impactos ambientais da silvicultura no bioma cerrado - UFF

IMPACTOS AMBIENTAIS DA SILVICULTURA NO BIOMA CERRADO Alex Camargo Fidelis - Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected] Jo...
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IMPACTOS AMBIENTAIS DA SILVICULTURA NO BIOMA CERRADO Alex Camargo Fidelis - Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected] João Donizete Lima - Universidade Federal de Goiás – Campus Catalão [email protected]

Resumo: Com a preocupação mundial sobre a preservação das florestas nativas, desenvolve-se o manejo das florestas plantadas, escolhendo espécies da flora que possam ter um rápido crescimento e adaptar-se aos diferentes tipos climáticos. Os gêneros Pinus e Eucalyptus são os mais plantados em todo o mundo, sendo várias as suas espécies cultivadas. Essa prática é conseqüência do desenvolvimento pré-industrial do século XIX, requerendo muita madeira para as máquinas a vapor. Hoje, nações em desenvolvimento, China, Índia, Rússia e Brasil estão plantando muito, mas países desenvolvidos, como EUA e Japão, estão entre os maiores silvicultores, refletindo a necessidade mundial de fomentar as indústrias que usam os derivados da madeira. O Brasil tem alcançado altos índices no mercado mundial com a exportação de produtos manufaturados a partir de madeira (re) florestada, como papel e o aço. As grandes plantações nacionais deram-se no Bioma Cerrado, configurando uma nova paisagem e criando especulações sobre as relações ecológicas estabelecidas. Como resultados iniciais de nossos trabalhos, já foi possível identificar que existem grandes plantações predominantemente nos municípios de Ipameri, Campo Alegre de Goiás, Catalão e Ouvidor, as quais impõem uma nova dinâmica nos municípios, ora ocupando locais de antigas pastagens ou de lavouras de culturas temporárias. Mesmo com essas grandes áreas ocupadas por esse tipo de vegetação o estado de Goiás ainda é pouco expressivo na silvicultura brasileira. Assim a preocupação do estudo está na relação da sociedade com essa nova paisagem na região e também com as relações ecológicas dessas espécies plantadas com as outras espécies nativas. palavras-chave: Eucalipto. Pinus. Madeira. Floresta. Cerrado Abstract: With the world-wide concern on the preservation of the native florests, the handling of the planted florests is developed, choosing species of the flora that can have a fast growth and adapt it the different climatic types. The sorts Pinus and Eucalyptus are the most planted in the whole world, being several its cultivated species. This practical is consequence of the development daily payindustrial of century XIX, requiring much wood for the machines the vapor. Today, nations in development as China, India, Russia and Brazil are planting a bunch, but developeds countries, as U.S.A. and Japan, are between the biggest silvicultores, reflecting the world-wide necessity to foment the industries that use wood derivatives. Brazil has reached high indices in the world-wide market with the manufactured exportation from reforested wood, as paper and the steel. The biggest national plantations had been given in the Bioma Cerrado, configuring a new landscape and creating speculations on the established ecological relations. As initial results of our work, it was already possible to identify bigs plantations predominantly in the cities Ipameri , Campo Alegre de Goiás, Catalao and Ouvidor, which impose a new dynamic in those cities, however occupying old pastures or farmings of temporary cultures. Even with these big areas those are full in this kind of vegetation, Goiás state is still a little expressive in the Brazilian forestry. In fact the concern of the study is in the relation of the society with this new landscape in the e region also with the ecological relations of these species planted with the other native species keywords: Eucalytus. Pinus. Wood. Forest. Cerrado 1 Introdução O uso da madeira intensifica-se na pré-indústria e muito mais no período industrial, com isso houve um avanço sobre as florestas nativas em todo o mundo. Assim concluiu-se que essa matéria prima não acompanharia a demanda, e isso fomentou o plantio das florestas, ou seja, tornar esse

2 recurso natural renovável Os gêneros de Eucalyptus e Pinus foram os mais plantados em todo o mundo, devido a uma grande variedade de espécies que são adaptáveis aos diversos tipos de clima e solos da terra. Por isso, em todos os continentes há a prática da silvicultura para fins comerciais. No Brasil, as grandes extensões de terras com florestamento de pinus e eucalipto, refletem a política exportadora de aço e papel, em que o país é líder mundial no setor. O estado de Goiás está apenas na 12ª posição em área de florestas plantadas e a Microrregião de Catalão é o grande destaque estadual. As plantações de eucalipto atende a demanda das companhias mineradoras instaladas em Catalão que usam como lenha para os fornos de secagem de minério. As plantações de pinus que está no chapadão goiano, nos municípios de Catalão, Ipameri e Campo Alegre, atendem as siderúrgicas de Minas Gerais, empresas de embalagem e comércio de madeira serrada. Nas últimas décadas do século XX, o Bioma Cerrado representava 23% da cobertura vegetal nacional, sofreu uma perda de aproximadamente 80%, em função da ocupação moderna pela agricultura e pela pecuária. A preocupação com os remanescentes de Cerrado, em relação à introdução da monocultura do eucalipto e do pinus, requer estudos científicos que dêem respostas para os questionamentos da sociedade sobre o ressecamento e empobrecimento do solo, diminuição de água no subsolo e perda da biodiversidade. Os impactos ambientais da silvicultura variam em função do tipo de manejo e das técnicas que são usadas nos empreendimentos florestais, onde as ações necessárias para que os impactos negativos sobre a biota sejam minimizados. A silvicultura ganha espaço como aliado de combate ao efeito estufa, a absorver quantidades consideráveis de CO2 para seu crescimento rápido. Diante dos impactos ambientais da silvicultura no bioma Cerrado, negativos e positivos, necessita de estudos científicos a fim de compreender as modificações e as novas interações ecológicas, e também para nortear no uso do manejo e técnicas adequadas as condições locais, diminuindo os resultados negativos da monocultura florestal e consequentemente aumentar os impactos positivos. 2 Material e métodos O interesse em estudar a silvicultura nas áreas de Cerrado está relacionado com as dúvidas que a sociedade tem enquanto às relações ecológicas que o eucalipto e o pinus estabelecem com as outras formas de vida e também com o solo e água. Este estudo iniciou-se com uma revisão literária, mesmo com dificuldades de encontrar estudos sobre a silvicultura na região de Goiás, nos baseamos em estudos sobre outros estados que tem plantações florestais, como Minas Gerais e São Paulo. Fizemos pesquisas em entidades como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Sociedade Brasileira de Silvicultura (SBS),

3 Associação Brasileira de Produtores de Florestas plantadas (ABRAF). Fizemos uma visita à empresa Vale do Rio Grande no dia 20/11/2008, para conhecer as plantações de Pinus e o início das plantações de Eucalyptus. Nessa ida a campo, fizemos registros fotográficos, entrevista com o técnico responsável pelo empreendimento florestal e tivemos um contato direto com as plantações, o que ajudou a entender o manejo utilizado. O mapa temático disponibilizado pelo Sistema Estadual de Estatística e de Informações Geográficas de Goiás (SIEG), que foi adaptado para a realidade e dimensões do estudo, permitiu analisar a cobertura vegetal da Microrregião de Catalão. Para adaptar a imagem foi usado o software Corel Paint Shop Pro X4. 3 Resultados e discussão As técnicas de clonagem de mudas, aperfeiçoamento dos manejos e o avanço dos estudos científicos contribuíram para a expansão do eucalipto pelo mundo, que se iniciou com a necessidade de madeiras para consumo nas indústrias norte-americanas e européias, tanto como matéria prima quanto fonte de energia para o desenvolvimento industrial. Existem cerca de 147 milhões de hectares de plantações florestais no mundo, segundo dados da Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO), e as principais espécies florestais cultivadas pertencem aos gêneros Pinus e Eucalyptus. A demanda pela madeira oriunda de floresta plantada vem aumentando com os anos, visto que as legislações ambientais em todo o mundo estão bastante restritivas em relação ao desmatamento das florestas nativas, mesmo porque, a onda é preservar as florestas para conter o efeito estufa. Por isso, diversos setores da economia estão investindo nas plantações florestais para atender a demanda de matéria prima para as indústrias de papel, siderúrgicas, abastecimento de lenha, madeiras para embalagens e ainda comercializar créditos de carbono. Segundo a Sociedade Brasileira de Silvicultura (2007): As plantações florestais representam uma parcela crescente da área florestal total em distintas regiões. Os países com maiores áreas de florestas plantadas no mundo detêm 182 milhões de ha; 73% dessas áreas são manejadas para fins produtivos e 27% para fins de proteção. Dentre eles o Brasil ocupa o 9º lugar. Os 5 países com maiores áreas florestais plantadas são pela ordem: China (71,3 milhões ha), Índia (30 milhões ha), EUA (17 milhões ha), Rússia (11,9 milhões ha) e Japão (10 milhões ha). As florestas plantadas, com fins de produção, respondem por quase 50% da produção global de madeira. A área total das plantações florestais cresceu 35% no período de 1990 a 2005, [...]. O maior crescimento absoluto aconteceu na Ásia e Pacífico, com os extensos plantios realizados na China. (SBS, 2007, p.18).

Para a FAO (2007), a proporção de florestas plantadas no período de 1990 a 2000 (dez anos) é aproximadamente a mesma do período de 2000 a 2005 (cinco anos), o que mostra o aumento da demanda dos recursos florestais nos últimos anos.

4 Acredita-se que este aumento será ainda mais acentuado no decorrer dos anos vindouros, devido à crescente demanda por madeira, que só poderá ser atendida pelos florestamentos extensivos de espécies de crescimento rápido, como o Eucalyptus e Pinus. Segundo Lima (1993, p.38), “O Eucalyptus é nativo da Austrália e foi introduzido no Brasil em 1868 no Rio Grande do Sul, com o objetivo de suprir as necessidades de lenha, postes e dormentes das estradas de ferro na Região Sudeste”. Sua comercialização intensificou-se a partir do início do século XX. A Revista da Madeira (2008) informa que: O eucalipto foi introduzido no Brasil em 1904, com o objetivo de suprir as necessidades de lenha, postes e dormentes das estradas de ferro na região Sudeste. Na década de 50 passa a ser produzido, como matéria-prima, para o abastecimento das fábricas de papel e celulose. Apresenta-se como uma espécie vegetal de rápido crescimento e adaptada para as situações edafobioclimáticas brasileira. Durante o período dos incentivos fiscais, na década de 60, sua expansão foi ampliada. Esses incentivos perduraram até meados dos anos 80. Esse período foi considerado um marco na silvicultura brasileira dada os efeitos positivos que gerou no setor. (REMADE, n. 116, 2008).

A silvicultura brasileira se dá predominantemente por dois gêneros plantados, Pinus e Eucalyptus, e está presente em quase todos os estados. É comum andar pelo Brasil e ver grandes florestas dessas culturas, principalmente de eucalipto, o que torna essas paisagens bastante familiares. A espécie de Pinus é nativa principalmente da América do Norte e da América Central e as primeiras introduções de que se tem notícia do Pinus canariensis no Brasil, ocorreram no Rio Grande do Sul, por volta de 1880. Porém, para fins silviculturais o pinus começou a ser cultivado no Brasil por volta de 1936 (REMADE, 2004). As diversas etapas da silvicultura brasileira acompanham o desenvolvimento das indústrias, ora fornecendo dormentes para linhas de locomotivas ou carvão para as siderúrgicas ora matéria prima para a polpa celulósica nas indústrias de papel. Tudo isso baseado no aprimoramento tecnológico, que confere ao Brasil destaque internacional tanto na produção da madeira quanto na expedição de um dos melhores papéis do mundo. De acordo com o Anuário Estatístico da Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (2008): As áreas de florestas plantadas com eucalipto e pinus no Brasil totalizaram, em 2007, 5.560.203 ha, representando um crescimento de 186.786 ha em relação a 2006, ou seja, acréscimo de 3,4%, [...]. De 2006 a 2007, constata-se um incremento na área plantada de 318.428 ha, com decréscimo de 1,4% em pinus e 10,1% de acréscimo no eucalipto. (ABRAF, 2008)

A tabela 01 apresenta as áreas plantadas com pinus e eucalipto no Brasil durante o período

5 2005 a 2007. Os estados de Minas Gerais e São Paulo possuem a maior área plantada com gênero Eucalyptus e com uma razoável plantação de Pinus, que recebe destaque nos estados sulinos, sendo, Paraná e Santa Catarina os líderes em área plantada em todo o território nacional. O estado de Goiás tem plantações modestas, tanto em Pinus quanto em eucalyptus, quando comparado com as unidades estaduais citadas acima. O pinus concentra-se na porção sudeste do estado goiano e o eucalipto aparece na região norte no município de Niquelândia e também na região sudeste nas cidades de Catalão e Ouvidor, mas pequenas manchas podem ser encontradas distribuídas no território goiano. Essas pequenas plantações são reflexo das políticas ambientais, especificamente o Código Florestal Brasileiro LEI Nº 4.771, que regulamenta sobre áreas de Reserva Legal, estabelecendo ao proprietário o dever de preservar dentro da sua propriedade 20% de vegetação nativa, no caso do Bioma Cerrado, e a vegetação de Preservação Permanente. Com isso, torna-se difícil conseguir madeira para uso nas fazendas, visto que boa parte já foi suprimida, e para atender essas necessidades, fazem pequenas plantações com eucalipto. Tabela 1 - Florestas Plantadas com Pinus e Eucalipto no Brasil (ha) – (2006-2007) ESTADO

Pinus

Eucalipto

Total

2006

2007

2006

2007

2006

2007

MG

152.000

144.248

1083.744

1.105.961

1.235.744

SP

156.474

143.148

816.880

813.372

963.354

956.521

PR

686.453

701.578

121.908

123.070

808.361

824.648

SC

530.992

548.037

70.341

74.008

601.333

622.045

RS

181.378

182.378

184.245

222.245

365.623

404.623

GO

14.409

13.828

49.637

51.279

64.045

65.107

OUTROS

112.563

75.119

1.222.393

1.361.932

1.334.957

1.437.050

TOTAL

1.824.269

1.808.336

3.549.148

3.751.867

5.373.417

5.560.203

1.250.209

Fonte: ABRAF, STCP 2007. Adapt: FIDELIS, A. C.

A Microrregião de Catalão é uma das 18 microrregiões do estado de Goiás, localizada no sudeste goiano. Segundo o IBGE (2006), possui população estimada em 133.156 habitantes e está dividida em onze municípios: Anhangüera, Campo Alegre de Goiás, Catalão, Corumbaíba, Cumari, Davinópolis, Goiandira, Ipameri, Nova Aurora, Ouvidor e Três Ranchos, que, juntos, possuem uma área total de 15.206,842km². A cidade de Catalão funciona como polo regional, concentrando as principais atividades geradoras de renda, como: indústrias montadoras de automotores, indústrias extrativas minerais e

6 agricultura, entre outras. A microrregião é marcada pelos chapadões, que são bastante ocupados pela agricultura moderna, com soja, trigo, milho e pinus. A silvicultura com pinus se dá nos municípios de Catalão, Ipameri e Campo Alegre de Goiás, a nordeste da microrregião. Ver figura 1. A empresa Vale do Rio Grande é proprietária de mais de 16.000 ha dos quais 12.000 ha são de floresta plantada. Os pinus são cortados com 12 anos acima, para a produção de madeira para serraria, que atende a demanda dos setores moveleiros e fabricantes de diversos tipos de embalagens. A empresa atende algumas siderúrgicas em Belo Horizonte, que nesse caso, a madeira é picotada em forma de cavacos e se tornará carvão para a produção de aço. Ainda, durante a desbastagem e corte das toras é produzido um resíduo da madeira, que será utilizado por uma cerâmica local, no abastecimento dos fornos. (informação verbal)1.

O empreendimento foi iniciado em 1978, com os primeiros plantios de pinus na região, e recentemente iniciou-se testes para o plantio de eucalipto.

Figura 1. Mapa de Cobertura Vegetal – 2008.

As empresas mineradoras do Grupo Angloamerican usam a lenha para alimentar fornos que fornecem calor para a secagem do minério apatítico, e para a metalurgia do nióbio. O grupo possui o setor de reflorestamento responsável por plantar o gênero Eucalyptus para atender sua própria demanda de madeira. As florestas são plantadas nos municípios de Catalão e Ouvidor. Estas plantações 1

Informação dada pelo Técnico Agrícola da empresa Vale do Rio Grande - Cassiano - durante entrevista nas dependências da fazenda, em 11 de novembro de 2008.

7 de eucalipto não aparecem no mapa do SIEG, talvez pelo fato de não estarem em áreas contíguas, ou talvez porque a instituição considerar apenas áreas comerciais de florestamento em seus levantamentos. Percebe-se plantios pontuais de eucalipto na região, o que significa que a silvicultura está ganhando novas áreas, além dos pontos de concentração das mineradoras e da empresa Vale do Rio Grande. Analisando-se a tabela 2, constata-se que 70% da produção de derivados da silvicultura em 2004, como carvão vegetal, lenha e madeira em tora, estão na Microrregião de Catalão, na qual o município de mesmo nome e o de Ipameri apresentam as maiores produções, dando destaque para a microrregião dentro do estado. Tabela 2 - Quantidade e valor da produção na silvicultura, segundo os municípios – 2004. Lenha Madeira em tora Municípios Carvão Vegetal (ton) (m³) (m³) Campo Alegre de Goiás 1.900 32.000 0 Catalão 1.100 260.000 20.000 Davinópolis 0 1.600 0 Ipameri 10.350 350.000 0 Ouvidor 0 4.000 0 ESTADO DE GOIÁS 20.011 935.370 21.500 Fonte: SEPLAN-GO / SEPIN / Gerência de Estatística Socioeconômica – 2005. Adapt. FIDELIS, A. C.

Diante dessa abordagem da silvicultura, é necessário conhecer o Bioma Cerrado a fim de compreender os impactos ambientais nesse ecossistema. A sociedade questiona, sem embasamento científico, que as plantações florestais estabelecem relação de prejuízo com a natureza. Por isso, conhecer o Bioma é fundamental para podermos identificar as mudanças com a introdução silvicultural. Segundo Ribeiro e Walter (2008), O Bioma Cerrado ocupava por volta de 23% do território brasileiro, sendo o segundo maior domínio brasileiro, com uma área de aproximadamente de dois milhões de km² cobrindo áreas de alguns estados brasileiros: Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Piauí, Rondônia, São Paulo e Tocantins; e também ocorre em áreas disjuntas ao norte dos estados do Amapá, Amazonas, Pará e Roraima e ao sul, em pequenas “ilhas” no Paraná. (RIBEIRO E WALTER, 2008, p. 156, grifo dos autores)

Os limites desse domínio estratigráfico vão dos paralelos 3º e 24º de latitude sul e 41º e 63º de longitude oeste, situado no Brasil Central. Apresenta a alta biodiversidade dos biomas brasileiros, com inúmeros exemplares de espécies endêmicas, tanto em fauna quanto em flora. O Cerrado, por estar na porção central do país, mantém divisa com os outros Biomas

8 brasileiros, sendo corredor ecológico de diversos tipos de animais, fator que lhe confere alta biodiversidade. Devido à dinâmica do uso do Bioma Cerrado, tem uma grande lista de animais em extinção como o Chrysocyon brachyurus (Lobo Guará), entre outros, que cada vez mais perdem espaço para a agricultura e pecuária. O Cerrado brasileiro é tido como o berço das águas brasileiras, estando em Goiás as nascentes das grandes bacias hidrográficas nacionais: Amazônica, do Paraná e do São Francisco. No sudoeste do estado de Goiás está à bacia sedimentar do Paraná, zona de recarga do maior aquífero de água doce conhecido no mundo. A precipitação média anual chega a 1500mm e é a fonte de recarga de todos os canais fluviais. Estudiosos já fizeram algumas definições importantes de Cerrado. Para Ferreira (2003), o Cerrado pode ser definido de acordo com as fitofisionomias, sendo: [...] uma savana tropical constituída por vegetações rasteira, arbustiva e árvores formadas, principalmente, por gramíneas coexistentes com árvores e arbustos esparsos, ou seja, englobando os aspectos florísticos e fisionômicos da vegetação, sobre um solo ácido e relevo suave ondulado, recortada por uma intensa malha hídrica. (FERREIRA, 2003, p. 43).

Ab’Sáber (2005) define o Cerrado a partir de critérios geomorfológicos e também de aspectos fitofisionômicos: [...] o domínio dos cerrados apresenta cerrados e cerradões predominantemente nos interflúvios e vertentes suaves dos diferentes tipos de planaltos regionais. Faixas de campos limpos ou campestres sublinham as áreas de cristas quartizíticas e xistos aplainados e mal pedogenetizados dos bordos dos chapadões onde nascem bacias de captação de torrentes dotadas de forte capacidade de dissecação [...]. (AB’SÁBER, 2005, p. 118, grifos do autor).

O Cerrado sofreu uma grande intervenção da agricultura moderna, principalmente nos chapadões, onde retirou-se toda a vegetação e instalaram-se projetos de agronegócio com imensas monoculturas da soja, trigo, milho e outras. Na década de 70 quando o projeto de plantio de florestas foram incentivados e financiados pelo governo brasileiro para atender as industrias de celulose e papel, grandes áreas de Cerrado foram completamente removidas. Além disso, o bioma sofre com as queimadas que acontecem nos períodos secos sazonais. Ab’Sáber (2005) assim define essa situação: Além de conviver com alguns dos piores solos do Brasil intertropical, a vegetação dos cerrados conseguiu a façanha ecológicas de resistir às queimadas, renascendo das cinzas, como uma espécie de fênix dos ecossistemas brasileiros. Não resiste, porém, aos violentos artifícios tecnológicos inventados pelos homens ditos civilizados. (AB’SÁBER, 2005, p. 43).

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A tecnologia nos diversos setores permitiu ao homem ocupar espaços que antes ele não podia ocupar, e assim foi com o Cerrado brasileiro, a ocupação dos solos ácidos, possibilitada pelo uso de fertilizantes e corretivos de solo propiciaram que as monoculturas de soja, milho, eucalipto e outras, de um modo geral, se instalassem nos Latossolos do Cerrado. A introdução do eucalipto no Bioma Cerrado foi mal planejada e com manejo inadequado e isso causou sérios impactos ambientais, que prejudicou a imagem da silvicultura no país. Inicialmente era retirada da vegetação nativa para dar lugar ao eucalipto, pois não era necessário o desmatamento, podia ter sido feito uma combinação entre o Cerrado e a floresta plantada, ou como acontece recente, ocupa áreas de antigas pastagens e lavouras, solos degradados. A eucaliptocultura é uma monocultura como as outras, e da mesma forma causa impactos e a perda da biodiversidade é um dos grandes impactos causados. As plantações são conhecidas como desertos verdes, por haver poucas variedades de plantas e animais. Segundo Lima (1993) e Scolforo (2008), os grandes empreendimentos têm repensado novas formas de plantar, como deixar faixas de vegetações nativas o que aumenta a biodiversidade de animais nas florestas, e também diminuir o adensamento das árvores para que haja espaço para surgimento de plantas para a formação dos sub-boques. Nas florestas naturais e nas plantadas as copas promovem a diminuição da incidência dos raios solares e da temperatura na superfície do solo, isso preserva a microfauna do solo. Nutrientes são incorporados ao solo através da matéria orgânica oriunda de galhos, folhas e outros. A serrapilheira protege o solo contra a compactação, erosão pluvial, redução da velocidade da água das chuvas e também a aumenta a infiltração das águas da chuva. Assim a perda de solo no cultivo do eucalipto é menor que em outras culturas que deixam o solo exposto no mínimo duas vezes ao ano. O eucalipto é como outro tipo de árvore consome quantidades de água necessária ao seu crescimento e por este ser rápido o consumo é considerável em função da velocidade do seu desenvolvimento. Junto com isso a modificação genética das mudas tem feito a raiz crescer menos. Segundo a ABRAF (2008), Estudos comprovam que a água disponível para o crescimento do eucalipto é proveniente, sobretudo, da camada superficial do solo. No caso dos plantios de clones, prática predominante no meio florestal, normalmente, suas raízes não ultrapassam 2,5 metros de profundidade e não conseguem chegar aos lençóis freáticos, quase sempre localizados em profundidade bem superiores. (ABRAF, 2008).

Isso mostra que o eucalipto num resseca o solo de forma agressiva como muitos já

10 afirmaram sem embasamento teórico. Os solos do Cerrado são profundos e consegue armazenar quantidades de água suficientes para o desenvolvimento da planta. Culturas com cana-de-açúcar e café consomem a mesma quantidade de água, a poder superar o eucalipto e o pinus. Pesquisador como Scolforo (2008) afirma que, Estudos em florestas homogêneas de eucalipto comprovaram que não há efeito adverso no regime das águas. A retirada da água pela planta é maior nos períodos úmidos, enquanto nos períodos secos, o eucalipto consome menos água, fechando os estômatos e diminuindo a transpiração. (Scolforo, 2008).

Scolforo (2008) diz que a produtividade do eucalipto no Brasil é seis vezes mais do que em outros países, com um custo de produção três vezes menor. Possui apenas 3% do comércio mundial, tem uma área relativamente pequena quando comparado com países líderes: China, Índia, Rússia e EUA. Isso pode ser explicado pela qualidade dos solos, disponibilidade de água, mas principalmente pela proximidade do paralelo zero, Equador, que garante luz solar o ano todo. Em função disso, essas florestas plantadas contribuem para a diminuição do aquecimento global, absorvendo quantidades consideráveis de CO2 e liberando O2. O uso do bicombustível, carvão vegetal, que é energia renovável, não libera gases de efeito estufa como o carvão mineral, combustível fóssil. Dessa forma, a silvicultura tem contribuído e muito para minimizar os danos climáticos que nosso planeta tem sofrido. 4 Considerações finais Foram levantados dados gerais sobre a silvicultura no mundo, no Brasil, em Goiás e na Microrregião de Catalão. Fizemos considerações sobre o Bioma Cerrado, nas quais se atentou para as questões dos recursos hídricos, dos solos e da cobertura vegetal nativa, entre outros aspectos físicobióticos, que sofrem maior impacto do plantio de florestas de rápido crescimento. A adaptação do mapa da cobertura vegetal da microrregião permitiu-nos avançar na pesquisa, a partir dele podemos identificar melhor a área de ocupação da silvicultura na microrregião de Catalão. Mas, esse mesmo mapa não traz as plantações de florestas de eucalipto do Grupo Angloamerican, próximas às cidades de Catalão e Ouvidor, nem de algumas áreas pontuais, próximas ao Distrito de Pires Belo, município de Catalão. Entendemos que a prática da silvicultura modifica o ecossistema em que foi inserido, porém, o uso de técnicas como terraceamento, consorciação de culturas, faixas de vegetação nativa, espaçamento entre as árvores, entre outras, são formas de minimizar os impactos negativos da perda

11 de biodiversidade e perda de solo. Por outro lado, as plantações de florestas tem sido um aliado contra o aquecimento global. As árvores são um tipo de sequestradores de carbono da atmosfera, ou seja, diminui a concentração desse gás de efeito estufa. E a madeira reflorestada é uma grande fonte de energia renovável, na forma de carvão vegetal. Essas funções de seqüestrar carbono e energia renovável são os impactos positivos que o eucalipto e o pinus causam na natureza. A sociedade necessita dos produtos florestais, por isso é necessário ver o eucalipto e o pinus como uma forma de atender as demandas sociais, mas de um modo que seja garantida a sustentabilidade no ecossistema em que está inserido. Para isso, o uso do manejo adequado e de práticas ecológicas, tornar-se-á possível usarmos o meio natural de forma ecologicamente equilibrada. REFERÊNCIAS

AB’SÁBER, A. N. Os domínios da natureza no Brasil: potencialidades paisagísticas. 3. ed. São Paulo: Ateliê, 2005. 160 p. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS, ABRAF. Anuário estatístico. Ano base, 2007. Brasília, 2008. 90 p. Disponível em: < http://www.abraflor.org.br/estatisticas.asp>. Acessado em: 22 out. 2008. FERREIRA, I. M. O afogar das veredas: uma análise comparativa espacial e temporal das Veredas do Chapadão de Catalão (GO). 2003. 242 f. Tese (Doutorado em Geografia) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2003. FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS, FAO. The state of world’s forests 2007, Rome, 2007. 144 p. Disponível em: . Acessado em: 30 nov. 2008. LIMA, W. P. Impactos ambientais do eucalipto. 2. ed. São Paulo: Edusp, 1993. 302 p. PERES, R. Espécie de uso múltiplo de Eucalipto. Revista da madeira, Brasília, n. 116, não paginado, setembro, 2008. Disponível em . acessado em: 19 set. 2008. SCOLFORO, J. R. O mundo Eucalipto: os fatos e mitos de sua cultura. Rio de Janeiro: Mar de Idéias, 2008. 72p. RIBEIRO, J. F. WALTER, B. M. T. As principais fitofisionomias do bioma Cerrado. In: SANO, S. M.; ALMEIDA, S. P.; RIBEIRO, J. F. Cerrado: ecologia e flora. Brasília: Embrapa informações tecnológicas, 2008. p. 152–212. SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA, SBS. Fatos e números do Brasil florestal, São Paulo, 109 p. fevereiro, 2008. Disponível em: . Acessado em: 16 set. 2008.