A Escola Entre Mídias
A Escola Entre Mídias
A Escola Entre Mídias
Rio de Janeiro MultiRio • Empresa Municipal de Multimeios Ltda. 2011
Diretoria do Núcleo de Publicações e Impressos Regina Protasio Assessoria Editorial Denise das Chagas Leite Conteúdo e Edição Marinete D’Angelo
Marcos Machado Marcus Tavares Rafael Parente Rodolpho Motta Lima Revisão Cláudia Macedo Jorge Eduardo Machado Juliana Machado
Redação Erika Werneck Marinete D’Angelo
Gerência de Pesquisa e Documentação Lucia Mendes
Colaboradores (artigos)
Pesquisa Cyntia Motta Fernando Madeu Leonor Sampaio
Eduardo Monteiro Elizabete dos Santos Marci Dória Passos
Fotografia Alberto Jacob Filho Assessoria de Artes Gráficas e Animação Marcelo Salerno Gerência de Artes Gráficas Ana Cristina Lemos Projeto Gráfico e Editoração Aloysio Neves Ilustrações Carlos Benigno Produção Gráfica Maria Clara Costa
E 74 A escola entre mídias / MultiRio. – Rio de Janeiro: MultiRio, 2011. 200 p. : il. : 21 cm. (Coleção MultiRio na Escola ; n.1)
ISBN 978-85-60354-05-4
1.Mídia e educação. 2. Tecnologia educacional. 3. Mídia – Prática pedagógica. I. MultiRio - Empresa Municipal de Multimeios (Rio de Janeiro, RJ). II. Rio de Janeiro (RJ). Secretaria Municipal de Educação. III. Série.
CDU 316.774:37(08) CDD 371:33
Sumário Apresentação Prefácio Introdução Capítulo 1 – Educação e Comunicação: diálogo pedagógico A história da civilização escrita por meio da comunicação entre os homens .......................................................................................... 19 De volta ao passado .................................................................. 20 A narrativa digital interativa* ....................................................... 33 Comunicação e diálogo ................................................................... 37 Revisitando os conceitos de tempo e espaço ......................... 42 Midiaeducação: “ingredientes” para uma pedagogia criativa ............ 44 Midiaeducação e educomunicação: Semelhanças, diferenças e especificidades* .......................................................................... 50 Repensando a prática ................................................................ 52 O professor comunicador ............................................................ 56
Capítulo 2 – Um olhar midiaeducativo sobre o currículo A aprendizagem mediada ............................................................. 67 Conversando sobre competências comunicativas ..................... 70 Atravessando fronteiras ............................................................. 72 Necessário e precioso: o diálogo que falta* .............................. 74 Buscando conexões midiaeducativas ............................................... 78 Quando a tecnologia entra na escola ........................................... 85 Construindo um currículo transversal de comunicação .............. 90 Além das mídias... ..................................................................... 94
Capítulo 3 – Som e imagem: um encontro que dá asas à imaginação Produzindo recursos de aprendizagem ......................................... 101 Produção de áudio na escola .................................................... 103 Produção de vídeo na escola ................................................. 112 TV digital interativa: perspectivas para a educação* .................. 133 O mundo na ponta dos dedos ................................................... 136 O roteiro na construção de narrativas interativas* ..................... 140
Responsabilidade em relação à autoria .................................. 143 Privacidade: a chave do cofre* .............................................. 144 Conclusão .................................................................................. 146
A experiência da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro A Educopédia e a melhoria do processo de aprendizagem* .. 149
Anexo Passo a Passo Planejamento de produção ............................................................. 155
Fontes consultadas Minibiografia – Colaboradores ...................................................... 181 Minibiografia – Citados ................................................................ 183 Referências bibliográficas ......................................................... 191
*Texto de colaborador
Apresentação A tecnologia pode tornar-se uma grande aliada na inclusão digital e na ampliação do acesso dos nossos alunos ao conhecimento produzido pela humanidade. Nesse sentido, a Secretaria Municipal de Educação tem investido em laboratórios de informática, netbooks, banda larga, entre outras ações que ratificam o entendimento da parceria entre tecnologia e educação. Porém, não podemos destituir o professor de seu importante papel de mediador entre a tecnologia e a aprendizagem dos alunos. A Educopédia – plataforma de aulas digitais criadas pelos professores da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro – mostra-nos que a apropriação dos recursos digitais pode contribuir para aulas mais criativas, que dialoguem com a tecnologia de nosso tempo. Porém, o uso das mídias nas escolas requer um domínio e uma capacidade de identificação dos códigos inerentes a esses meios, o que pressupõe a apropriação desses códigos pelo professor. Com esse domínio, ele pode estabelecer as relações necessárias entre o currículo e a aprendizagem dos alunos, de modo a contemplar, inclusive, a leitura crítica dos meios de comunicação. A Secretaria Municipal de Educação e a MultiRio, entendendo que as tecnologias educacionais presentes no espaço escolar auxiliam na aprendizagem de nossos alunos, apresentam o livro A Escola Entre Mídias, destinado a todos os professores da Rede Municipal de Ensino.
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O livro apresenta conceitos fundamentais que orientam as práticas pedagógicas, refletindo sobre a história da civilização escrita, por meio da comunicação entre os homens. Explora os ingredientes para uma pedagogia criativa, o que permite um olhar midiaeducativo sobre o currículo. A Escola Entre Mídias oferece aos professores alguns elementos de planejamento de produção com diferentes mídias, centrando, sempre, na intermediação do professor, quando da utilização de novos recursos de aprendizagem. Finalmente, desejamos aos professores que este instrumento lhes permita ampliar e enriquecer sua cultura midiaeducativa.
Claudia Costin Secretária Municipal de Educação – SME
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Prefácio A escola do município do Rio de Janeiro vive um momento de profunda renovação, incluindo a tecnológica, quando já podemos assistir a professores apropriando-se de múltiplas ferramentas da informática, em favor da qualidade do ensino, leia-se: todas as crianças aprendendo bem, em uma escola atualizada e prazerosa. De alguma forma, essa constatação remete-nos aos primeiros anos da MultiRio, que teve em sua criação seu papel definido como um centro de pensamento, pesquisa e ação em tecnologias da comunicação e da informação, em favor da escola pública. Nunca é demais lembrar que os primeiros equipamentos de comunicação foram colocados em sala de aula pela MultiRio. Desde logo, definiam-se duas linhas fortes de ação: produção de materiais audiovisuais para reforço ao trabalho dos professores em sala de aula e capacitação de professores para uso desses materiais e para introdução de novos meios tecnológicos. Foi assim que chegaram às escolas jornais impressos, multikits das diferentes disciplinas em videocassete e as primeiras capacitações para professores e alunos no uso do microcomputador e da internet. Chegou-se até a simular, por meio de CDs, o acesso à internet – quando da impossibilidade de fazê-lo por questões de infraestrutura – , introduzindo professores e alunos nesse mundo até então ignorado pela escola. A MultiRio, naquela ocasião, realizou uma parceria em
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tecnologia educativa com escolas norte-americanas, cujo primeiro projeto estimulava a formação de uma rede de pesquisa e de troca de informações e conhecimentos entre as escolas – alunos e professores –, que teve início em novembro de 2000. Esse rápido retrospecto serve para assinalar que a trajetória da MultiRio foi construída com princípios e critérios que balizam, até hoje, a sua produção. O diálogo entre a MultiRio e as escolas, por meio de diferentes ações e eventos, facilitou, no decorrer destes anos, que fossem construídos referenciais de trabalho concretizados em um material educativo, cultural e de cidadania de qualidade reconhecida nos ambientes de educação e comunicação. Ao longo de 2010, foram dados os passos iniciais para a construção de uma plataforma midiática que permite atender diferentes públicos da comunidade escolar e da sociedade – suas crianças, seus jovens e suas famílias. Essa possibilidade amplia-se na medida em que conteúdos são trabalhados simultaneamente por diferentes narrativas midiáticas. Como seu público preferencial é formado por crianças e jovens da cidade do Rio de Janeiro, esse esforço de grupamento, via plataforma midiática, concentrou-se, inicialmente, no trabalho a ser desenvolvido no universo escolar.
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Em qualquer um dos produtos da MultiRio, está presente a intenção de tornálos acessíveis, agradáveis, convidativos à participação e instigantes à reflexão; eles buscam aprofundar conhecimentos e revelar a diversidade das diferentes linguagens das mídias. A metodologia de trabalho é orientada por alguns princípios: Identidade – A Empresa está entre as instituições pioneiras em colocar crianças e jovens como protagonistas e apresentadores de seus programas, buscando não apenas a identificação de seus pensamentos, seus sonhos e suas posturas, mas também a construção de uma identidade que se inicia, basicamente, nos primeiros anos de vida. Essa linha de trabalho permite compreender o mundo novo em que estão os jovens, favorecendo a aproximação de gerações e o desenvolvimento de pedagogias de trabalho cada vez mais diferenciadas. Herança cultural – Enfatiza-se a riqueza de uma herança cultural revisitada pelo pensamento infantojuvenil. O tratamento dessa questão implica, necessariamente, uma discussão de valores do presente e do passado, descobrindo a importância de sua permanência ao longo do tempo. Qualidade – Esse princípio é balizado por duas vertentes: a da ética e a da estética, sobretudo porque se trata de público-alvo em formação. No entendimento da Empresa, por exemplo, o audiovisual com dimensão
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ética necessita de que suas imagens e seus propósitos tenham sentido (valor). Isso reforça-se, na missão educativa, pela ambição de desenvolver o livre-arbítrio, a autonomia de escolha e a capacidade de análise. Acreditando que os olhos dos jovens devem ser seduzidos da mesma forma que seu espírito, reforça-se a importância da qualidade estética, que deve responder ao desejo de compreender, de oferecer prazer e de realizar sonhos. Fidedignidade da informação – Na construção do produto educativo, é fundamental que mensagens e informações sejam fidedignas e se traduzam nos vários recursos organizados, estruturados e apresentados em diversos suportes de informação e comunicação, respeitando o princípio da interdisciplinaridade. Linguagem – Muito do sucesso de uma produção audiovisual está na linguagem utilizada, que deve ser leve, instigante e próxima do dia a dia das crianças e dos jovens. Procura-se, assim, alimentar o desejo e a curiosidade sobre o mundo e as pessoas, partilhando conhecimentos. Democratização da informação e da cultura com acesso a todos – A preocupação de que toda a população infantojuvenil seja beneficiada pela criação, pelos espaços educativo-culturais da cidade e pelos meios de informação torna-se prioridade a se perseguir na política pública diante da fragilidade sociocultural, cujas primeiras vítimas são crianças e jovens.
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Ao destacarmos neste prefácio alguns passos históricos da Empresa e compartilharmos a construção de nossos princípios metodológicos de trabalho com os professores da Rede Municipal de Ensino, estamos registrando nosso reconhecimento ao trabalho que realizam, entregando este livro a fim de permitir-lhes desenvolver seu novo papel na construção do conhecimento. Finalmente, quando da construção do conhecimento, utilizando novas linguagens, aprende-se, por uma participação ativa, a reelaborar o conhecimento, a reinventá-lo, a recriá-lo coletivamente e a incorporá-lo. Desse modo, está reavaliando-se uma educação que se dava, apenas, por transmissão e recepção de informação, e não pela comunicação e pelo diálogo dos sujeitos envolvidos no processo. Professores e alunos são convidados, com esses novos instrumentos, a exercitar a criatividade, a elaborar as novas formas de lidar com a burocracia diária e a intensificar a prática da interdisciplinaridade.
Cleide Ramos Presidente da MultiRio
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Introdução As diversas linguagens utilizadas no mundo contemporâneo estão provocando um novo modo de ver e de pensar e, portanto, um “olhar” midiaeducativo sobre o universo da escola. O livro A Escola Entre Mídias convida o professor a viajar pela história da evolução das formas de comunicação, tendo como destino final os recentes aparatos tecnológicos que medeiam a comunicação entre as pessoas. Para isso, são abordados conceitos importantes que orientam as ações pedagógicas em uma época em que a informação chega, cada vez mais, pelo lado de fora do espaço escolar. Para apoiar o professor em seu ofício, a publicação oferece informações teórico-práticas sobre a aprendizagem mediada por meio da articulação da comunicação com os componentes curriculares, para que se possam criar, desenvolver e avaliar as atividades midiaeducativas, com ênfase na formação de professores e de alunos comunicadores-produtores. Aqui, o educador encontra, também, o passo a passo do planejamento da produção de vídeo, de áudio e de web, com modelos de formulários que podem ser adaptados a cada necessidade e especificidade. Tudo isso por meio de conceitos e vivências que transitam entre o teórico e o prático, apoiados na reflexão crítico-criativa.
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Nesse sentido, o livro apresenta textos que dialogam com o tema decorrentes da produção intelectual da MultiRio, com a colaboração de diferentes autores, além da indicação de multilinguagens – filmes, sites e trechos de poemas e de músicas –, do registro de experiências significativas dos professores da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro e muito mais. Ao final, são encontradas as referências biográficas dos colaboradores e de autores das citações, além da bibliografia utilizada. Contribuindo para a escola “derrubar” seus muros e conectar-se com o mundo de fora, A Escola Entre Mídias apresenta-se como uma leitura que informa e instiga para a apropriação das linguagens contemporâneas e dos recursos tecnológicos em um “fazer diferente” na sala de aula.
Marinete D´Angelo Especialista em Midiaeducação
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Educação e Comunicação: diálogo pedagógico
A história da civilização escrita por meio da comunicação entre os homens Contar histórias é uma prática bem antiga que, nos primeiros tempos da humanidade, era exercida em torno das fogueiras, quando as pessoas, reunidas, se sentavam para ouvir narrativas que traziam o passado ao presente, solidificando a transmissão de tradições, ritos, valores, saberes e sentimentos que davam identidade aos grupos. As histórias contadas eram, como são até hoje, repositórios das contribuições que o passado oferecia para o enriquecimento do presente e a construção do futuro. De lá para cá, sofisticaram-se as práticas do narrar. E o homem que contava histórias em volta do fogo metamorfoseou-se, ao longo dos tempos, nos poetas de todas as épocas, nos escritores de todas as pátrias, nos contos de carochinhas de todas as infâncias ou nas reminiscências dos pais que legam suas histórias aos filhos. Com os avanços tecnológicos, o perfil dos contadores de histórias mudou e outras linguagens foram incorporadas, 19
A Guerra do Fogo, de Jean-Jacques Annaud: dois grupos na pré-história disputam o fogo e, por meio dele, o poder.
http://1.bp.blogspot.com
Filme
até chegarmos ao estágio atual, em que os mediadores da comunicação ocupam espaço significativo no processo cultural contemporâneo. E hoje, mais do que nunca, esse despertar do imaginário que o ato de contar histórias provoca ganha canais de expressão como as câmeras embutidas nos celulares e a internet.
Desenho rupestre
Dos gritos primitivos às transmissões via satélite, vamos fazer uma viagem através do tempo.
De volta ao passado Milhares de anos passaram-se com os homens pré-históricos comunicando-se por meio de gestos e ruídos até o momento em que sentiram a necessidade de armazenar a produção do conhecimento acumulado e de fazê-lo chegar a mais pessoas. Foi nesse período, que vai até 10000 a.C., que o homem começou a se expressar por meio de sons e de imagens desenhadas nas paredes das cavernas. Ao nomear sentimentos, objetos, fenômenos da natureza, seres vivos e tudo o mais que existia ao seu redor, criou símbolos para representar a realidade. Esses desenhos-escrita são chamados de pictogramas, que significam descrição da imagem para servir de símbolo.
MAAAMUUUU 20
Em torno de 4000 a.C., com o homem já mais fixado em suas terras e desenvolvendo de maneira rudimentar a agricultura e a pecuária, surgiu a necessidade de controlar
Escrita cuneiforme (alemão: Keilschrift): feita com auxílio de glifos em formato de cunha
http://commons.wikimedia.org
http://www.britishmuseum.org
500 a 170 a.C. – Surgimento dos papiros, primeiros suportes portáteis e leves
http://commons.wikimedia.org
a produção e os negócios movidos a trocas. Foram os egípcios e os sumérios que introduziram as primeiras formas de escrita. Enquanto os egípcios desenvolveram os hieróglifos, uma escrita pictográfica que usava desenhos de figuras para formar palavras, os sumérios criaram a escrita cuneiforme, a primeira totalmente abstrata, cujos símbolos gráficos não representavam figuras. Com esse tipo de escrita, aos poucos, o homem marcava seus rastros
A comunicação humana evoluiu das primeiras formas de escrita até a escrita alfabética desenvolvida pelos fenícios, hebreus e gregos, por volta de 1200 a.C. Nessa época, os textos eram escritos à mão, em rolos de papiro. Mais tarde, o pergaminho, feito de pele de carneiro, de cabra ou de bezerro, substituiu o papiro. Com ele, a forma do livro mudou, aproximando-se mais do formato que conhecemos hoje. A fabricação do pergaminho espalhou-se pelo Ocidente, e esse foi o principal suporte da escrita antes da descoberta do papel, no século XIII. MAAAMUUUU
http://ka.wikipedia.org
Escrita com hieróglifos
neste planeta e registrava sua história para seus sucessores. Esse momento determinou o início da civilização.
O pergaminho, por ser mais sólido e mais maleável, é de mais fácil manuseio e de mais prático armazenamento. Nele, pode-se escrever em ambos os lados
Filme O Nome da Rosa, de Jean-Jacques Annaud: investigações ligadas ao arquivo de uma biblioteca dentro de uma abadia medieval.
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...que o Daily Courant, que circulou na Inglaterra, é considerado o primeiro jornal do mundo?
Você sabia… ...que uma edição de um jornal de hoje tem mais informações do que uma pessoa poderia receber em toda a sua vida no século XVII?
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Prensa de Gutenberg
grande interesse em aprender a ler. Afinal, um número crescente de pessoas passou a ter acesso a livros e periódicos. O aparecimento da imprensa serviu para a propagação das ideias e das transformações ocorridas em outras partes do mundo, a exemplo da França, onde o lema “liberdade, igualdade e fraternidade”, da Revolução Francesa, em 1789, foi amplamente divulgado.
Cristóvão Colombo
http://upload.wikimedia.org
Você sabia…
http://www.uh.edu
A Conquista do Paraíso, de Ridley Scott: a odisseia do navegante Cristóvão Colombo, marco da passagem da Idade Média para a Idade Moderna.
Montagem de Aloysio Neves
Filme
Mas a grande revolução no campo da comunicação ocorreu no século XV, em 1447, quando o alemão Johannes Gutenberg inventou a prensa. Com ela, veio a difusão do saber e da informação, o que provocou uma reviravolta na comunicação e operou profundas alterações na ordem do mundo. A prensa só foi possível graças ao sistema alfabético: as 26 letras combinadas eram potencialmente capazes de produzir um número infinito de palavras. A invenção de Gutenberg foi um marco na comunicação humana, transformando o processo de produzir, disseminar e guardar informações e provocando um
Por volta de 1450, publicações impressas aparecem na Europa
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Outra invenção que, mais tarde, mudaria a relação do homem com a representação da realidade e sua expressão artística deu-se no século XVI: a câmera obscura ou câmara escura. Utilizada nessa mesma época por artistas como um auxílio para os esboços nas pinturas, a câmera foi um passo importante para o surgimento da fotografia.
A primeira fotografia data do século XIX. Seu autor, o francês Joseph-Nicéphore Niépce, conseguiu o feito da janela de sua casa. Em 1829, ele tornou-se sócio de Louis Daguerre, com quem desenvolveu um processo apresentado à Academia Francesa de Ciências, em 1839, e que foi considerado a origem da fotografia ou do
daguerreótipo. Porém, Niépce já havia falecido em 1833. Diz a história que, enquanto isso, no Brasil, Hercules Florence, nascido na França, já havia desenvolvido, em 1832, o que ele chamou de Photografie. A fotografia veio, portanto, trazer ao homem a possibilidade de eternizar o momento com um simples clique.
“Fotografar é colocar a cabeça, o olho e o coração em um mesmo eixo.” Leonardo da Vinci descreveu o princípio da câmara escura no Codex Atlanticus: “Quando as imagens dos objetos iluminados penetram em um compartimento escuro através de um pequeno orifício e se projetam sobre um papel branco situado a uma certa distância desse orifício, veem-se, no papel, os objetos invertidos com as suas formas e cores próprias.”
http://www.dcl.umn.edu
Codex Atlanticus
Henry Cartier-Bresson
Primeira fotografia, século XIX
Câmara escura
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http://commons.wikimedia.org
Música Nós somos as cantoras [do rádio Levamos a vida a cantar De noite embalamos teu [sono De manhã nós vamos [te acordar Nós somos as cantoras [do rádio Nossas canções [cruzando o espaço azul Vão reunindo num [grande abraço Corações de Norte [a Sul (Cantoras do Rádio, de Lamartine Babo)
Filme A Era do Rádio, de Woody Allen: no tempo de ouro do rádio norte-americano, o filme conta histórias costuradas pelos programas radiofônicos da época.
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Telégrafo sem fio
Alguns anos mais tarde, no início da década de 1890, na Itália, Guglielmo Marconi desenvolveu estudos de transmissão de sinais codificados a distância, aproveitando-os em uma espécie de telégrafo sem fio. Em 1896, na Inglaterra, Marconi registrou uma patente para o sistema de comunicação sem fio, dando origem ao rádio. A possibilidade da propagação de som por ondas de rádio, associada às invenções do telefone, do fonógrafo, do microfone e do circuito elétrico sintonizado, permitiu a criação de um novo meio de comunicação: o rádio. A primeira transmissão radiofônica da voz humana, ocorrida nos EUA, foi ao ar em 1906.
Você sabia… ...que em 1925, quando esteve no Rio, Albert Einstein visitou as instalações da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro?
Rádio Nacional
Brasil, 20 de abril de 1923. Na sala de Física da antiga Escola Politécnica, no Largo de São Francisco, no Rio de Janeiro, em plena reunião da Academia Brasileira de Ciências, o antropólogo e educador Edgar RoquettePinto, o engenheiro Henrique Morize e outros membros da academia fundaram a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, emissora de cunho educativo, “com fins científicos e sociais”, como queria o seu fundador. A primeira transmissão da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, ainda experimental, realizou-se a 1o de maio daquele ano, com equipamento emprestado. Na ocasião, Roquette-Pinto disse: “A partir de agora, todos os lares espalhados pelo imenso território do Brasil receberão livremente o conforto moral da ciência e da arte pelo milagre das ondas misteriosas que transportam silenciosamente, no espaço, as harmonias”. Não demorou muito para que novas emissoras surgissem em todo o país. A partir da Revolução de 1930, o rádio ganhou impulso e expandiu-se com a ampliação das relações capitalistas, especialmente por meio da publicidade. Nas décadas de 1940 e 1950, o rádio firmou-se como veículo a ocupar lugar hegemônico. A Rádio Nacional, fundada em 12 de setembro de 1936, consagrou-se como a maior experiência de rádio já feita no Brasil.
Dorival Caymmi, na Rádio Nacional
Você sabia… ...que há registros de que, já em 1893, o padre e cientista brasileiro Roberto Landell teria realizado a primeira transmissão falada, sem fios, embora não tenha sido reconhecida oficialmente?
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“O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho.”
Você sabia…
Reprodução
...que o termo “sétima arte” foi cunhado pelo italiano Ricciotto Canudo no Manifesto das Sete Artes, de 1911, mas publicado apenas em 1923?
Logo da série televisiva Por Trás da Cena, produzida pela MultiRio
Música No escurinho do cinema Chupando drops de anis Longe de qualquer [problema Perto de um final feliz... (Flagra, de Roberto de Carvalho e Rita Lee)
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Orson Welles
Foi também no começo da década de 1890 que o cinema deu seus primeiros passos, graças à invenção de Thomas Alva Edison: o projetor iluminado, que fazia passar a luz através de uma transparência, lançando a imagem em uma tela refletora dentro de um aposento escurecido. Mas o cinema como nós conhecemos só foi possível graças à invenção do cinematógrafo pelos irmãos Lumière, no final do século XIX. Depois da primeira exibição pública e paga, realizada no subterrâneo de um café, em Paris, o cinema expandiu-se por toda a França, pela Europa e pelos Estados Unidos, por meio de cinegrafistas enviados pelos irmãos Lumière a vários países para captar imagens. O cinema é considerado a sétima arte porque integra
elementos básicos de outras artes: música (som), dança/ coreografia (movimento), pintura (cor), escultura (volume), teatro (representação) e literatura (palavra). Ele permitiu ao espectador entrar em contato com diferentes culturas e contextos históricos. Ao assistir a filmes, as pessoas podem projetar-se nos personagens e posicionar-se criticamente, refletindo sobre questões morais, ideológicas, políticas, culturais e outras que envolvem a sociedade.
Projetor e projeção na tela
Você sabia… ...que a primeira imagem transmitida em nosso país foi a de uma menina de 5 anos, fantasiada de indiazinha, anunciando: “está no ar a TV no Brasil”?
A partir de 1945, a TV passou a ser um veículo de entretenimento e de informação. A televisão chegou ao Brasil em 1950, quando o jornalista Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados, o grande conglomerado de empresas de mídia da época, inaugurou, em São Paulo, a TV Tupi, Canal 3. A programação, na época, foi
toda transmitida ao vivo, pois ainda não se dispunha de tecnologia capaz de gravar e editar programas.
Filme O Show de Truman, de Peter Weir: um homem desconhece que sua vida foi criada e produzida, como em um reality show, dentro de um gigantesco cenário.
A evolução da tecnologia trouxe ao Brasil, na década de 1990, a TV a cabo, com uma diversidade de canais que atendem diferentes segmentos da população. Hoje, TVs digitais ganham a preferência do público, e os aparelhos com a tecnologia 3D já se apresentam como a grande novidade no país. E, embora seja um fenômeno recente, a percepção de imagens tridimensionais, ou a estereoscopia, foi concebida por Sir Charles Wheatstone em 1838.
Música Sigo o anúncio e vejo Em formas de desejo Um sabonete Em formas de sorvete Acordo e durmo [na televisãã......ão! Reprodução
A invenção da televisão data de 1920 e é resultado da eletricidade, da fotografia, da cinematografia e da radiofonia. Mas foi em 1926 que se realizou a primeira demonstração pública de um sistema de televisão.
(Comunicação, de Edinho e Hélio Matheus)
Cena da série Detetives da Ciência, produzida pela MultiRio
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Filme 2001 – Uma Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick: a evolução do ser humano, da pré-história à era espacial.
Música Criar meu web site Fazer minha home-page Com quantos gigabytes Se faz uma jangada Um barco que veleje (Pela Internet, de Gilberto Gil)
“(...) vivemos hoje em dia uma destas épocas limítrofes na qual toda a antiga ordem das representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos de conhecimento e estilos de regulação social ainda pouco estabilizados.” Pierre Lévy
Quanto ao computador, seu surgimento no mundo envolve polêmica. Para uns, ele teria sido criado nos Estados Unidos, em 1937, com a finalidade de operar cálculos para a Marinha americana. Para outros, o primeiro computador foi o Electronic Numerical Integrator and Computer (ENIAC), desenvolvido em 1946 pelo Exército americano para fazer cálculos bélicos. Ocupava uma sala inteira, pesava 27 toneladas e usava cartões perfurados que forneciam as cifras aos cientistas. O sistema binário dos computadores atuais só veio a ser utilizado em 1954, junto
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com a noção de programação. Naquele ano, surgiu um novo modelo, que ocupava um espaço dez vezes menor – um quartinho pequeno – e com capacidade cem vezes maior. Na época, era considerado um minicomputador! Foi com os micros que tudo mudou, sem falar na internet. A internet é a rede das redes. Surgiu por acaso, em 1969, quando a Advanced Research and Project Agency, nos Estados Unidos, desenvolveu um sistema, com o nome de ArpaNet, capaz de trafegar informações sem ter um centro definido ou mesmo uma rota única, tornando-as quase indestrutíveis.
Inicialmente, a internet estava restrita ao círculo acadêmico, só tornando-se acessível a todos como a conhecemos hoje em 1989. Chegou ao Brasil com a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), uma operação acadêmica subordinada ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Seu acesso era restrito a professores, estudantes e funcionários de universidades e instituições de pesquisa. Somente em 1995, internautas passaram a acessar a internet de casa, do trabalho, de computadores públicos em cibercafés, de universidades e escolas, etc., para diferentes fins profissionais, comerciais, sociais, institucionais e de entretenimento. Um capítulo à parte quando se fala em tecnologias de informação e comunicação é o referente à chamada comunicação móvel, que se dá por meio de mídias como MP3 players, notebooks e telefones celulares, estes cada vez mais atraentes, pelos numerosos serviços e pelas cada vez mais sofisticadas aplicações multimídia, que fazem deles
instrumentos que vão muito além do telefone comum. Nessa mesma vertente, da portabilidade, os equipamentos eletrônicos também estão permitindo que em um só suporte, conhecido como e-book, possam ser armazenados e lidos milhares de livros digitais. A informática é, talvez, a área que mais influenciou o curso do século XX. Se hoje vivemos na Era da Informação, isso deve-se às novas facilidades de comunicação e ao avanço tecnológico na transmissão de dados, ambos impensáveis sem a evolução dos computadores.
Filme Matrix, dos irmãos Wachowski: rapaz tenta libertar a humanidade do comando da Matrix, que cria um mundo simulado.
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Evolução das Mídias
Prensa
Fotografia
Cinema
Rádio 1906
1926
A invenção da prensa favoreceu à demanda de circulação de informações. Em 1702, surgiu o primeiro jornal.
Possibilitou a captura do real por meio do registro da imagem.
Proporcionou a aplicação da técnica da imagem em movimento e o desenvolvimento da indústria do entretenimento.
Disseminou a informação transmitida oralmente a distância.
Revelou-se um poderoso meio de propaganda, informação e entretenimento.
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1839
1895
TV
Computador
Celular
Internet
Celular com vídeo e internet
1989
2000
2010
Possibilitou a realização de cálculos com extrema rapidez.
Tornou possível a comunicação telefônica independentemente de pontos fixos de instalação.
O surgimento da WWW (World Wide Web ou, simplesmente, Web) democratizou o acesso à internet, antes restrito ao círculo acadêmico.
Possibilitou a convergência midiática completa, com acesso às redes sociais, que surgiriam a partir de 2004.
Suporte digital e pessoal para acesso à internet, a jogos 3D, fotos, vídeos, jornais e revistas.
1946
1973
Tablet
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A distribuição da informação em redes e a possibilidade de navegação por hipertextos resultaram em uma rede viva de comunicação, conectando pessoas em qualquer lugar e em qualquer tempo. São as chamadas redes sociais, como Orkut, MySpace, Twitter e Facebook. Criados originalmente para ajudar as pessoas a estabelecer novas amizades e a manter relacionamentos, esses sites vêm firmando-se como ambientes de produção colaborativa, importantes nos segmentos educacionais, profissionais e acadêmicos.
Você sabia… ...que, nos últimos 30 anos, produziu-se um volume de informações novas maior do que nos cinco mil anos precedentes?
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A narrativa digital interativa Rodolpho Motta Lima
O que vão descobrir em nossos textos, não sabemos. Temos intenções, pretensões inúmeras, mas o que vão descobrir em nossos textos, não sabemos. (...)
Órfão, o texto aguarda alheia paternidade. Órfão, o autor considera entre o texto e o leitor – a desletrada solidão. Affonso Romano de Sant’Anna
De suas origens ancestrais, tão antigas quanto o próprio homem, até os dias de hoje, a forma de narrar, de contar histórias, vem ganhando novos formatos. E sabemos que isso tem a ver com as evoluções tecnológicas (ou deveríamos dizer “revoluções
tecnológicas”?) que, ao longo do tempo, o homem protagonizou. A cada momento, foram sendo acrescentados às narrativas novos “suportes expressivos”. Para ficarmos apenas na modernidade, as técnicas de filmagem que se foram incorporando ao mundo do
cinema, o jeito crescentemente inovador de “fazer televisão”, o surgimento da internet e seus recursos são alguns exemplos de contribuições que acabaram por dar novos rumos à coesão das narrativas. Hoje, mais do que nunca, uma mesma narrativa pode
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ser apresentada por diferentes suportes. Pode-se, por exemplo, conhecer uma história de Shakespeare em um livro tradicional ou em e-book, no texto original em inglês ou em uma tradução para a nossa língua; pode-se ouvir a narrativa em uma edição sonora; pode-se “vê-la e ouvi-la” em transposição para o cinema; pode-se, até, lê-la no formato de história em quadrinhos; e (por que não?) pode-se vir a ser participante dessa história em um game bem construído. É inegável que, desde sempre, uma das marcas das narrativas foi, direta ou indiretamente, a ideia do pertencimento, de sentir-se participante. Nas tardes de domingo, contam-se histórias esportivas que podem gerar a euforia dos vencedores
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e provocar a depressão dos vencidos; as novelas da TV fazem-nos viver vidas paralelas, em processo de catarse que nos identifica com situações ou personagens. Até nas tirinhas, narrativas-síntese carregadas de humor cáustico, é interessante verificar a reação dos leitores/ interlocutores, que muitas vezes se reconhecem na crítica que ali se formula. Por isso mesmo, essa sensação de “pertencimento” ao que se narra raramente se materializa em uma gargalhada, mas em um discreto sorrir, que, às vezes, é de si mesmos... Assim, a interatividade no processo narrativo não é coisa nova, não se inaugurou na era eletrônica. É inerente ao próprio processo, é da própria essência das narrativas.
A literatura universal, ao longo do tempo, sempre promoveu o envolvimento do leitor, pela força criativa dos grandes mestres. Os amantes da obra de Machado de Assis, por exemplo, conhecem a técnica narrativa desse excepcional autor, que, mesmo configurando a clássica unilateralidade de alguém que escrevia para ser lido por outrem, institui com seu leitor uma espécie de cumplicidade. Podemos aqui lembrar, dentro dessa teoria do “pertencimento”, Umberto Eco e sua Obra Aberta. Para ele, há, quando da criação artística – e quanto mais contemporânea a obra, mais verdadeira a afirmação –, um pacto que a arte ficcional permite seja fixado entre autor e leitor (melhor seria dizer “locutor” e “interlocutor”),
segundo o qual este último assume postura de cúmplice, interferindo na obra original com a sua “interpretação” e a ela atribuindo propósitos e soluções que independem dos buscados na origem pelo autor do texto. O poema Texto Futuro, de Affonso Romano de Sant’Anna, ilustra, no plano poético, as palavras de Eco. A adjetivação, no título do poema, remete à possibilidade de os textos, uma vez divulgados, propiciarem os mais diversos tipos de recepção por parte dos leitores, transformando-se, assim, em “novos textos”. Ao reconhecer a “orfandade” do poema, que, uma vez criado, passaria a aguardar uma “nova paternidade”, o poeta incorpora à sua concepção artística a
convicção de que não é mais possível atribuir-se a qualquer comunicação um viés unilateral de “autoria”. Bem de acordo também, aliás, com as teorias de Bakhtin, que referendam um discurso centrado na dialogia, na ambivalência, na polifonia, multidirecional, no qual o texto estaria a requerer uma interpretação participativa e, portanto, coletiva, social, de objetivos integradores. No âmbito cibernético, distinguem-se as narrativas consideradas “modernas” – em que se pode interagir com a máquina e, portanto, dentro da história, de diferentes maneiras, mas sem alterar-lhe o sentido básico – das narrativas “pósmodernas”, que permitem aos jogadores (autores) a liberdade de alterar conteúdos. Mesmo as
narrativas mais abertas ainda se acham contingenciadas por programas que, por sensíveis que se mostrem a alterações, ainda opõem limites às ações “libertárias” e “criativas” dos jogadores. O autor do programa de um game pode controlar o usuário, conferindo-lhe apenas um número limitado de possibilidades dentro da narrativa. Mas também pode abrir ao leitor/usuário um leque de opções que este poderá ordenar segundo suas conveniências. Pode até, quem sabe, permitir ao leitor alterações na obra para a continuidade de ações dos próximos usuários. É como certos exercícios redacionais, em que o professor propõe uma
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narrativa, dela apresentando o início, com cenário, personagens e complicação, para que os alunos concluam da forma que melhor lhes parecer. Parece haver consenso, portanto, de que o grau de interferência do autor da narrativa eletrônica está na razão inversa do grau de interatividade obtida, estando esta, assim, sujeita aos pontos de vista de cada componente no processo narrativo. Para o autor, ela consistiria na relativa liberdade de acesso concedida
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aos usuários para interferir na história; para os usuários, uma obra desse gênero será tanto mais interativa quanto maior venha a ser permitida a participação criativa, original, no sentido da interferência no desenvolvimento da obra. Em maior ou menor grau, a interatividade é a marca dos chats, dos games e dos debates eletrônicos no ambiente digital, em que as pessoas criam e trocam entre si significados, utilizando-se dessa linguagem de uso comum.
E, voltando a Bakhtin, nessas manifestações estão-se construindo narrativas de estrutura dialógica, criações coletivas nas quais predomina uma relação de continuidade em que as partes envolvidas vão dando significado ao discurso narrativo que se constrói. Um texto aberto, “órfão”, sempre provisório, eventual, de ocasião, a que só o contexto situacional vai conferindo sentido, por meio de sucessivas “paternidades”.
Comunicação e diálogo Expressar é manifestar opiniões, ideias, pensamentos e sentimentos por meio de uma relação dialógica entre locutor e interlocutor, em um processo dinâmico e circular. A pessoa, ao produzir informações, marca seu texto com suas origens sociais, seu núcleo familiar, suas experiências e as expectativas
do interlocutor. Sendo assim, a linguagem é interação social constituída pelos sentidos das palavras; pela situação; pelo contexto histórico, cultural, social e ideológico; pelas condições de produção; pela influência dos mediadores; e também pelos papéis sociais desempenhados pelos interlocutores.
Um galo sozinho não tece uma manhã Ele precisará sempre de outros galos. João Cabral de Melo Neto
A gente pensa uma coisa, acaba escrevendo outra e o leitor entende uma terceira coisa... e, enquanto se passa tudo isso, a coisa propriamente dita começa a desconfiar que não foi propriamente dita.
Comunicação Do latim communicatìo, ónis: ação de comunicar, de partilhar, de dividir, de tornar comum.
“(...) a educação é comunicação, é diálogo, na medida em que não é transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados.” Paulo Freire
Haja hoje para tanto ontem. Paulo Leminski
Mario Quintana
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www.sxc.hu
Segundo Pedro Demo, nunca a informação apenas informa, porque, sendo um construto social, tem a marca da validade social historicamente concretizada.
A comunicação vai muito além da transmissão de informações. Ela realiza-se por meio do diálogo, matéria-prima da comunicação, que ocorre na interação entre pessoas que compartilham algum campo de experiência ou repertório. Esse repertório é constituído por códigos e sinais, organizados pela linguagem, principal suporte da comunicação.
“O meio tecnológico moderno, em particular a invasão das mídias eletrônicas e o emprego de aparelhos eletrônicos na vida cotidiana, modela progressivamente um outro comportamento intelectual e afetivo.”
Para que a comunicação ocorra, é necessário que todos os participantes dominem os mesmos códigos e utilizem o mesmo canal. A informação produzida pelo locutor chega ao receptor carregada de intencionalidade, e sua interpretação estará condicionada ao domínio dos códigos da linguagem, ao conhecimento dos mediadores e à bagagem de
experiências e vivências de ambos. Essas condições tornam a interpretação da informação sempre pessoal. Em um processo circular, o interlocutor também influencia a produção da mensagem por meio do mecanismo da retroinformação ou feedback. Por isso, cada momento de comunicação é único e ocorre em condições próprias.
campo de experiência
campo de experiência SINAL
INTERLOCUTOR
RECEPTOR
Pierre Babin Modelo de comunicação
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Segundo Bakhtin, não há palavra que seja a primeira ou a última, e não há limites para o contexto dialógico (este perde-se em um passado e em um futuro ilimitados). Mesmo os sentidos passados, aqueles que nasceram do diálogo com os séculos passados, nunca estão estabilizados (encerrados, acabados de uma vez por todas). Sempre se modificarão (renovando-se) no desenrolar do subsequente, futuro.
A diversidade e a complexidade dos atuais mediadores da comunicação, como o computador e o celular, que, de um lado, contam com uma vasta oferta de aparatos e recursos e, de outro, possibilitam a expressão por meio de diferentes linguagens, estão enriquecendo o processo de comunicação, influenciando as relações entre pessoas e serviços e provocando outros modos de sentir, compreender e construir o conhecimento. Para se aventurar por novas formas
de expressão, é necessário conhecer os alicerces de sua construção. Para criar, informar, ousar, subverter padrões, é necessário apropriar-se dos elementos, dos códigos e da estrutura de cada linguagem e meio.
Para Raquel de Almeida Moraes, “interagir é mais do que simplesmente enviar e responder mensagens; é entender emissão e recepção como espaços recursivos, já que emissor e receptor passam a fazer parte de um processo de relações interligadas por fios dialógicos. Tais relações são sempre relações em processo, isto é, estão sempre se confrontando, fazem-se e desfazem-se, constroem-se e desconstroem-se, em jogos simultâneos, dinâmicos e dialógicos”. 39
“Nos dias atuais, a imagem do professor como herói solitário diante de sua turma, carente de informações, sem troca de opiniões, à espera de apoios que demoram a chegar, buscando por meios próprios – e com muitas dificuldades – inovações metodológicas e tecnológicas, incentivos e estímulos à aprendizagem de seus alunos, não tem mais lugar.” Cleide Ramos
O que mudou nestes novos tempos? Há décadas, para aprender, era necessário ir à escola, espaço físico secularmente destinado ao aprendizado. Nos dias de hoje, continua-se indo à escola, mas ela não é o único espaço reservado para a aprendizagem. Tudo isso em razão do surgimento, há não muito tempo, das tecnologias de informação e comunicação, que revolucionaram as noções de espaço e tempo. Surgiu uma nova dimensão para a troca de experiências entre as pessoas, o que diversificou as formas de sociabilidade.
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Uma pausa para refletir Os tempos mudaram. Quando, ainda criança, o aluno chega à escola, já traz de casa ensinamentos transmitidos por seus familiares, sejam eles pais, avós, tios, irmãos... Traz, também, a visão de mundo transmitida pela mídia, principalmente pela televisão. Por meio desse veículo, entra em contato com o mundo, vê histórias e emociona-se. Manuseia o controle remoto com agilidade e habilidade quase inatas. A tela o seduz, e sua relação com ela é prazerosa. Pouco mais adiante, as crianças entram em contato com o computador, que possibilita a interatividade, desperta a curiosidade e leva a descobertas; para elas, tudo é instigante e natural. Faz parte de seu mundo. O interessante é que ninguém as ensinou a usar esses meios; parece que as crianças de hoje já nascem sabendo usar botões, mouse, touchscreen; nascem digitalizadas. Seus professores são de uma geração que tem de aprender. É o que alguns especialistas chamam de “gap geracional”.
“O professor deve contribuir com a formação de um sujeito/espectador crítico, consciente de suas relações e interações com as diversas mídias, propiciando elementos para que ele, por meio do conhecimento, possa discernir e avaliar a informação que recebe.” Ricardo Petracca
“As tecnologias vêm potencializar a figura e o ofício do educador, que de mero retransmissor de saberes deverá converter-se em formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho, sistematizador de experiências, e memória viva de uma educação que, em lugar de ater-se ao passado, valoriza e possibilita o diálogo entre culturas e gerações.” Jesús Martín-Barbero
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Revisitando os conceitos de tempo e espaço As numerosas mudanças em todas as áreas do conhecimento humano levam a uma profunda modificação na conduta, nas atitudes, nos costumes e nas tendências em todo o mundo e, em particular, na educação. Tem-se a impressão, nos dias atuais, de que o tempo passa mais depressa. E de que não existe mais um tempo específico para cada situação. Todo tempo é tempo de tudo. Tudo ao mesmo tempo. Mas em que espaço? O real ou o virtual? Alteraram-se as noções de tempo e de espaço.
“A tecnologia é parte do acervo cultural de um povo e, como tal, se nutre das contribuições permanentes da comunidade social, em espaço, tempo e condições econômicas, políticas e sociais determinadas. A tecnologia existe como conhecimento acumulado; é produção constante e dinâmica.” Marcia Leite
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No momento em que navegam na internet, seja para buscar informação, para participar de uma atividade lúdica ou para comunicar-se com amigos, crianças e jovens não estão, propriamente, ausentes, quer estejamos nos referindo ao tempo ou ao espaço envolvido nessa interatividade. Fica cada vez mais imperceptível a distinção entre os mundos físico e virtual – o chamado ciberespaço. Há quem diga, inclusive, que, no ciberespaço, o tempo que se leva para percorrer uma determinada distância não depende do comprimento, mas da largura da “estrada” (a largura da banda de conexão). Isso porque os conceitos de tempo e espaço se alteram no mundo virtual. O ciberespaço é o espaço virtual pelo qual se deslocam as informações. Sua representação material são as redes de cabos e as ondas eletromagnéticas que cruzam o planeta.
Boa Ideia
Leia… Jornal da Cascudo O Jornal da Cascudo já era uma realidade na turma do Programa de Educação de Jovens e Adultos (PEJA) da professora Fátima Corrêa da Rocha, da E. M. Luís da Câmara Cascudo, da 8ª CRE. O jornal apresentava a síntese dos assuntos abordados nas aulas de Língua Portuguesa, mas sem a participação direta dos alunos na sua confecção. Observando o grande interesse de seus alunos pela informática, a professora planejou um passo além, propondo que a produção do jornal fosse
realizada pelos alunos, e no computador. Por meio do conhecimento do processo de produção de um jornal (redação, diagramação e divulgação), o objetivo da professora foi orientar seus alunos para o empreendedorismo, importante para a classe trabalhadora da EJA. Segundo a professora Fátima, “a proposta pedagógica desse projeto é transpor os limites da sala de aula e invadir o espaço social, proporcionando ao aluno da EJA recursos referentes ao estudo da língua e ao exercício de sua cidadania consciente”.
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“No processo de desenvolvimento do indivíduo, seu conhecimento e sua visão de mundo são construídos e constantemente reconstruídos através das ações que realiza e das interações estabelecidas com outras pessoas, bem como com os elementos de sua cultura.” Maria Cecília Martins
Música Start E começa mais um dia Cotidiano e tecnologia Eu posso ver em 3ª [dimensão Cinema preto e branco [pela televisão (Tecnologia, do grupo Astronauta)
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Midiaeducação: “ingredientes” para uma pedagogia criativa As redes de relações do cidadão do século XXI não se circunscrevem mais à sua vizinhança, ao seu bairro. O irreversível processo de globalização ampliou essas relações, ultrapassando os limites da geografia das cidades e dos países. Nesse contexto, educação, escola, família e instituições sociais não podem dar conta do presente se não estiverem, decididamente, atentas ao futuro.
O todo sem a parte não é todo, A parte sem o todo não é parte, Mas se a parte o faz todo, sendo parte, Não se diga que é parte, sendo todo. Gregório de Matos
A escola não pode distanciar-se do que acontece fora dela, até pelo volume de informações que cerca crianças e jovens. Com os aparatos tecnológicos cada vez mais acessíveis à maior parte da população dos centros urbanos, as pessoas estão agrupando-se em verdadeiras redes globais, lembrando a imagem das antigas rodas em torno das fogueiras. A informação está mais disponível do que nunca; circula pelas redes, pelo ciberespaço; está presente nos jornais, na TV, no rádio, na internet e nos celulares. Se há algumas décadas a produção e a distribuição da informação eram centralizadas, quando poucos falavam para muitos, como é o caso dos jornais, do rádio e da TV, com o surgimento da transmissão de dados, muitos falam para muitos, como é o caso da internet e da comunicação móvel. Nesta nova era, alunos trazem para a sala de aula questionamentos, dúvidas e até
“Entendendo-se a escola como espaço de socialização e de construção do conhecimento, fica evidente que ela não pode mais se fechar em seus muros.” Cleide Ramos
mesmo certezas em razão do que aprenderam na “escola” que existe além dos muros da escola. São as informações que chegam por meio da mídia e das tecnologias da informação. O professor sabe da importância desses meios na formação de crianças e jovens e sabe, também, que ele não pode ficar desconectado dessa realidade do mundo exterior. O desafio
é explorar diferentes situações comunicativas, já que agora não há detentores da informação e todos são potencialmente produtores e difusores de novas ideias. A pedagogia de ensino neste novo milênio não se restringe ao livro, ao caderno e ao saber do professor, abrindo, assim, perspectivas para outras maneiras de aprender e de ensinar. 45
“Midiaeducação é uma pedagogia inovadora que promove o estudo da mídia e da produção de conteúdos para os meios de comunicação como parte do projeto pedagógico. A abordagem midiaeducativa está focada na implementação de ações em comunidades educacionais para o planejamento, a implementação e a gestão de iniciativas que integrem comunicação e educação na sala de aula, com o desenvolvimento das competências e habilidades comunicativas para a formação de educandos com mais recursos para dialogar no mundo midiático; e no interior da escola, com a construção de sistemas e dispositivos que ampliem e fortaleçam as redes de comunicação.” Silvana Gontijo
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Neste contexto de mudanças significativas nos modos de compreender, influenciadas pela intensa presença das tecnologias da informação e da comunicação, o professor conta com a abordagem metodológica da midiaeducação. Ao reconhecer a escola como um ambiente privilegiado de comunicação, a midiaeducação oferece um embasamento
teórico-prático que apoia o professor no diagnóstico comunicativo de seus alunos; na identificação das competências que precisam ser desenvolvidas; na seleção de mídias; na articulação de conteúdos e de áreas do conhecimento; na integração com outros saberes; na elaboração, execução e avaliação de atividades midiaeducativas.
Midiaeducação ou mídia-educação? A MultiRio passou a adotar a grafia “midiaeducação” (sem hífen) após a reforma ortográfica. Segundo a reforma, o hífen desaparece quando se perde a noção da composição de outras duas palavras. Nesse contexto, insere-se a midiaeducação, como uma abordagem metodológica que considera a comunicação inerente ao processo educativo.
Carlos Fernando de Araujo Jr. e Áderson Guimarães Pereira propõem que os recursos tecnológicos utilizados como meios que veiculam conteúdos pedagógicos “passem a ser concebidos como instrumentos dialógicos de interação e mediação de saberes que confiram significado à comunicação”. Para eles, “abrem-se, assim, novos processos de aprendizagem que oferecem possibilidades de renovar ou mesmo romper com a práxis do modelo tradicional da educação”. A midiaeducação, portanto, apresenta ferramentas que ajudam no desafio de fazer diferente. É uma abordagem metodológica que promove o estudo dos meios de comunicação com, pela, para e entre as mídias, focado na implementação de ações em comunidades educacionais. É uma metodologia pedagógica que visa ao desenvolvimento das competências e das habilidades
comunicativas dos alunos, aproximando o mundo da escola do mundo dos educandos. Sua prática pedagógica propõe a articulação das competências comunicativas com os conteúdos curriculares, tendo como referência os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o Projeto Político-Pedagógico (PPP) da escola e a integração entre as disciplinas – inter e multidisciplinar.
Segundo Marinete D’Angelo, “midiaeducação é uma abordagem metodológica que integra os conceitos da educação e comunicação, instigando à reflexão sobre o momento em que vivemos, a ‘olhar’ de uma outra maneira o espaço da escola, a rever o seu papel de professor e a buscar diferentes ‘caminhos’ na sua prática pedagógica”.
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O desafio, segundo Philippe Perrenoud, “é saber se os professores vão apossar-se das tecnologias como um auxílio ao ensino, para dar aulas cada vez mais bem ilustradas por apresentações multimídia, ou para mudar de paradigma e concentrar-se na criação, na gestão e na regulação de situações de aprendizagem”.
O processo educacional deve “promover a ampliação da visão de mundo, e isso só acontece quando essa relação é mediatizada pelo diálogo. Não no monólogo daquele que, achando-se saber mais, deposita o conhecimento, como algo quantificável, mensurável, naquele que pensa saber menos ou nada. A atitude dialógica é, antes de tudo, uma atitude de amor, humildade e fé nos homens, no seu poder de fazer e de refazer, de criar e de recriar”. Paulo Freire
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Com essa maneira de atuar e de interagir, o professor permite ao aluno interpretar e expressar-se por meio das diferentes mídias e linguagens, além de dialogar com o mundo da comunicação no qual está inserido. Dessa forma, o professor potencializa a troca de saberes, enriquecendo as experiências, facilitando as aprendizagens e exercitando a capacidade crítica de seus alunos, para que eles percebam como as mensagens que circulam por diferentes canais estão interferindo na formação de suas ideias e seus valores. Além disso, essa maneira de atuar e interagir molda
Música Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia (Como uma Onda, de Nelson Motta)
comportamentos, desperta desejos e provoca anseios e expectativas nos alunos, o que lhes possibilita, de maneira independente e autônoma, fazer escolhas que atendam aos seus interesses e aos da sociedade em que vivem.
Boa Ideia
Acesse… Geografia em Foco! Investigando o perfil comunicativo da sua turma e o interesse pela informática, a professora Marli Vieira, da E. M. Dilermando Cruz, da 4ª CRE, elaborou um projeto em mídia digital e criou a comunidade Geografia em Foco, utilizando o site de relacionamento
social Orkut para fins pedagógicos. Por meio do Orkut, a professora promoveu discussões, debates e fóruns, desenvolvendo os conteúdos curriculares e integrando-os a outras disciplinas. Teve a possibilidade, também, de acompanhar o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de seus alunos, em uma linha de ação integrativa, interativa e participativa em um ambiente virtual.
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Midiaeducação e educomunicação Semelhanças, diferenças e especificidades Eduardo Monteiro As mudanças profundas em nosso modo de pensar e de fazer a comunicação estão reconfigurando rapidamente quase tudo em nossa sociedade. Isso tem um forte impacto sobre os modos de se aprender e, portanto, de se ensinar. O que nos tem obrigado a redefinir as funções da educação, da comunicação e, sobretudo, das relações entre esses campos cada vez mais convergentes, ora fazendo emergir algo novo e transdisciplinar, ora colidindo e deixando ver forças antagônicas. Dar nome a essa nova zona de convergência tem sido um problema para quem pratica e estuda essas novidades, mas aos
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poucos as bandeiras vão tendo cores definidas e demarcando territórios. É o caso de termos como “midiaeducação” e “educomunicação”, para citar duas das tendências de maior vigor atualmente. Seus significados vão se formando a partir da legitimação social de suas propostas e práticas. E, com o jogo ainda em aberto, seus protagonistas têm tempo e liberdade para influir na definição desses significados. Mas há diferenças em campo. A chamada midiaeducação tem agregado pessoas e ações mais preocupadas com a educação para, pelos e com os meios. Deriva de tendências como a
media education, oriunda dos países de língua inglesa nos anos 1970, por vezes marcada por preocupações com o conteúdo moral veiculado pela mídia. Ou da educación para los medios, típica dos países de língua espanhola e com ênfase na recepção ativa e crítica desses conteúdos. A partir dos anos 1990, evoluiu para uma visão que vincula o desenvolvimento da capacidade de participação do sujeito na sociedade à sua apropriação técnica e expressiva dos diferentes meios e linguagens. Em geral mais voltada para as práticas escolares, a midiaeducação ganhou
força nas discussões curriculares orientadas para a interdisciplinaridade, os projetos didáticos e os redesenhos curriculares. Já a educomunicação apresenta-se como uma perspectiva mais abrangente, porém de delimitação social mais circunscrita cultural e academicamente. Emerge como um campo com identidade muito associada aos movimentos de esquerda na América Latina, a partir de um histórico de convergência entre comunicação e educação no meio popular, desde os finais dos anos 1960 (inclusive com sustentação em Paulo Freire). Suas bases
teóricas agregam a visão de um receptor ativo e da dialogia como fator essencial da dinâmica cultural. Sua perspectiva não está tão centrada na educação escolar, mas na diversidade das interfaces sociais em que educação e comunicação se encontram. Seu foco é o desenvolvimento de ambientes interativos e propícios à pluralidade expressiva e à participação: ONGs, projetos sociais e ambientais em geral, ensino informal, entre uma variedade de práticas. A educomunicação caracteriza-se como um paradigma muito específico na convergência comunicação-educação,
fortemente identificado com o exercício e a ambientação do diálogo, da expressividade e da participação. E menos focado em aspectos tecnológicos, embora os discuta densamente. Delimita seu campo de estudo e intervenção em quatro áreas básicas: (1) educação para a comunicação; (2) mediação tecnológica na educação; (3) gestão comunicativa; (4) reflexão epistemológica. Essa delimitação, por sua vez, evidencia duas outras características diferenciais da educomunicação: a preocupação com a gestão de seus empreendimentos e o esforço concentrado na consolidação de sua base teórica.
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Repensando a prática A conexão entre educação e comunicação reconfigura as relações entre as pessoas que aprendem e o conhecimento, reconhecendo nos professores os mediadores desse processo.
Segundo Maria Cecília Martins, “as múltiplas dimensões do ser humano – intelectual, emocional, social, cultural, entre outras – precisam ser revitalizadas nas propostas educacionais atuais. Assume-se que uma visão integrada do ser humano e de suas ações implica a proposição de contextos nos quais os indivíduos se apercebam como múltiplos, complexos, dinâmicos, criativos e responsáveis”. 52
Educar com a mídia é trazer os meios de comunicação como apoio ao conteúdo, ampliando as possibilidades de entendimento e de construção de novos conhecimentos, novos valores e novas atitudes. Esse é o nível mais conhecido e praticado pelos professores: levar para a sala de aula filmes, vídeos, jornais e material de pesquisa sobre o conteúdo dado. Para um efetivo trabalho pedagógico, é importante desenvolver com os alunos a leitura das mensagens sonoras, visuais e audiovisuais.
Educar pela mídia é utilizar os meios de comunicação como mediadores do processo pedagógico. Por meio deles, os alunos entram em contato com os conteúdos sistematizados de cursos oferecidos pela TV, pelo rádio, em materiais impressos ou via internet.
Segundo Cleide Ramos, “professores e alunos estarão tão mais capacitados a enfrentar o que de inumano as máquinas têm a oferecer quanto melhor as conhecerem, quanto mais competentes estejam na tarefa de colocá-las a serviço da aprendizagem”.
Conforme destaca Fernando Hernández, “propostas educacionais baseadas no uso de várias mídias e recursos tecnológicos são fundamentais para ajudar o aluno a compreender a realidade, a examinar os fenômenos que o rodeiam de uma maneira questionadora, contribuindo não só diante das experiências cotidianas, mas também diante de outros problemas e realidades”.
Educar para a mídia é desenvolver as competências comunicativas de expressão e produção de mensagens por meio da apropriação, de forma crítica, das diferentes mídias, de suas linguagens e estéticas, desenvolvendo as competências de análise e interpretação. Esse nível instiga o professor ao entendimento de que as informações que circulam pelas TVs, pelas rádios e pela imprensa são formadoras de valores e de conceitos e devem ser incorporadas pela escola. Esse terceiro nível oferece oportunidades pedagógicas para que o aluno possa, também, vivenciar os modos como esses meios são produzidos. Educar entre mídias é formar para a leitura de informações que extrapolam os limites da mídia original. Dessa forma, as mensagens estão sendo ampliadas, reelaboradas e transportadas para as diversas plataformas de comunicação
que se multiplicam e se integram a cada dia. É nesse cenário que estão sendo formados crianças e jovens, em um contexto no qual os diversos conteúdos são acessados e percebidos de maneira simultânea, através dos diferentes meios, portáteis ou não. Educar para, com, pela e entre mídias, portanto, requer um planejamento de atividades e vivências que possibilitem ao aluno desenvolver a percepção consciente, a capacidade de interpretar e refletir sobre as mensagens produzidas, utilizando, para isso, sons e imagens, além da palavra escrita e falada. Dessa forma, o professor contribui para que as mídias possam ser compreendidas, criticadas e utilizadas de forma abrangente, criativa, ética e responsável, pois, apesar de parecer que a criança já nasce sabendo usar o computador, ela só aprende mesmo a discernir a partir do diálogo.
Segundo Pedro Demo, “as novas tecnologias representam um modo de romper e continuar a história. Sempre houve chance de aprendizagem de qualidade (Sócrates, que não tinha novas tecnologias à disposição, aprendia maravilhosamente, há mais de dois mil anos). Naquilo que chamamos ‘novas epistemologias’, o que poderia mudar é a noção de diálogo sempre aberto feito sobre conhecimento como dinâmica aberta, nunca final (como na Wikipedia). Cessa, pois, o argumento de autoridade. O professor também se torna figura ‘discutível’, que tem de manejar a autoridade do argumento”.
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para desenvolver as competências comunicativas
com trazer os meios de comunicação
pela utilizar os meios de comunicação
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entre formar para a leitura de informações que extrapolam os limites da mídia original
Boa Ideia
de fotos antigas nos álbuns das famílias, em revistas, livros, jornais e acervo do colégio, as crianças foram resgatando a história. Na segunda etapa do projeto, os alunos produziram suas próprias imagens, registrando o dia a dia escolar e contribuindo para a ressignificação do presente.
Clique… Memória ao Alcance das Mãos! Para ajudar seus alunos a realizar uma atividade escolar durante o período das férias, a professora Marize de Almeida Malizia, da E. M. J. I. Maurício Cardoso, da 3ª CRE, sugeriu trabalhar a expressão dos sentimentos por meio da linguagem visual, utilizando, para isso, a fotografia. A partir da pesquisa
Segundo a professora Marize, “o projeto fez a diferença para a vida das crianças. O trabalho foi criativo, proporcionou muitas possibilidades de um desenvolvimento significativo de uma educação crítica. A alfabetização visual deu condição aos alunos de conhecer melhor a sociedade e interpretar sua cultura”.
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Segundo Maria Luiza Belloni, a educação para a mídia contribui para “formar um receptor crítico, ativo, inteligente, capaz de se distanciar da mensagem midiática e exercer sobre ela seu poder de análise e crítica”. De acordo com a professora, a educação para a mídia é essencial no desenvolvimento de práticas educacionais democratizadoras, inclusive para a formação de professores mais atualizada e em acordo com as aspirações e os modos de ser e de aprender das novas gerações. Ou seja, professores também precisam ser educados para, com e pela mídia.
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O professor comunicador O ensinar, o aprender e o empregar a linguagem passam necessariamente pelo professor, mediador no processo de construção do conhecimento. Por meio do diálogo, entendido como a forma mais elementar de comunicação, a pessoa é capaz de se inter-relacionar com o passado, o presente e o futuro. É necessário que se tenha abertura e espírito investigativo para ver, diante da rapidez com que tudo acontece, que novos elementos estão entrando em cena. Não se trata de negar o que já foi vivido e experimentado; isso servirá de base. Afinal, a experiência de vida, o acúmulo das vivências e das informações servem de balizamentos e ajudam a fazer escolhas, cujo acerto também dependerá da atenção que se der ao que está acontecendo ao redor.
Um dos grandes desafios que são lançados é ajudar a tornar a informação significativa para os alunos, escolher as informações verdadeiramente importantes entre tantas possibilidades, compreendê-las de forma cada vez mais abrangente e profunda e torná-las parte do referencial do professor. A midiaeducação pode apoiá-lo nas escolhas e estratégias, de modo a que ele se aproprie das linguagens contemporâneas e das várias possibilidades de produção de mensagens para aproximar o aluno dos objetos de aprendizagem.
AULA 01
Segundo Maria Cecília Martins, “os desafios de hoje requerem um repensar da educação, diversificando os recursos utilizados, oferecendo novas alternativas para os indivíduos interagirem e se expressarem. Repensar a educação envolve diversificar as formas de agir e de aprender, considerando a cultura e os meios de expressão que a permeiam”.
Nesse novo contexto, assume grande importância o projeto pedagógico da escola. Ao estabelecer seus objetivos, suas metas e a concepção de aprendizagem de ensino que considera válida, o professor planeja, de certo modo, a utilização dos meios tecnológicos mais adequados ao alcance dessas expectativas. Com a chegada da era digital, o professor passa a ser um “mediador” de processos. A ele caberá a tarefa de fazer com que os próprios alunos, naturalmente, percebam que os meios de comunicação em geral, como a televisão, o computador e o rádio, não são apenas formas de entretenimento, mas fazem parte do próprio processo educativo, que não está restrito à sala de aula. Esses meios interferem nas transformações sociais. Ao utilizar a potencialidade da midiaeducação, pode-se fazer uso da informática, das
linguagens e dos meios disponíveis como instrumentos poderosos que de fato são quando explorados em sua plenitude. Com eles, é possível simular, praticar ou vivenciar situações, dinamizando o processo educacional e atraindo os alunos de modo natural.
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Pense nisto Uma adequada utilização pedagógica das novas tecnologias requer uma mudança nos modelos metodológicos.
Na opinião de Pedro Demo, “a educação pode esperar inúmeras contribuições importantes por parte das tecnologias da informação e comunicação, à medida que apresenta, precisamente, este desafio: aprimorar processos de formação e aprendizagem”. Para ele, “todo processo de aprendizagem requer a condição de sujeito participativo, envolvido, motivado, na posição ativa de desconstrução e reconstrução de conhecimento e informação, jamais passiva, consumista, submissa”.
É possível aproveitar ao máximo as potencialidades comunicacionais e pedagógicas dos recursos técnicos, como criação de materiais e estratégias, metodologias e produção de conhecimento. O professor pode valer-se das mais variadas mídias existentes, desde as mais tradicionais, como a TV e o rádio, até as mais recentes, como os sistemas
de comunicação móvel e os livros digitais. Além disso, cabe à escola o desenvolvimento das competências comunicativas de seus alunos para que eles possam atuar plenamente em uma sociedade que exige deles criticidade, criatividade, responsabilidade social e flexibilidade para acompanhar as permanentes transformações.
Segundo Bernardo Toro, são sete as competências dos Códigos da Modernidade: 1. Domínio da leitura e da escrita. 2. Capacidade de fazer cálculos e resolver problemas. 3. Capacidade de analisar, sintetizar e interpretar dados, fatos e situações.
4. Capacidade de compreender e atuar em seu entorno social. 5. Capacidade de receber criticamente os meios de comunicação.
6. Capacidade de localizar, acessar e usar melhor a informação acumulada.
7. Capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo. 58
Boa Ideia
Para atuar como canal de expressão e favorecer a integração, a professora desenvolveu o projeto Novela de Rádio, utilizando somente o microfone da escola e os altofalantes do pátio.
Sintonize... Novela de Rádio! Observando seus alunos, a professora Diana Sobreira de Barros, da E. M. Cte. Arnaldo Varella, da 6ª CRE, percebeu que eles apresentavam dificuldades em se expressar oralmente; tinham muitos questionamentos sobre a fase que estavam vivendo – a adolescência – e se agrupavam em tribos, o que dificultava as trocas e ações colaborativas.
Para a professora Diana, “além de ter sido um projeto inovador dentro da escola, chamou a atenção dos diferentes grupos que lá existem e os mesclou em um único grupo: os adolescentes. Durante a apresentação da Novela de Rádio, não existiram estudiosos, rebeldes, roqueiros, emos, patricinhas, nerds, etc., e sim adolescentes que passam por problemas semelhantes, precisam expressar seus sentimentos e buscam soluções. Creio que o valor do meu projeto está aí: na inclusão”. Projeto apresentado no curso Por Dentro dos Meios.
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Nas palavras do professor José Manuel Moran, “aprenderemos mais integrando os conteúdos e as habilidades; a lógica e o afeto; o sensorial, o emocional e o racional; o passado e o presente. Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos. Aprendemos quando relacionamos, estabelecemos vínculos, laços entre o que estava solto, caótico, disperso, integrando-o em um novo contexto, dando-lhe significado, encontrando um novo sentido. Aprendemos mais facilmente quando percebemos o objetivo, a utilidade de algo, quando nos traz vantagens perceptíveis”.
Segundo Cleide Ramos, “cabe aos responsáveis pela educação transformar os novos recursos da mídia, da informação, em recursos civilizatórios, integradores e educativos. Qualquer proposta educativa não pode se eximir da tarefa integrativa que articule escola e cidade, entre comunicação no interior da escola e para fora dela”.
Segundo Philippe Perrenoud, são dez as Novas Competências para Ensinar: 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem. 2. Administrar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação.
4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho.
5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da administração escolar. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão. 10. Administrar a própria formação.
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Boa Ideia
Leia… Livro Digital: Natal
o Livro Digital, o que incluiu a criação e a ilustração coletiva da história, o uso de ferramentas digitais e, também, a montagem de um presépio (tema do livro) no pátio do colégio.
A professora Ângela Drummond, da E. M. Pe. José Maurício Tomás, da 5ª CRE, percebeu que seus alunos eram muito espontâneos e que a maioria gostava de se expressar pela oralidade. Porém, apresentavam dificuldade em trabalhar em grupo, não tinham interesse pela leitura e demonstravam baixa autoestima. Para desenvolver as habilidades de leitura e interpretação, os conteúdos de pontuação e as normas de convivência, sua turma produziu
Segundo a professora Ângela, “o projeto envolveu leitura, criatividade, sentimento, Natal. Houve união, satisfação, organização na turma, e isso, para mim, já foi uma grande vitória! Acredito que eles sabem que são capazes de realizar muito mais!”.
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Uma pausa para refletir
Cena 1 – Interior/Noite
Série: De Cabeça pra Baixo
Quarto de Rafael e Rodolpho
Episódio: Hora do jantar
Rafael está assistindo a um canal de música na televisão ao mesmo tempo que seu irmão, Rodolpho, joga videogame.
Ficção ou realidade
?
Cena 2 – Interior/Noite Quarto de Carol Carol está no computador pesquisando para a escola e, ao mesmo tempo, fala no celular com a amiga. Cena 3 – Interior/Noite Sala de jantar/cozinha americana No sofá, pai, fazendo as contas no laptop, conversa sobre as despesas do mês com a esposa, que está preparando o jantar.
Pai: Q uerida, a conta de telefone este mês está um absurdo, precisamos criar alguns critérios de uso para as crianças. Mãe: Imagino, eles estão sempre com “urgência” para falar com algum colega. E esse assunto “urgente” leva horassssss. Pai: É, um dos critérios que precisamos discutir é o da “urgência” (leve sorriso). Mãe: (gritando) Meninos, venham jantar!!!!!!
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Cena 4 – Interior/Noite Quarto de Rafael e Rodolpho Rafael, escutando música bem alto, e Rodolpho, concentrado no jogo, não escutam a mãe.
Prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.
Cena 5 – Interior/Noite Quarto de Carol
Raul Seixas
Carol, conversando com a amiga no celular e teclando no computador, também não escuta a mãe. Cena 6 – Interior/Noite Sala de jantar/cozinha americana Pai continua no computador, enquanto mãe murmura.
Mãe: Está vendo? Eles não me escutam mais. Mãe pega o celular e liga para a filha, que está no quarto ao lado. Mãe: E stá vendo? O celular da Carol está ocupado. Ela não para de falar. Mãe agora disca para o filho Rodolpho.
“A sala de aula é um ambiente privilegiado de comunicação, e as competências comunicativas são ferramentas de trabalho do professor.” Marinete D`Angelo
Mãe: R odolpho, venha jantar e chame seus irmãos. Rápido!
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Um olhar midiaeducativo sobre o currículo
A aprendizagem mediada A escola, por ser um ambiente privilegiado de comunicação, deve propiciar aos estudantes práticas pedagógicas que estejam conectadas com a vida cotidiana e as experiências vitais e significativas deles. Estar preparado para a vida, hoje, significa saber informar-se, comunicar-se, argumentar, compreender e agir; enfrentar problemas de diferentes naturezas; participar socialmente, de forma prática e solidária; ser capaz de elaborar críticas ou propostas; e, especialmente, adquirir uma atitude de permanente aprendizado. Para isso, compete ao professor criar oportunidades que desenvolvam as competências comunicativas de seus alunos, preparando-os
para interagir com os recursos tecnológicos de comunicação e informação presentes no nosso dia a dia.
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Filme Nenhum a Menos, de Zhang Yimou: uma menina de 13 anos substitui seu professor e é orientada a não deixar nenhum aluno abandonar a escola.
O Núcleo Curricular Básico Multieducação, ou simplesmente Multieducação, é a proposta curricular da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro.
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Nesse cenário, insere-se a midiaeducação – um convite ao educador a rever o “lugar” da escola e do professor, instigando-o a um “outro olhar” sobre o currículo, em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), o Núcleo Curricular Básico Multieducação e o Projeto
Político-Pedagógico da escola. Isso ajuda a deixar evidentes as conexões existentes entre as diferentes áreas do conhecimento e provoca a articulação dessas áreas com outros saberes. Significa, em consequência, (re)construir na escola uma maneira diferente de planejar e ensinar.
Projeto Político-Pedagógico O Projeto Político-Pedagógico define as ações educativas e as características necessárias às escolas para que cumpram seus propósitos e sua intencionalidade. É um objeto de política educacional que visa à construção da autonomia e à implantação de relações democráticas nas escolas, voltadas para a formação do cidadão participativo, responsável, crítico e criativo.
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) Os Parâmetros Curriculares Nacionais, elaborados pelo governo federal, são referências de qualidade para o Ensino Fundamental e para o Ensino Médio do país. São documentos que auxiliam a organização curricular de uma escola. O objetivo dos PCNs é servir de ponto de partida para o trabalho docente, norteando as atividades realizadas na sala de aula e orientando o professor em relação aos principais conteúdos a serem tratados no cotidiano escolar. Existem temas importantes cujo estudo exige uma abordagem particularmente ampla e diversificada, que não pode ficar restrita a uma única disciplina. Alguns deles foram inseridos nos PCNs como temas transversais, os quais são vivenciados pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e pelos educadores.
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habilidade
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c
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Embora, à primeira vista, os termos “competência” e “habilidade” possam parecer sinônimos, na visão de muitos educadores, não significam exatamente a mesma coisa. Para eles, a competência é uma capacidade básica, de ordem geral, que envolve conjunto de saberes; e a habilidade, uma capacidade específica, mais relacionada ao saber fazer, sem a qual ninguém poderá ser considerado competente. Assim, por exemplo, a capacidade de realizar bem uma determinada tarefa é uma questão de competência, que envolve uma série de habilidades específicas, como entender o que se quer, saber fazer e solucionar problemas.
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“(...) utilizar as diferentes linguagens – verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação.” PCNs – Objetivos do Ensino Fundamental
Conversando sobre competências comunicativas
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Segundo Philippe Perrenoud, “competência é a faculdade de mobilizar um conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações, etc.) para solucionar com pertinência e eficácia uma série de situações”.
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Nos dias de hoje, em razão da globalização, determinadas competências são fundamentais para o exercício da cidadania, como constam dos Parâmetros Curriculares Nacionais, ao indicarem como objetivos do Ensino Fundamental “saber utilizar as diferentes linguagens como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, (...) atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação”, bem como “saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos”. Daí a importância de se criarem oportunidades pedagógicas para desenvolver as competências comunicativas dos estudantes, que vão muito além do conhecimento do vocabulário e da gramática para formar sentenças gramaticalmente corretas no aprendizado formal da expressão verbal literária. Nesse sentido, a prática pedagógica deve incorporar e sistematizar as diversas linguagens presentes
na sociedade contemporânea: sonora, visual e audiovisual. Por meio dos vídeos domésticos postados na web, por exemplo, as pessoas estão produzindo e consumindo informações, revelando e desvelando o mundo que veem, vivem ou desejam. É esse ambiente virtual da web, também conhecido como ciberespaço, que está provocando novos modelos de comunicação e onde acontecem as trocas, as colaborações, as simulações, as experimentações, os encontros e os desencontros. São diferentes modos de compreender e se relacionar com a informação; de conhecer, reconhecer e elaborar novas sínteses; de estabelecer relações,
juntar as partes, formar um novo todo; de envolver razão e emoção; de mover-se entre o imaginário, o virtual e o real. Vivemos, portanto, em uma época de transição da lógica da distribuição, centrada na produção e na transmissão vertical da informação, para a lógica da comunicação interativa, na qual a mensagem é um campo vasto para intervenções e mudanças, abrindo várias possibilidades de conexões e articulações. É nesse contexto que as competências comunicativas estão sendo revisitadas, conforme descritas nos PCNs do Ensino Fundamental.
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Maneiro!
Curti!
Irado!
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Atravessando fronteiras Nesse movimento de renovação pelo qual os sistemas de ensino estão passando, saber ler, compreender, interpretar e produzir mensagens não está mais restrito ao domínio das linguagens. Em todas as disciplinas, o aluno precisa ser competente para ler a realidade, inferir informações, analisar dados, formular hipóteses, construir argumentos, elaborar novas propostas. Portanto, é por meio do desenvolvimento das competências comunicativas que o interlocutor se apropria das estruturas e dos códigos das diferentes linguagens, aproximando-se do real e das representações simbólicas. Nesse sentido, é importante que os professores incorporem em suas metodologias as práticas de comunicação, visando à valorização dos processos de construção do conhecimento. Para um trabalho comunicativo eficiente, é necessário que o professor conheça como seus alunos se comunicam: vocabulário, meios, contextos, interlocutores, suportes... Construindo um inventário no início do ano, observando, investigando e anotando os interesses e as tendências comunicativas de sua turma, o professor poderá eleger os meios mais eficientes de comunicação com o grupo e os melhores caminhos para aproximá-lo dos objetos de estudo. Além disso, poderá criar oportunidades pedagógicas para que seus alunos desenvolvam as competências e habilidades comunicativas de que precisam, visando a uma melhor atuação no mundo contemporâneo.
Boa Ideia
Clique… Informática nas Aulas de Matemática A professora Marcia Roberto da Silva, da E. M. Jenny Gomes, da 1ª CRE, considera que o ensino da Matemática deva contribuir para o desenvolvimento da confiança em seus alunos, na medida em que possibilita que sejam capazes de conhecer e enfrentar desafios. Seus alunos apontam a televisão como um meio de comunicação que faz parte do seu cotidiano, consideram que a linguagem do vídeo é mais dinâmica e dizem-se, também, muito atraídos pelo computador. A partir dessas informações, a professora elaborou atividades que contam com a exibição da série televisiva Procura Acha, da MultiRio, e de sites matemáticos que
coloquem o aluno como o centro da aprendizagem, levando em consideração seu papel ativo no ato de aprender. Os sites escolhidos, por meio da resolução dos problemas propostos, representam um forte aliado na construção do conhecimento, ao permitirem que o aluno descubra, invente, compreenda, antecipe, retroaja, construa noções de possibilidades, estabeleça relações entre objetos e acontecimentos, realize abstrações e, dessa forma, progrida na estruturação do conhecimento. Segundo Marcia, “os recursos tecnológicos são instrumentos que estão ao nosso alcance para a criação de novas condições do trabalho escolar e, consequentemente, para a produção coletiva do conhecimento”.
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Necessário e precioso: o diálogo que falta Marcus Tavares Com a TV ligada, crianças e jovens escutam músicas no MP3, teclam no MSN, navegam e pesquisam na internet e estudam. Estudam, sim (quando querem, é verdade). Outros ainda encontram espaço para os jogos eletrônicos e as inúmeras possibilidades dos celulares e das redes sociais. Quem convive com eles sabe: na maioria das vezes, tudo isso é praticado ao mesmo tempo. Conectado aos meios de comunicação – dos analógicos aos digitais –, esse público aprende, articula e interage com informações, conhecimentos e valores de forma mais livre, objetiva e
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direta em comparação com as gerações anteriores. É em torno dessa mídia que crianças e jovens do século XXI criam, portanto, laços e espaços de identificação, de socialização e de pertencimento. A forma de se vestirem e de se pentearem acompanha a moda dos ídolos da TV, do cinema e dos personagens dos jogos eletrônicos. Boa parte dos acessórios usados faz referência aos personagens dos desenhos animados. Os triângulos amorosos e as intrigas dos protagonistas das novelas, as séries enlatadas da TV fechada e as sagas dos blockbusters americanos são temas
recorrentes das conversas infantis e juvenis, que se ampliam nas páginas do Orkut e, hoje também, do Facebook. Os apelidos, as piadas e as brincadeiras, muitas vezes inspirados na publicidade, ganham ares virtuais com o crescimento do cyberbullying. As informações dos telejornais ratificam a realidade e servem de parâmetro para posicionamentos nem sempre éticos. A questão da privacidade é (res)significada a cada novo vídeo caseiro postado no YouTube. Não quero dizer que as crianças são seres passivos, robôs que reproduzem o que veem e escutam da mídia. Mas não há
como negar que as identidades das crianças estão cada vez mais vinculadas a uma imagem, ao modo de ser, à aparência pessoal que sofre influência de um poderoso sistema de comunicação onipresente e instantâneo. A identidade, parece-me, não está mais ligada a uma qualidade moral e/ou psicológica. A mídia apresenta, portanto, a identidade como um construto que pode ser constantemente modificado. Construto móvel, fluido, instável, transitório. Nesse cenário, arrisco dizer que não há mais o certo ou o errado, não há limites. Paira no ar uma sensação de que tudo é permitido e aceitável. Crianças que ainda brincam de bonecas, da noite para o dia, tornam-se mães. Meninas andam de pulseiras que estimulam práticas sexuais.
Jovens rapazes fazem fila para comprar bebidas alcoólicas para a balada da noite. Adolescentes fazem uso da violência para resolver seus problemas. A vida íntima transforma-se em 140 toques no Twitter ou em vídeos no YouTube. Tudo normal? Absolutamente. Mas são, sim, fatos cada vez mais corriqueiros. E, de tanta banalidade, tornam-se coletivamente aceitos e não mais questionados. Parece que vivemos em uma sociedade anestesiada e conformada com o que vem acontecendo. Assim, qual o problema de crianças e jovens assistirem às novelas impróprias para sua idade? Serem foco da propaganda? Terem tudo à mão? Possuírem contas no Orkut? Passarem horas navegando na internet? Namorarem como gente grande? Ganharem os últimos modelos
de celulares? Andarem na moda? Serem a moda? Serem cada vez menos crianças e jovens? Qual é o problema de a mídia tratar crianças e jovens como gente grande? Jornais e revistas estimularem a vaidade, o consumismo, o individualismo absoluto e precoce? As propagandas valorizarem o ter? O ter ser mais importante do que o ser? As notícias serem empacotadas instantaneamente a cada novo segundo, sem promover muita reflexão? A “verdade” ser “construída” pelo personagem da novela das nove, pelo filme ou pela última versão do game? Estou cada vez mais convencido de que, se não houver uma mediação entre a mídia e as/ os crianças/jovens por parte dos adultos (nesse caso, responsáveis
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e/ou escola), estaremos diante de problematizações de ordem ética e de valores que impactam as relações humanas. Afinal, caberá à mídia a constituição de conhecimentos e valores de nossas crianças e nossos jovens? De filhos e alunos? Acredito que a constatação que faço não seja mais nenhuma grande novidade para boa parte de professores e famílias. Mas, infelizmente, continua sendo ignorada. E, na minha opinião, porque escola e família não sabem o que fazer e como fazer essa mediação. É verdade: não existe uma cartilha, um manual de instruções, uma receita de bolo de como promover uma mediação. E que bom que seja assim. A questão não é simplesmente (embora muitas vezes seja necessário) vigiar a
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navegação da criança, optar por um filtro na web, trocar de canal, tirar a TV do quarto, não presentear o filho com o último modelo do celular ou limitar o número de horas por dia na internet. Digo isso pois proibir a interação da criança com a mídia, nos dias de hoje, não é uma saída sensata, nem em casa nem na escola. E, mesmo que queiramos – pais e professores –, a linguagem da mídia ultrapassa qualquer barreira, qualquer muro. A mediação à qual estou me referindo passa pelo diálogo. Pelo diálogo entre professor e aluno. Pelo diálogo entre família e filho. E, sim, pelo diálogo entre escola/família e a mídia. Afinal, não podemos e não devemos tirar a responsabilidade daqueles que criam, escrevem, roteirizam, publicam...
Mas esse diálogo não é tão simples assim, reconheço. Ele requer intencionalidade. Dialogar com as crianças e os jovens sobre o que consomem da mídia e discutir com eles é um precioso e necessário exercício, mas é preciso ir além. É preciso refletir com eles sobre tal consumo: por que e para quê? A chamada leitura crítica da mídia não pode mais ser vista e entendida como um posicionamento da escola (ou da família) contrário e de negação a tudo o que vem da mídia. Além disso, é preciso entender que essa mediação envolve, cada vez mais, dois campos de estudo: o da Educação e o da Comunicação. No mínimo, pois outras áreas, como a Sociologia, a Psicologia, a Arte, também têm muito a contribuir. Promover interações entre esses campos
favorece e qualifica ainda mais a mediação. A chamada leitura crítica da mídia passa exatamente por aí. Pela reflexão e oferta de uma infinidade de outras referências, outros códigos e valores, com o objetivo de promover um amadurecimento e um questionamento no consumo de bens, serviços, informações e saberes.
mídia. Mídia com suas imagens, seus sons, espetáculos, sua sedução, narração, objetividade, clareza e instantaneidade. É mais do que isso: é ignorar o que acontece no cotidiano da casa e da sala de aula. É excluir a possibilidade de crianças e jovens terem um olhar reflexivo para a sua própria cultura, sociedade e vida.
Ignorar, portanto, a cultura da mídia é ignorar a vida das crianças e dos jovens das pequenas, médias ou grandes cidades do país. É ignorar o entendimento do mundo que crianças e jovens têm a partir dos meios de comunicação. É ignorar que os processos da escola – reflexão, sistematização de valores, acumulação de conhecimentos e informações – sofrem cada vez mais a concorrência e a atração da
É desperdiçar outra (nova) forma pedagógica de sistematização dos conhecimentos e valores. Afinal, qual é o papel da escola diante de novas gerações conectadas com aparatos tecnológicos e eletrônicos? Diante de gerações que estabelecem outras estratégias para se chegar ao conhecimento? Diante de gerações que entendem o mundo através das quatro telas (cinema, televisão, computador e celular)? Diante de gerações que pensam
e raciocinam de forma diferente? Ou será que isso não é papel da escola? Sem dúvida alguma, todo esse processo de diálogo, de mediação, precisa ser trabalhado tanto pela escola quanto pela família. Creio que, talvez, o ponto de partida sejam os cursos de formação de professores. É preciso que esse tema esteja presente na origem da formação dos profissionais. As universidades já possuem um bom e elevado número de pesquisas e estudos sobre a interface entre mídia, crianças e jovens. É preciso não desperdiçar esse conhecimento e aplicá-lo, socializá-lo entre os mestres de hoje e de amanhã.
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Buscando conexões midiaeducativas A escola é o ambiente privilegiado onde toda a comunidade está comprometida com o saber. E, nesse processo, compete ao professor propor situações que desafiem o aluno a saber mais. Para que o aluno possa compreender determinada situação, ele precisa buscar caminhos, usar diferentes fontes de informações. Para essa busca, é preciso ter clareza de objetivos, saber fazer escolhas com critério e tomar decisões que possam representar o consenso do grupo. Esses
procedimentos também estão presentes quando se trabalha com projetos. No decorrer do desenvolvimento de um projeto, cabe ao professor adotar uma postura de observação e de análise sobre as necessidades conceituais que surgem. Quando o professor elabora projetos para criar situações, ele possibilita que os alunos desenvolvam seus próprios projetos e aprendam fazendo, para que reconheçam a própria autoria da produção. É o que
alguns pedagogos chamam de questões de investigação, que impulsionam os alunos a contextualizar conceitos conhecidos e a descobrir outros que surgem durante o processo de produção. O professor pode desenvolver estratégias pedagógicas que possibilitem o aprendizado tanto no sentido da abrangência – as diversas áreas curriculares e as tecnologias que se articulam – como no sentido do aprofundamento de conceitos – particularidades de uma área/disciplina.
Para saber mais Segundo os padrões globais de gerenciamento do Instituto de Gerenciamento de Projetos, projeto é um esforço temporário para alcançar um objetivo específico, definido e claro. É executado por pessoas; geralmente, tem limitações de recursos e é planejado,
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executado e controlado em uma sequência de atividades relacionadas. Sua intencionalidade é representada por um conjunto de ações consideradas necessárias, a fim de transformar uma situação problemática em desejada.
Nesse processo de aprendizagem, o professor intervém para que os conceitos utilizados na realização do projeto sejam adequadamente compreendidos, sistematizados e formalizados pelos alunos. Ao mesmo tempo, aos alunos deve ser dada a possibilidade de reconhecer sua autoria no projeto. Eles precisam dessa mediação do professor que ouve, questiona e orienta. Dessa forma, o professor propicia aos alunos a construção do próprio conhecimento. Os alunos, em grupos, serão levados a selecionar informações significativas, a tomar decisões e a administrar confrontos de ideias. Por meio do trabalho com projetos, desenvolvem competências interpessoais que os ajudam a aprender de forma colaborativa com seus colegas.
O trabalho em grupo contempla as diferenças, e, por meio delas, cria-se o diálogo. O convívio com as diferenças contribui para o despertar da curiosidade – condição essencial para se levar adiante uma pesquisa. No trabalho com projetos, os alunos aprendem experimentando, produzindo, pesquisando, levantando hipóteses, questionando e aplicando conceitos transmitidos. Essa prática valoriza suas experiências de vida, suas histórias, seu contexto social e suas preferências.
Filme Entre os Muros da Escola, de Laurent Cantet: no microcosmo de uma sala de aula, as diferenças culturais e sociais são reveladas.
Como afirma Rosa Maria Bueno Fischer, “formar, ensinar, orientar são ações que transbordam de seus lugares tradicionais, sendo assumidas explicitamente pelos media, através de uma infinidade de modalidades enunciativas (...) a mídia não é apenas um entretenimento, fonte de lazer ou de informação, mas um lugar de aprendizado sobre pessoas, vivências, conceitos, condutas e modelos. Além disso, a mídia é um lugar no qual circulam os discursos considerados ‘verdadeiros’ em nossa sociedade, dando voz a várias instituições e sujeitos, assim como criando um discurso próprio”. 79
Segundo Philippe Perrenoud, “os projetos envolvem uma dinâmica própria, constituída pela elaboração, execução, análise, reformulação e novas elaborações do projeto. É um processo contínuo vivenciado por todos os que estão nele envolvidos”.
Nessa forma de aprender, o professor mantém-se atento ao desenvolvimento dos alunos, para que possa exercer o seu papel de mediador pedagógico: orienta-os e desafia-os a encontrar sentido no que estão aprendendo e a desenvolver o projeto sabendo como lidar com os conceitos. Ao integrar os conteúdos e os diversos meios de comunicação, criase uma situação de grupo em que as relações e as interações se intensificam, estabelecendo parcerias nas quais uns aprendem com os outros. O trabalho com projetos renova-se a cada prática, porque o projeto envolve pesquisa a partir de uma situação-
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-problema. Para que o aluno possa resolvê-la, ele precisa recorrer a diversas fontes de informações, como livros, revistas, jornais, publicações na internet, contato por e-mail e softwares de educação. O projeto subentende previsão de futuro, abertura para mudanças, autonomia na tomada de decisões e flexibilidade, devendo ser continuamente revisto, refletido e reelaborado durante a sua realização. Para que um projeto de pesquisa seja desenvolvido com base na integração das mídias, o professor deve conhecer suas especificidades e implicações no processo de aprendizagem do aluno. É preciso saber, também, com que tecnologias ele poderá trabalhar na escola, para que possa orientar o seu uso de forma adequada no projeto desenvolvido pelos alunos.
Com essa prática, as experiências revelam autenticidade, criatividade, criticidade e transparência. Os conteúdos trabalhados ganham vida, significado, porque não são vistos isoladamente, mas integrados a um conjunto conectado, interligado a outras disciplinas.
Em um trabalho de grupo, de formação de um time, professor e alunos, cada qual com seus talentos, relacionam-se em direção a uma meta comum. Trabalhar em grupo contribui para despertar interesses e desenvolver competências, o que é uma das exigências da sociedade atual.
Essa visão é fundamental para lidar com a complexidade dos problemas existentes ao redor do grupo e com os desafios impostos pelos avanços tecnológicos. Afinal, o desenvolvimento da tecnologia é vertiginoso, e ela é cada vez mais utilizada na escola.
Os alunos aprendem no processo de produzir, de levantar dúvidas, de pesquisar e de criar relações que incentivam novas buscas, descobertas, compreensões e reconstruções de conhecimento. Essa forma de aprender contextualizada permite ao aluno relacionar aspectos presentes da vida pessoal, social e cultural, mobilizando as competências cognitivas e emocionais já adquiridas para novas possibilidades de reconstrução do conhecimento. Por não ser solitário, esse tipo de trabalho exige uma postura colaborativa.
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A elaboração de um projeto em parceria entre alunos e professores é dinâmica e articula as informações já conhecidas – fundamentadas nas experiências do passado e do presente – com as previstas, em função de outros aspectos que surgirão no decorrer da sua execução.
Nesse processo, o aluno pode ressignificar estratégias e conceitos utilizados na solução da situação-problema que originou o projeto e, com isso, ampliar o seu universo de aprendizagem, além de ver desenvolvidas competências cada vez mais necessárias no seu cotidiano.
Para Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida, três aspectos são fundamentais para que se possam compreender as contribuições ao ensino e à aprendizagem propiciadas pela prática pedagógica com projetos, também conhecida como pedagogia de projetos: a explicitação daquilo que se deseja atingir com o projeto e as ações que se pretende realizar – o registro de intenções, processos em realização e produções; a integração das tecnologias e mídias, explorando suas características constitutivas, de modo a incorporá-las ao desenvolvimento de ações para agregar efetivos avanços; e os conceitos relacionados com distintas áreas de conhecimento, que são mobilizados no projeto para produzir novos conhecimentos relacionados com a problemática em estudo.
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O surgimento de uma situação contextualizada da aprendizagem intensifica a interdisciplinaridade. Essa forma de aprender, na qual se mesclam conteúdos das várias áreas do conhecimento e mídias as mais diversas, remete ao conceito de midiaeducação.
O planejamento midiaeducativo é importante como instrumento de apoio ao trabalho do professor, porque possibilita a observação dos processos de comunicação dos alunos, a análise das dificuldades nos conteúdos, o mapeamento dos recursos humanos e materiais disponíveis e o estudo das formas de realização. É um valioso recurso de planejamento que ajuda a:
Quanto à escolha de atividades midiaeducativas, é importante levar em conta as competências comunicativas de seus alunos. Para isso, o professor deve investigar as formas de expressão mais frequentes dos alunos, os meios mais utilizados, seus interlocutores, as escolhas (o que gostam de ver, ouvir, ler, acessar), seus hábitos e suas atitudes enquanto na comunicação com o outro e entre as mídias.
• definir aonde se quer chegar;
Após esse diagnóstico, o professor estará apto a identificar as facilidades e as dificuldades de comunicação de seus alunos e a colocá-las a serviço da aprendizagem.
• fazer escolhas com mais segurança (meios, conteúdo, atividades...); • arregimentar os recursos necessários no momento previsto; • administrar o tempo de realização das atividades; • organizar as tarefas; • avaliar os resultados.
Para o desenvolvimento de uma prática pedagógica integradora, que abranja diversos aspectos, como competências, habilidades e tecnologias disponíveis nas escolas, é necessário ter um outro olhar sobre o currículo escolar.
Segundo Marinete D’Angelo, “a interdisciplinaridade orienta para o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação de atividades pedagógicas que tenham como foco a articulação das competências comunicativas com as curriculares”.
Segundo Fernando Hernández, “a organização do currículo por projetos de trabalho é uma forma de organizar os conhecimentos curriculares numa abordagem multidisciplinar (...) os projetos gerados refletem um alto grau de autoconsciência e de sinificatividade nos alunos com respeito à própria aprendizagem e resultam em novos sentidos, significados e referências da informação apresentada”.
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Boa Ideia
Entenda... O Consumo e o Consumismo Claudio Diniz é professor do Ciep Ministro Marcos Freire, da 10a CRE, e percebeu que seus alunos, a exemplo da sociedade como um todo, são estimulados a consumir excessivamente, sobretudo objetos eletrônicos que, em um piscar de olhos, se tornam obsoletos e, portanto, descartáveis. Para desenvolver estratégias que levassem seus alunos a compreender a diferença entre consumismo e consumo responsável, ele propôs um projeto que lança mão, por escolha dos próprios alunos, de computador, rádio e TV, estes últimos importantes veículos de publicidade que contribuíram para a formação da sociedade de consumo na qual todos estão inseridos.
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Com esse projeto, Claudio Diniz espera que os alunos estejam aptos a: identificar os principais critérios pautados na ética presentes nas propagandas; diferenciar consumidores conscientes de consumidores consumistas; localizar, no mapa, as sedes das empresas nacionais e multinacionais; e adotar uma postura reflexiva perante os anúncios publicitários. Segundo ele, “a principal vantagem do projeto está justamente na articulação entre os conteúdos previstos no 8o ano e o uso da abordagem metodológica da midiaeducação (com o decorrente protagonismo dos alunos), possibilitando a elevação da autoestima e sua decorrente repercussão na comunidade escolar”.
Quando a tecnologia entra na escola A tecnologia pode ser uma aliada importante, porque pressupõe novas formas de interpretar e representar o conhecimento. Além do mais, uma determinada tecnologia requer uma multiplicidade de recursos distintos, os quais devem ser considerados para que seu uso seja significativo e pertinente ao contexto. O uso de diversas mídias (computador, televisão, livros...) possibilita ao aluno expressar seu pensamento por meio de diferentes linguagens e formas de representação. É necessária, portanto, uma cuidadosa reflexão por parte de todos que compõem a comunidade escolar, para que a tecnologia possa, de fato, contribuir para a formação de indivíduos competentes, críticos, conscientes e preparados para a realidade em que vivem. O uso de tecnologias na escola está vinculado a uma concepção de ser humano, de mundo, de educação e do papel de cada um na sociedade.
Para questionar o aluno, desafiálo e instigá-lo a buscar, construir e reconstruir conhecimento com o uso articulado de tecnologias, o professor define quais são as mídias mais apropriadas a determinadas atividades. Ele sabe o que essas mídias oferecem em termos de ferramentas, funções e estruturas. Um exemplo disso é a possibilidade de fazer, rever e refazer que as ferramentas interativas permitem – jogos, quizzes, vídeos interativos, fóruns –, oferecendo a oportunidade de se transformar o “erro” em algo que pode ser revisto e reformulado instantaneamente para produzir novos saberes. Nas palavras de William Freire e Ira Shor, “o educador faz com os seus alunos e não faz para os alunos”.
Filme Escritores da Liberdade, de Richard LaGravenese: professora ensina seus alunos por meio de relatos de guerra, provocando uma mudança na comunidade escolar.
Maria Elizabette Brisola Brito Prado esclarece que “conhecer as especificidades e as implicações do uso pedagógico de cada mídia disponível no contexto da escola favorece ao professor criar situações para que o aluno possa integrá-las de forma significativa e adequada ao desenvolvimento do seu projeto. (...) A integração efetiva poderá ser desenvolvida à medida que sejam compreendidas as especificidades de cada universo envolvido, de modo que as diferentes mídias possam ser integradas ao projeto, conforme suas potencialidades e características”. 85
Hipertexto Forma de apresentação de informações em um monitor de vídeo na qual algum elemento (palavra, expressão ou imagem) é destacado e, quando acionado (geralmente, mediante um clique de mouse por meio de referências específicas denominadas hiperlinks ou, simplesmente, links), provoca a exibição de um novo hipertexto com informações relativas ao referido elemento.
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A televisão e o vídeo, por exemplo, são ótimos recursos para mobilizar os alunos em torno de problemáticas, quando o objetivo é despertar o interesse por novos temas ou aprofundar assuntos já em andamento. Assim, podem-se buscar temas que se articulam com os conceitos envolvidos nos projetos em desenvolvimento, selecionar o que for significativo para esses estudos, aprofundar a compreensão sobre os mesmos, estabelecer articulações com
informações provenientes de outras mídias, como a internet, e desenvolver representações diversas que entrelaçam forma e conteúdo nos significados que os alunos atribuem aos temas. Ao se fazer uso da internet, por exemplo, basta clicar sobre uma palavra, imagem ou frase realçada, e, como em um passe de mágica, abre-se o chamado hipertexto; surge uma nova situação, um novo evento ou outros textos relacionados.
Para Magda Soares, “o computador trouxe um outro tipo de texto, que é o chamado hipertexto, que é uma forma de leitura muito diferente. Não é um texto linear, é um texto simultâneo (...) reúne a palavra com a imagem, com o som, enfim, com vários recursos. E é preciso desenvolver as habilidades de leitura, de compreensão, de interpretação desse tipo de texto. Esse é o papel dessas tecnologias na sala de aula. Não apenas para ficar mais interessante, para facilitar o trabalho do professor, mas porque são novas linguagens que o aluno precisa aprender a ler, a compreender, a interpretar. (...) os modos específicos de ler imagens e textos digitais são decorrentes de um outro letramento (...) novos modos de compreender, perceber, sentir, representar e se relacionar com a vida e com o mundo, marcando a trajetória de cada sujeito-leitor e somando-se a ela”.
O uso de hipertexto possibilita mais liberdade, porque rompe com as sequências estáticas e lineares do que se pode chamar de caminho único, com início, meio e fim característicos, como ocorre no livro didático tradicional. Neste, as etapas da leitura são fixadas previamente; é tudo, por assim dizer, “arrumadinho”. Ao se valer do hipertexto, o autor disponibiliza um leque de possibilidades de informações que permite ao leitor “navegar” por elas seguindo a “rota” que bem quiser, por ele mesmo traçada, interligando as informações segundo seus interesses e suas necessidades. Ao saltar entre as informações e estabelecer suas próprias associações, o leitor interage com o texto e assume um papel ativo que o transforma em coautor do hipertexto. É um novo modo de ler que, por sua vez, remete a um novo conceito de autoria.
competências que poderão favorecer a reconstrução da prática pedagógica. Isso é possível por meio do engajamento em programas de formação e da participação em comunidades de aprendizagem e de produção de conhecimento. Competências e habilidades desenvolvem-se por meio de ações e de níveis de reflexão que abrangem conceitos e estratégias, como, por exemplo, dinâmicas de trabalho que privilegiem a resolução de problemas emergentes no contexto ou o desenvolvimento de projetos.
Filme Sociedade dos Poetas Mortos, de Peter Weir: em uma respeitada escola, professor desperta nos alunos o prazer pela literatura e a rebeldia contra as convenções sociais.
Segundo Chartier, ao construir diferentes percursos para ler os diferentes textos, o leitor torna-se também autor. Em outras palavras, no momento em que interfere no texto eletrônico, cortando-o ou ampliando-o, o leitor também transforma-se em autor.
Todo esse trabalho requer da parte do professor o desenvolvimento de
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Segundo Pedro Demo, “[MP3, DVD, televisão, internet]. Essa é a linguagem que as crianças querem e precisam. Não exclui texto. (...) O texto (...) é de cima para baixo, da esquerda para a direita, linha por linha, palavra por palavra, tudo arrumadinho; não é real. A vida real não é arrumadinha (...) A gente quer pensar tudo sequencial, mas a criança não é sequencial. Ela faz sete, oito tarefas ao mesmo tempo – mexe na internet, escuta telefone, escuta música, manda e-mail, recebe e-mail, responde... (...) [as crianças] Elas têm uma cabeça diferente. O texto impresso vai continuar, é o texto ordenado. Mas vai entrar muito mais o texto da imagem, que não é hierárquico, não é centrado, é flexível, é maleável. Ele permite a criação conjunta de algo”.
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Para Magda Soares, a leitura do hipertexto na tela é feita em camadas, iniciando e terminando no ponto que o leitor decide, o qual pode ter liberdade e autonomia para intervir no texto e reconstruí-lo. Ela considera que “a comunicação pela tela está criando não só novos gêneros da escrita, mas também está inovando o sistema da escrita”. A esse respeito, segundo Pierre Lévy, “o hipertexto, diferentemente de um texto de jornal ou revista em papel, está constantemente em movimento; com um ou dois cliques, obedecendo por assim dizer ao dedo e ao olho, ele mostra ao leitor uma de suas faces, depois outra, um certo detalhe ampliado, uma estrutura complexa esquematizada”.
Boa Ideia
conviver com a diversidade e com as diferenças de gênero. Nesse primeiro momento, eles também vivenciam atividades como jogar futebol e fotografar lances da partida.
Vibre... A Vez e a Voz do Goool As professoras Maria de Fátima Queiroz e Vera Lucia Diniz, do Ciep Dr. Antoine Magarinos Torres Filho, da 2a CRE, estabeleceram uma parceria e desenvolveram o projeto A Vez e a Voz do Goool, inspiradas pelo clima de alegria da Copa do Mundo de 2010 e pela paixão nacional que o futebol desperta. Nesse projeto, as professoras enfocam especialmente Língua Portuguesa e Educação Física, sem, contudo, excluir temas transversais geradores de reflexões e críticas dos alunos. Nas aulas de Língua Portuguesa, o tema “futebol” pode ser tratado com vistas ao desenvolvimento da fluência verbal e da oralidade. No âmbito da Educação Física, a proposta é democratizar, humanizar e diversificar a prática pedagógica por meio de atividades em que os alunos, em uma primeira etapa, possam
Em um segundo momento, voltam a vivenciar as atividades e, em seguida, elaboram uma “cobertura jornalística”. Ao final, na oficina de rádio do projeto Escolas do Amanhã, terão o prazer da experiência de narrar os jogos dos melhores momentos do futebol, que serão exibidos em DVD, sem som. Para as professoras, a utilização de mídias diversificadas para potencializar a comunicação proporciona a formação global dos alunos, instrumentalizandoos a construir seu próprio conhecimento por meio do prazer, da originalidade e da paixão.
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Segundo Philippe Perrenoud, “as competências são construídas somente no confronto com verdadeiros obstáculos, em um processo de projeto ou resolução de problemas”.
Filme Pro Dia Nascer Feliz, de João Jardim: documentário desvenda o dia a dia, os sonhos e os desafios de professores e alunos de seis escolas brasileiras.
Construindo um currículo transversal de comunicação Falar em construir um currículo transversal de comunicação é compreender que a aprendizagem ocorre na interação comunicacional. Para os especialistas em Pedagogia, é preciso trabalhar na escola com a ideia de que educação é comunicação, pois esta permeia toda e qualquer atividade humana, inclusive na escola. Como exercício formador, a comunicação é um recurso que contribui para melhorar as condições para a atividade educativa. Por isso, o professor deve ficar atento aos diálogos que ocorrem na sala de aula e além dos muros da escola. Ao construir um currículo transversal de comunicação, o professor precisa fazer algumas escolhas. A primeira é o próprio tema transversal a ser abordado entre os previstos nos PCNs do Ensino
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Fundamental: ética; meio ambiente; saúde; orientação sexual; pluralidade cultural; e trabalho e consumo. São temas que afetam o dia a dia das pessoas, a realidade que está sendo construída e que envolvem transformações sociais amplas e atitudes pessoais. Em razão disso, e em busca de soluções e de alternativas, os temas transversais provocam diferentes posicionamentos, seja do ponto de vista coletivo ou individual, em debates que mobilizam não somente os meios de comunicação, mas a sociedade de um modo geral. Esses temas exigem, portanto, ensino e aprendizagem, para que os alunos possam posicionar-se diante da realidade, na realidade e sobre a realidade. São temas que também abrem espaço para saberes
extraescolares e que contribuem para a formação cidadã do aluno. Os temas transversais estão presentes em toda a prática educativa, porque envolvem as relações entre alunos, entre professores e alunos e entre diferentes membros da comunidade escolar, exigindo um trabalho sistemático, contínuo, abrangente e integrado no decorrer de toda a educação. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, os temas transversais devem não só integrar as áreas convencionais como ser abordados em cada uma delas, tendo como foco as questões da atualidade. Para trabalhar os temas transversais, os professores podem partir do cotidiano dos alunos ou de atividades organizadas pela escola, desde que inseridas no trabalho pedagógico e não apenas como assunto isolado. Se a escola promover uma
atividade cultural, por exemplo, essa atividade somente será transversal se for além de seus objetivos específicos e se estender ao trabalho pedagógico diário. Uma atividade só é considerada transversal quando aborda conteúdos curriculares, em cada disciplina, relacionados à temática. A segunda escolha do professor relativa à construção de um currículo transversal de comunicação recai sobre a linguagem a ser usada – verbal, matemática, corporal... – para que sejam produzidas ideias e para que produções culturais possam ser interpretadas e usufruídas em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação. Da mesma forma, é importante que o professor escolha as fontes de informação e os recursos tecnológicos que considere apropriados para que o aluno adquira informações e construa conhecimentos.
Segundo Jesús MartínBarbero, “é justamente na cena doméstica onde o descentramento produzido pela televisão se torna verdadeira desordem cultural (...) a televisão curto-circuita os filtros da autoridade parental. (...) O seu uso, ao não depender de um complexo código de acesso, como o livro, expõe as crianças, desde que abrem os olhos, ao mundo antes velado dos adultos.(...) A televisão (...) unifica em todo o país um padrão comportamental e suplanta as temporalidades adotando o discurso da contemporaneidade”.
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Suporte midiático Base física de difusão de informações, como jornal, televisão, computador e vídeo.
Segundo Reuven Feuerstein, o processo de mediação não é fácil: “vai além de uma simples e orientada tarefa de um produto, de uma orientação de aprendizagem; objetiva tornar o indivíduo capaz de agir independentemente de situações específicas, e isso torna o aprendiz capaz de se adaptar às novas dimensões com as quais ele vai se defrontar”.
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Nesse sentido, trechos de um noticiário, de uma entrevista, de um programa de auditório de TV, de um vídeo que envolvam temas transversais podem ser recursos para que toda a escola desenvolva um trabalho conjunto ou que professores de várias disciplinas o façam.
As possibilidades de múltiplas interpretações de linguagens as mais diversas geram novas formas de construção do conhecimento, com aplicações diretas nas atuais condições de aprendizagem. Essas linguagens vão sobrepondo-se por meio de vários suportes midiáticos.
A eficiência da construção de um currículo transversal de comunicação depende diretamente da eficiência da própria comunicação. É uma prática que contribui para ampliar a compreensão do universo sociocultural, para o exercício da cidadania e para tornar o ambiente escolar mais dinâmico e atraente. Afinal, a comunicação está presente em todos os aspectos da vida e é fundamental para o desenvolvimento de uma pessoa em seus múltiplos papéis, como estudante, como profissional, na participação social e política.
A comunicação ajuda a conectar a prática escolar com a vida cotidiana. Televisão, cinema, rádio, computador, jornais e outros meios são recursos eficientes em sala de aula que servem de ferramentas de aprendizagem, de expressão e de conexão com o mundo extraescolar. Professores e alunos devem apropriar-se desses recursos da mesma forma como seus antecessores apropriaram-se de livros, cadernos e lápis, que continuam sendo recursos didáticos importantes nos dias atuais.
Boa Ideia
Crie... A Gente na Telinha Ao saber que nem todas as crianças da comunidade tinham acesso a meios digitais, a professora Gabriela Duarte Cunha, da E. M. Luiz Edmundo, da 9a CRE, propôs um projeto por meio do qual os alunos entrariam em contato com algumas mídias, como câmera digital, vídeo, televisão, computador, data show e DVD. Por meio do projeto A Gente na Telinha, de criação e realização de vídeos de autoria dos próprios alunos, a professora pretendeu estimular o respeito ao próximo e a autoconfiança, promovendo atitudes e hábitos
proativos, necessários à comunidade escolar. Com a produção dos vídeos, os alunos têm a oportunidade de entrar em contato com a linguagem audiovisual, ampliando suas possibilidades de comunicação e de leitura do mundo. Para a professora Gabriela Duarte, o mais importante no projeto é que os alunos percebam que são capazes de criar e, por meio de sua criação, de reconhecer o outro e a si mesmos, o que é fundamental para compreender que uns precisam dos outros para viver. Para ela, é importante, também, que a comunidade participe.
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“A TV e o vídeo, por nos trazerem de um modo muito vivo cenas e questões da realidade, podem ser um aliado importante no tratamento dos temas transversais, permitindo também a interação entre diferentes disciplinas. É um modo de o aluno ‘sair da escola’ sem sair fisicamente dela, para uma penetração na vida social e uma análise crítica da mesma.” Lenise Aparecida Martins Garcia
Além das mídias... Como apontam os PCNs, é importante lembrar que o diálogo é o elemento do processo de comunicação e o instrumento estruturador de enriquecimento do saber pessoal, da cooperação e da transformação. Nesse sentido, é importante observar as preferências dos alunos: como conversam, como interagem, como realizam juntos as tarefas propostas, como usam os momentos de lazer. Conhecendo o universo cultural de seus alunos, o professor compreende melhor os valores e as visões de mundo de cada um. Com isso, vendo o mundo com os olhos de seus alunos, abre caminho para uma aproximação maior que lhe possibilitará ajudá-los em alguma situação, se for o caso, e, também, perceber melhor as potencialidades de que dispõe em sala de aula. A escola visa, entre outros objetivos, promover a socialização para o trabalho e, também, a valorização de atitudes de autonomia. Cada um deve ser avaliado em relação às suas próprias capacidades, uma
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vez que o que se pretende é saber exatamente o que cada um é capaz de fazer por si próprio. O papel do professor na elaboração e execução de projetos midiaeducativos é extremamente relevante, pois é ele quem vai orientar os alunos nas questões que envolvem conteúdos e mensagens e também nas que envolvem linguagem, modos de percepção, pensamento e expressão. Ele passa a trabalhar de forma cooperativa com os alunos tendo em vista um projeto comum. O meio escolhido deve ser acessível a toda a turma, para que todos tenham a mesma oportunidade de se envolver na produção. Da mesma forma, a escolha deve levar em conta a interatividade proporcionada, considerando, principalmente, os impactos no processo de ensino-aprendizagem. A velocidade é outro critério importante nestes tempos de rápidas mudanças. A opção por determinados meios implica maior ou menor tempo.
O vídeo, por exemplo, pode ser utilizado para:
Sensibilizar – Despertar o interesse pelo assunto. Exemplificar – Tornar visível o conteúdo apresentado em aula.
Integração
Simular – Representar situações.
A integração de mídias dá-se quando o mesmo conteúdo é trabalhado para atender às especificidades de cada meio, ou seja, com a linguagem adequada a cada veículo em que a mensagem for divulgada.
Aprofundar – Ampliar a discussão sobre o tema. Provocar – C riar situações que despertem a curiosidade e levem à pesquisa. Ao selecionar um vídeo para apoiar sua aula, o professor deve considerar as seguintes questões:
1. O vídeo é adequado à faixa etária dos seus alunos? 2. O tema abordado está articulado com o conteúdo que deseja trabalhar?
3. Possibilita a integração com outras disciplinas? 4. As informações estão atualizadas? 5. Apresenta o tema a partir de diferentes pontos de vista? 6. É atraente e instiga a imaginação? 7. Os valores, os hábitos e as atitudes divulgados são os desejados aos alunos?
8. Apresenta qualidade técnica? É sempre bom lembrar que todos os meios possuem vantagens e desvantagens e que eles podem ser combinados, de forma a se tirar o maior proveito educativo possível.
Convergência A convergência de mídias é a possibilidade de usar em um só meio – o computador, por exemplo – diferentes linguagens: o som do rádio, a imagem da televisão, o texto escrito, a fotografia, o filme...
A elaboração de projetos multieducativos dá margem para que o professor e seus alunos trabalhem, na prática, com a integração e a convergência de mídias. 95
É importante lembrar que, para utilizar pedagogicamente a linguagem audiovisual e fazer dela um instrumento de criação, expressão e comunicação na educação, é necessário conhecê-la bem. Dessa forma, a linguagem audiovisual deixa de ser mais um instrumento didático, um complemento, e passa a promover a interação. Isso permite, mais do que olhar imagens, decodificá-las, analisá-las e reconstruí-las, visando à produção de novas mensagens e informações.
“Para construir o amanhã, é necessário, a partir da compreensão do ontem, entender e refletir sobre o hoje, o que implica a responsabilidade ética do ser humano como ser da decisão, da ruptura e da opção.” Paulo Freire
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Boa Ideia
Incentive... Um por Todos, Todos por Um Ao perceber a dificuldade que alguns alunos apresentavam em trabalhar em grupo, a professora Carolina Belo, da E. M. Rosa do Povo, da 7a CRE, decidiu criar uma atividade que pudesse mostrar a eles o quanto o trabalho coletivo é necessário para o seu futuro profissional, além de ser uma experiência prazerosa. Depois de muita troca de ideias com a turma, nasceu o projeto Fotografias com Câmera Pinhole Conectando Passado, Presente e Futuro. Por meio desse projeto, de forma responsável e consciente, os alunos vivenciam
com os colegas a elaboração de diversas atividades, a começar pela construção de uma câmera sem lente (a câmera Pinhole), com tudo o que isso implica: identificar problemas, encontrar soluções e conviver com as diferenças, repudiando todas as manifestações de discriminação e de desvalorização de qualquer forma de trabalho e de trabalhadores. Para Carolina Belo, por envolver também o uso de outras tecnologias, como a mídia digital, o trabalho em grupo estreita o relacionamento entre os colegas, estimula o aluno a explorar mais e melhor os recursos tecnológicos disponíveis, a pesquisar sobre o assunto proposto, a ler, a interpretar e a escrever.
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Som e imagem: um encontro que dá asas à imaginação
Produzindo recursos de aprendizagem A informação está cada vez chegando mais rápido e por diferentes canais, linguagens e formatos: via TV, jornais, rádio, correio eletrônico, vídeos no YouTube, mensagens instantâneas pelo Twitter e pelo MSN e tantas outras maneiras que são lançadas a cada dia. São imagens, palavras e sons com os quais nos relacionamos no mundo. Por isso, a importância da incorporação da produção de áudio, de vídeo e o uso do computador e da comunicação móvel (celular) nas atividades pedagógicas na rotina da escola.
vivências oferecem oportunidades pedagógicas lúdicas, provocam a curiosidade para saber mais e instigam a imaginação para regiões ainda não habitadas. São atividades de natureza colaborativa, que estimulam o trabalho em parceria. A prática da coprodução possibilita que os alunos busquem o conhecimento com autonomia.
Utilizando as imagens ou os sons, separadamente ou conjugados em audiovisuais, o professor propicia aos seus alunos o desenvolvimento das necessárias competências exigidas na sociedade contemporânea. Essas
As produções de mídias na escola proporcionam uma série de oportunidades pedagógicas porque permitem que o professor trabalhe aspectos fundamentais no processo ensino/ aprendizagem. Elas favorecem:
• o relacionamento interpessoal (por meio do trabalho em grupo); • o exercício da criatividade e da imaginação (com a construção e a reconstrução de diferentes realidades e a utilização de diversas representações simbólicas);
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• a desinibição (o aluno é estimulado a manifestar suas opiniões, dar ideias...); • a autoestima (o aluno tem a oportunidade de usar ou mesmo descobrir potenciais próprios, como capacidade de liderança e sentido de organização); • a produção escrita (ao fazer a pauta de um programa, a redação de um comunicado ou de uma notícia); • a expressão por meio das diferentes linguagens (sonora, verbal e audiovisual);
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• a integração multidisciplinar (ao contemplar conteúdos de diferentes disciplinas); • a abordagem de temas importantes na atualidade (como saúde, meio ambiente, sexualidade e combate a todas as formas de preconceito); • a abordagem de problemas específicos na escola (como bullying, pichação ou atrasos frequentes).
Produção de áudio na escola Gravação e transmissão de entrevistas e reportagens em programas de rádio, programação musical, leitura de poesias, registro de aulas e palestras, produção e gravação de radionovelas e esquetes de humor são algumas das possibilidades de explorar o som na escola como uma poderosa ferramenta de comunicação. Produzir áudio com os alunos, seja para rádio, para televisão, para cinema ou para internet, é uma prática rica. Ao se decidir por essa atividade, o professor precisa definir os rumos de sua ação pedagógica, pois ela estará inserida em um contexto bem maior, que pressupõe um posicionamento pedagógico claro e explícito. A partir de critérios de escolha previamente definidos, ele seleciona o que considera mais apropriado para o aprendizado.
O rádio e suas especificidades Cada meio de comunicação tem suas próprias especificidades, que dizem respeito às características do suporte em que a informação é transmitida e do público a que se destina. Isso determina a seleção de conteúdo e até o tipo de linguagem utilizada. O rádio, exemplo clássico de mídia que se utiliza do áudio, destaca-se em vários aspectos:
• imediatismo (por meio das ondas sonoras ou da web, as informações chegam rapidamente);
• fácil acesso às mensagens veiculadas (sem que o ouvinte precise saber ler ou escrever);
• a lcance (a mesma informação chega, ao mesmo tempo, a regiões geograficamente distantes);
• e xercício da imaginação (informação apenas pelas linguagens sonora e verbal);
• baixo custo; • p ortabilidade (o aparelho pode ser levado a qualquer lugar);
• u so da linguagem verbal oral (todos sabem usar desde que aprenderam a falar).
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Curiosidade Nos áureos tempos do rádio, os contrarregras, também chamados sonoplastas, criavam passos, pisando em uma caixa com cascalhos; faziam chover com um regador de plantas; quebravam louça; simulavam batidas de portas de um automóvel fechando a porta de uma geladeira. Nada era
Como fazer rádio na escola Criar uma rede de comunicação sonora na escola pode ser mais fácil do que se imagina, pois os recursos tecnológicos estão a cada dia simplificando mais as maneiras de produzir, difundir e acessar a informação. Investigando a realidade da escola e seu contexto, conhecendo, divulgando e expandindo as referências culturais dos alunos, propondo temas e assuntos de esclarecimento, debate e
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impossível para o antigo rádio, em que os sonoplastas, com o bater de duas metades de cocos sobre uma lona dobrada, ou sobre a mesa simplesmente, davam ao ouvinte a impressão de galopes de cavalos. Hoje, esses recursos acústicos estão em CDs.
reflexão, a produção radiofônica torna-se um meio eficiente de promoção da cidadania e da melhoria do ensino. Ao elaborar o projeto da rádio, é importante que se saiba com clareza aonde se quer chegar e as competências comunicativas que se deseja desenvolver nos alunos, além de garantir sua consonância com o projeto político-pedagógico da escola. Sempre que possível, deve-se procurar realizá-lo em parceria com os professores de outras disciplinas.
Um pouco de história Um exemplo clássico do poder da linguagem radiofônica ocorreu em 30 de outubro de 1938, quando Orson Welles levou pânico aos EUA, ao transmitir, com excesso de realismo, uma história,
baseada no livro A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, que contava a invasão da Terra por marcianos. A população chegou a sair de casa para fugir da cidade em busca de abrigo.
A produção de rádio na escola envolve uma série de escolhas, a partir dos recursos humanos e tecnológicos disponíveis:
O que vai ser produzido?
De que forma vai ser produzido?
Quem vai produzir o programa?
Tais perguntas, por sua vez, dizem respeito, respectivamente:
ao gênero do programa
aos recursos operacionais
à equipe de produção
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A produção de rádio na escola pode envolver toda a turma, com rodízio de funções. Os alunos desempenharão as funções existentes na equipe de produção de uma rádio profissional: • comunicador ou apresentador; • locutor; • editor (define as diretrizes do que vai ser produzido); • p rodutor/redator (providencia os recursos necessários à execução do programa, além de auxiliar na redação de quadros e notícias); • repórter (apura informações que serão transformadas em notícias); • o perador de áudio (encarregado da mesa de som, para colocar a rádio no ar, e por inserir vinhetas e reportagens, se for o caso); • pauteiro.
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A função de pauteiro está em extinção no jornalismo. É o profissional que “fareja” o que de importante está acontecendo no mundo, no país, no estado, na cidade, no bairro e na escola. Além de selecionar os assuntos, o responsável pela pauta trata o tema de forma a torná-lo atraente.
Esse tipo de atividade, tanto na escola quanto em outros ambientes, tem determinadas etapas a serem seguidas: • definição de pauta; • apuração, gravação e seleção de material;
Pauta
• c onversão para a linguagem radiofônica (direta, sintética e informal, seguindo as regras gramaticais da Língua Portuguesa, mas com o uso de palavras de mais fácil compreensão);
Espécie de guia ou roteiro dos assuntos a serem tratados em uma edição ou em uma reportagem de jornal, revista, rádio ou televisão ou em um programa de rádio ou de televisão.
• edição. Quanto ao gênero, o programa pode ser: • informativo (com notícias, entrevistas, debates...); • dramatizado (com novelas, humor, poesias...); • m usical (com sucessos do momento, shows com alunos, gincanas...).
Edição Dica Antes de gravar qualquer texto, é recomendável que este seja lido em voz alta. Assim, o aluno-locutor pode familiarizar-se com o roteiro e adaptar uma ou outra palavra ao seu ritmo e à sua maneira de falar.
Edição ou montagem é o processo pelo qual os trechos gravados do programa são ordenados em uma sequência previamente estabelecida no roteiro.
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Equipamentos básicos para uma rádio na escola
• d uas ou mais caixas de som, a serem espalhadas por diferentes ambientes, como pátio, corredores e salas de aula;
Captação e transmissão via gravador
• e quipamento profissional (chamado de mesa de som, mixer ou console) com alguns canais, entradas para gravador, CD e fita cassete, se for o caso;
Outra vantagem da produção de rádio na escola diz respeito à aparelhagem. Equipamentos simples são os ingredientes básicos para se colocar uma rádio no ar:
Dica Para instalar a rádio, é bom chamar um técnico, que vai fazer as conexões e posicionar as caixas de som em locais estratégicos.
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• fones de ouvido (para quem está falando e para quem está no comando do som);
• duas mesas;
• gravador;
• um amplificador;
• microfone.
Ao planejar a programação da rádio com seus alunos, estude, também, os horários de transmissão dos programas. Analise a rotina da escola, observando os melhores momentos e os tempos adequados para a veiculação dos programas. Converse com os colegas das outras disciplinas, pois a rádio pode ser um recurso interessante para a expansão de conteúdos que estão sendo trabalhados. Assim, a programação estará prestando serviço à comunidade escolar,
ampliando sua penetração e garantindo audiência. Com o surgimento da internet, que deu uma nova dimensão à midiaeducação, o rádio passou a ter alcance ilimitado, favorecendo, também, a produção radiofônica na escola. Conhecida como web rádio, essa mídia possibilita a interatividade, democratiza a difusão de informações, das artes e das ideias, independe
Fazendo diferente Estimule os sentidos da audição. Peça que seus alunos fechem os olhos e ouçam os sons a sua volta. Depois de alguns minutos, todos devem abrir os olhos e falar sobre o que perceberam, que sensações foram despertadas em cada um. Esse exercício pode ser muito prazeroso e ajuda a perceber como diferentes sons estão presentes em todos os momentos, transmitindo mensagens.
de concessão, dispensa equipamentos caros e é simples de fazer; basta que se instale um programa de áudio no computador da escola.
Para o poeta francês Paul Claudel, também são sons importantes a “voz inarticulada, o resmungo, a exclamação, a dúvida, a surpresa, enfim, todos os sentimentos humanos expressos por simples entonações”.
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Captação e transmissão via web A rádio transmitida pela web pode estar no ambiente escolar. Nesse caso, são necessários: • uma mesa de som;
Encoder
• um computador exclusivo;
Programa usado para comprimir arquivos WAV e transformá-los em formato MP3.
• u m cabo de saída da mesa de som conectado à entrada de linha da placa de som do computador; • um encoder para a codificação e o envio à web; • um amplificador; • d uas ou mais caixas de som a serem espalhadas por diferentes ambientes, como pátio, corredores e salas de aula.
Como colocar uma rádio ao vivo na web Já no caso de uma web rádio, para ser disponibilizada exclusivamente na internet, é necessário um bom provedor, que tenha uma banda larga de qualidade. Existem no mercado softwares livres para gravar e editar arquivos de áudio considerados de boa qualidade e apropriados até mesmo para usuários que não tenham conhecimentos aprofundados sobre o assunto. Alguns exemplos são o Audacity, o Free Sound Recorder, o Ardour e o ReZound.
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dos melhores softwares para edição de áudio. O ReZound é um editor e gravador multipista especialmente útil na conversão de formatos de arquivos de áudio.
O Audacity, o Ardour e o ReZound são softwares com recursos de gravação multipista e edição de áudio. Podem gravar diversos sons, simultaneamente, dependendo do número de entradas disponíveis na placa de som. Têm grande versatilidade nas tarefas de edição e possibilitam variedade de efeitos. O Audacity é um editor de áudio fácil de usar e disponível para
Linux e Windows, por exemplo. Pode ser usado para gravações ao vivo; para editar arquivos em variados formatos, como MP3; para cortar, copiar, colar e juntar sons e faixas de áudio. O Ardour, disponível para Linux, é um software para captação e edição multipistas de áudio, com recursos avançados de edição e mixagem. Trabalha por meio de duas janelas (editor e mixer), sendo considerado um
O Free Sound Recorder é mais uma aplicação simples e gratuita que possibilita gravar qualquer som que dê entrada na placa de som. Essa ferramenta permite guardar arquivos de áudio, em disco, nos formatos MP3, WMA ou WAV.
Gravação multipista Método de gravação de som que possibilita registrar múltiplas fontes sonoras em separado e, depois, uni-las para formar um todo.
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Produção de vídeo na escola O uso do audiovisual como mediador da aprendizagem é uma exigência dos tempos atuais e uma necessidade da escola. Isso porque os meios audiovisuais são uma alternativa didática para aproximar o educando dos objetos do conhecimento ao mesmo tempo que se estão apropriando dos códigos e das estruturas de uma linguagem contemporânea.
Fazer um vídeo mexe com a criatividade, a imaginação, o planejamento, o senso estético, a produção textual, o conhecimento técnico, a interpretação, a organização, a sensibilidade musical, o trabalho em equipe. Segundo o especialista Pierre Babin, os alunos têm na linguagem audiovisual uma
grande aliada, porque ela estimula os dois hemisférios do cérebro: o esquerdo, no qual está situado o centro da linguagem; e o direito, região em que se situa a faculdade da visão. O cérebro faz com que os dois hemisférios funcionem de maneira harmônica, e isso facilita a compreensão do audiovisual ao provocar:
o choque sensorial
a elaboração do sentido
o primeiro impacto que o audiovisual provoca é um choque nos sentidos, despertando emoções provocadas pela mixagem de som, palavra e imagem;
a emoção fundamental pertencente ao universo de referências do espectador, permite a passagem das sensações para as ideias gerais, o que dá início ao processo do conhecimento; 112
estágio em que é realizado o ato de compreensão, muitas vezes associativo, no qual o espectador está apto a reconstruir, com suas próprias palavras, o que viu, leu e ouviu;
a distância reflexiva e crítica desenvolvimento da análise do audiovisual, pela apropriação dos conhecimentos específicos da linguagem, o que leva os alunos a exercitar a reflexão crítica.
Nesse processo, estão contempladas:
públicos e em diferentes espaços, como:
• a reflexão;
• escola;
• a conceitualização;
• comunidade;
• a apropriação;
• festivais;
• o julgamento crítico.
• internet.
Antes da produção do vídeo em si, o professor pode despertar ainda mais o interesse dos alunos, mostrando-lhes as possibilidades de expressar ideias e divulgá-las para diversos
Ao participar de um projeto midiaeducativo desse tipo, seja qual for a mídia usada, os alunos passam a entender como a informação é elaborada.
Fazendo diferente O professor pode gravar uma notícia transmitida em um, ou em mais de um, telejornal e adquirir, no dia seguinte, alguns exemplares de jornais que contenham a mesma notícia divulgada nos telejornais. Levar a turma a identificar as especificidades de cada mídia, o espaço e o tratamento dado ao tema.
Ler o que se vê A leitura é um processo ativo de construção de significados realizado por alguém com uma história social própria, a partir de uma mensagem produzida em um determinado contexto. Assim, a leitura, a compreensão e a construção progressiva de significados pressupõem um movimento de interatividade entre a mensagem e o sujeito. O ato de ler pode ser compreendido como decodificação da mensagem transmitida; possibilita ao sujeito formular hipóteses sobre o sentido geral do que está lendo, baseado em seus conhecimentos e em suas crenças, podendo antecipar ou prever o que será dito.
Cena da série televisiva Cidade de Leitores, produzida pela MultiRio
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A linguagem audiovisual: códigos e gramática Cada meio tem suas particularidades, adequando-se, entre outros fatores, às circunstâncias, às características do suporte em que a informação é transmitida e ao público a que se destina. Um dos meios de comunicação mais populares em todo o mundo, a televisão tem, entre suas especificidades, o fato de ser uma mídia que conjuga imagem, som, cor e movimento, fornecendo mais elementos para a composição da mensagem. Não à toa, frequentemente é citado o provérbio chinês adaptado “uma imagem vale mais do que mil palavras”. O audiovisual, como toda linguagem, é um sistema de signos, composto pelos elementos das linguagens visual, sonora e verbal e
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pelos elementos específicos do meio tecnológico no qual foi produzido. A combinação de imagens, sons, palavras e recursos técnicos conta uma história. No caso da linguagem audiovisual, os códigos podem ser específicos e não específicos ao meio e podem ser analisados a partir de dois níveis: a denotação e a conotação. Os códigos específicos são, por exemplo, as variações dos planos e dos movimentos de câmera e as variações de utilização de efeitos técnicos (imagem acelerada, lenta, desfocada, sobreposta, fusão, etc.). Os códigos não específicos são, por exemplo, a música, os ruídos, o texto oral ou escrito, a interpretação, os adereços e os figurinos. A música é um importante elemento emocional no audiovisual, pois determina climas, pontua e até antecipa acontecimentos.
A denotação, na linguagem audiovisual, é observada quando se transmite o sentido literal da imagem e do som. Em relação à imagem, a denotação é identificada por meio de componentes plásticos, como cor, luminosidade, contraste, forma e proporções. No caso do som, por meio da altura, da intensidade, do timbre, dos ruídos, dos efeitos, etc. Na denotação, são analisadas as relações e as organizações dos planos em sequência, o uso das sequências, os procedimentos de pontuação sonora e/ou visual e a mixagem de som-imagem-palavra, em suas diferentes unidades, que dão sentido ao audiovisual.
Já a conotação, na linguagem audiovisual, é observada quando se transmite o sentido variável, ligado à afetividade e à história pessoal ou coletiva de
quem assiste ao audiovisual. Na conotação, são analisadas as informações no nível do simbólico, tais como crenças, valores e mitos.
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Para orientar a análise do audiovisual levando em conta as diferentes possibilidades de leitura, deve-se considerar como as imagens e os sons foram produzidos para dar sentido à história que se quer contar. É necessário dissociar seus elementos (imagem-som-palavra) e analisá-los separadamente, comparando as mensagens produzidas em vídeo com as
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produzidas em outras mídias e observando os estudos detalhados dos códigos específicos e não específicos da linguagem. É sempre bom lembrar que a produção e a leitura do audiovisual pressupõem dois “olhares”: o “olhar” dos que fazem e o “olhar” dos que veem.
Como produzir um audiovisual na escola Produzir vídeo na escola é um desafio bastante gratificante. Para isso, é preciso conhecer a linguagem audiovisual e criar oportunidades pedagógicas para que os alunos exercitem a leitura crítica do que veem e ouvem. Ao incorporar nas aulas o uso de vídeos, o professor está ampliando o repertório de referências de seus alunos, contribuindo, também, para sua formação cultural.
Processo de produção A produção de audiovisual na escola envolve, basicamente, as mesmas escolhas da produção de rádio: • Quem vai produzir o programa? Formando as equipes; • O que vai ser produzido? Definindo caminhos; • Que história vai ser contada? Construindo o roteiro; • De que forma? Realizando o vídeo.
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Glossário Âncora Em jornalismo televisivo, é o apresentador que, além de narrar as notícias e chamar outros profissionais que entrarão, ao vivo, na programação, como repórteres e entrevistados, faz comentários que julga pertinentes.
Formando as equipes O primeiro passo é orientar a turma sobre o processo de produção do audiovisual e as funções de cada integrante da equipe, suas atribuições e responsabilidades. Usando como modelo um programa jornalístico, a produção precisará dos seguintes alunos-profissionais: • a presentador ou locutor: o apresentador, em algumas
situações, somente lê o texto; em outras, exerce, também, a função de editor-chefe, tendo de acompanhar e participar de todo o processo de produção do programa. Nesse caso, o apresentador-editor-chefe, conhecido como âncora, precisa estar muito alinhado ao produtor, ao operador de câmera (no caso de televisão) e ao operador de áudio (no caso de rádio). Como o apresentador não é artista, ele precisa ter sempre em mente que a atração principal do programa é a informação, objeto de seu trabalho; • p rodutor: a exemplo do produtor de rádio, planeja, providencia os recursos necessários à execução de um programa de televisão e coordena as etapas de realização. Esse profissional também é importante em montagens teatrais e produções de filmes;
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• r epórter: busca informações e notícias que sirvam de base para fazer uma entrevista ou para redigir um texto; • r edator: geralmente, não vai à rua para investigar um fato nem para acompanhar um acontecimento. Sua principal função é adaptar um texto “bruto” à linguagem audiovisual;
concebida na imaginação de seu criador; • r oteirista: cria e/ou descreve no roteiro uma história que será contada com sons, imagens e palavras; • c inegrafista: por meio da lente da câmera, desvela a realidade, direcionando o olhar do espectador;
• e ditor de jornalismo: traça as diretrizes para a equipe, define a linha editorial do programa: o que dizer, por que dizer e para quem dizer. É ele, também, que constrói, de maneira organizada, o programa, com uma sequência de textos narrados pelo locutor ou pelo repórter;
• d iretor: responsável pela qualidade artística do vídeo, orienta toda a equipe e garante a unidade estética;
• o perador de áudio, luz e vídeo: caso se opte pela produção de vídeo ou de DVD;
• e ditor de vídeo: responsável pela montagem do vídeo;
• a tor: dá veracidade à história ficcional de uma personagem
• d iretor de arte: cuida da caracterização dos personagens – figurino, maquiagem, adereços –, cenários, programação visual;
• p rodutor musical: cuida da criação e da montagem de trilha sonora com músicas e efeitos sonoros.
Sugestão Descrever para os alunos as atribuições, identificar com a turma as características pessoais que favorecem o bom desempenho de cada função, recomendar que os alunos identifiquem suas características pessoais com as solicitadas pela função e escolham aquela que desejam desempenhar na equipe. O professor lista, no quadro, os interessados em cada função. A escolha pode ser feita por votação na turma, após a argumentação de cada aluno sobre sua escolha.
Definindo caminhos Brainstorming Também conhecida como “tempestade de ideias”, é uma técnica que consiste em reunir ideias livres de crítica ou restrições de forma que, ao final, sejam selecionadas as consideradas mais apropriadas ao objetivo pretendido.
a geração de ideias, em voz alta, sem censura. Depois de listadas, a turma elege o assunto mais apropriado para o vídeo.
É hora de serem tomadas algumas decisões: o que se quer falar, para quem se quer falar, como se quer falar. É o momento em que se definem o tema, o público-alvo, o formato do vídeo.
Outra possibilidade é a produção de vídeos por encomenda. Pode ser o resultado de uma atividade integrada entre disciplinas. Nesse caso, uma matéria pode funcionar como um “cliente”, demandando uma encomenda. O momento em que o cliente faz a encomenda do vídeo à equipe de criação chama-se briefing.
Como proposta de eleger o tema a partir de sugestões da turma, o professor pode utilizar-se de técnicas que ajudam o processo de criação, como o brainstorming ou “tempestade mental”. A dinâmica favorece
tema público-alvo
o
que se
quer falar para quem se quer falar
como se
quer falar
formato 120
Briefing
Aplicação da técnica do brainstorming • F orme um grupo de quatro a 12 pessoas em um ambiente tranquilo, informal, sem interrupções. • D efina, com o grupo, os relatores que anotarão as ideias expressas (um relator para cada três participantes). • C rie um clima de descontração, informando que as ideias deverão ser espontâneas, pois não serão julgadas. • L embre aos participantes as “quatro atitudes” esperadas no brainstorming: adie o julgamento (expresse as ideias sem julgamento prévio); libere a imaginação (expresse ideias originais); faça combinações (aperfeiçoe suas ideias e as dos colegas, junte duas ou mais); busque a quantidade (produza muitas ideias e bem diversificadas). • P roponha uma atividade de aquecimento mental – uma imagem inspiradora, um videoclipe, uma música, uma poesia... • Inicie a rodada de ideias apresentando o tema de forma clara e objetiva. • A valie com o grupo as várias ideias anotadas no decorrer das rodadas.
1. Instruções e diretrizes transmitidas, de forma reduzida, pela chefia (de agência de propaganda, birô, jornal, emissora de TV, etc.) aos responsáveis pela execução de um determinado trabalho (criação de uma campanha publicitária, cobertura jornalística, etc.). 2. Diretrizes ou informações de um cliente à agência de propaganda, sobre a criação ou o desenvolvimento de determinada campanha. 3. Resumo escrito dessas diretrizes, para orientação do trabalho. [RABAÇA, Carlos Alberto. Dicionário de Comunicação.]
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Dica A pesquisa do conteúdo é uma ótima oportunidade para desenvolver uma postura ativa e autoral do aluno no levantamento de possibilidades sobre o tema, na articulação das diferentes fontes de informação e na proposição criativa de soluções.
O que se precisa conhecer do público-alvo: • quem é; • como se comporta; • c omo falar para esse público; • q ual o melhor caminho para abordar esse assunto.
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Quando for feita uma encomenda de uma produção, deve-se ter claro: • De que se trata o vídeo? • A quem o vídeo se dirige (público-alvo)? • Q ual o objetivo que se deseja alcançar com o vídeo? • Q ual a mensagem principal do vídeo? • Q ual o tema principal do vídeo?
- Onde ocorre? (lugar)
- Em que época? (tempo)
- Quais os assuntos a serem abordados? (subtemas)
- Quem são as pessoas, as instituições, os autores que mais conhecem o assunto? (fontes de pesquisa)
• E m quanto tempo o vídeo deverá ser feito? • Quanto o vídeo deverá custar? Uma informação importante é saber a finalidade do produto que se vai desenvolver; pode ser um vídeo institucional, comercial, educativo, motivacional, de entretenimento, cultural, informativo. A finalidade do vídeo, bem como o público-alvo a que se destina, vai influenciar na forma de transmitir a mensagem. Para se conhecer melhor o espectador do vídeo, uma breve pesquisa entre esse público pode revelar suas características, seus interesses e suas necessidades, o que ajudará na adequação da linguagem, da proposta de gênero e de formato, etc. Após conhecer-se o público-alvo, deve-se fazer a pesquisa do conteúdo.
O primeiro passo é coletar os dados (identificação de fontes e de conteúdos) sobre o tema. Nesse sentido, é necessário analisar a área temática que será pesquisada para identificar as fontes de consulta mais adequadas. As buscas podem ocorrer em fontes muito variadas: produções escritas, como livros e revistas; bancos de dados na internet; e entrevistas com especialistas ou pessoas com experiência sobre o assunto. O segundo passo é organizar as informações pesquisadas (mapa conceitual), registrando-as e arquivando-as por subtemas. Nessa etapa, a estrutura do conteúdo começa a ser visualizada, apontando caminhos para o desenvolvimento do produto. O terceiro passo é analisar as informações visando à preparação do argumento e dos textos, quando for o caso. Nesse momento, talvez surja a necessidade de se aprofundar a pesquisa em algum assunto que ficou incompleto.
A pesquisa de conteúdo também vai subsidiar a produção de época por meio das informações sobre como as pessoas se comportavam em determinado lugar e período: a maneira como falavam (vocabulário), como se vestiam (caracterização), o que comiam (alimentação), além de valores, lendas, cenário econômico e muitos outros aspectos a serem cuidados. Uma pesquisa sobre o conteúdo ajuda o roteirista com as informações técnicas exigidas pelo tema. Outras informações também são importantes e serão parâmetros para a realização do roteiro: • duração do vídeo; • mídia de veiculação; • prazo de execução; • recursos técnicos disponíveis; • recursos financeiros.
Argumento Descrição do enredo ou do tema da história que se quer contar. Para isso, devem-se considerar a descrição dos personagens principais, o local e a época em que a história acontece e o percurso da ação.
Mapa conceitual Ferramenta para organização e apresentação do conhecimento por meio de representações gráficas semelhantes a diagramas.
De posse das informações, é hora de dar corpo à proposta por meio do roteiro.
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Construindo o roteiro Um roteiro descreve, em palavras, as imagens, os sons e as emoções das sequências de um audiovisual. O roteirista pode partir de uma ideia original, adaptada ou sob encomenda. A história inicia na sua imaginação para, em seguida, tomar forma no papel ou no computador. Por meio do argumento, o roteirista ordena as ações em sequência lógica (ação dramática), descreve as personagens (perfil), situa a história no tempo (temporalidade) e no espaço (localização).
Pense nisto! Uma história pode ser contada de várias maneiras. Com sua criatividade e imaginação, o roteirista é capaz de informar, educar, comover, inquietar, assustar, alegrar, transformar.
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O roteiro é um guia que orienta o trabalho de toda a equipe. Nele, devem constar informações imprescindíveis para o entendimento e a interpretação, além de providências de produção, tais como: numeração da cena; identificação da cena [cenário/locação – estúdio/externa – dia/noite]; personagens em cena; descrição resumida da cena; rubrica (sugestão de enquadramento de câmera, interpretação, sonoplastia); e fala (texto de diálogo ou narração).
Cenas do roteiro A Raiz do Som
Vídeo
Áudio
Cena 2 – Sequência de fotos da demolição dos antigos casarões onde viviam os negros (1903).
Música a ser escolhida do repertório do grupo AfroReggae.
Cena 3 – Rua dos antigos casarões/Ext/Dia (1903) – Menino (cerca de 6 anos) alegre brinca sozinho sentado na calçada. Ao fundo, percebe-se movimento de adultos e crianças correndo (cerca de dez pessoas). Ouve-se ruído de demolição.
Locutor (OFF): – Rio, 1903. O som das paredes que vão ao chão ameaça arrancar as raízes culturais da pequena África, abrigada sob seus tetos e alimentada de seu solo.
Cena 4 – Beco de morro virgem/Ext/Dia (1903) – Dias depois, duas famílias (a criança da cena anterior com sua família e mais uma outra família) chegam carregando sacos de pano e pequenos utensílios em busca de novos abrigos.
Locutor (OFF): – Despejada e empurrada para os morros, a comunidade negra não se abate.
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Produzindo o vídeo A locação tem como objetivo avaliar o local da gravação em relação às exigências artísticas, às condições técnicas e logísticas. Para isso, deve-se calcular o tempo de deslocamento da escola até o local de gravação; e verificar autorizações para gravação, estacionamento para as viaturas, condições de energia para os equipamentos, necessidade de cenografar o espaço, etc. Uma boa dica é fotografar o local para avaliação posterior do diretor e da equipe.
A produção precisa providenciar com o autor de obra artística, literária ou científica uma prévia autorização formal, para poder inseri-la no vídeo, na íntegra ou em trechos.
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Com o roteiro pronto e as orientações artísticas do diretor, começa a etapa da pré-produção. Nessa fase, a produção deve decupar o roteiro, identificando os elementos presentes na cena e os recursos técnico-artístico-operacionais necessários para a realização do vídeo. Com essas informações, elabora um planejamento com o orçamento e o cronograma das atividades. Na gravação em estúdio, é necessário ambientar cenograficamente o espaço conforme a indicação do roteiro. Um espaço cênico pode ser criado a partir de um cenário ou com a colocação de elementos que sugerem o contexto proposto ou, ainda, pode optar-se por uma gravação com fundo neutro para sobrepor a imagem, durante a edição, em cenário virtual. Nas cenas realizadas em externa, é necessário fazer uma locação antes da gravação. Outro procedimento importante nessa etapa é a identificação das
obras pertencentes a terceiros, previstas para serem inseridas no vídeo. Fotos, textos, músicas, trechos de filmes necessitam de documentos que formalizem a cessão de direitos autorais.
Decupagem do roteiro Na decupagem do roteiro, deve-se identificar cena / cenário ou locação / interior ou exterior / dia ou noite / elenco / figurino / contrarregra / outros.
Orçamento Levantamento dos recursos artísticos, humanos, técnicos, logísticos e operacionais necessários à realização do vídeo.
Cronograma Detalhamento das atividades de produção em relação aos prazos previstos para a execução.
Na fase de pré-produção, cabe ao produtor articular todos os setores e serviços para a aquisição, o aluguel ou a confecção dos materiais e equipamentos necessários às etapas seguintes: gravação e pós-produção (ou finalização).
Momento da gravação Nessa etapa, cabe ao produtor planejar as gravações conforme os cenários e as locações externas indicadas no roteiro. Para cada gravação, a produção fará um roteiro, que orientará todos os profissionais para as providências necessárias à atividade. Cabe, portanto, ao produtor providenciar todos os recursos previstos e garantir a eficácia da gravação. O diretor, ao planejar a gravação técnico-artística do vídeo, indica no roteiro os planos, movimentos de câmera, efeitos, etc. Essa decupagem técnica do roteiro servirá como um guia para a equipe e para a elaboração do storyboard, um recurso
que facilita a visualização das marcações de enquadramento. Ao orientar o operador de câmera ou cinegrafista para os enquadramentos desejados, o diretor “recorta a realidade”, direcionando o olhar do espectador. Conhecer os enquadramentos é importante para que seja possível, por meio deles, intensificar uma mensagem. Da mesma forma, o diretor utiliza-se dos movimentos de câmera para contar sua história e provocar emoção.
Decupagem técnica do roteiro Detalhamento dos planos e movimentos de câmera que orientam a gravação.
Storyboard Sequência de desenhos que ajudam a visualizar os enquadramentos desejados pelo diretor.
Você sabia? A câmera pode ser compreendida como o prolongamento do olho humano, orientada artisticamente pelo diretor. Através das suas lentes, é feita a captação da imagem, que é definida pela maneira como é posicionada, como se movimenta e como enquadra a cena.
Roteiro de gravação Para cada cena a ser gravada, o roteiro deve indicar elenco, figurino, contrarregra etc.
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Enquadramentos – Base para a composição dos planos Plano geral Mostra a pessoa inteira e situa o espectador no ambiente, apresentando todo o espaço da ação.
Close Plano fechado, que destaca um objeto ou uma expressão.
Plano americano Plano um pouco mais fechado que o plano geral, corta o corpo da pessoa na altura dos joelhos.
Plano detalhe Fechado no que se quer mostrar, desprezando todas as informações ao redor.
Plano médio Focaliza as personagens da cintura para cima e estabelece relações entre elas.
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Movimento de câmera
Panorâmica Movimento de rotação em torno de um eixo da câmera.
Travelling Movimento de deslocamento da câmera para seguir um objeto ou uma personagem.
Zoom in Inicia com a imagem em plano geral e fecha no detalhe. Zoom out Inicia com o detalhe da imagem e abre para o plano geral.
Você sabia? O diretor, com um simples movimento de câmera, pode transportar o espectador de um lugar a outro, fazendo-o percorrer milênios em segundos.
Câmera baixa Serve para valorizar o assunto enquadrado, colocando o ator e os elementos em cena em condição de superioridade ou dominância. Câmera alta Utilizada para desvalorizar o assunto. Ressalta a humildade e a modéstia da pessoa. Subjetiva Assume o ponto de vista da personagem.
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Recursos de edição Fade Clareação ou escurecimento da imagem. Usado para indicar longas passagens de tempo e/ou mudanças muito bruscas de cenário.
Fade-in Aparecimento gradual da imagem a partir da tela completamente escura. Fade-out Escurecimento da imagem, que vai desaparecendo, pouco a pouco, até que a tela escureça totalmente. Fusão Desaparecimento gradual de uma imagem enquanto outra vai aparecendo. Indicada para pequenas alterações temporais e/ou rápidas mudanças de cenário. Equivale à expressão “enquanto isso...”.
Tela dividida Tela que serve para interligar acontecimentos simultâneos, porém separados pela distância. 130
Máscara Recurso utilizado para criar a sensação de que o olho da personagem se aproximou bastante de alguns objetos, tais como buraco de fechadura, binóculo...
Pós-produção ou finalização Após as cenas gravadas, é o momento de ordená-las conforme indicado no roteiro. Para isso, o diretor ou editor utiliza-se dos recursos dos equipamentos que possibilitam juntá-las por meio de efeitos. Esses recursos funcionam como as pontuações da linguagem verbal (?, ..., !, “”). São utilizados para mudar o ambiente e/ou a ação, determinar passagem de tempo e traçar a dinâmica da narrativa (criar suspense, criticar, questionar, provocar riso...). Nessa etapa, o produtor auxilia na montagem do roteiro de edição, informando a localização das cenas gravadas nas fitas. Também nessa fase, são inseridos os créditos no programa. Na pós-produção, é realizada, ainda, a sonorização do vídeo. A música é um importante elemento emocional no audiovisual, pois determina
clima, pontua e até antecipa acontecimentos. Os sons participam da construção da narrativa. São efeitos sonoros, diálogos, silêncio, música, sons ambientes e outros mais. Os sons podem ser captados, criados, editados e distorcidos.
Créditos Identificação por meio de texto sobre a imagem. Inserção de nomes e títulos das pessoas ou dos locais presentes na cena. E, ainda, da equipe de realização, na abertura do programa ou no encerramento.
Avaliando o vídeo O vídeo concluído deve ser avaliado pela equipe, tendo como referência a adequação do formato aos objetivos e ao público-alvo, as qualidades técnico-artísticas, o planejamento, o cronograma e o orçamento.
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Equipamentos básicos para uma TV na escola Com a tecnologia ao alcance de muitos, gravar vídeo na escola ficou bem mais viável. Para isso, basta dispor de: • c elular ou câmera fotográfica digital; • c omputador com gravador de DVD e, no mínimo, HD de 80 GB, memória de 1 GB e processador de 2 GHZ, já que o vídeo possui vários componentes que o tornam bastante pesado na memória do computador;
• duas mesas para edição; • softwares de edição de vídeo. Atualmente, não é preciso ter máquinas sofisticadas para gravar um audiovisual. Grande parte dos celulares já possibilita isso. Câmeras fotográficas digitais também. Para editar o material captado, há softwares específicos, gratuitos; alguns até inserem legendas e trilhas sonoras. Para quem usa o Linux, por exemplo, o Zwei-Stein é uma boa sugestão. O arquivo para download pode ser encontrado no site http://www.zs4.net. Outro exemplo é o software livre Kino, um editor não linear de vídeo que permite a captura de vídeos vindos de câmeras digitais. Além da edição, o Kino possibilita a manipulação da imagem. Sua instalação é fácil, e a interface gráfica é simples. As versões mais atuais desse software utilizam
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!
plataformas Dvgrab, FFMPEG (ffmpeg2theora) e Mencoder (Mplayer), que permitem ler arquivos vindos de vários outros programas de edição e diferentes tipos de formatos. Além disso, o Kino é capaz de exportar conteúdo de volta para fitas miniDV, transformando-se em peça fundamental na ilha de edição. O arquivo para download pode ser encontrado no site http://www.superdownloads. com.br/download/43/ kino/#ixzz1Nxju3wSs.
TV digital interativa: perspectivas para a educação Elizabete dos Santos Com a inserção da televisão digital no cenário brasileiro, novos rumos anunciam-se para a linguagem televisiva, especialmente quando consideradas as possibilidades de interação com o público. A relevância da investigação proposta neste artigo reside na temática que contempla uma inovação na área da comunicação, cujas possibilidades de uso educacional ainda não foram plenamente exploradas. Particularmente na área educacional, o aspecto interativo da TV digital abre novos
caminhos e, por isso mesmo, constitui-se em objeto de estudo. Primo (2008) destaca que o problema de interação está muito presente, hoje, nos debates da área da comunicação, embora, de forma paradoxal, apareça como algo dado e inquestionável. Alerta para o fato de que a indústria da informática promoveu um esvaziamento e uma imprecisão ao termo “interativo”, utilizando-o de forma genérica como uma característica inerente ao meio. Entretanto, para Primo, a principal questão dessa
discussão é “valorizar o que existe no ‘entre’ da interação” (2008, p.15), ou seja, que “os padrões de relacionamento construídos pelos participantes na interação influenciam os processos interativos, a maneira como eles se veem e como definem a própria relação em si” (2008, p.15). O sistema de TV digital, ao permitir a transmissão de dados e serviços além do fluxo de áudio e vídeo, disponibiliza uma fonte de dados caracterizados como aplicativos, que chegam até o usuário da televisão e
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ficam armazenados no terminal de acesso, sendo possível acioná-los por meio do controle remoto. Dessa maneira, a informação armazenada passa a ser utilizada de forma individualizada pelo usuário. Crocomo (2007) considera esse nível de interatividade como “nível um”, que permite o acesso aos dados armazenados no terminal, possibilitando ao usuário “navegar” dentro dos dados armazenados. Nesse caso, a emissora envia dados extras relacionados à programação normal que, armazenados, podem ser acessados a qualquer tempo, complementando o conteúdo do programa. Esse nível de interatividade também é chamado de interatividade local, e a sua lógica é a mesma do uso do controle remoto pelo usuário na direção do aparelho.
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No “nível dois” de interatividade, está previsto, além do armazenamento de conteúdo, o uso do canal de retorno; este, porém, oriundo de outra via, como, por exemplo, a telefônica. Nesse caso, é possível retornar a mensagem, mas não em tempo real. “(...) as informações chegam com a exibição de um determinado programa, outras são armazenadas no terminal, e existe a possibilidade de o usuário enviar informações por meio de um modem, por exemplo” (2007, p. 83). É possível fazer escolhas de opções que aparecem na tela, utilizando o controle remoto, e enviá-las do terminal de acesso ao servidor da emissora ou a um provedor que poderá computar o dado em um resultado geral. Crocomo destaca, ainda, a interatividade de “nível três”,
que permite o uso de canal de retorno em tempo real, enviando e recebendo mensagens. Nesse caso, o usuário pode, por exemplo, participar de um jogo interativo. Cabe ressaltar que “a utilização desses recursos está atrelada às leis de funcionamento dessa nova televisão, aos formatos dos programas, à linguagem a ser utilizada e às políticas e prioridades públicas” (p. 84). O autor chama atenção também para a perspectiva de a TV Digital Interativa possibilitar a participação da comunidade e para a importância da experimentação e do aprofundamento de estudo da linguagem televisiva como apoio ao processo de “alfabetização digital”, tendo em vista ser esse processo diferente daquele
que ocorre de interatividade na internet. Para Crocomo, é possível vislumbrar, a partir da linguagem e do diálogo presentes na televisão, alternativas que levem a um processo mais amplo de interatividade. A partir da reflexão, do planejamento e da produção, deve-se buscar na nova TV aberta uma direção que integre os novos recursos de interatividade à linguagem dialógica da TV. Os aplicativos interativos devem integrar-se à linguagem já consolidada da televisão, não para mantê-la da mesma forma, mas, respeitando aquilo que já é conhecido, propiciar um uso mais eficaz da interatividade.
de produção, possibilita a alfabetização audiovisual, permitindo aos espectadores produzir e analisar suas próprias imagens. Trata-se de promover uma intervenção social que venha a potencializar uma ação educacional mais dinâmica. Na mesma direção, Crocomo (2007) aponta que o acesso aos recursos tecnológicos, a alfabetização digital, o formato dos programas e a relação direta entre a escolha dos conteúdos com as histórias de vida e os cotidianos dos sujeitos são os novos elementos que marcam um processo diferenciado, envolvendo as comunidades e gerando mais conhecimento.
Segundo Amaral (2004), particularmente no campo educacional, a tecnologia digital, com custos mais acessíveis
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O mundo na ponta dos dedos O surgimento da internet colocou o mundo ao alcance da ponta dos dedos, de uma forma que nem o céu é mais o limite.
Internauta Termo pelo qual também é conhecido o usuário da internet.
O hipertexto
Dicas de busca
O hipertexto é feito de nós e de links heterogêneos, compostos de elementos de natureza diferentes – uma mistura multimídia de imagens, textos e sons. Na rede hipertextual, encontram-se todas as diferentes formas de documentação.
A internet é uma ferramenta muito importante para os alunos, não só como entretenimento, mas também como aliada nas tarefas escolares, já que a maioria dos estudantes costuma recorrer aos sites de pesquisa para tirar qualquer tipo de dúvida, da mais simples à mais complexa.
São teias de informação em constante construção, já que se modificam continuamente pela possibilidade de, a cada instante, receberem um link com uma nova informação. Portanto, o hipertexto é uma rede de associações que faz parte de outras redes nas quais cada nó une-se a outros, articulando-se e tornando todas as redes possíveis. Não há unidade interna no hipertexto.
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Nesse particular, como a internet abriga um universo de informações, é importante que o aluno, a exemplo de qualquer outro internauta, saiba “encontrar” o que procura. Para isso, seguem algumas dicas que vão auxiliar em uma busca mais eficiente, unindo agilidade e satisfação: • n ão digitar apenas uma palavra, mas palavras-chave, forma mais comum de pesquisa nos dias de hoje.
Os alunos devem definir as palavras que considerem essenciais para encontrar o que procuram; • a crescentar determinados sinais que vão ajudar a encontrar o caminho, como aspas, subtração e adição, ou determinadas características, como presidente, escritor, ator, etc. Isso refina a busca, apresentando resultados mais efetivos; • d igitar palavras-chave de temas relacionados.
É bom saber As aspas (“”) buscam resultados que apresentem apenas as palavras digitadas entre esses sinais.
Sites de busca Hoje em dia, o internauta dispõe de uma série de sites de busca. Alguns dos mais conhecidos são Google, Yahoo!, Alta Vista e Aonde. Google No Google (http://www.google. com), podem ser encontrados textos, fotos e vídeos sobre os assuntos pesquisados. O site dispõe de recursos avançados de pesquisas e é redirecionado: ao clicar no link, automaticamente vai-se para a página brasileira do Google: http://www.google.com.br. Yahoo! Cadê? Anteriormente denominado simplesmente Cadê?, o Yahoo! Cadê? (http://cade.search.yahoo. com) assemelha-se ao Google na forma de apresentação, dispondo também de recursos avançados de pesquisas. Alta Vista O Alta Vista (http://www.altavista. com) apresenta recursos como: pesquisas avançadas, páginas amarelas, localização de pessoas e mapas.
Palavras-chave Grupo de palavras consideradas essenciais para o assunto buscado, que traduz o sentido de um contexto ou o identifica.
Dicas É recomendável que, ao digitar frases ou perguntas, elas sejam curtas. O uso da cedilha é importante, porque esse sinal poderá influir no resultado da busca. Se o tema for “escola”, por exemplo, o aluno poderá escrever “professor”, “educação”, “sala de aula”...
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Dica Para evitar a reprodução de textos da internet, oriente a sua turma a: • preparar uma lista de perguntas-chave; • fazer um fichamento; • elaborar a síntese do trabalho.
Fichamento Registro das ideias e/ ou informações mais relevantes do material pesquisado. Ah! Não se esquecer de anotar as fontes e os autores pesquisados.
Aonde O Aonde.com (http://www. aonde.com) é um site de busca nacional que leva a outros sites de buscas não só do Brasil como de outros países. Há, ainda, o site de pesquisas Wikipédia (http://www.wikipedia. org), a chamada “enciclopédia livre”, que recebe contribuições de internautas que o utilizam, ampliando o conteúdo do site. Mas, ao usá-lo, é preciso que as informações sejam comprovadas, já que as colaborações dos internautas não são checadas. Há quem defenda que esse aspecto livre do site possa ser uma oportunidade para o professor ensinar os alunos a discernir fontes de informação e a sempre confirmar os dados. Mesmo ao pesquisar em sites confiáveis, é recomendável que o internauta recorra, no mínimo, a três buscadores para fazer uma pesquisa consistente. Os critérios utilizados para a busca na internet não são
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universais. Cada buscador tem seus próprios critérios, e, para conhecê-los, é preciso procurá-los no próprio buscador.
O objetivo da busca na internet Ao propor um trabalho que envolva a busca na internet, o professor deve orientar os alunos a não perder de vista seus objetivos na pesquisa. Isso ocorre quando a coleta das informações é muito ampla ou foge da proposta do trabalho. Ao acompanhar todas as etapas do processo, o professor vai saber o que os alunos de fato criaram e o que eles simplesmente copiaram. Assim, ele ensina o que é uma pesquisa séria, à qual deve sempre ser acrescentado algo novo. É nesse momento que o professor pode orientar os alunos no sentido de:
• o ptar por sites de universidades, centros de pesquisas e ONGs, por exemplo, que são consideradas boas referências para consultas e que citam as fontes utilizadas; • n o caso de serem utilizados sites de busca, escolher os maiores, que são gratuitos e atualizados a todo instante; • v erificar a data em que a informação foi postada, já que, dependendo do caso, os dados podem ter perdido a validade; • o s alunos devem ser conscientizados sobre a importância dos livros como fonte de consulta e devem ser estimulados, também dessa forma, ao necessário e prazeroso hábito da leitura. É também nesse momento que o professor tem a oportunidade de tocar em um assunto muito importante no mundo digitalizado no qual se vive nos dias de hoje: a segurança na internet. São
várias as dicas que ele pode sugerir aos alunos: • s ó preencher cadastro em sites confiáveis, como os citados anteriormente (de universidades, centros de pesquisas...); • s empre clicar em “sair” antes de fechar as páginas e os programas; • não deixar senha gravada. A oportunidade é boa, também, para orientar os alunos em relação aos momentos de lazer, nos quais cada vez mais eles utilizam-se das chamadas redes sociais, em que estão inclusas as redes de relacionamentos, como o Orkut, o Twitter, o MySpace e, mais recentemente, o Facebook. Todas essas redes sociais são espaços virtuais e informais de encontro na internet que possibilitam uma construção coletiva aberta, na qual cada um que escreve é um produtor da informação.
Dica Que tal pedir a seus alunos que pesquisem e elaborem um manual com dicas de segurança na internet? A cada dia, surgem novas ameaças na rede, e a tarefa vai torná-los mais aptos a se prevenir.
Redes sociais Grupos ou espaços específicos na internet que permitem partilhar dados e informações, de caráter geral ou específico, nas mais diversas formas (textos, arquivos, fotos...).
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O roteiro na construção de narrativas interativas Marcos Machado A construção de mídias digitais interativas, como sites e vídeos interativos, inicia-se com a organização das informações, conforme as interseções propostas. Diferentemente do roteiro tradicional, que segue o caminho linear de início-meio-fim, o roteiro das mídias interativas equivale a um desenho estruturante. Para isso, utiliza-se ferramenta do mapa conceitual, para organizar as informações e representar graficamente as conexões previstas. Os mapas conceituais são representações gráficas
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semelhantes a diagramas que indicam relações entre conceitos ligados por palavras (proposições), representando uma estrutura que vai desde os conceitos mais abrangentes até os mais específicos. Para a construção de um mapa conceitual, deve-se organizar a informação e suas interfaces considerando a estruturação do tema, as hierarquias estabelecidas entre os diferentes níveis de acesso e a relação entre os conceitos. Ao final, o mapa deve representar os caminhos traçados pelo autor sobre o tema.
Portanto, o mapeamento conceitual é uma ferramenta fundamental para a roteirização de ambientes e de interfaces digitais, organizando a informação em estrutura composta por blocos interligados, através de links (interconexões) que oferecem aos usuários diferentes trajetos para a leitura, de forma não linear. Tais dados podem estar contidos não só em textos escritos, mas também em sons, imagens (animadas ou fixas) e vídeos, facilitando, dessa forma, as interações, intervenções e criações por parte dos usuários.
A produção de um mapa pode ser feita por meio de esquemas bastante livres, como no modelo do diagrama elaborado manualmente.
141
Pode também ser feita com o uso de programas específicos, baixados livremente da internet, como o Cmap Tools (http://cmap.ihmc.us), com variados recursos de edição: caixas de texto, inserção de setas, links para fotos, vídeos e websites.
CONTRATA
EMPRESA
PÚBLICO-ALVO
MIDIAEDUCAÇÃO DEMANDA UM
FORMADO POR
TEM SEU PROFESSORES
ADMINISTRATIVO
PARA DESENVOLVER O
ALUNOS
COMO
WEBSITE ERA VARGAS
VÍDEOS
CADASTRO CONTATOS
QUE INCLUEM QUE SE SUBDIVIDEM EM
COM PERFIL QUE É COMPOSTO POR
BUSCA CRÉDITOS
INTRODUÇÃO
INTERATIVOS
CONCLUSÃO
CONTEÚDOS COM FORMATO
QUE SE SUBDIVIDEM EM
TRANSMÍDIA
QUE POSSUEM LINKS HOME
PESQUISA HISTÓRICA
SITUAÇÃO DA ÉPOCA
SITUAÇÃO ATUAL
EXTERNOS COMO
FIXOS
COMO
VÍDEOS
CURIOSIDADES
PATROCINADORES JORNAL DE ÉPOCA
COMO
PUBLICIDADE REDES SOCIAIS
DESTAQUES
DISPOSITIVOS MÓVEIS
ENQUETES
LINHA DO TEMPO
DIÁRIO VARGAS
142
PÍLULAS
ATRAVÉS DE
QUIZ
Responsabilidade em relação à autoria Nos dias de hoje, em que a chamada “sociedade da informação” tem como uma das estrelas principais a internet, mais do que nunca é preciso fazer uso dessa ferramenta poderosa com responsabilidade. O professor, como mediador do conhecimento, é a pessoa ideal para esse tipo de orientação. A ele cabe lembrar que a internet é uma grande fonte de pesquisa escolar, mas que deve
ser utilizada sempre com critério e com ética. O critério diz respeito às consultas em sites confiáveis, alguns já citados, que darão credibilidade ao trabalho escolar. A ética refere-se ao fato de que, ao se utilizar a internet como ferramenta de busca, a fonte deve ser citada e o conteúdo, acrescido ou aperfeiçoado, e não simplesmente copiado.
Ao orientar os alunos a sempre divulgar a(s) fonte(s) de informações ou o autor de um determinado texto, o professor os ensina a respeitar a obra alheia, a ser ético. Nesse sentido, está orientando, também, à pesquisa e às possíveis conexões entre conteúdos e autores, ampliando, assim, as variadas e múltiplas leituras sobre o mesmo assunto.
Protegendo-se nas redes sociais: • n ão revelar determinados dados pessoais, como endereço e telefone; • n ão confiar em tudo o que vê ou lê, já que muitos conteúdos são falsos e mentirosos (confirmar as informações em outros sites); • u tilizar o serviço de pesquisa segura (Safe Search) dos buscadores; • n ão aceitar ajuda de estranhos ao utilizar computadores fora de casa.
143
Privacidade: a chave do cofre Marci Dória Passos A privacidade é uma conquista pessoal de um espaço íntimo, reservado e particular. Trata-se do resultado do difícil trabalho de separar-se dos pais na infância. Em pequeno, vivemos uma grande dependência e nos diferenciamos pouco daqueles que nos cuidam. Com o tempo, e a partir de certas conquistas subjetivas, nos diferenciamos e desenvolvemos a capacidade de estar só. De certa forma, a privacidade tem alguma relação com a capacidade de estar consigo mesmo. A intimidade, o “infinito particular”, é tesouro que partilho por escolha. Meu bem e meu
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mal, o melhor e o pior de mim serão acessíveis para aqueles que souberem ver e que tiverem a permissão de entrar em meus espaços mais secretos. Por outro lado, a dimensão pública é de todos, é exposição, é partilhamento e convívio mais anônimos e com menos escolhas. A separação entre público e privado tem demarcações claras; mas, volta e meia, as bordas apagam-se, e torna-se público o que deveria ficar na intimidade, ou utiliza-se como particular e pessoal um bem ou um espaço público, que deveria ser de todos. Quando público e privado misturam-se, é hora de
reorganizar os limites e de construir barreiras para os transbordamentos. Sentimos desconforto pelas invasões não autorizadas. E as justificativas para controlar a vida do outro são discutíveis e merecem atenção. Há um risco grande ao desrespeitar tanto a dimensão da coisa pública quanto a esfera da privacidade. E há um perigo ainda maior de tudo parecer normal e natural, deixando de surpreender fatos que não condizem com o convívio respeitoso e civilizado. As revistas de fofocas supervendidas e o sucesso de programas que exploram a
intimidade das pessoas apontam para o gozo voyeur e exibicionista, próprio do homem. Quais, então, os limites entre aquilo que deve ser mantido em segredo e aquilo que, ao ser revelado, contribui para o avanço do ser? Maridos, amores, filhos, pais, políticos: quais os critérios para a invasão da privacidade? Essa entrada forçada e sem convite na intimidade de alguém é autorizada pela necessidade de cuidados ou, mesmo, de informações pertinentes a interesses afetivos ou políticos. Onde o limite? O livro de George Orwell 1984, ficção aterrorizante, denunciava as invasões do olhar do “grande irmão”, controle paradigmático de tempos de extremismo ideológico. A necessidade de tudo saber sobre o outro e o
controle sobre eventuais desvios da linha permitida pelo poder oficial desencadeavam medos, perseguições e angústias que tornavam impossível existir com tranquilidade, do jeito que cada um escolhesse. Nenhuma liberdade; uma figura de poder absoluto determinava o possível. Essa ameaça de um olho que tudo vê torna-se escolha e, hoje, em tempos de reality shows, a própria pessoa oferece-se aos olhares dos outros. Para o bem e para o mal, cada um tem sua intimidade devassada para o gozo do próximo. Claro que existe toda uma diferença quando há escolha individual: quero e ofereço-me para esse olhar. E, também, sou eu mesmo quem liga a TV e assiste ao programa ou procura outros interesses. Nem por isso, deixa de ser surpreendente.
Se a curiosidade infantil, parte importante do aprender sobre si mesmo, sobre o outro e sobre o mundo, é abertura para a descoberta de si e anúncio da vontade de saber, existem espaços a serem preservados. Big Brother, paparazzi, celulares, Nextel: os gadgets variam, mas é sempre possível olhar por dentro de vidas alheias, ou ser olhado. Em tempos de blogs, Twitter, Orkut, Facebook, será que a dimensão da privacidade se perdeu? Ou, assim como nos diários de antigamente, os atuais diários virtuais também permitem que o autor tenha a chave que os abre? A chave do cofre pessoal é bem a ser preservado no mais íntimo de cada um.
145
Conclusão As possibilidades das mídias variam de acordo com a potencialidade de cada uma delas. Hoje, existe o recurso de somar os diferentes meios de forma complementar. Nessa convergência de mídias, o importante é deixar clara a função de cada uma, adequando a linguagem e o meio à finalidade desejada e enriquecendo o trabalho educativo. A utilização simultânea da televisão, do computador e do rádio, por exemplo, favorece a abrangência, a interatividade, o imediatismo e a atualidade. A mesma mensagem alcança, ao mesmo tempo, uma grande extensão territorial, além de abrir novas possibilidades de diálogo entre os usuários, de impactar a afetividade/sensibilidade do consumidor e de favorecer a atualidade das informações, já que a televisão, o computador e o rádio são fontes de informações contínuas. 146
Quando a utilização simultânea dessas mídias inclui o livro, acresce-se a permanência no tempo, já que o livro mantém a mensagem intacta, além de dar uma ideia de aproximação entre as informações nele contidas e o leitor. Portanto, Educação e Comunicação continuam sendo campos distintos do conhecimento, mas, no mundo globalizado em que vivemos, no qual os meios de comunicação e, principalmente, as novas tecnologias ganham cada vez maior espaço na vida de todos, em todas as idades e em todos os sentidos, os seus limites são cada vez menos nítidos. Isso leva, necessariamente,
ao diálogo pedagógico que envolve as duas áreas. É um diálogo que, por sua vez, tem de levar em consideração um currículo que contemple e desenvolva as novas e variadas formas de aprender e de ensinar, de forma a gerar competências, hoje, básicas ao próprio exercício da cidadania.
Convergência de mídias Interação e interconexão entre os vários tipos de mídias, como rádio, televisão, computadores e tecnologias de rede. A convergência de mídias prevê que toda informação esteja disponível a todos, a qualquer momento e em todos os lugares.
A experiência da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro
A Educopédia e a melhoria do processo de aprendizagem Rafael Parente Em várias partes do mundo, governantes, pesquisadores e empresários têm discutido estratégias para utilizar as novas tecnologias de informação e comunicação como instrumentos de melhoria do processo ensino-aprendizagem. Na cidade do Rio de Janeiro, temos um plano dividido em três macroestratégias paralelas que estão nos permitindo atingir esse objetivo: 1) m elhorar a infraestrutura das escolas e a manutenção do parque de máquinas; 2) c apacitar professores e gestores para que eles não só se sintam confortáveis com a adoção de novas práticas, mas também desejem adotá-las; 149
3) investir em conteúdos e em sistemas que garantam a organização do currículo e a fácil integração de novas mídias. Dentro do nosso plano, a Educopédia, plataforma de aulas digitais, é a principal ferramenta. Trata-se de uma plataforma on-line colaborativa que organiza nossas orientações curriculares em 32 aulas digitais por disciplina e por ano. Ela já cobre todas as áreas e disciplinas até o 9º ano, inclusive Educação Infantil, Educação para Jovens e Adultos, artes e cursos especiais. Entre estes últimos, destacamos Pé de Vento, que é um curso de alfabetização para o 1º ano; Grandes Obras Literárias, cujo objetivo é explorar características diversas de livros clássicos; Sonhos com Degraus, que leva o aluno a compreender que deve ser protagonista de suas ações e
150
construir o seu projeto de vida, imbuído de valores positivos; e Zuuum, um jogo didático de perguntas e respostas. As atividades das aulas digitais incluem textos, imagens, vídeos, animações, podcasts e jogos, organizados com o intuito de desenvolver competências e habilidades relacionadas ao tema da aula. Esses objetos de aprendizagem são selecionados, produzidos, revisados, ordenados e publicados por um grupo de 210 professores da nossa própria Rede, que passam por um processo de capacitação constante, não abandonaram a sala de aula e usam seu tempo livre para essa construção colaborativa. Vários jogos, vídeos e animações foram criados por instituições parceiras, como a MultiRio, o Instituto Oi Futuro, a Fundação Roberto Marinho e a Khan Academy. Cada disciplina ou curso tem sua
“família de educopedistas”, geralmente contando com um coordenador, um revisor, um ou dois validadores e de quatro a oito produtores das aulas. A Educopédia é clara, direta e extremamente intuitiva para que alunos e professores possam utilizá-la de qualquer computador conectado e a qualquer hora, sem a necessidade de treinamento. Isso significa que a aprendizagem não tem mais limites de espaço ou de tempo. A navegação foi pensada para pessoas com qualquer nível de letramento digital. Além de ser uma opção prática para a integração das novas tecnologias em sala de aula, a plataforma é mais uma alternativa para alunos que perderam aulas; que não compreenderam o conteúdo; que precisam de um reforço escolar; e, também, para o desenvolvimento constante
e a obtenção de um conhecimento mais aprofundado. Como na Wikipédia, a revisão frequente das aulas e as sugestões de professores e alunos de toda a Rede acarretam o aumento constante da qualidade. Para a utilização da Educopédia nas escolas, as unidades estão passando por revisões elétricas e lógicas, instalação de internet banda larga sem fio, projetores, caixas de som, quadros brancos e netbooks em todas as salas de aula regulares. Aproximadamente 410 escolas da Rede (todos os ginásios cariocas) já estão prontas. Também estamos testando a utilização de netbooks pelos alunos. O nosso objetivo é estender essa implementação, gradualmente, para todas as 1.064 escolas municipais do Rio. Alunos e professores das unidades que ainda não contam
com esses equipamentos nas salas de aula regulares estão utilizando a Educopédia nas salas de informática, de leitura, dos professores, em suas residências e nas lanhouses. Outra vantagem é que a Educopédia não é algo externo à Rede ou uma substituição das ferramentas didáticas convencionais. Cada uma das aulas digitais inclui um plano de aula, um teste e uma apresentação de PowerPoint, mas os professores têm autonomia para utilizar a plataforma como e quando quiserem, tendo, ainda, à sua disposição, cadernos pedagógicos também criados por professores da Rede e livros didáticos distribuídos pelo Ministério da Educação. As aulas digitais, os cadernos pedagógicos e as provas bimestrais são congruentes, todos baseados nas orientações
curriculares, e auxiliam os professores a utilizar melhor o tempo disponível para cada aula. As ferramentas disponíveis dentro da Educopédia também estão em processo constante de melhoria. A partir das opiniões dos professores e dos alunos, fizemos algumas modificações e lançamos a segunda versão da plataforma. Nela, o processo de cadastro e o deslocamento entre atividades, aulas, disciplinas e anos foram facilitados. Além disso, incluímos novos itens, como o bate-papo e o bloco de anotações, que possibilitam a maior interação on-line entre alunos, alunos-monitores e professores, para que, por exemplo, os alunos possam solucionar suas dúvidas mais rapidamente. Uma nova versão já está sendo programada e nela apresentaremos mais um grupo de novidades, como a Educoteca, a nossa biblioteca
151
de livros transmídia e em novos formatos digitais. Estamos acompanhando de perto o que está acontecendo e analisando os primeiros resultados. Alunos, professores e diretores têm tido opiniões bastante positivas, e já estamos começando a relacionar a maior utilização da Educopédia a melhores notas nas provas
152
bimestrais. Também detectamos que a utilização das aulas digitais aumenta a motivação e o interesse dos alunos, o que acarreta melhorias na disciplina e na concentração dos alunos e na qualidade da aula dada. Isso acontece porque a Educopédia fala a linguagem dos nossos alunos, que são nativos digitais, adoram vídeos, redes sociais e jogos.
153
Anexo
Passo a passo Planejamento de produção As etapas e os procedimentos de produção são semelhantes tanto na realização de um programa de rádio quanto na de um vídeo. Porém, cada produção tem necessidades específicas que deverão ser consideradas ao planejá-la. Para isso, recomenda-se adaptar os formulários apresentados neste passo a passo ao contexto da produção, levando em conta as especificidades de cada meio ou formato. O roteiro é o ponto de partida da produção. É o instrumento de trabalho que orienta toda a equipe para a realização de um produto de mídia. Por isso, deve conter as seguintes informações: ordenação de sequência e cena; identificação da cena – estúdio/externa, dia/noite, personagens em cena; descrição resumida da cena; descrição dos diálogos ou das narrações; rubrica, ou seja, orientações ou sugestões do roteirista para evidenciar a intenção da cena, como enquadramentos de câmera, interpretação e sonoplastia.
155
Roteiro – É a forma escrita de uma história contada com imagens e sons. (modelo 1) De posse do roteiro e com as orientações artísticas da direção, inicia-se a fase da pré-produção. Nessa etapa, são articuladas as equipes e providenciados os recursos para as gravações e a pós-produção. O primeiro passo é a decupagem de produção do roteiro. Em formulário apropriado, o produtor relaciona todos os elementos presentes na cena (elenco, figurino, contrarregra, apoio operacional...). Decupagem de produção – Processo de identificação dos elementos do roteiro necessários à gravação de cada cena. (modelo 2) O passo seguinte é preencher o formulário de levantamento de necessidades de produção para as providências de confecção, aluguel, empréstimo, compra e/ou permuta, tendo como referência a decupagem de produção, na qual estão listados os recursos necessários à realização do produto. Levantamento de necessidades – Funciona como uma lista de checagem para a produção. (modelo 3) Em uma produção com diferentes locações ou cenários, é importante separar as cenas do formulário de decupagem de produção em um outro
156
formulário, o mapa de locação, organizando-as por cenários ou locações. Essa arrumação permite avaliar o número de cenas em cada cenário ou local para o planejamento de gravação. Mapa de locação – Instrumento utilizado pelo produtor para agrupar por cenário ou locação todas as informações necessárias à gravação, tais como elenco, dia ou noite, objetos cênicos, figurino, adereços, efeitos especiais, entre outras. (modelo 4) Quando as cenas são realizadas em externa, é necessário fazer uma locação antes da gravação. No formulário de locação proposto em anexo, estão listados os itens que devem ser observados no local, para que atenda às exigências artísticas, às condições técnicas e de infraestrutura de produção. Para esta última, questões como a distância entre a escola e o local da gravação, o espaço para troca de roupas, o som ambiente e a energia elétrica podem comprometer o desenvolvimento da atividade. Formulário de locação – Avaliação das condições técnica, artística e de produção do local indicado para a gravação. Recomenda-se fotografar ou gravar o local para uma melhor análise. Na locação artística, são avaliadas as características ambientais descritas no roteiro. Na locação de produção, são verificadas as condições de estrutura favoráveis. Na locação técnica, serão analisadas as necessidades de roteiro e as condições do ambiente, tais como ruídos externos, iluminação natural, corrente elétrica, entre outras. (modelo 5)
157
Depois chega a vez de organizar, em um cronograma, as providências necessárias à realização da produção. Cronograma – Gráfico de planejamento e controle de atividades com previsão de execução. (modelo 6) É o momento de levantar os custos da produção. Para isso, recomenda-se o uso de uma planilha de orçamento. Nela, deverão ser considerados os valores referentes à prestação de serviços, aos aluguéis e às compras. Planilha de orçamento – Formulário que ajuda a equipe no planejamento de custos da produção, considerando os recursos necessários à realização do produto: recursos humanos, artísticos, operacionais e de apoio. (modelo 7) Após a ordenação cronológica das ações, é importante detalhar o plano de ação. Plano de ação – É o planejamento de todas as ações necessárias para atingir um resultado desejado, considerando procedimentos, responsáveis e prazos. (modelo 8) Depois da decupagem, do levantamento das necessidades e da definição de locação, deve ser elaborado o planejamento de gravação, conhecido também como roteiro de gravação. Ao selecionar e ordenar as cenas
158
que serão gravadas, é necessário levar em conta questões para o bom andamento da gravação, tais como as trocas de cenário, as alternâncias de luz, as mudanças de roupa e/ou os efeitos especiais. No cabeçalho do planejamento de gravação, não pode deixar de ser considerado o tempo total previsto para a atividade. Porém, para cada cena ou etapa de gravação, deve-se descontar o tempo de translado, montagem do set, troca de roupa, mudança de iluminação, intervalo para almoço, entre outras ações. Planejamento de gravação – Plano que orienta toda a equipe para o que será gravado. (modelo 9) Outro procedimento importante é a autorização para a exibição de imagem, voz ou texto de pessoas que aparecem nas produções, bem como a autorização expressa para a inserção de obras pertencentes a terceiros, como fotos, textos, músicas, trechos de filmes. Toda criação artística e intelectual está protegida por legislação específica. Para isso, utiliza-se formulário de cessão de liberação de direitos autorais. Liberação de direitos autorais – Além dos direitos de imagem, os direitos do autor referem-se a obras literárias, artísticas ou científicas; obras coreográficas; obras dramáticas; desenhos, pinturas, esculturas; composição musical; audiovisuais; obras fotográficas; programas de computador; etc. (modelo 10)
159
Formulários 160
Modelo 1
Formulário de roteiro Título: Roteirista: Data: Vídeo
Áudio
161
Decupagem de produção do roteiro Roteiro: Episódio/Capítulo: Produção: Cena / Sequência
162
Cenário / Locação
Ext / Int
Dia / Noite
Elenco
Contrarregra
Outros
Modelo 2
Figurino
163
Formulário de levantamento de necessidades Roteiro: Produção: Gravações Necessidades Figurino Confecção
Cenografia Adereços Guarda-roupa Contrarregra Maquiagem/cabeleireiro Montagem cênica
Rotina
Cachê Convocação de elenco Fotografia Pesquisa Facilidade operacional Roteiro de gravação Autorização de locação
Locação / Externa
Energia elétrica Transporte Alimentação
Pós-produção
Outros
164
Produção musical Efeitos especiais
Mês:
Mês:
Mês:
Dia:
Dia:
Dia:
Ext/Est:
Ext/Est:
Ext/Est:
Mês:
Mês:
Mês:
Mês:
Dia:
Dia:
Dia:
Dia:
Dia:
Ext/Est:
Ext/Est:
Ext/Est:
Ext/Est:
Ext/Est:
Modelo 3
Mês:
165
Mapa de locação Roteiro: Cenário/Locação: Produção: Cena / Sequência
166
Ext / Int
Dia / Noite
Elenco
Figurino
Modelo 4 Contrarregra
Outros
167
Formulário de locação Dados do Evento Vídeo: Data de gravação: Horário:
Dados do Local Identificação do local:
Telefone:
Pessoa responsável pela autorização:
Função:
Endereço:
Bairro:
Estado: Pessoa de contato:
Função:
E-mail:
Cel.:
Locação de Produção Distância da produtora: Estacionamento: Vestiário: Alimentação: Segurança: Autorização: 168
Modelo 5
Locação Técnica Iluminação: Eletricidade: Áudio: Outros: Locação Artística Set: Cenografar/Adereçar: Captação de imagem do local: Recurso técnico complementar:
Outros
Equipe de Vistoria Produção: Direção: Iluminação: Áudio: Eletricista:
169
Cronograma de produção Vídeo: Produção: Mês:
Mês:
1a
2a
3a
4a
5a
1a
2a
3a
4a
5a
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
1
Proposta do projeto
2
Análise da proposta
3
Briefing
4
Argumento
5
Roteiro
6
Pesquisa de campo
7
Análise da pesquisa
8
Tratamento do roteiro
9
Apresentação para aprovação do roteiro
10 Decupagem do roteiro
11 Decupagem técnica do roteiro
12 Levantamento de necessidades
13 Planejamento de gravação
170
Modelo 6
Mês:
Mês:
1a
2a
3a
4a
5a
1a
2a
3a
4a
5a
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
Sem
14
Seleção de elenco
15
Locação
16
Produção de cenário e objetos cênicos
17
Produção de figurino e caracterização
18
Roteiro de gravação
19
Ensaio de elenco
20
Produção ou pesquisa de trilha musical
21
Gravação externa
22
Gravação em estúdio
23
Decupagem de material gravado + roteiro de edição
24
Edição (edição de vídeo, sonorização e créditos)
25
Avaliação
26
Apresentação ao cliente
171
Planilha de orçamento Produto: Responsável:
Data:
1. Equipe Item
Descrição
1.1
Diretor
1.2
Roteirista
1.3
Quantidade
Unidade
Produtor
1.4
Pesquisador
1.5
Operador de Câmera
1.6
Iluminador
1.7
Figurinista
1.8
Cenógrafo
1.9
Maquiador/Cabeleireiro
1.10
Contrarregra
1.11
Camareiro
1.12
Programador Visual/Animador
1.13
Editor
Valor Unitário
Valor Total
Valor Unitário
Valor Total
Subtotal
2. Elenco Item
Descrição
2.1
Apresentador/Locutor
2.2
Ator
2.3
Figurante
Subtotal
172
Quantidade
Unidade
Item
Descrição
Quantidade
Unidade
3.1
Câmera Digital
3.2
Acessórios
3.3
Ilha de Edição
3.4
Outros
Valor Unitário
Valor Total
Valor Unitário
Valor Total
Valor Unitário
Valor Total
Modelo 7
3. Equipamento
Subtotal
4. Recursos Artísticos Item
Descrição
Quantidade
Unidade
4.1
Cenário
4.2
Figurino
4.3
Adereços
4.4
Objetos Cênicos
4.5
Outros
Subtotal
5. Apoio à Produção Item
Descrição
Quantidade
Unidade
5.1
Transporte
5.2
Hospedagem
5.3
Alimentação
5.4
Seguro da Equipe e de Equipamentos
5.5
Fita ou Cartão para Gravações
5.6
Cessão de Direitos Autorais
5.7
Extras de Produção
Subtotal Total
173
Plano de ação Plano de ação:
Responsável:
Meta: O que fazer?
174
Por que fazer?
Quem fará?
Como fará?
Onde fará?
Quando fará?
/
/
Observações
Modelo 8
Em
175
Modelo 9
Planejamento de gravação Roteiro: Episódio/Capítulo: Produção: Data da gravação: Período: Cenário/Locação: Início: Cena / Sequência
Horário
176
Ext / Int
Dia / Noite
Elenco
Figurino
Contrarregra
Outros
Modelo 10
Liberação de som, texto e/ou imagem
Termo de autorização
Eu, , autorizo a publicação de meu som, minha imagem e/ou texto na produção audiovisual (produção visual, sonora ou web) . A referida autorização é em caráter gratuito, sem qualquer custo ou ônus à (nome da escola), para exibição a qualquer tempo e título, em qualquer tipo de mídia, sempre em caráter educativo e sem fins comerciais.
Rio de Janeiro,
Autorizado Nome: CPF: Telefone:
177
179
Fontes consultadas
180
Minibiografia – Colaboradores Eduardo Monteiro – Designer e mestre em Educação, realiza pesquisa de Doutorado sobre Educomunicação na ECA/USP. Elizabete dos Santos – Professora da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná, graduada em Psicologia pela PUC-PR, com Mestrado em Tecnologia pela UTFPR. Atualmente, é coordenadora de Tecnologia e Comunicação no Instituto Federal do Paraná. Marci Dória Passos – Psicanalista, professora do Departamento de Linguística e Filologia da UFRJ, pesquisadora em Linguagem e Saúde Mental no IPUB/UFRJ. Marcos Machado – Bacharel em Desenho Industrial, pós-graduado em Ilustração e Animação Digital 3D, professor universitário na UVA/UCB/ INFNET e na NAVE-OI Futuro, diretor do CCBC – Centro Cultural Brasil-Canadá. Marcus Tavares – Professor da PUC-Rio, da Escola Técnica Estadual Adolpho Bloch e da UniverCidade; doutorando em Educação pela PUC-Rio. É colunista do jornal O Dia e editor da revista eletrônica revistapontocom, da OSCIP planetapontocom. Integra a Rede de Trabalho do Instituto Alana. Rodolpho Motta Lima – Formado em Literatura e Língua Portuguesa pela Uerj, professor de Língua Portuguesa, autor de publicações didáticas, cronista e articulista. Rafael Parente – Subsecretário de Novas Tecnologias Educacionais da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, autor da Educopédia, Rioeduca.net, Sistema Escola 3.0 e Pé de Vento; mestre em Gestão da Educação, pós-doutorando em Educação Internacional e Desenvolvimento pela New York University. 181
Minibiografia – Citados Áderson Guimarães Pereira – Professor da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. Autor de artigos sobre TICs. Doutor em Ensino de Ciências e Matemática e mestre em Políticas Sociais. Affonso Romano de Sant´Anna – Escritor, poeta, cronista e professor. Bernardo Toro – Filósofo e educador colombiano, criou os Códigos da Modernidade, que são sete competências mínimas para a participação produtiva e a inserção social do ser humano no século XXI. Para isso, ele defende o ensino contextualizado, direcionado a assuntos que façam sentido na vida dos alunos. Carlos Fernando de Araujo Jr. – Professor doutor titular do Programa de Mestrado e Doutorado em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo. Autor de livros e artigos sobre tecnologia da informação e educação. Chacrinha – Apelido do pernambucano José Abelardo Barbosa de Medeiros, radialista e apresentador de programas de televisão, celebrizado pela frase de sua autoria “Quem não se comunica se trumbica!”. Considerado o primeiro comunicador do Brasil. Cleide Ramos – Presidente da MultiRio e doutora em Ciências da Educação. Concebeu, produziu e realizou projetos educativo-culturais e programas com tecnologias da comunicação e da informação. Criou e dirigiu empresas que se responsabilizaram por aplicar, na educação, na cultura e na saúde, as mídias impressa, televisiva e eletrônica.
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Edgar Roquette-Pinto – Formado em Medicina, tornou-se conhecido por seu trabalho como antropólogo e educador. Fundador da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, por meio da qual sonhava em erradicar o analfabetismo no Brasil. Foi pioneiro no uso de meios de comunicação na educação ao criar, em 1936, o Instituto Nacional do Cinema Educativo (Ince). Seu objetivo era distribuir projetores e filmes educativos em escolas públicas do então Distrito Federal. Sua intenção era transformar essa iniciativa em campanha nacional. Eduardo Monteiro – Designer e mestre em Educação, realiza pesquisa de Doutorado sobre Educomunicação na ECA/USP. Fernando Hernández – Professor de História da Educação Artística e Psicologia da Arte na Universidade de Barcelona e doutor em Psicologia. Para ele, a organização do currículo deve ser feita por projetos de trabalho com atuação conjunta de alunos e professores, por considerar que isso desenvolve nos estudantes a conscientização sobre o próprio processo de aprendizagem. Henri Cartier-Bresson – Fotógrafo francês ganhador de numerosos prêmios, é considerado um dos fundadores do fotojornalismo moderno. Era chamado de “o olho do século”, por ter fotografado vários países, muitos dos quais no auge de conflitos, no século XX. Ira Shor – Professor universitário e autor de vários livros, é considerado, a exemplo de Paulo Freire, um dos principais expoentes da Pedagogia Crítica, que postula transformações culturais em favor da liberdade dos povos oprimidos.
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Jesús Martín-Barbero – Semiólogo, antropólogo e filósofo nascido na Espanha, é professor da Escola de Comunicação do México e considerado um dos expoentes em estudos culturais contemporâneos. É autor de uma série de livros, entre os quais Comunicação Educativa, Didática Audiovisual e Dos Meios às Mediações. José Eustáquio Romão – Atualmente, coordena o Grupo de Pesquisa Culturas e Educação na Universidade Nove de Julho (Uninove), em São Paulo. Doutor em Educação e um dos fundadores do Instituto Paulo Freire, é autor de vários livros. José Manuel Moran – Professor aposentado da USP e assessor da Faculdade Sumaré, em São Paulo, é doutor em Comunicação e autor de diversos artigos e livros sobre comunicação pessoal, educação e tecnologias, nos quais procura integrar a visão humanista à inovação tecnológica. Lenise Aparecida Martins Garcia – Professora do Departamento de Biologia Celular, da Universidade de Brasília, é doutora em Microbiologia, mestre em Bioquímica e bacharel em Farmácia. Defende a ideia de que o desenvolvimento dos temas transversais gera um maior comprometimento por parte dos alunos e dá um enfoque diferente à aprendizagem. Leonardo da Vinci – Pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, cientista, inventor e escritor italiano nascido no século XV, é considerado o maior nome do Renascimento, ao lado de Michelangelo. Sua arte influenciou a história da pintura, ao colocar o homem, e não mais os valores religiosos, no centro da criação.
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Magda Becker Soares – Pesquisadora e professora titular da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (FaE/UFMG), doutora em Educação. Fundou o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) daquela universidade. É autora de coleções de livros didáticos nas áreas de Língua Portuguesa e de Alfabetização. Marcia Leite – Professora, pedagoga e psicopedagoga, é especialista na área de Tecnologia Educacional, sobre a qual escreveu diversos trabalhos. É diretora da escola Oga Mitá. Maria Cecília Martins – Professora convidada do curso de especialização Tecnologias Interativas Aplicadas à Educação, da PUC-SP, é doutora em Multimeios. Atua em projetos de pesquisa relacionados à informática na educação e, mais recentemente, a temáticas como multimeios e educação e educação a distância. Atuou em vários projetos de formação de professores para a utilização das tecnologias de informação e comunicação na educação. Maria Elisabette Brisola Brito Prado – Pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas e professora da Universidade Bandeirante de São Paulo, é doutora em Educação: Currículo. Tem experiência na área de educação, com ênfase em formação de professores, informática na educação e educação a distância. Maria Elizabeth Bianconcini de Almeida – Professora no Programa de PósGraduação em Educação: Currículo, linha de pesquisa Novas Tecnologias em Educação, e no Departamento de Ciência da Computação, área de Educação a Distância, na PUC-SP. É pós-doutora e doutora em Educação.
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Maria Luiza Belloni – Professora do Departamento de Metodologia de Ensino e do Programa de Pós-Graduação do Centro de Ciências da Educação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autora de diversos livros e artigos sobre educação e mídia. É doutora em Ciência da Educação. Marinete D’Angelo – Especialista em Educação a Distância e autora de vários textos sobre educação e meios de comunicação. Mikhail Mikhailóvich Bakhtin – Filósofo russo nascido no final do século XIX, formou-se em História e Filologia. Iniciou encontros para discutir linguagem, arte e literatura com intelectuais de formações variadas, no que se tornaria o Círculo de Bakhtin. Moacir Gadotti – Pedagogo, mestre em Filosofia da Educação e doutor em Ciências da Educação, é autor de uma série de livros sobre educação, entre os quais Educar para um Outro Mundo Possível. Orson Welles – Diretor e ator de teatro e cinema, celebrizou-se pela transmissão radiofônica de A Guerra dos Mundos, que mais tarde seria tema de filme. A repercussão dessa transmissão foi tão grande que Orson Welles foi convidado a realizar dois filmes em Hollywood com total liberdade de produzir, escrever os roteiros, dirigir e atuar. Paul Claudel – Diplomata, dramaturgo e poeta francês, foi membro da Academia Francesa de Letras.
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Paulo Freire – Ativista social e trabalhador cultural, ex-consultor da Unesco, é considerado um dos mais significantes educadores do século XX. Criou o que alguns especialistas chamam de Pedagogia Crítico-Libertadora, que leva em conta a cultura do educando como ponto de partida para que ele avance na leitura do mundo. Pedro Demo – Professor da Universidade de Brasília e pós-doutor em Sociologia da Educação. Trabalha com metodologia científica, no contexto da teoria crítica e da pesquisa qualitativa. Pesquisa principalmente a questão da aprendizagem nas escolas públicas, por conta dos desafios da cidadania popular. É autor de diversos artigos sobre educação e comunicação, publicados em livros, revistas e sites. Philippe Perrenoud – Doutor em Sociologia e Antropologia. Seu pensamento serviu de base para os novos Parâmetros Curriculares Nacionais. Pierre Babin – Formado em Letras e Psicologia, é psicanalista e professor de crianças inadaptadas ou sem capacidade de comunicação. Pierre Lévy – Filósofo tunisiano, estudou na França, é doutor em Sociologia e em Ciências da Informação e da Comunicação. É consultor de diversos organismos internacionais no que se refere às implicações culturais das novas tecnologias e autor de diversos trabalhos que analisam a cultura do mundo virtual e as novas tecnologias.
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Raquel de Almeida Moraes – Professora da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília, doutora em Filosofia e História da Educação pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Autora de livros e artigos sobre TICs na educação. Reuven Feuerstein – Romeno de nascimento, especialista em Psicologia Geral e Clínica e PhD em Psicologia do Desenvolvimento, dedicou-se, em Israel, à educação de adolescentes sobreviventes do Holocausto oriundos de diversos países europeus e africanos. A partir dos estudos com esses adolescentes, desenvolveu, com seus colaboradores, um sistema de avaliação do potencial de aprendizagem (LPAD) e um programa de intervenção cognitiva (PEI) conhecido como método Feuerstein. Ricardo Petracca – Diretor de Mídia e Educação da MultiRio, é músico, compositor e maestro. Roger Chartier – Historiador francês, faz parte da terceira geração do grupo de pesquisadores conhecido como Escola dos Analles. É professor especializado em História das Práticas Culturais e História da Leitura. Rosa Maria Bueno Fischer – Mestre e doutora em Educação, trabalha com a temática das relações entre mídia, juventude e educação. Silvana Gontijo – Jornalista, roteirista e autora de diversos textos sobre o uso da mídia na educação, é presidente da OSCIP planetapontocom.
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Nota explicativa Os projetos apresentados em “Boa Ideia” foram desenvolvidos pelos professores da Rede Municipal de Educação do Rio no curso de formação de midiaeducadores Por Dentro dos Meios, da OSCIP planetapontocom.
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MultiRio - Empresa Municipal de Multimeios Ltda. Largo dos Leões, 15 • Humaitá • Rio de Janeiro/RJ • Brasil CEP 22260-210 • Tel.: (21) 2976-9432 • Fax: (21) 2535-4424 www.multirio.rj.gov.br •
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