PLANO DE MANEJO RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJÓS-ARAPIUNS Volume 3 - ANEXOS –
Brasília - DF, 02 de setembro de 2014 i
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE DIRETORIA DE CRIAÇÃO E MANEJO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
Presidente da República Federativa do Brasil Dilma Rousseff Ministra de Estado de Meio Ambiente - MMA Izabella Teixeira Presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBIO Roberto Ricardo Vizentin Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação DIMAN/ICMBio Sérgio Brant Rocha Coordenação Geral de Criação, Planejamento e Avaliação de Unidades de Conservação – CGCAP/DIMAN/ICMBio Lilian Letícia Mitiko Hangae Coordenação de Elaboração e Revisão de Planos de Manejo – COMAN/CGCAP/DIMAN/ICMBio Alexandre Lantelme Kirovsky Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em Unidades de Conservação – DISAT / ICMBIO – Acordo de Gestão João Arnaldo Novaes Júnior Coordenação Geral de Populações Tradicionais – CGPT/DISAT/ICMBio Acordo de Gestão Leonardo Tortoriello Messias Coordenação de Produção e Uso Sustentável – COPROD/DISAT/ICMBio Acordo de Gestão Cecil Roberto de Maya Brotherhood de Barros Chefe da RESEX Tapajós-Arapiuns Mauricio Mazzotti Santamaria Tapajoara – Organização das Associações da Reserva Extrativista Todas as Comunidades da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns ii
Equipe Técnica da Elaboração do Plano de Manejo: Msc Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Mauricio Mazzotti Santamaria – Analista Ambiental RESEX Tapajós-Arapiuns Alexandre Kirovsky – COMAN/CGCAP/DIMAN/ICMBio Elildo A.R. Carvalho Jr – Analista Ambiental ICMBio Wolfgang Meier – Economista – IARA Nilson da Silva Vieira – Engº. Agrônomo Nilvanda Alves de Lima – Advogada Rosária Sena Cardoso Farias – Advogada – Chefe da Reserva Extrativista do Renascer Carlos Eduardo Guidorizzi de Carvalho – Analista Ambiental ICMBio Gustavo Pinheiro Rego – Analista Ambiental PARNA Juruena Jackeline Nóbrega Spínola – Analista Ambiental RESEX Tapajós-Arapiuns Colaboradores: Rosinaldo Santos dos Anjos – TAPAJOARA Leônidas Bentes Farias – TAPAJOARA Alexandre Goudinho Imbiriba – TAPAJOARA Edivaldo Cícero Gama Lima – TAPAJOARA Célio Aldo – TAPAJOARA Cleida Silva – TAPAJOARA Lêda Luz – GOPA/GIZ Valéria Bentes – GDA Luzia Fati – ISAM/PMS Cleiton Adriano Signor -- ICMBio Instituições participantes do Grupo de Trabalho – GT Plano de Manejo Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns – TAPAJOARA Grupo de Defesa da Amazônia – GDA Universidade Federal do Pará – UFPA Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia – IPAM Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém - SSTR Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Aveiro – STTR-Aveiro Prefeitura Municipal de Santarém – ISAM/PMS Prefeitura Municipal de Aveiro – PMA Associação Intercomunitária da Região do Tapajós – MAÍRA Associação dos Produtores Rurais da Margem Esquerda do Tapajós – APRUSPEBRAS Associação comunitária do Nuquini – ASCON Associação YANE-CAETÉ Associação Intercomunitária dos Rios Arapiuns, Maró e Aruã – AIRAMA Associação Comunitária de Vila Franca – ACOVIFRAN Associação dos Comunitários de São José I – ACOSJORA Associação dos Pequenos Agricultores Rurais do Mentai no Arapiuns – APEPROMA Conselho Nacional dos Seringueiros- CNS
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Consolidação e Formatação do Texto Final: Msc. Cesar Haag - Consultor GOPA/GIZ Mauricio Mazzotti Santamaria – Analista Ambiental da RESEX TapajósArapiuns Alexandre Lantelme Kirovsky – COMAN/CGCAP/ICMBio Revisão Desiree Silva – COMAN/CGCAP/ICMBio
Maria Goretti M. Pinto - COMAN/CGCAP/ICMBio
Diagnóstico Meio Socioeconômico Jarine Rodrigues Reis – Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns Caroline Yoshida – Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns.
Dinael Cardoso dos Anjos – TAPAJOARA Alexandre Imbiriba Goudinho – TAPAJOARA Leonidas Bentes Farias - TAPAJOARA
Consolidação do texto final do Diagnóstico Socioeconômico Msc. Marcelo Rodrigues – Consultor Msc. Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Diagnóstico Meio Físico Luis Cláudio Barbosa – CI-Brasil Msc Cesar Haag – Consultor GOPA/GIZ Rogério Rodrigues - COMAN/CGCAP/ICMBio Diagnóstico Meio Biológico Inventário da Ictiofauna Luciano Fogaça de Assis Montag- UFPA Bruno da Silveira Prudente- UFPA Cristiane de Paula Ferreira- UFPA Guilherme Moreira Dutra- - MPEG Naraiana Loureiro Benone- UFPA Thiago Augusto - UFPA Pedroso Barbosa- UFPA Tiago Octavio Begot Ruffeil – UFPA Inventário da Avifauna Alexandre Aleixo - MPEG Sidnei Dantas- UFPA Rodrigo Teixeira- MPEG
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Inventário da Mastofauna André Luís Raveta – MPEG Inventário da Herpetofauna Teresa Cristina Sauer de Avila Pires - MPEG Marinus Steven Hoogmoed- MPEG Annelise Batista D´Angiolella- MPEG Ariane Auxiliadora Araújo Silva- MPEG Jerriane Oliveira Gomes- MPEG Marcélia Basto da Silva- MPEG Marcelo José Sturaro- MPEG Victor Tasso Gomes Ferreira- MPEG Inventário de Plantas Ana Luisa Albernaz - MPEG Jerriane Oliveira Gomes- MPEG Angelo Dourado- MPEG Carlos da Silva Rosario - Parabotânico responsável pela identificação das plantas nas comunidades de Nova Canaã e Alto Mentai Carlos Alberto Santos da Silva - Parabotânico responsável pela identificação das plantas nas comunidades de Quem Dizia e Capixauã Consolidação do texto final dos Inventário de Biodiversidade Noella Markstein - consultora Mapas: Luis Cláudio Barbosa – CI-Brasil Rogério Rodrigues – COMAN/CGCAP/ICMBio
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PLANO DE MANEJO RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS VOLUME 3 – ANEXOS SUMÁRIO Anexo 1: Documento Técnico Orientador da COMAN para elaboração de Planos de Manejo.
Pág. 01
Anexo 2: PARECER nº 066/2009/CPMA/CGREX.
Pág. 05
Anexo 3: Compêndio de Relatórios das Expedições de Pesquisas de Biodiversidade da RESEX Tapajós-Arapiuns.
Pág. 20
Relatório 1: Ictiofauna na RESEX Tapajós Arapiuns
Pág.14
Relatório 2: Avifauna na RESEX Tapajós Arapiuns
Pág.44
Relatório 3: Mamíferos de médio e grande porte na RESEX Tapajós Arapiuns
Pág. 73
Relatório 4: Herpetofauna na RESEX Tapajós Arapiuns
Pág. 86
Relatório 5: Mamíferos voadores (morcegos) na RESEX Tapajós Arapiuns
Pág.104
Relatório 6: Plantas na RESEX Tapajós Arapiuns
Pág. 121
Anexo 4: Mapeamento Participativo do Uso dos Recursos Naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns.
Pág. 140
Anexo 5: Decreto de Criação da RESEX Tapajós-Arapiuns.
Pág. 210
Anexo 6: Relatório “Caçando Onças na RESEX Tapajós-Arapiuns”.
Pág. 213
Anexo 7: Relatório do Programa de Capacitação de Conselheiros da RESEX Tapajós-Arapiuns – Momento Legal.
Pág. 232
Anexo 8: Portaria de Renovação do Conselho Deliberativo da RESEX Tapajós-Arapiuns
Pág. 271
Anexo 9: Informe de Gestão da RESEX Tapajós-Arapiuns 2013
Pág. 275
Anexo 10. Instrução Normativa ICMBio 029/2012.
Pág. 283
vi
Anexo 11: Parecer 015/2013 COPT/DISAT/ICMBIO.
Pág. 290
Anexo 12: Resolução 01/2013 do Conselho Deliberativo da RESEX Tapajós-Arapiuns
Pág. 298
Anexo 13: Tabela de Petrechos de pesca de utilização permitida pelo Acordo de Gestão.
Pág. 300
Anexo 14: Estrutura Organizacional do ICMBio 2011
Pág. 302
Anexo 15: Memorial Descritivo do Zoneamento da RESEX TapajósArapiuns
Pág. 304
Anexo 16: Acordo de Gestão da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns
Pág. 326
Anexo 17: Contrato de Concessão de Direito Real de Uso (CCDRU) da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns Pág. 333
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- ANEXO 1 Documento Técnico Orientador de Diretrizes da COMAN para elaboração de Planos de Manejo
1
Diretrizes para elaboração de planos de manejo de unidades de conservação federais A partir da experiência dos servidores da COMAN/DIMAN em elaboração de planos de manejo de UCs e com objetivo de estabelecer diretrizes gerais comuns a todas as categorias de UCs, numa perspectiva de simplificação, eficiência e agilização dos processos, orientações foram levantadas, discutidas e estruturadas. Após avaliação e chancelamento superior, as orientações deverão se transformar em diretrizes institucionais do ICMBio para elaboração de planos de manejo. Entende-se que, independentemente da categoria da UC, todos os planos de manejo devem seguir três etapas básicas comuns: i. organização do planejamento, ii. diagnóstico e iii. planejamento. Assim, foram elaboradas orientações de caráter geral, que perpassam todo o processo de elaboração do plano, bem como orientações específicas, pertinentes a cada uma das três etapas.
Diretrizes Gerais: 1- Alinhar o Plano de Manejo (PM) ao planejamento estratégico do ICMBio; 2- Articular a elaboração do PM com os macroprocessos institucionais; 3- Agrupar a elaboração de PMs de UCs limítrofes, visando reduzir o passivo de PMs, sempre que possível; 4- Buscar servidores dentro da instituição, nas UCs, CRs e Centros, para atuarem como “pontos focais” do plano de manejo, com vistas a disseminar o conhecimento e a prática de elaboração de PMs e dar mais celeridade ao processo de elaboração de planos; 5- Considerar diferentes métodos na elaboração do plano de manejo para contemplar diferentes categorias de UC; 6- Garantir um processo participativo; 7- Considerar os aprendizados anteriores sem julgamentos preconcebidos; 2
8- Capacitar os atores envolvidos, sobretudo os técnicos, em todas as etapas; 9- Registrar todo o processo de construção do PM, visando subsidiar a reflexão e o aprendizado institucional; 10- Ajustar previamente os PMs de UCs de fronteira às exigências do Conselho Nacional de Defesa – CDN/GSI; 11- Dissociar ações de pesquisa, subsídios para o diagnóstico, do cronograma e orçamento do PM; 12- Submeter todos os PMs publicados à avaliação anual de sua implementação.
Diretrizes Específicas:
Etapa 1: Organização do Planejamento (OP)
1- Proceder à organização do planejamento (UC e COMAN) antes de elaborar TDR e licitação, quando for o caso; 2- Garantir a participação de toda a equipe da UC no processo; 3- Analisar as informações prévias sobre a UC para orientar o processo de planejamento; 4- Conduzir a OP com base na realidade da UC e orientá-la pelos desafios de gestão; 5- Produzir relatório de dados existentes sobre a UC de acordo com os itens previstos para o diagnóstico.
Etapa 2: Diagnóstico
1- Garantir participação intensiva dos servidores da UC; 2- Produzir diagnóstico com base em dados pré-existentes da UC, voltados aos objetivos da categoria e aos desafios de gestão e para a gestão; 3
3- Se houver necessidade de novos levantamentos, esses devem ser direcionados para responder problemas da UC.
Etapa 3: Planejamento
1- A equipe da UC e COMAN deve coordenar a construção do planejamento. Em caso de necessidade pode-se proceder à contratação externa somente para auxiliar o processo; 2- Planejar em função dos objetivos da UC, priorizando as atividades vinculadas a esses objetivos; 3- Construir normas para as atividades, no que couber.
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- ANEXO 2 PARECER nº 066/2009/CPMA/CGREX
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- ANEXO 3 Compêndio de Relatórios das Expedições de Pesquisa de Biodiversidade da RESEX Tapajós-Arapiuns
Relatório 1. Ictiofauna na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil Relatório 2. Avifauna na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns Relatório 3. Inventário de Médios e Grandes Mamíferos na Resex Tapajós-Arapiuns Relatório 4. Herpetofauna na Resex Tapajós-Arapiuns Relatório 5. Mamíferos Voadores (Morcegos) na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns Relatório 6. Plantas na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns
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RELATÓRIO 1 Ictiofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil Luciano Fogaça de Assis Montag1*; Bruno da Silveira Prudente1; Cristiane de Paula Ferreira2; Guilherme Moreira Dutra3; Naraiana Loureiro Benone1; Thiago Augusto Pedroso Barbosa1; Tiago Octavio Begot Ruffeil1
1
Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Biológicas, Belém, Pará.
2
Universidade Federal do Pará, Instituto de Geociência, Faculdade de Oceanografia, Belém, Pará.
3
Museu Paraense Emílio Goeldi, campus de pesquisa. Coordenação de Zoologia, Belém, Pará. * Autor para correspondência: E-mail:
[email protected]
INTRODUÇÃO A região neotropical abriga a maior riqueza de espécies de peixes de águas continentais do mundo, onde de acordo com Reis et al. (2003), existem aproximadamente 4.500 espécies válidas e mais 1.500 espécies ainda não descritas, totalizando aproximadamente 6.000 espécies de peixes para esta região, com sua grande maioria distribuídas em território brasileiro (Buckup et al. 2007). Esse número reflete a grande diversidade de hábitats, bem como uma longa e complexa história evolutiva desses organismos. Considerado o maior sistema fluvial do mundo, cobrindo uma área de aproximadamente sete milhões de quilômetros quadrados a bacia Amazônica, comporta aproximadamente 2.500 espécies de peixes (Schaefer, 1998; Reis et al., 2003). No entanto, as lacunas de amostragem em áreas remotas, como suas diferentes mesobacias e microbacias, e a existência de problemas taxonômicos complexos dificultam na elaboração de estimativas precisas sobre a riqueza da ictiofauna amazônica. (Vari & Malabarba, 1998; Lowe-McConnell, 1999; Lundberg et al., 2000; Reis et al., 2003; Buckup et al. 2007). O crescimento explosivo da população humana mundial, ocorrido nos últimos séculos, gerou uma crescente necessidade de exploração dos recursos 14
naturais causando um aumento na degradação dos hábitats (poluição, eutrofização e assoreamento), além da introdução de espécies exóticas que estão entre as principais consequências para os ambientes aquáticos (Araújo, 1998; Bastos & Abilhoa, 2004; Gomiero & Braga 2008; Aquino et al., 2009; Rodrigues et al., 2010). Dessa forma, um dos principais desafios para a humanidade é lidar com a "crise ambiental” e a gradativa perda da diversidade biológica (Simões et al., 2008), sendo a existência de Unidades de Conservação (UC), mesmo de uso direto, como as reservas extrativistas, uma importante iniciativa para combater esses problemas ambientais (Ferreira et al., 2005). Áreas protegidas nas quais os organismos aquáticos têm sido intensamente inventariados tem demonstrado a importância desse esforço no levantamento de informações relevantes para o manejo e conservação da biodiversidade como um todo (Agostinho et al., 2005). A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns foi criada por Decreto presidencial s/n publicado em 09 de setembro de 1998, com uma área de 647.610 ha de superfície, sendo que a maior parte de suas terras pertence ao domínio da União. A Reserva Extrativista está definida no Art. 18º dessa Lei como: “(...) uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade”. A RESEX Tapajós-Arapiuns ocupando uma área de 647.610 ha, tendo o rio Arapiuns, principal afluente da margem esquerda do rio Tapajós, tem como principais afluentes os rios São Pedro, Mentai e Maró/Inambu, sendo este último o que possui a bacia mais desabitada e com melhor potencial de preservação (ICMBio, 2008). A falta de estudos nos rios da reserva resulta em uma subestimativa da diversidade de peixes nesta bacia. Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo, fornecer uma lista de espécies de peixes da RESEX Tapajós-Arapiuns, levando em consideração a complementaridade dos diferentes ambientes dos principais sistemas de drenagem, rios Tapajós, Mentai e Maró, além das estimativas de riqueza de 15
espécies baseada em cinco estimadores de incidência. Esta lista contribuirá para o atual conhecimento sobre a ictiofauna desta Unidade de Conservação situada no noroeste Paraense.
MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns está localizada nos municípios de Santarém e Aveiro, na região oeste do Estado do Pará, entre as coordenadas geográficas 02º20’ a 03º40’ S, e 55º00’ a 56º00’ W (Figura 1). O clima da região é tropical úmido (tipo Ami de Köeppen), com temperatura média anual de 26 e 27º C, a umidade relativa do ar em torno de 86% e precipitação anual variando entre 1.287 e 2.538 mm, sendo fortemente sazonal. A estação chuvosa vai de dezembro a julho, com médias mensais variando entre 170 e 300 mm, e a estação seca vai de agosto a novembro, com médias mensais inferiores a 60 mm. O clima é fortemente influenciado pelo fenômeno El Niño, e quando este ocorre o período de seca é mais longo e intenso, o que deixa a vegetação extremamente vulnerável a incêndios florestais. O relevo da RESEX mostra-se predominantemente plano, sendo mais acidentado ao sul e sudoeste da reserva. Em termos de relevo podemos distinguir para região duas principais zonas, sendo a primeira uma faixa de planície mais baixa de aproximadamente 10 km de largura ao longo do rio Tapajós, que ocorre em menor grau ao longo do Arapiuns, juntamente com um planalto que ocupa boa parte do interior da Reserva. A presença desse planalto tem sido o principal responsável por limitar a extensão dos rios localizados na margem esquerda do rio Tapajós. Por causa desse planalto, os rios da margem esquerda do Tapajós se estendem apenas até a sua base, com exceção do rio Amorim, que avança no interior da Reserva. O interior da unidade é drenado principalmente por afluentes da margem esquerda do rio Arapiuns. Os três principais rios no sentido leste-oeste são as bacias do rio São Pedro, do Mentai, e do Maró/Inambu. A RESEX abriga diversas fisionomias florestais. A tipologia predominante é a floresta ombrófila densa, sendo que também ocorrem manchas de savana 16
(conhecidas localmente como campos da natureza), igapó e floresta aberta com palmeiras. Os rios da região são classificados como rios de águas claras (Sioli, 1984), com seus principais afluentes drenando dos escudos brasileiros.
Figura 1 – Localização da Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, Baixo Tapajós, Pará, Brasil, com destaque para os diferentes sítios de coleta e seus respectivos pontos de amostragem.
Coleta de dados As coletas foram distribuídas em três sítios de coleta, totalizando 41 pontos de amostragem localizados nos rios a sistemas de planícies alagáveis do interflúvio Arapiuns-Tapajós incluindo sete diferentes tipos de ambientes (igarapés, igapós, praia, lago e corredeira e remanso) (Figura 2). Ao longo da primeira expedição, realizada no período de 10 a 25 de junho de 2011 (período de estiagem), foram amostrados 18 trechos de igarapés, sendo nove deles no curso principal e afluentes do rio Maró, e nove no curso principal e afluentes do igarapé Mentai, ambos afluentes da margem direita do rio Arapiuns. Segundo o zoneamento da Resex Tapajós-Arapiuns os dois sítios de amostragem estão localizados na Zona I descrita como área habitacional, agrícola e manejo florestal comunitário (Plano de Manejo Resex Tapajós-Arapiuns, 2008). Na segunda expedição, realizada no período de 04 a 09 de abril de 2012, 17
representando o período chuvoso, foram amostrados 23 trechos de igarapés e rios, todos afluentes da margem esquerda do rio Tapajós, no igarapé do Amorim, localizados também na Zona I descrita no Plano de Manejo. A coleta dos espécimes foi realizada utilizando-se redes de mão, bateria de redes de espera com malhas de 15, 30, 35, 40 e 50 mm entre nós opostos, redes de arrasto e tarrafa, este último utilizado como coleta ocasional (Figura 3). Os três métodos de coleta padronizados (rede de mão, rede de espera e rede de arrasto) foram utilizados dependendo do tipo de ambiente: em áreas de lagoa/remanso profundos, foram utilizadas as baterias de redes de espera. As baterias de redes permaneceram expostas por aproximadamente quatro horas durante os períodos crepusculares. Para os igarapés de águas rasas – até 1,5 metros de profundidade, os peixes foram coligidos utilizando-se redes de mão e redes de arrasto com malha de 0,05 cm entre nós opostos, com um esforço total de quatro horas de amostragem distribuídas entre quatro coletores (Tabela 1). Tabela 1 – Metodologia utilizada e descrição dos ambientes onde foram coligidos os espécimes para o levantamento da ictiofauna da Reserva Extrativista Arapiuns - Tapajós, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil. Bacia Rio
Ar api uns
Rede de espera e rede de mão Ig. Maró Ig. Mentai
Ta paj ós
Métodos Hábitat de amostrados Coleta Rede de espera e rede de mão
Rio Tapajós/Ig. e do. Amorim
Igarapés e remansos de rios
Igarapés e remansos de rios
Coordenadas
Substrato
Dominância de Vegetação Adjacente
É possível encontrar 03 08´33,3" S a o trechos A vegetação 03 11' 12,2” S dominados por aquática é restrita as o áreas ripárias 55 49'23,9" W a solos argilosos o até trechos sendo encontrada 55 51'25,7" W com solos mistos vegetação anfíbia e (arenoso e o emergente 02 46'38,8" S a argiloso) com o 02 48'46,3" S folhiço submerso o
o
55 35'55,8" W a o 55 35'55,3" W o
2 42'57,8" S a o Rede de Lago, 2 espera, praias, rio, 49'58,8” S rede de igapós e o 55 10'11,5" W a arrasto igarapés o 55 10'22,7" W
Dominância de trechos arenosos, porém alguns trechos dominância de material argiloso.
Trechos com alta heterogeneidade de hábitats. Pode-se encontrar vegetação submersa fixa, flutuante fixa, emergentes e anfíbias.
18
A
C
B
D
Figura 2: Alguns representantes dos ambientes amostrados durantes os meses de julho de 2011 e abril de 2012, na RESEX Tapajós-Arapiuns. A e B - Igarapés; C e D Remansos.
19
A
C
B
D
Figura 3: Métodos de coleta utilizados durante inventário da ictiofauna da Reserva Extrativista Arapiuns - Tapajós, Baixo Tapajós, Estado do Pará, Brasil. A – Rede de arrasto, B – Rede de espera, C – Tarrafa e D – Rede de mão.
Após as coletas, os peixes foram fixados em formaldeído diluído em água a 10%, conservados em álcool 70% e estão sendo incorporados à coleção ictiológica do Museu Paraense Emílio Goeldi – MCT/MPEG, Belém, Pará. Os peixes foram identificados com por meio de chaves dicotômicas, catálogos e descrições de espécies (Gery, 1977; Kullander, 1986; Buckup, 1993; Planquette et al., 1996; Lópes-Fernández & Winemiller, 2000; Casatti, 2002; Malabarba, 2004; Chernoff & Machado-Allison, 2005; Ferraris, 2005; Kullander & Ferreira 2005; Britski et al., 2007; Covain & Fisch-Muller, 2007; Litmann, 2007; Oyakawa & Mattox, 2009; Aquino & Schaefer, 2010; Sousa & Birindelli, 2011; Birindelli et al., 2011; Vari, 1982; Vari, 1989; Vari, 1992; Vari, 1995).
20
Exemplares jovens ou danificados onde não foi possível obter uma identificação ou morfotipagem segura foram identificados na lista taxonômica. A classificação seguiu Reis et al. (2003), exceto para Serrasalmidae considerados como uma subfamília de Characidae e aqui foi apresentado como uma família distinta, seguindo Calcagnotto et al. (2005) e Mirande (2009; 2010). A separação em morfoespécies foi necessária, pois nem todas as espécies puderam ser determinadas.
Análise dos dados Devido a não padronização amostral e o uso de diferentes métodos de coleta, as análises de dados foi baseada na presença/ausência das espécies nas estações de coleta. Foi utilizada a técnica de ordenação NMDS (Nonmetric Multidimensional Scaling) para diferenciar a composição de peixes entre dois ambientes, sendo estes (i) igarapés e (ii) rios e ambientes associados (lagos, igapós, praias, remansos e corredeiras). Foi aplicado o coeficiente de similaridade de Jaccard para os dados de presença/ausência. Em seguida, foi feita uma Análise de Similaridade (ANOSIM) para testar a hipótese de não haver diferença entre os grupos de amostras (Clarke & Warwick, 1994), neste caso, os dois tipos de ambiente. Foi considerado um nível de significância de 5%. Para a estimativa da riqueza de espécies da RESEX Arapiuns-Tapajós foi utilizado o programa EstimateS (Versão 5.0.1) (Colwell, 1997). Foram utilizados os seguintes estimadores de riqueza de espécies: ICE, Chao2, Jackknife1, Jackknife2 e Bootstrap. Os dados foram aleatorizados 100 vezes. A aleatorização foi necessária para que a remoção do efeito da ordem das amostras, calculando-se a média das aleatorizações excedentes, produzindo, uma curva lisa de acumulação de espécies e permitindo uma comparação mais eficaz dos estimadores utilizados (Colwell, 1997). Os estimadores aqui empregados são algoritmos não paramétricos que estimam o número de espécies ainda por serem coligidas baseados numa quantificação de espécies raras (Toti et al., 2000). O ICE (Incidence-based Coverage Estimator) é um estimador de riqueza baseados no conceito estatístico de cobertura de amostra. É uma modificação 21
dos estimadores Chao & Lee, baseados em dados de abundância e que tinham a característica de superestimar a riqueza de espécies, principalmente quando o número de amostras era baixo (Colwell & Coddington, 1994; Colwell, 1997). O conceito de cobertura de amostra refere-se à soma das probabilidades de encontro das espécies observadas, dentro do total de espécies presentes, mas não observadas (Colwell, 1997). O estimador ICE é baseado em incidência, utilizando espécies encontradas em 10 ou menos amostras (Lee & Chao, 1994). Os outros estimadores utilizados na estimativa de riqueza de peixes da RESEX é o Chao2, Jackknife1, Jackknife2 e Bootstrap, todos são baseados em incidência e utilizam o número de únicos e duplicatas, que são o número de espécies encontradas em somente uma ou duas amostras, respectivamente, para as estimativas de riqueza (Colwell, 1997).
RESULTADOS Foram amostrado um total de 1.537 exemplares de peixes pertencentes a 32 famílias, 78 gêneros e 99 espécies, onde foi possível observar um predomínio das ordens Characiformes (65%) seguidos por Perciformes (17%) e Siluriformes (8%) (Tabela 1 e 2) com dominância das famílias Characidae (14 spp.) e Cichlidae (11 spp.), representando 25% do total de espécies coletadas. Das espécies coletadas, as mais abundantes (consideradas aqui, de forma arbitraria, como aquelas que tiveram 48 ou mais indivíduos coletados e representaram mais de 60% dos indivíduos coletados) foram: Hyphessobrycon sp., Aequidens sp., Characidae gen., Apistogramma sp., Brycon pesu, Bryconops sp., Poecilia sp., Helogenes marmoratus e Microcharacidium weitzmani.
22
Tabela 2 – Lista de espécies de peixes coletadas na RESEX Arapiusn-Tapajos, PA. Os táxons estão apresentados em ordem alfabética. Ip = igarapé; Re = remanso; ? = ambiente não registrado; La = lago; Pr = praia; Cr = corredeira. (*) espécies coligidas por captura acidental sem identificação do ambiente. Rio Maró Rio Mentai Táxon/Autoridade
Ip
Re Ip Re
?
Rio Tapajós Ig
Ip Lg
Pr
Cr
? Total
Characiformes Acestrorhynchidae Acestrorhynchus falcirostris(Cuvier, 1819)-
1
1
Acestrorhynchus microlepis(Jardine, 1841)
1
Acestrorhynchus minimus Menezes, 1969 Acestrorhynchus sp.
4
1
1
6 1
2
2
Anostomidae Leporinus gr. friderici (Bloch, 1794)* Leporinus aff. friderici (Bloch, 1794)
1
1
1
1
Leporinus fasciatus(Bloch, 1794) -
1
1
Schizodon vittatus (Valenciennes, 1850)
1
1
Characidae Brycon pesuTroschel & Müller 1845
28 36
Bryconops caudomaculatus (Günther, 1864) Bryconops sp.
1 20
64
1 33
2 7
60
23
Characidae gen. (jovem)
40
-
-
-
-
1
Hyphessobrycon sp.
193
-
215
-
Iguanodectes spilurus (Günther, 1864)
Charax gibbosus (Linnaeus, 1758)
-
-
37
15
1
-
93
-
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
-
408
20
-
15
-
-
-
-
-
-
-
-
35
Jupiaba anteroides(Géry, 1965)*
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
1
Knodus heteresthes (Eigenmann, 1908)
-
-
-
-
-
-
-
4
11
-
-
15
Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882)
-
-
2
-
-
-
-
-
-
-
-
2
Moenkhausia cotinho Eigenmann, 1908
-
-
-
-
-
-
-
7
1
-
-
8
Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864)
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
Moenkhausia sp.*
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
1
Triportheus albus (Cope 1872)
-
-
-
-
-
-
-
8
5
-
2
15
Crenuchus spilurusGünther, 1863
7
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
7
Elachocharax junki (Géry, 1971)
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
Microcharacidium weitzmani Buckup, 1993
48
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
48
Curimata inornataVari, 1989*
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
1
Curimata vittata (Kner, 1858)
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
-
1
Curimatella immaculata (Fernández-Yépez, 1948)
-
-
-
-
-
4
-
5
-
1
-
10
Curimatidae gen.
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
1
Curimatopsis crypticusVari, 1982
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
Cyphocharax sp.*
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
1
Erythrinidae gen. (jovem)
5
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
5
Erythrinus erythrinus (Bloch & Schneider, 1801)
17
-
21
-
-
-
-
-
-
-
-
38
Hoplias curupiraOyakawa & Mattox, 2009
1
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
2
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)
-
1
-
2
1
-
1
-
1
-
-
6
Argonectes sp.
-
-
-
-
-
-
-
-
-
3
-
3
Bivibranchia sp.
-
-
-
-
-
1
-
8
2
18
5
34
Hemiodus goeldi Steindachner, 1908
-
-
-
-
-
-
4
13
10
2
-
29
Hemiodus immaculatus Kner, 1858
-
-
-
-
-
-
-
2
-
-
-
2
Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794)
-
-
-
-
-
1
-
5
-
6
8
20
Micromischodus sugillatus Roberts, 1971
-
-
-
-
-
-
-
3
-
-
-
3
Copella arnoldi (Regan, 1912)
-
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
1
Copella nattereri (Steindachner, 1876)
6
-
8
-
-
-
-
-
-
-
-
14
Lebiasinidae gen. (jovem)
-
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
1
13
-
13
-
-
-
-
-
-
-
-
26
-
-
18
-
-
-
-
-
-
-
-
18
Myleus sp.
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
Myleus torquatus(Kner, 1858)
-
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
1
Myloplus asterias(Müller & Troschel, 1844)*
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
1
Pygopristis denticulata (Cuvier, 1819)
-
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
1
Serrasalmus gouldingi Fink & Machado-Allison, 1992
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
1
Crenuchidae
Curimatidae
Erythrinidae
Hemiodontidae
Lebiasinidae
Nannostomus sp. Pyrrulina brevis Steindachner, 1876 Serrasalmidae
24
Serrasalmus sp.
-
1
2
-
-
-
-
-
3
-
-
-
-
-
-
-
52
8
-
-
60
9
-
18
-
-
-
-
-
-
1
-
28
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
2
-
2
Gymnotus coropinaeHoedeman, 1962
13
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
13
Gymnotus sp.
10
-
3
-
-
-
-
-
-
-
-
13
Brachyhypomus sp.
18
-
2
Hypopygus lepturusHoedeman, 1962
6
-
4
-
-
-
-
-
-
-
-
20
-
-
-
-
-
-
-
-
10
-
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
1
Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849)
-
-
-
-
-
-
-
1
6
-
-
7
Acaronia nassa (Heckel 1840)
-
-
-
-
-
-
-
7
1
-
-
8
Aequidens sp.
1
-
91
-
-
-
-
2
-
-
-
94
Apistogramma sp.
37
-
50
-
-
-
-
-
-
-
-
87
Cichla sp.
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
-
1
Cichla temensis Humboldt, 1821
-
-
-
-
-
-
-
-
1
1
-
2
Geophagus proximus (Castelnau, 1855)
-
2
-
-
-
-
-
-
-
-
-
2
Geophagus sp.*
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
9
9
Geophagus surinamensis(Bloch, 1791)
-
-
-
-
-
-
-
4
22
-
-
26
Laetacara sp.
3
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
3
Mesonauta festivus (Heckel, 1840)
-
-
-
-
-
-
-
10
2
-
-
12
Pachypops fourcroi (Lacepède, 1802)
-
-
-
-
-
-
-
-
-
7
-
7
Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840)
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
1
2
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
3
3
Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840)
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
1
-
-
-
1
Ageneiosus sp.
Ciprinodontiformes Poeciliidae Poecilia sp. Rivulidae Rivulus sp. Clupeiformes Engraulididae Anchovia surinamensis (Bleeker, 1865) Pristigasteridae Ilisha amazonica (Miranda Ribeiro, 1920) Gymnotiformes Gymnotidae
Hypopomidae
Rhamphichthyidae Gymnorhamphichthys petitiGéry & Vu-tân-Tuê, 1964 Perciformes Cichlidae
Sciaenidae
Pleuronectiformes Achiridae Achirus sp. Rajiformes Potamotrygonidae Potamotrygon sp.* Siluriformes Auchenipteridae
25
2
Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864)
-
4
-
1
-
1
-
-
1
-
-
-
-
1
- -
-
-
7
-
-
-
1
- 2
-
-
48
Tetranematichthys sp. Callichthyidae Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)
-
-
Cetopsidae Helogenes marmoratus Günther, 1863
19
-
27
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
1
-
-
-
-
-
6
-
2
-
2
1
11
-
-
-
-
-
3
-
21
-
24
-
-
-
1
-
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
Ctenoluciidae Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Doradidae Hassar orestis (Steindachner, 1875) Nemadoras leporhinus (Eigenmann, 1912)
-
Scorpiodoras heckelii (Kner, 1855)
-
-
Heptapteridae Nemuroglanis pauciradiatus Ferraris, 1988
1
-
Loricariidae Hypoptopoma elongatum Aquino & Schaefer
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
1
Limatulichthys griseus (Eigenmann, 1909)
-
-
-
-
-
-
-
5
1
-
4
10
Loricariichthys sp.
-
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
1
Peckoltia sp.
-
-
-
-
-
-
-
3
-
-
-
3 3
Pimelodidae Hypophthalmus marginatusValenciennes
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
3
Hypophthalmus sp.
-
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
1
Pimelodus sp.
-
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
1
Sorubim elongatus
-
-
-
-
-
1
-
1
-
-
-
2
-
-
2
-
-
-
-
-
-
-
-
2
1
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
1
-
-
-
-
-
1
Pseudopimelodidae Microglanis sp. Trichomycteridae Ituglanis amazonicus (Steindachner 1882) Synbranchiformes Synbranchidae Synbranchus marmoratus Bloch, 1795
1
-
-
-
-
-
Tetraodontiformes Tetraodontidae Colomesus psittacus Número de indivíduos Número de espécies
- - -
--
--
--
--
-
- -
-
-
474
11
493
7
27
19
44
234
112
26
7
19
5
7
11
4
33
18
-
-
79
37
1537
20
10
99
26
Diferenciação das espécies em dois ambientes: igarapés e rios e ecossistemas alagáveis associados O NMDS mostrou que a ictiofauna é bem diferenciada entre os sistemas i) igarapés e ii) rios e ambientes associados. O baixo valor de stress encontrado (stress = 0,12) mostra que a matriz de dados bióticos foi bem representada. O ANOSIM confirma esse resultado (R = 0,53; p < 0,01).
Estimativas de riqueza de espécies As amostras nos dois ambientes (igarapés e rios) geraram estimativas similares para o número de espécies de peixes da RESEX, em ambos os casos, as curvas de acumulação de espécies não tenderam à estabilidade (Figuras 5A e 5B). Entretanto, a curva do estimador Chao2 tendeu a uma sutil estabilidade em comparação aos demais estimadores. As curvas dos estimadores Chao2 e principalmente ICE apresentaram um acentuado crescimento inicial, mas tenderam à estabilidade conforme o aumento do número de amostras. A curva de acumulação de espécies das demais estimativas acompanhou a curva do coletor (Sobs). Apesar do número dos indivíduos terem sido maior nos igarapés, a maior riqueza de espécies foi obtida nos rios e sistemas alagáveis associados (1.011 27
indivíduos distribuídos em 36 espécies contra 462 indivíduos distribuídos em 60 espécies), demonstrando que o aumento do esforço de amostragem nos igarapés não significou um aumento no número de espécies coletadas. Nas 13 estações de coleta em igarapés foram coligidos 1.011 indivíduos distribuídos em 36 espécies. A espécie mais abundante foi Hyphessobrycon sp. com 408 indivíduos, seguido de Aequidens sp. e Apistogramma sp., com 93 e 87 indivíduos respectivamente. As estimativas de riqueza de espécies apresentadas na Figura 5A estão baseadas na combinação dos dados de ambos os métodos (rede de mão e arrasto) e entre os igarapés dos três sítios de amostragem (Igarapés Mentai e Maró e o Rio Tapajós) e variaram entre os cinco estimadores utilizados. Para os igarapés a estimativa Bootstrap foi a mais baixa de todas, com estimativa de aproximadamente 42 espécies e a Chao2 apresentou a maior estimativa, com aproximadamente 68 espécies. As estimativas dos outros três estimadores apresentaram valores intermediários aos de Bootstrap e Chao2. O estimador
Jack2
ficou
muito
próximo
ao
Chao2,
com
estimativa
de
aproximadamente 64 espécies (Tabela 3; Figura 5).
28
Figura 5 – Estimativas de riqueza de espécies de peixes através do método de rede de mão, rede de arrasto e rede de espera nos igarapés (A), nos rios e suas planícies alagáveis (B) e na combinação deles acrescida com coletas ocasionais (C) para RESEX Arapiuns-Tapajós, PA. Sobs = Número de espécies observadas. 29
Nas 26 estações de coleta em rios e sistemas alagáveis foram coligidos 462 indivíduos distribuídos em 60 espécies. A espécie mais abundante foi Brycon pesu com 64 indivíduos, seguido de Poecilia sp. e Bryconops sp., com 60 e 41 indivíduos respectivamente. As estimativas de riqueza de espécies apresentadas na Figura 5B estão baseadas na combinação dos dados dos métodos (rede de mão, rede de arrasto e rede de espera) e entre os ambientes dos três sítios de amostragem (Igarapés Mentaí e Maró e o Rio Tapajós) e variaram entre os cinco estimadores utilizados. Para os rios e sistemas associados à estimativa Bootstrap também foi a mais baixa de todas, com estimativa de aproximadamente 73 espécies e a Jackknife 2 apresentou a maior estimativa, com aproximadamente 107 espécies. As estimativas dos outros três estimadores apresentaram valores intermediários aos de Bootstrap e Jacknife2. Os estimadores ICE e Chao2 tiveram estimativa muito próximas com 96 e 95 espécies, respectivamente (Tabela 3; Figuras 5).
Tabela 3 - Estimativa de riqueza de espécies de na RESEX Arapiuns-Tapajós e número de espécies raras para cada ambiente e na combinação deles. Entre parênteses a porcentagem de espécies capturadas segundo os estimadores. Parâmetros
Igarapés
Rios
Total
Amostras N. de espécies coletadas
13 36
26 60
41 ** 99
1011
462
1537
17
30
49
3
11
19
58 (62%)
96,24 (62%)
165,43 (60%)
N. de indivíduos coletados Únicos Duplicatas ICE Chao 2 Jackknife 1 Jackknife 2 Bootstrap
67,38 (53%) ± 94,86 (63%) ± 21,51 17,18 51,69 (70%) ± 5,33 88,85 (68%) ± 4,94 63,75 (56%) 106,79 (56%) 42,4 (85%)
*
***
166,49 (59%) ± 26,44 146,8 (67%) ± 10,09
72,47 (83%)
178,58 (55%) 119,18 (83%)
*foi adicionado duas amostras de captura ocasional sem o reconhecimento do ambiente. ** nove espécies foram coligidas somente por captura ocasional (Ver Tabela 1). *** 64 indivíduos foram coligidos em capturas ocasionais
30
Uso e conservação da ictiofauna Dentre as 99 espécies amostradas, 43% são consideradas como sendo utilizadas na pesca comercial, 9% exploradas para fins de aquariofilia e 2% utilizadas como iscas na pesca de subsistência local (Tabela 4). Além disso, todas as espécies amostradas são nativas da bacia amazônica e nenhuma está na lista de espécies ameaçadas (nacional ou internacional). Tabela 4 – Espécies coligidas (em ordem alfabética) na Reserva Extrativista TapajósArapiuns com seus respectivos nomes comuns e se há uso na aquariofilia (ornamental) ou na pesca comercial ou subsistência (alimentação). Fonte: www.fishbase.org. Espécie/Autoridade Acarichthys heckelii (Müller & Troschel, 1849) Acaronia nassa(Heckel 1840)
Nome comum acará acará
Uso ornamental -
Acestrorhynchus falcirostris (Cuvier, 1819)
peixe-cachorro
alimentação
Acestrorhynchus microlepis (Jardine, 1841)
peixe-cachorro
alimentação
Acestrorhynchus minimus Menezes, 1969
peixe-cachorro
-
Acestrorhynchus sp.
peixe-cachorro
-
Achirus sp.
soia
alimentação
Aequidens sp.
acará
-
Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840)
mandubé
alimentação
Ageneiosus sp.
mandubé
alimentação
Anchovia surinamensis (Bleeker, 1865)
sardinha
alimentação
acarazinho
ornamental
Apistogramma sp. Argonectes sp.
-
-
cangati
alimentação
-
-
pirapucu
alimentação
ituí
-
-
-
Bryconops caudomaculatus (Günther, 1864)
piquira
alimentação
Bryconops sp.
piquira
alimentação
Callichthys callichthys (Linnaeus, 1758)
tamoatá
alimentação
-
-
piaba
-
Cichla sp.
tucunaré
alimentação
Cichla temensis Humboldt, 1821
tucunaré
alimentação
baiacu
-
Copella arnoldi (Regan, 1912)
-
ornamental
Copella nattereri (Steindachner, 1876)
-
ornamental
Auchenipterichthys longimanus (Günther, 1864) Bivibranchia sp. Boulengerella maculata (Valenciennes, 1850) Brachyhypomus sp. Brycon pesu Troschel & Müller 1845
Characidae gen. (jovem) Charax gibbosus (Linnaeus, 1758)
Colomesus psittacus (Bloch & Schneider, 1801)
Crenuchus spilurus Günther, 1863
-
-
Curimata inornata Vari, 1989
branquinha
alimentação
Curimata vittata (Kner, 1858)
branquinha
alimentação
Curimatella immaculata (Fernández-Yépez, 1948) Curimatidae gen.
branquinha branquinha
alimentação -
31
Curimatopsis crypticus Vari, 1982
branquinha
-
Cyphocharaxsp.
branquinha
-
Elachocharax junki (Géry, 1971)
-
-
Erythrinidae gen. (jovem) Erythrinus erythrinus (Bloch & Schneider, 1801)
-
-
jeju
alimentação
Geophagus proximus (Castelnau, 1855)
acará
alimentação
Geophagus sp.
acará
alimentação
Geophagus surinamensis (Bloch, 1791)
acará
alimentação
Gymnorhamphichthys petiti Géry & Vu-tân-Tuê, 1964
-
-
Gymnotus coropinae Hoedeman, 1962
sarapó
isca
Gymnotus sp.
sarapó
isca
bacu
-
Hassar orestis (Steindachner, 1875) Helogenes marmoratus Günther, 1863
-
-
Hemiodus goeldi Steindachner, 1908
charuto
alimentação
Hemiodus immaculatus Kner, 1858
charuto
alimentação
Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794)
charuto
alimentação
Hoplias curupira Oyakawa & Mattox, 2009
traíra
alimentação
Hoplias malabaricus (Bloch, 1794)
traíra
alimentação
-
-
Hypophthalmus marginatus Valenciennes, 1840*
mapará
alimentação
Hypophthalmus sp.
mapará
alimentação
acari
-
Hypopygus lepturus Hoedeman, 1962
ituí
-
Iguanodectes spilurus (Günther, 1864)
-
-
Ilisha amazonica (Miranda Ribeiro, 1920)
apapá
alimentação
Ituglanis amazonicus (Steindachner 1882)
-
-
piaba
-
Knodus heteresthes (Eigenmann, 1908)
-
-
Laetacara sp.
-
-
Lebiasinidae gen. (jovem) Leporinusgr. friderici (Bloch, 1794)
-
-
aracu
alimentação
Leporinus aff. friderici (Bloch, 1794)
aracu
alimentação
Leporinus fasciatus (Bloch, 1794)
aracu
alimentação
-
-
acari
-
acará-festivo
ornamental
Microcharacidium weitzmani Buckup, 1993
-
-
Microglanis sp.
-
-
charuto
alimentação
Moenkhausia collettii (Steindachner, 1882)
piaba
ornamental
Moenkhausia cotinho Eigenmann, 1908
piaba
ornamental
Moenkhausia oligolepis (Günther, 1864)
piaba
ornamental
-
-
Myleus sp.
pacu
-
Myleus torquatus (Kner, 1858) Myloplusasterias (Müller & Troschel, 1844)
pacu pacu
alimentação alimentação
Hyphessobrycon sp.
Hypoptopoma elongatum Aquino & Schaefer, 2010
Jupiaba anteroides (Géry, 1965)
Limatulichthys griseus (Eigenmann, 1909) Loricariichthys sp. Mesonauta festivus (Heckel, 1840)
Micromischodus sugillatus Roberts, 1971
Moenkhausia sp.
32
Nannostomus sp.
-
-
Nemadoras leporhinus (Eigenmann, 1912)
-
-
Nemuroglanis pauciradiatus Ferraris, 1988
-
-
Pachypops fourcroi (Lacepède, 1802) Peckoltia sp. Pimelodus sp. Plagioscion squamosissimus (Heckel, 1840) Poecilia sp. Potamotrygon sp.
pescadinha
alimentação
acari
ornamental
-
-
pescada-branca
alimentação
-
-
raia
alimentação
piranha
alimentação
piaba
-
-
-
Schizodon vittatus (Valenciennes, 1850)
aracu
alimentação
Scorpiodoras heckelii (Kner, 1855)
bacu
-
Serrasalmus gouldingi Fink & Machado-Allison, 1992
piranha
alimentação
Serrasalmus sp.
piranha
alimentação
Sorubim elongatus Littmann, Burr, Schmidt & Isern, 2001
surubim
alimentação
Synbranchus marmoratus Bloch, 1795
mussum
-
-
-
Pygopristis denticulata (Cuvier, 1819) Pyrrulina brevis Steindachner, 1876 Rivulus sp.
Tetranematichthys sp. Triportheus albus (Cope 1872)
sardinha-papuda
alimentação
DISCUSSÃO Lista de espécies Os dados de diversidade de táxons superiores (famílias e gêneros) e espécies mostram que, quando comparados com outros inventários na região amazônica, o sistema Arapiuns/Tapajós apresenta, proporcionalmente, uma maior diversidade geral. Um exemplo disso é o inventário realizado no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá, onde foram registradas 207 espécies de peixes, distribuídas em 93 gêneros e 26 famílias, amostrados em 86 pontos de coleta (Bernard, 2008). Se comparado aos dados obtidos nesse estudo, onde foi inventariada 99 espécies de peixes, distribuídas em 78 gêneros e 32 famílias em 41 pontos de coleta, podemos observar que, em termos gerais, o número de espécies foi proporcional ao número de pontos amostrados. No entanto, a riqueza de gêneros e famílias foi consideravelmente mais significativa, indicando que, embora em número de espécies essas subbacias sejam semelhantes, em termos de diversidade de táxons superiores, a Resex Tapajós Arapiuns apresenta uma ictiofauna mais diversa. 33
Um resultado inverso, no entanto, foi observado quando os dados deste estudo foram comparados a um inventário realizado no Baixo Rio Urubamba, tributário do Rio Ucayali, localizado na porção sudoeste da bacia amazônica, sudeste do Peru (Carvalho et al., 2011). Isso por que, em 22 pontos de coleta, este estudo inventario um total de 98 espécies, distribuídas em 22 famílias. Pode-se observar que, nesta porção da bacia amazônica, a diversidade geral de espécies é duas vezes maior que do presente estudo, mas que essa diversidade apresenta
uma
distribuição
mais
conservadora
dentro
das
famílias
predominantes nesses hábitats, como a família Characidae, a mais abundante nos dois estudos, mas onde a riqueza de espécies foi quase três vezes maior na região peruana que no sistema Arapiuns/Tapajós. Diversos fatores podem explicar essas variações nos padrões de diversidade dentro da bacia amazônica, dentre eles o tipo de formação geológica onde estão inseridas as cabeceiras desses sistemas. Os sistemas do Amapá, que tem suas cabeceiras no Escudo das Guianas, e do Tapajós, com cabeceiras no Escudo do Brasil, são caracterizados por águas claras que carregam carga mínima de sedimento e baixos níveis de sedimentos; O rio Arapiuns, no entanto, apresentam suas águas pretas, devido aos compostos orgânicos e ácido húmico provenientes da decomposição do material da floresta de terra firme inundada, uma vez que suas nascentes estão dentro na Planície Amazônica. O sistema do rio Ucayali, tem sua formação na Cordilheira dos Andes, suas águas brancas carregam grandes quantidades de sedimentos carreados das montanhas com altos níveis de nutrientes que se dispersam na várzea durante as enchentes, aumentando a produção biológica das florestas alagadas, macrófitas e algas e, consequentemente, da fauna associada a esses ambientes (Barthem&Goulding 2007). Independentemente dos números obtidos nesse e em outros estudos, o fato mais relevante é que os diferentes padrões de diversidade encontrados refletem a não apenas as extensas dimensões na qual a bacia amazônica se estende, mas também a grande diversidade de ambientes e particularidades químicas e geológicas de cada uma das subbacias que se unem para formar o maior sistema fluvial do mundo.
34
Estimativas de riquezas Os estimadores baseados no conceito estatístico de cobertura de amostra (ACE e ICE) são relativamente novos no campo de estimativas de riqueza (Longino et al., 2002). Em quase todos os casos, as estimativas apresentam comportamento diferenciado, com a curva de espécies atingindo a assíntota em alguns casos e não em outros. No presente trabalho, todas as estimativas de riqueza utilizadas tenderam a não estabilidade, incluindo a curva de acumulação de espécies observadas. Entretanto, a curva do estimador Chao2 tendeu a uma sutil estabilidade que as demais curvas. Nos demais estimadores, a inclinação das curvas acompanhou a curva de acumulação de espécies observadas. A curva do estimador ICE e Chao2 apresentou um acentuado crescimento inicial (nos primeiros 10% de amostras), seguido de uma queda, atingindo a sutil estabilidade somente após a inclusão de um número significativo de amostras. Este comportamento faz com que o estimador ICE e Chao2 seja pouco confiável quando temos um número baixo de amostras, uma vez que ele pode superestimar o número de espécies (Bragagnolo & Pinto-da-Rocha, 2003). Segundo Toti et al. (2000), podemos considera que um bom estimador de riqueza de espécie quando: 1) deve alcançar (ou pelo menos chegar perto) à estabilidade com menos amostras do que são necessárias para a estabilidade da curva de acumulação de espécies observadas, 2) não deve apresentar estimativas que difiram amplamente dos outros estimadores, e 3) deve apresentar estimativas próximas às extrapolações visuais razoáveis da estabilização da curva de acumulação de espécies observadas (Toti et al., 2000). Como não atingimos a estabilidade da curva de acumulação de espécies, as aplicações das considerações de Toti et al. (2000) ficam restritas, definindo que com exceção ao Chao2, todas as estimativas utilizadas no presente estudo, não apresentaram um bom desempenho.
Os ambientes e a ictiofauna Os hábitats de peixes variam muito, não só em características físicas, tais como pH, salinidade, temperatura, teor de oxigênio e luz, mas também diferem imensamente no espaço disponível (Bone & Moore, 2008) e na disponibilidade
35
de alimento entre períodos hidrológicos ou pluviométricos distintos (Goulding, 1980; Lowe-McConnell, 1999; Abelha et al., 2001; Novakowski et al., 2008). Devido à variação na disponibilidade de recursos alimentares, estudos de alimentação em ambientes naturais permitem o reconhecimento de categorias ou guildas tróficas distintas, além de possibilitar inferências sobre sua estrutura, o grau de importância dos diferentes níveis tróficos e as relações entre seus componentes (Novakowski et al., 2008). No presente estudo também foi possível observar a presença de sete guildas tróficas, sendo a distribuição dessas na região estudada fortemente relacionadas as características do ambiente. São elas: Espécies filtradoras que dominam áreas abertas de áreas alagadas ou rios As áreas abertas dos grandes rios e de áreas alagadas há um aumento considerável da comunidade zooplanctônica, como consequência do incremento dos processos fotoautotróficos (Baxter, 1977). Dentre o zooplâncton, os microcrustáceos são os mais encontrados nos conteúdos estomacais de peixes filtradores. Destacamos duas espécies da RESEX com capacidade para filtrar o plâncton (especialização nos rastros branquiais): Hypophthalmus marginatus e Hypophthalmus sp.
Espécies insetívoras que dominam igarapés cobertos por floresta Foram registradas 23 espécies insetívoras em igarapés cobertos por floresta que devido à baixa produção primária do sistema, os recursos alimentares são dominantemente vindos da floresta (alóctone).
Em ambientes tropicais, os
invertebrados terrestres, principalmente insetos adultos, são importante recursos alimentares para os peixes (Fugi et al. 2005), destacando os insetos das ordens Hymenoptera, Coleoptera, Hemiptera e Homoptera (Peretti & Andrian, 2004), que são utilizados quando caem na superfície da água durante o voo. Este recurso torna-se disponível sazonalmente, principalmente em períodos de revoadas (Benneman, 1996). Os insetívoros de igarapés registrados para a RESEX TapajósArapiuns foram: Crenuchus spilurus, Elachocharax junki, Microcharacidium weitzmani, Copella arnoldi, Copella nattereri, Nannostomus sp., Pyrrulina brevis, Gymnotus sp., Brachyhypomus sp., Hypopygus lepturus, Gymnorhamphichthys 36
petiti, Callichthys callichthys, Helogenes marmoratus, Nemuroglanis pauciradiatus, Microglanis sp., Ituglanis amazonicus, Synbranchus marmoratus, Laetacara sp., Aequidens sp., Apistogramma sp., Hyphessobrycon sp., Iguanodectes spilurus e Jupiaba anteroides.
Espécies piscívoras que dominam igarapés cobertos por floresta Na maioria dos ambientes aquáticos, peixes de pequeno porte com grande capacidade reprodutiva e elevada plasticidade alimentar, torna-se um recurso muito disponível para os peixes de hábito piscívoro. Nos pequenos igarapés foi possível encontrar seis espécies piscívoras, são elas: Acestrorhynchus microlepis, Acestrorhynchus minimus, Acestrorhynchus sp., Erythrinus erythrinus, Hoplias curupira, Charax gibbosus
Espécies frugívoras que dominam ambientes alagados Foram registradas cinco espécies frugívoras na RESEX Arapius-Tapajós, Myleus sp., Myleus torquatus, Myloplus asterias, Triportheus albus e Auchenipterichthys longimanus que, principalmente no período de inundação, utilizam a vegetação ripária na alimentação. Itens da vegetação ripária, principalmente os frutos e sementes, têm sido registrados como recursos alimentares para peixes, particularmente em rios tropicais (Albretcht & Caramaschi, 2003 e Alvim & Peret, 2004). Algumas espécies tem sido apontadas como potenciais dispersoras de sementes, como é o caso de Lithodoras dorsalis, no baixo Tocantins (Barbosa, 2012) e Auchenipterichthys longimanus em rios afogados da Amazônia Oriental (Freitas, 2010).
Espécies insetívoras que dominam os grandes dos rios e áreas alagáveis Os invertebrados aquáticos, especialmente larvas de insetos (Lowe-McConnell, 1987) tais como Chironomidae e Ephemeroptera, representam um recurso alimentar para peixes dos grandes rios e áreas alagadas (Hahn et al. 2004). Os Chironomidae estão entre os invertebrados aquáticos mais consumidos pelos peixes, fato associado à elevada abundância deste grupo em muitos ambientes aquático (Higuti & Takeda, 2002). Registramos para a RESEX 20 espécies insetívoras dos grandes canais, são elas: Argonectes sp., Bivibranchia sp., Hemiodus
goeldi,
Hemiodus
immaculatus,
Hemiodus
unimaculatus, 37
Micromischodus sugillatus, Brycon pesu, Bryconops caudomaculatus, Bryconops sp.,
Hassar
orestis,
Nemadoras
leporhinus,
Scorpiodoras
heckelii,
Tetranematichthys sp., Moenkhausia collettii,Moenkhausia cotinho, Moenkhausia oligolepis, Moenkhausia sp., Achirus sp., Anchovia surinamensis e Ilisha amazônica
Espécies piscívoras que dominam os canais dos rios e áreas alagadas Os piscívoros registrados para a RESEX que estão associados aos canais dos rios e suas área alagadas foram: Acestrorhynchus falcirostris, Boulengerella maculata, Pimelodus sp., Sorubim elongatus, Pachypops fourcroi, Plagioscion squamosissimus, Potamotrygon sp., Cichla sp. Cichla temensis, Hoplias malabaricus, Ageneiosus brevifilis, Ageneiosus sp.
Espécies detritívoras ou raspadoras de fundo O consumo de algas, principalmente as perifiticas, são consumidas em grandes quantidades pelos peixes, principalmente pelas famílias Curimatidae e Loricariidae, aqui representadas pelas espécies: Curimata inornata, Curimata vittata, Curimatella immaculata, Curimatopsis crypticus, Cyphocharax
sp.,
Hypoptopoma elongatum, Limatulichthys griseus, Loricariichthys sp., Peckoltia sp.
Uso e conservação da ictiofauna Os dados obtidos no presente estudo reforçam a idéia de que a região apresenta um forte potencial pra a pesca comercial e de subsistência, corroborando os estudos de Barthem & Golding (2007), que destacam a importância de caracídeos, bagres e ciclídeos como os principais grupos de peixes importantes para o consumo. Os limites das unidades de conservação mesmo de uso direto desempenham um papel na manutenção dos estoques pesqueiros, por utilizarem diversos ambientes como áreas de desova, crescimento e alimentação. A pesca comercial é muito desenvolvida no rio Tapajós e seus principais tributários, tendo na cidade de Santarém, o principal ponto de descarga de pescado comercializado (Ferreira et al. 1998). Além disso, a pesca artesanal 38
também é bastante desenvolvida pelos moradores das comunidades ribeirinhas, que tem nos peixes uma importante fonte de proteínas (Piperata, 2007). LITERATURA CITADA Agostinho, A.A.; Thomaz, S.M. & Gomes, L.C. 2005. Conservação da biodiversidade em águas continentais do Brasil. Megadiversidade 1(1): 71-78. Albert, J.A. & Reis, R.E. 2011. Historical Biogeography of neotropical freshwater fishes. University of California Press. 368 p. Albretcht, M.P. & Caramaschi, E.P. 2003. Feeding ecology of Leporinus friderici (Teleostei: Anostomidae) in the Upper Tocantins River, Central Brazil, before and after installation of a hydroeletric plant. Studies on Neotropical Fauna and Envirnmental, 38(1): 33-40. Aleixo, A. 2009. Conceitos de espécie e suas implicações para a conservação. Megadiversidade, 5 (1): 87-95. Alvim, M.C.C. & Peret, A.C. 2004. Food resources sustaining the fish fauna in a section of the upper São Francisco River in Três Marias, MG, Brazil. Brazilian Journal of Biology, 64(2): 195-202. Aquino, A. E. & S. A. Schaefer. 2010. Systematics of the genus Hypoptopoma Günther, 1868 (Siluriformes, Loricariidae). Bulletin of the American Museum of Natural History, 336. 110p. Aquino, P.P.U.; Schneider, M.; Martins-Silva, M.J., Padovesi-Fonseca, C.; Arakawa, H.B.; Cavalcanti, D.R. 2009. Ictiofauna dos córregos do Parque Nacional de Brasília, bacia do Alto Rio Paraná, Distrito Federal, Brasil Central. Biota Neotropica, 9: 217-230. Araújo, F.G. 1998. Adaptação do índice de integridade biótica usando a comunidade de peixes para o rio Paraíba do Sul. Revista Brasileira de Biologia58(4): 547-558. Barbosa, T.A.P. 2012. Aspectos ecológicos do bacu-pedra Lithodoras dorsalis (Valenciennes, 1840) (Siluriformes: Doradidae) na foz amazônica, Brasil. Unpublished Master Dissertation, Universidade Federal do Pará/Museu Paraense Emílio Goeldi, 70p. Bastos, L.P. & Abilhoa, V. 2004. A utilização do Índice de Integridade Biótica para avaliação da qualidade de água um estudo de caso para riachos urbanos da bacia hidrográfica do rio Belém, Curitiba, Paraná. Revista Estudos de Biologia, 26(55): 3344. Baxter, R.M. 1977. Environmental effects of dams and impoundments. Annual Review of Ecology and Systematics 8: 255-283. 39
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RELATÓRIO 2
AVIFAUNA
Alexandre Aleixo¹; Sidnei Dantas2; Rodrigo Teixeira1 ¹Museu Paraense Emilio Goeldi, Coordenação de Zoologia, Caixa Postal 399, CEP 66040-170, Belém-PA 2 Curso de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Federal do Pará / Museu Paraense Emílo Goeldi, Belém, PA.
INTRODUÇÃO Na região amazônica brasileira são conhecidas, até o momento, cerca de 1300 espécies de aves, das quais mais de 630 são endêmicas desse bioma gigantesco (Aleixo et al., em prep.). A avifauna da Amazônia não se distribui de modo uniforme, os grandes rios, e muitos rios menores, limitam a distribuição de diversas espécies, que em muitos casos são substituídas por espécies irmãs na margem oposta do rio. Isso cria áreas entre os grandes rios denominadas Centros de Endemismo (CE), sendo reconhecidas atualmente nove CEs na Amazônia (Silva et al., 2005; Borges e Silva, 2012). Além da barreira dos rios, outros fatores causam a heterogeneidade da distribuição das espécies no bioma. Diversas espécies são pontuais, muito raras, restritas a áreas pequenas, como microbacias, ou especialistas em ambientes pontuais, como bambuzais, florestas de areia branca e campinas. Desse modo, é essencial que, num levantamento, se cubra a maior quantidade possível de ambientes para se ter uma ideia melhor da composição da avifauna. A área localizada entre os rios Tapajós e Madeira, conhecida como Centro de Endemismo Rondônia (CE Rondônia), abriga uma impressionante avifauna, para as quais há informações de poucas localidades. Inventários rápidos em áreas diversas nessa região têm registrado entre 265 e quase 500 espécies (Santos et al, 2011; Dantas et al., 2011; Whitaker, 2008). A presença de várias unidades de conservação no CE Rondônia é um importante instrumento de proteção à biodiversidade local, mas ela está ainda começando a ser conhecida, de modo que inventários em qualquer região são de fundamental importância para uma compreensão da distribuição e raridade das espécies envolvidas. No presente relatório, apresentamos os resultados de duas expedições de levantamento de aves na Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (RESEX TapajósArapiuns), localizada na margem esquerda (oeste) do Rio Tapajós no município de Santarém, Pará.
MATERIAL E MÉTODOS O trabalho foi realizado em duas excursões, a primeira de 12 a 25 de junho de 2011, e a segunda de 29 de março a 11 de abril de 2012. A primeira excursão foi realizada em dois pontos da Resex Tapajós-Arapiuns, descritos a seguir: 44
Comunidade Nova Canaã (03º09'S; 55º49'W): A coleta de dados foi realizada nas áreas ao redor da comunidade. As áreas amostradas incluíram áreas contínuas de floresta alta de terra firme de solo parcialmente arenoso, bem como florestas alagáveis de igapó às margens do rio Maró. De um modo geral, todas áreas visitadas se encontravam em bom estado de conservação, embora áreas antropizadas como capoeiras em diferentes estágios sucessionais e roçados também estivessem presentes, tendo sido igualmente amostrados. Comunidade Alto Mentai (02º47'S; 55º36'W): O ponto de coleta de dados se situava num raio de 4-5 km da comunidade, em uma área predominantemente de floresta de terra firme, com copa de até 30 metros e sub-bosque pouco denso, que incluía algumas áreas de vegetação secundária e de floresta alagada nas proximidades do rio Mentai. Próximo à comunidade, uma área de floresta baixa crescendo em solo arenoso, com aspecto de campinarana, também foi amostrada. A segunda excursão foi realizada nos pontos abaixo: Comunidade Tucumatuba (03º05'39"S; 55º32'08,3"W): O ponto de coleta de dados se localizava a cerca de 40 km a oeste da comunidade, em uma área predominantemente de floresta de terra firme, com copa de até 30 metros e sub-bosque pouco denso, que incluía algumas áreas de vegetação secundária e de floresta alagada. Próximo ao acampamento, havia uma área pequena de floresta de solo arenoso, com aspecto de campinarana, com árvores baixas e moitas de liquens no solo. Comunidade Capixauã (02º35'12,6"S; 55º11'42,6"W): A coleta de dados foi realizada nas áreas ao redor dessa comunidade. As áreas amostradas incluem um fragmento de floresta de terra firme de solo parcialmente arenoso, cercada por uma matriz de vegetação arbustiva de baixo porte, com aspecto de cerrado (árvores de tronco rugoso e retorcido, etc). A floresta nessa área é de copa mais baixa que a da Tucumatuba, com sub-bosque mais denso, com maior presença de palmeiras. Foi amostrada também uma área de campo aberto, uma formação em solo arenoso com predominância maciça de gramíneas, com árvores e arbustos esparsos e pequenos. Em todas as localidades acima, o levantamento qualitativo consistiu em caminhadas diurnas e noturnas através de ambientes e vegetações distintos na área de estudo com o objetivo de registrar as aves presentes a partir de contatos visuais e auditivos. Durante este levantamento, diversas espécies de aves observadas foram documentadas com a gravação digital de suas vocalizações por um gravador Marantz® PMD 670 ou Sony PCM D50, acoplados a um microfone direcional Sennheiser® ME-88 ou ME-66. Em cada localidade também foram utilizadas redes de neblina de 12 x 2 m para a captura de aves com o objetivo de complementar o levantamento qualitativo descrito acima. A cada dia de amostragem, redes instaladas nas proximidades dos mesmos transectos percorridos durante o levantamento qualitativo permaneciam abertas durante a manhã por um período de pelo menos 6 horas (geralmente entre 6:00 – 12:00 hs). Um total de 15 redes de neblina foi utilizado ao longo de 18 dias (09 dias em cada excursão), permitindo um esforço total 1600 h/rede para a Resex. Parte igualmente importante do inventário da avifauna local foi a coleta de espécimes testemunho de algumas espécies registradas visualmente e/ou gravadas, notadamente aquelas de difícil identificação e de ocorrência previamente não documentada na região. As coletas foram realizadas com o auxílio de redes de neblina e uma espingarda calibre 16. Para cada espécime coletado, os seguintes dados foram registrados durante sua dissecação: localidade de coleta (com coordenadas obtidas a partir de GPS), peso, estágio na muda de penas, sexo, tamanho das gônadas, presença ou ausência da bursa de Fabricius, grau de ossificação do crânio, quantidade de gordura, cor da íris e partes nuas e finalmente habitat e estrato da vegetação onde o espécime foi coletado. Para cada espécime coletado, uma amostra de tecido foi também preservada em álcool etílico absoluto imediatamente após o sacrifício do animal. Geralmente, essas amostras incluíram partes do fígado, coração e 45
músculo peitoral. Todos os espécimes coletados foram depositados na coleção ornitológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) em Belém, Pará.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registradas 372 espécies na Resex Tapajós-Arapiuns (312 na 1ª campanha, 285 na 2 ª). Em Nova Canaã, foram registradas 259 espécies; no Alto Mentai, 245; na área próxima à comunidade Tucumatuba foram registradas 182 espécies, e na comunidade Capixauã, 217. As espécies registradas encontram-se no Anexo 1. Das espécies registradas, quatro encontram-se listadas em algum grau de ameaça na lista vermelha da IUCN: Penelope pileata (Vulnerável), Morphnus guianensis (Quase Ameaçada), Pyrilia vulturina (Vulnerável) e Neomorphus squamiger (Vulnerável). Com exceção de M. guianensis, essas espécies são também endêmicas da Amazônia brasileira. Outras espécies merecem destaque para conservação, podendo ser agrupadas em diversas categorias de interesse, listadas abaixo: 1) Espécies endêmicas da Amazônia Brasileira: Psophia viridis, Pyrrhura amazonum, Pyrilia vulturina, Neomorphus squamiger, Capito brunneipectus, Hypocnemis
striata,
Phlegopsis
borbae,
Rhegmatorhina
berlepschi,
Dendrocolaptes hoffmannsi, Xipholena lamellipennis, Poecilotriccus senex e Polioptila paraensis. 2)
Raras e com distribuições localizadas na margem sul do Amazonas:
Antrostomus sericocaudatus, Phaethornis rupurumii, Discosura longicaudus, Polythmus
theresiae,
Cercomacra
manu,
Conopophaga
melanogaster,
Pachyramphus surinamus e Conopias parvus. 3)
Cinegéticas: Tinamus tao, T. major, Penelope pileata, Aburria cujubi e
Pauxi tuberosa. Algumas das espécies da categoria 2 são encontradas fora da Amazônia, mas também em distribuições localizadas, como A. sericocaudatus e D. longicauda. Outras, como P. theresiae e C. manu são especialistas em ambientes pontuais (no caso citado, campinas e tabocais, respectivamente). Além dessas espécies, vários táxons de distribuição ampla na Amazônia devem ser divididos em várias espécies de distribuição restrita a um ou poucos interflúvios em breve, o que aumentará a lista de espécies de interesse conservacionista consideravelmente. Tal é o caso de Campylorhamphus procurvoides, Lepidocolaptes albolineatus, Megascops usta, dentre outras. Ao todo, 225 espécimes de 103 espécies foram coletados na Resex Arapiuns (Anexo 2). O número de espécies registradas nesse trabalho é semelhante ao de outros trabalhos realizados no interflúvio Tapajós-Madeira (Santos et al., 2011; Oren e Parker III, 1997; Aleixo e Poletto, 2007; Dantas et al., 2011; Whittaker, 2008), o que indica que a Resex Arapiuns é uma área importante para a conservação da avifauna local. A presença de predadores de topo de cadeia (Harpia harpyja, Morphnus gujanensis, Spizaetus ornatus) e de aves cinegéticas de grande porte (Mitu tuberosa, Tinamus tao, Aburria cujubi) reforça essa impressão. 46
CONCLUSÕES A Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns abriga uma comunidade de aves bastante significativa do interflúvio Madeira-Tapajós, incluindo predadores de topo de cadeia e espécies cinegéticas de grande porte. Importantíssima é a presença, também, de espécies ameaçadas de extinção, entre elas Neomorphus squamiger, um grande cuculídeo terrícola restrito a uma área pequena na Amazônia brasileira, do qual se conhece muito pouco, havendo poucas peles em museus e poucas avistagens em seu ambiente natural. a Resex Tapajós-Arapiuns funciona, portanto, como uma importante unidade de conservação para esses táxons. A lista de espécies, apesar de ser muito boa para o curto período de trabalho, ainda está incompleta. Recomenda-se a continuação desses estudos, para que se façam registros adicionais, e se tenha uma ideia melhor da real composição da avifauna da região.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aleixo, A.; F. Poletto. 2007. Birds of an open vegetation enclave in southern Brazilian Amazonia. The Wilson Journal of Ornithology 119 (4): 610-630. Borges, S.H.; J.M.C. Silva. 2012. A New Area of Endemism for Amazonian Birds in the Rio Negro Basin. The Wilson Journal of Ornithology 124(1): 15-23. Dantas, S.M.; M.S. Faccio; M.F. Lima. 2011. Avifaunal inventory of the Floresta Nacional de Pau-Rosa, Maues, state of Amazonas, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia 19(2): 154-166. Oren, D. C. and Parker III, T. A. 1997. Avifauna of the Tapajos National Park and vicinity, Amazonian Brazil. Ornithological Monographs48: 493-525. Santos, M.P.D.; A. Aleixo; F.M. d’Horta; C.E.B. Portes. 2011. Avifauna of the Juruti Region, Pará, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia 19(2): 134-153. Silva, J. M. C., A . B. Rylands, G. A. B. da Fonseca. 2005. O destino das áreas de endemismo da Amazônia. Megadiversidade 1: 124-131. Whittaker, A. 2009. Pousada Rio Roosevelt: a provisional avifaunal inventory in southwestern Amazonian Brazil, with information on life history, new distributional data and comments on taxonomy. Cotinga 31: 20-43.
47
ANEXO 1 Lista das aves registradas na Resex Tapajós-Arapiuns durante os inventários de 2011 e 2012, por localidade. Famílias e Espécies
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Alto Mentai
●
Tucumatuba
Capixauã
Tinamiformes Huxley, 1872 Tinamidae Gray, 1840 Tinamus tao Temminck, 1815
azulona
●
[Tinamus major (Gmelin, 1789)]a
inhambu-de-cabeça-vermelha
●
Tinamus guttatus Pelzeln, 1863
inhambu-galinha
Crypturellus cinereus (Gmelin, 1789)
inhambu-preto
Crypturellus soui (Hermann, 1783)
tururim
Crypturellus undulatus (Temminck, 1815)
jaó
Crypturellus strigulosus (Temminck, 1815)
inhambu-relógio
●
●
Crypturellus variegatus (Gmelin, 1789)
inhambu-anhangá
●
●
asa-branca
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
● ● ●
●
●
Anseriformes Linnaeus, 1758 Anatidae Leach, 1820 Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) Galliformes Linnaeus, 1758 Cracidae Rafinesque, 1815 Ortalis guttata (Spix, 1825)
●
aracuã
Penelope sp. b
●
Penelope pileata Wagler, 1830
jacupiranga
Aburria cujubi (Pelzeln, 1858)
cujubi
Pauxi tuberosa (Spix, 1825)
mutum-cavalo
●
● ●
●
● ●
Odontophoridae Gould, 1844 Odontophorus gujanensis (Gmelin, 1789)
uru-corcovado
●
biguatinga
●
●
●
Suliformes Sharpe, 1891 Anhingidae Reichenbach, 1849 Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766)
48
Pelecaniformes Sharpe, 1891 Ardeidae Leach, 1820 Famílias e Espécies
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783)
socó-boi
Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758)
savacu
Butorides striata (Linnaeus, 1758)
socozinho
Ardea alba Linnaeus, 1758
garça-branca-grande
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
● ● ●
Threskiornithidae Poche, 1904 Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789)
coró-coró
●
●
Cathartiformes Seebohm, 1890 Cathartidae Lafresnaye, 1839 ●
Cathartes aura (Linnaeus, 1758)
urubu-de-cabeça-vermelha
Cathartes burrovianus Cassin, 1845
urubu-de-cabeça-amarela
Cathartes melambrotus Wetmore, 1964
urubu-da-mata
●
●
Coragyps atratus (Bechstein, 1793)
urubu-de-cabeça-preta
●
●
Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758)
urubu-rei
● ●
●
● ●
●
●
Accipitriformes Bonaparte, 1831 Pandionidae Bonaparte, 1854 Pandion haliaetus (Linnaeus, 1758)
●
águia-pescadora
Accipitridae Vigors, 1824 ●
Leptodon cayanensis (Latham, 1790)
gavião-de-cabeça-cinza
Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758)
gavião-tesoura
Harpagus bidentatus (Latham, 1790)
gavião-ripina
●
Ictinia plumbea (Gmelin, 1788)
sovi
●
Busarellus nigricollis (Latham, 1790)
gavião-belo
Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817)
gavião-caramujeiro
[Accipiter bicolor (Vieillot, 1817)]
gavião-bombachinha-grande
●
Leucopternis kuhli Bonaparte, 1850
gavião-vaqueiro
●
Pseudastur albicollis (Latham, 1790)
gavião-branco
●
●
● ● ● ● ● ●
●
49
●
●
Urubitinga urubitinga (Gmelin, 1788)
gavião-preto
Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)
gavião-carijó
Buteo nitidus (Latham, 1790)
gavião-pedrês
●
Buteo brachyurus Vieillot, 1816
gavião-de-cauda-curta
●
Famílias e Espécies
●
●
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Morphnus guianensis (Daudin, 1800)
uiraçu-falso
Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)
gavião-real
Spizaetus tyrannus (Wied, 1820)
gavião-pega-macaco
Spizaetus ornatus (Daudin, 1800)
gavião-de-penacho
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
● ● ●
●
●
Falconiformes Bonaparte, 1831 Falconidae Leach, 1820 Daptrius ater Vieillot, 1816
gavião-de-anta
●
●
Ibycter americanus (Boddaert, 1783)
gralhão
●
Caracara plancus (Miller, 1777)
caracará
Milvago chimachima (Vieillot, 1816)
carrapateiro
●
Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758)
acauã
●
●
Micrastur ruficollis (Vieillot, 1817)
falcão-caburé
●
●
●
Micrastur mintoni Whittaker, 2002
falcão-críptico
●
●
●
Micrastur mirandollei (Schlegel, 1862)
tanatau
●
●
Micrastur semitorquatus (Vieillot, 1817)
falcão-relógio
●
Falco rufigularis Daudin, 1800
cauré
●
jacamim-de-costas-verdes
●
●
● ● ● ●
●
●
●
Gruiformes Bonaparte, 1854 Psophiidae Bonaparte, 1831 Psophia viridis Spix, 1825
●
●
Rallidae Rafinesque, 1815 Aramides cajanea (Statius Muller, 1776)
saracura-três-potes
Laterallus viridis (Statius Muller, 1776)
sanã-castanha
Porzana albicollis (Vieillot, 1819)
sanã-carijó
●
● ●
●
Heliornithidae Gray, 1840
50
picaparra
●
Vanellus cayanus (Latham, 1790)
batuíra-de-esporão
●
Charadrius collaris Vieillot, 1818
batuíra-de-coleira
●
Heliornis fulica (Boddaert, 1783) Charadriiformes Huxley, 1867 Charadriidae Leach, 1820
Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854 Famílias e Espécies
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Jacana jacana (Linnaeus, 1766)
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã ●
jaçanã
Sternidae Vigors, 1825 Phaetusa simplex (Gmelin, 1789)
●
trinta-réis-grande
●
Columbiformes Latham, 1790 Columbidae Leach, 1820 ●
Columbina passerina (Linnaeus, 1758)
rolinha-cinzenta
[Columbina minuta (Linnaeus, 1766)]
rolinha-de-asa-canela
●
Columbina talpacoti (Temminck, 1811)
rolinha-roxa
●
Claravis pretiosa (Ferrari-Perez, 1886)
pararu-azul
●
Patagioenas speciosa (Gmelin, 1789)
pomba-trocal
●
●
Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792)
pomba-galega
●
●
Patagioenas plumbea (Vieillot, 1818)
pomba-amargosa
●
●
Patagioenas subvinacea (Lawrence, 1868)
pomba-botafogo
●
●
Zenaida auriculata (Des Murs, 1847)
pomba-de-bando
Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855
juriti-pupu
●
Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792)
juriti-gemedeira
●
Geotrygon montana (Linnaeus, 1758)
pariri
● ●
● ● ● ● ●
●
●
●
Psittaciformes Wagler, 1830 Psittacidae Rafinesque, 1815 ●
Ara macao (Linnaeus, 1758)
araracanga
Ara chloropterus Gray, 1859
arara-vermelha-grande
●
Orthopsittaca manilata (Boddaert, 1783)
maracanã-do-buriti
●
● ●
●
51
●
●
Aratinga leucophthalma (Statius Muller, 1776)
periquitão-maracanã
Aratinga aurea (Gmelin, 1788)
periquito-rei
Pyrrhura perlata (Spix, 1824)
tiriba-de-barriga-vermelha
Pyrrhura amazonum Hellmayr, 1906
tiriba-de-hellmayr
●
●
●
Brotogeris chrysoptera (Linnaeus, 1766)
periquito-de-asa-dourada
●
●
●
Touit purpuratus (Gmelin, 1788)
apuim-de-costas-azuis
Pyrilia vulturina (Kuhl, 1820)
curica-urubu
●
●
Pionus menstruus (Linnaeus, 1766)
maitaca-de-cabeça-azul
●
●
Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
Famílias e Espécies
● ● ●
●
Nome em português
●
●
Localidades
Pionus fuscus (Statius Muller, 1776)
maitaca-roxa
●
●
●
●
Amazona farinosa (Boddaert, 1783)
papagaio-moleiro
●
●
●
●
Amazona amazonica (Linnaeus, 1766)
curica
Amazona autumnalis (Linnaeus, 1758)
papagaio-diadema
Amazona ochrocephala (Gmelin, 1788)
papagaio-campeiro
●
●
●
Deroptyus accipitrinus (Linnaeus, 1758)
anacã
●
●
●
Coccycua minuta (Vieillot, 1817)
chincoã-pequeno
●
Piaya cayana (Linnaeus, 1766)
alma-de-gato
●
●
●
Piaya melanogaster (Vieillot, 1817)
chincoã-de-bico-vermelho
●
●
Crotophaga major Gmelin, 1788
anu-coroca
●
Crotophaga ani Linnaeus, 1758
anu-preto
●
Tapera naevia (Linnaeus, 1766)
saci
Neomorphus squamiger Todd, 1925
jacu-estalo-escamoso
● ● ●
Cuculiformes Wagler, 1830 Cuculidae Leach, 1820 ● ● ●
● ●
●
Strigiformes Wagler, 1830 Strigidae Leach, 1820 Megascops choliba (Vieillot, 1817)
corujinha-do-mato
●
●
Megascops usta (Sclater, 1858)
corujinha-relógio
●
●
Lophostrix cristata (Daudin, 1800)
coruja-de-crista
●
● ●
●
●
52
Pulsatrix perspicillata (Latham, 1790)
murucututu
Strix sp. Glaucidium hardyi Vielliard, 1990
caburé-da-amazônia
●
●
●
●
●
●
●
●
Caprimulgiformes Ridgway, 1881 Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851 ●
Nyctibius aethereus (Wied, 1820)
mãe-da-lua-parda
Nyctibius griseus (Gmelin, 1789)
mãe-da-lua
●
●
Nyctibius bracteatus Gould, 1846
urutau-ferrugem
●
●
bacurau-ocelado
●
●
Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
●
Caprimulgidae Vigors, 1825 Nyctiphrynus ocellatus (Tschudi, 1844) Famílias e Espécies
Nome em português
● Localidades Capixauã
Antrostomus rufus (Boddaert, 1783)
joão-corta-pau
●
Antrostomus sericocaudatus Cassin, 1849
bacurau-rabo-de-seda
●
●
●
Lurocalis semitorquatus (Gmelin, 1789)
tuju
●
●
●
Hydropsalis leucopyga (Spix, 1825)
bacurau-de-cauda-barrada
Hydropsalis nigrescens (Cabanis, 1848)
bacurau-de-lajeado
Hydropsalis albicollis (Gmelin, 1789)
bacurau
Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789)
bacurau-tesoura
●
Chordeiles acutipennis (Hermann, 1783)
bacurau-de-asa-fina
●
● ● ●
●
●
●
Apodiformes Peters, 1940 Apodidae Olphe-Galliard, 1887 [Chaetura spinicaudus (Temminck, 1839)]
andorinhão-de-sobre-branco
Chaetura cinereiventris Sclater, 1862
andorinhão-de-sobre-cinzento
Chaetura brachyura (Jardine, 1846)
andorinhão-de-rabo-curto
Tachornis squamata (Cassin, 1853)
andorinhão-do-buriti
Panyptila cayennensis (Gmelin, 1789)
andorinhão-estofador
●
● ●
●
● ● ●
●
●
Trochilidae Vigors, 1825 Phaethornis rupurumii Boucard, 1892
rabo-branco-do-rupununi
Phaethornis ruber (Linnaeus, 1758)
rabo-branco-rubro
● ●
●
●
●
53
●
●
●
Phaethornis malaris (Nordmann, 1835)
besourão-de-bico-grande
Campylopterus largipennis (Boddaert, 1783)
asa-de-sabre-cinza
●
Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817)
beija-flor-de-veste-preta
●
[Topaza pella (Linnaeus, 1758)]
beija-flor-brilho-de-fogo
●
Discosura longicaudus (Gmelin, 1788)
bandeirinha
●
Chlorostilbon notatus (Reich, 1793)
beija-flor-de-garganta-azul
●
Thalurania furcata (Gmelin, 1788)
beija-flor-tesoura-verde
Polytmus theresiae (Da Silva Maia, 1843)
beija-flor-verde
●
●
●
● ●
Heliomaster longirostris (Audebert & Vieillot, 1801) ●
bico-reto-cinzento Trogoniformes A. O. U., 1886 Trogonidae Lesson, 1828 Famílias e Espécies
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
Trogon melanurus Swainson, 1838
surucuá-de-cauda-preta
●
●
●
●
Trogon viridis Linnaeus, 1766
surucuá-grande-de-barriga-amarela
●
●
●
●
Trogon ramonianus Deville & DesMurs, 1849
surucuá-pequeno
●
●
●
Trogon curucui Linnaeus, 1766
surucuá-de-barriga-vermelha
●
●
Trogon rufus Gmelin, 1788
surucuá-de-barriga-amarela
●
●
Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766)
martim-pescador-grande
●
●
Chloroceryle amazona (Latham, 1790)
martim-pescador-verde
●
●
Chloroceryle aenea (Pallas, 1764)
martinho
Chloroceryle americana (Gmelin, 1788)
martim-pescador-pequeno
● ●
●
Coraciiformes Forbes, 1844 Alcedinidae Rafinesque, 1815 ● ●
●
● ●
Momotidae Gray, 1840 Baryphthengus martii (Spix, 1824)
juruva-ruiva
●
●
Momotus momota (Linnaeus, 1766)
udu-de-coroa-azul
●
●
●
●
Galbuliformes Fürbringer, 1888 Galbulidae Vigors, 1825
54
Galbula cyanicollis Cassin, 1851
ariramba-da-mata
●
●
●
Galbula leucogastra Vieillot, 1817
ariramba-bronzeada
●
●
●
Galbula dea (Linnaeus, 1758)
ariramba-do-paraíso
●
●
●
Jacamerops aureus (Statius Muller, 1776)
jacamaraçu
●
●
●
●
Notharchus hyperrhynchus (Sclater, 1856)
macuru-de-testa-branca
●
●
●
●
Notharchus tectus (Boddaert, 1783)
macuru-pintado
●
●
●
●
Bucco tamatia Gmelin, 1788
rapazinho-carijó
●
●
Bucco capensis Linnaeus, 1766
rapazinho-de-colar
●
●
●
Malacoptila rufa (Spix, 1824)
barbudo-de-pescoço-ferrugem
●
●
●
Nonnula [rubecula] (Spix, 1824)
macuru
●
●
Monasa morphoeus (Hahn & Küster, 1823)
chora-chuva-de-cara-branca
●
●
Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782)
Urubuzinho
●
●
Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
capitão-de-peito-marrom
●
●
●
●
Ramphastos tucanus Linnaeus, 1758
tucano-grande-de-papo-branco
●
●
●
●
Ramphastos vitellinus Lichtenstein, 1823
tucano-de-bico-preto
●
●
●
●
Selenidera gouldii (Natterer, 1837)
saripoca-de-gould
●
●
Pteroglossus bitorquatus Vigors, 1826
araçari-de-pescoço-vermelho
●
●
●
Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758)
araçari-de-bico-branco
●
●
●
●
Picumnus aurifrons Pelzeln, 1870
pica-pau-anão-dourado
●
●
Melanerpes cruentatus (Boddaert, 1783)
benedito-de-testa-vermelha
●
●
●
●
Veniliornis affinis (Swainson, 1821)
picapauzinho-avermelhado
●
●
●
●
Piculus flavigula (Boddaert, 1783)
pica-pau-bufador
●
●
●
●
Piculus chrysochloros (Vieillot, 1818)
pica-pau-dourado-escuro
Bucconidae Horsfield, 1821
●
●
● ●
Piciformes Meyer & Wolf, 1810 Famílias e Espécies
Nome em português
Localidades
Capitonidae Bonaparte, 1838 Capito brunneipectus Chapman, 1921 Ramphastidae Vigors, 1825
Picidae Leach, 1820 ●
●
55
●
●
Celeus grammicus (Natterer & Malherbe, 1845)
picapauzinho-chocolate
Celeus elegans (Statius Muller, 1776)
pica-pau-chocolate
●
Celeus flavus (Statius Muller, 1776)
pica-pau-amarelo
●
●
●
●
Celeus torquatus (Boddaert, 1783)
pica-pau-de-coleira
●
●
●
Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766)
pica-pau-de-banda-branca
●
Campephilus rubricollis (Boddaert, 1783)
pica-pau-de-barriga-vermelha
●
Campephilus melanoleucos (Gmelin, 1788)
pica-pau-de-topete-vermelho
●
●
Terenura spodioptila Sclater & Salvin, 1881
zidedê-de-asa-cinza
●
●
Myrmornis torquata (Boddaert, 1783)
pinto-do-mato-carijó
●
●
Microrhopias quixensis (Cornalia, 1849)
papa-formiga-de-bando
●
●
Myrmeciza ferruginea (Statius Muller, 1776)
formigueiro-ferrugem
Myrmeciza atrothorax (Boddaert, 1783)
formigueiro-de-peito-preto
●
Epinecrophylla leucophthalma (Pelzeln, 1868)
choquinha-de-olho-branco
●
Epinecrophylla ornata (Sclater, 1853)
choquinha-ornada
●
● ●
● ●
Passeriformes Linnaeus, 1758 Thamnophilidae Swainson, 1824
Famílias e Espécies
●
●
● ● ●
●
●
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
Myrmotherula brachyura (Hermann, 1783)
choquinha-miúda
●
●
●
●
Myrmotherula sclateri Snethlage, 1912
choquinha-de-garganta-amarela
●
●
●
●
Myrmotherula multostriata Sclater, 1858
choquinha-estriada-da-amazônia
Myrmotherula hauxwelli (Sclater, 1857)
choquinha-de-garganta-clara
●
●
●
Myrmotherula axillaris (Vieillot, 1817)
choquinha-de-flanco-branco
●
●
●
Myrmotherula longipennis Pelzeln, 1868
choquinha-de-asa-comprida
●
●
●
Myrmotherula iheringi Snethlage, 1914
choquinha-de-ihering
●
●
Myrmotherula menetriesii (d'Orbigny, 1837)
choquinha-de-garganta-cinza
●
●
●
Formicivora grisea (Boddaert, 1783)
papa-formiga-pardo
●
Thamnomanes saturninus (Pelzeln, 1878)
uirapuru-selado
●
●
●
●
Thamnomanes caesius (Temminck, 1820)
ipecuá
●
●
●
●
[Thamnophilus doliatus (Linnaeus, 1764)]
choca-barrada
●
● ●
56
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
papa-formiga-do-igarapé
●
●
●
guarda-várzea
●
●
●
Myrmoborus myotherinus (Spix, 1825)
formigueiro-de-cara-preta
●
●
●
●
Cercomacra cinerascens (Sclater, 1857)
chororó-pocuá
●
●
●
●
1859) Cercomacra manu Fitzpatrick & Willard, 1990
chororó-negro chororó-de-manu
●
●
● ●
●
Hypocnemis striata (Spix, 1825)
cantador-estriado
●
●
●
●
Willisornis poecilinotus (Cabanis, 1847)
rendadinho
●
●
●
mãe-de-taoca
●
●
●
mãe-de-taoca-dourada
●
Thamnophilus schistaceus d'Orbigny, 1835
choca-de-olho-vermelho
Thamnophilus stictocephalus Pelzeln, 1868
choca-de-natterer
Thamnophilus aethiops Sclater, 1858
choca-lisa
●
Thamnophilus amazonicus Sclater, 1858
choca-canela
●
Cymbilaimus lineatus (Leach, 1814)
papa-formiga-barrado
Taraba major (Vieillot, 1816)
choró-boi
Sclateria naevia (Gmelin, 1788) Hylophylax punctulatus (Des Murs, 1856)
● ●
Cercomacra nigrescens (Cabanis & Heine,
Phlegopsis nigromaculata (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) Phlegopsis borbae Hellmayr, 1907 Famílias e Espécies
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Rhegmatorhina berlepschi (Snethlage, 1907)
●
Alto Mentai
Tucumatuba
mãe-de-taoca-arlequim
●
●
chupa-dente-grande
●
Capixauã
Conopophagidae Sclater & Salvin, 1873 Conopophaga melanogaster Ménétriès, 1835 Grallariidae Sclater & Salvin, 1873 Grallaria varia (Boddaert, 1783)
tovacuçu
●
Hylopezus whittakeri Carneiro et al. 2012
torom-carijó
●
Hylopezus berlepschi (Hellmayr, 1903)
torom-torom
Myrmothera campanisona (Hermann, 1783)
tovaca-patinho
●
● ● ●
●
●
●
●
Rhinocryptidae Wetmore, 1930 (1837) Liosceles thoracicus (Sclater, 1865)
corneteiro-da-mata
●
57
Formicariidae Gray, 1840 galinha-do-mato
●
●
●
pinto-do-mato-de-cara-preta
●
●
●
Sclerurus mexicanus Sclater, 1857
vira-folha-de-peito-vermelho
●
●
Sclerurus rufigularis Pelzeln, 1868
vira-folha-de-bico-curto
●
●
Sclerurus caudacutus (Vieillot, 1816)
vira-folha-pardo
●
●
Dendrocincla fuliginosa (Vieillot, 1818)
arapaçu-pardo
●
●
Dendrocincla merula (Lichtenstein, 1829)
arapaçu-da-taoca
●
●
Deconychura longicauda (Pelzeln, 1868)
arapaçu-rabudo
●
●
●
Sittasomus griseicapillus (Vieillot, 1818)
arapaçu-verde
●
●
●
●
Certhiasomus stictolaemus (Pelzeln, 1868)
arapaçu-de-garganta-pintada
●
Glyphorynchus spirurus (Vieillot, 1819)
arapaçu-de-bico-de-cunha
●
●
●
●
Xiphorhynchus ocellatus (Spix, 1824)
arapaçu-ocelado
●
●
●
●
Xiphorhynchus spixii (Lesson, 1830)
arapaçu-de-spix
Xiphorhynchus obsoletus (Lichtenstein, 1820)
arapaçu-riscado
●
●
Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820)
arapaçu-de-garganta-amarela
●
●
●
●
Nova Canaã
Alto Mentai
Formicarius colma Boddaert, 1783
●
Formicarius analis (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) Scleruridae Swainson, 1827
Dendrocolaptidae Gray, 1840
Famílias e Espécies
Nome em português
●
Localidades Tucumatuba
Capixauã
Campylorhamphus procurvoides (Lafresnaye, 1850) arapaçu-de-bico-curvo
●
●
Dendroplex picus (Gmelin, 1788)
arapaçu-de-bico-branco
●
●
Lepidocolaptes albolineatus (Lafresnaye, 1845)
arapaçu-de-listras-brancas
●
●
●
●
Dendrocolaptes certhia (Boddaert, 1783)
arapaçu-barrado
●
●
●
●
Dendrocolaptes hoffmannsi Hellmayr, 1909
arapaçu-marrom
●
●
●
arapaçu-vermelho
●
●
●
●
Xiphocolaptes promeropirhynchus (Lesson, 1840) ●
58
arapaçu-uniforme
●
Xenops minutus (Sparrman, 1788)
bico-virado-miúdo
●
Berlepschia rikeri (Ridgway, 1886)
limpa-folha-do-buriti
Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823)
casaca-de-couro-da-lama
●
Ancistrops strigilatus (Spix, 1825)
limpa-folha-picanço
●
●
Automolus ochrolaemus (Tschudi, 1844)
barranqueiro-camurça
●
●
Hylexetastes uniformisHellmayr, 1909
●
●
●
●
●
Furnariidae Gray, 1840
●
●
Philydor ruficaudatum (d'Orbigny & Lafresnaye, 1838) ●
limpa-folha-de-cauda-ruiva Philydor erythrocercum (Pelzeln, 1859)
limpa-folha-de-sobre-ruivo
●
Philydor erythropterum (Sclater, 1856)
limpa-folha-de-asa-castanha
●
Philydor pyrrhodes (Cabanis, 1848)
limpa-folha-vermelho
●
Synallaxis rutilans Temminck, 1823
joão-teneném-castanho
●
● ●
● ●
●
Pipridae Rafinesque, 1815 Tyranneutes stolzmanni (Hellmayr, 1906)
uirapuruzinho
●
●
●
●
Pipra rubrocapilla Temminck, 1821
cabeça-encarnada
●
●
●
●
Lepidothrix nattereri (Sclater, 1865)
uirapuru-de-chapéu-branco
●
●
●
●
Manacus manacus (Linnaeus, 1766)
rendeira
Heterocercus linteatus (Strickland, 1850)
coroa-de-fogo
Machaeropterus pyrocephalus (Sclater, 1852)
uirapuru-cigarra
●
maria-leque
●
● ●
Tityridae Gray, 1840 Onychorhynchus coronatus (Statius Muller, Famílias e Espécies
●
Nome em português
●
●
Localidades Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
●
●
●
1776) Terenotriccus erythrurus (Cabanis, 1847)
papa-moscas-uirapuru
●
Myiobius barbatus (Gmelin, 1789)
assanhadinho
●
Schiffornis turdina (Wied, 1831)
flautim-marrom
●
●
Laniocera hypopyrra (Vieillot, 1817)
chorona-cinza
●
●
Tityra semifasciata (Spix, 1825)
Masked Tityra
● ●
● ●
●
59
Pachyramphus rufus (Boddaert, 1783)
●
caneleiro-cinzento
Pachyramphus castaneus (Jardine & Selby, 1827) ●
caneleiro Pachyramphus marginatus (Lichtenstein, 1823)
caneleiro-bordado
●
●
●
●
Pachyramphus surinamus (Linnaeus, 1766)
caneleiro-da-guiana
●
●
Pachyramphus minor (Lesson, 1830)
caneleiro-pequeno
●
●
●
●
Lipaugus vociferans (Wied, 1820)
cricrió
Xipholena lamellipennis (Lafresnaye, 1839)
anambé-de-rabo-branco
●
●
●
●
●
●
Phoenicircus carnifex (Linnaeus, 1758)
saurá-de-pescoço-preto
●
●
Platyrinchus saturatus Salvin & Godman, 1882
patinho-escuro
●
●
Platyrinchus platyrhynchos (Gmelin, 1788)
patinho-de-coroa-branca
●
●
●
Piprites chloris (Temminck, 1822)
papinho-amarelo
●
●
●
Mionectes macconnelli (Chubb, 1919)
abre-asa-da-mata
●
●
Corythopis torquatus (Tschudi, 1844)
estalador-do-norte
●
Rhynchocyclus olivaceus (Temminck, 1820)
bico-chato-grande
●
●
Tolmomyias assimilis (Pelzeln, 1868)
bico-chato-da-copa
●
●
1884) Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831)
bico-chato-de-cabeça-cinza bico-chato-amarelo
● ●
●
Todirostrum maculatum (Desmarest, 1806)
ferreirinho-estriado
Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766)
ferreirinho-relógio
Cotingidae Bonaparte, 1849
●
Incertae sedis
Rhynchocyclidae Berlepsch, 1907 ● ●
Tolmomyias poliocephalus (Taczanowski,
Famílias e Espécies
ferreirinho-de-sobrancelha
Poecilotriccus senex (Pelzeln, 1868)
maria-do-madeira
● ● ●
●
Nome em português
Todirostrum chrysocrotaphum Strickland, 1850
●
Localidades Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
●
●
●
Capixauã
●
Myiornis ecaudatus (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837)
60
caçula
●
●
●
●
Hemitriccus minor (Snethlage, 1907)
maria-sebinha
●
●
●
●
Hemitriccus minimus (Todd, 1925)
maria-mirim
●
●
●
Zimmerius gracilipes (Sclater & Salvin, 1868)
poiaeiro-de-pata-fina
●
●
●
●
Ornithion inerme Hartlaub, 1853
poiaeiro-de-sobrancelha
●
●
●
●
Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824)
risadinha
●
●
Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822)
guaracava-de-barriga-amarela
Myiopagis gaimardii (d'Orbigny, 1839)
maria-pechim
●
●
●
Myiopagis caniceps (Swainson, 1835)
guaracava-cinzenta
●
●
●
Tyrannulus elatus (Latham, 1790)
maria-te-viu
●
●
●
Phaeomyias murina (Spix, 1825)
bagageiro
●
Attila cinnamomeus (Gmelin, 1789)
tinguaçu-ferrugem
●
Attila spadiceus (Gmelin, 1789)
capitão-de-saíra-amarelo
●
●
Legatus leucophaius (Vieillot, 1818)
bem-te-vi-pirata
●
●
Ramphotrigon ruficauda (Spix, 1825)
bico-chato-de-rabo-vermelho
●
Tyrannidae Vigors, 1825
●
●
● ● ● ● ●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
Myiarchus tuberculifer (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) maria-cavaleira-pequena
●
Myiarchus ferox (Gmelin, 1789)
maria-cavaleira
●
Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776)
maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado
●
●
Rhytipterna simplex (Lichtenstein, 1823)
vissiá
●
●
●
●
Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766)
bem-te-vi
●
●
●
●
Philohydor lictor (Lichtenstein, 1823)
bentevizinho-do-brejo
●
●
●
Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776)
bem-te-vi-rajado
●
Tyrannopsis sulphurea (Spix, 1825)
suiriri-de-garganta-rajada
Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766)
neinei
Myiozetetes cayanensis (Linnaeus, 1766)
bentevizinho-de-asa-ferrugínea
Famílias e Espécies Myiozetetes luteiventris (Sclater, 1858)
●
●
● ● ●
●
●
Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
●
●
●
Nome em português bem-te-vi-barulhento
● Localidades Capixauã
61
Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819
●
suiriri
●
●
●
Griseotyrannus aurantioatrocristatus (d'Orbigny & Lafresnaye, 1837) ●
peitica-de-chapéu-preto Empidonomus varius (Vieillot, 1818)
peitica
●
●
●
Conopias trivirgatus (Wied, 1831)
bem-te-vi-pequeno
●
●
●
●
Conopias parvus (Pelzeln, 1868)
bem-te-vi-da-copa
●
●
●
●
Lathrotriccus euleri (Cabanis, 1868)
enferrujado
Contopus nigrescens (Sclater & Salvin, 1880)
piui-preto
●
Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789)
pitiguari
●
●
●
Vireolanius leucotis (Swainson, 1838)
assobiador-do-castanhal
●
●
●
Vireo olivaceus (Linnaeus, 1766)
juruviara
●
●
●
Hylophilus semicinereus Sclater & Salvin, 1867
verdinho-da-várzea
●
●
vite-vite-camurça vite-vite-uirapuru
● ●
● ●
Atticora fasciata (Gmelin, 1789)
peitoril
●
Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817)
andorinha-serradora
●
Progne chalybea (Gmelin, 1789)
andorinha-doméstica-grande
●
Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783)
andorinha-do-rio
●
Hirundo rustica Linnaeus, 1758
andorinha-de-bando
● ●
Vireonidae Swainson, 1837
● ●
Hylophilus muscicapinus Sclater & Salvin, 1873 Hylophilus ochraceiceps Sclater, 1860
● ●
●
Hirundinidae Rafinesque, 1815
● ● ●
Troglodytidae Swainson, 1831 ●
●
●
●
●
Microcerculus marginatus (Sclater, 1855)
uirapuru-veado
Odontorchilus cinereus (Pelzeln, 1868)
cambaxirra-cinzenta
Troglodytes musculus Naumann, 1823
corruíra
Campylorhynchus turdinus (Wied, 1831)
catatau
Pheugopedius genibarbis (Swainson, 1838)
garrinchão-pai-avô
●
●
Cantorchilus leucotis (Lafresnaye, 1845)
garrinchão-de-barriga-vermelha
●
●
Famílias e Espécies
●
●
● ●
Nome em português
●
● ●
Localidades
62
Nova Canaã Cyphorhinus arada (Hermann, 1783)
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã
●
uirapuru-verdadeiro
Polioptilidae Baird, 1858 Ramphocaenus melanurus Vieillot, 1819
bico-assovelado
Polioptila paraensis Todd, 1937
balança-rabo-paraense
●
● ●
Turdidae Rafinesque, 1815 ●
Turdus leucomelas Vieillot, 1818
sabiá-barranco
Turdus albicollis Vieillot, 1818
sabiá-coleira
●
●
cambacica
●
●
Saltator grossus (Linnaeus, 1766)
bico-encarnado
●
●
Saltator maximus (Statius Muller, 1776)
tempera-viola
●
●
Lamprospiza melanoleuca (Vieillot, 1817)
pipira-de-bico-vermelho
●
●
●
●
Ramphocelus carbo (Pallas, 1764)
pipira-vermelha
●
●
●
●
Lanio cristatus (Linnaeus, 1766)
tiê-galo
●
●
●
●
1837)
pipira-de-asa-branca
●
●
Lanio surinamus (Linnaeus, 1766)
tem-tem-de-topete-ferrugíneo
Tangara chilensis (Vigors, 1832)
sete-cores-da-amazônia
Tangara velia (Linnaeus, 1758)
saíra-diamante
Tangara episcopus (Linnaeus, 1766)
sanhaçu-da-amazônia
●
Tangara palmarum (Wied, 1823)
sanhaçu-do-coqueiro
●
Paroaria gularis (Linnaeus, 1766)
cardeal-da-amazônia
Cyanicterus cyanicterus (Vieillot, 1819)
pipira-azul
Dacnis cayana (Linnaeus, 1766)
saí-azul
●
Cyanerpes nitidus (Hartlaub, 1847)
saí-de-bico-curto
●
Cyanerpes caeruleus (Linnaeus, 1758)
saí-de-perna-amarela
Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766)
saíra-beija-flor
Hemithraupis guira (Linnaeus, 1766)
saíra-de-papo-preto
●
Coerebidae d'Orbigny & Lafresnaye, 1838 Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) Thraupidae Cabanis, 1847 ●
Lanio versicolor (d'Orbigny & Lafresnaye, ● ● ●
●
● ● ●
●
●
● ●
●
●
63
Emberizidae Vigors, 1825 Famílias e Espécies
Nome em português
Localidades Nova Canaã
Alto Mentai
Tucumatuba
Capixauã ●
Ammodramus humeralis (Bosc, 1792)
tico-tico-do-campo
Ammodramus aurifrons (Spix, 1825)
cigarrinha-do-campo
●
Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766)
tiziu
●
●
●
Habia rubica (Vieillot, 1817)
tiê-do-mato-grosso
●
●
●
Granatellus pelzelni Sclater, 1865
polícia-do-mato
Caryothraustes canadensis (Linnaeus, 1766)
furriel
Cyanoloxia cyanoides (Lafresnaye, 1847)
azulão-da-amazônia
Psarocolius viridis (Statius Muller, 1776)
japu-verde
Psarocolius decumanus (Pallas, 1769)
japu
[Psarocolius bifasciatus (Spix, 1824)]
japuaçu
Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766)
guaxe
Cacicus cela (Linnaeus, 1758)
xexéu
●
●
Icterus cayanensis (Linnaeus, 1766)
encontro
●
●
Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819)
graúna
●
Molothrus oryzivorus (Gmelin, 1788)
iraúna-grande
●
Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789)
vira-bosta
●
Sturnella militaris (Linnaeus, 1758)
polícia-inglesa-do-norte
●
Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766)
fim-fim
●
Euphonia rufiventris (Vieillot, 1819)
gaturamo-do-norte
Cardinalidae Ridgway, 1901
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
●
Icteridae Vigors, 1825 ● ● ● ●
●
●
Fringillidae Leach, 1820
●
a
Espécies ou epítetos específicos entre colchetes referem-se a táxon cuja presença na Resex Tapajós-Arapiuns não pode ser verificada com absoluta certeza em função de condições não ideais de detecção visual e/ou auditivas. b As letras sp. seguidas por um gênero indicam a presença de uma espécie distinta para o gênero em questão na área de estudo, mas cuja identificação a nível específico não pode ainda ser feita com segurança.
64
ANEXO 2 Espécimes coletados na Resex Tapajós-Arapiuns. Os número de tombo são aqueles da Coleção Ornitológica Fernando C. Novaes do Museu Paraense Emílio Goeldi. n. de coleção
Espécie
Localidade
72300
Nyctibius bracteatus
Nova Canaã
72301
Nyctibius bracteatus
Nova Canaã
72302
Geotrygon montana
Alto Mentai
72303
Geotrygon montana
Alto Mentai
72304
Geotrygon montana
Alto Mentai
72305
Campylopterus largipennis
Alto Mentai
72306
Campylopterus largipennis
Alto Mentai
72307
Heliomaster longirostris
Alto Mentai
72308
Micrastur ruficollis
Alto Mentai
72309
Piculus flavigula
Alto Mentai
72310
Galbula dea
Alto Mentai
72311
Galbula cyanicollis
Nova Canaã
72312
Jacamerops aureus
Nova Canaã
72313
Trogon rufus
Nova Canaã
72314
Ramphastos vitellinus
Nova Canaã
72315
Malacoptila rufa
Alto Mentai
72316
Malacoptila rufa
Nova Canaã
72317
Bucco capensis
Nova Canaã
72318
Lepidocolates albolineatus
Nova Canaã
72319
Xiphorhynchus ocellatus
Nova Canaã
72320
Xiphorhynchus ocellatus
Nova Canaã
72321
Glyphorynchus spirurus
Nova Canaã
72322
Dendrocincla merula
Nova Canaã
72323
Dendrocincla merula
Nova Canaã
72324
Dendrocincla merula
Nova Canaã
72325
Dendrocincla merula
Alto Mentai
72326
Dendrocincla merula
Alto Mentai
72327
Sittasomus griseicapillus
Alto Mentai
72328
Sittasomus griseicapillus
Alto Mentai
65
72329
Dendrocolaptes certhia
Alto Mentai
72330
Dendrocolaptes certhia
Alto Mentai
72331
Ancistrops strigilatus
Alto Mentai
72332
Dendrocolaptes hoffmannsi
Alto Mentai
72333
Hylexetastes uniformis
Nova Canaã
72334
Hylexetastes uniformis
Nova Canaã
72335
Hylexetastes uniformis
Nova Canaã
72336
Myrmotherula brachyura
Nova Canaã
n. de coleção
Espécie
Localidade
72337
Myrmotherula menetriesii
Nova Canaã
72338
Myrmotherula menetriesii
Alto Mentai
72339
Myrmotherula iheringi
Alto Mentai
72340
Myrmotherula longipennis
Alto Mentai
72341
Myrmotherula axillaris
Alto Mentai
72342
Myrmotherula axillaris
Alto Mentai
72343
Myrmotherula axillaris
Alto Mentai
72344
Microrhopias quixensis
Alto Mentai
72345
Thamnomanes saturninus
Nova Canaã
72346
Thamnomanes saturninus
Alto Mentai
72347
Thamnomanes caesius
Alto Mentai
72348
Thamnophilus schistaceus
Alto Mentai
72349
Willisornis poecilinotus
Alto Mentai
72350
Willisornis poecilinotus
Alto Mentai
72351
Willisornis poecilinotus
Alto Mentai
72352
Phlegopsis nigromaculata
Nova Canaã
72353
Formicarius colma
Nova Canaã
72354
Formicarius colma
Alto Mentai
72355
Formicarius colma
Alto Mentai
72356
Conopophaga melanogaster
Alto Mentai
72357
Thamnophilus aethiops
Alto Mentai
72358
Thamnomanes caesius
Alto Mentai
72359
Myrmotherula longipennis
Alto Mentai
66
72360
Sclerurus caudacutus
Alto Mentai
72361
Sclerurus rufigularis
Alto Mentai
72362
Sclerurus rufigularis
Alto Mentai
72363
Sclerurus rufigularis
Alto Mentai
72364
Sclerurus caudacutus
Nova Canaã
72365
Terenotriccus erythrurus
Nova Canaã
72366
Terenotriccus erythrurus
Nova Canaã
72367
Hemitriccus minor
Nova Canaã
72368
Hemitriccus minor
Nova Canaã
72369
Hemitriccus minor
Alto Mentai
72370
Hemitriccus minor
Alto Mentai
72371
Hemitriccus minor
Alto Mentai
72372
Zimmerius gracilipes
Alto Mentai
72373
Tolmomyias assimilis
Alto Mentai
72374
Onychorhynchus coronatus
Alto Mentai
72375
Onychorhynchus coronatus
Nova Canaã
72376
Rhynchocyclus olivaceus
Nova Canaã
72377
Myiobius barbatus
Nova Canaã
n. de coleção
Espécie
Localidade
72378
Attila spadiceus
Nova Canaã
72379
Conopias parvus
Nova Canaã
72380
Conopias trivirgatus
Alto Mentai
72381
Legatus leucophaius
Alto Mentai
72382
Phoenicircus carnifex
Alto Mentai
72383
Phoenicircus carnifex
Alto Mentai
72384
Lepidothrix nattereri
Alto Mentai
72385
Lepidothrix nattereri
Alto Mentai
72386
Lepidothrix nattereri
Alto Mentai
72387
Pipra rubrocapilla
Alto Mentai
72388
Pipra rubrocapilla
Nova Canaã
72389
Lepidothrix nattereri
Nova Canaã
72390
Lipaugus vociferans
Nova Canaã
67
72391
Schiffornis turdina
Nova Canaã
72392
Schiffornis turdina
Nova Canaã
72393
Lepidothrix nattereri
Nova Canaã
72394
Schiffornis turdina
Alto Mentai
72395
Hylophilus muscicapinus
Alto Mentai
72396
Hylophilus semicinereus
Nova Canaã
72397
Hylophilus ochraceiceps
Nova Canaã
72398
Lanio versicolor
Nova Canaã
72399
Lanio versicolor
Nova Canaã
72400
Habia rubica
Nova Canaã
72401
Habia rubica
Nova Canaã
72402
Habia rubica
Nova Canaã
72403
Habia rubica
Nova Canaã
72404
Habia rubica
Nova Canaã
72405
Turdus albicollis
Alto Mentai
72406
Hemithraupis guira
Alto Mentai
72407
Tangara velia
Alto Mentai
72408
Cyanoloxia cyanoides
Alto Mentai
72409
Cyanoloxia cyanoides
Alto Mentai
72410
Cyanoloxia cyanoides
Alto Mentai
74094
Megascops usta
Tucumatuba
74095
Trogon viridis
Tucumatuba
74096
Megascops usta
Tucumatuba
74097
Megascops usta
Tucumatuba
74098
Myrmotherula longipennis
Tucumatuba
74099
Phlegopsis nigromaculata
Tucumatuba
74100
Thalurania furcata
Tucumatuba
74101
Myrmotherula longipennis
Tucumatuba
n. de coleção
Espécie
Localidade
74102
Xiphorhynchus ocellatus
Tucumatuba
74103
Pipra rubrocapilla
Tucumatuba
74104
Myrmotherula longipennis
Tucumatuba
68
74105
Myrmotherula longipennis
Tucumatuba
74106
Dendrocincla fuliginosa
Tucumatuba
74107
Myrmotherula longipennis
Tucumatuba
74108
Dendrocolaptes hoffmannsi
Tucumatuba
74109
Pachyramphus marginatus
Tucumatuba
74110
Glyphorynchus spirurus
Tucumatuba
74111
Leptotila rufaxilla
Tucumatuba
74112
Lepidothrix nattereri
Tucumatuba
74113
Onychorhynchus coronatus
Tucumatuba
74114
Onychorhynchus coronatus
Tucumatuba
74115
Xenops minutus
Tucumatuba
74116
Lepidothrix nattereri
Tucumatuba
74117
Deconychura longicauda
Tucumatuba
74118
Conopias parvus
Tucumatuba
74119
Pipra rubrocapilla
Tucumatuba
74120
Epinecrophylla leucophthalma
Tucumatuba
74121
Lepidothrix nattereri
Tucumatuba
74122
Thamnophilus aethiops
Tucumatuba
74123
Thamnomanes caesius
Tucumatuba
74124
Thamnomanes caesius
Tucumatuba
74125
Thamnomanes caesius
Tucumatuba
74126
Pipra rubrocapilla
Tucumatuba
74127
Pipra rubrocapilla
Tucumatuba
74128
Rhegmatorhina berlepschi
Tucumatuba
74129
Habia rubica
Tucumatuba
74130
Myrmotherula longipennis
Tucumatuba
74131
Lepidothrix nattereri
Tucumatuba
74132
Thamnomanes saturninus
Tucumatuba
74133
Hylexetastes uniformis
Tucumatuba
74134
Hylexetastes uniformis
Tucumatuba
74135
Hylophilus muscicapinus
Tucumatuba
74136
Celeus flavus
Tucumatuba
69
74137
Micrastur mintoni
Tucumatuba
74138
Habia rubica
Capixauã
74139
Phaethornis rupurumii
Capixauã
74140
Rhytipterna simplex
Capixauã
74141
Trogon viridis
Capixauã
74142
Pseudastur albicollis
Capixauã
n. de coleção
Espécie
Localidade
74143
Myiodynastes maculatus
Capixauã
74144
Thalurania furcata
Capixauã
74145
Caryothraustes canadensis
Capixauã
74146
Caryothraustes canadensis
Capixauã
74147
Caryothraustes canadensis
Capixauã
74148
Conopias parvus
Capixauã
74149
Hemitriccus minor
Capixauã
74150
Myiopagis gaimardii
Capixauã
74151
Thamnophilus stictocephalus
Capixauã
74152
Pteroglossus aracari
Capixauã
74153
Attila spadiceus
Capixauã
74154
Pipra rubrocapilla
Capixauã
74155
Thalurania furcata
Capixauã
74156
Campephilus melanoleucos
Capixauã
74157
Formicivora grisea
Capixauã
74158
Hylophilus muscicapinus
Capixauã
74159
Myiarchus tyrannulus
Capixauã
74160
Pipra rubrocapilla
Capixauã
74161
Cyanerpes cyaneus
Capixauã
74162
Tyranneutes stolzmanni
Capixauã
74163
Hemitriccus minor
Capixauã
74164
Tolmomyias poliocephalus
Capixauã
74165
Griseotyrannus aurantioatrocristatus
Capixauã
74166
Xiphorhynchus ocellatus
Capixauã
74167
Xiphorhynchus ocellatus
Capixauã
70
74168
Habia rubica
Capixauã
74169
Formicarius colma
Capixauã
74170
Myiobius barbatus
Capixauã
74171
Thamnomanes saturninus
Capixauã
74172
Myrmoborus myotherinus
Capixauã
74173
Myrmoborus myotherinus
Capixauã
74174
Thalurania furcata
Capixauã
74175
Thamnophilus aethiops
Capixauã
74176
Thamnomanes saturninus
Capixauã
74177
Lathrotriccus euleri
Capixauã
74178
Hypocnemis implicata
Capixauã
74179
Hypocnemis striata
Capixauã
74180
Hypocnemis striata
Capixauã
74181
Schiffornis turdina
Capixauã
74182
Zenaida auriculata
Capixauã
74183
Galbula cyanicollis
Capixauã
n. de coleção
Espécie
Localidade
74184
Sturnella militaris
Capixauã
74185
Tapera naevia
Capixauã
74186
Phlegopsis nigromaculata
Capixauã
74187
Phlegopsis nigromaculata
Capixauã
74188
Phlegopsis nigromaculata
Capixauã
74189
Rhynchocyclus olivaceus
Capixauã
74190
Piculus flavigula
Capixauã
74191
Piculus flavigula
Capixauã
74192
Myrmotherula axillaris
Capixauã
74193
Myrmotherula axillaris
Capixauã
74194
Thamnophilus aethiops
Capixauã
74195
Onychorhynchus coronatus
Capixauã
74196
Piculus flavigula
Capixauã
74197
Lanio cristatus
Capixauã
74198
Xiphocolaptes promeropirhynchus
Capixauã
71
74199
Microrhopias quixensis
Capixauã
74200
Glaucidium hardyi
Capixauã
74201
Megascops choliba
Capixauã
74202
Manacus manacus
Capixauã
74203
Formicivora grisea
Capixauã
74204
Phaethornis rupurumii
Capixauã
74205
Thamnophilus stictocephalus
Capixauã
74206
Thamnophilus stictocephalus
Capixauã
74207
Myiozetetes cayanensis
Capixauã
72
RELATÓRIO 3 Inventário de Médios e Grandes Mamíferos na Resex Tapajós-Arapiuns André LuisRavetta
INTRODUÇÃO O conhecimento da riqueza biológica e da dinâmica de comunidades forma a base para o desenvolvimento do manejo e conservação da biodiversidade. Nas florestas tropicais, especialmente na região Neotropical, tais características são superlativas. Como maior floresta tropical do planeta, a Amazônia abriga uma diversidade biológica imensa, caracterizada por alto índice de endemismo e uma biogeografia extremamente complexa (Mittermeier et al., 2002). Em relação aos mamíferos, uma compilação de dados da literatura realizada por Mittermeier et al. (2002) indica que a Amazônia abriga aproximadamente 430 espécies de mamíferos, com cerca de 170 espécies endêmicas para a região. Além disso, é provável que esse número chegue próximo de 500 espécies, através da análise regional de informações mais precisas de distribuição, das revisões sistemáticas de vários grupos em andamento e da descoberta de novas espécies em estudos de campo (Peres, 2005; Rylands & Mittermeier, 2009). Especificamente para a Amazônia brasileira, Silva et al. (2004) estimaram 311 espécies de mamíferos divididos em: 22 marsupiais, 11 xenartros, 124 morcegos, 57 primatas, 16 carnívoros, dois cetáceos, cinco ungulados, um sirênio, 72 roedores e um lagomorfo. É importante ressaltar que esses números estão defasados, especialmente para cetáceos e sirênios, já identificados atualmente com 18 e duas espécies, respectivamente, cujo conhecimento aumentou significativamente nos últimos anos (Siciliano et al., 2008; Silva Júnior et al., 2010). Vários estudos na Amazônia têm demonstrado os efeitos das principais formas de pressão antrópica, como fragmentação, exploração madeireira e caça, sobre a abundância e densidade populacional da fauna de mamíferos, principalmente em primatas e mamíferos terrestres de médio e grande porte (Freese et al., 1982; Johns & Skorupa, 1987; Rylands & Keuroghlian, 1988; Lopes & Ferrari, 2000; Peres & Dolman, 2000; Peres, 2001; Ferrari et al., 2003; Peres et al., 2003; Michalski & Peres, 2005). Em geral, mamíferos de grande porte sofrem maior pressão de caça e apresentam um recrutamento mais lento do que espécies menores do mesmo grupo (Robinson & Redford, 1986). Isso acarreta em acentuada fragilidade desses mamíferos, que são os mais afetados pela atividade cinegética e pela escassez de recursos alimentares decorrentes de outras alterações antrópicas e com maior probabilidade de extinção (Bodmer et al., 1997). Hipótese semelhante é suportada pelos resultados de Robinson & Redford (1986) em relação à densidade populacional das espécies. Determinada pelo tamanho corporal e dieta, espécies de grande porte ocorrem em densidades menores que espécies de pequeno porte, assim como as espécies consideradas “especialistas” - com dieta restrita - que ocorrem em densidades menores que as espécies “generalistas”, que aceitam um amplo cardápio alimentar. Todavia, os mamíferos de médio e grande porte representam uma parcela significativa da biomassa de mamíferos neotropicais, embora menos diversos que os grupos de mamíferos voadores (morcegos) e de pequeno porte (roedores e marsupiais). Peres & Lake (2003) realizaram uma extensa análise de como a acessibilidade é uma questão crucial para a manutenção de populações saudáveis de vertebrados florestais na 73
Amazônia brasileira. Utilizando estimativas de abundância obtidas com levantamentos populacionais, estes autores encontraram correlações positivas entre a abundância local de espécies mais caçadas de vertebrados e a distância da matriz de acesso. Inversamente, espécies de vertebrados não caçados apresentaram correlação negativa entre a abundância local e a distância da matriz de acesso. Com isso, confirmaram uma forte tendência na depleção de espécies cinegéticas pela pressão de caça num raio de até seis quilômetros da matriz de acesso. Embora tenham encontrado diferenças significativas entre espécies e entre diferentes categorias de unidades de conservação, em geral, a ocupação humana e a facilidade de acesso parecem ser determinantes na abundância da fauna de vertebrados preferidos entre os caçadores.
MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo O inventário foi realizado em duas etapas na Resex Tapajós-Arapiuns. A primeira compreendeu uma expedição em junho de 2011 para os rios Arapiuns e Maró, aonde foram amostradas as comunidades de Alto Mentai e Nova Canaã respectivamente, e a segunda foi realizada entre março e abril de 2012 nas comunidades de Boim (Quem Dizia) e Capixauã localizadas a margem esquerda do rio Tapajós. A escolha dessas comunidades como áreas de amostragem foi previamente decidida em conselho, e norteada para contemplar os principais tipos de vegetação reconhecidos na área da Resex. Para a realização dos levantamentos foram utilizadas trilhas existentes na floresta utilizadas pelos comunitários para extrativismo, com exceção de Capixauã, aonde a trilha foi aberta exclusivamente para o levantamento. A extensão das trilhas variou de 2 a 5 km para permitir o deslocamento do pesquisador e a instalação de armadilhas de captura, como armadilhas fotográficas. Quando presentes, ramais de exploração madeireira e caminhos dos moradores também foram utilizados para a procura de rastros dos mamíferos terrestres. Coleta de Dados O inventário de foi realizado através de Avaliação Ecológica Rápida – AER ou RAP – Rapid Assesment Program em inglês, como é mais conhecido. Assim, foi estipulado um esforço amostral de cinco dias de coleta de dados em cada um dos quatro pontos escolhidos, totalizando 20 dias de amostragem nas duas expedições que compreenderam o inventário biótico. Levantamento Populacional por Transecção Linear – Censos O levantamento por transecção linear é um método padronizado utilizado em muitos estudos de populações de mamíferos (Brockelman & Ali, 1987; Cullen & Rudran, 2006), principalmente para aqueles que envolvem os primatas. O método consiste em percorrer cuidadosamente a trilha/transecção a uma velocidade constante de 1,5 km/h aproximadamente, registrando a presença de mamíferos. A cada encontro, é registrado: •
Hora e localização na transecção;
•
Tipo de detecção do encontro (auditivo ou visual);
•
Espécie;
74
•
Ângulo do encontro em relação à trilha;
•
Distância observador-animal (entre o observador na trilha até o local do encontro);
•
Distância perpendicular animal-trilha (entre o local do encontro e a trilha);
•
Altura do primeiro animal avistado em relação ao solo (para espécies arbóreas);
•
Tamanho do grupo (para espécies sociais);
•
Composição sexo-etária do grupo (macho ou fêmea; adulto, imaturo ou filhote);
•
Comportamento do primeiro animal avistado (deslocamento, forrageio, fuga, etc.);
•
Outras informações relevantes (item alimentar consumido, espécie associada, etc.).
O método foi aplicado tanto no turno da manhã (7:00 as 11:00h), como no turno da tarde (15:30 as 18:00h), utilizando-se um binóculo 8x40 para auxiliar na observação. As medidas foram tomadas com um medidor digital a laser (rangerfinder) e uma bússola de campo. Para o registro dos dados referentes a um encontro (inclusive a composição do grupo, no caso de espécies sociais), foi estipulado um tempo máximo de 10 minutos. No caso em que mais de uma espécie seja avistada no mesmo local, independente se elas estiverem associadas ou não, é registrado um encontro para cada espécie, considerando o primeiro animal avistado de cada uma. No entanto, encontros ocasionais com animais durante o percurso entre as trilhas também foram considerados para as estimativas de abundância, quando houve certeza da independência desses registros. Entre os pressupostos metodológicos da transecção linear, Burnham et al. (1980) recomendam que todos os encontros sejam eventos independentes, que os animais sejam detectados antes de fugirem, e que todos os animais localizados em cima da trilha sejam sempre registrados, além das medidas que devem ser tomadas com precisão adequada. Armadilhamento Fotográfico – camera-trap Nesse método, dez armadilhas foram instaladas nos sítios de amostragem, distando no mínimo 300 metros entre si. Quando presentes, estradas e ramais de acesso para exploração madeireira foram aproveitados para a instalação das câmeras para a captura fotográfica dos animais, durante cinco dias de amostragem. O método consiste na utilização de um sistema passivo composto por câmera fotográfica automática comum acoplada em um dispositivo de disparo por sensor infravermelho que detecta movimentos e calor. Esses sistemas ou armadilhas fotográficas são instalados no campo para registrar a presença das espécies de interesse, como mamíferos terrestres de médio e grande porte (Tomas & Miranda, 2003). Em seguida, é feita uma triagem das fotos para quantificar os registros que correspondem ao mesmo animal e, sempre que possível, identificar o sexo e classe etária dos indivíduos fotografados. A identificação dos animais fotografados é feitas por análise cautelosa das imagens. Porém, a identificação individual dos animais fotografados depende da presença de sinais naturais ou adquiridos na pelagem, como mutilações e cicatrizes, e da interpretação de padrões de manchas na pelagem para algumas espécies, até a diferenciação de peculiaridades na morfologia externa. Em áreas de floresta na região Neotropical, o emprego desta metodologia tem sido utilizado para a realização de levantamentos da comunidade de mamíferos (Trolle, 2003; Srbek-Araujo & Chiarello, 2005, 2007). O levantamento por transecção linear é mais adequado para espécies de hábitos diurnos, enquanto o uso de armadilhas fotográficas representa uma ótima alternativa para registrar espécies de hábitos crepusculares e noturnos, o que contribui para complementar o levantamento de mamíferos e gerar maior robustez na lista de espécies. 75
Levantamento de Vestígios Em muitos casos, a presença de mamíferos pode ser detectada apenas por meio de vestígios (pegadas, fezes, tocas, carcaças, crânios, marcas de garras, vocalizações e odores), através de sinais visuais, auditivos e olfativos (Wemmer et al., 1996). Durante os deslocamentos para as áreas de amostragem e realização dos censos, todos os vestígios foram registrados em caderneta de campo, fotografados com escala métrica e coletados, no caso de carcaças, crânios e fezes. O registro de vocalizações foi realizado somente quando a identificação da espécie era garantida, e um novo registro de uma mesma espécie somente foi validado quando detectado em direção distinta ao registro de vocalização anterior, ou em uma distância considerável, superior a 300 metros, nestes casos, assumindo se tratar de outro animal ou grupo, como é o caso dos primatas. Informações de espécies através da identificação de vestígios dos animais constituem uma alternativa bastante proveitosa para enriquecer a lista de espécies e os levantamentos populacionais. Através de encontros com rastros de mamíferos, é feita a identificação e coleta dos vestígios para confirmar a presença de uma dada espécie em uma área, e até obter dados sobre a sua abundância local (Wemmer et al., 1996; Riordan, 1998). A identificação de pegadas pode gerar informações sobre a presença de filhotes, enquanto a triagem de fezes fornece evidências da relação entre predadorpresa, podendo caracterizar a ocorrência de duas ou mais espécies em uma única amostra. As coletas de carcaças, crânios, peles e pelos são importantes para o registro de espécies pouco avistadas. Análise Estatística Os dados foram analisados utilizando-se um índice de frequência de registros. O índice de abundância usado para censos é a taxa de encontro, geralmente expressada como o número de registros por dez quilômetros de percurso, que é calculada pela fórmula: T =(ni / l) . 10 Onde: ni é o número de registros da espécie i, e l é o percurso total do levantamento em quilômetros. A taxa de encontro fornece a estimativa mais objetiva de abundância de uma espécie para comparações entre sítios de estudo, principalmente quando o número de registros é insuficiente para o cálculo de estimativas confiáveis de densidade populacional (Ferrari et al., 2002). Em geral, o encontro se refere às observações de animais visualizados durante os levantamentos, porém nesse inventário foram acrescentados os registros de vestígios para o cálculo do índice, devido ao grande volume de informação obtida por esse tipo de registro.
RESULTADOS Riqueza . Em um total de 25 dias de campo foram percorridos aproximadamente 90 km de caminhadas pela mata, que resultaram no registro de 27 espécies de médios e grandes mamíferos através de visualizações, rastros e vocalizações. Entre as áreas amostradas, Boim apresentou a maior riqueza com 24 espécies, seguido por Capixauã e Nova Canaã com 15 e 14 espécies respectivamente e por Alto Mentai com 11 espécies (Figura 1). 76
30
nº de 20 es pé cie s 10
0 Alto Mentai
Boim
Capixauã
Nova Canaã
Figura 1 . Riqueza de espécies de mamíferos de médio e grande porte entre as fazendas amostradas no Polo de Tomé-Açu.
As 27 espécies registradas estão distribuídas em 16 famílias e sete ordens, sendo as ordens Primates (macacos) e Rodentia (ratos, cutia, paca e esquilos) as mais diversas com 6 espécies, seguidas pelas ordens Cingulata (tatus), Carnivora (gatos e jupará) e Artiodactyla (veados e porcos) com 4 espécies, Pilosa (preguiças e tamanduás) com 2 espécies, e Perissodactyla com apenas uma espécie, a anta – Tapirus terrestris (Tabela 1). A classificação apresentada aqui segue publicação recente da atualização da Lista Anotada dos Mamíferos do Brasil, que compilou diversas publicações entre descrição de novas espécies, revisões taxonômicas, e filogenia molecular, que contribuíram tanto para o crescimento do número de espécies conhecidas quanto para o rearranjo da classificação taxonômica de alguns grupos (Paglia et al., 2012). Tabela 1. Lista das espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na Resex Tapajós-Arapiuns. ESPÉCIE
NOME VULGAR
REGISTRO
FAZENDA
ORDEM CINGULATA (4 espécies) Família Dasypodidae 01
Cabassous unicinctus
tatu-rabo-de-couro
A, R
Capixauã
02
Dasypus kappleri
tatu-quinze-quilos
R
Boim
03
Dasypus novemcinctus
tatu-galinha
R
Boim, Capixauã
04
Priodontes maximus
tatu-canastra
R
Boim, N. Canaã
ORDEM PILOSA (2 espécies) Família Bradypodidae 05
Bradypus tridactylus
preguiça-bentinho
A
Boim
Família Myrmecophagidae 06
Tamandua tetradactyla
mambira
A, R
Boim, Capixauã, N. Canaã
ORDEM PRIMATES (6espécies) Família Callitrichidae
77
07
Mico humeralifer
A, V
souim-preto Família Cebidae
08 09
Cebus albifrons
cairara
A
Sapajus apella
macaco-prego
A, V
Família Pithecidae 10
Callicebus hoffmannsi
11
Pithecia cf irrorata
zogue-zogue
A, V
parauacu
A
Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Boim Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Alto Mentai, Boim, Capixauã, N. Canaã Boim, Capixauã
Família Atelidae 12
Alouatta nigerrima
guariba-preta
A, R, V
Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã
ORDEM CARNIVORA (4 espécies) Família Procyonidae 13
Potus flavus
jupará
A
Alto Mentai
Boim, N. Canaã
Família Felidae 14
Leopardus pardalis
jaguatirica
R
15
Puma concolor
suçuarana
R
16
Panthera onca
onça-pintada
R
Alto Mentai, Boim, N. Canaã Boim, N. Canaã
ORDEM PERISSODACTYLA (1 espécie) Família Tapiridae 17
Tapirus terrestris
Anta
R
Boim
ORDEM ARTIODACTYLA (4 espécies) Família Tayassuidae 18
Pecari tajacu
19
Tayassu pecari
catitu
A, R
Boim, Capixauã, N. Canaã
queixada
R
Boim, Alto Mentai
Família Cervidae 20
Mazama americana
veado-mateiro
A, R
21
Mazama nemorivaga
veado-fuboca
A, R
Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Alto Mentai, Boim, Capixauã, N. Canaã
ORDEM RODENTIA (6 espécies) Família Sciuridae 22
Guerlinguetus aestuans
quatipuru
A
23
Microsciurus flaviventer
quatipuruzinho
A
Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Boim, Capixauã
24
Sciurus spadiceus
quatipuru-vermelho
A, R, V
Boim, Capixauã
Família Cuniculidae 25
Cuniculus paca
paca
R
Boim
Família Dasyproctidae 26
Dasyprocta aff agouti
cutia
A, R, V
Família Echimydae 27
Dactylomys dactylinus
rato-toró
V
Alto Mentai, Boim, Capixauã e N. Canaã Alto Mentai
Legenda: A - avistamento; R - rastro (fezes, marca de garras, pegada, ninho, toca); V - vocalização.
78
Abundância Em relação à abundância dos mamíferos, houve uma variação significativa entre as áreas amostradas, com as comunidades de Capixauã e Boim apresentando as maiores abundâncias, com 40% e 29% dos registros respectivamente, seguidas pela comunidade Nova Canaã com 17% e Alto Mentai com apenas 14%, representando juntas apenas 31% do total de registros do inventário (Figura 2). Vale ressaltar que as espécies foram registradas através da aplicação do método de transecção linear, que permite a obtenção de estimativas de abundância através do cálculo da taxa de encontro. Além disso, dez espécies foram detectadas apenas através de vestígios, que neste trabalho foram incluídos nos cálculos de abundância, através da triagem dos vestígios para garantir a independência dos registros. Com apenas cinco dias de amostragem em cada área, as armadilhas fotográficas não registraram animais em número significativo para qualquer tipo de análise. Pelo contrário, o curto período de amostragem resultou apenas em alguns poucos registros de espécies bastante comuns como as cutias, tatus-galinhas e um veado fuboca, além de algumas aves de sub-bosque com os inhambus da família Tinamidae e duas espécies de cracídeos, o mutum-castanheira – Mitu tuberosa, e o jacu-peba – Penelope jacuguacu. 75
nº de 50 reg istr os 25
0 Alto Mentai
Boim
Capixauã
Nova Canaã
Figura 2 . Abundância de mamíferos de médio e grande porte entre as áreas amostradas na Resex Tapajós-Arapiuns.
O índice de abundância utilizado é o cálculo de uma taxa obtida pelo número de registros de cada espécie sobre a distância percorrida nos levantamentos, que foi recalculada com o acréscimo dos registros de rastros e vestígios dos mamíferos com identificação confirmada. Portanto, o esforço total do levantamento corresponde aos encontros com indivíduos solitários ou grupo de animais durante o deslocamento, somado ao número de registros de rastros e vestígios identificados durante o trabalho. A cutia – Dasyprocta aff agouti foi a espécie mais abundante, seguida pelo zoguezogue – Callicebus hoffmannsi, pelo souim – Mico humeralifer, pela guariba - Alouatta nigerrima, pelo macaco-prego – Sapajus apella e peloveado mateiro – Mazama americana (Tabela 2).
79
Tabela 2. Índice de abundância obtido para as espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas na Resex Tapajós-Arapiuns durante o inventário de fauna. TAXA DE REGISTRO / 10KM PERCORRIDOS ESPÉCIES Alto Mentai
Boim
Capixauã
Nova Canaã
Cabassous unicinctus
-
-
1,76
-
Dasypus kappleri
-
0,33
-
-
Dasypus novemcinctus
-
0,33
2,35
-
Priodontes maximus
-
-
-
0,44
Tamandua tetradactyla
-
0,67
0,59
0,44
0,41
-
5,88
1,33
Cebus albifrons
-
0,33
-
-
Sapajus apella
0,41
1,33
1,76
0,89
Callicebus hoffmannsi Pithecia „cf‟ irrorata
1,22 -
0,33 0,67
8,24 0,59
0,89 -
Alouatta nigerrima
2,45
1,33
0,59
0,89
Potus flavus
0,41
-
-
-
-
-
-
0,44
Puma concolor
0,41
-
-
0,44
Panthera onca
-
0,33
-
0,89
Pecari tajacu
-
1,00
0,59
0,44
Tayassu pecari
0,41
-
-
-
Mazama americana
0,41
1,33
2,94
0,89
Mazama nemorivaga
0,41
-
1,18
0,44
Guerlinguetus aestuans
0,41
-
0,71
0,89
Microsciurus flaviventer
-
-
0,59
-
Sciurus spadiceus
-
0,33
1,76
-
Dasyprocta „aff‟ agouti
2,04
7,33
8,82
3,11
Dactylomys dactylinus
0,41
-
-
-
TOTAL DE ESPÉCIES
8,98
15,67
37,65
12,44
Mico humeralifer
Leopardus pardalis
Apesar de algumas espécies não serem registradas em todas as áreas, não significa que elas não ocorram em um determinado local, como é o caso dos tatus, da preguiça e da paca principalmente. Embora essas espécies tenham sido registradas no máximo em duas áreas, a ocorrência delas é praticamente certa nas outras comunidades amostradas, por se tratarem de espécies muito comuns que ocorrem em praticamente todos os ambientes terrestres e apresentam uma alta abundância, sendo consideradas espécies generalistas.
80
Espécies Ameaçadas e Endêmicas Apenas quatro espécies constam nas listas oficiais da fauna ameaçada de extinção (MMA, 2003; SEMA, 2007; IUCN, 2012), embora nenhuma delas esteja classificada na categoria de ameaçada ou em perigo (EN, em inglês). Entre elas, as duas espécies de onças, o tatu canastra e a anta, todas classificadas nas categorias de “Vulnerável” e “Próximo de Ameaça” (Tabela 3). Tabela 3. Estado de conservação das espécies registradas para a região que figuram nas listas oficiais das espécies ameaçadas de extinção (MMA, 2003; SEMA, 2007; IUCN, 2012). NOME CIENTÍFICO
NOME VULGAR
MMA, 2003
SEMA, 2007
IUCN, 2012
Panthera onca
onça-pintada
-
VU
NT
Puma concolor
suçuarana
-
VU
-
Priodontes maximus
tatu-canastra
VU
Tapirus terrestris anta
-
VU
-
VU
VU
Legenda:CR: Criticamente em perigo; EN - Em Perigo; VU - Vulnerável; NT - Próximo de Ameaça.
A suçuarana (Puma concolor) foi a espécie com maior ocorrência, não sendo registrada apenas na comunidade de Capixauã, enquanto a onça-pintada (Panthera onca), o tatucanastra (Priodontes maximus) e a anta (Tapirus terrrestris) foram registrados apenas nas comunidade de Boim e Nova Canaã. Embora a presença dessas espécies tenha sido confirmada somente através de vestígios, esses são relativamente fáceis de serem identificados. Assim, dados de presença e abundância podem ser obtidos mesmo que esses animais não sejam avistados. Com três registros cada, a onça-pintada (Panthera onca) e a suçuarana (Puma concolor) são espécies de felinos de grande porte na qual suas presenças atestam de certa forma, a boa integridade do ambiente quanto a sua diversidade biológica, por se tratarem de predadores de topo de cadeia e possuir uma alta demanda alimentar. O tatu-canastra (Priodontes maximus) foi registrado em três ocasiões por meio de vestígios. Embora esse número não desperte muita atenção, ele é significativo porque além de ser a maior espécie de tatu, pesando em média 30 kg, é um animal solitário e relativamente raro no bioma amazônico. Por outro lado chama a atenção a anta (Tapirus terrestris) com apenas um registro durante o monitoramento. Apesar de ser um animal de grande porte que possui um recrutamento muito lento e ocupa grande área de vida, era esperada uma maior abundância dessa espécie por ser relativamente comum na floresta amazônica. Exatamente pelas características citadas acima, provavelmente a espécie sofre forte pressão de caça na Resex e talvez por isso, sua abundância seja baixa dentro da unidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Numa breve comparação entre as áreas amostradas, merece destaque as diferenças encontradas quanto à riqueza e abundância das espécies. O maior número de espécies registradas para Boim, provavelmente deve-se em função do isolamento da área amostrada. Localizada a aproximadamente a 40 km de distância da comunidade que fica 81
na margem do rio Tapajós, a localidade Quem Dizia aonde foi implantada a trilha e o acampamento, apresenta menor pressão de caça em relação aos outros três pontos de coleta que foram realizados mais próximos das respectivas comunidades de Alto Mentai, Capixauã e Nova Canaã. Com isso, era esperado também o mesmo padrão de abundância devido ao nível de pressão de caça. No entanto, a comunidade Capixauã que apresentou a maior abundância de mamíferos, parece sofrer forte pressão de caça, tanto por seus moradores como pela comunidade vizinha devido à proximidade entre elas. Contudo, boa parte da floresta encontrada em Capixauã é composta de vegetação secundária, através de ações de exploração madeireira, fogo e corte raso ao longo do tempo. Tais características parecem favorecer o adensamento de algumas espécies de primatas como o zogue-zogue – Callicebus hoffmannsi e o souim-preto – Mico humeralifer, além da cutia – Dasyprocta leporina. Enquanto as duas espécies de primatas parecem ser favorecidas por uma maior incidência de luz em vegetações secundárias devido à abertura do dossel, que proporciona maior abundância de insetos que compõem um item importante na dieta dessas espécies, a cutia é atraída pela alta densidade de palmeiras nesses ambientes, como o babaçu e caranaí, que oferecem frutos em abundância para essa espécie de roedor. Além disso, essas três espécies são de pequeno e médio porte e apresentam altas taxas reprodutivas e um rápido recrutamento. Por outro lado, a ausência de espécies de grande porte em algumas das áreas, como os ungulados (veados, porcos e anta) também é em função da pressão de caça e integridade dos ambientes de floresta. Se por um lado a vegetação secundária favorece o adensamento de algumas espécies pela maior abundância de insetos, por outro pode prejudicar a permanência de outros pela menor disponibilidade de recursos, principalmente aquelas que são altamente frugívoras. Outra característica importante dos ungulados, como exemplo, é a baixa taxa reprodutiva e o lento recrutamento, que dificulta o repovoamento das espécies desse grupo em áreas com forte pressão de caça, levando-as a declínios populacionais severos próximos de extinção local. Contudo, com as impressões obtidas nesse inventário, é necessário um planejamento que vise o manejo de caça na área da Resex para que essa atividade de subsistência permaneça sustentável em longo prazo. Conforme é previsto em plano de manejo, o zoneamento ecológico de uma área pode oferecer um ordenamento territorial que busque a gestão participativa dos comunitários para o uso adequado da terra e dos recursos naturais renováveis, atrelado à conservação da diversidade biológica.
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Glossário Avistamento: registro de um animal através do encontro visual com o mesmo; Cinegética: relativo à caça. Espécie cinegética é aquela que é caçada; Cosmopolita: relativo à ampla distribuição geográfica, que ocorre em muitos lugares e ambientes, contrário de endêmica; Dossel: relativo à copa das árvores, estrato superior da floresta; Endêmica: que é encontrada somente em determinado habitat, bioma ou região; Especialista: que apresenta características específicas de comportamento, dieta e preferência de habitat; Ombrófila: relativo à sombra. Floresta ombrófila é aquela que proporciona sombra; Transecção: seção feita através de um eixo longitudinal, seção transversal. Trilha reta; Ungulados: designação genérica para os mamíferos que possuem casco como veados, porcos e anta. Não faz parte da classificação científica atual; Vestígio: registro indireto de um animal ou espécie, como rastros, pegadas, fezes, carcaças, ossos, crânio, tocas, vocalização; Vulnerável: terceira categoria do nível de ameaça de extinção de uma espécie. Abaixo dos níveis „Ameaçada‟ e „Criticamente Ameaçada‟. Uma espécie é classificada como Vulnerável quando em condições de alto risco de extinção na natureza.
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RELATÓRIO 4
MCT/MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI
RELATÓRIO CONSOLIDADO DAS EXPEDIÇÕES À RESEX TAPAJÓSARAPIUNS, MUNICÍPIO DE SANTARÉM-PA ─ HERPETOFAUNA
Equipe Técnica Dra. Teresa Cristina Sauer de Avila Pires Dr. Marinus Steven Hoogmoed M.Sc. Annelise Batista D´Angiolella M.Sc. Ariane Auxiliadora Araújo Silva M.Sc. Jerriane Oliveira Gomes M.Sc. Marcélia Basto da Silva M.Sc. Marcelo José Sturaro Victor Tasso Gomes Ferreira
Expedições 12/06/2011 a 26/06/2011 (rio Arapiuns): • Comunidade Nova Canaã, Rio Maró, •
Comunidade Alto Mentai, Igarapé Mentai, bacia do Rio Arapiuns
28/03/2012 a 12/04/2012 (rio Tapajós) • Comunidade Capixauã, Lago Capixauã •
Localidade Tucumatuba
Licença SISBIO: 28936 (1-3)
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1. INTRODUÇÃO
Em todo o território brasileiro conhecem-se 875 espécies de anfíbios (847 anuros, 1 salamandra [Caudata], 27 gimnofionas) e 721 espécies de répteis (36 quelônios, 6 jacarés, 241 lagartos, 67 anfisbenas, 371 serpentes), segundo a lista (atualizada até março de 2010) da Sociedade Brasileira de Herpetologia (http://sbherpetologia.org.br/checklist/checklist_brasil.asp). Para a parte brasileira da Amazônia, Avila-Pires et al. (2007) registraram 232 anfíbios (221 anuros, 2 salamandras, 9 gimnofionas) e 273 répteis (16 quelônios, 4 jacarés, 94 lagartos, 10 anfisbenas, 149 serpentes). Esses números já são maiores atualmente, mas permitem dar uma idéia aproximada da diversidade conhecida do grupo. Vale ressaltar o caso das salamandras, onde uma única espécie está descrita até o momento para o Brasil (na Amazônia), mas atualmente já se sabe da existência de pelo menos quatro espécies na Amazônia brasileira (objeto de uma dissertação de mestrado [Brcko, 2011], ainda em processo de publicação). Considerando apenas o estado do Pará, são conhecidos 149 espécies de anfíbios (136 anuros, uma salamandra [Caudata], 12 gimnofionas) e 256 espécies de répteis (20 quelônios, 4 jacarés, 77 lagartos, 10 anfisbenas, 145 serpentes), segundo compilação recente do Museu Paraense Emílio Goeldi (a ser disponibilizada em sua página institucional em breve). A distribuição dos lagartos na Amazônia indica grupos faunísticos distintos na região das Guianas (que corresponde à área de endemismo [AE] Guiana, como indicada por Silva et al., 2005), no oeste da Amazônia (AE Imeri, Napo e Inambari), sudoeste da Amazônia (equivalente predominantemente à AE Inambari) e algumas espécies com distribuição restrita ao sul do rio Amazonas ou a partes dessas áreas (p.ex., Enyalius leechii distribui-se nas AE Belém, Xingu, Tapajós e Rondônia, Anolis phyllorhinus e Leposoma osvaldoi na AE Rondônia, Gonatodes tapajonicus na AE Tapajós, e Stenocercus dumerilii na AE Belém). O rio Negro efetivamente parece constituir uma barreira biogeográfica importante, enquanto ao sul do rio Amazonas há uma transição faunística especialmente na faixa entre os rios Purus e Tapajós (AvilaPires, 1995; Avila-Pires et al., 2009). Para as serpentes ainda não há estudos biogeográficos abrangentes mas é evidente que, da mesma forma que para os lagartos, os rios não atuam tanto como divisores de fauna, como ocorre para aves e primatas. No caso dos jacarés, as quatro espécies que ocorrem na Amazônia têm ampla distribuição. Em quelônios algumas espécies amazônicas têm distribuição mais restrita, aparentemente por questões ecológicas (p.ex., Podocnemis erythrocephala e Peltocephalus dumerilianus são encontradas em rios de água preta, Podonemis sextuberculata em rios de água clara – Vogt et al., 2001). No caso dos anfíbios, análises biogeográficas apresentam ainda muitos problemas, tendo em vista que a taxonomia de vários grupos está mal resolvida. Isso não permite se ter uma idéia de padrões gerais na Amazônia, mas são conhecidas espécies de distribuição restrita. Aquelas relacionadas à área-foco do presente estudo serão consideradas em mais detalhe nesse relatório. Considerando-se o conhecimento atual, especialmente relacionado aos lagartos, a Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, situada no interflúvio Madeira-Tapajós, deve apresentar uma herpetofauna relacionada principalmente à do sudeste amazônico, com alguns elementos da Amazônia ocidental e alguns aparentemente restritos à AE Rondônia. 87
O presente relatório tem por finalidade apresentar informações acerca da herpetofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, no Município de Santarém, PA, tendo como base expedições a quatro localidades da RESEX e dados secundários abrangendo especialmente parte dos municípios de Aveiro, Belterra, Juruti e Santarém, no interflúvio Madeira-Tapajós. Das quatro localidades visitadas, duas localizam-se no lado oeste da reserva (rio Arapiuns), duas no lado leste (rio Tapajós). Três das localidades apresentam cobertura florestal, enquanto na Comunidade Capixauã foi inventariado também um enclave de vegetação aberta aí existente. 2. OBJETIVOS: 2.1. OBJETIVO GERAL
Conhecer a herpetofauna da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, Município de Santarém, Pará, de forma a subsidiar o Plano de Manejo da UC.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS •
Determinar a composição e riqueza de espécies da herpetofauna da RESEX Tapajós-Arapiuns;
•
Evidenciar espécies da herpetofauna que tenham importância para a conservação;
•
Relacionar as espécies da herpetofauna encontradas na RESEX TapajósArapiuns que sejam
vulneráveis ou ameaçadas de extinção e aquelas
endêmicas; •
Identificar áreas e hábitats de importância ecológica que mereçam proteção especial e/ou estudos mais aprofundados;
•
Fornecer informações biológicas que possam subsidiar o plano de manejo e o monitoramento da área em relação às ações antrópicas.
3. MÉTODOS 3.1. DADOS SECUNDÁRIOS
Foram utilizados (1) dados dos arquivos da Coleção Herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi, de espécimes procedentes dos municípios de Aveiro, Belterra, Juruti e Santarém, especialmente no interflúvio Madeira-Tapajós, confirmando-se a identificação dos exemplares quando necessário; (2) documento “Mapeamento e diagnóstico da biodiversidade do Parque Nacional da Amazônia e das Florestas 88
Nacionais de Itaituba I e II: subsídios para a elaboração dos planos de manejo”; (3) a literatura herpetológica especializada.
3.2. DADOS PRIMÁRIOS
Os métodos de amostragem foram similares para cada uma das quatro localidades amostradas. Dois métodos de coleta foram empregados: coleta ativa, tanto diurna como noturna, e armadilhas de interceptação e queda (pitfalls). Foram instalados 16 pitfalls por localidade, distando cerca de 100 m entre si, os quais foram vistoriados uma vez por dia. Cada pitfall constou de quatro baldes de 60L separados por 8m de lona plástica. Na localidade de Capixauã, onde existe uma área de cerrado, metade dos pitfalls foi colocado na área de cerrado, a outra metade em área de floresta (perturbada). Foram registrados dados de habitat (coleta ativa e pitfall), microhabitat, hora de coleta e observações comportamentais, se pertinente (coleta ativa). Além disso, considerou-se também os exemplares obtidos por encontro ocasional, tanto pela equipe de herpetologia como por outras equipes. Os indivíduos coletados foram sacrificados com anestésico, medidos e pesados, fixados em formol 4% e preservados em álcool 70%. Parte dos indivíduos foi registrada fotograficamente em vida ou previamente à fixação. Antes da fixação foi retirada uma amostra de tecido (músculo ou fígado) e preservada em álcool absoluto para futuros estudos moleculares. Todos os indivíduos coletados e as amostras de tecido estão depositados na coleção herpetológica do Museu Paraense Emílio Goeldi (ainda em processo de registro). Os indivíduos foram identificados de forma preliminar no campo, com a identificação final feita em laboratório, com o auxílio da literatura especializada e de comparação com exemplares da coleção. Para cada localidade apresentamos as espécies registradas, a composição por grupos taxonômicos e a distribuição por habitat, quando pertinente. Esses dados, assim como uma curva de acumulação de espécies, são apresentados também para o conjunto total de dados. Para identificar elementos da herpetofauna de interesse para a conservação foram consideradas as listas de espécies ameaçadas da IUCN (WWW.iucnredlist.org), nacional (http://www.mma.gov.br/estruturas/179/_arquivos/179_05122008034002.pdf) e do Pará (http://www.sema.pa.gov.br/interna.php?idconteudocoluna=2283). Identificou-se também os elementos constantes da CITES (http://www.cites.org/eng/resources/species. html), que indicam possível interesse para exportação (legal ou ilegal). Espécies conhecidas por serem ou terem sido utilizadas na alimentação, em termos regionais ou locais (estes a partir de conversas com os moradores) são também mencionadas. 3.3. NOMENCLATURA CIENTIFICA
A fim de facilitar comparações com documentos e publicações anteriores, utilzou-se uma nomenclatura conservadora, evitando-se nomes científicos ainda controversos ou muito novos, sugeridos em substituição a nomes já existentes.
89
4. RESULTADOS
Foram registradas, nas quatro áreas, 97 espécies de anfíbios e répteis, dos quais 36 anfíbios – todos Anura – e 61 répteis – 23 lagartos, 32 serpentes, 5 quelônios e uma espécie de jacaré (Fig. 1). Anfíbios e lagartos são os grupos mais diversificados em termos de famílias, cujas proporções são mostradas na Fig. 2 e 3, respectivamente. Quelônios Jacarés (1) (5)
Serpentes (32)
Anfíbios 36
Lagartos 21
Fig. 1 – Distribuição proporcional dos anfíbios e principais grupos de répteis registrados nas expedições à RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referemse ao número de espécies encontrado dentro do grupo.
Anfisbena s (2)
Fig. 2 – Distribuição proporcional das famílias de anfíbios registradas nas quarto areas de estudo, na RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referem-se ao número de espécies encontrado dentro do grupo.
Microhylid ae (1) Bufonidae (5) Leptodact ylidae (10)
Hylidae (19)
Na segunda expedição as principais adições deveram-se (1) a espécies de ambiente de cerrado, representado apenas, dentre as localidades amostradas, em Capixauã; e (2) a serpentes, grupo que requer longos períodos de amostragem. É provável também que amostragens durante o período das chuvas, especialmente na fase inicial, ocasione um aumento no número de espécies de anfíbios.
90
Dendroba tidae (1)
Amphisbaenid Gekkonidae ae (2) (1) Phyllodactylid ae (1)
Teiidae (3)
Fig. 3 – Distribuição proporcional das famílias de lagartos (e anfisbenas) registradas nas quarto areas de estudo, na RESEX Tapajós-Arapiuns. Os números entre parêntesis referem-se ao número de espécies encontrado dentro do grupo.
Sphaerodactyl idae (3)
Gymnophthal midae (5) Polychrotidae (4) Scincidae (1) Tropiduridae (3)
A curva cumulativa de espécies do conjun to das quatro expedições (Fig. 4 ) ainda não No . 120 cu m 100 ula tiv o de es pé cie
80 60 40 20 0 0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1000
No. cumulativo de exemplares
Fig. 4 -
Curva cumulativa de espécies, considerando todas os registros nas quatro
O acréscimo de exemplares e espécies foi contabilizado por dia de amostragem. A primeira expedição (localidades Alto Mentai e Nova Canaã) contabilizou 73 espécies e 492 exemplares, com a segunda expedição (localidades Capixauã e Tucumatuba) esses números aumentaram para 97 espécies e 928 exemplares. As quatro áreas diferiram quanto ao número de espécies encontradas, variando de 40 em Capixauã a 56 em Alto Mentai. Essas diferenças são em parte resultantes da amostragem incompleta, mas em parte refletem diferenças reais, devidas a ambientes distintos que se refletem nas espécies neles presentes. A Tabela 1 apresenta a lista de espécies, comparando as quatro áreas e a Tabela 2 mostra um resumo por grupos. 91
Tabela 1 – Lista das espécies registradas durante as expedições de junho de 2011 e marçoabril de 2012, indicando as áreas onde foram encontradas. Algumas espécies, que serão comentadas no texto, não foram identificadas, necessitando mais estudos. Taxon
Alto Mentai
Nova Canaã
Capixauã
Tucumatuba
AMPHIBIA Bufonidae Bufo castaneoticus Bufo granulosus * Bufo gr. margaritifer Bufo marinus Rhaebo guttatus Dendrobatidae Allobates femoralis Hylidae Hyla boans Hyla cinerascens Hyla geographica Hyla leucocheilus Hyla wavrini Hyla sp. 1 Hyla sp. 2 Osteocephalus leprieuri Osteocephalus oophagus Osteocephalus taurinus Osteocephalus sp. Grande cinza Osteocephalus sp. Peq. Phrynohyas sp. nov. Phyllomedusa vaillanti Scinax garbei Scinax nebulosa Scinax sp. 1(coxas pretas) Scinax sp. 2 Scinax 3 ("gr. ruber") Leptodactylidae Adenomera andreae Adenomera "brown" Engystomops paraensis Leptodactylus fuscus * Leptodactylus paraensis Leptodactylus pentadactylus Leptodactylus petersii Leptodactylus mystaceus
X
X
X X
X X
X X X
X X
X
X
X
X X X X
X
X X X
X
X X X
X X
X
X X
X
X X X X X
X X X X X X
X
X X X X X
X X X
X
X X X X
X X
X X
X X
92
Leptodactylus rhodomystax Pristimantis fenestratus Microhylidae Chiasmocleis bassleri
X
X X
X
X X X
REPTILIA Squamata - Lagartos e Anfisbenas Amphisbaenidae Amphisbaena alba Bronia brasiliana Gekkonidae Hemidactylus mabouia ** Gymnophthalmidae Bachia flavescens Cercosaura sp. Iphisa elegans Leposoma osvaldoi Leposoma percarinatum Phyllodactylidae Thecadactylus rapicauda Polychrotidae Anolis auratus * Anolis fuscoauratus Anolis tandai Polychrus marmoratus Scincidae Mabuya nigropunctata Sphaerodactylidae Coleodactylus amazonicus Gonatodes humeralis Pseudogonatodes guianensis Teiidae Ameiva ameiva Cnemidophorus lemniscatus * Crocodilurus amazonicus Kentropyx calcarata Tropiduridae Plica plica Plica umbra Uranoscodon superciliosus
X X
X X X X X X
X X X
X
X X X X X
X
X
X
X
X X X
X X
X
X
X X X
X X X
X X
X X X
X X
X X ?***
X X
X
X
X
X
X X
X X
X X
X X
X X
X
X X
Squamata - Serpentes
93
Anomalepidae Leptotyphlops albifrons Typhlopidae Typhlops brongersmianus Boidae Boa constrictor Corallus batesi Corallus hortulanus Epicrates cenchria Eunectes murinus Colubridae Apostolepis pymi Atractus snethlageae Chironius exoletus Chironius fuscus Drymoluber dichrous Helicops angulatus Hydrops martii Imantodes cenchoa Leptodeira annulata Leptophis ahaetulla Liophis reginae semilineatus Mastigodryas boddaerti Oxybelis aeneus Oxybelis fulgidus Oxyrhopus formosus Pseudoboa coronata Pseudoboa neuwiedii Pseustes sulphureus Siphlophis compressus Tantilla melanocephala Xenoxybelis boulengeri Elapidae Micrurus hemprichii Viperidae Bothrops atrox Crotalus durissus * Lachesis muta
X X X X X
X
X X
X X X X X
X X
X
X X X X X X X
X
X X X X
X X X X X X X
X
X
X
X X
X
X
X
X X X
X X
Chelonia Bataguridae Rhinoclemmys punctularia Podocnemididae
X
94
X
Podocnemis expansa Pdodocnemis unifilis Peltocephalus dumeriliana Testudinidae Chelonoidis carbonaria
X
X X X
X
Crocodylia Alligatoridae
Paleosuchus trigonatus X X * Espécies restritas a áreas abertas. ** Espécie introduzida, restrita a ambientes antrópicos. *** Presença na área indicada por moradores (seriam comuns no verão, com as águas mais baixas). Tendo em vista não termos confirmado sua presença a espécie não foi computada nas análises aqui apresentadas. Tabela 2 – Número de espécies registrada por grupo e por área amostrada. Alto Nova Capixauã Tucumatuba Mentai Canaã Anfíbios Lagartos Anfisbenas Serpentes Quelônios Jacarés TOTAL
19 17 1 17 2 0 56
18 14 0 11 3 0 45
13 12 2 11 2 1 40
21 16 0 8 1 1 48
As diferenças na quantidade de espécies encontradas em cada área reflete apenas parcialmente as diferenças entre as áreas. Olhando-se a composição das espécies, observa-se que apenas em torno da metade das espécies são comuns entre as áreas quando comparadas duas a duas. Isso pode ser visto na Tabela 3. Como esperado, tendo em vista a presença de vegetação de cerrado em Capixauã, que abriga espécies ausentes em áreas florestadas (marcadas com * na Tabela 1), essa área foi a que apresentou o menor índice de similaridade com as demais. Outro fator ambiental que influencia a ocorrência de espécies é a presença de corpos d’água em uma área – várias espécies de anfíbios, especialmente da família Hylidae, são encontradas na vegetação aquática ou na margem de lagos e a presença desse ambiente é essencial para encontrar essas espécies. Assim, parte das diferenças observadas é devida à heterogeneidade ambiental. Em alguns casos é bem clara a relação entre as características ambientais e a ocorrência de algumas espécies, em outros casos isso não é tão evidente. Alguns desses casos são apontados no item a seguir. Tabela 3 – Comparação entre as quatro áreas amostradas quanto à composição da herpetofauna. A diagonal apresenta o número de espécies em cada área, os números abaixo da diagonal representam o número de espécies comuns a cada par de áreas, e os números acima da diagonal indicam o “coeficiente de similaridade biogeográfica” 95
(Duellman, 1990), calculado pela fórmula 2C/(N1+N2), onde C = número de espécies comuns e N = número de espécies em cada uma das duas áreas. Alto
Nova
Mentai
Canaã
Capixauã Tucumatuba
Alto Mentai Nova Canaã Capixauã Tucumatuba
56 28 20 31
0,55 45 19 27
0,42 0,45 40 18
0,60 0,58 0,41 48
A abundância relativa das espécies, obtida considerando o número de exemplares amostrados por espécie, variou entre as áreas (Fig. 5). Considerando apenas as espécies representadas por 10 ou mais indivíduos em uma área, apenas Adenomera andreae aparece nas listas das quatro localidades amostradas. Bufo castaneoticus, Gonatodes humeralis e Coleodactylus amazonicus aparecem em três das listas, enquanto Ameiva ameiva e Anolis tandai aparecem em duas das listas. Isso reforça a idéia de que há uma heterogeneidade espacial na área que se reflete na distribuição e abundância da fauna. Entre as espécies encontradas no área de RESEX Tapajós-Artapiuns algumas se destacam por sua distribuição ou por aparentemente representarem novas espécies:
96
97
Anfíbios Bufonidae Os sapos do grupo Bufo margaritifer formam um grupo extenso com taxonomia mal resolvida. Bufo margaritifer foi ilustrado por Seba (1734) e formalmente descrito por Laurenti (1768), parecendo estar restrita à área das Guianas. Na àrea de TapajósArapiuns ocorrem duas espécies desse grupo, uma grande, provavelmente nova, com tamanho total até 85 mm, focinho pontiagudo, crestas craniais bem desenvolvidas, sem protuberância óssea na articulação da mandíbula e uma linha lateral de tubérculos cônicos. Esses carateres morfológicos já são visíveis em exemplares jovens. A outra espécie, Bufo castaneoticus, tem tamanho menor, chegando apenas a 45 mm, focinho mais redondo, crestas craniais ausentes e uma linha lateral de tubérculos pouco elevados e arredondados. No campo essas diferenças são difíceis de verificar e por isso todos os exemplares encontrados desse grupo foram coletados, para se ter uma idéia fiel de sua riqueza. As espécies ocorrem em sintopia na serapilheira da floresta de terra firme. Provavelmente há diferenças no modo de reprodução, mas isso não pôde ser observado porque as coletas foram feitas fora da estação de reprodução da maioria das anfíbios anuros. De B. castaneoticus sabemos que ele se reproduz nos ouriços-decastanha caídos e vazios, que são encontrados com água, e provavelmente em outros pequenos recipientes naturais de água encontrados na floresta. A espécie maior provavelmente se reproduz em poças ou áreas alagadas. As diferenças em riqueza dessas duas espécies foram marcantes. A espécie grande não foi encontrada na área de Capixauã (com ambientes de cerrado e floresta alterada), em Alto Mentai apenas três exemplares foram encontrados, em Tucumatuba sete exemplares, e em Nova Canaã 43 exemplares. Em comparação, B. castaneoticus foi encontrado em todas as localidades amostradas: quatro em Capixauã, 29 em Tucumatuba, 37 em Alto Mentai e 25 em Nova Canaã. É possível que haja uma relação entre os números observados: quando o 98
número de B. castaneoticus é alto, o da espécie maior é menor, e quando o numero da espécie grande é alto o número de B. castaneoticus é menor. Hylidae A perereca Hyla leucocheila foi descrito por Caramaschi & Niemeyer (2003), a partir de exemplares procedentes de Mato Grosso (Aripuanã and Apiacás) e Rondônia (Nova Colina), ao longo da zona de contato entre cerrado e floresta amazônica. Pansonato et al. (2011) registraram a espécie para o norte de Mato Grosso e detalhes sobre o canto nupcial. Em 2008 a espécie foi encontrada também em Juruti e após no PARNA Amazônia, ambas localidades no Pará (material depositado no MPEG). Na área da RESEX Tapajós-Arapiuns ela foi encontrada nas localidades Alto Mentai e Tucumatuba. Possivelmente a espécie foi ouvida em Nova Canaã, num açaizal, mas esse canto não pôde ser registrado. As áreas onde a espécie foi encontrada são de floresta de terra firme, mas em Alto Mentai um exemplar foi encontrado numa área de capoeira, outro ao lado de um igarapé. Os exemplares de Tucumatuba foram encontrados perto de um igarapé. Esses registros de H. leucocheila no Pará, já próximo ao Rio Amazonas, aumentam bastante a distribuição dessa espécie, que pode representar um elemento da fauna restrita à área de endemismo Rondônia (entre os rios Madeira e Tapajós). Foram encontradas algumas outras espécies de Hylidae que sem duvida são novas para a ciência. Encontramos duas espécies pequenas (tamanho ~25 mm) de Hyla (pertencente a um grupo conhecido como “Dendropsophus”), que parecem novas. Uma delas tem duas manchas brancas debaixo dos olhos e é conhecida de outros lugares da Amazônia, sob diferentes nomes (errados). A outra é cinza a marrom, com manchas pretas irregulares no dorso (ausente em alguns indivíduos). Foi encontrada em Alto Mentai e em Tucumatuba, e o material coletado forma uma boa série para uma descrição. Também foram obtidas amostras de tecido para pesquisa de DNA. Uma espécie de Osteocephalus (tamanho 76 mm) com íris amarela (não raiada) e dorso marrom ou cinza com uma marca em forma de “X”, não concorda com as espécies conhecidas da área (O. taurinus, O. leprieuri, O. inframaculata, O cabrerai) e muito provavelmente representa um novo taxon. Exemplares foram coletados em Tucumatuba (4) e Nova Canaã (2). Essa espécie também foi coletada no PARNA Amazônia e em Juruti (material na coleção do MPEG). Um exemplar pequeno de Osteocephalus, coletado em Alto Mentai, pode ser mais uma espécie nova, ou um jovem de O. oophagus. Os exemplares de Hyla geographica coletados em Capixauã, Tucumatuba e Alto Mentai mostram um desenho nos flancos e nas coxas que difere do padrão conhecido ao norte do Rio Amazonas. Pode ser um indício de se tratar de uma outra espécie, mas é algo ainda a ser investigado. Na localidade de Capixauã, Hyla boans e Hyla wavrini foram encontradas no mesmo ambiente, em área alagada, sobre árvores, o que não é usual. Esse ambiente costuma ser mais propício para H. wavrini, enquanto H. boans é encontrada em floresta de terra firme, ao lado de igarapés (Hoogmoed, 1990). Em Nova Canaã e Alto Mentai H. boans efetivamente foi encontrada nesse ambiente (enquanto H. wavrini não foi registrada). Um exemplar pequeno (26 mm) de uma espécie de Scinax, com íris laranja vivo e parte posterior das coxas preto uniforme (sem manchas amarelas como nas espécies 99
do grupo) foi encontrado em Novo Canaã e provavelmente representa uma nova espécie. Em Alto Mentai foi encontrado um exemplar de Phrynohyas, menor que outros Phrynohyas da região e com manchas pretas na barriga. Esse exemplar não concorda com as espécies de Phrynohyas conhecidas da região (P. typhonius, P. coriacea, P. resinifictrix) e parece que já está em processo de descrição por um pesquisador do Rio de Janeiro, comm base em material procedente de Juruti, PA. Leptodactylidae Em toda a Amazônia pequenos sapos da serapilheira do gênero Adenomera são muito comuns e caem em pitfalls em grande quantidade. A área de RESEX TapajosArapiuns não foi exceção. Para toda a Amazônia brasileira são conhecidas apenas três especies: A. andreae, que ocorre em todas as áreas florestadas, A. hylaedactyla em áreas abertas (savanas) e A. heyeri, apenas conhecido no Brasil de uma localidade perto da fronteira com a Guyana (AvilaPires et al., 2010). No Peru foi demonstrada a existência de espécies cripticas e simpátricas, reconhecidas com base na vocalização. Estudos para Brasil ainda são incipientes. A espécie A. andreae é muito variável, com pelo menos tres padrões de coloração: cinza com manchas pretas irregulares, marrom com duas bandas largas dorsolaterais claras e marrom com linha sacral e linhas dorsolaterais laranja. Em Nova Canãa, Alto Mentai e Tucumatuba encontramos exemplares de A. andreae com padrão differente e tentamos descobrir se se trata de mais um padrão ou se estamos com mais uma espécie. As amostras de tecido para estudos moleculares podem ajudar a resolver essa questão. Lagartos Gymnophthalmidae Cercosaura sp. é um lagarto de serapilheira que tem semelhanças com C. ocellata, mas que provavelmente representa uma espécie não descrita. Temos também exemplares de Juruti, PA, que já vinha sendo estudado. O grupo como um todo está sendo revisado como parte de uma tese de doutorado, onde esperamos definir o status taxonômico desses exemplares. Sphaerodactylidae Pseudogonatodes guianensis é um pequeno lagarto encontrado em ambientes úmidos junto à serapilheira e base de árvores e palmeiras, na floresta. Sua amostragem costuma ser ocasional, entre zero a alguns indivíduos por expedição. A captura, todos em pitfalls, de 19 exemplares na localidade de Tucumatuba foi excepcional. Nas demais localidades visitadas, três exemplares foram obtidos em Alto Mentai e um em Nova Canaã. Teiidae Kentropyx calcarata é um lagarto heliófilo encontrado comumente junto a troncos caídos e margem de igarapés. Ameiva ameiva é outro lagarto heliófilo, da mesma família, igualmente encontrado em clareiras na floresta, mas que suporta níveis de insolação muito maiores, vivendo também em ambientes de vegetação aberta. Dentro da floresta K. calcarata usualmente é visto com mais frequência, mas as duas espécies podem ser encontradas na mesma área. Em Nova Canaã, avistamos em várias (pequenas e médias) clareiras naturais na floresta A. ameiva. Em nenhuma delas vimos 100
K. calcarata (nenhum indivíduo foi avistado ou coletado). Mesmo junto a um igarapé, com tronco e galhos caídos, local aparentemente ideal para K. calcarata, só foi avistado um subadulto de A. ameiva, que é também muito comum na própria comunidade. Em Alto Mentai apenas um indivíduo de K. calcarata foi coletado. Já nas localidades do lado do rio Tapajós, mais indivíduos foram amostrados. Não temos explicação para a ausência / raridade de K. calcarata em parte da RESEX, algo muito pouco usual na área de ocorrência da espécie (Amazônia oriental). Espécies vulneráveis ou ameaçadas de extinção Nenhuma das espécies presentes na RESEX Tapajós-Arapiuns encontra-se na lista estadual ou nacional de espécies ameaçadas de extinção. O quelônio Podocnemis unifilis é classificado como vulnerável pela IUCN, sendo a única espécie em alguma categoria de ameaça. O anexo II da CITES lista espécies cujo tráfico internacional deve ser regulado. Nesse caso não necessariamente a espécie está ameaçada. Das espécies registradas na RESEX Tapajós-Arapiuns encontram-se listados o jacaré (Paleosuchus triogonatus), os quelônios Peltocaphalus dumeriliana, Podocnemis spp. e Chelonoidis carbonária; as serpentes Boidae (todas) e o viperídeo Crotalus durissus; e o lagarto Crocodylurusamazonicus, possivelmente presente na UC (assim como os do gênero Tupinambis e Iguana iguana). Entre os anfíbios, o anexo II inclui todos os Dendrobatidae, o que inclui Allobates femoralis. Possíveis endêmicos do interflúvio Madeira–Tapajós a. Hyla leucocheila b. Cercosaura sp. c. Não registrado, mas de possível ocorrência – Anolis phyllorhinus
Àreas e hábitats de importância ecológica que mereçam proteção especial e/ou estudos mais aprofundados Os enclaves de cerrado amazônicos apresentam uma fauna própria, adaptada à vegetação aberta, não encontrada nas áreas de floresta. Como são áreas com ocorrência pontual na região, a fauna dessas áreas formam populações isoladas, com grande chance de apresentarem diferenças genéticas razoáveis entre si. Ao mesmo tempo, esses ambientes são usualmente frágeis e facilmente sujeitos a sofrerem alterações. Por esses motivos, alguns desses enclaves na UC deveriam ser integralmente protegidos. Da mesma forma, trechos das diferentes fitofisionomias de floresta deveriam ser identificados como áreas de preservação ou primitivas, para que preservem o conjunto total da fauna e flora aí presentes. Considerando que há muitas comunidades na RESEX, que ocupam predominantemente as áreas mais periféricas, a indicação dos moradores de deixar como áreas de menor impacto o centro da UC é pertinente, desde que observados alguns cuidados: • Incluir as nascentes dos cursos de água;
101
•
Proteger alguns trechos à beira dos rios, incluindo algumas praias/ambientes arenosos,
que abrigam
alguns
animais
próprios
(e.g.,
Crocodilurus,
Uranoscodon, Podocnemis unifilis, Cnemidophorus, etc.); •
Proteger áreas abertas naturais que ainda mantenham a vegetação natural em razoável estado de conservação;
•
Definir com os moradores planos de manejo para os organismos que utilizam, como a árvore que usam para construir canoas e remos (que fazem inclusive para vender); animais de consumo, como tracajá, cabeçuda e jabuti (sugestão: tamanho mínimo para consumo após ao menos dois períodos reprodutivos); e outros produtos da floresta que utilizam ou venham a utilizar.
REFERÊNCIAS AVILA-PIRES, T.C.S., 1995. Lizards of Brazilian Amazonia (Reptilia: Squamata). Zoologische Verhandelingen, Leiden, 299: 1-706. AVILA-PIRES, T.C.S., HOOGMOED, M.S. & VITT, L.J.. 2007. Herpetofauna da Amazônia. In: L.B. Nascimento & M.E. Oliveira (eds.), Herpetologia do Brasil II. Sociedade Brasileira de Herpetologia: 13-43. AVILA-PIRES, T.C.S.; VITT, L.J.; SARTORIUS, S.S. & ZANI, P.A. 2009. Squamata (Reptilia) from four sites in southern Amazonia, with a biogeographic analysis of Amazonian lizards. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, Ciências Naturais, 4 (2): 99-118. AVILA-PIRES, T.C.S., HOOGMOED, M.S. & ROCHA, W.A. 2010 Notes on the Vertebrates of northern Pará, Brazil: a forgotten part of the Guianan Region, I. Herpetofauna. Notas sobre os vertebrados do norte do Pará, Brasil: uma parte esquecida da Região das Guianas, I. Herpetofauna. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Naturais 5(1): 13-112. BRCKO, I.C. 2011. Taxonomia do gênero Bolitoglossa Duméril, Bibron & Duméril, 1854 (Caudata: Plethodontidae) na Amazônia brasileira. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Zoologia UFPA-MPEG. CARAMASCHI, U. & NIEMEYER, H. 2003. New species of the Hyla albopunctata group from Central Brazil (Amphibia, Anura, Hylidae). Boletim do Museu Nacional, Zoologia, 504: 1–8. HOOGMOED, M.S. 1990. Resurrection of Hyla wavrini Parker (Amphibia: Anura: Hylidae), a gladiator frog from northern South America. Zoologische Mededelingen Leiden 64(6): 7193.
102
DUELLMAN, W.E. 1990. Herpetofaunas in Neotropical rainforests: comparative composition, history, and resource use. In: A.H. Gentry (Ed.), Four Neotropical Rainforests. New Haven: Yale University Press: 455-505. PANSONATO, R.W., AVILA, R.A., KAWASHITA-RIBEIRO & D.H. MORAIS, 2011. Advertisement call and new distribution records of Hypsiboas leucocheilus (Anura: Hylidae). Salamandra 47(1): 55-58. SEBA, A., 1734. Locupletissimi rerum naturalium thesauri accurata descriptio, et iconibus artificiossissimis expressio, per universam physiceps historiam. Vol. I: 1212. J. Wetstenius, G. Smith, J. Waesbergius, Amsterdam. SILVA, J.M.C., RYLANDS, A.B., SILVA-JUNIOR, J.S., GASCON, C. & FONSECA, G.A.B. 2005. Primate diversity patterns and their conservation in Amazonia. In: A. Purvis, J.L. Gittleman, T. Brooks (Org.). Phylogeny and Conservation. Cambridge: Cambridge University Press, 2005, v. 10: 337-364. VOGT, R.C., G.M. MOREIRA & A.C.O.C. DUARTE. 2001. Biodiversidade de répteis do bioma Floresta Amazônica e ações prioritárias para sua conservação. Pp. 89-96 in: A. Veríssimo, A. Moreira, D. Sawyer, I. Santos & L.P. Pinto (Orgs.), Biodiversidade na Amazônia Brasileira. Avaliação e ações prioritárias para a conservação, uso sustentável e repartição de benefícios. São Paulo: Estação Liberdade : Instituto Sócio-Ambiental.
103
RELATÓRIO 5
RELATÓRIO DE EXPEDIÇÃO CIENTÍFICA
LEVANTAMENTO RÁPIDO DA QUIROPTEROFAUNA NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS 2011-2012
EQUIPE: Ana Albernaz – Museu Paraense Emílio Goeldi Luís Reginaldo Ribeiro Rodrigues – Universidade Federal do Oeste do Pará Anderson Jose Baía Gomes – Universidade Federal do Pará Rafaela Fatima Soares da Silva – Museu Paraense Emílio Goeldi Willam Oliveira da Silva – Universidade Federal do Pará
104
INTRODUÇÃO Os morcegos são os únicos mamíferos voadores e constituem a segunda maior ordem da classe Mammalia, a Ordem Chiroptera. Atualmente, são conhecidas mais de 1.000 espécies de morcegos, que se classificam em dois grupos principais: a subordem Megachiroptera e a subordem Microchiroptera. Os megaquirópteros, também conhecidos como raposas voadoras, ocorrem na África, Ásia e Oceania, sem representados por uma única família (Pteropodidae). Os microquirópteros, por sua vez, são encontrados no mundo inteiro, com exceção da Antártida, e compreendem 17 famílias (Findley, 1995). A mastofauna brasileira inclui 12 Ordens e 701 espécies. O grupo mais especioso é o dos roedores com 34,7% das espécies, seguido pelos morcegos que perfazem 24,8%, representando 174 espécies, 65 gêneros e nove famílias (Paglia et al. 2012). Com base nestes números, o Brasil é o segundo país com maior diversidade de morcegos, superado apenas pela Colômbia, com 178 espécies (Bernard et al. 2010). Os estudos sobre a quiropterofauna brasileira tem se intensificado nos últimos 15 anos, entretanto, menos de 10% do território nacional pode ser considerado minimamente amostrado e nenhum dos biomas pode ser considerado bem estudado quanto à quiropterofauna. A situação do bioma Amazônia é considerada crítica, visto que menos de 25% da região já recebeu estudos sobre quirópteros (Bernard et al. 2010). Além disso, nota-se que a maioria dos estudos foram concentrados em sítios próximos de centros urbanos (Manaus, Belém, Macapá e Santarém) e ao longo de alguns rios de fácil navegabilidade, o que torna deficiente a representatividade dos dados disponíveis para essa enorme região, que abriga vasta heterogeneidade de habitats, tais como a floresta tropical chuvosa densa e ambientes mais secos, como manchas de cerrados e campinaranas, além de florestas inundáveis sazonalmente. Uma compilação recente da lista de quirópteros da Amazônia brasileira registra 146 espécies de 64 gêneros e nove famílias (Bernard et al. 2011). A família Phyllostomidae é a mais rica com 80 espécies, seguida por Molossidae (24 sp.), Vespertilionidae (16sp.), Emballonuridae (16 sp.), Mormoopidae (3 sp.), Thyropteridae (3 sp.), Noctilionidae (2 sp.), Natalidae e Furipteridae com apenas uma espécie cada. O Pará é o estado amazônico com o maior número de espécies registradas (120), porém o nível de conhecimento sobre a quiropterofauna paraense ainda é considerado deficiente e, pelo menos, duas áreas são indicadas como prioritárias para receber estudos de inventário biológico: o sul do Pará e a porção noroeste da calha norte paraense (Bernard et al. 2011). Na região oeste do Pará, mesorregião onde se localiza a RESEX Tapajós-Arapiuns, vários sítios já foram estudados e servirão de base de conhecimento para comparação com os dados obtidos no presente estudo. Entre eles, o Parque Nacional da Amazônia com 42 espécies (Reis & Schubart 1979; Mok et al. 1982; Marques 1985; Rodrigues – dados não publicados); a FLONA Tapajós com 55 espécies (Castro-Arellano et al. 2007) e a região de Alter-do-Chão, Santarém com 70 espécies (Bernard & Fenton, 2002). Os morcegos desempenham inúmeros papéis na regulação dos ecossistemas tropicais, pois sua notável diversidade de adaptações morfológicas e hábitos alimentares lhes permite a utilização dos mais variados nichos em relação de interdependência com o meio (Miretzki, 2003). A ecologia alimentar dos morcegos provê informações extremamente úteis para o entendimento dos mecanismos de partilha de recursos que regulam as relações tróficas, e que são responsáveis pela alta diversidade deste grupo nas regiões tropicais (Passos et al. 2003). 105
Nos trópicos, os morcegos que se alimentam de frutas e néctar desempenham um papel vital na sobrevivência das florestas pluviais. Ao comerem as frutas, os morcegos espalham suas sementes, à medida que voam e fazem a digestão. Os morcegos que se alimentam de néctar polinizam muitas plantas de valor nutritivo ou econômico, muitas plantas que produzem frutos de importância na agricultura, como caju, figo, banana, manga e outras, dependem dos morcegos para polinização e dispersão de suas sementes. A dispersão de sementes por morcegos frugívoros contribui para o estabelecimento de muitas espécies de plantas pioneiras, auxiliando os mecanismos de regeneração e sucessão secundária em áreas tropicais (Passos et. al. 2003). À medida que partilham os recursos, em especial os alimentares, os quirópteros influenciam a dinâmica dos ecossistemas naturais, agindo como dispersores de sementes, polinizadores e reguladores de populações animais. Por suas características ecológicas este grupo pode ser útil como indicador de alteração no ambiente na identificação dos processos biológicos envolvidos na perda ou transformação do habitat natural (Bianconi et al. 2004). METODOLOGIA
SÍTIOS DE ANMOSTRAGEM
Os locais de coleta de morcegos foram estabelecidos em parcelas previamente determinadas nos transectos de 5 km construídos para este estudo, nas localidades de Nova Canaã, Alto Mentai, Boim e Capixauã. As parcelas consistiram de trilhas em linha reta de 250 metros, abertas em posição ortogonal ao transecto e espaçadas a cada 1000 metros. Eventualmente, algumas amostras foram coletadas em locais fora do transecto/parcela, com o objetivo de se amostrar micro-habitat específico, tal como área alagada e igarapé, ou em abrigos, tais como ocos de árvores. No quadro 1 abaixo estão indicados os locais de coleta de quirópteros na Resex Tapajós-Arapiuns. Quadro 1: Sítios de coleta de quirópteros na Resex Tapajós Arapiuns.
Sítio
Acrônimo
Coordenadas (GPS)
NC-1
S 03° 10’ 11.3’’ – W 55° 49’ 01.3’’
NC-2
S 03° 09’ 28.7’’ – W 55° 49’ 31.1’’
Nova Canaã, Igarapé Inhambu Pt Santarém, PA Com. Nova Canaã, arapé Inhambu Pt 02, Santarém, PA Com. Alto Mentai, Pt 01, Santarém, PA
106
Alto Mentai, Pt 02 (Vila Alto Mentai) Santarém, PA Com. Boim, Igarapé
AM-2
S 02° 47’ 27.0’’ – W 55° 36’ 01.8’’
BO-1
S 03° 05’ 37.0’’ – W 55° 32’ 08.3’’
BO-2
S 03° 06’ 26.3’’ – W 55° 31’ 42.8’’
CP-1
S 02° 36’ 44.5’’ – W 55° 11’ 31.5’’
quem dizia Pt 01, Sant, PA Com. Boim, Igarapé quem dizia Pt 02, Sant, PA Com. Capixauã, Pt 01, Santarém, PA
Técnicas de coleta e esforço amostral As coletas foram realizadas com o uso de redes de neblina medindo 12m x 2,5m. As redes foram instaladas ao nível do solo, em arranjo linear contínuo, acompanhando a trajetória da parcela. Normalmente, o arranjo era composto por 12 redes que eram abertas ao anoitecer (18:00h) e fechadas à meia-noite, sendo vistoriadas em intervalos de 15 a 30 minutos. Adicionalmente, algumas coletas foram realizadas por busca ativa em abrigos diurnos para complementação do inventário. Tais buscas foram realizadas no período da manhã, nas proximidades do transecto principal ou em abrigos relatados por moradores locais. A captura em abrigos consistiu de cercar o abrigo com rede de neblina e depois afugentar os morcegos em direção à rede. Este procedimento foi realizado por pelo menos duas pessoas, mas não se padronizou o esforço empregado, por este motivo o cálculo de esforço amostral foi baseado apenas na técnica de rede de neblina. A unidade de esforço amostral adotada neste estudo foi a Hora.Rede (H.R), ou seja, uma H.R equivale a uma rede de 12m x 2,5m aberta por uma hora. Triagem e registro de dados biológicos Os morcegos capturados foram removidos das redes e colocados individualmente em sacos de pano. Ao longo dos intervalos de vistoria das redes, os animais foram analisados para obtenção dos seguintes dados: hora da captura, peso, sexo, faixa etária, estado reprodutivo, comprimento do antebraço e identificação taxonômica. Quando possível o animal era fotografado. Após a tomada dos dados, os morcegos foram soltos no mesmo local da coleta, exceto alguns espécimes, principalmente, aqueles cuja identificação era duvidosa, que foram coletados como vouchers para posterior confirmação taxonômica e para compor coleção de referência. Para a identificação adotou-se as chaves dicotômicas publicadas por Lim & Engstrom (2001) e Gardner (2007). 107
Os espécimes coletados foram preparados por via úmida, fixados em formol 10% e conservados em Etanol 70%, recebendo etiqueta de campo seriada com o acrônimo RSTA (Resex Tapajós-Arapiuns). A coleção foi partilhada entre as instituições Museu Paraense Emilio Goeldi e Universidade Federal do Oeste do Pará, conforme instrui a licença SISBIO (N° 332801). Sub amostras de tecido dos espécimes coletados foram preservadas para futuros estudos genéticos.
Análise dos dados Cada evento de captura foi assumido como um registro individual. A abundância relativa foi obtida pela razão entre o número de capturas de cada espécie pelo número total de morcegos capturados. A eficiência do inventário foi estimada pelo Índice de capturas (IC) dado pela razão entre o número de capturas pelo esforço amostral, e também pela razão entre o número de espécies pelo número de capturas, e pela razão entre o número de espécies pelo esforço amostral. A análise da curva acumulativa de espécies foi usada para se avaliar e estimar a riqueza local pelo método não paramétrico Jackknife de 2ª ordem. Este estimador calcula a riqueza local somando-se a riqueza observada a um parâmetro calculado a partir do número de espécies raras e do número de amostras, conforme a equação abaixo (Cowell & Coddington, 1994):
Sest = Sobs + [L(2n-3) / n - M(n-2)2 / n(n-1)] Ond: Sest = riqueza estimada Sobs = riqueza observada L = número de espécies que ocorrem em somente uma amostra M = número de espécies que ocorrem em somente duas amostras n = número de amostras Este método de estimativa de riqueza foi preferido por reduzir o viés das estimativas e por não requerer uma amostragem extraordinária para revelar resultados confiáveis (Cowell & Coddington, 1994; Tomaz & Zortéa, 2008). A estimativa de riqueza foi calculada com auxílio do programa EstimateS versão8 (Cowell, 2006). Nesta análise, por se tratar de um estudo de levantamento rápido inicial com baixa amostragem de um grupo altamente diversificado na área de estudo, optou-se por agrupar as sub amostras das diferentes localidades, desconsiderando-se também aqui os registros obtidos de capturas em abrigos.
108
RESULTADOS Foram realizadas duas campanhas de levantamento da quiropterofauna na área da RESEX Tapajós Arapiuns. A primeira ocorreu do dia 14 a 23 de junho de 2011 e a segunda do dia 30 de março a 11 de abril de 2012, que resultaram em 16 sessões noturnas de coletas com redes de neblina e três sessões diurnas de busca direta em abrigo. No total foram capturados 267 morcegos, dos quais 254 foram obtidos em redes de neblina armadas à 30cm do nível do solo, enquanto que 13 foram capturados diretamente em abrigos diurnos. Os registros de capturas em abrigos foram desconsiderados para o cálculo de esforço amostral e análise comparativa entre sítios. O esforço amostral compreendeu 1066 (H.R), que foi distribuído em 402 (H.R) na primeira campanha e 664 (H.R) na segunda, resultando em 72 e 182 capturas de morcegos, respectivamente. A síntese do esforço amostral por localidade e respectivos índices de eficiência do inventário são mostrados no Quadro 2. Foram registradas 32 espécies de morcegos representativas de quatro famílias e 24 gêneros (Quadro 3). A maioria delas (27) foi amostrada por rede de neblina enquanto que, oito espécies foram amostradas por busca em abrigo. Destas, cinco foram obtidas exclusivamente por esta técnica. A família Phyllostomidae foi a mais representada com 26 espécies, seguida por Emballonuridae (3 espécies), Molossidae (2 espécies) e Furipteridae (1 espécie). Carollia perspicillata foi a espécie predominante com quase 60% dos registros, seguida por Artibeus obscurus (6%). Sete espécies foram registradas pela captura de um único exemplar (Figura 1).
A curva acumulativa de espécies é mostrada na Figura 2 e evidencia uma leve tendência a estabilização a partir da vigésima quinta espécie. A riqueza estimada pelo método Jacknife de 2ª ordem indicou 32 espécies. Embora tenha ocorrido variação no sucesso de capturas entre as duas campanhas, e entre os locais de coleta, não foram observadas acentuadas variações do número de espécies (Figuras 3).
109
Quadro 2: Números de capturas, espécies, esforço amostral e índices de eficiência do inventário por sítio de coleta de morcegos da RESEX TapajósArapiuns. Sítio NC-1 NC-2 AM-1 BO-1 BO-2 CP-1 CP-2 Total
Captura 24 23 25 12 14 93 0,13 254
Esforço Índice de Captura Espécies Esp/Capt 216 0,11 12 0,50 42 0,55 5 0,22 144 0,17 9 0,36 216 0,06 7 0,58 144 0,10 7 0,50 192 0,48 13 0,14 63 112 0,56 8 1066
0,24
27
0,11
110
Quadro 3: Lista de espécies de morcegos registradas na Resex TapajósArapiuns Método
Categoria Trófica
Família/Espécie Família Emballonuridae Cormura brevirostris Peropteryx macrotis Saccopteryx bilineata
n
Abundância Relativa (%)
5 1 2
1,87 0,37 0,75
1;2 2 1;2
IA IA IA
Família Furipteridae Furipterus horrens
1
0,37
2
IA
Família Molossidae Molossops sp. Molossus sp.
2 1
0,75 0,37
2 2
IA IA
5 2 2 3 16 4 4 1 159 2 2 1 2 4 5 2 1 2 8 7 2 5 4 1 9 2
1,87 0,75 0,75 1,12 5,99 1,50 1,50 0,37 59,55 0,75 0,75 0,37 0,75 1,50 1,87 0,75 0,37 0,75 3,00 2,62 0,75 1,87 1,50 0,37 3,37 0,75
1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1;2 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1
FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU FRU CAR HEM NEC IF IF IF IF IF FRU FRU IF CAR IF FRU FRU
Família Phyllostomidae Artibeus cinereus Artibeus concolor Artibeus gnomus Artibeus lituratus Artibeus obscurus Artibeus planirostris Carollia brevicauda Carollia cf benkeithi Carollia perspicillata Carollia sp. Chiroderma villosum Chrotopterus auritus Desmodus rotundus Lonchophylla thomasi Lophostoma silvicolum Micronycteris schimidtorum Mimon crenulatum Phylloderma stenops Phyllostomus elongatus Rhinophylla fischerae Rhinophylla pumilio Tonatia saurophila Trachops cirrhosus Trinycteris nicefori Uroderma bilobatum Vampyriscus bidens
111
Trinycteris nicefori Mimon crenulatum Chrotopterus auritus Carollia cf benkeithi Vampyriscus bidens Rhinophylla pumilio Phylloderma stenops Micronycteris schimidtorum Desmodus rotundus Chiroderma villosum Carollia sp. Artibeus gnomus Artibeus concolor Artibeus lituratus Trachops cirrhosus Lonchophylla thomasi Carollia brevicauda Artibeus planirostris Tonatia saurophila Lophostoma silvicolum Artibeus cinereus Rhinophylla fischerae Phyllostomus elongatus Uroderma bilobatum Artibeus obscurus Carollia perspicillata 0
10
20
30
40
50
60
70
Abundância Relativa (%)
Figura 1: Abundância relativa entre espécies da Família Phyllostomidae. Em destaque a espécie predominante Carollia perspicillata (Foto).
112
35 30
Espécies
25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 Noites de coleta (72 H.R)
Figura 2: Curva acumulativa de espécies de morcegos da Resex Tapajós Arapiuns gerada a partir de dados de rede neblina. As linhas tracejadas indicam os intervalos de confiança a 95%.
200 180 160 140 120 100
Capturas
80
Espécies
60 40 20 0 Camp 1
Camp 2
Figura 3: Capturas e número de espécies de morcegos registrados por redes de neblina nas duas campanhas de levantamento da quiropterofauna da Resex Tapajos Arapiuns.
113
DISCUSSÃO De acordo com as compilações mais recentes, 120 espécies de morcegos possuem registro de ocorrência no estado do Pará (Bernard et al. 2011). Na região oeste do Pará, estudos de longo prazo demonstraram elevada diversidade da quiropterofauna local em áreas preservadas, como a FLONA Tapajós (55 espécies) e Alter-do-Chão (70 espécies) (Castro-Arellano et al. 2007; Bernard & Fenton, 2002). No presente estudo relatamos 32 espécies na Resex Tapajós Arapiuns, o que interpretamos como uma parte da diversidade local desta UC. Com base no conhecimento das comunidades de morcegos de outras áreas da região oeste do Pará e razoável sugerir que na Resex Tapajós Arapiuns podem ocorrer de 55 a 70 espécies. Levantamentos rápidos da biodiversidade, tais como no presente estudo, geralmente resultam numa amostragem parcial da diversidade local de um sítio, entretanto, são muito valiosos no sentido de gerar informações prioritárias para subsidiar planos de conservação e avançar o conhecimento sobre a biodiversidade concorrendo inclusive para a descoberta de novas espécies (Alonso et al. 2001). Tradicionalmente, a estratégia de estudo da quiropterofauna no bioma Amazônia é caracterizada por estudos de longo prazo realizados em sítios próximos aos grandes centros urbanos, havendo portanto, poucos estudos de levantamento rápido publicados. Martins et al (2006), por exemplo, relata dados obtidos em três UC’s do estado do Amapá. Quando comparados aos resultados obtidos na Resex Tapajós Arapiuns nota-se que devido ao maior esforço amostral aplicado no presente estudo, o índice de capturas foi menor (0,24 morcegos/rede.hora), entretanto, não se observou acentuada variação nos índices espécies/captura (0,11) e espécies/esforço (0,03). Em termos de eficiência do inventário, os resultados indicam maior semelhança com o estudo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Iratapuru (AP), que embora tenha registrado 19 espécies, mostrou índices de captura e espécies/esforço de 0,27 e 0,04, respectivamente. A predominância de espécies da família Phyllostomidae é um padrão comum em áreas de floresta da região neotropical, além disso, este grupo parece ser mais suscetível a capturas por redes de neblina (Voss & Emmons, 1996; Simmons & Voss, 1998; Sampaio, et al. 2003). Da mesma forma, a dominância de Carollia perspicillata é um padrão comum e tem sido observado em outras áreas do bioma Amazônia (Bernard & Fenton, 2002; Castro-Arellano et al. 2007; Sampaio et al. 2003). É interessante notar que a segunda espécie mais abundante, Artibeus obscurus, foi cerca de 10 vezes menos abundante que C. perspicillata. Tal magnitude de variação da abundancia destas duas espécies já foi reportada em áreas de fragmentos florestais do projeto PDBFF, nas proximidades de Manaus (Sampaio et al. 2003). Castro-Arellano et 114
al (2007) demonstraram que C. perspicillata é uma espécie sensível que diminui em abundância em resposta ao corte seletivo de baixo impacto. A conversão de florestas maduras em áreas de plantio também provoca alteração do nível de abundância em C. perspicillata, assim como em outros filostomídeos (Willig et al. 2007). A elevada abundância de Carollia perspicillata observada no presente estudo da Resex Tapajós Arapiuns pode ser explicada por efeito de alteração do hábitat em pelo menos dois dos sítios de amostragem, pois uma análise da distribuição de capturas desta espécie revelou que 123 indivíduos, equivalente a 77,3% do total capturado, foram registrados na localidade de Capixauã. Quando acrescentamos os dados de uma noite de coleta (17/06/2011) realizada em um ponto próximo a localidade de Nova Canaã, o número de indivíduos subiu para 142 (89,3%). De fato, é importante mencionar que abundância de C. perspicillata nestas áreas certamente é maior, visto que em duas noites de coleta na localidade de Capixauã, cerca de 80 indivíduos desta espécie foram soltos sem terem sido registrados no livro de campo. Tal medida foi tomada para se evitar o risco de mortalidade aos animais quando se coloca vários indivíduos no mesmo saco de pano e, também para possibilitar a continuidade do trabalho de campo. Ambos os pontos de coleta nas localidades de Nova Canaã e Capixauã foram alocados em áreas de mata secundária, próximas da Vila e de roçados usados pelos moradores locais, portanto, tratase de ambientes alterados (Figura 5). Similarmente, ficou evidente que a maior variação do número de capturas entre as duas campanhas e entre os locais de amostragem, sem haver grande variação do numero de espécies (Figuras 3 e 4) deve-se a alta taxa de capturas da espécie Carollia perspicillata. O monitoramento da fauna de quirópteros da Resex Tapajós Arapiuns deve ser recomendado em estudos futuros que visem o licenciamento e autorização de atividades potencialmente danosa ao meio ambiente nesta Unidade de Conservação. Alterações da estrutura de habitats florestais são evidentes nas proximidades das vilas e possivelmente já demonstram efeitos na estrutura e composição das assembleias de morcegos nestas áreas. Estudos adicionais são necessários para revelar com maior
115
precisão a riqueza de espécies, assim como a estrutura das assembleias e os padrões ecológicos do grupo em áreas naturais e alteradas dentro da Unidade.
Figura 5: Aspectos da vegetação no ponto 2 de coleta de morcegos na Comunidade Nova Canaã, Resex Tapajós Arapiuns. Local de alta abundância de Carollia perspicillata.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALONSO, L. E.; ALONSO, A.; SCHULENBERG, S.; DALLMEIER, F. (eds.) 2001. Biological and social assessment of the cordillera de Vilcabamba, Peru. RAP working papers 12 and SI/MAB series 6, Conservation International, Washington, D.C. BERNARD E; TAVARES V C & SAMPAIO E. (2012). Compilação atualizada das espécies de morcegos (Chiroptera) para a Amazônia Brasileira. Biota Neotropical, 11: 1-12. BERNARD, E. & FENTON, M. B. 2002. Species diversity of bats (Mammalia: Chiroptera): in forest fragments, primary forest and savannas in central Amazonia, Brazil. Can. J. Zool., 80: 1124-1140. BERNARD, E.; AGUIAR, L.M.S. & R.B. MACHADO. (2010). Discovering the Brazilian bat fauna: a task for two centuries? Mammal Review 41(1):23-39. BIANCONI, G. V.; MIKICH, S. D. & PEDRO, W. A. 2004. Diversidade de 116
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118
RELATÓRIO 6 RELATORIO PLANTAS RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
COOPERAÇÃO: MUSEU PARAENSE EMILIO GOELDI CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL
APOIO: ICMBIO ASSOCIAÇÃO TAPAJOARA
EQUIPE: Ana Luisa Albernaz - Coordenação Jerriane Oliveira Gomes – Responsável pelos levantamentos em Nova Canaã e Alto Mentai Angelo Dourado – Responsável pelos levantamentos em Quem Dizia e Capixauã Carlos da Silva Rosario (Carlito) - Parabotânico responsável pela identificação das plantas em Nova Canaã e Alto Mentai Carlos Alberto Santos da Silva (Beleza) – Parabotânico responsável das plantas em Quem Dizia e Capixauã Um representante da Associação Tapajoara em cada local de amostragem (Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã)
121
Introdução As Reservas Extrativistas (RESEX) são Unidades de Conservação de Uso Sustentável e têm como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura das populações tradicionais e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. Seus principal instrumento de gestão é o Plano de Utilização da Unidade, que deve incluir um zoneamento (divisão da UC em zonas com diferentes intensidades e tipos de usos). De acordo com o último plano de utilização elaborado para a RESEX TapajósArapiuns, a UC foi criada, por demanda das comunidades locais, em 1998 (Carvalho-Jr. 2008). Conforme este documento, os principais conflitos existentes na área, e que levaram à demanda para a criação, estavam relacionados à exploração de madeira por empresas privadas e à retirada de seixos no rio Arapiuns. Ainda de acordo com o documento, o primeiro plano de utilização para a RESEX foi feito em 1999, e estabeleceu a forma de uso dos recursos da RESEX. O primeiro zoneamento da Unidade foi feito em 2003. Esses instrumentos de gestão foram ambos atualizados em 2008. As razões para a definição de cada uma das zonas não é explicada em detalhe no documento de atualização e os documentos mais antigos não estão disponíveis. No que diz respeito ao uso dos recursos da RESEX, a extração de recursos vegetais é permitida dentro dos lotes pertencentes aos comunitários, que aparentemente podem ocupar as zonas I (Habitacional, agrícola e Manejo Florestal Comunitário) e II (Zona de Manejo Florestal comunitário). Na zona I as regras para o uso não são claras, mas na zona II a extração deve ocorrer mediante a aprovação de Planos de Manejo Florestal Sustentável de Uso Múltiplo Comunitário (PMFS) e com a anuência do Conselho Deliberativo da UC (Carvalho-Jr. 2008). A zona III é destinada à conservação e não deve ser utilizada para o extrativismo. Há ainda uma zona de amortecimento de 10 km no entorno da RESEX, para a qual as regras de uso deveriam ser definidas pelo então IBAMA. Do ponto de vista teórico, é importante que as zonas de proteção integral em UCs de uso sustentável sejam representativas da biodiversidade local. Tal representatividade asseguraria o papel da Unidade como parte do sistema de áreas protegidas do País. Além disso, o manejo de espécies de interesse econômico requer que sejam mantidas tanto populações viáveis dessas espécies como a variabilidade genética dos estoques. Nesse sentido, as zonas de proteção integral podem representar uma reserva estratégica importante para a o futuro manejo das espécies de valor comercial da UC. Em síntese, as zonas de proteção integral devem ser consideradas parte integral da estratégia de manejo da unidade e não devem ser alocadas para essas zonas apenas áreas que não são de interesse para o extrativismo. De acordo com o Plano de Uso, a principal atividade econômica dos moradores é a agricultura em pequena escala. O Plano indica que tanto para a melhoria da qualidade de vida da população como para assegurar a conservação da UC seria importante realizar inventários dos recursos vegetais na área da RESEX com vistas a avaliar o potencial para a exploração de recursos madeireiros e outros recursos vegetais nãomadeireiros. O presente relatório é fruto de uma cooperação entre o Museu Paraense Emilio Goeldi e a Conservação Internacional do Brasil, que, com o apoio do ICMBIO e dos moradores da RESEX, teve como objetivo realizar levantamentos de plantas arbóreas na RESEX. Foram visitadas 4 áreas e aqui são apresentados resultados quanto à composição de 122
gêneros e espécies, o potencial econômico das espécies madeireiras e o “status” de conservação das áreas visitadas.
Métodos Foram feitos levantamentos de plantas nas quatro localidades indicadas nas reuniões de planejamento como viáveis em termos de acesso e logística: Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã. Em cada uma dessas localidades foram amostradas 10 parcelas de 20 x 50 m (0,1 ha), totalizando 4 hectares de levantamentos (figura 1). Das 40 parcelas amostradas, 36 foram em floresta e 4 em formação savânica, localmente conhecida como “campo”. Em cada parcela, as plantas com mais de 5 cm de DAP foram identificadas, foi medido o DAP e estimadas a altura do fuste e altura total. Os nomes válidos foram verificados e atualizados utilizando-se as bases de dados digitais MOBOT-TROPICOS http://www.tropicos.org/e a Lista de espécies da Flora Brasileira http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/. Para analisar a suficiência do esforço foi utilizado o estimador empírico de Burham & Overton (1979). Atualmente considera-se que a maximização da representatividade das áreas protegidas pode ser obtida pela aplicação do conceito de complementaridade, em que é considerado mais importante assegurar a proteção de áreas que possuam diferentes conjuntos de espécies do que apenas priorizar áreas com alta riqueza, nas quais as espécies muitas vezes são as mesmas. Com isso, teoricamente, áreas distintas floristicamente, ou seja, com baixa similaridade em relação às demais, tem um valor alto para conservação. Com o objetivo de analisar a dissimilaridade florística entre as amostras, foi utilizado o índice de Bray-Curtis e a técnica de ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico (NMDS). Como a RESEX é uma unidade de uso sustentável, espera-se que a utilização dos seus recursos seja feita de forma a permitir a recuperação dos estoques e a sua utilização por gerações futuras. Como a área já foi explorada para a produção de madeira antes de se tornar protegida e a exploração desse recurso é permitida às populações residentes, para subsidiar ações de manejo das espécies de interesse madeireiro foi analisada a densidade e a estrutura de tamanho de algumas espécies madeireiras entre as de maior valor comercial.
123
Capixauã
Alto Mentai
Quem Dizia
Nova Canaã
Figura 1. Mapa da RESEX com tipos de vegetação do mapa do RADAM 1:250.000 e indicando as áreas (Nova Canaã, Alto Mentai, Quem Dizia e Capixauã) onde amostras botânicas foram realizadas.
Resultados Nas 40 parcelas amostradas, foram registrados 3785 indivíduos, pertencentes a 62 famílias, 198 gêneros e 471 espécies (Anexo 1). Nos períodos das expedições para a realização dos levantamentos (junho/2011 e março de 2012) as plantas estavam estéreis e a identificação foi feita apenas com base em caracteres vegetativos. Apesar algumas plantas de terem sido coletadas para comparação em herbário e aprimoramento das identificações feitas em campo, como o material estava estéril não foram depositadas exsicatas em herbário. Nessas condições, a identificação específica envolve um alto grau de incerteza. A identificação dos gêneros é mais confiável, e, por isso, embora a lista de espécies seja apresentada, as identificações devem ser consideradas incertas e as análises serão apresentadas para os gêneros. Cabe mencionar que a correlação a riqueza 124
de espécies e de gêneros para as parcelas amostradas foi de 0,971, indicando que os gêneros neste caso são bons preditores para a riqueza encontrada em cada local. A estimativa obtida para o número de gêneros foi de 238 e para espécies de 618, indicando que a amostra para os gêneros incluiu cerca de 85% dos gêneros esperados para a RESEX e cerca de 75% das espécies. As parcelas em formação savânica tiveram em geral menor riqueza, sendo que das quatro parcelas nesse ambiente em uma foi registrado apenas um gênero (Byrsonima), enquanto na que apresentou maior riqueza foram registrados 6 gêneros (Byrsonima, Himatanthus, Guatteria, Matayba, Tapirira e Xylopia). Para as parcelas em formação florestal a riqueza genérica variou de 24 a 51. Apesar da menor riqueza, as parcelas em formação savânica foram floristicamente distintas das parcelas de floresta, apresentando tanto baixa similaridade em relação às parcelas de floresta (figura 2), como espécies que ocorreram exclusivamente nessas áreas (como Xylopia aromatica, Bowdichia virgilioides e Byrsonima crassifolia), reforçando seu valor para conservação. Além da maior riqueza por parcela, as parcelas em floresta tiveram maior variabilidade entre si do que as parcelas em áreas de campo (figura 2). Os principais gêneros associados à diferenciação entre as parcelas de floresta foram Jacaranda, Casearia e Siparuna, relacionadas ao extremo negativo da dimensão 2 da ordenação e Protium, Pouteria e Tetragastris, relacionadas aos maiores valores da dimensão 2. Seriam necessários dados geofísicos (como topografia, solos, umidade dos solos) mais refinados que os disponíveis para explicar essas variações.
D I M E N S I O N
0. 50 P21 P16 P25 P 2 3 P 7 P11 P 19 P17 P8 P15 P22 P3 P1 4 PP9 P5P4 18 P 1P6 0 0 P12 P2P3 P1 P13 P26 P29
P39 P3 7 P38 P40
-0. 15
P 20 P27 P28
P31P34 P32 P24
2
P35
P36 P33
-0. 80 -3. 5
-2. 0 -0. 5 DIMENSION 1
1. 0
Figura 2. Ordenação por escalonamento multidimensional não-métrico utilizando índice de dissimilaridade de Bray-Curtis para os gêneros de plantas identificados nas 40 parcelas do levantamento botânico. A primeira dimensão revela a diferenciação entre as 125
parcelas de floresta (parcelas P1 a P36) e as de savana (parcelas P37 a P40), enquanto a dimensão 2 revela o maior espalhamento das parcelas de floresta e maior coesão das parcelas em savana. As espécies madeireiras de maior valor comercial (Bagassa guianensis, Dinizia excelsa, Dipteryx odorata, Goupia glabra, Handroanthis serratifolius, Hymenaea courbaril e Manilkara huberi) e tiveram baixa abundância (< 1 ind/ha), indivíduos predominantemente de pequeno porte (DAP < 40 cm) ou ambos (Tabela 1). Entre as espécies de valor comercial, a jarana (Lecythislúrida), que tem um valor intermediário, foi a que apresentou maior densidade de indivíduos e indivíduos de porte relativamente maior. A seringueira (Hevea brasiliensis), sem valor madeireiro mas com alto potencial para o extrativismo, também ocorreu em baixa densidade nas áreas amostradas e apresentou apenas indivíduos de pequeno porte (Tabela 1). Espécies pioneiras, como Cecropia spp. (13 parcelas), Bellucia spp. (7 parcelas) e Miconia spp. (21 parcelas) foram frequentes nas parcelas de floresta, onde apresentaram também abundância relativamente alta (Cecropia= 74, Bellucia= 39, Miconia= 71), indicando um nível de perturbação alto nas áreas visitadas. Tabela 1. Abundância e diâmetros à altura do peito (DAP) médios. Mínimos e máximos para algumas espécies de valor madeireiro alto e médio. Espécie
Nome comum
N DAP (média em cm)
DAP min
DAP max
Bagassa guianensis Aubl.
tatajuba
1
83.12
-
-
Bertholletia excelsa Bonpl.
castanha-do-Pará
2
174.45
165.6
183.3
Dinizia excelsa Ducke
angelim-vermelho
2
15.2
8.6
21.8
Dipteryx odorata (Aubl.) Willd.
cumaru
6
30.46
5.7
64
Goupia glabra Aubl.
cupiuba
8
27.53
6.7
59
Handroanthus serratifolius (Vahl) S. O. Grose
ipê amarelo
4
24.96
6.2
43.3
Hevea brasiliensis (Willd. ex A. Juss.) Müll. Arg.
seringueira
2
10.83
7.6
14
Hymenaea courbaril L.
jatobá ou jutaí-açu
8
33.43
7
49.5
Hymenaea parvifolia Huber
jutaí-mirim
6
39.36
15.1
66.9
Hymenolobium petraeum Ducke
angelim-pedra
4
37.54
31.8
42.4
Lecythis idatimon Aubl.
mata-matá
8
14.49
5.4
24.2
Lecythis lurida (Miers) S.A. Mori
jarana
14
40.08
14.2
75.2
Lecythis pisonis Cambess.
sapucaia
2
23.49
12.4
34.6
Manilkara amazonica (Huber) A. Chev.
maparajuba
8
10.42
5.3
27.4
Manilkara huberi (Ducke) A. Chev.
maçaranduba
8
32.18
7.6
69.7
Mezilaurus itauba (Meisn.) Taub. ex Mez
itauba
16
39.24
10
114.8
Minquartia guianensis Aubl.
acariquara
9
20.01
5.7
34.2
126
Ocotea spp.
louro
54
21.18
4.9
82
Simarouba amara Aubl.
marupá
1
5.41
-
-
Discussão A principal dificuldade na amostragem de plantas é a identificação correta dos indivíduos. Embora a identificação em campo, com base em caracteres vegetativos como folhagem, tipo da casca, tipo da raiz, cor da madeira, existência de látex, etc, seja um bom começo, a identificação precisa só pode ser feita com base em material fértil. Dessa forma, levantamentos rápidos, envolvendo grandes equipes, como o presente, quase nunca fornecem um resultado muito preciso para as plantas. O ideal para se obter uma lista mais confiável e completa de uma determinada área é coletar plantas oportunisticamente ao longo do tempo, quando as plantas estão florindo ou frutificando. Como a RESEX é uma área ocupada por diversas comunidades, as quais aparentemente têm interesse no manejo da área, seria importante desenvolver treinamentos junto às comunidades para que elas pudessem coletar e armazenar amostras de forma correta, e então encaminhá-las a instituições acadêmicas para identificação e catalogação. Esta seria a forma mais vantajosa, em termos de custos e benefícios, para se chegar a uma listagem mais precisa da flora da UC. O número de gêneros e espécies encontrados na RESEX Tapajós-Arapiuns está dentro do esperado para florestas da região, e os levantamentos realizados, embora ainda não completos, foram capazes de registrar uma boa parcela da diversidade de plantas arbóreas da área. As ressalvas são a identificação não muito precisa e que nem todos os ambientes da RESEX foram amostrados. A inclusão de outros ambientes, como igapós e outras tipologias florestais, poderia acrescentar novos táxons à lista. Entre os ambientes amostrados, as savanas possuem características únicas, que justificam a proteção de parte delas em zonas de proteção integral, o que não ocorre atualmente. Parte da baixa riqueza se deve a que os levantamentos incluíram apenas indivíduos de porte arbóreo. As savanas possuem poucas árvores e normalmente a maior riqueza esperada nesses ambientes seria de arbustos e ervas. Entre as florestas, houve variação na composição florística entre ambientes, cujas causas devem ser investigadas em maior detalhe, para possível reformulação das zonas de proteção da UC. Apesar do mapa do RADAM indicar uma tipologia florestal diferente na área amostrada na região do Alto Mentai em relação à das demais localidades amostradas, as composição florística daquela área não foi claramente distinta das demais. A densidade de espécies de interesse econômico foi relativamente baixa, havendo poucos indivíduos ou apenas indivíduos de pequeno porte das espécies encontradas. Não é possível saber se essa é uma realidade para toda a RESEX ou uma característica das áreas amostradas, escolhidas, entre outras características, pela relativa facilidade de acesso. As áreas amostradas mostravam outros indícios de antropização, como alta abundância e alta frequência de espécies pioneiras. De fato, todas as áreas amostradas estavam dentro da zona definida como Zona I, que é a de uso mais intensivo. Seria importante analisar a extensão da antropização na RESEX e se há áreas com menor antropização e/ou maior abundância de espécies de valor comercial, madeireiro ou nãomadeireiro. Tal análise ajudaria a traçar uma estratégia apropriada para o manejo do 127
recurso, tanto dentro da própria Zona I, que é a mais acessível aos moradores, como nas demais zonas. Manejo aqui é considerado em sua definição ampla, que inclui tanto o planejamento da exploração como o da conservação do recurso, com vistas a manter populações viáveis e a variabilidade genética das populações das espécies de interesse econômico.
Recomendações •
Promover treinamentos para os moradores para coleta de material fértil e encaminhar amostras a coleções biológicas
•
Analisar a extensão da antropização na RESEX e o potencial para o extrativismo em áreas menos antropizadas
•
Promover levantamentos da flora em outros ambientes e Zonas de uso da RESEX, tanto para aprimorar os conhecimentos sobre a biodiversidade da área como para definir melhores estratégias de manejo dos recursos florestais.
Referências Burnham, K.P. & W.S. Overton. 1979. Robust Estimation of Population Size When Capture Probabilities Vary Amoung Animals. Ecology 60(5). pp. 927-936. Carvalho-Jr, E. (Coordenador). 2008. Plano de Manejo Reserva Extrativista TapajósArapiuns. Diponível em http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidadesdeconservacao/biomas-brasileiros/amazonia/unidades-de-conservacaoamazonia/2045resex-tapajos-arapiuns.html. Acessado em 08/06/2012
128
- ANEXO 4 MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS DA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
140
CONSERVAÇÃO INTERNACIONAL DO BRASIL PROJETO CORREDOR TAPAJÓS - ABACAXIS MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
RESEX Tapajós -Arapiuns, Comunidade Vila Franca
– 21/06/2011
Foto: Luis Barbosa / CI-Brasil
Jarine Rodrigues Reis Organização e Redação
Santarém e Aveiro, setembro de 2011
141
MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS
Realização As atividades descritas neste relatório foram realizadas pela parceria Conservação Internacional-CI, Organização das Associações da Reserva Extrativista TapajósArapiuns-Tapajoara e Instituto Chico Mendes de Conservação da BiodiversidadeICMBio. Equipe da Expedição Jarine Rodrigues Reis Conservação Internacional (Consultoria) Coordenação da Socioeconomia Caroline Yoshida Kawakami Conservação Internacional (Consultoria) Coordenação de Turismo e Assistente de Campo Luis Claudio Fernandes Barbosa Conservação Internacional Coordenador de Planejamento Territorial Leônidas Bentes Farias Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara Presidente Dinael Cardoso dos Anjos Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara Segundo Secretário Executivo Elke Maria Melo Vasconcelos Organização das Associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns - Tapajoara Segunda Tesoureira Fotos Dinael Cardoso dos Anjos, Caroline Yoshida Kawakami, Jarine Rodrigues Reis e Luís Barbosa Responsável pelo Relatório Jarine Rodrigues Reis
Santarém e Aveiro/Pará, setembro de 2011. 142
Índice 1. Introdução e Contextualização 2. Objetivo 3. Procedimentos Metodologicos 4.1. Solos 4.2. Extrativismo 4.3. Caça 4.4. Recursos pesqueiros 4.5. Recursos hídricos 4.6. Uso público para a atividade de turismo 4.6.1. Diagnóstico da atual situação 4.6.2. Dificuldades apresentadas 4.6.3. Potencialidades averiguadas 4.6.3. Visão das agências 4.6.4. Visão da Secretaria de Turismo 4.6.5. Desafios
143
Lista de Tabelas:
Tabela 01: Divisão das comunidades nos grupos comunitários trabalhados Tabela 02: Principais atividades agrícolas com assimilação por micro bacia, divisão de grupos comunitários trabalhados e quantidade de comunidade com número de produtores comerciais de cada região identificada Tabela 03: Atividade agrícola comercial e percentual destinado a venda Tabela 04: Produtos comercializados com referência de valores por unidade e por safra Tabela 05: Local de destino das mercadorias comercializadas por atividade e calha de rio Tabela 06: Atividade comercial por sistema de plantio e percentual de uso da fitofisionomia utilizada para plantio em relação ao número citações Tabela 07: Espaços de uso familiar ou coletivo por calha de rio Tabela 08: Percentual de benefícios atribuídos a atividade de extrativismo madeireiro em relação as citações Tabela 09: Madeiras mais utilizada e uso empregado pelas comunidades do rio Arapiuns Tabela 10: Madeiras mais utilizada e uso empregado pelas comunidades do rio Tapajós Tabela 11: Percentual de problemas enfrentados pelas comunidades no extrativismo madeireiro em relação as citações Tabela 12: Medidas de resoluções de problemas envolvendo o extrativismo madeireiro adotadas por algumas comunidades da RESEX Tabela 13: Potencial madeireiro para manejo em médio prazo nas duas calhas de rio em relação as citações Tabela 14: Percentual dos benefícios atribuídos aos produtos não madeireiros em relação as citações Tabela 15: Percentual dos produtos que é comercializado dentro da RESEX em relação as citações Tabela 16: Principais produtos e seu uso por parte das comunidades da RESEX Tabela 17: Percentual dos problemas relacionados com extrativismo não madeireiro em relação as citações Tabela 18: Rendimento dos produtos extrativistas com quantidade coletada aproximada no Rio Arapiuns
144
Tabela 19: Rendimento dos produtos extrativistas com quantidade coletada aproximada no Rio Arapiuns Tabela 20: Percentual dos principais produtos potenciais para manejo em relação as citações Tabela 21: Percentual de benefícios atribuídos ao uso de fauna silvestre em relação as citações Tabela 22: Percentual dos principais problemas enfrentados pelos comunitários com a atividade de caça em relação as citações Tabela 23: Alguns animais que diminuíram nas áreas das comunidades do rio Arapiuns Tabela 24: Alguns animais que diminuíram nas áreas das comunidades do rio Tapajós Tabela 25: Percentual de animais caçados em relação as áreas de caça identificadas Tabela 26: Regras próprias de pesca de algumas comunidades da RESEX Tabela 27: Mudanças na qualidade da água, prováveis motivos e local na citação dos moradores do rio Arapiuns Tabela 28: Mudanças na qualidade da água, prováveis motivos e local na citação dos moradores do rio Tapajós Tabela 29: Regiões de uso público identificadas na RESEX Tabela 30: Síntese do resultado do diagnóstico com os operadores de turismo
Lista de Fotos: Foto da Capa: RESEX Tapajós-Arapiuns, Comunidade Vila Franca – 21/06/2011 Foto 01: Material de construção das habitações do projeto de reforma agrária Foto 02: As habitações do projeto de reforma agrária do INCRA sendo construídas na comunidade Nova Vista Foto 03: O alojamento de turista (chapéu de palha) da comunidade Maripá Foto 04: Sede comunitária de Anumã (a), e galpão de beneficiamento de óleo de andiroba de Porto Rico (b) Foto 05: Galpão de beneficiamento de óleo de andiroba em Prainha do Maró Foto 06: Igreja de Vila Amorim (a), Maripá (b) e Vista Alegre do Capixauã (c) Foto 07: Escolas localizadas nas comunidades Anumã (a) e Vila Franca (b) Foto 09: O uso do “tipiti” ainda empregado no processamento de farinha de mandioca nas comunidades da RESEX Tapajós – Arapiuns
145
MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DO USO DOS RECURSOS NATURAIS NA RESEX TAPAJÓS-ARAPIUNS 1. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO A Amazônia tem um histórico de ocupação humana marcado pela presença de populações tradicionais, indígenas de diferentes etnias, e pela migração dos soldados da borracha, garimpeiros, colonos e empreendedores das atividades madeireira, agropecuária e mineradora. Na fronteira entre os estados do Pará e Amazonas, entre os rios Tapajós no estado do Pará e rio Abacaxis no estado do Amazonas encontra-se 9,8 milhões de hectares de floresta amazônica que conectam diversos ecossistemas e garante o fluxo gênico necessário a existência de diversas espécies endêmicas. Hoje esta região abrange oito municípios incluindo a totalidade do município de Juruti e parte dos municípios Santarém, Aveiro e Itaituba, no Pará, e de Boa Vista do Ramos, Parintins, Barreirinha e Maués, no Amazonas. A iniciativa de pensá-la como um Corredor da Biodiversidade iniciou em 2007, quando a Conservação Internacional do Brasil estabeleceu uma parceria com a ALCOA ALUMÌNIO visando aportar investimentos nas oportunidades de conservação existentes nesta região. Atualmente 44,5% da área total desta região está protegida por cinco Unidades de Conservação e uma (1) Terra Indígena. O projeto Corredor Tapajós-Abacaxis previu apoio a conservação desta região por meio de quatro componentes: (i) implementação das Áreas Protegidas; (ii) desenvolvimento de capacidades locais em planejamento e gestão de projetos em conservação e práticas de educação ambiental; (iii) implementação de bolsas de pesquisa em conservação; e (iv) elaboração de um Plano de Ação para a Conservação do Corredor Tapajós-Abacaxis (CI-Brasil, 2011). Em 2009 a Conservação Internacional, por meio do projeto Corredor TapajósAbacaxis, passou a apoiar a implementação da RESEX Tapajós-Arapiuns, apoiando a capacitação do Conselho Deliberativo, além da complementação de informações que subsidiarão a elaboração do Plano de Manejo, como o mapeamento participativo do uso dos recursos naturais e inventários de biodiversidade. O uso de recursos naturais pelas populações locais apresenta-se como de grande importância para a geração de ocupação e renda. Dessa forma, há a necessidade urgente de informações gerais sobre o uso desses recursos e principalmente práticas viáveis de manejo (MOREIRA, 2005). Para obtermos os dados do padrão de uso de recursos naturais na RESEX Tapajós-Arapiuns, foi necessária a aplicação do mapeamento participativo. O mapeamento participativo de uso dos recursos naturais consiste numa metodologia que serve para espacializar, através do emprego de imagens Landsat e ferramentas de SIG (Sistema de Informação Geográfica), informações georreferenciadas da área de estudo sobre a o uso de recursos naturais pelas populações locais e onde estão localizados de forma mais eficiente e rápida.
2. OBJETIVO O objetivo central deste documento é apresentar o mapeamento participativo do uso dos recursos naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns com a participação dos atores diretamente abrangidos no processo de gestão da unidade de conservação para uma compreensão da dinâmica de uso do espaço territorial pelos moradores e usuários, para a elaboração do Plano de Manejo da RESEX TapajósArapiuns, focando no levantamento e sistematização de informações que subsidiarão a sua elaboração. 146
Especificamente o mapeamento participativo associado a outros questionamentos tem os seguintes objetivos: • Visualização espacial do uso de recursos naturais, ocorrência, período e época de coleta (sazonalidade), quantidade explorada, problema no acesso e uso desses recursos, utilização e classificação por parte utilizada, fornecido pela percepção das comunidades a respeito do meio ambiente; • Distribuição das atividades comerciais realizadas como agricultura, pecuária, extrativismo, pesca e turismo, das espécies animais e vegetais utilizadas comercialmente ou para subsistência. O processo de construção de um mapa e as discussões agregadas a ele fornece uma base de análise sobre a qualidade ambiental e social da área. 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Constituem procedimentos metodológicos centrais do mapeamento: oficinas comunitárias e entrevistas com operadores de turismo. 3.1. Oficinas comunitárias Construída junto com representantes da Associação Tapajoara e ICMBio, a proposta das oficinas foi formar grupos de comunidade divididos por regiões que agregam comunidades vizinhas, com áreas de uso próximas e/ou sobrepostas, conforme figura 01. Cada oficina foi realizada com cerca de quatro representantes de cada comunidade, escolhidos por aptidões relacionadas as quatro atividades a serem mapeadas (agricultura, pesca, caça e extrativismo). Foram coletadas e espacializadas informações a respeito da dinâmica de uso de recursos naturais da RESEX Tapajós-Arapiuns nas oficinas pré agendadas, como especificada acima e utilizado recursos como imagens do satélite LandSat (escala predominante de 1:35.000) da área adjacente das comunidades, e formulários de pesquisa semiestruturada. Os formulários de pesquisa semiestruturada foram utilizados como apoio a complementação de dados do mapeamento tais como, a intensidade e periodicidade do uso, levantamento de atividades econômicas potenciais para o manejo de recursos naturais, além da caracterização da infra-estrutura comunitária. Os dados percentuais apresentados neste relatório foram calculados através da relação das informações obtidas nas oficinas comunitárias cruzando com o número de vezes que essa informação foi citada pelo total de comunidades entrevistadas ou de grupos trabalhados. Por exemplo, na tabela 06 de atividade comercial por sistema de plantio foi calculado o percentual de uso da fitofisionomia utilizada para o plantio em relação ao número de vezes que cada opção de fitofisionomia foi citada nas oficinas. Com o uso de canetas permanentes nas imagens foram identificadas as diferentes atividades iniciando com a identificação dos corpos d’água de referência das comunidades e a partir delas foram desenhados os polígonos que indicam a área de uso direto e indireto dos recursos naturais com as diferentes cores de canetas. Com os polígonos desenhados e identificados na imagem LandSat, foi feito uma fotografia em alta resolução, para posterior digitalização no ArcGis. As imagens georreferenciadas e digitalizadas foram associadas ao banco de dados com informações, coletadas nas oficinas comunitárias, de pressão e freqüência e na pesca ainda o esforço de captura. O cruzamento das informações dos polígonos gerou mapas de intensidade de uso das atividades pesquisadas na área da RESEX. 147
3.2. Entrevistas com operadores de turismo Foram realizadas junto a operadores de turismo de Santarém e da Vila de Alter do Chão, préidentificados pelas comunidades e outros informantes qualificados da RESEX Tapajós-Arapiuns. A partir das informações coletadas em campo sobre o uso público turístico da UC, os operadores de turismo complementaram as informações, identificando a intensidade e o potencial de ecoturismodos sítios turísticos identificados por polígonos pré-mapeados, além de propor diretrizes para o ordenamento do uso-público da RESEX TapajósArapiuns.
4. RESULTADOS A RESEX é tangenciada pelos rios Tapajós e Arapiuns e alguns de seus afluentes, rio Maró e rio Inambú (que formam a bacia do rio Arapiuns), onde estão localizadas as comunidades e vilas. Para a realização das oficinas as comunidades foram mobilizadas com apoio da Associação Tapajoara. As oficinas foram realizadas em comunidades pólos centrais com as comunidades vizinha para a elaboração do mapeamento. Foram aplicados os formulários num conjunto de 68 comunidades, 44 comunidades na calha do rio Tapajós e 24 comunidades na calha do rio Arapiuns, Maró e Inambú. No total foram entrevistadas 208 pessoas com idade média de 44,9 anos, divididos em 19 oficinas comunitárias. Os grupos comunitários foram selecionados de acordo com a proximidade geográfica e social. Essa divisão foi feita com auxílio de membros da Associação Tapajoara e técnicos da equipe de trabalho.
148
Figura 0 1 : Grupos comunitários trabalhados
nas oficinas comunitárias , numerados
de
acordo com a tabela 01. Os informantes foram selecionados de acordo com a representatividade ou conhecimento da área e das atividades desenvolvidas pelos moradores/usuários da RESEX. A divisão foi estabelecida da seguinte forma: 149
Tabela 01: Divisão das comunidades nos grupos comunitários trabalhados. Rio
Arapiuns
Tapajós
Grupo
Comunidades
1
Vila Franca, Vila Anã, Raposa e São Miguel
2
Tucumã, Nova Sociedade, Aminã, Aningalzinho e Arapiranga
3
Nova Canaã e Porto Rico
4
Prainha do Maró e Vista Alegre
5
Mentae, Alto Mentae, Cachoeirinha, Vila Nova e Pascoal
6
Piquiá, Braço Grande e São Pedro
7
São José I, Atrocal e Nova Vista
8
Escrivão, Camarão e Pinhel
9
Samaúma, Andurú e Cametá
10
Nova Vista, Tucumatuba e Nuquini
11
São Tomé, Pau-da-Letra, Rosário e Boim
12
Santo Amaro, Jatequara, Jauarituba, Paraná-Pixuna e Jaca
13
Paricatuba, Surucuá, Muratuba, Vista Alegre do Muratuba e Mirixituba
14
Parauá, Retiro e Mangal
15
Cabeceira do Amorim, Pajurá e Limãotuba
16
Vila Amorim, Cabeceira do Ukena, Enseada Amorim e Mapirizinho
17
Vista Alegre do Capixauã, Suruacá, Novo Progresso e Capixauã
18
Solimões, Pedra Branca, Carão e Anumã
19
Maripá, Santi e Curipatá
Quanto a categorização do uso dos recursos, será dividido em cinco tópicos principais: •
Solo – abordado a agricultura, a criação de animais e a distribuição espacial das comunidades em relação a características e infraestrutura de uso coletivo e de acesso aos benefícios básicos como a educação e a saúde;
•
Extrativismo – tratado da área de uso dos recursos madeireiros e não madeireiros, destinados a comercialização ou uso para a subsistência, dificuldade ou benefícios gerados;
•
Caça – apresentado as áreas utilizadas para a atividade de caça, as espécies animais caçadas, os benefícios atribuídos e as dificuldades para conseguir o recurso; 150
•
Recursos pesqueiros – debatido sobre a atividade de pesca em suas várias formas, seja de alimentação ou comercialização, seja regras ou problemas enfrentados;
•
Recursos hídricos – tratado de como está sendo percebidas as mudanças nos corpos d’água, quais os motivos de tais mudanças e problemas ocasionados pela sazonalidade dos rios e lagos.
•
Uso público para a atividade de turismo - análise do uso público como finalidade o turismo com diagnóstico da situação atual, dificuldades apresentadas, as potencialidades para o turismo, visões das agências e da Secretaria de Turismo de Santarém e os desafios para a atividade na região. 4.1. Solo A população da RESEX, de acordo com os dados coletados está dividida em 68 comunidades, localizadas as margens dos rios Tapajós e Arapiuns e, em algumas, no interior da reserva. Segundo os dados obtidos em campo foi verificado que a principal forma de uso do solo na RESEX TapajósArapiuns se dá através da agricultura. Essa atividade também é a principal fonte de geração de renda para as famílias ribeirinhas. 4.1.1. Agricultura Existe uma diferença nas áreas de atividade de agricultura das comunidades nas duas calhas de rio. Nas comunidades da bacia do rio Arapiuns muitas famílias possuem uma área denominada “colônia” (63,4%). A colônia é uma área de plantio de culturas perenes e uma parte destinada a culturas sazonais (roçados). Normalmente essa área fica afastada do núcleo da comunidade. No rio Tapajós, as comunidades fazem seu plantio em áreas simples de roçado mais próximo as casas, poucas as famílias que possuem colônia (20,5%), prática que era bastante comum no passado. Identificado através de imagem de satélite, as áreas de modificação antrópica da vegetação na área da RESEX, pode ser identificada como possíveis áreas de agricultura, tanto roçados quanto colônias.
151
Figura 0 2 : Áreas de ação antrópicas identificadas na
RESE X Tapajós -Arapiuns.
Parte dessa área pode não está sendo mais utilizada atualmente, mas, como o sistema de plantio é feito por rodízio de capoeiras, as áreas encontram-se sem cobertura florestal primaria ou secundária. O roçado com 67,6% é o local principal de plantio comercial das famílias nas comunidades da RESEX, seguido do quintal com 26,0% e entre os criadores de gado 4,1% da atividade comercial vem do pasto. Algumas famílias fazem suas atividades de agricultura comercial na mata e nas margens de igarapé para o plantio de banana (1,2%, cada). No roçado, essas famílias fazem basicamente o plantio de mandioca e macaxeira para o processamento de farinha, feijão, cará, além do milho plantado para alimentação da família e também dos animais.
152
Tabela 02: Principais atividades agrícolas com assimilação por micro bacia, divisão de grupos comunitários trabalhados e quantidade de comunidade com número de produtores comerciais de cada região identificada. Rio
Grupos
N° de Principais Atividades comunidades
N° de produtores
Arapiuns/Tapajós
1
3
farinha de mandioca
31
Arapiuns/Tapajós
1
2
jerimum
7
Arapiuns/Tapajós
1
2
milho
5
Arapiuns/Tapajós
1
2
melancia
4
Arapiuns
2
5
farinha de mandioca
126
Arapiuns
2
2
milho
25
Arapiuns
2
2
macaxeira
18
Arapiuns
2
1
cará
10
Arapiuns
2
2
mel
9
Inambú
3
2
farinha de mandioca
35
Maró
4
2
farinha de mandioca
65
Maró
4
2
tapioca
4
Maró
4
2
milho
2
Mentae/Arapiuns
5
5
farinha de mandioca
92
Mentae/Arapiuns
5
3
banana
3
Mentae/Arapiuns
5
2
cacau
2
Mentae/Arapiuns
5
2
açaí
2
Arapiuns
6e7
6
farinha de mandioca
220
Arapiuns
6e7
4
milho
4
Arapiuns
6
2
pimenta do reino
2
Tapajós
8 a 14
23
farinha de mandioca
663
Tapajós
9, 10 e 14
7
milho
23
Tapajós
10 e 12
4
feijão
27
Tapajós
10 e 11
5
banana
9
Tapajós
11
1
laranja
20
Tapajós
11
1
cupuaçu
7
153
Amorim
15
2
farinha de mandioca
82
Amorim
16
1
cupuaçu
3
Amorim/Tapajós
16
4
farinha de mandioca
110
Amorim/Tapajós
16
3
milho
8
Capixauã/Tapajós
17
3
farinha de mandioca
111
Anumã/Tapajós
18
4
farinha de mandioca
106
Anumã/Tapajós
18
2
laranja
21
Anumã/Tapajós
18
1
banana
20
Anumã/Tapajós
18
1
maracujá
20
Maripá/Tapajós
19
1
farinha de mandioca
32
Cerca de 2.000 famílias da RESEX são agricultores comerciais, sendo a farinha o principal produto agrícola comercial e a base da alimentação familiar, seguido pela criação de gado bovino (cerca de 170 criadores). Muitos dos criadores de gado possuem apenas o “boi de carreto”, animal destinado ao transporte da produção familiar. As áreas de plantio, como os roçados, variam de tamanho, sendo o menor com 0,05 ha e o maior chegando a 6 ha e uma média de 1,72 e desvio padrão de 1,2. Porque embora a máxima e a mínima sejam tão diferentes foi muito comum encontrar áreas entre 1 e 2 ha. Tabela 03: Atividade agrícola comercial e percentual destinado a venda. Atividade
Arapiuns
Tapajós
Abacate
40%
50%
Abacaxi
-
50%
Açaí
90%
80%
Arroz
50%
10 - 50%
Banana
25 - 90%
2 - 99%
Batata
-
25%
Biju
-
80 - 90%
Café
95 - 100%
-
Cajú
80%
-
Caldo de cana
-
50%
Cará
10 - 60%
10 - 50%
Coco
-
20 - 80%
154
Cupuaçu
40%
10 - 80%
Curuá
-
100%
Farinha de mandioca
50 - 95%
20 - 95%
Feijão
50 - 80%
20 - 75%
Fruta pão
50%
-
Jerimum
50%
25 - 50%
Laranja
5 - 75%
40%
Macaxeira
50 - 80%
-
Mel
100%
-
Melancia
80%
50%
Milho
30 - 70%
5 a 100%
Muruci
80%
50%
Tangerina
-
50%
Tapioca
-
80 - 100%
Tucupi
-
90 - 100%
Pimenta do reino
100%
-
Urucum
50 - 100%
100%
Na agricultura, o percentual que é comercializado, pode variar de 2% (banana plantada no quintal) a 100% da produção, sendo a mínima praticamente atividade de subsistência, e a máxima não tirando nem o excedente para consumo. A média de comercialização da produção é de 60% sendo que o desvio padrão é de 0,25. O rendimento da produção pode variar de acordo com alguns fatores. O mais importante é a mão de obra, quando a família é grande a produção é grande, por possuir muita mão de obra para o trabalho no processamento da farinha. Outro fator é o tamanho da área de plantio, podendo variar até 6 ha como apresentado anteriormente. Na RESEX a variação do rendimento da produção de farinha variou de 20 reais a R$ 1.050,00 para o processamento mensal. Mas a média é de R$ 412,79 sendo que esse valor pode variar também de acordo com a “lei da oferta e procura”, pois o saco de farinha pode variar de R$ 30,00 a R$ 80,00 dependendo da disponibilidade do mercado e a estação climática. Outros produtos que apresentaram maior rendimento foram café e a pimenta do reino, para a comunidade de Piquiá e o cupuaçu na comunidade São Pedro.
155
Tabela 04: Produtos comercializados com referência de valores por unidade e por safra. Produtos
máx
Referência min Unid Med.
Maior safra Valor Unid. Med.
(R$)
Abacate
dúzia
Abacaxi
unid
Arroz
48,00
12 dúzias
-
-
300,00
safra
60,00
30 cachos
500,00
safra
-
-
70,00
milheiro
saco
cacho
Banana
mês
Batata
0,50 1,25
kg
Beiju
7,00 12,00
cento
Café
0,50 1,10
kg
2.200,00
2000kg
Cará
0,25 2,00
kg
600,00
safra
Coco
0,30 1,00
unid
90,00
300 unid
Cupuaçu
0,30 1,50
unid
1.000,00
milheiro
Farinha
30,00
80,00
1.050,00
mês
saco
Feijão
kg
720,00
80 kg
Fruta pão
unid
100,00
100 unid
Boi
kg
-
-
Jerimum
0,50 4,00
unid
500,00
50 kg
Laranja
8,00 15,00
cento
60,00
6 centos
Macaxeira
1,00 1,20
kg
700,00
safra
Melancia
2,00 10,00
unid
500,00
safra
Milho
0,60 1,00
kg
740,00
safra
Pimenta do reino
7,00
10,00
kg
4.900,00
700kg
Porco
5,00
8,00
kg
150,00
porco vivo
Tapioca (farinha e goma)
1,00
2,50
kg
45,00
30 kg
Tucupi
1,00
4,00
litro
80,00
40 litros
Urucum
1,70
2,50
kg
125,00
semana
O escoamento da produção pode ter até dez destinos diferentes dependendo da localização da comunidade. Santarém é o destino mais comum onde 43,5% da produção é escoada seguido pela venda direta na comunidade com 42,0%. Um destino rentável é a venda na vila de Alter do Chão, onde os produtores conseguem o preço máximo pelo saco de farinha (70 reais). Outros destinos menos expressivos são: Marreteiros (3,7%), a venda na região em outras comunidades (3,3%), Aveiro (2,2%), Itaituba, Parintins, EMATEC e colônia Jacamim (0,4%, cada).
156
Tabela 05: Local de destino das mercadorias comercializadas por atividade e calha de rio. Rio
Atividade Abacate
Santarém
Arroz
Nas comunidades vizinhas Santarém, comunidade e comunidades vizinhas
Café
Santarém
Cajú
Santarém
Cará
Comunidade e comunidades vizinhas
Cupuaçu Farinha de mandioca Feijão
Santarém e comunidade Santarém, marreteiros, comunidade e comunidades vizinhas Santarém e comunidades vizinhas
Fruta pão
Comunidade
Jerimum
Comunidade
Laranja
Comunidade
Macaxeira Mel Melancia
Tapajós
Comunidade
Açaí
Banana
Arapiuns
Local
Santarém e comunidade Santarém Nas comunidades vizinhas
Milho
Santarém, comunidade e comunidades vizinhas
Muruci
Santarém
Pimenta do reino
Santarém
Urucum
Santarém
Abacate
Santarém
Abacaxi
Santarém e comunidade
Açaí
Santarém e comunidade
Arroz
Comunidade
Banana
Santarém e comunidade
Batata
Comunidade
Biju
Santarém, Alter do Chão e comunidade
157
4.1.2. Infraestrutura A RESEX Tapajós-Arapiuns está na fase final do projeto de reforma agrária do INCRA, então poucas comunidades ainda não estão com suas habitações prontas. Como na comunidade Vista Alegre, onde o material foi entreguem, mas ainda não foram construídas (foto 01).
Foto 01: Material d e construção das habitações do p
rojeto de reforma a grári a .
Como o processo de implantação do projeto de reforma agrária foi feito por etapas, tem algumas comunidades que estão no processo de construção das habitações (foto 02) e outras comunidades ainda não receberam as casas, como as comunidades do rio Inambu (Nova Canaã, Porto Rico e Prainha do Maró)
Foto 02: As habitações do p
.
rojeto de reforma a grária do INCRA sendo construídas na
comunidade Nova Vista. Além das moradias e áreas de plantio, o uso do solo se dá através das instalações de infraestruturas das comunidades como, as sedes e galpões comunitários, igrejas, escolas, postos de saúde, campos de futebol e telefones públicos (tab.01). Outra instalação encontrada apenas na comunidade Maripá foi o chamado “chapéu de palha” (foto 03) que neste caso é o local destinado ao alojamento de turistas que vêem à comunidade para pernoitar quantos dias for acordado com os comunitários responsáveis pela atividade turística local.
158
Foto 03: O alojamento
de turista (chapéu de palha) da comunidade Maripá.
tem um número reduzido em relação ao tamanho das comunidades presentes na bacia do rio Arapiuns. Em quase todas as comunidades tem escolas, apenas Porto Rico não possui, mas devido a proximidade da comunidade Nova Canaã, as crianças se deslocam diariamente para estudar na comunidade vizinha. O acesso a saúde também é reduzido nas comunidades do rio Tapajós, apenas sete postos de saúde onde alguns se encontram fechados. Embora as facilidades de acesso aos centros urbanos de Santarém e Aveiro minimizem o problema. Mas, a educação é mais restrita que na bacia do rio Arapiuns, muitas comunidades não possuem escolas, fazendo com que as crianças e adolescentes saiam de suas residências e passem a morar com familiares em comunidades maiores ou até mesmo em Santarém. Outra alternativa se encontra no atendimento promovido pela Projeto Saúde & Alegria, com sede em Santarém, que em parceria com as prefeituras de Santarém, Belterra e Aveiro conta com o barco Abaré, uma unidade móvel de saúde, financiada pelo Terre des Hommes da Holanda, que atende aproximadamente 2.785 famílias ou 15.000 beneficiários de 73 comunidades nas duas margens do rio Tapajós, promovendo o acesso aos programas da atenção básica como pré-natal, PCCU, planejamento familiar, imunizações, saúde oral, saúde da criança, atendimentos médicos, pequenas cirurgias, atendimentos ambulatoriais e realizações de exames de rotina. Por este motivo o barco ganhou o nome de Abaré - sugerido pelos próprios comunitários – que, em tupi, significa o amigo cuidador. (SAÚDE & ALEGRIA, 2011) Esta iniciativa se tornou referência para o Ministério da Saúde, mas as comunidades ainda carecem de melhorias por parte do serviço público na questão da saúde, seja de forma preventiva ou emergencial. 159
As sedes e galpões comunitários são espaço destinado para reuniões, festas, trabalhos coletivos (puxirum) e encontros. As comunidades mais isoladas e as menores não possuem sede, diferente das maiores e mais próximas dos pólos urbanos, que possuem até mais de uma sede (foto 04).
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Foto 04: Sede comunitária de Anumã (a), e galpão de beneficiamento de óleo de andiroba de Porto Rico (b). Existem dois galpões de beneficiamento de óleo de andiroba na RESEX TapajósArapiuns, um na comunidade Porto Rico, localizado no rio Inambú e outro na comunidade Prainha do Maró, situado no rio Maró. Ambos não estão funcionando, sendo que o primeiro (foto 04-b) continua completo com todos os equipamentos desde sua instalação. O segundo galpão já não possui as ferramentas e equipamentos completos (foto 05).
Foto 05 : Galpão de beneficiamento de óleo de andiroba
em Prainha do Maró.
As igrejas são outra forma de uso e ocupação do solo. Algumas comunidades possuem mais de uma igreja, sendo que existem quatro diferentes religiões presentes dentro da RESEX. A religião católica 160
é a mais expressiva com 70% das igrejas construídas na área da reserva, seguida pela Igreja da Paz (46%), Assembléia de Deus (39%) e Igreja de Deus (12%). Na comunidade Tucumã, existem três igrejas e já tem mais uma em construção. Nas comunidades Nuquinim e Boim, a igreja está em reforma, mas já está sendo utilizada para as missas, reuniões e encontros da igreja.
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Foto 06: Igreja de Vila Amorim (a), Maripá (b) e Vista Alegre do Capixauã (c). Existem muitas escolas na RESEX (58), algumas de ensino médio (24) e até um curso de nível superior em parceria com faculdade particular de Santarém (comunidade Parauá), mas quase todas as comunidades que possuem escola possuem escola de ensino fundamental. As comunidades que não possuem escola utilizam as escolas das comunidades vizinhas, sendo que quando a escola só possui até o ensino fundamental, as crianças e jovens do ensino médio ou vão estudar na capital Santarém ou se mudam para comunidades maiores para concluir os estudos.
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Foto 07: Escolas localizadas nas comunidades Anumã (a) e Vila Franca (b). Postos de saúde são bem difíceis de encontrar nas comunidades, mas existem 12 postos espalhados pela RESEX, alguns existem e funcionam de forma precária como em Vila Franca. O de Vila Anã foi destruído na grande cheia de 2009 e até agora não foi reconstruído.
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Foto 0 8 : P osto de saúde da comunidade Anumã. Uma instalação coletiva que simboliza momentos festivos nas comunidades são os campos de futebol. Cerca de 30 comunidades possuem mais de um campo, e em quatro comunidades é dividido por gênero, campo masculino e campo feminino. Na comunidade de Nova Canaã é proibida a prática de esportes como o futebol, e por essa razão não existe campo, nem participam dos torneios. Os torneios são práticas comuns entre comunidades, realizados uma vez por ano em cada comunidade, os “donos da casa” organizam e recebem os times das comunidades vizinhas sendo sempre finalizado com uma festa de comemoração para o campeão do torneio. Os telefones públicos também são um problema nas comunidades da RESEX. Muitas das comunidades não possuem os chamados “orelhões”, e em muitas comunidades que possuem, não funcionam. Embora algumas comunidades que ficam mais próximas a Santarém já possuem telefonia móvel (celular) com dificuldades de sinal em alguns lugares, ou como na comunidade Santo Amaro que possui celular comunitário. Outras comunidades já possuem telefones residenciais (fixo), como em São Pedro que já existem oito residências com telefonia fixa. 4.1.3. Áreas Indígenas Outro assunto abordado nas oficinas comunitárias foi a questão indígena, pois, na região onde se localiza a RESEX Tapajós-Arapiuns existem muitos índios ressurgidos 1 de várias etnias e com processos de identificação de Terras Indígenas em várias fases de demarcação. Na área da RESEX são sete processos, com cinco grupos identificados e mapeados, apenas um ainda não protocolado na Funai, todos os outros com laudo antropológico e sem levantamento fundiário. No rio Arapiuns, dentro da RESEX foi encontrado primeiramente duas comunidades/ aldeias 2 (Braço Grande e Nova Vista) da etnia Arapiun, que possuem processo de delimitação juntamente com a etnia Cumaruara e Tupinamba de quatro comunidades/aldeias no lago do Amorim 1
Apesar de esse fenômeno dos índios resistentes ou ressurgidos, ser inicialmente mais ligado à região nordeste do país, hoje tem casos expressivos na Amazônia. Um dos exemplos fica no baixo rio Tapajós, onde até há pouco tempo se dizia não mais existirem índios e, hoje, há mais de seis mil indígenas, pertencentes há mais de cinco povos, lutando dinâmica e criativamente pela sua terra e reconhecimento étnico (Heck et al., 2005).
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Entende-se por comunidade/aldeia o agrupamento populacional que em parte ou na totalidade de seus moradores declaram-se ou são reconhecidos como indígenas.
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(Limãotuba, Cabeceira do Amorim, Brinco das Moças e Pajurá), localizados no rio Tapajós formando o primeiro grupo mapeado (fig. 00). Outro processo de comunidades/aldeias que fazem ligação entre os dois rios são os índios Tupaiu de Vista Alegre do Capixauã que fica no rio Tapajós, Aminã e Aningalzinho estão localizados no rio Arapiuns (grupo 2).
Figura 0 3 : Grupos de comunidades/aldeias mapeados na área da
RESEX .
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Ao sul da Reserva o grupo 3 possui dois pedidos de demarcação na mesma área feitos por duas etnias, os Mundurukus-Cara Preta e os Maitapu que ambas estão localizadas em três comunidades/aldeias: Pinhel, Camarão e Escrivão. O grupo 4 das comunidades/aldeias Jaca, Paraná-Pixuna, Jauarituba, Santo Amaro, Mirixituba, Vista Alegre e Muratuba, também possuem dois pedidos de demarcação da mesma etnia (Tupinamba).O único pedido que ainda não possui processo é o pedido do grupo 5 das etnias Arara Vermelha, Cobra Grande, Jaraqui, Arapiun e Tapajó que vivem no extremo norte da RESEX, nas comunidades/aldeias de Arapiranga, São Miguel e Nova Pedreira que fica na outra margem do Arapiuns, fora da RESEX. No total são 774 pessoas que se declaram e se reconhecem como índio em 31 comunidades/aldeias dentro dos limites da RESEX Tapajós-Arapiuns. 4.2. Extrativismo O extrativismo se baseia na exploração dos recursos vegetais da floresta, como extrativismo madeireiro e extrativismo não madeireiro. O mapa abaixo apresenta as áreas de coleta de madeira na RESEX TapajósArapiuns, com a intensidade de uso pelos moradores da UC. No total foram identificados 223.327 ha de área utilizada para extrativismo madeireiro, isso representa 33,1% da área da UC. Dessa área total de uso para o extrativismo madeireiro, a área de intensidade baixa foi a mais representativa com 15% da área da UC, totalizando 101.273 ha e 45,3% da área utilizada para a atividade. A atividade extrativista de madeira vai diminuindo ao modo que a intensidade de uso vai aumentando, sendo que a média baixa é a segunda maior intensidade com 12,13% (81.812 ha) da área da RESEX e 36,6% da área utilizada para a atividade. Com 31.690 ha da UC (4,7%), a média alta intensidade utiliza 14,2% da área que é destinada ao extrativismo madeireiro. E por fim a alta intensidade ocupa apenas 8.552 ha (1,3%) da RESEX e 3,8% da área de uso. Essa área que corresponde a atividade de extrativismo madeireiro acontece mais concentrada perto de igarapés e ramais localizados no interior da RESEX. Isso ocorre pela falta de transporte para retirada da madeira do interior da floresta até a área de seu processamento.
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Figura 03: Intensidade de uso madeireiro na RESEX Tapajós-Arapiuns. No extrativismo madeireiro foram encontrados alguns usos atribuídos a atividade que, ainda não está regulamentada por plano de manejo madeireiro, mas a atividade gera benefícios e está temporariamente autorizada com prévio licenciamento pelo órgão gestor da Unidade. Tabela 08: Percentual de benefícios atribuídos a atividade de extrativismo madeireiro em relação as citações.
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