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InfoReggae - Edição 47 Bullying 05 de Setembro de 2014 O Grupo AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae.

Coordenador Executivo José Júnior

Coordenador Geral Adjunto Danilo Costa

Gerência de Informação e Monitoramento Thales Santos

Assistentes de Pesquisa Nataniel Souza

Coordenação Editorial Marcelo Garcia

Sede Rio de Janeiro Rua da Lapa, nº 180 – Centro Rio de Janeiro (RJ) +55 21 3095.7200 Representação São Paulo Rua João Brícola, nº 24 18º andar – Centro São Paulo (SP) +55 11 3249.1168 Contatos www.afroreggae.org facebook.com/afroreggaeoficial twitter.com/AfroReggae [email protected] É permitida a reprodução dos conteúdos desta publicação desde que citada a fonte. Reproduções para fins comerciais são proibidas.

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Apresentação

Esta edição do InfoReggae apresenta dados de um assunto que deve ser amplamente debatido no Brasil: o bullying. Nossa equipe fez um estudo a partir do Portal Educacional e de dados publicados pelo IBGE sobre o tema. Como é nossa responsabilidade, estamos mediando estas informações para facilitar o debate e direcionar as conversas que devem ser realizadas. O bullying não pode ser tratado como uma simples brincadeira ou coisa de criança. Bullying se motiva por uma enorme carga de preconceitos que nascem e florescem todos os dias na sociedade. O bullying não pode mais ser entendido como um problema normal para quem não se "enquadra" nos padrões considerados "normais" pela sociedade. Crianças e Adolescentes seguem desprotegidos nas escolas sofrendo provocações, humilhações e discriminações, pois o Brasil segue profundamente atrasado em debater o tema com pais e professores. Esta edição do InfoReggae indica que temos um problema que exige uma sólida política pública que não pode mais ser adiada e nem postergada, pois enquanto o problema segue congelado, crianças e adolescentes estão sofrendo e até mesmo buscando a morte para pararem de sofrer. A morte não pode ser a resposta de crianças e adolescentes que vivem o drama do bullying.

O Bullying no Brasil Bullying é uma situação que se caracteriza por agressões intencionais, sendo elas verbais ou físicas, feitas por alunos contra seus colegas. O termo bullying tem origem na palavra inglesa bully, que significa valentão, brigão. Como reflexo do preconceito e da discriminação entre os jovens, o bullying tem graves efeitos nas relações sociais, principalemnte entre jovens. Os dados a seguir apresentam o retrato dessa prática no Brasil.

Gráfico 1: Estudantes do 9° ano que sofrem Bullying no Brasil 2009 69,2%

2012

64,7%

25,4%

28,2%

5,4% Nenhuma vez

Raramente ou às vezes

7,2%

Quase sempre ou sempre

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2012.

Os números do Gráfico 1 nos indicam que 7, em cada 100 alunos, são vítimas de bullying quase sempre ou sempre. Por sofrerem ameaças e pelo sentimento de vergonha, as crianças e adolescentes tendem a não contar que estão sofrendo humilhações e agressões aos seus responsáveis. Essas constantes humilhações podem gerar nas vítimas sentimentos de vingança e suicídio. Diversos são os contextos em que o bullying ocorre, entretanto a escola é apontada como um dos principais espaços onde se caracteriza a agressão. O Sócio fundador da Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e à Adolescência (ABRAPIA), Aramis Neto, destaca a importância dos pais e professores no combate ao bullying: “O envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para a implementação de projetos de redução do bullying. A participação de todos visa estabelecer normas, diretrizes e ações coerentes. As ações devem priorizar a conscientização geral; o apoio às vítimas de bullying, fazendo com que se sintam protegidas; a

conscientização dos agressores sobre a incorreção de seus atos e a garantia de um ambiente escolar sadio e seguro”.

Gráfico 2: Estudantes do 9° ano que sofrem Bullying segundo o sexo - 2012 Masculino 63,2%

Feminino

66,0%

28,9%

27,5%

7,9%

Nenhuma vez

Raramente ou às vezes

6,5%

Quase sempre ou sempre

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2012

O bullying está presente tanto na vida dos homens como das mulheres, quando se compara o sexo das vítimas, a diferença é de apenas 2,8 pontos percentuais, sendo os homens mais vulneráveis ao preconceito. Apesar das formas de preconceitos terem o mesmo impacto na vida da vítima, homens e mulheres sofrem bullying de formas diferentes, na maioria dos casos. Entre as mulheres os tipos de agressões mais frequentes são as que ferem a moral, como fofocas, mentiras, sussurros, ofensas, racismo e exclusão social. Já o bullying utilizando a força física é mais comum entre os homens, se destacando os chutes, empurrões e extorsões de dinheiro. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelam que não são apenas os alunos as vítimas de bullying nas escolas. O Brasil é o primeiro no ranking de violência contra os professores. Entre os educadores entrevistados pela organização, 12,5% relataram sofrer intimidações e agressões verbais pelos alunos, ao menos uma vez na semana. Alguns problemas ocasionados por essas agressões se refletem durante a aula como, por exemplo, a perda de autoridade do professor diante do restante dos alunos e, muitas vezes, desistem de lecionar. Por conta disto, as agressões se tornam traumatizantes para a vida profissional e pessoal do docente.

Gráfico 3: Estudantes do 9° ano que cometeram Bullying no Brasil - 2012 23,6

23,2

20,8

Brasil

20,5 16,5

16,1

Norte

Nordeste

Sudeste

Sul

Centro-Oeste

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar, 2012.

Um em cada cinco adolescentes agride seus colegas com insultos, humilhações e intimidações segundo dados da Pesquisa Nacional da Saúde do Escolar, desenvolvida pelo IBGE. As regiões sul e sudeste apresentaram a maior frequência de alunos que cometeram bullying. Essas são as regiões onde se identificam as maiores incidências de denúncias em relação à discriminação pela cor da pele, como já apresentamos em InfoReggaes anteriores. O bullying está diretamente associado à tolerância em relação às diferenças e diversidades, destacando assim a importância em se trabalhar em sala de aula o respeito às diferenças.

Gráfico 4: Bullying na Internet Brasil - 2014 36,0%

23,0% 16,0%

Vítimas de insulto ou violência pela Internet

Sofreram algum tipo de preconceito na internet

Já ficaram tristes em função de problemas vividos na rede

Fonte: Portal Educacional – Pesquisa “Este Jovem Brasileiro”, Edição 2014.

Por detrás das vantagens que a internet traz, principalmente no que tange ao acesso à informação em pesquisas escolares, os alunos encontram diversas situações prejudiciais à sua interação com o mundo. Uma delas é o bullying cybernético. As redes sociais como Facebook, Whatsapp, Instagram e Secret são os principais meios que os agressores utilizam para insultar e humilhar suas vítimas, principalmente pela sensação de anonimato que a internet proporciona, além de que o agressor pode se passar por outra pessoa ou utilizar nomes falsos. O gráfico 4 nos mostra que 36,0% dos jovens brasileiros já se sentiram afetados, de alguma forma, na web. A pesquisa Este Jovem Brasileiro, do Portal Educacional, revela que os pais sabem pouco do que acontece com os filhos na internet. Enquanto 75% dos filhos revelam ter sofrido algum problema na internet, apenas 16% dos pais sabem que os filhos já tiveram problemas na escola ou com os amigos em função dos conteúdos postados na internet. Esses dados nos mostram a necessidade de um maior acompanhamento dos pais com o uso da internet pelos filhos e um melhor controle sobre o uso da internet pelos jovens.

Gráfico 5: Efeito do bullying virtual na escola 73% 59%

80%

64%

Acham que os alunos não Sabem que os alunos Veem os efeitos do Culpam a WEB por alguns percebem o risco da ofendem uns aos outros bullying virtual na sala de dos problemas escolares internet na web aula Fonte: Portal Educacional – Pesquisa “Este Jovem Brasileiro”, Edição 2014.

Quando se analisa os dados referentes aos efeitos do bullying nos alunos, percebemos que a escola reconhece que os alunos utilizam a internet para discriminação e manifestação do preconceito e percebe, dento de sala de aula, que existe um efeito negativo referente ao bullying cybernético.

Brasil não tem lei sobre Bullying Embora o bullying seja uma realidade com graves consequências entre os adolescentes brasileiros, a legislação ainda não tem nenhuma determinação em âmbito nacional que combata essa violência. Muitos estados já criaram suas próprias leis no intuito de prevenir, conscientizar e proibir o bullying, principalmente dentro das escolas. No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, desde 2011, a lei 6.084/11 estabelece que cada unidade de ensino crie uma equipe multidisciplinar com professores e alunos, associações de pais e responsáveis para promover atividades didáticas voltadas para a orientação e prevenção do assédio e violência moral. Outro estado com lei anti bullying é Minas Gerais. Com o objetivo de impedir trotes violentos e bullying, foi criado em Belo Horizonte o Programa BH Trote Solidário e Cidadão e de Prevenção e Combate ao Bullying, com o intuito de observar, analisar e identificar eventuais praticantes e vítimas de bullying nas escolas. No Brasil, ainda temos os estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, e os municípios de São Paulo e Recife, por exemplo, com leis de combates ao bullying, atuando por meio de medidas de conscientização.

Um debate a ser feito

Os dados que esta edição do InfoReggae apresenta, indicam claramente que o bullying está invadindo o cotidiano das escolas, sem que estejamos nos preparando adequadamente para proteger as crianças e adolescentes. Crianças e adolescentes que praticam bullying, em geral, não encontram em suas famílias informações que as levem ao movimento da igualdade. A TV, ao longo de sua história, atuou para favorecer preconceitos contra gays, lésbicas, travestis, obesos, negros, pessoas baixas, altas ou magras. A falta de construção de um caminho que reafirme a igualdade favorece para que as informações adquiridas levem a um preconceito corrente, favorecendo assim a prática do bullying. Passou da hora de uma conversa franca com os meios de comunicação para que se elimine as brincadeiras e piadas com o que se define como diferente na sociedade. O problema está ficando cada dia mais sério. Passou da hora de existir um processo de diálogo de capacitação e de conversas com os pais e mães que podem e devem formar seus filhos em direção a igualdade e não a perseguição. Sem dúvida a família tem um papel fundamental no combate diário ao bullying, pois é de dentro de casa que crianças e adolescentes podem e devem ser formados na busca de relações humanas e solidárias. Passou da hora de um amplo Programa Nacional de professores e trabalhadores sociais para lidarem com o bullying. O AfroReggae, desde setembro de 2013, publica mensalmente a Coleção Conversas para colaborar nesta formação. Mas agora é preciso avançar, formar e capacitar professores para que saibam lidar com o bullying nas salas de aula. Agora é preciso avançar, formar e capacitar trabalhadores sociais que atuam nos CRAS - Centros de Referência da Assistência Social - por exemplo, para poderem dar conta do bullying que começa a se consolidar também nos espaços comunitários, bem como os familiares. Mas agora é hora de campanhas nacionais compromissadas contra o bullying e contra os reflexos que ele provoca no desenvolvimento de crianças e adolescentes, levando muitos a buscarem na morte a única saída para o sofrimento.

Os desafios são enormes, mas o mais importante é definir que o bullying ja é uma epidemia e não faz mais sentido tratar da gravidade deste problema com atalhos. Precisamos de um caminho seguro que construa uma política pública intersetorial que organize prevenção, tratamento e conscientização deste grave problema nacional. A defesa e a construção desta política é sobretudo a defesa da vida. Precisamos dar voz a quem sofre com o bullying e acabar com o silêncio oficial sobre um drama que invade diariamente a vida de milhões de brasileiros. Marcelo Reis Garcia Coordenador Editorial do InfoReggae

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