estudo de caso na reserva extrativista do taim (são luís-ma)

VIII ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ECOLÓGICA 5 a 7 de agosto de 2009 Cuiabá - Mato Grosso - Brasil ESTUDO DE CASO NA RESERVA EXTRATIVI...
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VIII ENCONTRO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONOMIA ECOLÓGICA 5 a 7 de agosto de 2009 Cuiabá - Mato Grosso - Brasil

ESTUDO DE CASO NA RESERVA EXTRATIVISTA DO TAIM (SÃO LUÍS-MA): A DISPOSIÇÃO A PAGAR (DAP) PELA CONSERVAÇÃO MANGUEZAL.

Elena Steinhorst Damasceno (UFMA) - [email protected]

ESTUDO DE CASO NA RESERVA EXTRATIVISTA DO TAIM (SÃO LUÍS-MA): A DISPOSIÇÃO A PAGAR (DAP) PELA CONSERVAÇÃO MANGUEZAL. Resumo A área coberta por manguezais no Brasil está estimada em 13.400 km2 ao longo da costa, sendo o estado do Maranhão contemplado com grande proporção em relação ao território nacional. Alguns dos principais fatores de degradação deste ecossistema são: a forma desordenada de uso e ocupação do solo, especificamente na região de estudo, o desmatamento do mangue para fabricação de madeira, lenha e carvão, além de atividades agrícolas, mineradoras, industriais e portuárias. O uso excessivo ou deterioração dos bens ambientais durante as atividades de produção e consumo, que os transformou em bens raros e objetos de conflito, se deve ao fato de que até algum tempo atrás eram considerados livres, disponíveis em quantidade ilimitada e de apropriação gratuita. O presente trabalho tem como objetivo fazer o cálculo da valoração econômica dos bens e serviços relacionados ao manguezal, através da técnica de Disposição a Pagar (DAP) levando em conta os benefícios da conservação deste ecossistema para a comunidade local, que extrai do manguezal boa parte do seu sustento. Os trabalhos de valoração econômica ambiental são raros para este ecossistema, por isto se tornam relevantes. Neste sentido, estes resultados devem auxiliam na elaboração de políticas de preservação do manguezal, como é o caso da Reserva Extrativista do Taim, em São Luís, Maranhão. Palavras-chave: Disposição a Pagar (DAP), valoração econômica, manguezal, Reserva Extrativista do Taim, Maranhão. Abstract The area covered by mangroves in Brazil is estimated at 13,400 km2 along the coast, and the Maranhão state contains great part of national territory. Some of the main factors of degradation of this ecosystem are the disorderly manner of use and occupancy of land, specifically in the study region, the deforestation of mangroves for the production of timber, firewood and coal, and agricultural activities, mining, industrial and port. Excessive use or damage of goods during the environmental activities of production and consumption, which turned into goods and rare objects of conflict, is due to the fact that until some time ago were considered free, available in unlimited quantity and ownership free. This work aims to

calculate the economic valuation of goods and services related to the mangrove, through the provision of method Willingness to Pay (WTP) taking into account the benefits of conservation of this ecosystem to the local community, which draws much of the mangrove of their support. The environmental economic valuation is rare in this ecosystem, so they become relevant. Accordingly, these results should help in designing policies for the preservation of mangrove, such as the Extractive Reserve of Taim, in São Luís, Maranhão. Keywords: Willingness to Pay (WTP), economic valuation, mangrove, Extractive Reserve of Taim, Maranhão.

1.Introdução O crescimento da população humana e a necessidade crescente de produção de bens de consumo possibilitaram a expansão das grandes indústrias e avanço da fronteira agrícola, com o consenso do governo e suas metas de crescimento. Isto está gerando cada vez mais degradação ambiental em um ciclo de depreciação do capital natural e valorização dos bens manufaturados. A possibilidade de exaustão dos recursos ambientais evidenciou a preocupação em equilibrar a necessidade de crescimento econômico com o uso sustentável destes recursos. Nestas circunstâncias os órgãos gestores de meio ambiente, influenciados pela opinião pública, perceberam a necessidade de ampliar o conceito de unidades de conservação e criaram as categorias de uso sustentável, nas quais o convívio entre o homem e a natureza é permitido. Também tem sido utilizadas técnicas de economia ambiental como instrumentos de gestão pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2008), de forma a aperfeiçoar as políticas para alcance da sustentabilidade ambiental e social. O Estado do Maranhão pertencente, em parte, à Amazônia Legal, sendo um dos nove estados brasileiros que compõe este limite político. Por isso faz parte das políticas de preservação deste ecossistema. Segundo SOUZA-FILHO (2005), o Maranhão é possuidor de parte dos manguezais mais produtivos do Brasil: os Manguezais de Macromaré da Amazônia (CMMA) que se estendem da Baía de Marajó (PA) até a Ponta de Tubarão, Baía de São José (MA), perfazendo cerca de 650 km de litoral em linha reta. As florestas de manguezais marcam a transição entre a terra e o mar, entre o ambiente de água doce e salgada. As espécies arbóreas do manguezal são tolerantes às concentrações de sal características das regiões estuarinas. Este ecossistema produtivo e dinâmico possui um equilíbrio harmônico fruto de uma história evolutiva e biogeográfica

ímpar. Por ser um dos principais ecossistemas costeiros da Amazônia Brasileira, os manguezais tornaram-se importantes na história das comunidades humanas. O manguezal é uma fonte indispensável de recursos, é berçário para a reprodução de diversas espécies de peixes, além de auxiliar na manutenção da linha da costa, entre outros benefícios ecossistêmicos. São qualidades que têm promovido o estabelecimento e a sobrevivência destas comunidades humanas até os dias de hoje. O ecossistema manguezal é constituído por três diferentes fisionomias, mangue, marisma e apicum, são ecossistemas complexos, altamente resilientes e resistentes (SHAEFFER-NOVELLI, 1999). A Ilha de São Luís do Maranhão ainda é recoberta por significativas franjas de mangue, apesar de ter sido muito degradada nos últimos anos. A área coberta por manguezais no Brasil está estimada em 13.400 km2 ao longo da costa. Juntos, Maranhão e Pará possuem a maior faixa contínua do mundo que representa 57% por cento do total das áreas de manguezais de todo território nacional (SOUZA-FILHO, 2004). Os principais fatores de degradação deste ecossistema são: a forma desordenada de uso e ocupação do solo, o desmatamento do mangue para fabricação de madeira, lenha e carvão, além de atividades agrícolas, industriais e portuárias Neste contexto, vivem pescadores e pequenos agricultores em 10 comunidades (Cajueiro, Limoeiro, Taim, Rio dos Cachorros, Porto Grande, Portinho, Embaubal, Jacamim, Amapá e Tauá-Mirim) na porção ocidental da Ilha do Maranhão, região estuarina abundante em manguezais, voltada para a baía de São Marcos, no município de São Luís-MA (IBAMA, 2007). Nesta área existe um projeto de implementação de uma Reserva Extrativista (Resex). O uso excessivo ou deterioração dos bens ambientais durante as atividades de produção e consumo, que os transformou em bens raros e objetos de conflito, se deve ao fato de que até algum tempo atrás eram considerados livres, disponíveis em quantidade ilimitada de apropriação gratuita. Dessa forma, foi inserido na economia ambiental o conceito de externalidades, quando os custos da degradação ambiental não estão inseridos no custo total do produto, porém este custo é repassado para a sociedade ou volta para o meio ambiente. Portanto, os custos ambientais devem ser internalizados através de medidas de proteção, recuperação, conservação e pesquisa e informação (MOTA, 2006). O Valor Econômico Total dos bens e serviços ambientais é composto por três tipos de valores, sendo o primeiro o Valor de Uso que se refere ao valor atribuído pelos indivíduos pela participação numa determinada atividade, isto é, pelo uso atual do recurso ambiental, por

exemplo, o valor que os indivíduos estão dispostos a pagar para visitar um parque ecológico ou para conservação determinadas espécies de valor medicinal. O Valor de Opção diz respeito à disposição a pagar dos indivíduos para conservar um determinado recurso que poderá ser usado no futuro e cuja substituição seria difícil ou impossível (KRUTILLA, 1967 apud CASEMIRO-FILHO, 1999). Portanto, o valor de opção expressa preocupação com as gerações futuras, por exemplo, o valor que as pessoas estão dispostas a pagar para preservar uma floresta na esperança de que as espécies que nela se encontram possam ser úteis para gerações futuras. O Valor de Existência é caracterizado quando os indivíduos obtêm benefícios pelo simples conhecimento de que determinado recurso ambiental ou espécie existe, sem que haja a intenção de apreciá-las ou usá-las de alguma forma, portanto, independe de uso direto, no presente ou no futuro (CASEMIRO-FILHO, 1999). A degradação e a perda de ecossistemas florestais vêm ocorrendo devido ao rápido crescimento da população humana e incentivos econômicos que fazem parecer a sua substituição mais aproveitável que sua conservação. As funções ecológicas de uma floresta podem, também, ser consideradas como funções econômicas, apesar de não possuírem mercado, portando não aparentar ter algum valor, o que faz serem suprimidas para outros usos. Portanto, imputar valor a serviços que não possuem mercado, e posteriormente criar mercados hipotéticos que capturem esses valores pode ser um passo para uma mudança a favor da conservação, sustentabilidade das florestas e do bem estar das comunidades vulneráveis que vivem nela (PEARCE, 2001). A utilização de instrumentos econômicos na conservação e uso sustentável do meio ambiente gera benefícios também em escala global, na medida em que minimiza as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade. A Técnica da Valoração Contingente consiste em realizar entrevistas com os indivíduos a fim de que esses possam revelar sua valoração pessoal de bens sem preço usando um mercado hipotético (CUMMINGS ET AL., 1986 apud CASEMIRO-FILHO, 1999). Alguns problemas podem ser encontrados na aplicação desta técnica, chamados de vieses. O viés estratégico ocorre quando os indivíduos percebem que suas respostas podem influenciar decisões, diminuindo seus custos ou seus aumentando benefícios em relação ao resultado esperado num mercado normal. Por exemplo, se um indivíduo é questionado sobre sua disposição a pagar para uma melhoria na qualidade visual de uma área próxima de sua residência e ele sabe que não irá pagar, mas que o projeto será financiado por outras pessoas, sua disposição a pagar será muito maior; caso contrário, se ele tiver de pagar, o valor que ele

irá declarar será muito menor, não informando sua verdadeira DAP (MADEIRA ET AL., 2000; CASEMIRO-FILHO, 1999). O viés de informação pode resultar da maneira como as alternativas são apresentadas aos entrevistados. Informações detalhadas podem ser necessárias para expor o que se quer valorar, o que é essencial em razão de natureza hipotética do método. Assim, o viés pode ser reduzido pelo uso do visual, como, por exemplo, fotografias, especialmente se os indivíduos não conhecem a amenidade que está sendo valorada (CASEMIRO-FILHO, 1999). Outro problema associado à Técnica da Valoração Contingente é o viés de instrumento, que pode resultar da escolha do método usado para coletar a disposição a pagar. Por exemplo, algumas taxas são mais onerosas que outras e o uso delas influenciarão a resposta dos entrevistados. Esse viés também pode resultar dos tipos de perguntas que são feitas aos entrevistados, assim, elas devem ser elaboradas de modo que o entrevistador não induza uma resposta do entrevistado (MADEIRA ET AL., 2000; CASEMIRO-FILHO, 1999). E, por último, destaca-se o viés hipotético, inevitável num processo em que o comportamento de um mercado não é observado, principalmente se os entrevistados têm pouca ou nenhuma familiaridade com o objeto que está sendo valorado. Além dos problemas citados, outra limitação associada a esse método é o alto custo necessário para sua realização. Isso, entretanto, não quer dizer que os resultados obtidos através Técnica da Valoração Contingente não poderão ser usados. Em muitos casos, não existem técnicas alternativas de valoração, sendo esse o único meio disponível para produzir estimativas de valores (Dixon & Shermann, 1990 apud CASEMIRO-FILHO, 1999). O presente artigo tem por objetivo valorar economicamente bens e serviços do ecossistema manguezal através do método de valoração contingente Dentre as técnicas utilizadas para a valoração de recursos está a Técnica de Disposição a Pagar (DAP) que utiliza como indicadores a estimativa de propensão a pagar pela preservação dos atributos. E estimativa do número de indivíduos que gostariam de contribuir para que os atributos sejam efetivamente preservados. Neste caso, qualquer atributo deste ecossistema ou o próprio ecossistema como um todo. 2. Metodologia Para a utilização do Método de Valoração Contingente (MVC), inicialmente foi elaborada uma descrição geral dos atributos e sua importância para a manutenção dos recursos

existentes no ecossistema estudado. Foram utilizados fotos e mapas mostrando a área da futura Reserva Extrativista do Taim como instrumento de conservação do manguezal e manutenção das comunidades que lá vivem. Em seguida, foi elaborado um questionário para se obter dados sobre a importância que as pessoas atribuem a esse ecossistema; no qual foi registrado o perfil sócio-econômico das pessoas interessadas em conservar este ecossistema. Os indivíduos abordados foram questionados em relação a dados básicos como sexo, idade, escolaridade, ocupação e rendimento familiar. As perguntas feitas foram referentes à conservação dos recursos na reserva extrativista do Taim e quanto o indivíduo estaria disposto a pagar pela conservação daquela área e por ventura de que forma a contribuição poderia ser fornecida, em dinheiro, serviços prestados, trabalho ou apoio. Foram analisados os dados sócio-econômicos dos questionários sobre a Disposição a Pagar (DAP), em relação à faixa etária, proporção entre os sexos, escolaridade e renda. As populações amostradas foram as das comunidades pertencentes à área da proposta Resex, na Zona Rural de São Luís, entre os dias 17 de maio de 2008 e o dia 24 de julho de 2008; transeuntes da Praça Deodoro, localizada no Centro de São Luís, no dia 12 de junho de 2008; e Turistas que freqüentaram o Centro Histórico de São Luís entre os dias 10 e 21 de julho de 2008. Ao todo 126 pessoas foram entrevistadas, totalizando 124 amostras. Duas foram desconsideradas, uma por causa de idade inferior a estipulada como mínima e outra por resposta insuficiente. Outras duas amostras foram desconsideradas por atribuírem valores exorbitantes dentro do chamado viés estratégico. 3. Resultados 3.1. Renda familiar A grande maioria da população amostrada nas comunidades se encontra na faixa entre 1 (hum) e 2 salários mínimos, 75% das 63 amostras. Seguido pelo percentual de 22%, que possui a renda familiar total menos de 1 (hum) salário mínimo e apenas 3% ganhando entre 2 e 4 salários mínimos. A população amostrada na Praça Deodoro teve maioria na faixa salarial entre 1 (hum) e 2 salários mínimos (41%), seguido de 28% com renda entre 2 e 4 salários mínimos e 17% entre 4 e 6 salários mínimos. As rendas menores de 1 (hum) salário e maiores de 6 tiveram ambas percentual de 7%. Entre os turistas 65% dos entrevistados disseram ter renda total familiar acima de 6 salários mínimos. Em seguida, 20% disseram receber entre 4 e 6 salários, 10% entre 2 e 4 salários e 6% entre 1 e 2 salários. Não houve registro de renda menor que um salário mínimo para este grupo.

3.2. Disposição D a Pagar (D DAP) A perguntta inicial feeita sobre a disposição a pagar foi: f ‘Sabenndo da impo ortância doo ecosssistema mannguezal voccê estaria disposto d a paagar pela coonservação do mangueezal da áreaa da reeserva extraativista do Taim? T SIM, ou NÃO? A respostaa afirmativaa leva o enttrevistado à outraa pergunta sobre s o valoor em Reaiss que estariaa disposto a pagar. A ppergunta neegativa vem m seguiida de uma justificativaa. A distribuuição da diisposição a pagar pella comuniddade da Resex revelou u que 79% % estarriam dispostos a pagarr enquanto apenas 21% % não estarriam disposstos a pagaar. Entre oss entreevistados daa Praça Deoodoro 83% estavam dispostos a pagar, p enquaanto 17% não n estavam m dispoostos. Nas amostras a refferentes aoss turistas a disposição d a pagar foi dde 81%, enq quanto 19% % não estavam e disspostos a paagar. Os valoress, em reais,, da DAP fooram sugeriidos pelo quuestionário,, mas isto não n impediuu que a população escolhessse outros valores. No gráfico forram colocaddos apenas os valoress aponntados peloss entrevistaddos. A distrribuição foii uniforme entre e os vallores R$ 10 0,00 (25%),, R$ 20,00/R$ 2 500,00 (21%)), R$ 100,000/ RS 200,00 (21%) e R$ 250,000/ R$ 500 0,00 (21%).. Outros valores representara r am juntos 122% do totall.

DAP 1 1 real

2 reeais

5 reaiss

1 10 reais

50 rreais

500 reeais

c cem mil reais

cem m milhões de rreais 2 2% 2% 2% 2% 38% % 17% % 35 5% 2%

Figura1: diistribuição dos valo F ores aponttados peloos entrevisstados nass comunidades. Fonte: peesquisa da autora. a A hipótese testada fooi que os enntrevistadoss com maioor renda tottal familiar estivessem m proporcionalmennte mais dispostos d a pagar que os entreviistados com m renda tottal familiarr mportamentto inverso, conforme aapresentado o no gráficoo inferrior. Porém,, foi verificado um com acim ma, onde quuase 94% dos d entrevisstados com renda inferrior a um ssalário mín nimo estevee

disposto a pagar pela conservação da referida área de manguezal. Enquanto o maior índice de entrevistados não dispostos a pagar estava na faixa salarial acima de seis salários mínimos. Este comportamento pode ser devido à maioria da população com renda mais baixa ser moradora das comunidades que pertencem à área da proposta Reserva Extrativista, enquanto os turistas apresentaram as maiores faixas salariais, acima de seis salários mínimos, conforme apresentado nos gráficos. Este resultado nos leva a refletir que a proximidade que o entrevistado se encontra do bem, e respectivo serviço ambiental utilizado por ele, a serem valorados influencia diretamente a Disposição a Pagar pela conservação do recurso.

Tabela 1: Disposição a Pagar (DAP) pela conservação do manguezal da Reserva Extrativista entre as faixas de renda em porcentagem. RENDA

DAP

TOTAL

SIM

%

NÃO

%

Menos de 1 SM

15

93.75%

1

6.25%

16

100%

Entre 1 e 2 SM

49

79%

13

21%

62

100%

Entre 2 e 4 SM

10

77%

3

23%

13

100%

Entre 4 e 6 SM

10

91%

1

9%

11

100%

Acima de 6 SM

16

72.70%

6

27.30%

22

100%

TOTAL

100

80.60%

24

19.40%

124

100%

Fonte: pesquisa da autora. O valor de existência também deveria seguir o mesmo comportamento. A resposta esperada era pelo valor de existência, porém foi encontrada uma gama de respostas incluindo valor de uso e de opção, além do valor de existência. Conforme pode ser verificado na tabela abaixo a maioria das respostas em relação à importância de se preservar o manguezal incluía seu valor de uso, principalmente nos questionários aplicados nas comunidades.

Tabela 2: Tipos de valores encontrados no questionário de Valoração Contingente. Valor

Amostras

Pop. COM

Pop. TUR

Pop. DEO

% total

O

15

6

5

4

12,1

VE

30

11

11

8

24,2

VE/VU

15

4

4

7

12,1

VO

1

0

1

0

0,8

VO/VE

4

1

3

0

3,2

53

41

2

10

42,8

VU/VO

4

0

4

0

3,2

VU/VO/VE

2

0

1

1

1,6

124

63

31

30

100

VU

TOTAL

Legenda: O (outras respostas), VE (Valor de Existência), VU (Valor de Uso), VO (Valor de Opção). Fonte: pesquisa da autora. Foram retirados das amostras dois valores exorbitantes que podem ser considerados como viés estratégico da pesquisa de valoração contingente, essas amostras representavam pessoas da comunidade. Outros valores poderiam ser considerados um pouco altos, mas estavam nas faixas salariais mais altas, portanto, não foram retirados. O resultado da disposição a pagar teve a média de R$ 123,65, mediana R$ 5,00 e a moda R$ 5,00. Em relação aos resultados deste estudo na Resex do Taim, consideramos altos os valores encontrados na DAP, porém dentro dos padrões encontrados na literatura. Na comparação com outros estudos de caso, a análise dos valores subjetivos que influenciaram a preferência dos entrevistados pelo estado ou condição do manguezal do Rio Ceará, verificouse que 84,8% dos indivíduos pagantes apontaram motivos de caráter altruísta, ou valor de existência, para preferirem a preservação do manguezal; 7,6% dos pagantes consideraram a preferência em preservá-lo para uso futuro, caracterizando o valor de opção. FERREIRA (2000) também considerou fator econômico relevante para a disposição a pagar as diferentes classes de renda da amostra. Os valores predominantes da Disposição a Pagar ficaram no intervalo de R$ 1,00 a R$ 2,00, porém na classe de renda mais alta, apesar de um menor

número de pagantes representado por 28,8%, revelou a disposição a pagar valores mais elevados entre R$ 2,00 e R$ 5,00 (FERREIRA, 2000) Alguns vieses foram verificados como o viés estratégico em respostas dadas por moradores das comunidades que apesar dos baixos salários atribuíram valores exorbitantes à conservação do manguezal. Isto demonstra que num mercado hipotético, se um indivíduo é questionado sobre sua disposição a pagar para uma melhoria na qualidade de uma área próxima de sua residência e ele sabe que não irá pagar, mas que o projeto será financiado por outras pessoas, sua disposição a pagar será muito maior. Também observamos o viés de instrumento, pois algumas perguntas no questionário estavam pouco claras o que gerou a necessidade de explicações adicionais, principalmente para os entrevistados mais idosos ou com menos educação, o que pode ter levado à indução em alguns casos. A falta de padronização na etapa de sensibilização pré-questionário também pode ser considerada um viés de informação, pois pode ter influenciado para mais ou para menos no valor da DAP. Parece que os entrevistados nas comunidades, que estavam dispostos a pagar, mostraram um comportamento de obrigação em relação ao pagamento, mesmo sua renda sendo insuficiente, por usufruírem dos benefícios oferecidos pelo manguezal. Este aspecto não parece ser necessariamente negativo, pois demonstra que o ecossistema tem grande valor para estas comunidades, mesmo que as vezes este não seja medido monetáriamente. 3.3. Percepções ambientais nas comunidades Pudemos perceber, por meio de conversas informais e entrevistas, que existe uma percepção ambiental variável no que diz respeito à conservação. Geralmente, os mais velhos têm mais clareza da importância dos recursos naturais para sua sobrevivência, mas as comunidades são, na sua maioria, bem organizadas e suas lideranças ativistas da conservação e educação ambiental, além da luta pelos direitos a terra. O saber local, por exemplo, é visto como possibilidade de obtenção de mais informações sobre como lidar com os recursos naturais, contribuindo para a elaboração de soluções técnicas no uso dos recursos naturais (TEIXEIRA, 2005).

Alguns jovens também estão se envolvendo em projetos relacionados ao meio ambiente, conforme observado em entrevistas com os moradores. Outro fato observado, durante a aplicação dos questionários que levantaram dados sobre o valor de existência do manguezal, foi que em quase cem por cento das amostras foram encontradas respostas positivas do tipo: “O mangue vale muito porque é dele que tiramos nosso sustento!”, ou “É importante, pois é nossa forma de sobreviver”. Os moradores das comunidades demonstram essa relação com a natureza e a percepção do conceito de qualidade de vida relacionando a expectativa de vida (idade) e que o lugar onde moram ainda é ainda é o melhor lugar do mundo para se viver e para criar os filhos. Algumas pessoas mais idosas demonstram que tem conhecimento das conseqüências da degradação ambiental, quando percebe que os caranguejos estavam ‘correndo risco’ por ter suas tocas inutilizadas pelo corte da vegetação, chamada por ele de mangue. Estes animais vivem abrigados sob a lama do manguezal e protegidos pelas raízes da vegetação que o cobre, portando tendo forte dependência do manguezal para sua sobrevivência. Também defendem a conservação do manguezal e admitem que coíbem o corte das arvores, especialmente para fazer carvão. Alguns moradores deixam claro sua percepção acerca do desenvolvimento da vegetação do mangue quando diz que ‘nosso mangue’ tem o caule bem grosso, significado que é uma árvore antiga, portanto o mangue não tem sido cortado ultimamente na região para lenha ou carvão. Apesar da riqueza natural de um ambiente tão próximo, cerca de 40 quilômetros do centro da cidade, e do modo de vida que propicia o contato íntimo com a natureza, muita degradação ainda vem ocorrendo. A influência humana é, de modo geral, degradante; porém, a escala de degradação varia proporcionalmente ao tamanho do empreendimento. Na região da futura Reserva Extrativista do Taim podem ser encontradas tanto pedreiras de fundo de quintal, quanto empresas licenciada pelos órgãos competentes. Os trabalhos de Disposição a Pagar (DAP) são raros para este ecossistema por isto trabalhos nesta área se tornam relevantes. A aplicação da Economia ambiental é importante não somente para a valorização dos bens e serviços provenientes do manguezal que beneficiam as comunidades que vivem em contato direto com ele, mas também para a população como um todo porque gera bem estar associado ao seu valor de uso de uso ou e de existência. Neste sentido, estes resultados devem auxiliam na elaboração de políticas de preservação do manguezal, como é o caso da Reserva Extrativista do Taim.

4. Referências CASEMIRO FILHO, Francisco. Valoração Monetária de Algumas Amenidades Ambientais: algumas considerações. Teor. Evid. Econ, Passo Fundo, v. 7, n. 13, p. 53-68, nov. 1999 FERREIRA, Angela Maria Rodrigues. Análise da Disposição a Pagar pela Preservação do Manguezal do Rio Ceará. Revista Econômica do Nordeste, Fortaleza, v. 31, n. 4 p. 10341049, out-dez. 2000 IBAMA, Laudo Sócio-Econômico e Biológico para Criação da Reserva Extrativista do Taim. CNPT/MA, São Luís, setembro de 2007. MMA. Pagamentos por serviços ambientais: perspectivas para a Amazônia Legal, Coordenador Sven Wunder; Jan Börner, Marcos Rügnitz Tito e Lígia Pereira. 136 p. Brasília, 2008. MOTA, José. Aroudo. Pressupostos da Valoração dos Recursos Naturais. In: O Valor da Natureza: Economia e Política dos Recursos Naturais. 200p. Rio de Janeiro, Garamond, 2006. PEARCE, David W. The economic Value of Forest Ecosystems. Ecosystem Health. Vol 7 n° 4, December, 2001 SHAEFFER-NOVELLI, Yara. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da zona costeira e marinha – Grupo de Ecossistemas: Manguezal, Marisma e Apicum PRONABIO – PROBIO, 1999. SOUZA-FILHO, Pedro Walfir Martins. Costa de Manguezais de Macromaré da Amazônia: Cenários Morfológicos, Mapeamento e Quantificação de Áreas Usando Dados de Sensores Remotos. Revista Brasileira de Geofísica, 23(4): 427-435, 2005. TEIXEIRA, Cristina. O desenvolvimento sustentável em unidade de conservação: a “naturalização” do social. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Vol. 20 nº 59, outubro de 2005. NOGUEIRA, Jorge Madeira; MEDEIROS, Marcelino Antonio Asano; ARRUDA, Flávia Silva Tavares. Valoração Econômica do Meio Ambiente: Ciência ou Empiricismo? Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.17, n.2, p.81-115, maio/ago., 2000.