecimento sobre a ictiofauna desta Unidade de Conservação situada no noroeste Paraense.

MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns está localizada nos municípios de Santarém e Aveiro, na região oeste do Estado do Pará, entre as coordenadas geográficas 02º20’ a 03º40’ S, e 55º00’ a 56º00’ W (Figura 1). O clima da região é tropical úmido (tipo Ami de Köeppen), com temperatura média anual de 26 e 27º C, a umidade relativa do ar em torno de 86% e precipitação anual variando entre 1.287 e 2.538 mm, sendo fortemente sazonal. A estação chuvosa vai de dezembro a julho, com médias mensais variando entre 170 e 300 mm, e a estação seca vai de agosto a novembro, com médias mensais inferiores a 60 mm. O clima é fortemente influenciado pelo fenômeno El Niño, e quando este ocorre o período de seca é mais longo e intenso, o que deixa a vegetação extremamente vulnerável a incêndios florestais. O relevo da RESEX mostra-se predominantemente plano, sendo mais acidentado ao sul e sudoeste da reserva. Em termos de relevo podemos distinguir para região duas principais zonas, sendo a primeira uma faixa de planície mais baixa de aproximadamente 10 km de largura ao longo do rio Tapajós, que ocorre em menor grau ao longo do Arapiuns, juntamente com um planalto que ocupa boa parte do interior da Reserva. A presença desse planalto tem sido o principal responsável por limitar a extensão dos rios localizados na margem esquerda do rio Tapajós. Por causa desse planalto, os rios da margem esquerda do Tapajós se estendem apenas até a sua base, com exceção do rio Amorim, que avança no interior da Reserva. O interior da unidade é drenado principalmente por afluentes da margem esquerda do rio Arapiuns. Os três principais rios no sentido leste-oeste são as bacias do rio São Pedro, do Mentai, e do Maró/Inambu. A RESEX abriga diversas fisionomias florestais. A tipologia predominante é a floresta ombrófila densa, sendo que também ocorrem manchas de savana 16

(conhecidas localmente como campos da natureza), igapó e floresta aberta com palmeiras. Os rios da região são classificados como rios de águas claras (Sioli, 1984), com seus principais afluentes drenando dos escudos brasileiros.

Figura 1 – Localização da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, Baixo Tapajós, Pará, Brasil, com destaque para os diferentes sítios de coleta e seus respectivos pontos de amostragem.

Coleta de dados As coletas foram distribuídas em três sítios de coleta, totalizando 41 pontos de amostragem localizados nos rios a sistemas de planícies alagáveis do interflúvio Arapiuns-Tapajós incluindo sete diferentes tipos de ambientes (igarapés, igapós, praia, lago e corredeira e remanso) (Figura 2). Ao longo da primeira expedição, realizada no período de 10 a 25 de junho de 2011 (período de estiagem), foram amostrados 18 trechos de igarapés, sendo nove deles no curso principal e afluentes do rio Maró, e nove no curso principal e afluentes do igarapé Mentai, ambos afluentes da margem direita do rio Arapiuns. Segundo o zoneamento da Resex Tapajós-Arapiuns os dois sítios de amostragem estão localizados na Zona I descrita como área habitacional, agrícola e manejo florestal comunitário (Plano de Manejo Resex Tapajós-Arapiuns, 2008). Na segunda expedição, realizada no período de 04 a 09 de abril de 2012, 17

representando o período chuvoso, foram amostrados 23 trechos de igarapés e rios, todos afluentes da margem esquerda do rio Tapajós, no igarapé do Amorim, localizados também na Zona I descrita no Plano de Manejo. A coleta dos espécimes foi realizada utilizando-se redes de mão, bateria de redes de espera com malhas de 15, 30, 35, 40 e 50 mm entre nós opostos, redes de arrasto e tarrafa, este último utilizado como coleta ocasional (Figura 3). Os três métodos de coleta padronizados (rede de mão, rede de espera e rede de arrasto) foram utilizados dependendo do tipo de ambiente: em áreas de lagoa/remanso profundos, foram utilizadas as baterias de redes de espera. As baterias de redes permaneceram expostas por aproximadamente quatro horas durante os períodos crepusculares. Para os igarapés de águas rasas – até 1,5 metros de profundidade, os peixes foram coligidos utilizando-se redes de mão e redes de arrasto com malha de 0,05 cm entre nós opostos, com um esforço total de quatro horas de amostragem distribuídas entre quatro coletores (Tabela 1). Tabela 1 – Metodologia utilizada e descrição dos ambientes onde foram coligidos os espécimes para o levantamento da ictiofauna da Reserva Extrativista Arapiuns - Tapajós, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil. Bacia Rio

Ar api uns

Rede de espera e rede de mão Ig. Maró Ig. Mentai

Ta paj ós

Métodos Hábitat de amostrados Coleta Rede de espera e rede de mão

Rio Tapajós/Ig. e do. Amorim

Igarapés e remansos de rios

Igarapés e remansos de rios

Coordenadas

Substrato

Dominância de Vegetação Adjacente

É possível encontrar 03 08´33,3" S a o trechos A vegetação 03 11' 12,2” S dominados por aquática é restrita as o áreas ripárias 55 49'23,9" W a solos argilosos o até trechos sendo encontrada 55 51'25,7" W com solos mistos vegetação anfíbia e (arenoso e o emergente 02 46'38,8" S a argiloso) com o 02 48'46,3" S folhiço submerso o

o

55 35'55,8" W a o 55 35'55,3" W o

2 42'57,8" S a o Rede de Lago, 2 espera, praias, rio, 49'58,8” S rede de igapós e o 55 10'11,5" W a arrasto igarapés o 55 10'22,7" W

Dominância de trechos arenosos, porém alguns trechos dominância de material argiloso.

Trechos com alta heterogeneidade de hábitats. Pode-se encontrar vegetação submersa fixa, flutuante fixa, emergentes e anfíbias.

18

A

C

B

D

Figura 2: Alguns representantes dos ambientes amostrados durantes os meses de julho de 2011 e abril de 2012, na RESEX Tapajós-Arapiuns. A e B - Igarapés; C e D Remansos.

19

A

C

B

D

Figura 3: Métodos de coleta utilizados durante inventário da ictiofauna da Reserva Extrativista Arapiuns - Tapajós, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil. A – Rede de arrasto, B – Rede de espera, C – Tarrafa e D – Rede de mão.

Após as coletas, os peixes foram fixados em formaldeído diluído em água a 10%, conservados em álcool 70% e estão sendo incorporados à coleção ictiológica do Museu Paraense Emílio Goeldi – MCT/MPEG, Belém, Pará. Os peixes foram identificados com por meio de chaves dicotômicas, catálogos e descrições de espécies (Gery, 1977; Kullander, 1986; Buckup, 1993; Planquette et al., 1996; Lópes-Fernández & Winemiller, 2000; Casatti, 2002; Malabarba, 2004; Chernoff & Machado-Allison, 2005; Ferraris, 2005; Kullander & Ferreira 2005; Britski et al., 2007; Covain & Fisch-Muller, 2007; Litmann, 2007; Oyakawa & Mattox, 2009; Aquino & Schaefer, 2010; Sousa & Birindelli, 2011; Birindelli et al., 2011; Vari, 1982; Vari, 1989; Vari, 1992; Vari, 1995).

20

Exemplares jovens ou danificados onde não foi possível obter uma identificação ou morfotipagem segura foram identificados na lista taxonômica. A classificação seguiu Reis et al. (2003), exceto para Serrasalmidae considerados como uma subfamília de Characidae e aqui foi apresentado como uma família distinta, seguindo Calcagnotto et al. (2005) e Mirande (2009; 2010). A separação em morfoespécies foi necessária, pois nem todas as espécies puderam ser determinadas.

Análise dos dados Devido a não padronização amostral e o uso de diferentes métodos de coleta, as análises de dados foi baseada na presença/ausência das espécies nas estações de coleta. Foi utilizada a técnica de ordenação NMDS (Nonmetric Multidimensional Scaling) para diferenciar a composição de peixes entre dois ambientes, sendo estes (i) igarapés e (ii) rios e ambientes associados (lagos, igapós, praias, remansos e corredeiras). Foi aplicado o coeficiente de similaridade de Jaccard para os dados de presença/ausência. Em seguida, foi feita uma Análise de Similaridade (ANOSIM) para testar a hipótese de não haver diferença entre os grupos de amostras (Clarke & Warwick, 1994), neste caso, os dois tipos de ambiente. Foi considerado um nível de significância de 5%. Para a estimativa da riqueza de espécies da RESEX Arapiuns-Tapajós foi utilizado o programa EstimateS (Versão 5.0.1) (Colwell, 1997). Foram utilizados os seguintes estimadores de riqueza de espécies: ICE, Chao2, Jackknife1, Jackknife2 e Bootstrap. Os dados foram aleatorizados 100 vezes. A aleatorização foi necessária para que a remoção do efeito da ordem das amostras, calculando-se a média das aleatorizações excedentes, produzindo, uma curva lisa de acumulação de espécies e permitindo uma comparação mais eficaz dos estimadores utilizados (Colwell, 1997). Os estimadores aqui empregados são algoritmos não paramétricos que estimam o número de espécies ainda por serem coligidas baseados numa quantificação de espécies raras (Toti et al., 2000). O ICE (Incidence-based Coverage Estimator) é um estimador de riqueza baseados no conceito estatístico de cobertura de amostra. É uma modificação 21

dos estimadores Chao & Lee, baseados em dados de abundância e que tinham a característica de superestimar a riqueza de espécies, principalmente quando o número de amostras era baixo (Colwell & Coddington, 1994; Colwell, 1997). O conceito de cobertura de amostra refere-se à soma das probabilidades de encontro das espécies observadas, dentro do total de espécies presentes, mas não observadas (Colwell, 1997). O estimador ICE é baseado em incidência, utilizando espécies encontradas em 10 ou menos amostras (Lee & Chao, 1994). Os outros estimadores utilizados na estimativa de riqueza de peixes da RESEX é o Chao2, Jackknife1, Jackknife2 e Bootstrap, todos são baseados em incidência e utilizam o número de únicos e duplicatas, que são o número de espécies encontradas em somente uma ou duas amostras, respectivamente, para as estimativas de riqueza (Colwell, 1997).

RESULTADOS Foram amostrado um total de 1.537 exemplares de peixes pertencentes a 32 famílias, 78 gêneros e 99 espécies, onde foi possível observar um predomínio das ordens Characiformes (65%) seguidos por Perciformes (17%) e Siluriformes (8%) (Tabela 1 e 2) com dominância das famílias Characidae (14 spp.) e Cichlidae (11 spp.), representando 25% do total de espécies coletadas. Das espécies coletadas, as mais abundantes (consideradas aqui, de forma arbitraria, como aquelas que tiveram 48 ou mais indivíduos coletados e representaram mais de 60% dos indivíduos coletados) foram: Hyphessobrycon sp., Aequidens sp., Characidae gen., Apistogramma sp., Brycon pesu, Bryconops sp., Poecilia sp., Helogenes marmoratus e Microcharacidium weitzmani.

22

Tabela 2 – Lista de espécies de peixes coletadas na RESEX Arapiusn-Tapajos, PA. Os táxons estão apresentados em ordem alfabética. Ip = igarapé; Re = remanso; ? = ambiente não registrado; La = lago; Pr = praia; Cr = corredeira. (*) espécies coligidas por captura acidental sem identificação do ambiente. Rio Maró Rio Mentai Táxon/Autoridade

Ip

Re Ip Re

?

Rio Tapajós Ig

Ip Lg

Pr

Cr

? Total

Characiformes Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcirostris(Cuvier, 1819)-

1

1

Acestrorhynchus microlepis(Jardine, 1841)

1

Acestrorhynchus minimus Menezes, 1969 Acestrorhynchus sp.

4

1

1

6 1

2

2

Anostomidae Leporinus gr. friderici (Bloch, 1794)* Leporinus aff. friderici (Bloch, 1794)

1

1

1

1

Leporinus fasciatus(Bloch, 1794) -

1

1

Schizodon vittatus (Valenciennes, 1850)

1

1

Characidae Brycon pesuTroschel & Müller 1845

28 36

Bryconops caudomaculatus (Günther, 1864) Bryconops sp.

1 20

64

1 33

2 7

60

23

Characidae gen. (jovem)

40

-

-

-

-

1

Hyphessobrycon sp.

193

-

215

-

Iguanodectes spilurus (Günther, 1864)

Charax gibbosus (Linnaeus, 1758)

-

-

37

15

1

-

93

-

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

-

-

408

20

-

15

-

-

-

-

-

-

-

-

35

Jupiaba anteroides(Géry, 1965)*

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

-

1

Knodus heteresthes (Eigenmann, 1908)

-

-

-

-

-

-

-

4

11

-

-

15

Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882)

-

-

2

-

-

-

-

-

-

-

-

2

Moenkhausia cotinho Eigenmann, 1908

-

-

-

-

-

-

-

7

1

-

-

8

Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864)

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

Moenkhausia sp.*

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

-

1

Triportheus albus (Cope 1872)

-

-

-

-

-

-

-

8

5

-

2

15

Crenuchus spilurusGünther, 1863

7

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

7

Elachocharax junki (Géry, 1971)

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

Microcharacidium weitzmani Buckup, 1993

48

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

48

Curimata inornataVari, 1989*

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

1

Curimata vittata (Kner, 1858)

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

-

1

Curimatella immaculata (Fernández-Yépez, 1948)

-

-

-

-

-

4

-

5

-

1

-

10

Curimatidae gen.

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

-

1

Curimatopsis crypticusVari, 1982

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

Cyphocharax sp.*

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

-

1

Erythrinidae gen. (jovem)

5

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

5

Erythrinus erythrinus (Bloch & Schneider, 1801)

17

-

21

-

-

-

-

-

-

-

-

38

Hoplias curupiraOyakawa & Mattox, 2009

1

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

2

Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)

-

1

-

2

1

-

1

-

1

-

-

6

Argonectes sp.

-

-

-

-

-

-

-

-

-

3

-

3

Bivibranchia sp.

-

-

-

-

-

1

-

8

2

18

5

34

Hemiodus goeldi Steindachner, 1908

-

-

-

-

-

-

4

13

10

2

-

29

Hemiodus immaculatus Kner, 1858

-

-

-

-

-

-

-

2

-

-

-

2

Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794)

-

-

-

-

-

1

-

5

-

6

8

20

Micromischodus sugillatus Roberts, 1971

-

-

-

-

-

-

-

3

-

-

-

3

Copella arnoldi (Regan, 1912)

-

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

1

Copella nattereri (Steindachner, 1876)

6

-

8

-

-

-

-

-

-

-

-

14

Lebiasinidae gen. (jovem)

-

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

1

13

-

13

-

-

-

-

-

-

-

-

26

-

-

18

-

-

-

-

-

-

-

-

18

Myleus sp.

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

Myleus torquatus(Kner, 1858)

-

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

1

Myloplus asterias(Müller & Troschel, 1844)*

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

-

1

Pygopristis denticulata (Cuvier, 1819)

-

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

1

Serrasalmus gouldingi Fink & Machado-Allison, 1992

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

1

Crenuchidae

Curimatidae

Erythrinidae

Hemiodontidae

Lebiasinidae

Nannostomus sp. Pyrrulina brevis Steindachner, 1876 Serrasalmidae

24

Serrasalmus sp.

-

1

2

-

-

-

-

-

3

-

-

-

-

-

-

-

52

8

-

-

60

9

-

18

-

-

-

-

-

-

1

-

28

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

2

-

2

Gymnotus coropinaeHoedeman, 1962

13

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

13

Gymnotus sp.

10

-

3

-

-

-

-

-

-

-

-

13

Brachyhypomus sp.

18

-

2

Hypopygus lepturusHoedeman, 1962

6

-

4

-

-

-

-

-

-

-

-

20

-

-

-

-

-

-

-

-

10

-

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

1

Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849)

-

-

-

-

-

-

-

1

6

-

-

7

Acaronia nassa (Heckel 1840)

-

-

-

-

-

-

-

7

1

-

-

8

Aequidens sp.

1

-

91

-

-

-

-

2

-

-

-

94

Apistogramma sp.

37

-

50

-

-

-

-

-

-

-

-

87

Cichla sp.

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

-

1

Cichla temensis Humboldt, 1821

-

-

-

-

-

-

-

-

1

1

-

2

Geophagus proximus (Castelnau, 1855)

-

2

-

-

-

-

-

-

-

-

-

2

Geophagus sp.*

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

9

9

Geophagus surinamensis(Bloch, 1791)

-

-

-

-

-

-

-

4

22

-

-

26

Laetacara sp.

3

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

3

Mesonauta festivus (Heckel, 1840)

-

-

-

-

-

-

-

10

2

-

-

12

Pachypops fourcroi (Lacepède, 1802)

-

-

-

-

-

-

-

-

-

7

-

7

Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840)

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

1

2

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

3

3

Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840)

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

1

-

-

-

1

Ageneiosus sp.

Ciprinodontiformes Poeciliidae Poecilia sp. Rivulidae Rivulus sp. Clupeiformes Engraulididae Anchovia surinamensis (Bleeker, 1865) Pristigasteridae Ilisha amazonica (Miranda Ribeiro, 1920) Gymnotiformes Gymnotidae

Hypopomidae

Rhamphichthyidae Gymnorhamphichthys petitiGéry & Vu-tân-Tuê, 1964 Perciformes Cichlidae

Sciaenidae

Pleuronectiformes Achiridae Achirus sp. Rajiformes Potamotrygonidae Potamotrygon sp.* Siluriformes Auchenipteridae

25

2

Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864)

-

4

-

1

-

1

-

-

1

-

-

-

-

1

- -

-

-

7

-

-

-

1

- 2

-

-

48

Tetranematichthys sp. Callichthyidae Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)

-

-

Cetopsidae Helogenes marmoratus Günther, 1863

19

-

27

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

1

-

-

-

-

-

6

-

2

-

2

1

11

-

-

-

-

-

3

-

21

-

24

-

-

-

1

-

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

Ctenoluciidae Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Doradidae Hassar orestis (Steindachner, 1875) Nemadoras leporhinus (Eigenmann, 1912)

-

Scorpiodoras heckelii (Kner, 1855)

-

-

Heptapteridae Nemuroglanis pauciradiatus Ferraris, 1988

1

-

Loricariidae Hypoptopoma elongatum Aquino & Schaefer

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

1

Limatulichthys griseus (Eigenmann, 1909)

-

-

-

-

-

-

-

5

1

-

4

10

Loricariichthys sp.

-

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

1

Peckoltia sp.

-

-

-

-

-

-

-

3

-

-

-

3 3

Pimelodidae Hypophthalmus marginatusValenciennes

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

3

Hypophthalmus sp.

-

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

1

Pimelodus sp.

-

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

1

Sorubim elongatus

-

-

-

-

-

1

-

1

-

-

-

2

-

-

2

-

-

-

-

-

-

-

-

2

1

-

-

-

-

-

-

-

-

-

-

1

-

-

-

-

-

1

Pseudopimelodidae Microglanis sp. Trichomycteridae Ituglanis amazonicus (Steindachner 1882) Synbranchiformes Synbranchidae Synbranchus marmoratus Bloch, 1795

1

-

-

-

-

-

Tetraodontiformes Tetraodontidae Colomesus psittacus Número de indivíduos Número de espécies

- - -

--

--

--

--

-

- -

-

-

474

11

493

7

27

19

44

234

112

26

7

19

5

7

11

4

33

18

-

-

79

37

1537

20

10

99

26

Diferenciação das espécies em dois ambientes: igarapés e rios e ecossistemas alagáveis associados O NMDS mostrou que a ictiofauna é bem diferenciada entre os sistemas i) igarapés e ii) rios e ambientes associados. O baixo valor de stress encontrado (stress = 0,12) mostra que a matriz de dados bióticos foi bem representada. O ANOSIM confirma esse resultado (R = 0,53; p < 0,01).

Estimativas de riqueza de espécies As amostras nos dois ambientes (igarapés e rios) geraram estimativas similares para o número de espécies de peixes da RESEX, em ambos os casos, as curvas de acumulação de espécies não tenderam à estabilidade (Figuras 5A e 5B). Entretanto, a curva do estimador Chao2 tendeu a uma sutil estabilidade em comparação aos demais estimadores. As curvas dos estimadores Chao2 e principalmente ICE apresentaram um acentuado crescimento inicial, mas tenderam à estabilidade conforme o aumento do número de amostras. A curva de acumulação de espécies das demais estimativas acompanhou a curva do coletor (Sobs). Apesar do número dos indivíduos terem sido maior nos igarapés, a maior riqueza de espécies foi obtida nos rios e sistemas alagáveis associados (1.011 27

indivíduos distribuídos em 36 espécies contra 462 indivíduos distribuídos em 60 espécies), demonstrando que o aumento do esforço de amostragem nos igarapés não significou um aumento no número de espécies coletadas. Nas 13 estações de coleta em igarapés foram coligidos 1.011 indivíduos distribuídos em 36 espécies. A espécie mais abundante foi Hyphessobrycon sp. com 408 indivíduos, seguido de Aequidens sp. e Apistogramma sp., com 93 e 87 indivíduos respectivamente. As estimativas de riqueza de espécies apresentadas na Figura 5A estão baseadas na combinação dos dados de ambos os métodos (rede de mão e arrasto) e entre os igarapés dos três sítios de amostragem (Igarapés Mentai e Maró e o Rio Tapajós) e variaram entre os cinco estimadores utilizados. Para os igarapés a estimativa Bootstrap foi a mais baixa de todas, com estimativa de aproximadamente 42 espécies e a Chao2 apresentou a maior estimativa, com aproximadamente 68 espécies. As estimativas dos outros três estimadores apresentaram valores intermediários aos de Bootstrap e Chao2. O estimador

Jack2

ficou

muito

próximo

ao

Chao2,

com

estimativa

de

aproximadamente 64 espécies (Tabela 3; Figura 5).

28

Figura 5 – Estimativas de riqueza de espécies de peixes através do método de rede de mão, rede de arrasto e rede de espera nos igarapés (A), nos rios e suas planícies alagáveis (B) e na combinação deles acrescida com coletas ocasionais (C) para RESEX Arapiuns-Tapajós, PA. Sobs = Número de espécies observadas. 29

Nas 26 estações de coleta em rios e sistemas alagáveis foram coligidos 462 indivíduos distribuídos em 60 espécies. A espécie mais abundante foi Brycon pesu com 64 indivíduos, seguido de Poecilia sp. e Bryconops sp., com 60 e 41 indivíduos respectivamente. As estimativas de riqueza de espécies apresentadas na Figura 5B estão baseadas na combinação dos dados dos métodos (rede de mão, rede de arrasto e rede de espera) e entre os ambientes dos três sítios de amostragem (Igarapés Mentaí e Maró e o Rio Tapajós) e variaram entre os cinco estimadores utilizados. Para os rios e sistemas associados à estimativa Bootstrap também foi a mais baixa de todas, com estimativa de aproximadamente 73 espécies e a Jackknife 2 apresentou a maior estimativa, com aproximadamente 107 espécies. As estimativas dos outros três estimadores apresentaram valores intermediários aos de Bootstrap e Jacknife2. Os estimadores ICE e Chao2 tiveram estimativa muito próximas com 96 e 95 espécies, respectivamente (Tabela 3; Figuras 5).

Tabela 3 - Estimativa de riqueza de espécies de na RESEX Arapiuns-Tapajós e número de espécies raras para cada ambiente e na combinação deles. Entre parênteses a porcentagem de espécies capturadas segundo os estimadores. Parâmetros

Igarapés

Rios

Total

Amostras N. de espécies coletadas

13 36

26 60

41 ** 99

1011

462

1537

17

30

49

3

11

19

58 (62%)

96,24 (62%)

165,43 (60%)

N. de indivíduos coletados Únicos Duplicatas ICE Chao 2 Jackknife 1 Jackknife 2 Bootstrap

67,38 (53%) ± 94,86 (63%) ± 21,51 17,18 51,69 (70%) ± 5,33 88,85 (68%) ± 4,94 63,75 (56%) 106,79 (56%) 42,4 (85%)

*

***

166,49 (59%) ± 26,44 146,8 (67%) ± 10,09

72,47 (83%)

178,58 (55%) 119,18 (83%)

*foi adicionado duas amostras de captura ocasional sem o reconhecimento do ambiente. ** nove espécies foram coligidas somente por captura ocasional (Ver Tabela 1). *** 64 indivíduos foram coligidos em capturas ocasionais

30

Uso e conservação da ictiofauna Dentre as 99 espécies amostradas, 43% são consideradas como sendo utilizadas na pesca comercial, 9% exploradas para fins de aquariofilia e 2% utilizadas como iscas na pesca de subsistência local (Tabela 4). Além disso, todas as espécies amostradas são nativas da bacia amazônica e nenhuma está na lista de espécies ameaçadas (nacional ou internacional). Tabela 4 – Espécies coligidas (em ordem alfabética) na Reserva Extrativista TapajósArapiuns com seus respectivos nomes comuns e se há uso na aquariofilia (ornamental) ou na pesca comercial ou subsistência (alimentação). Fonte: www.fishbase.org. Espécie/Autoridade Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) Acaronia nassa(Heckel 1840)

Nome comum acará acará

Uso ornamental -

Acestrorhynchus falcirostris (Cuvier, 1819)

peixe-cachorro

alimentação

Acestrorhynchus microlepis (Jardine, 1841)

peixe-cachorro

alimentação

Acestrorhynchus minimus Menezes, 1969

peixe-cachorro

-

Acestrorhynchus sp.

peixe-cachorro

-

Achirus sp.

soia

alimentação

Aequidens sp.

acará

-

Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840)

mandubé

alimentação

Ageneiosus sp.

mandubé

alimentação

Anchovia surinamensis (Bleeker, 1865)

sardinha

alimentação

acarazinho

ornamental

Apistogramma sp. Argonectes sp.

-

-

cangati

alimentação

-

-

pirapucu

alimentação

ituí

-

-

-

Bryconops caudomaculatus (Günther, 1864)

piquira

alimentação

Bryconops sp.

piquira

alimentação

Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)

tamoatá

alimentação

-

-

piaba

-

Cichla sp.

tucunaré

alimentação

Cichla temensis Humboldt, 1821

tucunaré

alimentação

baiacu

-

Copella arnoldi (Regan, 1912)

-

ornamental

Copella nattereri (Steindachner, 1876)

-

ornamental

Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864) Bivibranchia sp. Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Brachyhypomus sp. Brycon pesu Troschel & Müller 1845

Characidae gen. (jovem) Charax gibbosus (Linnaeus, 1758)

Colomesus psittacus (Bloch & Schneider, 1801)

Crenuchus spilurus Günther, 1863

-

-

Curimata inornata Vari, 1989

branquinha

alimentação

Curimata vittata (Kner, 1858)

branquinha

alimentação

Curimatella immaculata (Fernández-Yépez, 1948) Curimatidae gen.

branquinha branquinha

alimentação -

31

Curimatopsis crypticus Vari, 1982

branquinha

-

Cyphocharaxsp.

branquinha

-

Elachocharax junki (Géry, 1971)

-

-

Erythrinidae gen. (jovem) Erythrinus erythrinus (Bloch & Schneider, 1801)

-

-

jeju

alimentação

Geophagus proximus (Castelnau, 1855)

acará

alimentação

Geophagus sp.

acará

alimentação

Geophagus surinamensis (Bloch, 1791)

acará

alimentação

Gymnorhamphichthys petiti Géry & Vu-tân-Tuê, 1964

-

-

Gymnotus coropinae Hoedeman, 1962

sarapó

isca

Gymnotus sp.

sarapó

isca

bacu

-

Hassar orestis (Steindachner, 1875) Helogenes marmoratus Günther, 1863

-

-

Hemiodus goeldi Steindachner, 1908

charuto

alimentação

Hemiodus immaculatus Kner, 1858

charuto

alimentação

Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794)

charuto

alimentação

Hoplias curupira Oyakawa & Mattox, 2009

traíra

alimentação

Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)

traíra

alimentação

-

-

Hypophthalmus marginatus Valenciennes, 1840*

mapará

alimentação

Hypophthalmus sp.

mapará

alimentação

acari

-

Hypopygus lepturus Hoedeman, 1962

ituí

-

Iguanodectes spilurus (Günther, 1864)

-

-

Ilisha amazonica (Miranda Ribeiro, 1920)

apapá

alimentação

Ituglanis amazonicus (Steindachner 1882)

-

-

piaba

-

Knodus heteresthes (Eigenmann, 1908)

-

-

Laetacara sp.

-

-

Lebiasinidae gen. (jovem) Leporinusgr. friderici (Bloch, 1794)

-

-

aracu

alimentação

Leporinus aff. friderici (Bloch, 1794)

aracu

alimentação

Leporinus fasciatus (Bloch, 1794)

aracu

alimentação

-

-

acari

-

acará-festivo

ornamental

Microcharacidium weitzmani Buckup, 1993

-

-

Microglanis sp.

-

-

charuto

alimentação

Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882)

piaba

ornamental

Moenkhausia cotinho Eigenmann, 1908

piaba

ornamental

Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864)

piaba

ornamental

-

-

Myleus sp.

pacu

-

Myleus torquatus (Kner, 1858) Myloplusasterias (Müller & Troschel, 1844)

pacu pacu

alimentação alimentação

Hyphessobrycon sp.

Hypoptopoma elongatum Aquino & Schaefer, 2010

Jupiaba anteroides (Géry, 1965)

Limatulichthys griseus (Eigenmann, 1909) Loricariichthys sp. Mesonauta festivus (Heckel, 1840)

Micromischodus sugillatus Roberts, 1971

Moenkhausia sp.

32

Nannostomus sp.

-

-

Nemadoras leporhinus (Eigenmann, 1912)

-

-

Nemuroglanis pauciradiatus Ferraris, 1988

-

-

Pachypops fourcroi (Lacepède, 1802) Peckoltia sp. Pimelodus sp. Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) Poecilia sp. Potamotrygon sp.

pescadinha

alimentação

acari

ornamental

-

-

pescada-branca

alimentação

-

-

raia

alimentação

piranha

alimentação

piaba

-

-

-

Schizodon vittatus (Valenciennes, 1850)

aracu

alimentação

Scorpiodoras heckelii (Kner, 1855)

bacu

-

Serrasalmus gouldingi Fink & Machado-Allison, 1992

piranha

alimentação

Serrasalmus sp.

piranha

alimentação

Sorubim elongatus Littmann, Burr, Schmidt & Isern, 2001

surubim

alimentação

Synbranchus marmoratus Bloch, 1795

mussum

-

-

-

Pygopristis denticulata (Cuvier, 1819) Pyrrulina brevis Steindachner, 1876 Rivulus sp.

Tetranematichthys sp. Triportheus albus (Cope 1872)

sardinha-papuda

alimentação

DISCUSSÃO Lista de espécies Os dados de diversidade de táxons superiores (famílias e gêneros) e espécies mostram que, quando comparados com outros inventários na região amazônica, o sistema Arapiuns/Tapajós apresenta, proporcionalmente, uma maior diversidade geral. Um exemplo disso é o inventário realizado no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá, onde foram registradas 207 espécies de peixes, distribuídas em 93 gêneros e 26 famílias, amostrados em 86 pontos de coleta (Bernard, 2008). Se comparado aos dados obtidos nesse estudo, onde foi inventariada 99 espécies de peixes, distribuídas em 78 gêneros e 32 famílias em 41 pontos de coleta, podemos observar que, em termos gerais, o número de espécies foi proporcional ao número de pontos amostrados. No entanto, a riqueza de gêneros e famílias foi consideravelmente mais significativa, indicando que, embora em número de espécies essas subbacias sejam semelhantes, em termos de diversidade de táxons superiores, a Resex Tapajós Arapiuns apresenta uma ictiofauna mais diversa. 33

Um resultado inverso, no entanto, foi observado quando os dados deste estudo foram comparados a um inventário realizado no Baixo Rio Urubamba, tributário do Rio Ucayali, localizado na porção sudoeste da bacia amazônica, sudeste do Peru (Carvalho et al., 2011). Isso por que, em 22 pontos de coleta, este estudo inventario um total de 98 espécies, distribuídas em 22 famílias. Pode-se observar que, nesta porção da bacia amazônica, a diversidade geral de espécies é duas vezes maior que do presente estudo, mas que essa diversidade apresenta

uma

distribuição

mais

conservadora

dentro

das

famílias

predominantes nesses hábitats, como a família Characidae, a mais abundante nos dois estudos, mas onde a riqueza de espécies foi quase três vezes maior na região peruana que no sistema Arapiuns/Tapajós. Diversos fatores podem explicar essas variações nos padrões de diversidade dentro da bacia amazônica, dentre eles o tipo de formação geológica onde estão inseridas as cabeceiras desses sistemas. Os sistemas do Amapá, que tem suas cabeceiras no Escudo das Guianas, e do Tapajós, com cabeceiras no Escudo do Brasil, são caracterizados por águas claras que carregam carga mínima de sedimento e baixos níveis de sedimentos; O rio Arapiuns, no entanto, apresentam suas águas pretas, devido aos compostos orgânicos e ácido húmico provenientes da decomposição do material da floresta de terra firme inundada, uma vez que suas nascentes estão dentro na Planície Amazônica. O sistema do rio Ucayali, tem sua formação na Cordilheira dos Andes, suas águas brancas carregam grandes quantidades de sedimentos carreados das montanhas com altos níveis de nutrientes que se dispersam na várzea durante as enchentes, aumentando a produção biológica das florestas alagadas, macrófitas e algas e, consequentemente, da fauna associada a esses ambientes (Barthem&Goulding 2007). Independentemente dos números obtidos nesse e em outros estudos, o fato mais relevante é que os diferentes padrões de diversidade encontrados refletem a não apenas as extensas dimensões na qual a bacia amazônica se estende, mas também a grande diversidade de ambientes e particularidades químicas e geológicas de cada uma das subbacias que se unem para formar o maior sistema fluvial do mundo.

34

Estimativas de riquezas Os estimadores baseados no conceito estatístico de cobertura de amostra (ACE e ICE) são relativamente novos no campo de estimativas de riqueza (Longino et al., 2002). Em quase todos os casos, as estimativas apresentam comportamento diferenciado, com a curva de espécies atingindo a assíntota em alguns casos e não em outros. No presente trabalho, todas as estimativas de riqueza utilizadas tenderam a não estabilidade, incluindo a curva de acumulação de espécies observadas. Entretanto, a curva do estimador Chao2 tendeu a uma sutil estabilidade que as demais curvas. Nos demais estimadores, a inclinação das curvas acompanhou a curva de acumulação de espécies observadas. A curva do estimador ICE e Chao2 apresentou um acentuado crescimento inicial (nos primeiros 10% de amostras), seguido de uma queda, atingindo a sutil estabilidade somente após a inclusão de um número significativo de amostras. Este comportamento faz com que o estimador ICE e Chao2 seja pouco confiável quando temos um número baixo de amostras, uma vez que ele pode superestimar o número de espécies (Bragagnolo & Pinto-da-Rocha, 2003). Segundo Toti et al. (2000), podemos considera que um bom estimador de riqueza de espécie quando: 1) deve alcançar (ou pelo menos chegar perto) à estabilidade com menos amostras do que são necessárias para a estabilidade da curva de acumulação de espécies observadas, 2) não deve apresentar estimativas que difiram amplamente dos outros estimadores, e 3) deve apresentar estimativas próximas às extrapolações visuais razoáveis da estabilização da curva de acumulação de espécies observadas (Toti et al., 2000). Como não atingimos a estabilidade da curva de acumulação de espécies, as aplicações das considerações de Toti et al. (2000) ficam restritas, definindo que com exceção ao Chao2, todas as estimativas utilizadas no presente estudo, não apresentaram um bom desempenho.

Os ambientes e a ictiofauna Os hábitats de peixes variam muito, não só em características físicas, tais como pH, salinidade, temperatura, teor de oxigênio e luz, mas também diferem imensamente no espaço disponível (Bone & Moore, 2008) e na disponibilidade

35

de alimento entre períodos hidrológicos ou pluviométricos distintos (Goulding, 1980; Lowe-McConnell, 1999; Abelha et al., 2001; Novakowski et al., 2008). Devido à variação na disponibilidade de recursos alimentares, estudos de alimentação em ambientes naturais permitem o reconhecimento de categorias ou guildas tróficas distintas, além de possibilitar inferências sobre sua estrutura, o grau de importância dos diferentes níveis tróficos e as relações entre seus componentes (Novakowski et al., 2008). No presente estudo também foi possível observar a presença de sete guildas tróficas, sendo a distribuição dessas na região estudada fortemente relacionadas as características do ambiente. São elas: Espécies filtradoras que dominam áreas abertas de áreas alagadas ou rios As áreas abertas dos grandes rios e de áreas alagadas há um aumento considerável da comunidade zooplanctônica, como consequência do incremento dos processos fotoautotróficos (Baxter, 1977). Dentre o zooplâncton, os microcrustáceos são os mais encontrados nos conteúdos estomacais de peixes filtradores. Destacamos duas espécies da RESEX com capacidade para filtrar o plâncton (especialização nos rastros branquiais): Hypophthalmus marginatus e Hypophthalmus sp.

Espécies insetívoras que dominam igarapés cobertos por floresta Foram registradas 23 espécies insetívoras em igarapés cobertos por floresta que devido à baixa produção primária do sistema, os recursos alimentares são dominantemente vindos da floresta (alóctone).

Em ambientes tropicais, os

invertebrados terrestres, principalmente insetos adultos, são importante recursos alimentares para os peixes (Fugi et al. 2005), destacando os insetos das ordens Hymenoptera, Coleoptera, Hemiptera e Homoptera (Peretti & Andrian, 2004), que são utilizados quando caem na superfície da água durante o voo. Este recurso torna-se disponível sazonalmente, principalmente em períodos de revoadas (Benneman, 1996). Os insetívoros de igarapés registrados para a RESEX TapajósArapiuns foram: Crenuchus spilurus, Elachocharax junki, Microcharacidium weitzmani, Copella arnoldi, Copella nattereri, Nannostomus sp., Pyrrulina brevis, Gymnotus sp., Brachyhypomus sp., Hypopygus lepturus, Gymnorhamphichthys 36

petiti, Callichthys callichthys, Helogenes marmoratus, Nemuroglanis pauciradiatus, Microglanis sp., Ituglanis amazonicus, Synbranchus marmoratus, Laetacara sp., Aequidens sp., Apistogramma sp., Hyphessobrycon sp., Iguanodectes spilurus e Jupiaba anteroides.

Espécies piscívoras que dominam igarapés cobertos por floresta Na maioria dos ambientes aquáticos, peixes de pequeno porte com grande capacidade reprodutiva e elevada plasticidade alimentar, torna-se um recurso muito disponível para os peixes de hábito piscívoro. Nos pequenos igarapés foi possível encontrar seis espécies piscívoras, são elas: Acestrorhynchus microlepis, Acestrorhynchus minimus, Acestrorhynchus sp., Erythrinus erythrinus, Hoplias curupira, Charax gibbosus

Espécies frugívoras que dominam ambientes alagados Foram registradas cinco espécies frugívoras na RESEX Arapius-Tapajós, Myleus sp., Myleus torquatus, Myloplus asterias, Triportheus albus e Auchenipterichthys longimanus que, principalmente no período de inundação, utilizam a vegetação ripária na alimentação. Itens da vegetação ripária, principalmente os frutos e sementes, têm sido registrados como recursos alimentares para peixes, particularmente em rios tropicais (Albretcht & Caramaschi, 2003 e Alvim & Peret, 2004). Algumas espécies tem sido apontadas como potenciais dispersoras de sementes, como é o caso de Lithodoras dorsalis, no baixo Tocantins (Barbosa, 2012) e Auchenipterichthys longimanus em rios afogados da Amazônia Oriental (Freitas, 2010).

Espécies insetívoras que dominam os grandes dos rios e áreas alagáveis Os invertebrados aquáticos, especialmente larvas de insetos (Lowe-McConnell, 1987) tais como Chironomidae e Ephemeroptera, representam um recurso alimentar para peixes dos grandes rios e áreas alagadas (Hahn et al. 2004). Os Chironomidae estão entre os invertebrados aquáticos mais consumidos pelos peixes, fato associado à elevada abundância deste grupo em muitos ambientes aquático (Higuti & Takeda, 2002). Registramos para a RESEX 20 espécies insetívoras dos grandes canais, são elas: Argonectes sp., Bivibranchia sp., Hemiodus

goeldi,

Hemiodus

immaculatus,

Hemiodus

unimaculatus, 37

Micromischodus sugillatus, Brycon pesu, Bryconops caudomaculatus, Bryconops sp.,

Hassar

orestis,

Nemadoras

leporhinus,

Scorpiodoras

heckelii,

Tetranematichthys sp., Moenkhausia collettii,Moenkhausia cotinho, Moenkhausia oligolepis, Moenkhausia sp., Achirus sp., Anchovia surinamensis e Ilisha amazônica

Espécies piscívoras que dominam os canais dos rios e áreas alagadas Os piscívoros registrados para a RESEX que estão associados aos canais dos rios e suas área alagadas foram: Acestrorhynchus falcirostris, Boulengerella maculata, Pimelodus sp., Sorubim elongatus, Pachypops fourcroi, Plagioscion squamosissimus, Potamotrygon sp., Cichla sp. Cichla temensis, Hoplias malabaricus, Ageneiosus brevifilis, Ageneiosus sp.

Espécies detritívoras ou raspadoras de fundo O consumo de algas, principalmente as perifiticas, são consumidas em grandes quantidades pelos peixes, principalmente pelas famílias Curimatidae e Loricariidae, aqui representadas pelas espécies: Curimata inornata, Curimata vittata, Curimatella immaculata, Curimatopsis crypticus, Cyphocharax

sp.,

Hypoptopoma elongatum, Limatulichthys griseus, Loricariichthys sp., Peckoltia sp.

Uso e conservação da ictiofauna Os dados obtidos no presente estudo reforçam a idéia de que a região apresenta um forte potencial pra a pesca comercial e de subsistência, corroborando os estudos de Barthem & Golding (2007), que destacam a importância de caracídeos, bagres e ciclídeos como os principais grupos de peixes importantes para o consumo. Os limites das unidades de conservação mesmo de uso direto desempenham um papel na manutenção dos estoques pesqueiros, por utilizarem diversos ambientes como áreas de desova, crescimento e alimentação. A pesca comercial é muito desenvolvida no rio Tapajós e seus principais tributários, tendo na cidade de Santarém, o principal ponto de descarga de pescado comercializado (Ferreira et al. 1998). Além disso, a pesca artesanal 38

também é bastante desenvolvida pelos moradores das comunidades ribeirinhas, que tem nos peixes uma importante fonte de proteínas (Piperata, 2007). LITERATURA CITADA Agostinho, A.A.; Thomaz, S.M. & Gomes, L.C. 2005. Conservação da biodiversidade em águas continentais do Brasil. Megadiversidade 1(1): 71-78. Albert, J.A. & Reis, R.E. 2011. Historical Biogeography of neotropical freshwater fishes. University of California Press. 368 p. Albretcht, M.P. & Caramaschi, E.P. 2003. Feeding ecology of Leporinus friderici (Teleostei: Anostomidae) in the Upper Tocantins River, Central Brazil, before and after installation of a hydroeletric plant. Studies on Neotropical Fauna and Envirnmental, 38(1): 33-40. Aleixo, A. 2009. Conceitos de espécie e suas implicações para a conservação. Megadiversidade, 5 (1): 87-95. Alvim, M.C.C. & Peret, A.C. 2004. Food resources sustaining the fish fauna in a section of the upper São Francisco River in Três Marias, MG, Brazil. Brazilian Journal of Biology, 64(2): 195-202. Aquino, A. E. & S. A. Schaefer. 2010. Systematics of the genus Hypoptopoma Günther, 1868 (Siluriformes, Loricariidae). Bulletin of the American Museum of Natural History, 336. 110p. Aquino, P.P.U.; Schneider, M.; Martins-Silva, M.J., Padovesi-Fonseca, C.; Arakawa, H.B.; Cavalcanti, D.R. 2009. Ictiofauna dos córregos do Parque Nacional de Brasília, bacia do Alto Rio Paraná, Distrito Federal, Brasil Central. Biota Neotropica, 9: 217-230. Araújo, F.G. 1998. Adaptação do índice de integridade biótica usando a comunidade de peixes para o rio Paraíba do Sul. Revista Brasileira de Biologia58(4): 547-558. Barbosa, T.A.P. 2012. Aspectos ecológicos do bacu-pedra Lithodoras dorsalis (Valenciennes, 1840) (Siluriformes: Doradidae) na foz amazônica, Brasil. Unpublished Master Dissertation, Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, 70p. Bastos, L.P. & Abilhoa, V. 2004. A utilização do Índice de Integridade Biótica para avaliação da qualidade de água um estudo de caso para riachos urbanos da bacia hidrográfica do rio Belém, Curitiba, Paraná. Revista Estudos de Biologia, 26(55): 3344. Baxter, R.M. 1977. Environmental effects of dams and impoundments. Annual Review of Ecology and Systematics 8: 255-283. 39

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43

RELATÓRIO 2

AVIFAUNA

Alexandre Aleixo¹; Sidnei Dantas2; Rodrigo Teixeira1 ¹Museu Paraense Emilio Goeldi, Coordenação de Zoologia, Caixa Postal 399, CEP 66040-170, Belém-PA 2 Curso de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal do Pará / Museu Paraense Emílo Goeldi, Belém, PA.

INTRODUÇÃO Na região amazônica brasileira são conhecidas, até o momento, cerca de 1300 espécies de aves, das quais mais de 630 são endêmicas desse bioma gigantesco (Aleixo et al., em prep.). A avifauna da Amazônia não se distribui de modo uniforme, os grandes rios, e muitos rios menores, limitam a distribuição de diversas espécies, que em muitos casos são substituídas por espécies irmãs na margem oposta do rio. Isso cria áreas entre os grandes rios denominadas Centros de Endemismo (CE), sendo reconhecidas atualmente nove CEs na Amazônia (Silva et al., 2005; Borges e Silva, 2012). Além da barreira dos rios, outros fatores causam a heterogeneidade da distribuição das espécies no bioma. Diversas espécies são pontuais, muito raras, restritas a áreas pequenas, como microbacias, ou especialistas em ambientes pontuais, como bambuzais, florestas de areia branca e campinas. Desse modo, é essencial que, num levantamento, se cubra a maior quantidade possível de ambientes para se ter uma ideia melhor da composição da avifauna. A área localizada entre os rios Tapajós e Madeira, conhecida como Centro de Endemismo Rondônia (CE Rondônia), abriga uma impressionante avifauna, para as quais há informações de poucas localidades. Inventários rápidos em áreas diversas nessa região têm registrado entre 265 e quase 500 espécies (Santos et al, 2011; Dantas et al., 2011; Whitaker, 2008). A presença de várias unidades de conservação no CE Rondônia é um importante instrumento de proteção à biodiversidade local, mas ela está ainda começando a ser conhecida, de modo que inventários em qualquer região são de fundamental importância para uma compreensão da distribuição e raridade das espécies envolvidas. No presente relatório, apresentamos os resultados de duas expedições de levantamento de aves na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (RESEX TapajósArapiuns), localizada na margem esquerda (oeste) do Rio Tapajós no município de Santarém, Pará.

MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em duas excursões, a primeira de 12 a 25 de junho de 2011, e a segunda de 29 de março a 11 de abril de 2012. A primeira excursão foi realizada em dois pontos da Resex Tapajós-Arapiuns, descritos a seguir: 44

Comunidade Nova Canaã (03º09'S; 55º49'W): A coleta de dados foi realizada nas áreas ao redor da comunidade. As áreas amostradas incluíram áreas contínuas de floresta alta de terra firme de solo parcialmente arenoso, bem como florestas alagáveis de igapó às margens do rio Maró. De um modo geral, todas áreas visitadas se encontravam em bom estado de conservação, embora áreas antropizadas como capoeiras em diferentes estágios sucessionais e roçados também estivessem presentes, tendo sido igualmente amostrados. Comunidade Alto Mentai (02º47'S; 55º36'W): O ponto de coleta de dados se situava num raio de 4-5 km da comunidade, em uma área predominantemente de floresta de terra firme, com copa de até 30 metros e sub-bosque pouco denso, que incluía algumas áreas de vegetação secundária e de floresta alagada nas proximidades do rio Mentai. Próximo à comunidade, uma área de floresta baixa crescendo em solo arenoso, com aspecto de campinarana, também foi amostrada. A segunda excursão foi realizada nos pontos abaixo: Comunidade Tucumatuba (03º05'39"S; 55º32'08,3"W): O ponto de coleta de dados se localizava a cerca de 40 km a oeste da comunidade, em uma área predominantemente de floresta de terra firme, com copa de até 30 metros e sub-bosque pouco denso, que incluía algumas áreas de vegetação secundária e de floresta alagada. Próximo ao acampamento, havia uma área pequena de floresta de solo arenoso, com aspecto de campinarana, com árvores baixas e moitas de liquens no solo. Comunidade Capixauã (02º35'12,6"S; 55º11'42,6"W): A coleta de dados foi realizada nas áreas ao redor dessa comunidade. As áreas amostradas incluem um fragmento de floresta de terra firme de solo parcialmente arenoso, cercada por uma matriz de vegetação arbustiva de baixo porte, com aspecto de cerrado (árvores de tronco rugoso e retorcido, etc). A floresta nessa área é de copa mais baixa que a da Tucumatuba, com sub-bosque mais denso, com maior presença de palmeiras. Foi amostrada também uma área de campo aberto, uma formação em solo arenoso com predominância maciça de gramíneas, com árvores e arbustos esparsos e pequenos. Em todas as localidades acima, o levantamento qualitativo consistiu em caminhadas diurnas e noturnas através de ambientes e vegetações distintos na área de estudo com o objetivo de registrar as aves presentes a partir de contatos visuais e auditivos. Durante este levantamento, diversas espécies de aves observadas foram documentadas com a gravação digital de suas vocalizações por um gravador Marantz® PMD 670 ou Sony PCM D50, acoplados a um microfone direcional Sennheiser® ME-88 ou ME-66. Em cada localidade também foram utilizadas redes de neblina de 12 x 2 m para a captura de aves com o objetivo de complementar o levantamento qualitativo descrito acima. A cada dia de amostragem, redes instaladas nas proximidades dos mesmos transectos percorridos durante o levantamento qualitativo permaneciam abertas durante a manhã por um período de pelo menos 6 horas (geralmente entre 6:00 – 12:00 hs). Um total de 15 redes de neblina foi utilizado ao longo de 18 dias (09 dias em cada excursão), permitindo um esforço total 1600 h/rede para a Resex. Parte igualmente importante do inventário da avifauna local foi a coleta de espécimes testemunho de algumas espécies registradas visualmente e/ou gravadas, notadamente aquelas de difícil identificação e de ocorrência previamente não documentada na região. As coletas foram realizadas com o auxílio de redes de neblina e uma espingarda calibre 16. Para cada espécime coletado, os seguintes dados foram registrados durante sua dissecação: localidade de coleta (com coordenadas obtidas a partir de GPS), peso, estágio na muda de penas, sexo, tamanho das gônadas, presença ou ausência da bursa de Fabricius, grau de ossificação do crânio, quantidade de gordura, cor da íris e partes nuas e finalmente habitat e estrato da vegetação onde o espécime foi coletado. Para cada espécime coletado, uma amostra de tecido foi também preservada em álcool etílico absoluto imediatamente após o sacrifício do animal. Geralmente, essas amostras incluíram partes do fígado, coração e 45

músculo peitoral. Todos os espécimes coletados foram depositados na coleção ornitológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) em Belém, Pará.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registradas 372 espécies na Resex Tapajós-Arapiuns (312 na 1ª campanha, 285 na 2 ª). Em Nova Canaã, foram registradas 259 espécies; no Alto Mentai, 245; na área próxima à comunidade Tucumatuba foram registradas 182 espécies, e na comunidade Capixauã, 217. As espécies registradas encontram-se no Anexo 1. Das espécies registradas, quatro encontram-se listadas em algum grau de ameaça na lista vermelha da IUCN: Penelope pileata (Vulnerável), Morphnus guianensis (Quase Ameaçada), Pyrilia vulturina (Vulnerável) e Neomorphus squamiger (Vulnerável). Com exceção de M. guianensis, essas espécies são também endêmicas da Amazônia brasileira. Outras espécies merecem destaque para conservação, podendo ser agrupadas em diversas categorias de interesse, listadas abaixo: 1) Espécies endêmicas da Amazônia Brasileira: Psophia viridis, Pyrrhura amazonum, Pyrilia vulturina, Neomorphus squamiger, Capito brunneipectus, Hypocnemis

striata,

Phlegopsis

borbae,

Rhegmatorhina

berlepschi,

Dendrocolaptes hoffmannsi, Xipholena lamellipennis, Poecilotriccus senex e Polioptila paraensis. 2)

Raras e com distribuições localizadas na margem sul do Amazonas:

Antrostomus sericocaudatus, Phaethornis rupurumii, Discosura longicaudus, Polythmus

theresiae,

Cercomacra

manu,

Conopophaga

melanogaster,

Pachyramphus surinamus e Conopias parvus. 3)

Cinegéticas: Tinamus tao, T. major, Penelope pileata, Aburria cujubi e

Pauxi tuberosa. Algumas das espécies da categoria 2 são encontradas fora da Amazônia, mas também em distribuições localizadas, como A. sericocaudatus e D. longicauda. Outras, como P. theresiae e C. manu são especialistas em ambientes pontuais (no caso citado, campinas e tabocais, respectivamente). Além dessas espécies, vários táxons de distribuição ampla na Amazônia devem ser divididos em várias espécies de distribuição restrita a um ou poucos interflúvios em breve, o que aumentará a lista de espécies de interesse conservacionista consideravelmente. Tal é o caso de Campylorhamphus procurvoides, Lepidocolaptes albolineatus, Megascops usta, dentre outras. Ao todo, 225 espécimes de 103 espécies foram coletados na Resex Arapiuns (Anexo 2). O número de espécies registradas nesse trabalho é semelhante ao de outros trabalhos realizados no interflúvio Tapajós-Madeira (Santos et al., 2011; Oren e Parker III, 1997; Aleixo e Poletto, 2007; Dantas et al., 2011; Whittaker, 2008), o que indica que a Resex Arapiuns é uma área importante para a conservação da avifauna local. A presença de predadores de topo de cadeia (Harpia harpyja, Morphnus gujanensis, Spizaetus ornatus) e de aves cinegéticas de grande porte (Mitu tuberosa, Tinamus tao, Aburria cujubi) reforça essa impressão. 46

CONCLUSÕES A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns abriga uma comunidade de aves bastante significativa do interflúvio Madeira-Tapajós, incluindo predadores de topo de cadeia e espécies cinegéticas de grande porte. Importantíssima é a presença, também, de espécies ameaçadas de extinção, entre elas Neomorphus squamiger, um grande cuculídeo terrícola restrito a uma área pequena na Amazônia brasileira, do qual se conhece muito pouco, havendo poucas peles em museus e poucas avistagens em seu ambiente natural. a Resex Tapajós-Arapiuns funciona, portanto, como uma importante unidade de conservação para esses táxons. A lista de espécies, apesar de ser muito boa para o curto período de trabalho, ainda está incompleta. Recomenda-se a continuação desses estudos, para que se façam registros adicionais, e se tenha uma ideia melhor da real composição da avifauna da região.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aleixo, A.; F. Poletto. 2007. Birds of an open vegetation enclave in southern Brazilian Amazonia. The Wilson Journal of Ornithology 119 (4): 610-630. Borges, S.H.; J.M.C. Silva. 2012. A New Area of Endemism for Amazonian Birds in the Rio Negro Basin. The Wilson Journal of Ornithology 124(1): 15-23. Dantas, S.M.; M.S. Faccio; M.F. Lima. 2011. Avifaunal inventory of the Floresta Nacional de Pau-Rosa, Maues, state of Amazonas, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia 19(2): 154-166. Oren, D. C. and Parker III, T. A. 1997. Avifauna of the Tapajos National Park and vicinity, Amazonian Brazil. Ornithological Monographs48: 493-525. Santos, M.P.D.; A. Aleixo; F.M. d’Horta; C.E.B. Portes. 2011. Avifauna of the Juruti Region, Pará, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia 19(2): 134-153. Silva, J. M. C., A . B. Rylands, G. A. B. da Fonseca. 2005. O destino das áreas de endemismo da Amazônia. Megadiversidade 1: 124-131. Whittaker, A. 2009. Pousada Rio Roosevelt: a provisional avifaunal inventory in southwestern Amazonian Brazil, with information on life history, new distributional data and comments on taxonomy. Cotinga 31: 20-43.

47

ANEXO 1 Lista das aves registradas na Resex Tapajós-Arapiuns durante os inventários de 2011 e 2012, por localidade. Famílias e Espécies

Nome em português

Localidades Nova Canaã

Alto Mentai



Tucumatuba

Capixauã

Tinamiformes Huxley, 1872 Tinamidae Gray, 1840 Tinamus tao Temminck, 1815

azulona



[Tinamus major (Gmelin, 1789)]a

inhambu-de-cabeça-vermelha



Tinamus guttatus Pelzeln, 1863

inhambu-galinha

Crypturellus cinereus (Gmelin, 1789)

inhambu-preto

Crypturellus soui (Hermann, 1783)

tururim

Crypturellus undulatus (Temminck, 1815)

jaó

Crypturellus strigulosus (Temminck, 1815)

inhambu-relógio





Crypturellus variegatus (Gmelin, 1789)

inhambu-anhangá





asa-branca





















● ● ●





Anseriformes Linnaeus, 1758 Anatidae Leach, 1820 Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) Galliformes Linnaeus, 1758 Cracidae Rafinesque, 1815 Ortalis guttata (Spix, 1825)



aracuã

Penelope sp. b



Penelope pileata Wagler, 1830

jacupiranga

Aburria cujubi (Pelzeln, 1858)

cujubi

Pauxi tuberosa (Spix, 1825)

mutum-cavalo



● ●



● ●

Odontophoridae Gould, 1844 Odontophorus gujanensis (Gmelin, 1789)

uru-corcovado



biguatinga







Suliformes Sharpe, 1891 Anhingidae Reichenbach, 1849 Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766)

48

Pelecaniformes Sharpe, 1891 Ardeidae Leach, 1820 Famílias e Espécies

Nome em português

Localidades Nova Canaã

Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783)

socó-boi

Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758)

savacu

Butorides striata (Linnaeus, 1758)

socozinho

Ardea alba Linnaeus, 1758

garça-branca-grande

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã

● ● ●

Threskiornithidae Poche, 1904 Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789)

coró-coró





Cathartiformes Seebohm, 1890 Cathartidae Lafresnaye, 1839 ●

Cathartes aura (Linnaeus, 1758)

urubu-de-cabeça-vermelha

Cathartes burrovianus Cassin, 1845

urubu-de-cabeça-amarela

Cathartes melambrotus Wetmore, 1964

urubu-da-mata





Coragyps atratus (Bechstein, 1793)

urubu-de-cabeça-preta





Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758)

urubu-rei

● ●



● ●





Accipitriformes Bonaparte, 1831 Pandionidae Bonaparte, 1854 Pandion haliaetus (Linnaeus, 1758)



águia-pescadora

Accipitridae Vigors, 1824 ●

Leptodon cayanensis (Latham, 1790)

gavião-de-cabeça-cinza

Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758)

gavião-tesoura

Harpagus bidentatus (Latham, 1790)

gavião-ripina



Ictinia plumbea (Gmelin, 1788)

sovi



Busarellus nigricollis (Latham, 1790)

gavião-belo

Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817)

gavião-caramujeiro

[Accipiter bicolor (Vieillot, 1817)]

gavião-bombachinha-grande



Leucopternis kuhli Bonaparte, 1850

gavião-vaqueiro



Pseudastur albicollis (Latham, 1790)

gavião-branco





● ● ● ● ● ●



49





Urubitinga urubitinga (Gmelin, 1788)

gavião-preto

Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)

gavião-carijó

Buteo nitidus (Latham, 1790)

gavião-pedrês



Buteo brachyurus Vieillot, 1816

gavião-de-cauda-curta



Famílias e Espécies





Nome em português

Localidades Nova Canaã

Morphnus guianensis (Daudin, 1800)

uiraçu-falso

Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)

gavião-real

Spizaetus tyrannus (Wied, 1820)

gavião-pega-macaco

Spizaetus ornatus (Daudin, 1800)

gavião-de-penacho

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã

● ● ●





Falconiformes Bonaparte, 1831 Falconidae Leach, 1820 Daptrius ater Vieillot, 1816

gavião-de-anta





Ibycter americanus (Boddaert, 1783)

gralhão



Caracara plancus (Miller, 1777)

caracará

Milvago chimachima (Vieillot, 1816)

carrapateiro



Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758)

acauã





Micrastur ruficollis (Vieillot, 1817)

falcão-caburé







Micrastur mintoni Whittaker, 2002

falcão-críptico







Micrastur mirandollei (Schlegel, 1862)

tanatau





Micrastur semitorquatus (Vieillot, 1817)

falcão-relógio



Falco rufigularis Daudin, 1800

cauré



jacamim-de-costas-verdes





● ● ● ●







Gruiformes Bonaparte, 1854 Psophiidae Bonaparte, 1831 Psophia viridis Spix, 1825





Rallidae Rafinesque, 1815 Aramides cajanea (Statius Muller, 1776)

saracura-três-potes

Laterallus viridis (Statius Muller, 1776)

sanã-castanha

Porzana albicollis (Vieillot, 1819)

sanã-carijó



● ●



Heliornithidae Gray, 1840

50

picaparra



Vanellus cayanus (Latham, 1790)

batuíra-de-esporão



Charadrius collaris Vieillot, 1818

batuíra-de-coleira



Heliornis fulica (Boddaert, 1783) Charadriiformes Huxley, 1867 Charadriidae Leach, 1820

Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854 Famílias e Espécies

Nome em português

Localidades Nova Canaã

Jacana jacana (Linnaeus, 1766)

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã ●

jaçanã

Sternidae Vigors, 1825 Phaetusa simplex (Gmelin, 1789)



trinta-réis-grande



Columbiformes Latham, 1790 Columbidae Leach, 1820 ●

Columbina passerina (Linnaeus, 1758)

rolinha-cinzenta

[Columbina minuta (Linnaeus, 1766)]

rolinha-de-asa-canela



Columbina talpacoti (Temminck, 1811)

rolinha-roxa



Claravis pretiosa (Ferrari-Perez, 1886)

pararu-azul



Patagioenas speciosa (Gmelin, 1789)

pomba-trocal





Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792)

pomba-galega





Patagioenas plumbea (Vieillot, 1818)

pomba-amargosa





Patagioenas subvinacea (Lawrence, 1868)

pomba-botafogo





Zenaida auriculata (Des Murs, 1847)

pomba-de-bando

Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855

juriti-pupu



Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792)

juriti-gemedeira



Geotrygon montana (Linnaeus, 1758)

pariri

● ●

● ● ● ● ●







Psittaciformes Wagler, 1830 Psittacidae Rafinesque, 1815 ●

Ara macao (Linnaeus, 1758)

araracanga

Ara chloropterus Gray, 1859

arara-vermelha-grande



Orthopsittaca manilata (Boddaert, 1783)

maracanã-do-buriti



● ●



51





Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776)

periquitão-maracanã

Aratinga aurea (Gmelin, 1788)

periquito-rei

Pyrrhura perlata (Spix, 1824)

tiriba-de-barriga-vermelha

Pyrrhura amazonum Hellmayr, 1906

tiriba-de-hellmayr







Brotogeris chrysoptera (Linnaeus, 1766)

periquito-de-asa-dourada







Touit purpuratus (Gmelin, 1788)

apuim-de-costas-azuis

Pyrilia vulturina (Kuhl, 1820)

curica-urubu





Pionus menstruus (Linnaeus, 1766)

maitaca-de-cabeça-azul





Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã

Famílias e Espécies

● ● ●



Nome em português





Localidades

Pionus fuscus (Statius Muller, 1776)

maitaca-roxa









Amazona farinosa (Boddaert, 1783)

papagaio-moleiro









Amazona amazonica (Linnaeus, 1766)

curica

Amazona autumnalis (Linnaeus, 1758)

papagaio-diadema

Amazona ochrocephala (Gmelin, 1788)

papagaio-campeiro







Deroptyus accipitrinus (Linnaeus, 1758)

anacã







Coccycua minuta (Vieillot, 1817)

chincoã-pequeno



Piaya cayana (Linnaeus, 1766)

alma-de-gato







Piaya melanogaster (Vieillot, 1817)

chincoã-de-bico-vermelho





Crotophaga major Gmelin, 1788

anu-coroca



Crotophaga ani Linnaeus, 1758

anu-preto



Tapera naevia (Linnaeus, 1766)

saci

Neomorphus squamiger Todd, 1925

jacu-estalo-escamoso

● ● ●

Cuculiformes Wagler, 1830 Cuculidae Leach, 1820 ● ● ●

● ●



Strigiformes Wagler, 1830 Strigidae Leach, 1820 Megascops choliba (Vieillot, 1817)

corujinha-do-mato





Megascops usta (Sclater, 1858)

corujinha-relógio





Lophostrix cristata (Daudin, 1800)

coruja-de-crista



● ●





52

Pulsatrix perspicillata (Latham, 1790)

murucututu

Strix sp. Glaucidium hardyi Vielliard, 1990

caburé-da-amazônia

















Caprimulgiformes Ridgway, 1881 Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851 ●

Nyctibius aethereus (Wied, 1820)

mãe-da-lua-parda

Nyctibius griseus (Gmelin, 1789)

mãe-da-lua





Nyctibius bracteatus Gould, 1846

urutau-ferrugem





bacurau-ocelado





Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba



Caprimulgidae Vigors, 1825 Nyctiphrynus ocellatus (Tschudi, 1844) Famílias e Espécies

Nome em português

● Localidades Capixauã

Antrostomus rufus (Boddaert, 1783)

joão-corta-pau



Antrostomus sericocaudatus Cassin, 1849

bacurau-rabo-de-seda







Lurocalis semitorquatus (Gmelin, 1789)

tuju







Hydropsalis leucopyga (Spix, 1825)

bacurau-de-cauda-barrada

Hydropsalis nigrescens (Cabanis, 1848)

bacurau-de-lajeado

Hydropsalis albicollis (Gmelin, 1789)

bacurau

Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789)

bacurau-tesoura



Chordeiles acutipennis (Hermann, 1783)

bacurau-de-asa-fina



● ● ●







Apodiformes Peters, 1940 Apodidae Olphe-Galliard, 1887 [Chaetura spinicaudus (Temminck, 1839)]

andorinhão-de-sobre-branco

Chaetura cinereiventris Sclater, 1862

andorinhão-de-sobre-cinzento

Chaetura brachyura (Jardine, 1846)

andorinhão-de-rabo-curto

Tachornis squamata (Cassin, 1853)

andorinhão-do-buriti

Panyptila cayennensis (Gmelin, 1789)

andorinhão-estofador



● ●



● ● ●





Trochilidae Vigors, 1825 Phaethornis rupurumii Boucard, 1892

rabo-branco-do-rupununi

Phaethornis ruber (Linnaeus, 1758)

rabo-branco-rubro

● ●







53







Phaethornis malaris (Nordmann, 1835)

besourão-de-bico-grande

Campylopterus largipennis (Boddaert, 1783)

asa-de-sabre-cinza



Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817)

beija-flor-de-veste-preta



[Topaza pella (Linnaeus, 1758)]

beija-flor-brilho-de-fogo



Discosura longicaudus (Gmelin, 1788)

bandeirinha



Chlorostilbon notatus (Reich, 1793)

beija-flor-de-garganta-azul



Thalurania furcata (Gmelin, 1788)

beija-flor-tesoura-verde

Polytmus theresiae (Da Silva Maia, 1843)

beija-flor-verde







● ●

Heliomaster longirostris (Audebert & Vieillot, 1801) ●

bico-reto-cinzento Trogoniformes A. O. U., 1886 Trogonidae Lesson, 1828 Famílias e Espécies

Nome em português

Localidades Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã

Trogon melanurus Swainson, 1838

surucuá-de-cauda-preta









Trogon viridis Linnaeus, 1766

surucuá-grande-de-barriga-amarela









Trogon ramonianus Deville & DesMurs, 1849

surucuá-pequeno







Trogon curucui Linnaeus, 1766

surucuá-de-barriga-vermelha





Trogon rufus Gmelin, 1788

surucuá-de-barriga-amarela





Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766)

martim-pescador-grande





Chloroceryle amazona (Latham, 1790)

martim-pescador-verde





Chloroceryle aenea (Pallas, 1764)

martinho

Chloroceryle americana (Gmelin, 1788)

martim-pescador-pequeno

● ●



Coraciiformes Forbes, 1844 Alcedinidae Rafinesque, 1815 ● ●



● ●

Momotidae Gray, 1840 Baryphthengus martii (Spix, 1824)

juruva-ruiva





Momotus momota (Linnaeus, 1766)

udu-de-coroa-azul









Galbuliformes Fürbringer, 1888 Galbulidae Vigors, 1825

54

Galbula cyanicollis Cassin, 1851

ariramba-da-mata







Galbula leucogastra Vieillot, 1817

ariramba-bronzeada







Galbula dea (Linnaeus, 1758)

ariramba-do-paraíso







Jacamerops aureus (Statius Muller, 1776)

jacamaraçu









Notharchus hyperrhynchus (Sclater, 1856)

macuru-de-testa-branca









Notharchus tectus (Boddaert, 1783)

macuru-pintado









Bucco tamatia Gmelin, 1788

rapazinho-carijó





Bucco capensis Linnaeus, 1766

rapazinho-de-colar







Malacoptila rufa (Spix, 1824)

barbudo-de-pescoço-ferrugem







Nonnula [rubecula] (Spix, 1824)

macuru





Monasa morphoeus (Hahn & Küster, 1823)

chora-chuva-de-cara-branca





Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782)

Urubuzinho





Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã

capitão-de-peito-marrom









Ramphastos tucanus Linnaeus, 1758

tucano-grande-de-papo-branco









Ramphastos vitellinus Lichtenstein, 1823

tucano-de-bico-preto









Selenidera gouldii (Natterer, 1837)

saripoca-de-gould





Pteroglossus bitorquatus Vigors, 1826

araçari-de-pescoço-vermelho







Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758)

araçari-de-bico-branco









Picumnus aurifrons Pelzeln, 1870

pica-pau-anão-dourado





Melanerpes cruentatus (Boddaert, 1783)

benedito-de-testa-vermelha









Veniliornis affinis (Swainson, 1821)

picapauzinho-avermelhado









Piculus flavigula (Boddaert, 1783)

pica-pau-bufador









Piculus chrysochloros (Vieillot, 1818)

pica-pau-dourado-escuro

Bucconidae Horsfield, 1821





● ●

Piciformes Meyer & Wolf, 1810 Famílias e Espécies

Nome em português

Localidades

Capitonidae Bonaparte, 1838 Capito brunneipectus Chapman, 1921 Ramphastidae Vigors, 1825

Picidae Leach, 1820 ●



55





Celeus grammicus (Natterer & Malherbe, 1845)

picapauzinho-chocolate

Celeus elegans (Statius Muller, 1776)

pica-pau-chocolate



Celeus flavus (Statius Muller, 1776)

pica-pau-amarelo









Celeus torquatus (Boddaert, 1783)

pica-pau-de-coleira







Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766)

pica-pau-de-banda-branca



Campephilus rubricollis (Boddaert, 1783)

pica-pau-de-barriga-vermelha



Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788)

pica-pau-de-topete-vermelho





Terenura spodioptila Sclater & Salvin, 1881

zidedê-de-asa-cinza





Myrmornis torquata (Boddaert, 1783)

pinto-do-mato-carijó





Microrhopias quixensis (Cornalia, 1849)

papa-formiga-de-bando





Myrmeciza ferruginea (Statius Muller, 1776)

formigueiro-ferrugem

Myrmeciza atrothorax (Boddaert, 1783)

formigueiro-de-peito-preto



Epinecrophylla leucophthalma (Pelzeln, 1868)

choquinha-de-olho-branco



Epinecrophylla ornata (Sclater, 1853)

choquinha-ornada



● ●

● ●

Passeriformes Linnaeus, 1758 Thamnophilidae Swainson, 1824

Famílias e Espécies





● ● ●





Nome em português

Localidades Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã

Myrmotherula brachyura (Hermann, 1783)

choquinha-miúda









Myrmotherula sclateri Snethlage, 1912

choquinha-de-garganta-amarela









Myrmotherula multostriata Sclater, 1858

choquinha-estriada-da-amazônia

Myrmotherula hauxwelli (Sclater, 1857)

choquinha-de-garganta-clara







Myrmotherula axillaris (Vieillot, 1817)

choquinha-de-flanco-branco







Myrmotherula longipennis Pelzeln, 1868

choquinha-de-asa-comprida







Myrmotherula iheringi Snethlage, 1914

choquinha-de-ihering





Myrmotherula menetriesii (d'Orbigny, 1837)

choquinha-de-garganta-cinza







Formicivora grisea (Boddaert, 1783)

papa-formiga-pardo



Thamnomanes saturninus (Pelzeln, 1878)

uirapuru-selado









Thamnomanes caesius (Temminck, 1820)

ipecuá









[Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764)]

choca-barrada



● ●

56

































papa-formiga-do-igarapé







guarda-várzea







Myrmoborus myotherinus (Spix, 1825)

formigueiro-de-cara-preta









Cercomacra cinerascens (Sclater, 1857)

chororó-pocuá









1859) Cercomacra manu Fitzpatrick & Willard, 1990

chororó-negro chororó-de-manu





● ●



Hypocnemis striata (Spix, 1825)

cantador-estriado









Willisornis poecilinotus (Cabanis, 1847)

rendadinho







mãe-de-taoca







mãe-de-taoca-dourada



Thamnophilus schistaceus d'Orbigny, 1835

choca-de-olho-vermelho

Thamnophilus stictocephalus Pelzeln, 1868

choca-de-natterer

Thamnophilus aethiops Sclater, 1858

choca-lisa



Thamnophilus amazonicus Sclater, 1858

choca-canela



Cymbilaimus lineatus (Leach, 1814)

papa-formiga-barrado

Taraba major (Vieillot, 1816)

choró-boi

Sclateria naevia (Gmelin, 1788) Hylophylax punctulatus (Des Murs, 1856)

● ●

Cercomacra nigrescens (Cabanis & Heine,

Phlegopsis nigromaculata (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) Phlegopsis borbae Hellmayr, 1907 Famílias e Espécies

Nome em português

Localidades Nova Canaã

Rhegmatorhina berlepschi (Snethlage, 1907)



Alto Mentai

Tucumatuba

mãe-de-taoca-arlequim





chupa-dente-grande



Capixauã

Conopophagidae Sclater & Salvin, 1873 Conopophaga melanogaster Ménétriès, 1835 Grallariidae Sclater & Salvin, 1873 Grallaria varia (Boddaert, 1783)

tovacuçu



Hylopezus whittakeri Carneiro et al. 2012

torom-carijó



Hylopezus berlepschi (Hellmayr, 1903)

torom-torom

Myrmothera campanisona (Hermann, 1783)

tovaca-patinho



● ● ●









Rhinocryptidae Wetmore, 1930 (1837) Liosceles thoracicus (Sclater, 1865)

corneteiro-da-mata



57

Formicariidae Gray, 1840 galinha-do-mato







pinto-do-mato-de-cara-preta







Sclerurus mexicanus Sclater, 1857

vira-folha-de-peito-vermelho





Sclerurus rufigularis Pelzeln, 1868

vira-folha-de-bico-curto





Sclerurus caudacutus (Vieillot, 1816)

vira-folha-pardo





Dendrocincla fuliginosa (Vieillot, 1818)

arapaçu-pardo





Dendrocincla merula (Lichtenstein, 1829)

arapaçu-da-taoca





Deconychura longicauda (Pelzeln, 1868)

arapaçu-rabudo







Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818)

arapaçu-verde









Certhiasomus stictolaemus (Pelzeln, 1868)

arapaçu-de-garganta-pintada



Glyphorynchus spirurus (Vieillot, 1819)

arapaçu-de-bico-de-cunha









Xiphorhynchus ocellatus (Spix, 1824)

arapaçu-ocelado









Xiphorhynchus spixii (Lesson, 1830)

arapaçu-de-spix

Xiphorhynchus obsoletus (Lichtenstein, 1820)

arapaçu-riscado





Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820)

arapaçu-de-garganta-amarela









Nova Canaã

Alto Mentai

Formicarius colma Boddaert, 1783



Formicarius analis (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) Scleruridae Swainson, 1827

Dendrocolaptidae Gray, 1840

Famílias e Espécies

Nome em português



Localidades Tucumatuba

Capixauã

Campylorhamphus procurvoides (Lafresnaye, 1850) arapaçu-de-bico-curvo





Dendroplex picus (Gmelin, 1788)

arapaçu-de-bico-branco





Lepidocolaptes albolineatus (Lafresnaye, 1845)

arapaçu-de-listras-brancas









Dendrocolaptes certhia (Boddaert, 1783)

arapaçu-barrado









Dendrocolaptes hoffmannsi Hellmayr, 1909

arapaçu-marrom







arapaçu-vermelho









Xiphocolaptes promeropirhynchus (Lesson, 1840) ●

58

arapaçu-uniforme



Xenops minutus (Sparrman, 1788)

bico-virado-miúdo



Berlepschia rikeri (Ridgway, 1886)

limpa-folha-do-buriti

Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823)

casaca-de-couro-da-lama



Ancistrops strigilatus (Spix, 1825)

limpa-folha-picanço





Automolus ochrolaemus (Tschudi, 1844)

barranqueiro-camurça





Hylexetastes uniformisHellmayr, 1909











Furnariidae Gray, 1840





Philydor ruficaudatum (d'Orbigny & Lafresnaye, 1838) ●

limpa-folha-de-cauda-ruiva Philydor erythrocercum (Pelzeln, 1859)

limpa-folha-de-sobre-ruivo



Philydor erythropterum (Sclater, 1856)

limpa-folha-de-asa-castanha



Philydor pyrrhodes (Cabanis, 1848)

limpa-folha-vermelho



Synallaxis rutilans Temminck, 1823

joão-teneném-castanho



● ●

● ●



Pipridae Rafinesque, 1815 Tyranneutes stolzmanni (Hellmayr, 1906)

uirapuruzinho









Pipra rubrocapilla Temminck, 1821

cabeça-encarnada









Lepidothrix nattereri (Sclater, 1865)

uirapuru-de-chapéu-branco









Manacus manacus (Linnaeus, 1766)

rendeira

Heterocercus linteatus (Strickland, 1850)

coroa-de-fogo

Machaeropterus pyrocephalus (Sclater, 1852)

uirapuru-cigarra



maria-leque



● ●

Tityridae Gray, 1840 Onychorhynchus coronatus (Statius Muller, Famílias e Espécies



Nome em português





Localidades Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã







1776) Terenotriccus erythrurus (Cabanis, 1847)

papa-moscas-uirapuru



Myiobius barbatus (Gmelin, 1789)

assanhadinho



Schiffornis turdina (Wied, 1831)

flautim-marrom





Laniocera hypopyrra (Vieillot, 1817)

chorona-cinza





Tityra semifasciata (Spix, 1825)

Masked Tityra

● ●

● ●



59

Pachyramphus rufus (Boddaert, 1783)



caneleiro-cinzento

Pachyramphus castaneus (Jardine & Selby, 1827) ●

caneleiro Pachyramphus marginatus (Lichtenstein, 1823)

caneleiro-bordado









Pachyramphus surinamus (Linnaeus, 1766)

caneleiro-da-guiana





Pachyramphus minor (Lesson, 1830)

caneleiro-pequeno









Lipaugus vociferans (Wied, 1820)

cricrió

Xipholena lamellipennis (Lafresnaye, 1839)

anambé-de-rabo-branco













Phoenicircus carnifex (Linnaeus, 1758)

saurá-de-pescoço-preto





Platyrinchus saturatus Salvin & Godman, 1882

patinho-escuro





Platyrinchus platyrhynchos (Gmelin, 1788)

patinho-de-coroa-branca







Piprites chloris (Temminck, 1822)

papinho-amarelo







Mionectes macconnelli (Chubb, 1919)

abre-asa-da-mata





Corythopis torquatus (Tschudi, 1844)

estalador-do-norte



Rhynchocyclus olivaceus (Temminck, 1820)

bico-chato-grande





Tolmomyias assimilis (Pelzeln, 1868)

bico-chato-da-copa





1884) Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831)

bico-chato-de-cabeça-cinza bico-chato-amarelo

● ●



Todirostrum maculatum (Desmarest, 1806)

ferreirinho-estriado

Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766)

ferreirinho-relógio

Cotingidae Bonaparte, 1849



Incertae sedis

Rhynchocyclidae Berlepsch, 1907 ● ●

Tolmomyias poliocephalus (Taczanowski,

Famílias e Espécies

ferreirinho-de-sobrancelha

Poecilotriccus senex (Pelzeln, 1868)

maria-do-madeira

● ● ●



Nome em português

Todirostrum chrysocrotaphum Strickland, 1850



Localidades Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba







Capixauã



Myiornis ecaudatus (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)

60

caçula









Hemitriccus minor (Snethlage, 1907)

maria-sebinha









Hemitriccus minimus (Todd, 1925)

maria-mirim







Zimmerius gracilipes (Sclater & Salvin, 1868)

poiaeiro-de-pata-fina









Ornithion inerme Hartlaub, 1853

poiaeiro-de-sobrancelha









Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824)

risadinha





Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822)

guaracava-de-barriga-amarela

Myiopagis gaimardii (d'Orbigny, 1839)

maria-pechim







Myiopagis caniceps (Swainson, 1835)

guaracava-cinzenta







Tyrannulus elatus (Latham, 1790)

maria-te-viu







Phaeomyias murina (Spix, 1825)

bagageiro



Attila cinnamomeus (Gmelin, 1789)

tinguaçu-ferrugem



Attila spadiceus (Gmelin, 1789)

capitão-de-saíra-amarelo





Legatus leucophaius (Vieillot, 1818)

bem-te-vi-pirata





Ramphotrigon ruficauda (Spix, 1825)

bico-chato-de-rabo-vermelho



Tyrannidae Vigors, 1825





● ● ● ● ●



















Myiarchus tuberculifer (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) maria-cavaleira-pequena



Myiarchus ferox (Gmelin, 1789)

maria-cavaleira



Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776)

maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado





Rhytipterna simplex (Lichtenstein, 1823)

vissiá









Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766)

bem-te-vi









Philohydor lictor (Lichtenstein, 1823)

bentevizinho-do-brejo







Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776)

bem-te-vi-rajado



Tyrannopsis sulphurea (Spix, 1825)

suiriri-de-garganta-rajada

Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766)

neinei

Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766)

bentevizinho-de-asa-ferrugínea

Famílias e Espécies Myiozetetes luteiventris (Sclater, 1858)





● ● ●





Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba







Nome em português bem-te-vi-barulhento

● Localidades Capixauã

61

Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819



suiriri







Griseotyrannus aurantioatrocristatus (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) ●

peitica-de-chapéu-preto Empidonomus varius (Vieillot, 1818)

peitica







Conopias trivirgatus (Wied, 1831)

bem-te-vi-pequeno









Conopias parvus (Pelzeln, 1868)

bem-te-vi-da-copa









Lathrotriccus euleri (Cabanis, 1868)

enferrujado

Contopus nigrescens (Sclater & Salvin, 1880)

piui-preto



Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789)

pitiguari







Vireolanius leucotis (Swainson, 1838)

assobiador-do-castanhal







Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766)

juruviara







Hylophilus semicinereus Sclater & Salvin, 1867

verdinho-da-várzea





vite-vite-camurça vite-vite-uirapuru

● ●

● ●

Atticora fasciata (Gmelin, 1789)

peitoril



Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817)

andorinha-serradora



Progne chalybea (Gmelin, 1789)

andorinha-doméstica-grande



Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783)

andorinha-do-rio



Hirundo rustica Linnaeus, 1758

andorinha-de-bando

● ●

Vireonidae Swainson, 1837

● ●

Hylophilus muscicapinus Sclater & Salvin, 1873 Hylophilus ochraceiceps Sclater, 1860

● ●



Hirundinidae Rafinesque, 1815

● ● ●

Troglodytidae Swainson, 1831 ●









Microcerculus marginatus (Sclater, 1855)

uirapuru-veado

Odontorchilus cinereus (Pelzeln, 1868)

cambaxirra-cinzenta

Troglodytes musculus Naumann, 1823

corruíra

Campylorhynchus turdinus (Wied, 1831)

catatau

Pheugopedius genibarbis (Swainson, 1838)

garrinchão-pai-avô





Cantorchilus leucotis (Lafresnaye, 1845)

garrinchão-de-barriga-vermelha





Famílias e Espécies





● ●

Nome em português



● ●

Localidades

62

Nova Canaã Cyphorhinus arada (Hermann, 1783)

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã



uirapuru-verdadeiro

Polioptilidae Baird, 1858 Ramphocaenus melanurus Vieillot, 1819

bico-assovelado

Polioptila paraensis Todd, 1937

balança-rabo-paraense



● ●

Turdidae Rafinesque, 1815 ●

Turdus leucomelas Vieillot, 1818

sabiá-barranco

Turdus albicollis Vieillot, 1818

sabiá-coleira





cambacica





Saltator grossus (Linnaeus, 1766)

bico-encarnado





Saltator maximus (Statius Muller, 1776)

tempera-viola





Lamprospiza melanoleuca (Vieillot, 1817)

pipira-de-bico-vermelho









Ramphocelus carbo (Pallas, 1764)

pipira-vermelha









Lanio cristatus (Linnaeus, 1766)

tiê-galo









1837)

pipira-de-asa-branca





Lanio surinamus (Linnaeus, 1766)

tem-tem-de-topete-ferrugíneo

Tangara chilensis (Vigors, 1832)

sete-cores-da-amazônia

Tangara velia (Linnaeus, 1758)

saíra-diamante

Tangara episcopus (Linnaeus, 1766)

sanhaçu-da-amazônia



Tangara palmarum (Wied, 1823)

sanhaçu-do-coqueiro



Paroaria gularis (Linnaeus, 1766)

cardeal-da-amazônia

Cyanicterus cyanicterus (Vieillot, 1819)

pipira-azul

Dacnis cayana (Linnaeus, 1766)

saí-azul



Cyanerpes nitidus (Hartlaub, 1847)

saí-de-bico-curto



Cyanerpes caeruleus (Linnaeus, 1758)

saí-de-perna-amarela

Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766)

saíra-beija-flor

Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766)

saíra-de-papo-preto



Coerebidae d'Orbigny & Lafresnaye, 1838 Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Thraupidae Cabanis, 1847 ●

Lanio versicolor (d'Orbigny & Lafresnaye, ● ● ●



● ● ●





● ●





63

Emberizidae Vigors, 1825 Famílias e Espécies

Nome em português

Localidades Nova Canaã

Alto Mentai

Tucumatuba

Capixauã ●

Ammodramus humeralis (Bosc, 1792)

tico-tico-do-campo

Ammodramus aurifrons (Spix, 1825)

cigarrinha-do-campo



Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766)

tiziu







Habia rubica (Vieillot, 1817)

tiê-do-mato-grosso







Granatellus pelzelni Sclater, 1865

polícia-do-mato

Caryothraustes canadensis (Linnaeus, 1766)

furriel

Cyanoloxia cyanoides (Lafresnaye, 1847)

azulão-da-amazônia

Psarocolius viridis (Statius Muller, 1776)

japu-verde

Psarocolius decumanus (Pallas, 1769)

japu

[Psarocolius bifasciatus (Spix, 1824)]

japuaçu

Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766)

guaxe

Cacicus cela (Linnaeus, 1758)

xexéu





Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766)

encontro





Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819)

graúna



Molothrus oryzivorus (Gmelin, 1788)

iraúna-grande



Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789)

vira-bosta



Sturnella militaris (Linnaeus, 1758)

polícia-inglesa-do-norte



Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766)

fim-fim



Euphonia rufiventris (Vieillot, 1819)

gaturamo-do-norte

Cardinalidae Ridgway, 1901





























Icteridae Vigors, 1825 ● ● ● ●





Fringillidae Leach, 1820



a

Espécies ou epítetos específicos entre colchetes referem-se a táxon cuja presença na Resex Tapajós-Arapiuns não pode ser verificada com absoluta certeza em função de condições não ideais de detecção visual e/ou auditivas. b As letras sp. seguidas por um gênero indicam a presença de uma espécie distinta para o gênero em questão na área de estudo, mas cuja identificação a nível específico não pode ainda ser feita com segurança.

64

ANEXO 2 Espécimes coletados na Resex Tapajós-Arapiuns. Os número de tombo são aqueles da Coleção Ornitológica Fernando C. Novaes do Museu Paraense Emílio Goeldi. n. de coleção

Espécie

Localidade

72300

Nyctibius bracteatus

Nova Canaã

72301

Nyctibius bracteatus

Nova Canaã

72302

Geotrygon montana

Alto Mentai

72303

Geotrygon montana

Alto Mentai

72304

Geotrygon montana

Alto Mentai

72305

Campylopterus largipennis

Alto Mentai

72306

Campylopterus largipennis

Alto Mentai

72307

Heliomaster longirostris

Alto Mentai

72308

Micrastur ruficollis

Alto Mentai

72309

Piculus flavigula

Alto Mentai

72310

Galbula dea

Alto Mentai

72311

Galbula cyanicollis

Nova Canaã

72312

Jacamerops aureus

Nova Canaã

72313

Trogon rufus

Nova Canaã

72314

Ramphastos vitellinus

Nova Canaã

72315

Malacoptila rufa

Alto Mentai

72316

Malacoptila rufa

Nova Canaã

72317

Bucco capensis

Nova Canaã

72318

Lepidocolates albolineatus

Nova Canaã

72319

Xiphorhynchus ocellatus

Nova Canaã

72320

Xiphorhynchus ocellatus

Nova Canaã

72321

Glyphorynchus spirurus

Nova Canaã

72322

Dendrocincla merula

Nova Canaã

72323

Dendrocincla merula

Nova Canaã

72324

Dendrocincla merula

Nova Canaã

72325

Dendrocincla merula

Alto Mentai

72326

Dendrocincla merula

Alto Mentai

72327

Sittasomus griseicapillus

Alto Mentai

72328

Sittasomus griseicapillus

Alto Mentai

65

72329

Dendrocolaptes certhia

Alto Mentai

72330

Dendrocolaptes certhia

Alto Mentai

72331

Ancistrops strigilatus

Alto Mentai

72332

Dendrocolaptes hoffmannsi

Alto Mentai

72333

Hylexetastes uniformis

Nova Canaã

72334

Hylexetastes uniformis

Nova Canaã

72335

Hylexetastes uniformis

Nova Canaã

72336

Myrmotherula brachyura

Nova Canaã

n. de coleção

Espécie

Localidade

72337

Myrmotherula menetriesii

Nova Canaã

72338

Myrmotherula menetriesii

Alto Mentai

72339

Myrmotherula iheringi

Alto Mentai

72340

Myrmotherula longipennis

Alto Mentai

72341

Myrmotherula axillaris

Alto Mentai

72342

Myrmotherula axillaris

Alto Mentai

72343

Myrmotherula axillaris

Alto Mentai

72344

Microrhopias quixensis

Alto Mentai

72345

Thamnomanes saturninus

Nova Canaã

72346

Thamnomanes saturninus

Alto Mentai

72347

Thamnomanes caesius

Alto Mentai

72348

Thamnophilus schistaceus

Alto Mentai

72349

Willisornis poecilinotus

Alto Mentai

72350

Willisornis poecilinotus

Alto Mentai

72351

Willisornis poecilinotus

Alto Mentai

72352

Phlegopsis nigromaculata

Nova Canaã

72353

Formicarius colma

Nova Canaã

72354

Formicarius colma

Alto Mentai

72355

Formicarius colma

Alto Mentai

72356

Conopophaga melanogaster

Alto Mentai

72357

Thamnophilus aethiops

Alto Mentai

72358

Thamnomanes caesius

Alto Mentai

72359

Myrmotherula longipennis

Alto Mentai

66

72360

Sclerurus caudacutus

Alto Mentai

72361

Sclerurus rufigularis

Alto Mentai

72362

Sclerurus rufigularis

Alto Mentai

72363

Sclerurus rufigularis

Alto Mentai

72364

Sclerurus caudacutus

Nova Canaã

72365

Terenotriccus erythrurus

Nova Canaã

72366

Terenotriccus erythrurus

Nova Canaã

72367

Hemitriccus minor

Nova Canaã

72368

Hemitriccus minor

Nova Canaã

72369

Hemitriccus minor

Alto Mentai

72370

Hemitriccus minor

Alto Mentai

72371

Hemitriccus minor

Alto Mentai

72372

Zimmerius gracilipes

Alto Mentai

72373

Tolmomyias assimilis

Alto Mentai

72374

Onychorhynchus coronatus

Alto Mentai

72375

Onychorhynchus coronatus

Nova Canaã

72376

Rhynchocyclus olivaceus

Nova Canaã

72377

Myiobius barbatus

Nova Canaã

n. de coleção

Espécie

Localidade

72378

Attila spadiceus

Nova Canaã

72379

Conopias parvus

Nova Canaã

72380

Conopias trivirgatus

Alto Mentai

72381

Legatus leucophaius

Alto Mentai

72382

Phoenicircus carnifex

Alto Mentai

72383

Phoenicircus carnifex

Alto Mentai

72384

Lepidothrix nattereri

Alto Mentai

72385

Lepidothrix nattereri

Alto Mentai

72386

Lepidothrix nattereri

Alto Mentai

72387

Pipra rubrocapilla

Alto Mentai

72388

Pipra rubrocapilla

Nova Canaã

72389

Lepidothrix nattereri

Nova Canaã

72390

Lipaugus vociferans

Nova Canaã

67

72391

Schiffornis turdina

Nova Canaã

72392

Schiffornis turdina

Nova Canaã

72393

Lepidothrix nattereri

Nova Canaã

72394

Schiffornis turdina

Alto Mentai

72395

Hylophilus muscicapinus

Alto Mentai

72396

Hylophilus semicinereus

Nova Canaã

72397

Hylophilus ochraceiceps

Nova Canaã

72398

Lanio versicolor

Nova Canaã

72399

Lanio versicolor

Nova Canaã

72400

Habia rubica

Nova Canaã

72401

Habia rubica

Nova Canaã

72402

Habia rubica

Nova Canaã

72403

Habia rubica

Nova Canaã

72404

Habia rubica

Nova Canaã

72405

Turdus albicollis

Alto Mentai

72406

Hemithraupis guira

Alto Mentai

72407

Tangara velia

Alto Mentai

72408

Cyanoloxia cyanoides

Alto Mentai

72409

Cyanoloxia cyanoides

Alto Mentai

72410

Cyanoloxia cyanoides

Alto Mentai

74094

Megascops usta

Tucumatuba

74095

Trogon viridis

Tucumatuba

74096

Megascops usta

Tucumatuba

74097

Megascops usta

Tucumatuba

74098

Myrmotherula longipennis

Tucumatuba

74099

Phlegopsis nigromaculata

Tucumatuba

74100

Thalurania furcata

Tucumatuba

74101

Myrmotherula longipennis

Tucumatuba

n. de coleção

Espécie

Localidade

74102

Xiphorhynchus ocellatus

Tucumatuba

74103

Pipra rubrocapilla

Tucumatuba

74104

Myrmotherula longipennis

Tucumatuba

68

74105

Myrmotherula longipennis

Tucumatuba

74106

Dendrocincla fuliginosa

Tucumatuba

74107

Myrmotherula longipennis

Tucumatuba

74108

Dendrocolaptes hoffmannsi

Tucumatuba

74109

Pachyramphus marginatus

Tucumatuba

74110

Glyphorynchus spirurus

Tucumatuba

74111

Leptotila rufaxilla

Tucumatuba

74112

Lepidothrix nattereri

Tucumatuba

74113

Onychorhynchus coronatus

Tucumatuba

74114

Onychorhynchus coronatus

Tucumatuba

74115

Xenops minutus

Tucumatuba

74116

Lepidothrix nattereri

Tucumatuba

74117

Deconychura longicauda

Tucumatuba

74118

Conopias parvus

Tucumatuba

74119

Pipra rubrocapilla

Tucumatuba

74120

Epinecrophylla leucophthalma

Tucumatuba

74121

Lepidothrix nattereri

Tucumatuba

74122

Thamnophilus aethiops

Tucumatuba

74123

Thamnomanes caesius

Tucumatuba

74124

Thamnomanes caesius

Tucumatuba

74125

Thamnomanes caesius

Tucumatuba

74126

Pipra rubrocapilla

Tucumatuba

74127

Pipra rubrocapilla

Tucumatuba

74128

Rhegmatorhina berlepschi

Tucumatuba

74129

Habia rubica

Tucumatuba

74130

Myrmotherula longipennis

Tucumatuba

74131

Lepidothrix nattereri

Tucumatuba

74132

Thamnomanes saturninus

Tucumatuba

74133

Hylexetastes uniformis

Tucumatuba

74134

Hylexetastes uniformis

Tucumatuba

74135

Hylophilus muscicapinus

Tucumatuba

74136

Celeus flavus

Tucumatuba

69

74137

Micrastur mintoni

Tucumatuba

74138

Habia rubica

Capixauã

74139

Phaethornis rupurumii

Capixauã

74140

Rhytipterna simplex

Capixauã

74141

Trogon viridis

Capixauã

74142

Pseudastur albicollis

Capixauã

n. de coleção

Espécie

Localidade

74143

Myiodynastes maculatus

Capixauã

74144

Thalurania furcata

Capixauã

74145

Caryothraustes canadensis

Capixauã

74146

Caryothraustes canadensis

Capixauã

74147

Caryothraustes canadensis

Capixauã

74148

Conopias parvus

Capixauã

74149

Hemitriccus minor

Capixauã

74150

Myiopagis gaimardii

Capixauã

74151

Thamnophilus stictocephalus

Capixauã

74152

Pteroglossus aracari

Capixauã

74153

Attila spadiceus

Capixauã

74154

Pipra rubrocapilla

Capixauã

74155

Thalurania furcata

Capixauã

74156

Campephilus melanoleucos

Capixauã

74157

Formicivora grisea

Capixauã

74158

Hylophilus muscicapinus

Capixauã

74159

Myiarchus tyrannulus

Capixauã

74160

Pipra rubrocapilla

Capixauã

74161

Cyanerpes cyaneus

Capixauã

74162

Tyranneutes stolzmanni

Capixauã

74163

Hemitriccus minor

Capixauã

74164

Tolmomyias poliocephalus

Capixauã

74165

Griseotyrannus aurantioatrocristatus

Capixauã

74166

Xiphorhynchus ocellatus

Capixauã

74167

Xiphorhynchus ocellatus

Capixauã

70

74168

Habia rubica

Capixauã

74169

Formicarius colma

Capixauã

74170

Myiobius barbatus

Capixauã

74171

Thamnomanes saturninus

Capixauã

74172

Myrmoborus myotherinus

Capixauã

74173

Myrmoborus myotherinus

Capixauã

74174

Thalurania furcata

Capixauã

74175

Thamnophilus aethiops

Capixauã

74176

Thamnomanes saturninus

Capixauã

74177

Lathrotriccus euleri

Capixauã

74178

Hypocnemis implicata

Capixauã

74179

Hypocnemis striata

Capixauã

74180

Hypocnemis striata

Capixauã

74181

Schiffornis turdina

Capixauã

74182

Zenaida auriculata

Capixauã

74183

Galbula cyanicollis

Capixauã

n. de coleção

Espécie

Localidade

74184

Sturnella militaris

Capixauã

74185

Tapera naevia

Capixauã

74186

Phlegopsis nigromaculata

Capixauã

74187

Phlegopsis nigromaculata

Capixauã

74188

Phlegopsis nigromaculata

Capixauã

74189

Rhynchocyclus olivaceus

Capixauã

74190

Piculus flavigula

Capixauã

74191

Piculus flavigula

Capixauã

74192

Myrmotherula axillaris

Capixauã

74193

Myrmotherula axillaris

Capixauã

74194

Thamnophilus aethiops

Capixauã

74195

Onychorhynchus coronatus

Capixauã

74196

Piculus flavigula

Capixauã

74197

Lanio cristatus

Capixauã

74198

Xiphocolaptes promeropirhynchus

Capixauã

71

74199

Microrhopias quixensis

Capixauã

74200

Glaucidium hardyi

Capixauã

74201

Megascops choliba

Capixauã

74202

Manacus manacus

Capixauã

74203

Formicivora grisea

Capixauã

74204

Phaethornis rupurumii

Capixauã

74205

Thamnophilus stictocephalus

Capixauã

74206

Thamnophilus stictocephalus

Capixauã

74207

Myiozetetes cayanensis

Capixauã

72

RELATÓRIO 3 Inventário de Médios e Grandes Mamíferos na Resex Tapajós-Arapiuns André LuisRavetta

INTRODUÇÃO O conhecimento da riqueza biológica e da dinâmica de comunidades forma a base para o desenvolvimento do manejo e conservação da biodiversidade. Nas florestas tropicais, especialmente na região Neotropical, tais características são superlativas. Como maior floresta tropical do planeta, a Amazônia abriga uma diversidade biológica imensa, caracterizada por alto índice de endemismo e uma biogeografia extremamente complexa (Mittermeier et al., 2002). Em relação aos mamíferos, uma compilação de dados da literatura realizada por Mittermeier et al. (2002) indica que a Amazônia abriga aproximadamente 430 espécies de mamíferos, com cerca de 170 espécies endêmicas para a região. Além disso, é provável que esse número chegue próximo de 500 espécies, através da análise regional de informações mais precisas de distribuição, das revisões sistemáticas de vários grupos em andamento e da descoberta de novas espécies em estudos de campo (Peres, 2005; Rylands & Mittermeier, 2009). Especificamente para a Amazônia brasileira, Silva et al. (2004) estimaram 311 espécies de mamíferos divididos em: 22 marsupiais, 11 xenartros, 124 morcegos, 57 primatas, 16 carnívoros, dois cetáceos, cinco ungulados, um sirênio, 72 roedores e um lagomorfo. É importante ressaltar que esses números estão defasados, especialmente para cetáceos e sirênios, já identificados atualmente com 18 e duas espécies, respectivamente, cujo conhecimento aumentou significativamente nos últimos anos (Siciliano et al., 2008; Silva Júnior et al., 2010). Vários estudos na Amazônia têm demonstrado os efeitos das principais formas de pressão antrópica, como fragmentação, exploração madeireira e caça, sobre a abundância e densidade populacional da fauna de mamíferos, principalmente em primatas e mamíferos terrestres de médio e grande porte (Freese et al., 1982; Johns & Skorupa, 1987; Rylands & Keuroghlian, 1988; Lopes & Ferrari, 2000; Peres & Dolman, 2000; Peres, 2001; Ferrari et al., 2003; Peres et al., 2003; Michalski & Peres, 2005). Em geral, mamíferos de grande porte sofrem maior pressão de caça e apresentam um recrutamento mais lento do que espécies menores do mesmo grupo (Robinson & Redford, 1986). Isso acarreta em acentuada fragilidade desses mamíferos, que são os mais afetados pela atividade cinegética e pela escassez de recursos alimentares decorrentes de outras alterações antrópicas e com maior probabilidade de extinção (Bodmer et al., 1997). Hipótese semelhante é suportada pelos resultados de Robinson & Redford (1986) em relação à densidade populacional das espécies. Determinada pelo tamanho corporal e dieta, espécies de grande porte ocorrem em densidades menores que espécies de pequeno porte, assim como as espécies consideradas “especialistas” - com dieta restrita - que ocorrem em densidades menores que as espécies “generalistas”, que aceitam um amplo cardápio alimentar. Todavia, os mamíferos de médio e grande porte representam uma parcela significativa da biomassa de mamíferos neotropicais, embora menos diversos que os grupos de mamíferos voadores (morcegos) e de pequeno porte (roedores e marsupiais). Peres & Lake (2003) realizaram uma extensa análise de como a acessibilidade é uma questão crucial para a manutenção de populações saudáveis de vertebrados florestais na 73

Amazônia brasileira. Utilizando estimativas de abundância obtidas com levantamentos populacionais, estes autores encontraram correlações positivas entre a abundância local de espécies mais caçadas de vertebrados e a distância da matriz de acesso. Inversamente, espécies de vertebrados não caçados apresentaram correlação negativa entre a abundância local e a distância da matriz de acesso. Com isso, confirmaram uma forte tendência na depleção de espécies cinegéticas pela pressão de caça num raio de até seis quilômetros da matriz de acesso. Embora tenham encontrado diferenças significativas entre espécies e entre diferentes categorias de unidades de conservação, em geral, a ocupação humana e a facilidade de acesso parecem ser determinantes na abundância da fauna de vertebrados preferidos entre os caçadores.

MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O inventário foi realizado em duas etapas na Resex Tapajós-Arapiuns. A primeira compreendeu uma expedição em junho de 2011 para os rios Arapiuns e Maró, aonde foram amostradas as comunidades de Alto Mentai e Nova Canaã respectivamente, e a segunda foi realizada entre março e abril de 2012 nas comunidades de Boim (Quem Dizia) e Capixauã localizadas a margem esquerda do rio Tapajós. A escolha dessas comunidades como áreas de amostragem foi previamente decidida em conselho, e norteada para contemplar os principais tipos de vegetação reconhecidos na área da Resex. Para a realização dos levantamentos foram utilizadas trilhas existentes na floresta utilizadas pelos comunitários para extrativismo, com exceção de Capixauã, aonde a trilha foi aberta exclusivamente para o levantamento. A extensão das trilhas variou de 2 a 5 km para permitir o deslocamento do pesquisador e a instalação de armadilhas de captura, como armadilhas fotográficas. Quando presentes, ramais de exploração madeireira e caminhos dos moradores também foram utilizados para a procura de rastros dos mamíferos terrestres. Coleta de Dados O inventário de foi realizado através de Avaliação Ecológica Rápida – AER ou RAP – Rapid Assesment Program em inglês, como é mais conhecido. Assim, foi estipulado um esforço amostral de cinco dias de coleta de dados em cada um dos quatro pontos escolhidos, totalizando 20 dias de amostragem nas duas expedições que compreenderam o inventário biótico. Levantamento Populacional por Transecção Linear – Censos O levantamento por transecção linear é um método padronizado utilizado em muitos estudos de populações de mamíferos (Brockelman & Ali, 1987; Cullen & Rudran, 2006), principalmente para aqueles que envolvem os primatas. O método consiste em percorrer cuidadosamente a trilha/transecção a uma velocidade constante de 1,5 km/h aproximadamente, registrando a presença de mamíferos. A cada encontro, é registrado: •

Hora e localização na transecção;



Tipo de detecção do encontro (auditivo ou visual);



Espécie;

74



Ângulo do encontro em relação à trilha;



Distância observador-animal (entre o observador na trilha até o local do encontro);



Distância perpendicular animal-trilha (entre o local do encontro e a trilha);



Altura do primeiro animal avistado em relação ao solo (para espécies arbóreas);



Tamanho do grupo (para espécies sociais);



Composição sexo-etária do grupo (macho ou fêmea; adulto, imaturo ou filhote);



Comportamento do primeiro animal avistado (deslocamento, forrageio, fuga, etc.);



Outras informações relevantes (item alimentar consumido, espécie associada, etc.).

O método foi aplicado tanto no turno da manhã (7:00 as 11:00h), como no turno da tarde (15:30 as 18:00h), utilizando-se um binóculo 8x40 para auxiliar na observação. As medidas foram tomadas com um medidor digital a laser (rangerfinder) e uma bússola de campo. Para o registro dos dados referentes a um encontro (inclusive a composição do grupo, no caso de espécies sociais), foi estipulado um tempo máximo de 10 minutos. No caso em que mais de uma espécie seja avistada no mesmo local, independente se elas estiverem associadas ou não, é registrado um encontro para cada espécie, considerando o primeiro animal avistado de cada uma. No entanto, encontros ocasionais com animais durante o percurso entre as trilhas também foram considerados para as estimativas de abundância, quando houve certeza da independência desses registros. Entre os pressupostos metodológicos da transecção linear, Burnham et al. (1980) recomendam que todos os encontros sejam eventos independentes, que os animais sejam detectados antes de fugirem, e que todos os animais localizados em cima da trilha sejam sempre registrados, além das medidas que devem ser tomadas com precisão adequada. Armadilhamento Fotográfico – camera-trap Nesse método, dez armadilhas foram instaladas nos sítios de amostragem, distando no mínimo 300 metros entre si. Quando presentes, estradas e ramais de acesso para exploração madeireira foram aproveitados para a instalação das câmeras para a captura fotográfica dos animais, durante cinco dias de amostragem. O método consiste na utilização de um sistema passivo composto por câmera fotográfica automática comum acoplada em um dispositivo de disparo por sensor infravermelho que detecta movimentos e calor. Esses sistemas ou armadilhas fotográficas são instalados no campo para registrar a presença das espécies de interesse, como mamíferos terrestres de médio e grande porte (Tomas & Miranda, 2003). Em seguida, é feita uma triagem das fotos para quantificar os registros que correspondem ao mesmo animal e, sempre que possível, identificar o sexo e classe etária dos indivíduos fotografados. A identificação dos animais fotografados é feitas por análise cautelosa das imagens. Porém, a identificação individual dos animais fotografados depende da presença de sinais naturais ou adquiridos na pelagem, como mutilações e cicatrizes, e da interpretação de padrões de manchas na pelagem para algumas espécies, até a diferenciação de peculiaridades na morfologia externa. Em áreas de floresta na região Neotropical, o emprego desta metodologia tem sido utilizado para a realização de levantamentos da comunidade de mamíferos (Trolle, 2003; Srbek-Araujo & Chiarello, 2005, 2007). O levantamento por transecção linear é mais adequado para espécies de hábitos diurnos, enquanto o uso de armadilhas fotográficas representa uma ótima alternativa para registrar espécies de hábitos crepusculares e noturnos, o que contribui para complementar o levantamento de mamíferos e gerar maior robustez na lista de espécies. 75

Levantamento de Vestígios Em muitos casos, a presença de mamíferos pode ser detectada apenas por meio de vestígios (pegadas, fezes, tocas, carcaças, crânios, marcas de garras, vocalizações e odores), através de sinais visuais, auditivos e olfativos (Wemmer et al., 1996). Durante os deslocamentos para as áreas de amostragem e realização dos censos, todos os vestígios foram registrados em caderneta de campo, fotografados com escala métrica e coletados, no caso de carcaças, crânios e fezes. O registro de vocalizações foi realizado somente quando a identificação da espécie era garantida, e um novo registro de uma mesma espécie somente foi validado quando detectado em direção distinta ao registro de vocalização anterior, ou em uma distância considerável, superior a 300 metros, nestes casos, assumindo se tratar de outro animal ou grupo, como é o caso dos primatas. Informações de espécies através da identificação de vestígios dos animais constituem uma alternativa bastante proveitosa para enriquecer a lista de espécies e os levantamentos populacionais. Através de encontros com rastros de mamíferos, é feita a identificação e coleta dos vestígios para confirmar a presença de uma dada espécie em uma área, e até obter dados sobre a sua abundância local (Wemmer et al., 1996; Riordan, 1998). A identificação de pegadas pode gerar informações sobre a presença de filhotes, enquanto a triagem de fezes fornece evidências da relação entre predadorpresa, podendo caracterizar a ocorrência de duas ou mais espécies em uma única amostra. As coletas de carcaças, crânios, peles e pelos são importantes para o registro de espécies pouco avistadas. Análise Estatística Os dados foram analisados utilizando-se um índice de frequência de registros. O índice de abundância usado para censos é a taxa de encontro, geralmente expressada como o número de registros por dez quilômetros de percurso, que é calculada pela fórmula: T =(ni / l) . 10 Onde: ni é o número de registros da espécie i, e l é o percurso total do levantamento em quilômetros. A taxa de encontro fornece a estimativa mais objetiva de abundância de uma espécie para comparações entre sítios de estudo, principalmente quando o número de registros é insuficiente para o cálculo de estimativas confiáveis de densidade populacional (Ferrari et al., 2002). Em geral, o encontro se refere às observações de animais visualizados durante os levantamentos, porém nesse inventário foram acrescentados os registros de vestígios para o cálculo do índice, devido ao grande volume de informação obtida por esse tipo de registro.

RESULTADOS Riqueza . Em um total de 25 dias de campo foram percorridos aproximadamente 90 km de caminhadas pela mata, que resultaram no registro de 27 espécies de médios e grandes mamíferos através de visualizações, rastros e vocalizações. Entre as áreas amostradas, Boim apresentou a maior riqueza com 24 espécies, seguido por Capixauã e Nova Canaã com 15 e 14 espécies respectivamente e por Alto Mentai com 11 espécies (Figura 1). 76

30

nº de 20 es pé cie s 10

0 Alto Mentai

Boim

Capixauã

Nova Canaã

Figura 1 . Riqueza de espécies de mamíferos de médio e grande porte entre as fazendas amostradas no Polo de Tomé-Açu.

As 27 espécies registradas estão distribuídas em 16 famílias e sete ordens, sendo as ordens Primates (macacos) e Rodentia (ratos, cutia, paca e esquilos) as mais diversas com 6 espécies, seguidas pelas ordens Cingulata (tatus), Carnivora (gatos e jupará) e Artiodactyla (veados e porcos) com 4 espécies, Pilosa (preguiças e tamanduás) com 2 espécies, e Perissodactyla com apenas uma espécie, a anta – Tapirus terrestris (Tabela 1). A classificação apresentada aqui segue publicação recente da atualização da Lista Anotada dos Mamíferos do Brasil, que compilou diversas publicações entre descrição de novas espécies, revisões taxonômicas, e filogenia molecular, que contribuíram tanto para o crescimento do número de espécies conhecidas quanto para o rearranjo da classificação taxonômica de alguns grupos (Paglia et al., 2012). Tabela 1. Lista das espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na Resex Tapajós-Arapiuns. ESPÉCIE

NOME VULGAR

REGISTRO

FAZENDA

ORDEM CINGULATA (4 espécies) Família Dasypodidae 01

Cabassous unicinctus

tatu-rabo-de-couro

A, R

Capixauã

02

Dasypus kappleri

tatu-quinze-quilos

R

Boim

03

Dasypus novemcinctus

tatu-galinha

R

Boim, Capixauã

04

Priodontes maximus

tatu-canastra

R

Boim, N. Canaã

ORDEM PILOSA (2 espécies) Família Bradypodidae 05

Bradypus tridactylus

preguiça-bentinho

A

Boim

Família Myrmecophagidae 06

Tamandua tetradactyla

mambira

A, R

Boim, Capixauã, N. Canaã

ORDEM PRIMATES (6espécies) Família Callitrichidae

77

07

Mico humeralifer

A, V

souim-preto Família Cebidae

08 09

Cebus albifrons

cairara

A

Sapajus apella

macaco-prego

A, V

Família Pithecidae 10

Callicebus hoffmannsi

11

Pithecia cf irrorata

zogue-zogue

A, V

parauacu

A

Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Boim Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Alto Mentai, Boim, Capixauã, N. Canaã Boim, Capixauã

Família Atelidae 12

Alouatta nigerrima

guariba-preta

A, R, V

Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã

ORDEM CARNIVORA (4 espécies) Família Procyonidae 13

Potus flavus

jupará

A

Alto Mentai

Boim, N. Canaã

Família Felidae 14

Leopardus pardalis

jaguatirica

R

15

Puma concolor

suçuarana

R

16

Panthera onca

onça-pintada

R

Alto Mentai, Boim, N. Canaã Boim, N. Canaã

ORDEM PERISSODACTYLA (1 espécie) Família Tapiridae 17

Tapirus terrestris

Anta

R

Boim

ORDEM ARTIODACTYLA (4 espécies) Família Tayassuidae 18

Pecari tajacu

19

Tayassu pecari

catitu

A, R

Boim, Capixauã, N. Canaã

queixada

R

Boim, Alto Mentai

Família Cervidae 20

Mazama americana

veado-mateiro

A, R

21

Mazama nemorivaga

veado-fuboca

A, R

Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Alto Mentai, Boim, Capixauã, N. Canaã

ORDEM RODENTIA (6 espécies) Família Sciuridae 22

Guerlinguetus aestuans

quatipuru

A

23

Microsciurus flaviventer

quatipuruzinho

A

Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Boim, Capixauã

24

Sciurus spadiceus

quatipuru-vermelho

A, R, V

Boim, Capixauã

Família Cuniculidae 25

Cuniculus paca

paca

R

Boim

Família Dasyproctidae 26

Dasyprocta aff agouti

cutia

A, R, V

Família Echimydae 27

Dactylomys dactylinus

rato-toró

V

Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Alto Mentai

Legenda: A - avistamento; R - rastro (fezes, marca de garras, pegada, ninho, toca); V - vocalização.

78

Abundância Em relação à abundância dos mamíferos, houve uma variação significativa entre as áreas amostradas, com as comunidades de Capixauã e Boim apresentando as maiores abundâncias, com 40% e 29% dos registros respectivamente, seguidas pela comunidade Nova Canaã com 17% e Alto Mentai com apenas 14%, representando juntas apenas 31% do total de registros do inventário (Figura 2). Vale ressaltar que as espécies foram registradas através da aplicação do método de transecção linear, que permite a obtenção de estimativas de abundância através do cálculo da taxa de encontro. Além disso, dez espécies foram detectadas apenas através de vestígios, que neste trabalho foram incluídos nos cálculos de abundância, através da triagem dos vestígios para garantir a independência dos registros. Com apenas cinco dias de amostragem em cada área, as armadilhas fotográficas não registraram animais em número significativo para qualquer tipo de análise. Pelo contrário, o curto período de amostragem resultou apenas em alguns poucos registros de espécies bastante comuns como as cutias, tatus-galinhas e um veado fuboca, além de algumas aves de sub-bosque com os inhambus da família Tinamidae e duas espécies de cracídeos, o mutum-castanheira – Mitu tuberosa, e o jacu-peba – Penelope jacuguacu. 75

nº de 50 reg istr os 25

0 Alto Mentai

Boim

Capixauã

Nova Canaã

Figura 2 . Abundância de mamíferos de médio e grande porte entre as áreas amostradas na Resex Tapajós-Arapiuns.

O índice de abundância utilizado é o cálculo de uma taxa obtida pelo número de registros de cada espécie sobre a distância percorrida nos levantamentos, que foi recalculada com o acréscimo dos registros de rastros e vestígios dos mamíferos com identificação confirmada. Portanto, o esforço total do levantamento corresponde aos encontros com indivíduos solitários ou grupo de animais durante o deslocamento, somado ao número de registros de rastros e vestígios identificados durante o trabalho. A cutia – Dasyprocta aff agouti foi a espécie mais abundante, seguida pelo zoguezogue – Callicebus hoffmannsi, pelo souim – Mico humeralifer, pela guariba - Alouatta nigerrima, pelo macaco-prego – Sapajus apella e peloveado mateiro – Mazama americana (Tabela 2).

79

Tabela 2. Índice de abundância obtido para as espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na Resex Tapajós-Arapiuns durante o inventário de fauna. TAXA DE REGISTRO / 10KM PERCORRIDOS ESPÉCIES Alto Mentai

Boim

Capixauã

Nova Canaã

Cabassous unicinctus

-

-

1,76

-

Dasypus kappleri

-

0,33

-

-

Dasypus novemcinctus

-

0,33

2,35

-

Priodontes maximus

-

-

-

0,44

Tamandua tetradactyla

-

0,67

0,59

0,44

0,41

-

5,88

1,33

Cebus albifrons

-

0,33

-

-

Sapajus apella

0,41

1,33

1,76

0,89

Callicebus hoffmannsi Pithecia „cf‟ irrorata

1,22 -

0,33 0,67

8,24 0,59

0,89 -

Alouatta nigerrima

2,45

1,33

0,59

0,89

Potus flavus

0,41

-

-

-

-

-

-

0,44

Puma concolor

0,41

-

-

0,44

Panthera onca

-

0,33

-

0,89

Pecari tajacu

-

1,00

0,59

0,44

Tayassu pecari

0,41

-

-

-

Mazama americana

0,41

1,33

2,94

0,89

Mazama nemorivaga

0,41

-

1,18

0,44

Guerlinguetus aestuans

0,41

-

0,71

0,89

Microsciurus flaviventer

-

-

0,59

-

Sciurus spadiceus

-

0,33

1,76

-

Dasyprocta „aff‟ agouti

2,04

7,33

8,82

3,11

Dactylomys dactylinus

0,41

-

-

-

TOTAL DE ESPÉCIES

8,98

15,67

37,65

12,44

Mico humeralifer

Leopardus pardalis

Apesar de algumas espécies não serem registradas em todas as áreas, não significa que elas não ocorram em um determinado local, como é o caso dos tatus, da preguiça e da paca principalmente. Embora essas espécies tenham sido registradas no máximo em duas áreas, a ocorrência delas é praticamente certa nas outras comunidades amostradas, por se tratarem de espécies muito comuns que ocorrem em praticamente todos os ambientes terrestres e apresentam uma alta abundância, sendo consideradas espécies generalistas.

80

Espécies Ameaçadas e Endêmicas Apenas quatro espécies constam nas listas oficiais da fauna ameaçada de extinção (MMA, 2003; SEMA, 2007; IUCN, 2012), embora nenhuma delas esteja classificada na categoria de ameaçada ou em perigo (EN, em inglês). Entre elas, as duas espécies de onças, o tatu canastra e a anta, todas classificadas nas categorias de “Vulnerável” e “Próximo de Ameaça” (Tabela 3). Tabela 3. Estado de conservação das espécies registradas para a região que figuram nas listas oficiais das espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003; SEMA, 2007; IUCN, 2012). NOME CIENTÍFICO

NOME VULGAR

MMA, 2003

SEMA, 2007

IUCN, 2012

Panthera onca

onça-pintada

-

VU

NT

Puma concolor

suçuarana

-

VU

-

Priodontes maximus

tatu-canastra

VU

Tapirus terrestris anta

-

VU

-

VU

VU

Legenda:CR: Criticamente em perigo; EN - Em Perigo; VU - Vulnerável; NT - Próximo de Ameaça.

A suçuarana (Puma concolor) foi a espécie com maior ocorrência, não sendo registrada apenas na comunidade de Capixauã, enquanto a onça-pintada (Panthera onca), o tatucanastra (Priodontes maximus) e a anta (Tapirus terrrestris) foram registrados apenas nas comunidade de Boim e Nova Canaã. Embora a presença dessas espécies tenha sido confirmada somente através de vestígios, esses são relativamente fáceis de serem identificados. Assim, dados de presença e abundância podem ser obtidos mesmo que esses animais não sejam avistados. Com três registros cada, a onça-pintada (Panthera onca) e a suçuarana (Puma concolor) são espécies de felinos de grande porte na qual suas presenças atestam de certa forma, a boa integridade do ambiente quanto a sua diversidade biológica, por se tratarem de predadores de topo de cadeia e possuir uma alta demanda alimentar. O tatu-canastra (Priodontes maximus) foi registrado em três ocasiões por meio de vestígios. Embora esse número não desperte muita atenção, ele é significativo porque além de ser a maior espécie de tatu, pesando em média 30 kg, é um animal solitário e relativamente raro no bioma amazônico. Por outro lado chama a atenção a anta (Tapirus terrestris) com apenas um registro durante o monitoramento. Apesar de ser um animal de grande porte que possui um recrutamento muito lento e ocupa grande área de vida, era esperada uma maior abundância dessa espécie por ser relativamente comum na floresta amazônica. Exatamente pelas características citadas acima, provavelmente a espécie sofre forte pressão de caça na Resex e talvez por isso, sua abundância seja baixa dentro da unidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa breve comparação entre as áreas amostradas, merece destaque as diferenças encontradas quanto à riqueza e abundância das espécies. O maior número de espécies registradas para Boim, provavelmente deve-se em função do isolamento da área amostrada. Localizada a aproximadamente a 40 km de distância da comunidade que fica 81

na margem do rio Tapajós, a localidade Quem Dizia aonde foi implantada a trilha e o acampamento, apresenta menor pressão de caça em relação aos outros três pontos de coleta que foram realizados mais próximos das respectivas comunidades de Alto Mentai, Capixauã e Nova Canaã. Com isso, era esperado também o mesmo padrão de abundância devido ao nível de pressão de caça. No entanto, a comunidade Capixauã que apresentou a maior abundância de mamíferos, parece sofrer forte pressão de caça, tanto por seus moradores como pela comunidade vizinha devido à proximidade entre elas. Contudo, boa parte da floresta encontrada em Capixauã é composta de vegetação secundária, através de ações de exploração madeireira, fogo e corte raso ao longo do tempo. Tais características parecem favorecer o adensamento de algumas espécies de primatas como o zogue-zogue – Callicebus hoffmannsi e o souim-preto – Mico humeralifer, além da cutia – Dasyprocta leporina. Enquanto as duas espécies de primatas parecem ser favorecidas por uma maior incidência de luz em vegetações secundárias devido à abertura do dossel, que proporciona maior abundância de insetos que compõem um item importante na dieta dessas espécies, a cutia é atraída pela alta densidade de palmeiras nesses ambientes, como o babaçu e caranaí, que oferecem frutos em abundância para essa espécie de roedor. Além disso, essas três espécies são de pequeno e médio porte e apresentam altas taxas reprodutivas e um rápido recrutamento. Por outro lado, a ausência de espécies de grande porte em algumas das áreas, como os ungulados (veados, porcos e anta) também é em função da pressão de caça e integridade dos ambientes de floresta. Se por um lado a vegetação secundária favorece o adensamento de algumas espécies pela maior abundância de insetos, por outro pode prejudicar a permanência de outros pela menor disponibilidade de recursos, principalmente aquelas que são altamente frugívoras. Outra característica importante dos ungulados, como exemplo, é a baixa taxa reprodutiva e o lento recrutamento, que dificulta o repovoamento das espécies desse grupo em áreas com forte pressão de caça, levando-as a declínios populacionais severos próximos de extinção local. Contudo, com as impressões obtidas nesse inventário, é necessário um planejamento que vise o manejo de caça na área da Resex para que essa atividade de subsistência permaneça sustentável em longo prazo. Conforme é previsto em plano de manejo, o zoneamento ecológico de uma área pode oferecer um ordenamento territorial que busque a gestão participativa dos comunitários para o uso adequado da terra e dos recursos naturais renováveis, atrelado à conservação da diversidade biológica.

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Glossário Avistamento: registro de um animal através do encontro visual com o mesmo; Cinegética: relativo à caça. Espécie cinegética é aquela que é caçada; Cosmopolita: relativo à ampla distribuição geográfica, que ocorre em muitos lugares e ambientes, contrário de endêmica; Dossel: relativo à copa das árvores, estrato superior da floresta; Endêmica: que é encontrada somente em determinado habitat, bioma ou região; Especialista: que apresenta características específicas de comportamento, dieta e preferência de habitat; Ombrófila: relativo à sombra. Floresta ombrófila é aquela que proporciona sombra; Transecção: seção feita através de um eixo longitudinal, seção transversal. Trilha reta; Ungulados: designação genérica para os mamíferos que possuem casco como veados, porcos e anta. Não faz parte da classificação científica atual; Vestígio: registro indireto de um animal ou espécie, como rastros, pegadas, fezes, carcaças, ossos, crânio, tocas, vocalização; Vulnerável: terceira categoria do nível de ameaça de extinção de uma espécie. Abaixo dos níveis „Ameaçada‟ e „Criticamente Ameaçada‟. Uma espécie é classificada como Vulnerável quando em condições de alto risco de extinção na natureza.

85

RELATÓRIO 4

MCT/MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI

RELATÓRIO CONSOLIDADO DAS EXPEDIÇÕES À RESEX TAPAJÓSARAPIUNS, MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA ─ HERPETOFAUNA

Equipe Técnica Dra. Teresa Cristina Sauer de Avila Pires Dr. Marinus Steven Hoogmoed M.Sc. Annelise Batista D´Angiolella M.Sc. Ariane Auxiliadora Araújo Silva M.Sc. Jerriane Oliveira Gomes M.Sc. Marcélia Basto da Silva M.Sc. Marcelo José Sturaro Victor Tasso Gomes Ferreira

Expedições 12/06/2011 a 26/06/2011 (rio Arapiuns): • Comunidade Nova Canaã, Rio Maró, •

Comunidade Alto Mentai, Igarapé Mentai, bacia do Rio Arapiuns

28/03/2012 a 12/04/2012 (rio Tapajós) • Comunidade Capixauã, Lago Capixauã •

Localidade Tucumatuba

Licença SISBIO: 28936 (1-3)

86

1. INTRODUÇÃO

Em todo o território brasileiro conhecem-se 875 espécies de anfíbios (847 anuros, 1 salamandra [Caudata], 27 gimnofionas) e 721 espécies de répteis (36 quelônios, 6 jacarés, 241 lagartos, 67 anfisbenas, 371 serpentes), segundo a lista (atualizada até março de 2010) da Sociedade Brasileira de Herpetologia (http://sbherpetologia.org.br/checklist/checklist_brasil.asp). Para a parte brasileira da Amazônia, Avila-Pires et al. (2007) registraram 232 anfíbios (221 anuros, 2 salamandras, 9 gimnofionas) e 273 répteis (16 quelônios, 4 jacarés, 94 lagartos, 10 anfisbenas, 149 serpentes). Esses números já são maiores atualmente, mas permitem dar uma idéia aproximada da diversidade conhecida do grupo. Vale ressaltar o caso das salamandras, onde uma única espécie está descrita até o momento para o Brasil (na Amazônia), mas atualmente já se sabe da existência de pelo menos quatro espécies na Amazônia brasileira (objeto de uma dissertação de mestrado [Brcko, 2011], ainda em processo de publicação). Considerando apenas o estado do Pará, são conhecidos 149 espécies de anfíbios (136 anuros, uma salamandra [Caudata], 12 gimnofionas) e 256 espécies de répteis (20 quelônios, 4 jacarés, 77 lagartos, 10 anfisbenas, 145 serpentes), segundo compilação recente do Museu Paraense Emílio Goeldi (a ser disponibilizada em sua página institucional em breve). A distribuição dos lagartos na Amazônia indica grupos faunísticos distintos na região das Guianas (que corresponde à área de endemismo [AE] Guiana, como indicada por Silva et al., 2005), no oeste da Amazônia (AE Imeri, Napo e Inambari), sudoeste da Amazônia (equivalente predominantemente à AE Inambari) e algumas espécies com distribuição restrita ao sul do rio Amazonas ou a partes dessas áreas (p.ex., Enyalius leechii distribui-se nas AE Belém, Xingu, Tapajós e Rondônia, Anolis phyllorhinus e Leposoma osvaldoi na AE Rondônia, Gonatodes tapajonicus na AE Tapajós, e Stenocercus dumerilii na AE Belém). O rio Negro efetivamente parece constituir uma barreira biogeográfica importante, enquanto ao sul do rio Amazonas há uma transição faunística especialmente na faixa entre os rios Purus e Tapajós (AvilaPires, 1995; Avila-Pires et al., 2009). Para as serpentes ainda não há estudos biogeográficos abrangentes mas é evidente que, da mesma forma que para os lagartos, os rios não atuam tanto como divisores de fauna, como ocorre para aves e primatas. No caso dos jacarés, as quatro espécies que ocorrem na Amazônia têm ampla distribuição. Em quelônios algumas espécies amazônicas têm distribuição mais restrita, aparentemente por questões ecológicas (p.ex., Podocnemis erythrocephala e Peltocephalus dumerilianus são encontradas em rios de água preta, Podonemis sextuberculata em rios de água clara – Vogt et al., 2001). No caso dos anfíbios, análises biogeográficas apresentam ainda muitos problemas, tendo em vista que a taxonomia de vários grupos está mal resolvida. Isso não permite se ter uma idéia de padrões gerais na Amazônia, mas são conhecidas espécies de distribuição restrita. Aquelas relacionadas à área-foco do presente estudo serão consideradas em mais detalhe nesse relatório. Considerando-se o conhecimento atual, especialmente relacionado aos lagartos, a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, situada no interflúvio Madeira-Tapajós, deve apresentar uma herpetofauna relacionada principalmente à do sudeste amazônico, com alguns elementos da Amazônia ocidental e alguns aparentemente restritos à AE Rondônia. 87

O presente relatório tem por finalidade apresentar informações acerca da herpetofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no Município de Santarém, PA, tendo como base expedições a quatro localidades da RESEX e dados secundários abrangendo especialmente parte dos municípios de Aveiro, Belterra, Juruti e Santarém, no interflúvio Madeira-Tapajós. Das quatro localidades visitadas, duas localizam-se no lado oeste da reserva (rio Arapiuns), duas no lado leste (rio Tapajós). Três das localidades apresentam cobertura florestal, enquanto na Comunidade Capixauã foi inventariado também um enclave de vegetação aberta aí existente. 2. OBJETIVOS: 2.1. OBJETIVO GERAL

Conhecer a herpetofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Município de Santarém, Pará, de forma a subsidiar o Plano de Manejo da UC.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS •

Determinar a composição e riqueza de espécies da herpetofauna da RESEX Tapajós-Arapiuns;



Evidenciar espécies da herpetofauna que tenham importância para a conservação;



Relacionar as espécies da herpetofauna encontradas na RESEX TapajósArapiuns que sejam

vulneráveis ou ameaçadas de extinção e aquelas

endêmicas; •

Identificar áreas e hábitats de importância ecológica que mereçam proteção especial e/ou estudos mais aprofundados;



Fornecer informações biológicas que possam subsidiar o plano de manejo e o monitoramento da área em relação às ações antrópicas.

3. MÉTODOS 3.1. DADOS SECUNDÁRIOS

Foram utilizados (1) dados dos arquivos da Coleção Herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, de espécimes procedentes dos municípios de Aveiro, Belterra, Juruti e Santarém, especialmente no interflúvio Madeira-Tapajós, confirmando-se a identificação dos exemplares quando necessário; (2) documento “Mapeamento e diagnóstico da biodiversidade do Parque Nacional da Amazônia e das Florestas 88

Nacionais de Itaituba I e II: subsídios para a elaboração dos planos de manejo”; (3) a literatura herpetológica especializada.

3.2. DADOS PRIMÁRIOS

Os métodos de amostragem foram similares para cada uma das quatro localidades amostradas. Dois métodos de coleta foram empregados: coleta ativa, tanto diurna como noturna, e armadilhas de interceptação e queda (pitfalls). Foram instalados 16 pitfalls por localidade, distando cerca de 100 m entre si, os quais foram vistoriados uma vez por dia. Cada pitfall constou de quatro baldes de 60L separados por 8m de lona plástica. Na localidade de Capixauã, onde existe uma área de cerrado, metade dos pitfalls foi colocado na área de cerrado, a outra metade em área de floresta (perturbada). Foram registrados dados de habitat (coleta ativa e pitfall), microhabitat, hora de coleta e observações comportamentais, se pertinente (coleta ativa). Além disso, considerou-se também os exemplares obtidos por encontro ocasional, tanto pela equipe de herpetologia como por outras equipes. Os indivíduos coletados foram sacrificados com anestésico, medidos e pesados, fixados em formol 4% e preservados em álcool 70%. Parte dos indivíduos foi registrada fotograficamente em vida ou previamente à fixação. Antes da fixação foi retirada uma amostra de tecido (músculo ou fígado) e preservada em álcool absoluto para futuros estudos moleculares. Todos os indivíduos coletados e as amostras de tecido estão depositados na coleção herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (ainda em processo de registro). Os indivíduos foram identificados de forma preliminar no campo, com a identificação final feita em laboratório, com o auxílio da literatura especializada e de comparação com exemplares da coleção. Para cada localidade apresentamos as espécies registradas, a composição por grupos taxonômicos e a distribuição por habitat, quando pertinente. Esses dados, assim como uma curva de acumulação de espécies, são apresentados também para o conjunto total de dados. Para identificar elementos da herpetofauna de interesse para a conservação foram consideradas as listas de espécies ameaçadas da IUCN (WWW.iucnredlist.org), nacional (http://www.mma.gov.br/estruturas/179/_arquivos/179_05122008034002.pdf) e do Pará (http://www.sema.pa.gov.br/interna.php?idconteudocoluna=2283). Identificou-se também os elementos constantes da CITES (http://www.cites.org/eng/resources/species. html), que indicam possível interesse para exportação (legal ou ilegal). Espécies conhecidas por serem ou terem sido utilizadas na alimentação, em termos regionais ou locais (estes a partir de conversas com os moradores) são também mencionadas. 3.3. NOMENCLATURA CIENTIFICA

A fim de facilitar comparações com documentos e publicações anteriores, utilzou-se uma nomenclatura conservadora, evitando-se nomes científicos ainda controversos ou muito novos, sugeridos em substituição a nomes já existentes.

89

4. RESULTADOS

Foram registradas, nas quatro áreas, 97 espécies de anfíbios e répteis, dos quais 36 anfíbios – todos Anura – e 61 répteis – 23 lagartos, 32 serpentes, 5 quelônios e uma espécie de jacaré (Fig. 1). Anfíbios e lagartos são os grupos mais diversificados em termos de famílias, cujas proporções são mostradas na Fig. 2 e 3, respectivamente. Quelônios Jacarés (1) (5)

Serpentes (32)

Anfíbios 36

Lagartos 21

Fig. 1 – Distribuição proporcional dos anfíbios e principais grupos de répteis registrados nas expedições à RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referemse ao número de espécies encontrado dentro do grupo.

Anfisbena s (2)

Fig. 2 – Distribuição proporcional das famílias de anfíbios registradas nas quarto areas de estudo, na RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referem-se ao número de espécies encontrado dentro do grupo.

Microhylid ae (1) Bufonidae (5) Leptodact ylidae (10)

Hylidae (19)

Na segunda expedição as principais adições deveram-se (1) a espécies de ambiente de cerrado, representado apenas, dentre as localidades amostradas, em Capixauã; e (2) a serpentes, grupo que requer longos períodos de amostragem. É provável também que amostragens durante o período das chuvas, especialmente na fase inicial, ocasione um aumento no número de espécies de anfíbios.

90

Dendroba tidae (1)

Amphisbaenid Gekkonidae ae (2) (1) Phyllodactylid ae (1)

Teiidae (3)

Fig. 3 – Distribuição proporcional das famílias de lagartos (e anfisbenas) registradas nas quarto areas de estudo, na RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referem-se ao número de espécies encontrado dentro do grupo.

Sphaerodactyl idae (3)

Gymnophthal midae (5) Polychrotidae (4) Scincidae (1) Tropiduridae (3)

A curva cumulativa de espécies do conjun to das quatro expedições (Fig. 4 ) ainda não No . 120 cu m 100 ula tiv o de es pé cie

80 60 40 20 0 0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

No. cumulativo de exemplares

Fig. 4 -

Curva cumulativa de espécies, considerando todas os registros nas quatro

O acréscimo de exemplares e espécies foi contabilizado por dia de amostragem. A primeira expedição (localidades Alto Mentai e Nova Canaã) contabilizou 73 espécies e 492 exemplares, com a segunda expedição (localidades Capixauã e Tucumatuba) esses números aumentaram para 97 espécies e 928 exemplares. As quatro áreas diferiram quanto ao número de espécies encontradas, variando de 40 em Capixauã a 56 em Alto Mentai. Essas diferenças são em parte resultantes da amostragem incompleta, mas em parte refletem diferenças reais, devidas a ambientes distintos que se refletem nas espécies neles presentes. A Tabela 1 apresenta a lista de espécies, comparando as quatro áreas e a Tabela 2 mostra um resumo por grupos. 91

Tabela 1 – Lista das espécies registradas durante as expedições de junho de 2011 e marçoabril de 2012, indicando as áreas onde foram encontradas. Algumas espécies, que serão comentadas no texto, não foram identificadas, necessitando mais estudos. Taxon

Alto Mentai

Nova Canaã

Capixauã

Tucumatuba

AMPHIBIA Bufonidae Bufo castaneoticus Bufo granulosus * Bufo gr. margaritifer Bufo marinus Rhaebo guttatus Dendrobatidae Allobates femoralis Hylidae Hyla boans Hyla cinerascens Hyla geographica Hyla leucocheilus Hyla wavrini Hyla sp. 1 Hyla sp. 2 Osteocephalus leprieuri Osteocephalus oophagus Osteocephalus taurinus Osteocephalus sp. Grande cinza Osteocephalus sp. Peq. Phrynohyas sp. nov. Phyllomedusa vaillanti Scinax garbei Scinax nebulosa Scinax sp. 1(coxas pretas) Scinax sp. 2 Scinax 3 ("gr. ruber") Leptodactylidae Adenomera andreae Adenomera "brown" Engystomops paraensis Leptodactylus fuscus * Leptodactylus paraensis Leptodactylus pentadactylus Leptodactylus petersii Leptodactylus mystaceus

X

X

X X

X X

X X X

X X

X

X

X

X X X X

X

X X X

X

X X X

X X

X

X X

X

X X X X X

X X X X X X

X

X X X X X

X X X

X

X X X X

X X

X X

X X

92

Leptodactylus rhodomystax Pristimantis fenestratus Microhylidae Chiasmocleis bassleri

X

X X

X

X X X

REPTILIA Squamata - Lagartos e Anfisbenas Amphisbaenidae Amphisbaena alba Bronia brasiliana Gekkonidae Hemidactylus mabouia ** Gymnophthalmidae Bachia flavescens Cercosaura sp. Iphisa elegans Leposoma osvaldoi Leposoma percarinatum Phyllodactylidae Thecadactylus rapicauda Polychrotidae Anolis auratus * Anolis fuscoauratus Anolis tandai Polychrus marmoratus Scincidae Mabuya nigropunctata Sphaerodactylidae Coleodactylus amazonicus Gonatodes humeralis Pseudogonatodes guianensis Teiidae Ameiva ameiva Cnemidophorus lemniscatus * Crocodilurus amazonicus Kentropyx calcarata Tropiduridae Plica plica Plica umbra Uranoscodon superciliosus

X X

X X X X X X

X X X

X

X X X X X

X

X

X

X

X X X

X X

X

X

X X X

X X X

X X

X X X

X X

X X ?***

X X

X

X

X

X

X X

X X

X X

X X

X X

X

X X

Squamata - Serpentes

93

Anomalepidae Leptotyphlops albifrons Typhlopidae Typhlops brongersmianus Boidae Boa constrictor Corallus batesi Corallus hortulanus Epicrates cenchria Eunectes murinus Colubridae Apostolepis pymi Atractus snethlageae Chironius exoletus Chironius fuscus Drymoluber dichrous Helicops angulatus Hydrops martii Imantodes cenchoa Leptodeira annulata Leptophis ahaetulla Liophis reginae semilineatus Mastigodryas boddaerti Oxybelis aeneus Oxybelis fulgidus Oxyrhopus formosus Pseudoboa coronata Pseudoboa neuwiedii Pseustes sulphureus Siphlophis compressus Tantilla melanocephala Xenoxybelis boulengeri Elapidae Micrurus hemprichii Viperidae Bothrops atrox Crotalus durissus * Lachesis muta

X X X X X

X

X X

X X X X X

X X

X

X X X X X X X

X

X X X X

X X X X X X X

X

X

X

X X

X

X

X

X X X

X X

Chelonia Bataguridae Rhinoclemmys punctularia Podocnemididae

X

94

X

Podocnemis expansa Pdodocnemis unifilis Peltocephalus dumeriliana Testudinidae Chelonoidis carbonaria

X

X X X

X

Crocodylia Alligatoridae

Paleosuchus trigonatus X X * Espécies restritas a áreas abertas. ** Espécie introduzida, restrita a ambientes antrópicos. *** Presença na área indicada por moradores (seriam comuns no verão, com as águas mais baixas). Tendo em vista não termos confirmado sua presença a espécie não foi computada nas análises aqui apresentadas. Tabela 2 – Número de espécies registrada por grupo e por área amostrada. Alto Nova Capixauã Tucumatuba Mentai Canaã Anfíbios Lagartos Anfisbenas Serpentes Quelônios Jacarés TOTAL

19 17 1 17 2 0 56

18 14 0 11 3 0 45

13 12 2 11 2 1 40

21 16 0 8 1 1 48

As diferenças na quantidade de espécies encontradas em cada área reflete apenas parcialmente as diferenças entre as áreas. Olhando-se a composição das espécies, observa-se que apenas em torno da metade das espécies são comuns entre as áreas quando comparadas duas a duas. Isso pode ser visto na Tabela 3. Como esperado, tendo em vista a presença de vegetação de cerrado em Capixauã, que abriga espécies ausentes em áreas florestadas (marcadas com * na Tabela 1), essa área foi a que apresentou o menor índice de similaridade com as demais. Outro fator ambiental que influencia a ocorrência de espécies é a presença de corpos d’água em uma área – várias espécies de anfíbios, especialmente da família Hylidae, são encontradas na vegetação aquática ou na margem de lagos e a presença desse ambiente é essencial para encontrar essas espécies. Assim, parte das diferenças observadas é devida à heterogeneidade ambiental. Em alguns casos é bem clara a relação entre as características ambientais e a ocorrência de algumas espécies, em outros casos isso não é tão evidente. Alguns desses casos são apontados no item a seguir. Tabela 3 – Comparação entre as quatro áreas amostradas quanto à composição da herpetofauna. A diagonal apresenta o número de espécies em cada área, os números abaixo da diagonal representam o número de espécies comuns a cada par de áreas, e os números acima da diagonal indicam o “coeficiente de similaridade biogeográfica” 95

(Duellman, 1990), calculado pela fórmula 2C/(N1+N2), onde C = número de espécies comuns e N = número de espécies em cada uma das duas áreas. Alto

Nova

Mentai

Canaã

Capixauã Tucumatuba

Alto Mentai Nova Canaã Capixauã Tucumatuba

56 28 20 31

0,55 45 19 27

0,42 0,45 40 18

0,60 0,58 0,41 48

A abundância relativa das espécies, obtida considerando o número de exemplares amostrados por espécie, variou entre as áreas (Fig. 5). Considerando apenas as espécies representadas por 10 ou mais indivíduos em uma área, apenas Adenomera andreae aparece nas listas das quatro localidades amostradas. Bufo castaneoticus, Gonatodes humeralis e Coleodactylus amazonicus aparecem em três das listas, enquanto Ameiva ameiva e Anolis tandai aparecem em duas das listas. Isso reforça a idéia de que há uma heterogeneidade espacial na área que se reflete na distribuição e abundância da fauna. Entre as espécies encontradas no área de RESEX Tapajós-Artapiuns algumas se destacam por sua distribuição ou por aparentemente representarem novas espécies:

96

97

Anfíbios Bufonidae Os sapos do grupo Bufo margaritifer formam um grupo extenso com taxonomia mal resolvida. Bufo margaritifer foi ilustrado por Seba (1734) e formalmente descrito por Laurenti (1768), parecendo estar restrita à área das Guianas. Na àrea de TapajósArapiuns ocorrem duas espécies desse grupo, uma grande, provavelmente nova, com tamanho total até 85 mm, focinho pontiagudo, crestas craniais bem desenvolvidas, sem protuberância óssea na articulação da mandíbula e uma linha lateral de tubérculos cônicos. Esses carateres morfológicos já são visíveis em exemplares jovens. A outra espécie, Bufo castaneoticus, tem tamanho menor, chegando apenas a 45 mm, focinho mais redondo, crestas craniais ausentes e uma linha lateral de tubérculos pouco elevados e arredondados. No campo essas diferenças são difíceis de verificar e por isso todos os exemplares encontrados desse grupo foram coletados, para se ter uma idéia fiel de sua riqueza. As espécies ocorrem em sintopia na serapilheira da floresta de terra firme. Provavelmente há diferenças no modo de reprodução, mas isso não pôde ser observado porque as coletas foram feitas fora da estação de reprodução da maioria das anfíbios anuros. De B. castaneoticus sabemos que ele se reproduz nos ouriços-decastanha caídos e vazios, que são encontrados com água, e provavelmente em outros pequenos recipientes naturais de água encontrados na floresta. A espécie maior provavelmente se reproduz em poças ou áreas alagadas. As diferenças em riqueza dessas duas espécies foram marcantes. A espécie grande não foi encontrada na área de Capixauã (com ambientes de cerrado e floresta alterada), em Alto Mentai apenas três exemplares foram encontrados, em Tucumatuba sete exemplares, e em Nova Canaã 43 exemplares. Em comparação, B. castaneoticus foi encontrado em todas as localidades amostradas: quatro em Capixauã, 29 em Tucumatuba, 37 em Alto Mentai e 25 em Nova Canaã. É possível que haja uma relação entre os números observados: quando o 98

número de B. castaneoticus é alto, o da espécie maior é menor, e quando o numero da espécie grande é alto o número de B. castaneoticus é menor. Hylidae A perereca Hyla leucocheila foi descrito por Caramaschi & Niemeyer (2003), a partir de exemplares procedentes de Mato Grosso (Aripuanã and Apiacás) e Rondônia (Nova Colina), ao longo da zona de contato entre cerrado e floresta amazônica. Pansonato et al. (2011) registraram a espécie para o norte de Mato Grosso e detalhes sobre o canto nupcial. Em 2008 a espécie foi encontrada também em Juruti e após no PARNA Amazônia, ambas localidades no Pará (material depositado no MPEG). Na área da RESEX Tapajós-Arapiuns ela foi encontrada nas localidades Alto Mentai e Tucumatuba. Possivelmente a espécie foi ouvida em Nova Canaã, num açaizal, mas esse canto não pôde ser registrado. As áreas onde a espécie foi encontrada são de floresta de terra firme, mas em Alto Mentai um exemplar foi encontrado numa área de capoeira, outro ao lado de um igarapé. Os exemplares de Tucumatuba foram encontrados perto de um igarapé. Esses registros de H. leucocheila no Pará, já próximo ao Rio Amazonas, aumentam bastante a distribuição dessa espécie, que pode representar um elemento da fauna restrita à área de endemismo Rondônia (entre os rios Madeira e Tapajós). Foram encontradas algumas outras espécies de Hylidae que sem duvida são novas para a ciência. Encontramos duas espécies pequenas (tamanho ~25 mm) de Hyla (pertencente a um grupo conhecido como “Dendropsophus”), que parecem novas. Uma delas tem duas manchas brancas debaixo dos olhos e é conhecida de outros lugares da Amazônia, sob diferentes nomes (errados). A outra é cinza a marrom, com manchas pretas irregulares no dorso (ausente em alguns indivíduos). Foi encontrada em Alto Mentai e em Tucumatuba, e o material coletado forma uma boa série para uma descrição. Também foram obtidas amostras de tecido para pesquisa de DNA. Uma espécie de Osteocephalus (tamanho 76 mm) com íris amarela (não raiada) e dorso marrom ou cinza com uma marca em forma de “X”, não concorda com as espécies conhecidas da área (O. taurinus, O. leprieuri, O. inframaculata, O cabrerai) e muito provavelmente representa um novo taxon. Exemplares foram coletados em Tucumatuba (4) e Nova Canaã (2). Essa espécie também foi coletada no PARNA Amazônia e em Juruti (material na coleção do MPEG). Um exemplar pequeno de Osteocephalus, coletado em Alto Mentai, pode ser mais uma espécie nova, ou um jovem de O. oophagus. Os exemplares de Hyla geographica coletados em Capixauã, Tucumatuba e Alto Mentai mostram um desenho nos flancos e nas coxas que difere do padrão conhecido ao norte do Rio Amazonas. Pode ser um indício de se tratar de uma outra espécie, mas é algo ainda a ser investigado. Na localidade de Capixauã, Hyla boans e Hyla wavrini foram encontradas no mesmo ambiente, em área alagada, sobre árvores, o que não é usual. Esse ambiente costuma ser mais propício para H. wavrini, enquanto H. boans é encontrada em floresta de terra firme, ao lado de igarapés (Hoogmoed, 1990). Em Nova Canaã e Alto Mentai H. boans efetivamente foi encontrada nesse ambiente (enquanto H. wavrini não foi registrada). Um exemplar pequeno (26 mm) de uma espécie de Scinax, com íris laranja vivo e parte posterior das coxas preto uniforme (sem manchas amarelas como nas espécies 99

do grupo) foi encontrado em Novo Canaã e provavelmente representa uma nova espécie. Em Alto Mentai foi encontrado um exemplar de Phrynohyas, menor que outros Phrynohyas da região e com manchas pretas na barriga. Esse exemplar não concorda com as espécies de Phrynohyas conhecidas da região (P. typhonius, P. coriacea, P. resinifictrix) e parece que já está em processo de descrição por um pesquisador do Rio de Janeiro, comm base em material procedente de Juruti, PA. Leptodactylidae Em toda a Amazônia pequenos sapos da serapilheira do gênero Adenomera são muito comuns e caem em pitfalls em grande quantidade. A área de RESEX TapajosArapiuns não foi exceção. Para toda a Amazônia brasileira são conhecidas apenas três especies: A. andreae, que ocorre em todas as áreas florestadas, A. hylaedactyla em áreas abertas (savanas) e A. heyeri, apenas conhecido no Brasil de uma localidade perto da fronteira com a Guyana (AvilaPires et al., 2010). No Peru foi demonstrada a existência de espécies cripticas e simpátricas, reconhecidas com base na vocalização. Estudos para Brasil ainda são incipientes. A espécie A. andreae é muito variável, com pelo menos tres padrões de coloração: cinza com manchas pretas irregulares, marrom com duas bandas largas dorsolaterais claras e marrom com linha sacral e linhas dorsolaterais laranja. Em Nova Canãa, Alto Mentai e Tucumatuba encontramos exemplares de A. andreae com padrão differente e tentamos descobrir se se trata de mais um padrão ou se estamos com mais uma espécie. As amostras de tecido para estudos moleculares podem ajudar a resolver essa questão. Lagartos Gymnophthalmidae Cercosaura sp. é um lagarto de serapilheira que tem semelhanças com C. ocellata, mas que provavelmente representa uma espécie não descrita. Temos também exemplares de Juruti, PA, que já vinha sendo estudado. O grupo como um todo está sendo revisado como parte de uma tese de doutorado, onde esperamos definir o status taxonômico desses exemplares. Sphaerodactylidae Pseudogonatodes guianensis é um pequeno lagarto encontrado em ambientes úmidos junto à serapilheira e base de árvores e palmeiras, na floresta. Sua amostragem costuma ser ocasional, entre zero a alguns indivíduos por expedição. A captura, todos em pitfalls, de 19 exemplares na localidade de Tucumatuba foi excepcional. Nas demais localidades visitadas, três exemplares foram obtidos em Alto Mentai e um em Nova Canaã. Teiidae Kentropyx calcarata é um lagarto heliófilo encontrado comumente junto a troncos caídos e margem de igarapés. Ameiva ameiva é outro lagarto heliófilo, da mesma família, igualmente encontrado em clareiras na floresta, mas que suporta níveis de insolação muito maiores, vivendo também em ambientes de vegetação aberta. Dentro da floresta K. calcarata usualmente é visto com mais frequência, mas as duas espécies podem ser encontradas na mesma área. Em Nova Canaã, avistamos em várias (pequenas e médias) clareiras naturais na floresta A. ameiva. Em nenhuma delas vimos 100

K. calcarata (nenhum indivíduo foi avistado ou coletado). Mesmo junto a um igarapé, com tronco e galhos caídos, local aparentemente ideal para K. calcarata, só foi avistado um subadulto de A. ameiva, que é também muito comum na própria comunidade. Em Alto Mentai apenas um indivíduo de K. calcarata foi coletado. Já nas localidades do lado do rio Tapajós, mais indivíduos foram amostrados. Não temos explicação para a ausência / raridade de K. calcarata em parte da RESEX, algo muito pouco usual na área de ocorrência da espécie (Amazônia oriental). Espécies vulneráveis ou ameaçadas de extinção Nenhuma das espécies presentes na RESEX Tapajós-Arapiuns encontra-se na lista estadual ou nacional de espécies ameaçadas de extinção. O quelônio Podocnemis unifilis é classificado como vulnerável pela IUCN, sendo a única espécie em alguma categoria de ameaça. O anexo II da CITES lista espécies cujo tráfico internacional deve ser regulado. Nesse caso não necessariamente a espécie está ameaçada. Das espécies registradas na RESEX Tapajós-Arapiuns encontram-se listados o jacaré (Paleosuchus triogonatus), os quelônios Peltocaphalus dumeriliana, Podocnemis spp. e Chelonoidis carbonária; as serpentes Boidae (todas) e o viperídeo Crotalus durissus; e o lagarto Crocodylurusamazonicus, possivelmente presente na UC (assim como os do gênero Tupinambis e Iguana iguana). Entre os anfíbios, o anexo II inclui todos os Dendrobatidae, o que inclui Allobates femoralis. Possíveis endêmicos do interflúvio Madeira–Tapajós a. Hyla leucocheila b. Cercosaura sp. c. Não registrado, mas de possível ocorrência – Anolis phyllorhinus

Àreas e hábitats de importância ecológica que mereçam proteção especial e/ou estudos mais aprofundados Os enclaves de cerrado amazônicos apresentam uma fauna própria, adaptada à vegetação aberta, não encontrada nas áreas de floresta. Como são áreas com ocorrência pontual na região, a fauna dessas áreas formam populações isoladas, com grande chance de apresentarem diferenças genéticas razoáveis entre si. Ao mesmo tempo, esses ambientes são usualmente frágeis e facilmente sujeitos a sofrerem alterações. Por esses motivos, alguns desses enclaves na UC deveriam ser integralmente protegidos. Da mesma forma, trechos das diferentes fitofisionomias de floresta deveriam ser identificados como áreas de preservação ou primitivas, para que preservem o conjunto total da fauna e flora aí presentes. Considerando que há muitas comunidades na RESEX, que ocupam predominantemente as áreas mais periféricas, a indicação dos moradores de deixar como áreas de menor impacto o centro da UC é pertinente, desde que observados alguns cuidados: • Incluir as nascentes dos cursos de água;

101



Proteger alguns trechos à beira dos rios, incluindo algumas praias/ambientes arenosos,

que abrigam

alguns

animais

próprios

(e.g.,

Crocodilurus,

Uranoscodon, Podocnemis unifilis, Cnemidophorus, etc.); •

Proteger áreas abertas naturais que ainda mantenham a vegetação natural em razoável estado de conservação;



Definir com os moradores planos de manejo para os organismos que utilizam, como a árvore que usam para construir canoas e remos (que fazem inclusive para vender); animais de consumo, como tracajá, cabeçuda e jabuti (sugestão: tamanho mínimo para consumo após ao menos dois períodos reprodutivos); e outros produtos da floresta que utilizam ou venham a utilizar.

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102

DUELLMAN, W.E. 1990. Herpetofaunas in Neotropical rainforests: comparative composition, history, and resource use. In: A.H. Gentry (Ed.), Four Neotropical Rainforests. New Haven: Yale University Press: 455-505. PANSONATO, R.W., AVILA, R.A., KAWASHITA-RIBEIRO & D.H. MORAIS, 2011. Advertisement call and new distribution records of Hypsiboas leucocheilus (Anura: Hylidae). Salamandra 47(1): 55-58. SEBA, A., 1734. Locupletissimi rerum naturalium thesauri accurata descriptio, et iconibus artificiossissimis expressio, per universam physiceps historiam. Vol. I: 1212. J. Wetstenius, G. Smith, J. Waesbergius, Amsterdam. SILVA, J.M.C., RYLANDS, A.B., SILVA-JUNIOR, J.S., GASCON, C. & FONSECA, G.A.B. 2005. Primate diversity patterns and their conservation in Amazonia. In: A. Purvis, J.L. Gittleman, T. Brooks (Org.). Phylogeny and Conservation. Cambridge: Cambridge University Press, 2005, v. 10: 337-364. VOGT, R.C., G.M. MOREIRA & A.C.O.C. DUARTE. 2001. Biodiversidade de répteis do bioma Floresta Amazônica e ações prioritárias para sua conservação. Pp. 89-96 in: A. Veríssimo, A. Moreira, D. Sawyer, I. Santos & L.P. Pinto (Orgs.), Biodiversidade na Amazônia Brasileira. Avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. São Paulo: Estação Liberdade : Instituto Sócio-Ambiental.

103

RELATÓRIO 5

RELATÓRIO DE EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA

LEVANTAMENTO RÁPIDO DA QUIROPTEROFAUNA NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS 2011-2012

EQUIPE: Ana Albernaz – Museu Paraense Emílio Goeldi Luís Reginaldo Ribeiro Rodrigues – Universidade Federal do Oeste do Pará Anderson Jose Baía Gomes – Universidade Federal do Pará Rafaela Fatima Soares da Silva – Museu Paraense Emílio Goeldi Willam Oliveira da Silva – Universidade Federal do Pará

104

INTRODUÇÃO Os morcegos são os únicos mamíferos voadores e constituem a segunda maior ordem da classe Mammalia, a Ordem Chiroptera. Atualmente, são conhecidas mais de 1.000 espécies de morcegos, que se classificam em dois grupos principais: a subordem Megachiroptera e a subordem Microchiroptera. Os megaquirópteros, também conhecidos como raposas voadoras, ocorrem na África, Ásia e Oceania, sem representados por uma única família (Pteropodidae). Os microquirópteros, por sua vez, são encontrados no mundo inteiro, com exceção da Antártida, e compreendem 17 famílias (Findley, 1995). A mastofauna brasileira inclui 12 Ordens e 701 espécies. O grupo mais especioso é o dos roedores com 34,7% das espécies, seguido pelos morcegos que perfazem 24,8%, representando 174 espécies, 65 gêneros e nove famílias (Paglia et al. 2012). Com base nestes números, o Brasil é o segundo país com maior diversidade de morcegos, superado apenas pela Colômbia, com 178 espécies (Bernard et al. 2010). Os estudos sobre a quiropterofauna brasileira tem se intensificado nos últimos 15 anos, entretanto, menos de 10% do território nacional pode ser considerado minimamente amostrado e nenhum dos biomas pode ser considerado bem estudado quanto à quiropterofauna. A situação do bioma Amazônia é considerada crítica, visto que menos de 25% da região já recebeu estudos sobre quirópteros (Bernard et al. 2010). Além disso, nota-se que a maioria dos estudos foram concentrados em sítios próximos de centros urbanos (Manaus, Belém, Macapá e Santarém) e ao longo de alguns rios de fácil navegabilidade, o que torna deficiente a representatividade dos dados disponíveis para essa enorme região, que abriga vasta heterogeneidade de habitats, tais como a floresta tropical chuvosa densa e ambientes mais secos, como manchas de cerrados e campinaranas, além de florestas inundáveis sazonalmente. Uma compilação recente da lista de quirópteros da Amazônia brasileira registra 146 espécies de 64 gêneros e nove famílias (Bernard et al. 2011). A família Phyllostomidae é a mais rica com 80 espécies, seguida por Molossidae (24 sp.), Vespertilionidae (16sp.), Emballonuridae (16 sp.), Mormoopidae (3 sp.), Thyropteridae (3 sp.), Noctilionidae (2 sp.), Natalidae e Furipteridae com apenas uma espécie cada. O Pará é o estado amazônico com o maior número de espécies registradas (120), porém o nível de conhecimento sobre a quiropterofauna paraense ainda é considerado deficiente e, pelo menos, duas áreas são indicadas como prioritárias para receber estudos de inventário biológico: o sul do Pará e a porção noroeste da calha norte paraense (Bernard et al. 2011). Na região oeste do Pará, mesorregião onde se localiza a RESEX Tapajós-Arapiuns, vários sítios já foram estudados e servirão de base de conhecimento para comparação com os dados obtidos no presente estudo. Entre eles, o Parque Nacional da Amazônia com 42 espécies (Reis & Schubart 1979; Mok et al. 1982; Marques 1985; Rodrigues – dados não publicados); a FLONA Tapajós com 55 espécies (Castro-Arellano et al. 2007) e a região de Alter-do-Chão, Santarém com 70 espécies (Bernard & Fenton, 2002). Os morcegos desempenham inúmeros papéis na regulação dos ecossistemas tropicais, pois sua notável diversidade de adaptações morfológicas e hábitos alimentares lhes permite a utilização dos mais variados nichos em relação de interdependência com o meio (Miretzki, 2003). A ecologia alimentar dos morcegos provê informações extremamente úteis para o entendimento dos mecanismos de partilha de recursos que regulam as relações tróficas, e que são responsáveis pela alta diversidade deste grupo nas regiões tropicais (Passos et al. 2003). 105

Nos trópicos, os morcegos que se alimentam de frutas e néctar desempenham um papel vital na sobrevivência das florestas pluviais. Ao comerem as frutas, os morcegos espalham suas sementes, à medida que voam e fazem a digestão. Os morcegos que se alimentam de néctar polinizam muitas plantas de valor nutritivo ou econômico, muitas plantas que produzem frutos de importância na agricultura, como caju, figo, banana, manga e outras, dependem dos morcegos para polinização e dispersão de suas sementes. A dispersão de sementes por morcegos frugívoros contribui para o estabelecimento de muitas espécies de plantas pioneiras, auxiliando os mecanismos de regeneração e sucessão secundária em áreas tropicais (Passos et. al. 2003). À medida que partilham os recursos, em especial os alimentares, os quirópteros influenciam a dinâmica dos ecossistemas naturais, agindo como dispersores de sementes, polinizadores e reguladores de populações animais. Por suas características ecológicas este grupo pode ser útil como indicador de alteração no ambiente na identificação dos processos biológicos envolvidos na perda ou transformação do habitat natural (Bianconi et al. 2004). METODOLOGIA

SÍTIOS DE ANMOSTRAGEM

Os locais de coleta de morcegos foram estabelecidos em parcelas previamente determinadas nos transectos de 5 km construídos para este estudo, nas localidades de Nova Canaã, Alto Mentai, Boim e Capixauã. As parcelas consistiram de trilhas em linha reta de 250 metros, abertas em posição ortogonal ao transecto e espaçadas a cada 1000 metros. Eventualmente, algumas amostras foram coletadas em locais fora do transecto/parcela, com o objetivo de se amostrar micro-habitat específico, tal como área alagada e igarapé, ou em abrigos, tais como ocos de árvores. No quadro 1 abaixo estão indicados os locais de coleta de quirópteros na Resex Tapajós-Arapiuns. Quadro 1: Sítios de coleta de quirópteros na Resex Tapajós Arapiuns.

Sítio

Acrônimo

Coordenadas (GPS)

NC-1

S 03° 10’ 11.3’’ – W 55° 49’ 01.3’’

NC-2

S 03° 09’ 28.7’’ – W 55° 49’ 31.1’’

Nova Canaã, Igarapé Inhambu Pt Santarém, PA Com. Nova Canaã, arapé Inhambu Pt 02, Santarém, PA Com. Alto Mentai, Pt 01, Santarém, PA

106

Alto Mentai, Pt 02 (Vila Alto Mentai) Santarém, PA Com. Boim, Igarapé

AM-2

S 02° 47’ 27.0’’ – W 55° 36’ 01.8’’

BO-1

S 03° 05’ 37.0’’ – W 55° 32’ 08.3’’

BO-2

S 03° 06’ 26.3’’ – W 55° 31’ 42.8’’

CP-1

S 02° 36’ 44.5’’ – W 55° 11’ 31.5’’

quem dizia Pt 01, Sant, PA Com. Boim, Igarapé quem dizia Pt 02, Sant, PA Com. Capixauã, Pt 01, Santarém, PA

Técnicas de coleta e esforço amostral As coletas foram realizadas com o uso de redes de neblina medindo 12m x 2,5m. As redes foram instaladas ao nível do solo, em arranjo linear contínuo, acompanhando a trajetória da parcela. Normalmente, o arranjo era composto por 12 redes que eram abertas ao anoitecer (18:00h) e fechadas à meia-noite, sendo vistoriadas em intervalos de 15 a 30 minutos. Adicionalmente, algumas coletas foram realizadas por busca ativa em abrigos diurnos para complementação do inventário. Tais buscas foram realizadas no período da manhã, nas proximidades do transecto principal ou em abrigos relatados por moradores locais. A captura em abrigos consistiu de cercar o abrigo com rede de neblina e depois afugentar os morcegos em direção à rede. Este procedimento foi realizado por pelo menos duas pessoas, mas não se padronizou o esforço empregado, por este motivo o cálculo de esforço amostral foi baseado apenas na técnica de rede de neblina. A unidade de esforço amostral adotada neste estudo foi a Hora.Rede (H.R), ou seja, uma H.R equivale a uma rede de 12m x 2,5m aberta por uma hora. Triagem e registro de dados biológicos Os morcegos capturados foram removidos das redes e colocados individualmente em sacos de pano. Ao longo dos intervalos de vistoria das redes, os animais foram analisados para obtenção dos seguintes dados: hora da captura, peso, sexo, faixa etária, estado reprodutivo, comprimento do antebraço e identificação taxonômica. Quando possível o animal era fotografado. Após a tomada dos dados, os morcegos foram soltos no mesmo local da coleta, exceto alguns espécimes, principalmente, aqueles cuja identificação era duvidosa, que foram coletados como vouchers para posterior confirmação taxonômica e para compor coleção de referência. Para a identificação adotou-se as chaves dicotômicas publicadas por Lim & Engstrom (2001) e Gardner (2007). 107

Os espécimes coletados foram preparados por via úmida, fixados em formol 10% e conservados em Etanol 70%, recebendo etiqueta de campo seriada com o acrônimo RSTA (Resex Tapajós-Arapiuns). A coleção foi partilhada entre as instituições Museu Paraense Emilio Goeldi e Universidade Federal do Oeste do Pará, conforme instrui a licença SISBIO (N° 332801). Sub amostras de tecido dos espécimes coletados foram preservadas para futuros estudos genéticos.

Análise dos dados Cada evento de captura foi assumido como um registro individual. A abundância relativa foi obtida pela razão entre o número de capturas de cada espécie pelo número total de morcegos capturados. A eficiência do inventário foi estimada pelo Índice de capturas (IC) dado pela razão entre o número de capturas pelo esforço amostral, e também pela razão entre o número de espécies pelo número de capturas, e pela razão entre o número de espécies pelo esforço amostral. A análise da curva acumulativa de espécies foi usada para se avaliar e estimar a riqueza local pelo método não paramétrico Jackknife de 2ª ordem. Este estimador calcula a riqueza local somando-se a riqueza observada a um parâmetro calculado a partir do número de espécies raras e do número de amostras, conforme a equação abaixo (Cowell & Coddington, 1994):

Sest = Sobs + [L(2n-3) / n - M(n-2)2 / n(n-1)] Ond: Sest = riqueza estimada Sobs = riqueza observada L = número de espécies que ocorrem em somente uma amostra M = número de espécies que ocorrem em somente duas amostras n = número de amostras Este método de estimativa de riqueza foi preferido por reduzir o viés das estimativas e por não requerer uma amostragem extraordinária para revelar resultados confiáveis (Cowell & Coddington, 1994; Tomaz & Zortéa, 2008). A estimativa de riqueza foi calculada com auxílio do programa EstimateS versão8 (Cowell, 2006). Nesta análise, por se tratar de um estudo de levantamento rápido inicial com baixa amostragem de um grupo altamente diversificado na área de estudo, optou-se por agrupar as sub amostras das diferentes localidades, desconsiderando-se também aqui os registros obtidos de capturas em abrigos.

108

RESULTADOS Foram realizadas duas campanhas de levantamento da quiropterofauna na área da RESEX Tapajós Arapiuns. A primeira ocorreu do dia 14 a 23 de junho de 2011 e a segunda do dia 30 de março a 11 de abril de 2012, que resultaram em 16 sessões noturnas de coletas com redes de neblina e três sessões diurnas de busca direta em abrigo. No total foram capturados 267 morcegos, dos quais 254 foram obtidos em redes de neblina armadas à 30cm do nível do solo, enquanto que 13 foram capturados diretamente em abrigos diurnos. Os registros de capturas em abrigos foram desconsiderados para o cálculo de esforço amostral e análise comparativa entre sítios. O esforço amostral compreendeu 1066 (H.R), que foi distribuído em 402 (H.R) na primeira campanha e 664 (H.R) na segunda, resultando em 72 e 182 capturas de morcegos, respectivamente. A síntese do esforço amostral por localidade e respectivos índices de eficiência do inventário são mostrados no Quadro 2. Foram registradas 32 espécies de morcegos representativas de quatro famílias e 24 gêneros (Quadro 3). A maioria delas (27) foi amostrada por rede de neblina enquanto que, oito espécies foram amostradas por busca em abrigo. Destas, cinco foram obtidas exclusivamente por esta técnica. A família Phyllostomidae foi a mais representada com 26 espécies, seguida por Emballonuridae (3 espécies), Molossidae (2 espécies) e Furipteridae (1 espécie). Carollia perspicillata foi a espécie predominante com quase 60% dos registros, seguida por Artibeus obscurus (6%). Sete espécies foram registradas pela captura de um único exemplar (Figura 1).

A curva acumulativa de espécies é mostrada na Figura 2 e evidencia uma leve tendência a estabilização a partir da vigésima quinta espécie. A riqueza estimada pelo método Jacknife de 2ª ordem indicou 32 espécies. Embora tenha ocorrido variação no sucesso de capturas entre as duas campanhas, e entre os locais de coleta, não foram observadas acentuadas variações do número de espécies (Figuras 3).

109

Quadro 2: Números de capturas, espécies, esforço amostral e índices de eficiência do inventário por sítio de coleta de morcegos da RESEX TapajósArapiuns. Sítio NC-1 NC-2 AM-1 BO-1 BO-2 CP-1 CP-2 Total

Captura 24 23 25 12 14 93 0,13 254

Esforço Índice de Captura Espécies Esp/Capt 216 0,11 12 0,50 42 0,55 5 0,22 144 0,17 9 0,36 216 0,06 7 0,58 144 0,10 7 0,50 192 0,48 13 0,14 63 112 0,56 8 1066

0,24

27

0,11

110

Quadro 3: Lista de espécies de morcegos registradas na Resex TapajósArapiuns Método

Categoria Trófica

Família/Espécie Família Emballonuridae Cormura brevirostris Peropteryx macrotis Saccopteryx bilineata

n

Abundância Relativa (%)

5 1 2

1,87 0,37 0,75

1;2 2 1;2

IA IA IA

Família Furipteridae Furipterus horrens

1

0,37

2

IA

Família Molossidae Molossops sp. Molossus sp.

2 1

0,75 0,37

2 2

IA IA

5 2 2 3 16 4 4 1 159 2 2 1 2 4 5 2 1 2 8 7 2 5 4 1 9 2

1,87 0,75 0,75 1,12 5,99 1,50 1,50 0,37 59,55 0,75 0,75 0,37 0,75 1,50 1,87 0,75 0,37 0,75 3,00 2,62 0,75 1,87 1,50 0,37 3,37 0,75

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1;2 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1

FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU CAR HEM NEC IF IF IF IF IF FRU FRU IF CAR IF FRU FRU

Família Phyllostomidae Artibeus cinereus Artibeus concolor Artibeus gnomus Artibeus lituratus Artibeus obscurus Artibeus planirostris Carollia brevicauda Carollia cf benkeithi Carollia perspicillata Carollia sp. Chiroderma villosum Chrotopterus auritus Desmodus rotundus Lonchophylla thomasi Lophostoma silvicolum Micronycteris schimidtorum Mimon crenulatum Phylloderma stenops Phyllostomus elongatus Rhinophylla fischerae Rhinophylla pumilio Tonatia saurophila Trachops cirrhosus Trinycteris nicefori Uroderma bilobatum Vampyriscus bidens

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Trinycteris nicefori Mimon crenulatum Chrotopterus auritus Carollia cf benkeithi Vampyriscus bidens Rhinophylla pumilio Phylloderma stenops Micronycteris schimidtorum Desmodus rotundus Chiroderma villosum Carollia sp. Artibeus gnomus Artibeus concolor Artibeus lituratus Trachops cirrhosus Lonchophylla thomasi Carollia brevicauda Artibeus planirostris Tonatia saurophila Lophostoma silvicolum Artibeus cinereus Rhinophylla fischerae Phyllostomus elongatus Uroderma bilobatum Artibeus obscurus Carollia perspicillata 0

10

20

30

40

50

60

70

Abundância Relativa (%)

Figura 1: Abundância relativa entre espécies da Família Phyllostomidae. Em destaque a espécie predominante Carollia perspicillata (Foto).

112

35 30

Espécies

25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Noites de coleta (72 H.R)

Figura 2: Curva acumulativa de espécies de morcegos da Resex Tapajós Arapiuns gerada a partir de dados de rede neblina. As linhas tracejadas indicam os intervalos de confiança a 95%.

200 180 160 140 120 100

Capturas

80

Espécies

60 40 20 0 Camp 1

Camp 2

Figura 3: Capturas e número de espécies de morcegos registrados por redes de neblina nas duas campanhas de levantamento da quiropterofauna da Resex Tapajos Arapiuns.

113

DISCUSSÃO De acordo com as compilações mais recentes, 120 espécies de morcegos possuem registro de ocorrência no estado do Pará (Bernard et al. 2011). Na região oeste do Pará, estudos de longo prazo demonstraram elevada diversidade da quiropterofauna local em áreas preservadas, como a FLONA Tapajós (55 espécies) e Alter-do-Chão (70 espécies) (Castro-Arellano et al. 2007; Bernard & Fenton, 2002). No presente estudo relatamos 32 espécies na Resex Tapajós Arapiuns, o que interpretamos como uma parte da diversidade local desta UC. Com base no conhecimento das comunidades de morcegos de outras áreas da região oeste do Pará e razoável sugerir que na Resex Tapajós Arapiuns podem ocorrer de 55 a 70 espécies. Levantamentos rápidos da biodiversidade, tais como no presente estudo, geralmente resultam numa amostragem parcial da diversidade local de um sítio, entretanto, são muito valiosos no sentido de gerar informações prioritárias para subsidiar planos de conservação e avançar o conhecimento sobre a biodiversidade concorrendo inclusive para a descoberta de novas espécies (Alonso et al. 2001). Tradicionalmente, a estratégia de estudo da quiropterofauna no bioma Amazônia é caracterizada por estudos de longo prazo realizados em sítios próximos aos grandes centros urbanos, havendo portanto, poucos estudos de levantamento rápido publicados. Martins et al (2006), por exemplo, relata dados obtidos em três UC’s do estado do Amapá. Quando comparados aos resultados obtidos na Resex Tapajós Arapiuns nota-se que devido ao maior esforço amostral aplicado no presente estudo, o índice de capturas foi menor (0,24 morcegos/rede.hora), entretanto, não se observou acentuada variação nos índices espécies/captura (0,11) e espécies/esforço (0,03). Em termos de eficiência do inventário, os resultados indicam maior semelhança com o estudo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru (AP), que embora tenha registrado 19 espécies, mostrou índices de captura e espécies/esforço de 0,27 e 0,04, respectivamente. A predominância de espécies da família Phyllostomidae é um padrão comum em áreas de floresta da região neotropical, além disso, este grupo parece ser mais suscetível a capturas por redes de neblina (Voss & Emmons, 1996; Simmons & Voss, 1998; Sampaio, et al. 2003). Da mesma forma, a dominância de Carollia perspicillata é um padrão comum e tem sido observado em outras áreas do bioma Amazônia (Bernard & Fenton, 2002; Castro-Arellano et al. 2007; Sampaio et al. 2003). É interessante notar que a segunda espécie mais abundante, Artibeus obscurus, foi cerca de 10 vezes menos abundante que C. perspicillata. Tal magnitude de variação da abundancia destas duas espécies já foi reportada em áreas de fragmentos florestais do projeto PDBFF, nas proximidades de Manaus (Sampaio et al. 2003). Castro-Arellano et 114

al (2007) demonstraram que C. perspicillata é uma espécie sensível que diminui em abundância em resposta ao corte seletivo de baixo impacto. A conversão de florestas maduras em áreas de plantio também provoca alteração do nível de abundância em C. perspicillata, assim como em outros filostomídeos (Willig et al. 2007). A elevada abundância de Carollia perspicillata observada no presente estudo da Resex Tapajós Arapiuns pode ser explicada por efeito de alteração do hábitat em pelo menos dois dos sítios de amostragem, pois uma análise da distribuição de capturas desta espécie revelou que 123 indivíduos, equivalente a 77,3% do total capturado, foram registrados na localidade de Capixauã. Quando acrescentamos os dados de uma noite de coleta (17/06/2011) realizada em um ponto próximo a localidade de Nova Canaã, o número de indivíduos subiu para 142 (89,3%). De fato, é importante mencionar que abundância de C. perspicillata nestas áreas certamente é maior, visto que em duas noites de coleta na localidade de Capixauã, cerca de 80 indivíduos desta espécie foram soltos sem terem sido registrados no livro de campo. Tal medida foi tomada para se evitar o risco de mortalidade aos animais quando se coloca vários indivíduos no mesmo saco de pano e, também para possibilitar a continuidade do trabalho de campo. Ambos os pontos de coleta nas localidades de Nova Canaã e Capixauã foram alocados em áreas de mata secundária, próximas da Vila e de roçados usados pelos moradores locais, portanto, tratase de ambientes alterados (Figura 5). Similarmente, ficou evidente que a maior variação do número de capturas entre as duas campanhas e entre os locais de amostragem, sem haver grande variação do numero de espécies (Figuras 3 e 4) deve-se a alta taxa de capturas da espécie Carollia perspicillata. O monitoramento da fauna de quirópteros da Resex Tapajós Arapiuns deve ser recomendado em estudos futuros que visem o licenciamento e autorização de atividades potencialmente danosa ao meio ambiente nesta Unidade de Conservação. Alterações da estrutura de habitats florestais são evidentes nas proximidades das vilas e possivelmente já demonstram efeitos na estrutura e composição das assembleias de morcegos nestas áreas. Estudos adicionais são necessários para revelar com maior

115

precisão a riqueza de espécies, assim como a estrutura das assembleias e os padrões ecológicos do grupo em áreas naturais e alteradas dentro da Unidade.

Figura 5: Aspectos da vegetação no ponto 2 de coleta de morcegos na Comunidade Nova Canaã, Resex Tapajós Arapiuns. Local de alta abundância de Carollia perspicillata.

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118

RELATÓRIO 6 RELATORIO PLANTAS RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS

COOPERAÇÃO: MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL

APOIO: ICMBIO ASSOCIAÇÃO TAPAJOARA

EQUIPE: Ana Luisa Albernaz - Coordenação Jerriane Oliveira Gomes – Responsável pelos levantamentos em Nova Canaã e Alto Mentai Angelo Dourado – Responsável pelos levantamentos em Quem Dizia e Capixauã Carlos da Silva Rosario (Carlito) - Parabotânico responsável pela identificação das plantas em Nova Canaã e Alto Mentai Carlos Alberto Santos da Silva (Beleza) – Parabotânico responsável das plantas em Quem Dizia e Capixauã Um representante da Associação Tapajoara em cada local de amostragem (Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã)

121

Introdução As Reservas Extrativistas (RESEX) são Unidades de Conservação de Uso Sustentável e têm como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura das populações tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. Seus principal instrumento de gestão é o Plano de Utilização da Unidade, que deve incluir um zoneamento (divisão da UC em zonas com diferentes intensidades e tipos de usos). De acordo com o último plano de utilização elaborado para a RESEX TapajósArapiuns, a UC foi criada, por demanda das comunidades locais, em 1998 (Carvalho-Jr. 2008). Conforme este documento, os principais conflitos existentes na área, e que levaram à demanda para a criação, estavam relacionados à exploração de madeira por empresas privadas e à retirada de seixos no rio Arapiuns. Ainda de acordo com o documento, o primeiro plano de utilização para a RESEX foi feito em 1999, e estabeleceu a forma de uso dos recursos da RESEX. O primeiro zoneamento da Unidade foi feito em 2003. Esses instrumentos de gestão foram ambos atualizados em 2008. As razões para a definição de cada uma das zonas não é explicada em detalhe no documento de atualização e os documentos mais antigos não estão disponíveis. No que diz respeito ao uso dos recursos da RESEX, a extração de recursos vegetais é permitida dentro dos lotes pertencentes aos comunitários, que aparentemente podem ocupar as zonas I (Habitacional, agrícola e Manejo Florestal Comunitário) e II (Zona de Manejo Florestal comunitário). Na zona I as regras para o uso não são claras, mas na zona II a extração deve ocorrer mediante a aprovação de Planos de Manejo Florestal Sustentável de Uso Múltiplo Comunitário (PMFS) e com a anuência do Conselho Deliberativo da UC (Carvalho-Jr. 2008). A zona III é destinada à conservação e não deve ser utilizada para o extrativismo. Há ainda uma zona de amortecimento de 10 km no entorno da RESEX, para a qual as regras de uso deveriam ser definidas pelo então IBAMA. Do ponto de vista teórico, é importante que as zonas de proteção integral em UCs de uso sustentável sejam representativas da biodiversidade local. Tal representatividade asseguraria o papel da Unidade como parte do sistema de áreas protegidas do País. Além disso, o manejo de espécies de interesse econômico requer que sejam mantidas tanto populações viáveis dessas espécies como a variabilidade genética dos estoques. Nesse sentido, as zonas de proteção integral podem representar uma reserva estratégica importante para a o futuro manejo das espécies de valor comercial da UC. Em síntese, as zonas de proteção integral devem ser consideradas parte integral da estratégia de manejo da unidade e não devem ser alocadas para essas zonas apenas áreas que não são de interesse para o extrativismo. De acordo com o Plano de Uso, a principal atividade econômica dos moradores é a agricultura em pequena escala. O Plano indica que tanto para a melhoria da qualidade de vida da população como para assegurar a conservação da UC seria importante realizar inventários dos recursos vegetais na área da RESEX com vistas a avaliar o potencial para a exploração de recursos madeireiros e outros recursos vegetais nãomadeireiros. O presente relatório é fruto de uma cooperação entre o Museu Paraense Emilio Goeldi e a Conservação Internacional do Brasil, que, com o apoio do ICMBIO e dos moradores da RESEX, teve como objetivo realizar levantamentos de plantas arbóreas na RESEX. Foram visitadas 4 áreas e aqui são apresentados resultados quanto à composição de 122

gêneros e espécies, o potencial econômico das espécies madeireiras e o “status” de conservação das áreas visitadas.

Métodos Foram feitos levantamentos de plantas nas quatro localidades indicadas nas reuniões de planejamento como viáveis em termos de acesso e logística: Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã. Em cada uma dessas localidades foram amostradas 10 parcelas de 20 x 50 m (0,1 ha), totalizando 4 hectares de levantamentos (figura 1). Das 40 parcelas amostradas, 36 foram em floresta e 4 em formação savânica, localmente conhecida como “campo”. Em cada parcela, as plantas com mais de 5 cm de DAP foram identificadas, foi medido o DAP e estimadas a altura do fuste e altura total. Os nomes válidos foram verificados e atualizados utilizando-se as bases de dados digitais MOBOT-TROPICOS http://www.tropicos.org/e a Lista de espécies da Flora Brasileira http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/. Para analisar a suficiência do esforço foi utilizado o estimador empírico de Burham & Overton (1979). Atualmente considera-se que a maximização da representatividade das áreas protegidas pode ser obtida pela aplicação do conceito de complementaridade, em que é considerado mais importante assegurar a proteção de áreas que possuam diferentes conjuntos de espécies do que apenas priorizar áreas com alta riqueza, nas quais as espécies muitas vezes são as mesmas. Com isso, teoricamente, áreas distintas floristicamente, ou seja, com baixa similaridade em relação às demais, tem um valor alto para conservação. Com o objetivo de analisar a dissimilaridade florística entre as amostras, foi utilizado o índice de Bray-Curtis e a técnica de ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS). Como a RESEX é uma unidade de uso sustentável, espera-se que a utilização dos seus recursos seja feita de forma a permitir a recuperação dos estoques e a sua utilização por gerações futuras. Como a área já foi explorada para a produção de madeira antes de se tornar protegida e a exploração desse recurso é permitida às populações residentes, para subsidiar ações de manejo das espécies de interesse madeireiro foi analisada a densidade e a estrutura de tamanho de algumas espécies madeireiras entre as de maior valor comercial.

123

Capixauã

Alto Mentai

Quem Dizia

Nova Canaã

Figura 1. Mapa da RESEX com tipos de vegetação do mapa do RADAM 1:250.000 e indicando as áreas (Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã) onde amostras botânicas foram realizadas.

Resultados Nas 40 parcelas amostradas, foram registrados 3785 indivíduos, pertencentes a 62 famílias, 198 gêneros e 471 espécies (Anexo 1). Nos períodos das expedições para a realização dos levantamentos (junho/2011 e março de 2012) as plantas estavam estéreis e a identificação foi feita apenas com base em caracteres vegetativos. Apesar algumas plantas de terem sido coletadas para comparação em herbário e aprimoramento das identificações feitas em campo, como o material estava estéril não foram depositadas exsicatas em herbário. Nessas condições, a identificação específica envolve um alto grau de incerteza. A identificação dos gêneros é mais confiável, e, por isso, embora a lista de espécies seja apresentada, as identificações devem ser consideradas incertas e as análises serão apresentadas para os gêneros. Cabe mencionar que a correlação a riqueza 124

de espécies e de gêneros para as parcelas amostradas foi de 0,971, indicando que os gêneros neste caso são bons preditores para a riqueza encontrada em cada local. A estimativa obtida para o número de gêneros foi de 238 e para espécies de 618, indicando que a amostra para os gêneros incluiu cerca de 85% dos gêneros esperados para a RESEX e cerca de 75% das espécies. As parcelas em formação savânica tiveram em geral menor riqueza, sendo que das quatro parcelas nesse ambiente em uma foi registrado apenas um gênero (Byrsonima), enquanto na que apresentou maior riqueza foram registrados 6 gêneros (Byrsonima, Himatanthus, Guatteria, Matayba, Tapirira e Xylopia). Para as parcelas em formação florestal a riqueza genérica variou de 24 a 51. Apesar da menor riqueza, as parcelas em formação savânica foram floristicamente distintas das parcelas de floresta, apresentando tanto baixa similaridade em relação às parcelas de floresta (figura 2), como espécies que ocorreram exclusivamente nessas áreas (como Xylopia aromatica, Bowdichia virgilioides e Byrsonima crassifolia), reforçando seu valor para conservação. Além da maior riqueza por parcela, as parcelas em floresta tiveram maior variabilidade entre si do que as parcelas em áreas de campo (figura 2). Os principais gêneros associados à diferenciação entre as parcelas de floresta foram Jacaranda, Casearia e Siparuna, relacionadas ao extremo negativo da dimensão 2 da ordenação e Protium, Pouteria e Tetragastris, relacionadas aos maiores valores da dimensão 2. Seriam necessários dados geofísicos (como topografia, solos, umidade dos solos) mais refinados que os disponíveis para explicar essas variações.

D I M E N S I O N

0. 50 P21 P16 P25 P 2 3 P 7 P11 P 19 P17 P8 P15 P22 P3 P1 4 PP9 P5P4 18 P 1P6 0 0 P12 P2P3 P1 P13 P26 P29

P39 P3 7 P38 P40

-0. 15

P 20 P27 P28

P31P34 P32 P24

2

P35

P36 P33

-0. 80 -3. 5

-2. 0 -0. 5 DIMENSION 1

1. 0

Figura 2. Ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico utilizando índice de dissimilaridade de Bray-Curtis para os gêneros de plantas identificados nas 40 parcelas do levantamento botânico. A primeira dimensão revela a diferenciação entre as 125

parcelas de floresta (parcelas P1 a P36) e as de savana (parcelas P37 a P40), enquanto a dimensão 2 revela o maior espalhamento das parcelas de floresta e maior coesão das parcelas em savana. As espécies madeireiras de maior valor comercial (Bagassa guianensis, Dinizia excelsa, Dipteryx odorata, Goupia glabra, Handroanthis serratifolius, Hymenaea courbaril e Manilkara huberi) e tiveram baixa abundância (< 1 ind/ha), indivíduos predominantemente de pequeno porte (DAP < 40 cm) ou ambos (Tabela 1). Entre as espécies de valor comercial, a jarana (Lecythislúrida), que tem um valor intermediário, foi a que apresentou maior densidade de indivíduos e indivíduos de porte relativamente maior. A seringueira (Hevea brasiliensis), sem valor madeireiro mas com alto potencial para o extrativismo, também ocorreu em baixa densidade nas áreas amostradas e apresentou apenas indivíduos de pequeno porte (Tabela 1). Espécies pioneiras, como Cecropia spp. (13 parcelas), Bellucia spp. (7 parcelas) e Miconia spp. (21 parcelas) foram frequentes nas parcelas de floresta, onde apresentaram também abundância relativamente alta (Cecropia= 74, Bellucia= 39, Miconia= 71), indicando um nível de perturbação alto nas áreas visitadas. Tabela 1. Abundância e diâmetros à altura do peito (DAP) médios. Mínimos e máximos para algumas espécies de valor madeireiro alto e médio. Espécie

Nome comum

N DAP (média em cm)

DAP min

DAP max

Bagassa guianensis Aubl.

tatajuba

1

83.12

-

-

Bertholletia excelsa Bonpl.

castanha-do-Pará

2

174.45

165.6

183.3

Dinizia excelsa Ducke

angelim-vermelho

2

15.2

8.6

21.8

Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.

cumaru

6

30.46

5.7

64

Goupia glabra Aubl.

cupiuba

8

27.53

6.7

59

Handroanthus serratifolius (Vahl) S. O. Grose

ipê amarelo

4

24.96

6.2

43.3

Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.

seringueira

2

10.83

7.6

14

Hymenaea courbaril L.

jatobá ou jutaí-açu

8

33.43

7

49.5

Hymenaea parvifolia Huber

jutaí-mirim

6

39.36

15.1

66.9

Hymenolobium petraeum Ducke

angelim-pedra

4

37.54

31.8

42.4

Lecythis idatimon Aubl.

mata-matá

8

14.49

5.4

24.2

Lecythis lurida (Miers) S.A. Mori

jarana

14

40.08

14.2

75.2

Lecythis pisonis Cambess.

sapucaia

2

23.49

12.4

34.6

Manilkara amazonica (Huber) A. Chev.

maparajuba

8

10.42

5.3

27.4

Manilkara huberi (Ducke) A. Chev.

maçaranduba

8

32.18

7.6

69.7

Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez

itauba

16

39.24

10

114.8

Minquartia guianensis Aubl.

acariquara

9

20.01

5.7

34.2

126

Ocotea spp.

louro

54

21.18

4.9

82

Simarouba amara Aubl.

marupá

1

5.41

-

-

Discussão A principal dificuldade na amostragem de plantas é a identificação correta dos indivíduos. Embora a identificação em campo, com base em caracteres vegetativos como folhagem, tipo da casca, tipo da raiz, cor da madeira, existência de látex, etc, seja um bom começo, a identificação precisa só pode ser feita com base em material fértil. Dessa forma, levantamentos rápidos, envolvendo grandes equipes, como o presente, quase nunca fornecem um resultado muito preciso para as plantas. O ideal para se obter uma lista mais confiável e completa de uma determinada área é coletar plantas oportunisticamente ao longo do tempo, quando as plantas estão florindo ou frutificando. Como a RESEX é uma área ocupada por diversas comunidades, as quais aparentemente têm interesse no manejo da área, seria importante desenvolver treinamentos junto às comunidades para que elas pudessem coletar e armazenar amostras de forma correta, e então encaminhá-las a instituições acadêmicas para identificação e catalogação. Esta seria a forma mais vantajosa, em termos de custos e benefícios, para se chegar a uma listagem mais precisa da flora da UC. O número de gêneros e espécies encontrados na RESEX Tapajós-Arapiuns está dentro do esperado para florestas da região, e os levantamentos realizados, embora ainda não completos, foram capazes de registrar uma boa parcela da diversidade de plantas arbóreas da área. As ressalvas são a identificação não muito precisa e que nem todos os ambientes da RESEX foram amostrados. A inclusão de outros ambientes, como igapós e outras tipologias florestais, poderia acrescentar novos táxons à lista. Entre os ambientes amostrados, as savanas possuem características únicas, que justificam a proteção de parte delas em zonas de proteção integral, o que não ocorre atualmente. Parte da baixa riqueza se deve a que os levantamentos incluíram apenas indivíduos de porte arbóreo. As savanas possuem poucas árvores e normalmente a maior riqueza esperada nesses ambientes seria de arbustos e ervas. Entre as florestas, houve variação na composição florística entre ambientes, cujas causas devem ser investigadas em maior detalhe, para possível reformulação das zonas de proteção da UC. Apesar do mapa do RADAM indicar uma tipologia florestal diferente na área amostrada na região do Alto Mentai em relação à das demais localidades amostradas, as composição florística daquela área não foi claramente distinta das demais. A densidade de espécies de interesse econômico foi relativamente baixa, havendo poucos indivíduos ou apenas indivíduos de pequeno porte das espécies encontradas. Não é possível saber se essa é uma realidade para toda a RESEX ou uma característica das áreas amostradas, escolhidas, entre outras características, pela relativa facilidade de acesso. As áreas amostradas mostravam outros indícios de antropização, como alta abundância e alta frequência de espécies pioneiras. De fato, todas as áreas amostradas estavam dentro da zona definida como Zona I, que é a de uso mais intensivo. Seria importante analisar a extensão da antropização na RESEX e se há áreas com menor antropização e/ou maior abundância de espécies de valor comercial, madeireiro ou nãomadeireiro. Tal análise ajudaria a traçar uma estratégia apropriada para o manejo do 127

recurso, tanto dentro da própria Zona I, que é a mais acessível aos moradores, como nas demais zonas. Manejo aqui é considerado em sua definição ampla, que inclui tanto o planejamento da exploração como o da conservação do recurso, com vistas a manter populações viáveis e a variabilidade genética das populações das espécies de interesse econômico.

Recomendações •

Promover treinamentos para os moradores para coleta de material fértil e encaminhar amostras a coleções biológicas



Analisar a extensão da antropização na RESEX e o potencial para o extrativismo em áreas menos antropizadas



Promover levantamentos da flora em outros ambientes e Zonas de uso da RESEX, tanto para aprimorar os conhecimentos sobre a biodiversidade da área como para definir melhores estratégias de manejo dos recursos florestais.

Referências Burnham, K.P. & W.S. Overton. 1979. Robust Estimation of Population Size When Capture Probabilities Vary Amoung Animals. Ecology 60(5). pp. 927-936. Carvalho-Jr, E. (Coordenador). 2008. Plano de Manejo Reserva Extrativista TapajósArapiuns. Diponível em http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/amazonia/unidades-de-conservacaoamazonia/2045resex-tapajos-arapiuns.html. Acessado em 08/06/2012

128

- ANEXO 4 MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS DA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS

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CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL DO BRASIL PROJETO CORREDOR TAPAJÓS - ABACAXIS MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS

RESEX Tapajós -Arapiuns, Comunidade Vila Franca

– 21/06/2011

Foto: Luis Barbosa / CI-Brasil

Jarine Rodrigues Reis Organização e Redação

Santarém e Aveiro, setembro de 2011

141

MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS

Realização As atividades descritas neste relatório foram realizadas pela parceria Conservação Internacional-CI, Organização das Associações da Reserva Extrativista TapajósArapiuns-Tapajoara e Instituto Chico Mendes de Conservação da BiodiversidadeICMBio. Equipe da Expedição Jarine Rodrigues Reis Conservação Internacional (Consultoria) Coordenação da Socioeconomia Caroline Yoshida Kawakami Conservação Internacional (Consultoria) Coordenação de Turismo e Assistente de Campo Luis Claudio Fernandes Barbosa Conservação Internacional Coordenador de Planejamento Territorial Leônidas Bentes Farias Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara Presidente Dinael Cardoso dos Anjos Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara Segundo Secretário Executivo Elke Maria Melo Vasconcelos Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara Segunda Tesoureira Fotos Dinael Cardoso dos Anjos, Caroline Yoshida Kawakami, Jarine Rodrigues Reis e Luís Barbosa Responsável pelo Relatório Jarine Rodrigues Reis

Santarém e Aveiro/Pará, setembro de 2011. 142

Índice 1. Introdução e Contextualização 2. Objetivo 3. Procedimentos Metodologicos 4.1. Solos 4.2. Extrativismo 4.3. Caça 4.4. Recursos pesqueiros 4.5. Recursos hídricos 4.6. Uso público para a atividade de turismo 4.6.1. Diagnóstico da atual situação 4.6.2. Dificuldades apresentadas 4.6.3. Potencialidades averiguadas 4.6.3. Visão das agências 4.6.4. Visão da Secretaria de Turismo 4.6.5. Desafios

143

Lista de Tabelas:

Tabela 01: Divisão das comunidades nos grupos comunitários trabalhados Tabela 02: Principais atividades agrícolas com assimilação por micro bacia, divisão de grupos comunitários trabalhados e quantidade de comunidade com número de produtores comerciais de cada região identificada Tabela 03: Atividade agrícola comercial e percentual destinado a venda Tabela 04: Produtos comercializados com referência de valores por unidade e por safra Tabela 05: Local de destino das mercadorias comercializadas por atividade e calha de rio Tabela 06: Atividade comercial por sistema de plantio e percentual de uso da fitofisionomia utilizada para plantio em relação ao número citações Tabela 07: Espaços de uso familiar ou coletivo por calha de rio Tabela 08: Percentual de benefícios atribuídos a atividade de extrativismo madeireiro em relação as citações Tabela 09: Madeiras mais utilizada e uso empregado pelas comunidades do rio Arapiuns Tabela 10: Madeiras mais utilizada e uso empregado pelas comunidades do rio Tapajós Tabela 11: Percentual de problemas enfrentados pelas comunidades no extrativismo madeireiro em relação as citações Tabela 12: Medidas de resoluções de problemas envolvendo o extrativismo madeireiro adotadas por algumas comunidades da RESEX Tabela 13: Potencial madeireiro para manejo em médio prazo nas duas calhas de rio em relação as citações Tabela 14: Percentual dos benefícios atribuídos aos produtos não madeireiros em relação as citações Tabela 15: Percentual dos produtos que é comercializado dentro da RESEX em relação as citações Tabela 16: Principais produtos e seu uso por parte das comunidades da RESEX Tabela 17: Percentual dos problemas relacionados com extrativismo não madeireiro em relação as citações Tabela 18: Rendimento dos produtos extrativistas com quantidade coletada aproximada no Rio Arapiuns

144

Tabela 19: Rendimento dos produtos extrativistas com quantidade coletada aproximada no Rio Arapiuns Tabela 20: Percentual dos principais produtos potenciais para manejo em relação as citações Tabela 21: Percentual de benefícios atribuídos ao uso de fauna silvestre em relação as citações Tabela 22: Percentual dos principais problemas enfrentados pelos comunitários com a atividade de caça em relação as citações Tabela 23: Alguns animais que diminuíram nas áreas das comunidades do rio Arapiuns Tabela 24: Alguns animais que diminuíram nas áreas das comunidades do rio Tapajós Tabela 25: Percentual de animais caçados em relação as áreas de caça identificadas Tabela 26: Regras próprias de pesca de algumas comunidades da RESEX Tabela 27: Mudanças na qualidade da água, prováveis motivos e local na citação dos moradores do rio Arapiuns Tabela 28: Mudanças na qualidade da água, prováveis motivos e local na citação dos moradores do rio Tapajós Tabela 29: Regiões de uso público identificadas na RESEX Tabela 30: Síntese do resultado do diagnóstico com os operadores de turismo

Lista de Fotos: Foto da Capa: RESEX Tapajós-Arapiuns, Comunidade Vila Franca – 21/06/2011 Foto 01: Material de construção das habitações do projeto de reforma agrária Foto 02: As habitações do projeto de reforma agrária do INCRA sendo construídas na comunidade Nova Vista Foto 03: O alojamento de turista (chapéu de palha) da comunidade Maripá Foto 04: Sede comunitária de Anumã (a), e galpão de beneficiamento de óleo de andiroba de Porto Rico (b) Foto 05: Galpão de beneficiamento de óleo de andiroba em Prainha do Maró Foto 06: Igreja de Vila Amorim (a), Maripá (b) e Vista Alegre do Capixauã (c) Foto 07: Escolas localizadas nas comunidades Anumã (a) e Vila Franca (b) Foto 09: O uso do “tipiti” ainda empregado no processamento de farinha de mandioca nas comunidades da RESEX Tapajós – Arapiuns

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MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS 1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO A Amazônia tem um histórico de ocupação humana marcado pela presença de populações tradicionais, indígenas de diferentes etnias, e pela migração dos soldados da borracha, garimpeiros, colonos e empreendedores das atividades madeireira, agropecuária e mineradora. Na fronteira entre os estados do Pará e Amazonas, entre os rios Tapajós no estado do Pará e rio Abacaxis no estado do Amazonas encontra-se 9,8 milhões de hectares de floresta amazônica que conectam diversos ecossistemas e garante o fluxo gênico necessário a existência de diversas espécies endêmicas. Hoje esta região abrange oito municípios incluindo a totalidade do município de Juruti e parte dos municípios Santarém, Aveiro e Itaituba, no Pará, e de Boa Vista do Ramos, Parintins, Barreirinha e Maués, no Amazonas. A iniciativa de pensá-la como um Corredor da Biodiversidade iniciou em 2007, quando a Conservação Internacional do Brasil estabeleceu uma parceria com a ALCOA ALUMÌNIO visando aportar investimentos nas oportunidades de conservação existentes nesta região. Atualmente 44,5% da área total desta região está protegida por cinco Unidades de Conservação e uma (1) Terra Indígena. O projeto Corredor Tapajós-Abacaxis previu apoio a conservação desta região por meio de quatro componentes: (i) implementação das Áreas Protegidas; (ii) desenvolvimento de capacidades locais em planejamento e gestão de projetos em conservação e práticas de educação ambiental; (iii) implementação de bolsas de pesquisa em conservação; e (iv) elaboração de um Plano de Ação para a Conservação do Corredor Tapajós-Abacaxis (CI-Brasil, 2011). Em 2009 a Conservação Internacional, por meio do projeto Corredor TapajósAbacaxis, passou a apoiar a implementação da RESEX Tapajós-Arapiuns, apoiando a capacitação do Conselho Deliberativo, além da complementação de informações que subsidiarão a elaboração do Plano de Manejo, como o mapeamento participativo do uso dos recursos naturais e inventários de biodiversidade. O uso de recursos naturais pelas populações locais apresenta-se como de grande importância para a geração de ocupação e renda. Dessa forma, há a necessidade urgente de informações gerais sobre o uso desses recursos e principalmente práticas viáveis de manejo (MOREIRA, 2005). Para obtermos os dados do padrão de uso de recursos naturais na RESEX Tapajós-Arapiuns, foi necessária a aplicação do mapeamento participativo. O mapeamento participativo de uso dos recursos naturais consiste numa metodologia que serve para espacializar, através do emprego de imagens Landsat e ferramentas de SIG (Sistema de Informação Geográfica), informações georreferenciadas da área de estudo sobre a o uso de recursos naturais pelas populações locais e onde estão localizados de forma mais eficiente e rápida.

2. OBJETIVO O objetivo central deste documento é apresentar o mapeamento participativo do uso dos recursos naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns com a participação dos atores diretamente abrangidos no processo de gestão da unidade de conservação para uma compreensão da dinâmica de uso do espaço territorial pelos moradores e usuários, para a elaboração do Plano de Manejo da RESEX TapajósArapiuns, focando no levantamento e sistematização de informações que subsidiarão a sua elaboração. 146

Especificamente o mapeamento participativo associado a outros questionamentos tem os seguintes objetivos: • Visualização espacial do uso de recursos naturais, ocorrência, período e época de coleta (sazonalidade), quantidade explorada, problema no acesso e uso desses recursos, utilização e classificação por parte utilizada, fornecido pela percepção das comunidades a respeito do meio ambiente; • Distribuição das atividades comerciais realizadas como agricultura, pecuária, extrativismo, pesca e turismo, das espécies animais e vegetais utilizadas comercialmente ou para subsistência. O processo de construção de um mapa e as discussões agregadas a ele fornece uma base de análise sobre a qualidade ambiental e social da área. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Constituem procedimentos metodológicos centrais do mapeamento: oficinas comunitárias e entrevistas com operadores de turismo. 3.1. Oficinas comunitárias Construída junto com representantes da Associação Tapajoara e ICMBio, a proposta das oficinas foi formar grupos de comunidade divididos por regiões que agregam comunidades vizinhas, com áreas de uso próximas e/ou sobrepostas, conforme figura 01. Cada oficina foi realizada com cerca de quatro representantes de cada comunidade, escolhidos por aptidões relacionadas as quatro atividades a serem mapeadas (agricultura, pesca, caça e extrativismo). Foram coletadas e espacializadas informações a respeito da dinâmica de uso de recursos naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns nas oficinas pré agendadas, como especificada acima e utilizado recursos como imagens do satélite LandSat (escala predominante de 1:35.000) da área adjacente das comunidades, e formulários de pesquisa semiestruturada. Os formulários de pesquisa semiestruturada foram utilizados como apoio a complementação de dados do mapeamento tais como, a intensidade e periodicidade do uso, levantamento de atividades econômicas potenciais para o manejo de recursos naturais, além da caracterização da infra-estrutura comunitária. Os dados percentuais apresentados neste relatório foram calculados através da relação das informações obtidas nas oficinas comunitárias cruzando com o número de vezes que essa informação foi citada pelo total de comunidades entrevistadas ou de grupos trabalhados. Por exemplo, na tabela 06 de atividade comercial por sistema de plantio foi calculado o percentual de uso da fitofisionomia utilizada para o plantio em relação ao número de vezes que cada opção de fitofisionomia foi citada nas oficinas. Com o uso de canetas permanentes nas imagens foram identificadas as diferentes atividades iniciando com a identificação dos corpos d’água de referência das comunidades e a partir delas foram desenhados os polígonos que indicam a área de uso direto e indireto dos recursos naturais com as diferentes cores de canetas. Com os polígonos desenhados e identificados na imagem LandSat, foi feito uma fotografia em alta resolução, para posterior digitalização no ArcGis. As imagens georreferenciadas e digitalizadas foram associadas ao banco de dados com informações, coletadas nas oficinas comunitárias, de pressão e freqüência e na pesca ainda o esforço de captura. O cruzamento das informações dos polígonos gerou mapas de intensidade de uso das atividades pesquisadas na área da RESEX. 147

3.2. Entrevistas com operadores de turismo Foram realizadas junto a operadores de turismo de Santarém e da Vila de Alter do Chão, préidentificados pelas comunidades e outros informantes qualificados da RESEX Tapajós-Arapiuns. A partir das informações coletadas em campo sobre o uso público turístico da UC, os operadores de turismo complementaram as informações, identificando a intensidade e o potencial de ecoturismodos sítios turísticos identificados por polígonos pré-mapeados, além de propor diretrizes para o ordenamento do uso-público da RESEX TapajósArapiuns.

4. RESULTADOS A RESEX é tangenciada pelos rios Tapajós e Arapiuns e alguns de seus afluentes, rio Maró e rio Inambú (que formam a bacia do rio Arapiuns), onde estão localizadas as comunidades e vilas. Para a realização das oficinas as comunidades foram mobilizadas com apoio da Associação Tapajoara. As oficinas foram realizadas em comunidades pólos centrais com as comunidades vizinha para a elaboração do mapeamento. Foram aplicados os formulários num conjunto de 68 comunidades, 44 comunidades na calha do rio Tapajós e 24 comunidades na calha do rio Arapiuns, Maró e Inambú. No total foram entrevistadas 208 pessoas com idade média de 44,9 anos, divididos em 19 oficinas comunitárias. Os grupos comunitários foram selecionados de acordo com a proximidade geográfica e social. Essa divisão foi feita com auxílio de membros da Associação Tapajoara e técnicos da equipe de trabalho.

148

Figura 0 1 : Grupos comunitários trabalhados

nas oficinas comunitárias , numerados

de

acordo com a tabela 01. Os informantes foram selecionados de acordo com a representatividade ou conhecimento da área e das atividades desenvolvidas pelos moradores/usuários da RESEX. A divisão foi estabelecida da seguinte forma: 149

Tabela 01: Divisão das comunidades nos grupos comunitários trabalhados. Rio

Arapiuns

Tapajós

Grupo

Comunidades

1

Vila Franca, Vila Anã, Raposa e São Miguel

2

Tucumã, Nova Sociedade, Aminã, Aningalzinho e Arapiranga

3

Nova Canaã e Porto Rico

4

Prainha do Maró e Vista Alegre

5

Mentae, Alto Mentae, Cachoeirinha, Vila Nova e Pascoal

6

Piquiá, Braço Grande e São Pedro

7

São José I, Atrocal e Nova Vista

8

Escrivão, Camarão e Pinhel

9

Samaúma, Andurú e Cametá

10

Nova Vista, Tucumatuba e Nuquini

11

São Tomé, Pau-da-Letra, Rosário e Boim

12

Santo Amaro, Jatequara, Jauarituba, Paraná-Pixuna e Jaca

13

Paricatuba, Surucuá, Muratuba, Vista Alegre do Muratuba e Mirixituba

14

Parauá, Retiro e Mangal

15

Cabeceira do Amorim, Pajurá e Limãotuba

16

Vila Amorim, Cabeceira do Ukena, Enseada Amorim e Mapirizinho

17

Vista Alegre do Capixauã, Suruacá, Novo Progresso e Capixauã

18

Solimões, Pedra Branca, Carão e Anumã

19

Maripá, Santi e Curipatá

Quanto a categorização do uso dos recursos, será dividido em cinco tópicos principais: •

Solo – abordado a agricultura, a criação de animais e a distribuição espacial das comunidades em relação a características e infraestrutura de uso coletivo e de acesso aos benefícios básicos como a educação e a saúde;



Extrativismo – tratado da área de uso dos recursos madeireiros e não madeireiros, destinados a comercialização ou uso para a subsistência, dificuldade ou benefícios gerados;



Caça – apresentado as áreas utilizadas para a atividade de caça, as espécies animais caçadas, os benefícios atribuídos e as dificuldades para conseguir o recurso; 150



Recursos pesqueiros – debatido sobre a atividade de pesca em suas várias formas, seja de alimentação ou comercialização, seja regras ou problemas enfrentados;



Recursos hídricos – tratado de como está sendo percebidas as mudanças nos corpos d’água, quais os motivos de tais mudanças e problemas ocasionados pela sazonalidade dos rios e lagos.



Uso público para a atividade de turismo - análise do uso público como finalidade o turismo com diagnóstico da situação atual, dificuldades apresentadas, as potencialidades para o turismo, visões das agências e da Secretaria de Turismo de Santarém e os desafios para a atividade na região. 4.1. Solo A população da RESEX, de acordo com os dados coletados está dividida em 68 comunidades, localizadas as margens dos rios Tapajós e Arapiuns e, em algumas, no interior da reserva. Segundo os dados obtidos em campo foi verificado que a principal forma de uso do solo na RESEX TapajósArapiuns se dá através da agricultura. Essa atividade também é a principal fonte de geração de renda para as famílias ribeirinhas. 4.1.1. Agricultura Existe uma diferença nas áreas de atividade de agricultura das comunidades nas duas calhas de rio. Nas comunidades da bacia do rio Arapiuns muitas famílias possuem uma área denominada “colônia” (63,4%). A colônia é uma área de plantio de culturas perenes e uma parte destinada a culturas sazonais (roçados). Normalmente essa área fica afastada do núcleo da comunidade. No rio Tapajós, as comunidades fazem seu plantio em áreas simples de roçado mais próximo as casas, poucas as famílias que possuem colônia (20,5%), prática que era bastante comum no passado. Identificado através de imagem de satélite, as áreas de modificação antrópica da vegetação na área da RESEX, pode ser identificada como possíveis áreas de agricultura, tanto roçados quanto colônias.

151

Figura 0 2 : Áreas de ação antrópicas identificadas na

RESE X Tapajós -Arapiuns.

Parte dessa área pode não está sendo mais utilizada atualmente, mas, como o sistema de plantio é feito por rodízio de capoeiras, as áreas encontram-se sem cobertura florestal primaria ou secundária. O roçado com 67,6% é o local principal de plantio comercial das famílias nas comunidades da RESEX, seguido do quintal com 26,0% e entre os criadores de gado 4,1% da atividade comercial vem do pasto. Algumas famílias fazem suas atividades de agricultura comercial na mata e nas margens de igarapé para o plantio de banana (1,2%, cada). No roçado, essas famílias fazem basicamente o plantio de mandioca e macaxeira para o processamento de farinha, feijão, cará, além do milho plantado para alimentação da família e também dos animais.

152

Tabela 02: Principais atividades agrícolas com assimilação por micro bacia, divisão de grupos comunitários trabalhados e quantidade de comunidade com número de produtores comerciais de cada região identificada. Rio

Grupos

N° de Principais Atividades comunidades

N° de produtores

Arapiuns/Tapajós

1

3

farinha de mandioca

31

Arapiuns/Tapajós

1

2

jerimum

7

Arapiuns/Tapajós

1

2

milho

5

Arapiuns/Tapajós

1

2

melancia

4

Arapiuns

2

5

farinha de mandioca

126

Arapiuns

2

2

milho

25

Arapiuns

2

2

macaxeira

18

Arapiuns

2

1

cará

10

Arapiuns

2

2

mel

9

Inambú

3

2

farinha de mandioca

35

Maró

4

2

farinha de mandioca

65

Maró

4

2

tapioca

4

Maró

4

2

milho

2

Mentae/Arapiuns

5

5

farinha de mandioca

92

Mentae/Arapiuns

5

3

banana

3

Mentae/Arapiuns

5

2

cacau

2

Mentae/Arapiuns

5

2

açaí

2

Arapiuns

6e7

6

farinha de mandioca

220

Arapiuns

6e7

4

milho

4

Arapiuns

6

2

pimenta do reino

2

Tapajós

8 a 14

23

farinha de mandioca

663

Tapajós

9, 10 e 14

7

milho

23

Tapajós

10 e 12

4

feijão

27

Tapajós

10 e 11

5

banana

9

Tapajós

11

1

laranja

20

Tapajós

11

1

cupuaçu

7

153

Amorim

15

2

farinha de mandioca

82

Amorim

16

1

cupuaçu

3

Amorim/Tapajós

16

4

farinha de mandioca

110

Amorim/Tapajós

16

3

milho

8

Capixauã/Tapajós

17

3

farinha de mandioca

111

Anumã/Tapajós

18

4

farinha de mandioca

106

Anumã/Tapajós

18

2

laranja

21

Anumã/Tapajós

18

1

banana

20

Anumã/Tapajós

18

1

maracujá

20

Maripá/Tapajós

19

1

farinha de mandioca

32

Cerca de 2.000 famílias da RESEX são agricultores comerciais, sendo a farinha o principal produto agrícola comercial e a base da alimentação familiar, seguido pela criação de gado bovino (cerca de 170 criadores). Muitos dos criadores de gado possuem apenas o “boi de carreto”, animal destinado ao transporte da produção familiar. As áreas de plantio, como os roçados, variam de tamanho, sendo o menor com 0,05 ha e o maior chegando a 6 ha e uma média de 1,72 e desvio padrão de 1,2. Porque embora a máxima e a mínima sejam tão diferentes foi muito comum encontrar áreas entre 1 e 2 ha. Tabela 03: Atividade agrícola comercial e percentual destinado a venda. Atividade

Arapiuns

Tapajós

Abacate

40%

50%

Abacaxi

-

50%

Açaí

90%

80%

Arroz

50%

10 - 50%

Banana

25 - 90%

2 - 99%

Batata

-

25%

Biju

-

80 - 90%

Café

95 - 100%

-

Cajú

80%

-

Caldo de cana

-

50%

Cará

10 - 60%

10 - 50%

Coco

-

20 - 80%

154

Cupuaçu

40%

10 - 80%

Curuá

-

100%

Farinha de mandioca

50 - 95%

20 - 95%

Feijão

50 - 80%

20 - 75%

Fruta pão

50%

-

Jerimum

50%

25 - 50%

Laranja

5 - 75%

40%

Macaxeira

50 - 80%

-

Mel

100%

-

Melancia

80%

50%

Milho

30 - 70%

5 a 100%

Muruci

80%

50%

Tangerina

-

50%

Tapioca

-

80 - 100%

Tucupi

-

90 - 100%

Pimenta do reino

100%

-

Urucum

50 - 100%

100%

Na agricultura, o percentual que é comercializado, pode variar de 2% (banana plantada no quintal) a 100% da produção, sendo a mínima praticamente atividade de subsistência, e a máxima não tirando nem o excedente para consumo. A média de comercialização da produção é de 60% sendo que o desvio padrão é de 0,25. O rendimento da produção pode variar de acordo com alguns fatores. O mais importante é a mão de obra, quando a família é grande a produção é grande, por possuir muita mão de obra para o trabalho no processamento da farinha. Outro fator é o tamanho da área de plantio, podendo variar até 6 ha como apresentado anteriormente. Na RESEX a variação do rendimento da produção de farinha variou de 20 reais a R$ 1.050,00 para o processamento mensal. Mas a média é de R$ 412,79 sendo que esse valor pode variar também de acordo com a “lei da oferta e procura”, pois o saco de farinha pode variar de R$ 30,00 a R$ 80,00 dependendo da disponibilidade do mercado e a estação climática. Outros produtos que apresentaram maior rendimento foram café e a pimenta do reino, para a comunidade de Piquiá e o cupuaçu na comunidade São Pedro.

155

Tabela 04: Produtos comercializados com referência de valores por unidade e por safra. Produtos

máx

Referência min Unid Med.

Maior safra Valor Unid. Med.

(R$)

Abacate

dúzia

Abacaxi

unid

Arroz

48,00

12 dúzias

-

-

300,00

safra

60,00

30 cachos

500,00

safra

-

-

70,00

milheiro

saco

cacho

Banana

mês

Batata

0,50 1,25

kg

Beiju

7,00 12,00

cento

Café

0,50 1,10

kg

2.200,00

2000kg

Cará

0,25 2,00

kg

600,00

safra

Coco

0,30 1,00

unid

90,00

300 unid

Cupuaçu

0,30 1,50

unid

1.000,00

milheiro

Farinha

30,00

80,00

1.050,00

mês

saco

Feijão

kg

720,00

80 kg

Fruta pão

unid

100,00

100 unid

Boi

kg

-

-

Jerimum

0,50 4,00

unid

500,00

50 kg

Laranja

8,00 15,00

cento

60,00

6 centos

Macaxeira

1,00 1,20

kg

700,00

safra

Melancia

2,00 10,00

unid

500,00

safra

Milho

0,60 1,00

kg

740,00

safra

Pimenta do reino

7,00

10,00

kg

4.900,00

700kg

Porco

5,00

8,00

kg

150,00

porco vivo

Tapioca (farinha e goma)

1,00

2,50

kg

45,00

30 kg

Tucupi

1,00

4,00

litro

80,00

40 litros

Urucum

1,70

2,50

kg

125,00

semana

O escoamento da produção pode ter até dez destinos diferentes dependendo da localização da comunidade. Santarém é o destino mais comum onde 43,5% da produção é escoada seguido pela venda direta na comunidade com 42,0%. Um destino rentável é a venda na vila de Alter do Chão, onde os produtores conseguem o preço máximo pelo saco de farinha (70 reais). Outros destinos menos expressivos são: Marreteiros (3,7%), a venda na região em outras comunidades (3,3%), Aveiro (2,2%), Itaituba, Parintins, EMATEC e colônia Jacamim (0,4%, cada).

156

Tabela 05: Local de destino das mercadorias comercializadas por atividade e calha de rio. Rio

Atividade Abacate

Santarém

Arroz

Nas comunidades vizinhas Santarém, comunidade e comunidades vizinhas

Café

Santarém

Cajú

Santarém

Cará

Comunidade e comunidades vizinhas

Cupuaçu Farinha de mandioca Feijão

Santarém e comunidade Santarém, marreteiros, comunidade e comunidades vizinhas Santarém e comunidades vizinhas

Fruta pão

Comunidade

Jerimum

Comunidade

Laranja

Comunidade

Macaxeira Mel Melancia

Tapajós

Comunidade

Açaí

Banana

Arapiuns

Local

Santarém e comunidade Santarém Nas comunidades vizinhas

Milho

Santarém, comunidade e comunidades vizinhas

Muruci

Santarém

Pimenta do reino

Santarém

Urucum

Santarém

Abacate

Santarém

Abacaxi

Santarém e comunidade

Açaí

Santarém e comunidade

Arroz

Comunidade

Banana

Santarém e comunidade

Batata

Comunidade

Biju

Santarém, Alter do Chão e comunidade

157

4.1.2. Infraestrutura A RESEX Tapajós-Arapiuns está na fase final do projeto de reforma agrária do INCRA, então poucas comunidades ainda não estão com suas habitações prontas. Como na comunidade Vista Alegre, onde o material foi entreguem, mas ainda não foram construídas (foto 01).

Foto 01: Material d e construção das habitações do p

rojeto de reforma a grári a .

Como o processo de implantação do projeto de reforma agrária foi feito por etapas, tem algumas comunidades que estão no processo de construção das habitações (foto 02) e outras comunidades ainda não receberam as casas, como as comunidades do rio Inambu (Nova Canaã, Porto Rico e Prainha do Maró)

Foto 02: As habitações do p

.

rojeto de reforma a grária do INCRA sendo construídas na

comunidade Nova Vista. Além das moradias e áreas de plantio, o uso do solo se dá através das instalações de infraestruturas das comunidades como, as sedes e galpões comunitários, igrejas, escolas, postos de saúde, campos de futebol e telefones públicos (tab.01). Outra instalação encontrada apenas na comunidade Maripá foi o chamado “chapéu de palha” (foto 03) que neste caso é o local destinado ao alojamento de turistas que vêem à comunidade para pernoitar quantos dias for acordado com os comunitários responsáveis pela atividade turística local.

158

Foto 03: O alojamento

de turista (chapéu de palha) da comunidade Maripá.

tem um número reduzido em relação ao tamanho das comunidades presentes na bacia do rio Arapiuns. Em quase todas as comunidades tem escolas, apenas Porto Rico não possui, mas devido a proximidade da comunidade Nova Canaã, as crianças se deslocam diariamente para estudar na comunidade vizinha. O acesso a saúde também é reduzido nas comunidades do rio Tapajós, apenas sete postos de saúde onde alguns se encontram fechados. Embora as facilidades de acesso aos centros urbanos de Santarém e Aveiro minimizem o problema. Mas, a educação é mais restrita que na bacia do rio Arapiuns, muitas comunidades não possuem escolas, fazendo com que as crianças e adolescentes saiam de suas residências e passem a morar com familiares em comunidades maiores ou até mesmo em Santarém. Outra alternativa se encontra no atendimento promovido pela Projeto Saúde & Alegria, com sede em Santarém, que em parceria com as prefeituras de Santarém, Belterra e Aveiro conta com o barco Abaré, uma unidade móvel de saúde, financiada pelo Terre des Hommes da Holanda, que atende aproximadamente 2.785 famílias ou 15.000 beneficiários de 73 comunidades nas duas margens do rio Tapajós, promovendo o acesso aos programas da atenção básica como pré-natal, PCCU, planejamento familiar, imunizações, saúde oral, saúde da criança, atendimentos médicos, pequenas cirurgias, atendimentos ambulatoriais e realizações de exames de rotina. Por este motivo o barco ganhou o nome de Abaré - sugerido pelos próprios comunitários – que, em tupi, significa o amigo cuidador. (SAÚDE & ALEGRIA, 2011) Esta iniciativa se tornou referência para o Ministério da Saúde, mas as comunidades ainda carecem de melhorias por parte do serviço público na questão da saúde, seja de forma preventiva ou emergencial. 159

As sedes e galpões comunitários são espaço destinado para reuniões, festas, trabalhos coletivos (puxirum) e encontros. As comunidades mais isoladas e as menores não possuem sede, diferente das maiores e mais próximas dos pólos urbanos, que possuem até mais de uma sede (foto 04).

a

b

Foto 04: Sede comunitária de Anumã (a), e galpão de beneficiamento de óleo de andiroba de Porto Rico (b). Existem dois galpões de beneficiamento de óleo de andiroba na RESEX TapajósArapiuns, um na comunidade Porto Rico, localizado no rio Inambú e outro na comunidade Prainha do Maró, situado no rio Maró. Ambos não estão funcionando, sendo que o primeiro (foto 04-b) continua completo com todos os equipamentos desde sua instalação. O segundo galpão já não possui as ferramentas e equipamentos completos (foto 05).

Foto 05 : Galpão de beneficiamento de óleo de andiroba

em Prainha do Maró.

As igrejas são outra forma de uso e ocupação do solo. Algumas comunidades possuem mais de uma igreja, sendo que existem quatro diferentes religiões presentes dentro da RESEX. A religião católica 160

é a mais expressiva com 70% das igrejas construídas na área da reserva, seguida pela Igreja da Paz (46%), Assembléia de Deus (39%) e Igreja de Deus (12%). Na comunidade Tucumã, existem três igrejas e já tem mais uma em construção. Nas comunidades Nuquinim e Boim, a igreja está em reforma, mas já está sendo utilizada para as missas, reuniões e encontros da igreja.

a

b

c

Foto 06: Igreja de Vila Amorim (a), Maripá (b) e Vista Alegre do Capixauã (c). Existem muitas escolas na RESEX (58), algumas de ensino médio (24) e até um curso de nível superior em parceria com faculdade particular de Santarém (comunidade Parauá), mas quase todas as comunidades que possuem escola possuem escola de ensino fundamental. As comunidades que não possuem escola utilizam as escolas das comunidades vizinhas, sendo que quando a escola só possui até o ensino fundamental, as crianças e jovens do ensino médio ou vão estudar na capital Santarém ou se mudam para comunidades maiores para concluir os estudos.

a

b

Foto 07: Escolas localizadas nas comunidades Anumã (a) e Vila Franca (b). Postos de saúde são bem difíceis de encontrar nas comunidades, mas existem 12 postos espalhados pela RESEX, alguns existem e funcionam de forma precária como em Vila Franca. O de Vila Anã foi destruído na grande cheia de 2009 e até agora não foi reconstruído.

161

Foto 0 8 : P osto de saúde da comunidade Anumã. Uma instalação coletiva que simboliza momentos festivos nas comunidades são os campos de futebol. Cerca de 30 comunidades possuem mais de um campo, e em quatro comunidades é dividido por gênero, campo masculino e campo feminino. Na comunidade de Nova Canaã é proibida a prática de esportes como o futebol, e por essa razão não existe campo, nem participam dos torneios. Os torneios são práticas comuns entre comunidades, realizados uma vez por ano em cada comunidade, os “donos da casa” organizam e recebem os times das comunidades vizinhas sendo sempre finalizado com uma festa de comemoração para o campeão do torneio. Os telefones públicos também são um problema nas comunidades da RESEX. Muitas das comunidades não possuem os chamados “orelhões”, e em muitas comunidades que possuem, não funcionam. Embora algumas comunidades que ficam mais próximas a Santarém já possuem telefonia móvel (celular) com dificuldades de sinal em alguns lugares, ou como na comunidade Santo Amaro que possui celular comunitário. Outras comunidades já possuem telefones residenciais (fixo), como em São Pedro que já existem oito residências com telefonia fixa. 4.1.3. Áreas Indígenas Outro assunto abordado nas oficinas comunitárias foi a questão indígena, pois, na região onde se localiza a RESEX Tapajós-Arapiuns existem muitos índios ressurgidos 1 de várias etnias e com processos de identificação de Terras Indígenas em várias fases de demarcação. Na área da RESEX são sete processos, com cinco grupos identificados e mapeados, apenas um ainda não protocolado na Funai, todos os outros com laudo antropológico e sem levantamento fundiário. No rio Arapiuns, dentro da RESEX foi encontrado primeiramente duas comunidades/ aldeias 2 (Braço Grande e Nova Vista) da etnia Arapiun, que possuem processo de delimitação juntamente com a etnia Cumaruara e Tupinamba de quatro comunidades/aldeias no lago do Amorim 1

Apesar de esse fenômeno dos índios resistentes ou ressurgidos, ser inicialmente mais ligado à região nordeste do país, hoje tem casos expressivos na Amazônia. Um dos exemplos fica no baixo rio Tapajós, onde até há pouco tempo se dizia não mais existirem índios e, hoje, há mais de seis mil indígenas, pertencentes há mais de cinco povos, lutando dinâmica e criativamente pela sua terra e reconhecimento étnico (Heck et al., 2005).

2

Entende-se por comunidade/aldeia o agrupamento populacional que em parte ou na totalidade de seus moradores declaram-se ou são reconhecidos como indígenas.

162

(Limãotuba, Cabeceira do Amorim, Brinco das Moças e Pajurá), localizados no rio Tapajós formando o primeiro grupo mapeado (fig. 00). Outro processo de comunidades/aldeias que fazem ligação entre os dois rios são os índios Tupaiu de Vista Alegre do Capixauã que fica no rio Tapajós, Aminã e Aningalzinho estão localizados no rio Arapiuns (grupo 2).

Figura 0 3 : Grupos de comunidades/aldeias mapeados na área da

RESEX .

163

Ao sul da Reserva o grupo 3 possui dois pedidos de demarcação na mesma área feitos por duas etnias, os Mundurukus-Cara Preta e os Maitapu que ambas estão localizadas em três comunidades/aldeias: Pinhel, Camarão e Escrivão. O grupo 4 das comunidades/aldeias Jaca, Paraná-Pixuna, Jauarituba, Santo Amaro, Mirixituba, Vista Alegre e Muratuba, também possuem dois pedidos de demarcação da mesma etnia (Tupinamba).O único pedido que ainda não possui processo é o pedido do grupo 5 das etnias Arara Vermelha, Cobra Grande, Jaraqui, Arapiun e Tapajó que vivem no extremo norte da RESEX, nas comunidades/aldeias de Arapiranga, São Miguel e Nova Pedreira que fica na outra margem do Arapiuns, fora da RESEX. No total são 774 pessoas que se declaram e se reconhecem como índio em 31 comunidades/aldeias dentro dos limites da RESEX Tapajós-Arapiuns. 4.2. Extrativismo O extrativismo se baseia na exploração dos recursos vegetais da floresta, como extrativismo madeireiro e extrativismo não madeireiro. O mapa abaixo apresenta as áreas de coleta de madeira na RESEX TapajósArapiuns, com a intensidade de uso pelos moradores da UC. No total foram identificados 223.327 ha de área utilizada para extrativismo madeireiro, isso representa 33,1% da área da UC. Dessa área total de uso para o extrativismo madeireiro, a área de intensidade baixa foi a mais representativa com 15% da área da UC, totalizando 101.273 ha e 45,3% da área utilizada para a atividade. A atividade extrativista de madeira vai diminuindo ao modo que a intensidade de uso vai aumentando, sendo que a média baixa é a segunda maior intensidade com 12,13% (81.812 ha) da área da RESEX e 36,6% da área utilizada para a atividade. Com 31.690 ha da UC (4,7%), a média alta intensidade utiliza 14,2% da área que é destinada ao extrativismo madeireiro. E por fim a alta intensidade ocupa apenas 8.552 ha (1,3%) da RESEX e 3,8% da área de uso. Essa área que corresponde a atividade de extrativismo madeireiro acontece mais concentrada perto de igarapés e ramais localizados no interior da RESEX. Isso ocorre pela falta de transporte para retirada da madeira do interior da floresta até a área de seu processamento.

164

Figura 03: Intensidade de uso madeireiro na RESEX Tapajós-Arapiuns. No extrativismo madeireiro foram encontrados alguns usos atribuídos a atividade que, ainda não está regulamentada por plano de manejo madeireiro, mas a atividade gera benefícios e está temporariamente autorizada com prévio licenciamento pelo órgão gestor da Unidade. Tabela 08: Percentual de benefícios atribuídos a atividade de extrativismo madeireiro em relação as citações.

165