A8
O ESTADO
Campo Grande-MS | Segunda-feira, 6 de novembro de 2017
entrevista
MATO GROSSO DO SUL
Fábio Edir dos Santos Costas
Reitor da Uems
Com investimentos em tecnologias, universidade quer ampliar ensino superior no interior do Estado Na segunda gestão à frente da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Fábio Edir dos Santos Costas, faz um balanço de seu primeiro mandato como reitor e projeta o futuro da instituição. Com o “DNA” de interiorizar a educação do ensino superior no Estado, a universidade tem investido em excelência e verticalização dos cursos de graduação e pós-graduação para desenvolvimento de MS. “A Uems surgiu tendo a sua sede em Dourados e
com o propósito de estar presente nas diversas regiões do Estado. Precisamos que o curso se verticalize e tenha excelência para que pessoas de fora passem a estudar nesses municípios, caso contrário por si eles não terão uma demanda necessária para garantir a continuidade do trabalho. O objetivo estratégico não diz respeito apenas a formar, e sim estabelecer esse indivíduo, depois do ciclo acadêmico, na cidade do interior”, comenta Edir dos Santos.
Presente em 25 municípios de Mato Grosso do Sul, com 15 polos presenciais e outras 10 unidades de EAD (ensino a distância), a Uems tem como objetivo principal para o futuro investir em novas tecnologias para intensificar a educação a distância e levar o ensino superior a estudantes de cidades mais distantes. Além disso, Edir é presidente do Conselho de Reitores, que reúne as seis universidades de MS em políticas de educação superior para o Estado, o Crie-MS.
Por Danilo Galvão
Interiorização do ensino superior, o DNA da Uems Cayo Cruz
O Estado – O senhor está no segundo mandato à frente da Uems. Qual o balanço das duas administrações no cargo de reitor e o comparativo dos ciclos? Fábio Edir – Algumas situações diferenciam os dois mandatos que se complementam na história da universidade. A Uems, em 2011, quando assumi pela primeira vez, vivia uma séria crise financeira, que exigia uma urgente reestruturação interna. Isso, próximo do aniversário de 20 anos da instituição. Naquele contexto, foi um momento de se colocar a casa em ordem, tendo de fazer escolhas na gestão a respeito de se manter alguns cursos ou inovar outros, e equilibrar as contas. Uma vez que havia cursos tecnológicos, abertos anteriormente com a promessa de ajuda do governo federal, sendo que a parceria não foi concretizada naquilo que era aguardado, e dessa maneira foi mais responsável encerrar essas ofertas, para que o orçamento atendesse melhor outras. Foi o melhor a se fazer porque o recurso não veio. Na crise temos também oportunidades, principalmente a chance de olhar pra dentro. E com essa perspectiva, com esse novo caminho, veio mais apoio do governo do Estado e abrimos, por exemplo, o curso de medicina, que corresponde a uma demanda importante de mão de obra para Mato Grosso do Sul. Colocamos também em prática o plano de cargos e carreira da universidade. O equilíbrio e o planejamento nos deram a condição de implantar o Polo de Campo Grande da Uems e mais que isso: respeitarmos com expansão o nosso DNA de interior. O Estado – E o que seria esse DNA de interior? Que vocação é essa da Uems? Fábio Edir – Posso defini-lo como uma presença forte da Uems nos 79 municípios de Mato Grosso do Sul. E de que maneira se mede essa influência? Temos alunos de todas as cidades do Estado representados nas unidades, que hoje são ao todo 25. A universidade foi criada para possibilitar a formação de mão de obra qualificada para o interior. O objetivo estratégico não diz respeito apenas a formar, e sim estabelecer esse indivíduo depois do ciclo acadêmico na cidade do interior. Em razão disso, a Uems surgiu tendo a sua sede em Dourados e com o propósito de estar presente nas diversas regiões do Estado. Criar mais uma universidade na Capital era muito fácil, contudo o desafio de duas décadas atrás era outro, e o governador Pedro Pedrossian entendeu isso. A qualificação gera desenvolvimento regional, se houver a fixação do profissional formado no ambiente acadêmico da localidade. Em virtude desse DNA, o último município a implantarmos uma unidade foi Campo Grande. O Estado – E atualmente, como funciona a capilaridade da Uems? Fábio Edir – A Uems começou com Dourados e mais 13 unidades, em outros municípios. Hoje possui 15 polos de ensino presencial e mais dez de EAD (ensino a distância), que foram instalados graças a parcerias com prefeituras. Estamos em 31% das cidades do Estado, com estrutura de qualidade para todas as regiões. A condição é de excelência, contudo poderia ser melhor se não fosse a crise. Tudo que se planeja acontece com maior dificuldade e o recurso chega, mas de forma dramática, quando chega. O orçamento da universidade para 2015 era algo em torno de R$ 215 milhões, que na época significava 3% da Receita Corrente Líquida do governo do Estado. E por que a correlação da percentualidade do recurso destinado a nós? A resposta é planejamento, só que, desses R$ 215 milhões, número inclusive configurado por estudo, só se concretizaram R$ 150 milhões. Para 2018, o Executivo sinaliza
existam mais as cotas. Porém, até esse dia chegar, elas são necessárias para que a educação superior tenha um acesso justo no país. Esse é um sonho meu. A partir do momento em que a desigualdade recuar e não estiver tão ligada a fenótipos de pele, de aparência das pessoas, vejo a dispensabilidade do sistema. Funciona como uma compensação e desde o início da Uems teve caráter fundamental na formação histórica da instituição. O número de excluídos é muito grande. Vemos como um dever favorecer o acesso. A resposta dos que entram por essa via, que é opcional, tem o mesmo patamar técnico do aluno que entra diretamente.
Quero que um dia não existam mais as cotas. Porém, até esse dia chegar elas, são necessárias para que a educação sperior tenha um acesso justo no país Em nossas instituições somadas, temos algo em torno de 15 mil pesquisadores no Estado e mais de 200 mil alunos, um número comparado à população de Dourados com o aporte de R$ 184 milhões, sendo que o mínimo do mínimo com que se mantém o custeio são R$ 210 milhões. E com essa quantia se paga salário, água, luz, telefone e não se cumpre com o resto. Vale lembrar que universidade envolve o trabalho de pesquisa, de projetos de extensão, bolsas de alunos, temos professor com atividade fora do país e na falta de recurso teríamos de falar: “Suspende, volta!”. Não vejo isso como uma boa alternativa. O Estado – Falta a educação, de ensino superior, ser vista no Brasil como investimento de longo prazo? Orçamento existe, o dinheiro tem de ser aplicado anualmente, porém estabelecer a destinação não envolve restritamente “pagar a conta”. Como fica a perspectiva de futuro para o setor e para a universidade que o senhor administra? Fábio Edir – A educação do Brasil precisa de política para longo prazo. O que falta é a previsão orçamentária e financeira que atenda essas metas de futuro. E além do planejamento deve vir junto a execução desses recursos. O orçamento é grande e em razão disso requer essa visão de longo prazo, a seriedade com a área. Se não é assim, a prioridade fica só pelo pagamento de salários, sem ações paralelas acontecendo, como o financiamento de pesquisas. Fora o capital humano nós temos equipamentos, uma estrutura para zelar e há exemplos que preocupam. Um deles é o que ocorreu com a Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). Não queremos isso para
a Uems. O Estado – E para o futuro da Uems, o que se vislumbra hoje na gestão? Fábio Edir – Em termos de expansão nós devemos ter como prioridade a EAD. Aqueles que possuem preconceito ao ensino a distância não conhecem de verdade a metodologia desse modelo de educação. No EAD o aluno não consegue enrolar, pois na ausência de dedicação ele fica no caminho. E, por outro lado, o docente dessa modalidade também é muito preparado e adota situações que são contemporâneas, que são interativas, pois a natureza da plataforma requer isso. Um paradigma interessante do EAD é o supremo respeito a prazos. Antes do início de cada disciplina o professor disponibiliza os conteúdos, os tópicos e isso ajuda também o aluno a se preparar. Portanto tem grande eficácia e exige uma implementação mais barata para a entidade na abertura de polos. A informação eletrônica é muito presente no nosso cotidiano e não dá mais para o ensino ser diferente do que pede o EAD, ignorando o potencial das tecnologias que possuímos hoje. A velocidade da transmissão e absorção de conteúdo deve acompanhar o momento do mundo. O Estado – Outro desafio é a inclusão do ensino superior. A Uems é pioneira na distribuição de 30% das vagas em cotas, sendo 20% para negros e 10% para indígenas. O fato de atender esse propósito significa uma preocupação social maior da universidade? Fábio Edir – Quero que um dia não
O Estado – Além de reitor, o senhor é presidente de um conselho estadual de entidades de ensino superior. Como ele atua? Fábio Edir – O Crie-MS (Conselho de Reitores das Instituições de Ensino Superior de Mato Grosso do Sul) é o primeiro conselho com esse modelo no Estado. São seis universidades com sede em Mato Grosso do Sul: duas federais, UFMS e UFGD; Uems, que é estadual; o IFMS; UCDB, sem fins lucrativos; e a Anhanguera Uniderp, uma universidade privada de capital aberto. Ou seja, temos o conselho mais variado possível. Em nosso conselho são as nossas diferenças que nos unem, nossos desafios são os mesmos: garantia de ingresso, acesso a vagas e, acima de tudo, garantir a permanência do acadêmico nas instituições. Temos nas universidades públicas diversos cursos em áreas do conhecimento, como é o caso do curso de história em Amambai, o único curso de história na Uems. Ele já está verticalizado, inclusive com mestrado profissional em um município do interior. Então olha o nível de agregação de valor e conhecimento em um município da região de fronteira que não chega a 40 mil habitantes. Então precisamos que o curso se verticalize e tenha excelência para que pessoas de fora passem a estudar em Amambai, por exemplo, caso contrário o município por si mesmo não terá uma demanda necessária para garantir a continuidade. Nosso objetivo é formar polos de excelência no interior do Estado e criá-los a distâncias de menos de 100 km um do outro. O Estado – Essa união entre as instituições dá força política para o ensino superior? Fábio Edir – É um dos objetivos, sem dúvida nenhuma. A partir do momento em que você tem as instituições unidas e pensando no conjunto, na oferta de cursos não será apenas o reitor da Uems, UFMS ou de universidade privada que vai discutir no MEC (Ministério da Educação) a oferta de bolsas, seja para graduação, mestrado ou doutorado. Isso é feito em conjunto. Por isso temos o conselho, onde conseguimos mostrar ao governo que temos uma política de Estado, para a educação superior em Mato Grosso do Sul. O Crie foi criado em agosto deste ano, com a presença do ministro da Educação, Mendonça Filho, justamente pelo imediatismo deste cenário. Com as nossas instituições somadas, temos algo em torno de 15 mil pesquisadores no Estado e mais de 200 mil alunos, um número comparado à população de Dourados –a segunda maior população do Estado–, somente de alunos matriculados nessas seis instituições. Com isso temos mais forças para negociar.
Perfil
Nome: Fábio Edir dos Santos Costas Data de nascimento: 7/7/1970 Formação: Biólogo Atuação: Reitor da Uems