Investimento no exterior - Fachesf

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Investimento no exterior pelos fundos de pensão brasileiros POR LUIZ DA PENHA*

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nvestir no exterior é uma prática comum pelos fundos de pensão e investidores em geral de diversos países há bastante tempo. Os fundos de pensão dos países que compõe a Organização para Desenvolvimento Econômico – OCDE, exceto EUA, têm em média cerca de 30% do patrimônio alocado em

investimentos no exterior. Nos Estados Unidos essa alocação chega a 24%, na Europa 34% e na América do Sul se destacam Chile e Peru que investem em torno 40% no exterior1. Os fundos de pensão brasileiros investem menos de 1% do patrimônio no exterior. No Brasil, a alocação de recursos no exterior tem sido feita historica-

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mente por gestores de recursos de pessoas físicas e famílias de alta renda (Family Offices) com o objetivo de mitigar risco cambial e risco político, além da diversificação. Somente a partir 2009, com a publicação da Resolução n° 3.792 do Conselho Monetário Nacional, os fundos de pensão foram autorizados a investir no exterior, desde que através de fundos de investimentos constituídos no Brasil, respeitados os limites máximos de 10% do patrimônio do plano de previdência e 25% do patrimônio do fundo investido. Este limite de 25% do patrimônio do fundo investido tornou-se uma grande barreira à realização do investimento, uma vez que os fundos de investimentos não existiam e para iniciar um novo fundo é necessário ter pelo menos quatro investidores com compromisso de investir no mesmo dia e de não desinvestir, salvo se simultaneamente , para que não haja desenquadramento em relação ao limite máximo de 25% do patrimônio do fundo. Mesmo com todas essas dificuldades alguns fundos de pensão brasileiros conseguiram alocar recursos no exterior, porém em percentuais muito inferiores aos limites máximos permitidos pela legislação. Somente aqueles gestores de fundos que se dispuseram a alocar capital inicial próprio (Seed Money) conseguiram viabilizar os seus fundos. E por que um fundo de pensão brasileiro precisa alocar recursos no exterior se há tantas oportunidades de investimentos no Brasil e a taxa de juros é uma das mais elevadas do mundo, se não a mais elevada? Essa questão foi colocada por alguns participantes e até por dirigentes de fundos de pensão e de entidades representativas do setor, em alguns casos com um viés nacionalista,

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associada ao argumento de que investindo no exterior estamos gerando emprego em outros países e que as crises no exterior em certos momentos são piores do que Brasil. Para responder a essa questão e mostrar que investir no exterior é uma alternativa que deve ser explorada pelos fundos de pensão brasileiros, como têm feito os investidores no mundo inteiro, apresentamos os argumentos a seguir. Em primeiro lugar, é preciso destacar que uma das alternativas para diversificação de ativos que mais contribui para otimizar a relação risco x retorno de uma carteira é o investimento no exterior. Este fato tem sido comprovado na prática e está fundamentado em diversos estudos com origem tanto no meio acadêmico2 quanto no mercado financeiro. Em segundo lugar é preciso destacar a classe de ativos objeto dos investimentos, pelo menos nessa fase inicial: os ativos finais objeto dos investimentos foram ações de empresas globais com faturamento em diversos países, ou seja, empresas exportadoras independentemente do país onde estejam localizadas; dentre esses ativos se enquadram ações de empresas bastante conhecidas como a Microsoft, Google, Mastercard, Apple, Cisco, Johnson & Johnson, Coca-Cola etc, podendo ser enquadradas também ações de empresas localizadas em países emergentes e no Brasil como a Embraer, por exemplo. Em terceiro lugar precisamos considerar o tamanho do mercado brasileiro e a quantidade de empresas negociadas em bolsa quando comparado com o resto do mundo. Na bolsa de valores de São Paulo existem apenas 358 empresas listadas e o seu principal índice, o Ibovespa, tem 56 empresas. O total de empresas listadas nas bolsas de

tiva, assim como os investimentos em títulos públicos. Sob o ponto de vista de riscos, investir no exterior requer maior atenção, visto que além dos riscos inerentes aos investimentos em ações há o risco cambial, o risco geopolítico e os riscos específicos de cada setor, além da necessidade de focar a análise nas diversas regiões e economias dos mercados destinatários dos produtos das empresas investidas. Porém, os fundos de pensão não precisam necessariamente ter expertise para atender a esses requisitos. A expertise dos fundos de pensão deve ser, necessariamente, na seleção dos gestores de fundos, pois são eles que terão o poder discricionário para alocação dos recursos no exterior, em geral adquirindo cotas de outros fundos, alguns deles com dezenas de anos de existência e sob gestão de instituições tradicionais e renomadas que têm bilhões e até trilhões de dólares em recursos sob gestão. Os investimentos no exterior tiveram excelente resultados no ano de 2015, com rentabilidades em torno de 50%, superando em muito as demais carteiras dos fundos de pensão brasileiros e as metas atuarias. É preciso destacar que esse excelente resultado teve como principal causa a variação cambial, cujo efeito está sendo contrário em 2016. Finalizando, acreditamos que assim como aconteceu em outros mercados, investir no exterior é um caminho sem volta para os fundos de pensão brasileiros, especialmente se olharmos no longo prazo quando certamente o Brasil atingirá o patamar de país desenvolvido, onde o ambiente de investimentos torna-se muito mais difícil. Isso vai demandar dos gestores dos fundos de pen-

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valores do mundo passa de dezenas de milhares3. Existem índices de bolsa com mais de 5 mil empresas. A capitalização de mercado de ações globais é superior a U$ 63,5 trilhões enquanto que a capitalização de mercado de ações da BOVESPA é torno de U$ 844 bilhões. Será que dentre todo esse universo, as melhores oportunidades de investimentos e melhores empresas do mundo, estão no Brasil? Certamente que não. Quanto à alegação de que investir no exterior é gerar emprego lá fora, cabe ressaltar que realmente o ideal seria que os recursos dos fundos de pensão, os quais têm origem nas contribuições dos trabalhadores e das patrocinadoras, fossem alocados na economia real de forma a gerar mais empregos e assim realimentar o sistema de previdência complementar proporcionando o seu crescimento e a sua perenidade. Infelizmente não é isso que acontece no Brasil, pois são poucas as alternativas de investimentos no setor real da economia e boa parte dessas alternativas têm se mostrado inviáveis dado o nível de risco. Segundo dados da ABRAPP4 cerca de 70% está alocado em Renda Fixa. Os títulos Públicos respondem por aproximadamente 51% dos recursos das EFPCs, financiando assim os gastos do governo e não sendo destinados à geração de empregos. Se retirarmos da amostra a PREVI, que pelo seu tamanho distorce as estatísticas, esse número chega a 80%. Apenas 3% estão alocados na carteira de investimentos estruturados, estes sim gerando empregos diretos e indiretos. Os investimentos em bolsa, salvo quando em IPO (oferta pública inicial), são pouco eficientes na geração de empregos, aproximando-se mais de aplicação financeira e especula-

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são um esforço ainda maior para que a aposentadoria dos participantes dos planos de previdência não seja prejudicada ou frustrada em face de uma rentabilidade inadequada dos investimentos. Acreditamos que os participantes dos Fundos de Pensão precisam de retorno dos investimentos para uma aposentadoria segura e tranquila, independentemente das fronteiras geográficas para alocação „ desses investimentos.

Penha Souza da Silva. Recife : O Autor, 2009. 124 folhas : fig., tab.,gráf., abrev. e siglas Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Economia, 2009.

Notas

*Luiz da Penha é Engenheiro Eletricista, especialista em Finanças e Mestre em Economia. Atualmente exerce o cargo de Gerente de Investimentos da Fachesf e é membro da Comissão Técnica Nacional de Investimentos da Abrapp; ([email protected])

1. Fonte: OCDE e PwC 2. Silva, Luiz da Penha Souza da “Efeitos da diversificação de ativos na eficiência da gestão dos investimentos dos fundos de pensão brasileiros / Luiz da

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3. World Federation of Exchanges – dez/2014 4. Revista Fundos de Pensão – nov/dez 2015 – Consolidado Estatístico.