Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CEPEA –ESALQ/USP
Economia da pecuária de corte na região norte do Brasil
Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros - Coordenador Sergio De Zen Mirian Rumenos Piedade Bacchi Silvio M. Ichihara Mauro Osaki Leandro A. Ponchio
Piracicaba – agosto 2002
RESUMO
A junção das palavras Amazônia, meio ambiente, desenvolvimento econômico e desmatamento originam o polêmico tema que transcende o território nacional e é anexado à pauta da opinião pública mundial. Tema, formado pela complexa malha de ações antrópicas, que responsabiliza a atividade da pecuária extensiva como um de seus principais agentes fato que é real - pois é embasado no sólido argumento de que a expansão da atividade implica na supressão da floresta.
Mas diante a esta afirmação, o que dizer da pecuária? Quais as causas que impulsionaram a sua evolução? Qual a sua importância para o desenvolvimento local? É uma atividade simplesmente predatória e será passageira?
Sob a ótica econômica, este estudo teve como objetivo principal, buscar respostas que possam elucidar tais questionamentos, para isso foi necessário avaliar a composição dos custos dos sistemas de produção, analisar a rentabilidade da atividade e buscar explicações dentro do contexto atual e do passado.
As regiões definidas para o estudo foram: Paragominas/PA, Redenção/PA, Santana do Araguaia/PA, Alta Floresta/MT e Ji-Paraná/RO. Em cada uma destas regiões foi contextualizada a empresas rurais e as suas relações com o ambiente regional. Com o intuito de compilar informações fidedignas, o trabalho prezou pela obtenção de dados primários provenientes dos produtores rurais utilizando-se de reuniões “in loco” e seguindo a técnica denominada Painel.
Os resultados foram surpreendentes, com relação à grande rentabilidade da atividade pecuária na Amazônia. A taxa Interna de Retorno – TIR das propriedades dessa região estão situadas em torno de 10%, enquanto nas regiões tradicionais de pecuária o rendimento é inferior a 5%. Na presente análise considera-se um horizonte de tempo de 20 anos, com os investimentos concentrados nos quatro primeiros. O conhecimento do processo produtivo da propriedade típica da Amazônia possibilitou a construção de modelo matemático com a finalidade simular as situações possíveis de expansão da atividade na região. 1
ÍNDICE 1- INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 5 2- OBJETIVOS PROPOSTOS .............................................................................................. 6 3- REVISÃO DA LITERATURA.......................................................................................... 6 3.1- O CONTEXTO: REGIÃO AMAZÔNICA, DESENVOLVIMENTO E DESMATAMENTO 6 3.2- A PECUÁRIA NA REGIÃO AMAZÔNICA...................................................................... 7
4- MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 11 4.1- LEVANTAMENTO DE DADOS DE FONTES GOVERNAMENTAIS .............................12 4.2- LEVANTAMENTO DE COEFICIENTES TÉCNICOS DE PRODUÇÃO E DE INFORMAÇÕES GERAIS REGIONAIS ................................................................................13 4.3- CONSTRUÇÃO DAS PLANILHAS DE CUSTO DE PRODUÇÃO ORIENTADAS PARA OS DIFERENTES TIPOS DE SISTEMAS DE CADA REGIÃO...............................................14 4.4- REALIZAÇÃO DOS PAINÉIS ........................................................................................15 4.5 - CONSTRUÇÃO E AVALIAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA..............................................21 4.6- AVALIAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS FLUXOS OBTIDOS, COM BASE NOS INDICADORES DE ANÁLISE DESEMPENHO ECONÔMICO (TIR, VPL)............................21 4.7- UTILIZAÇÃO DE MODELOS DE MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO E MINIMIZACÃO DO RISCO...................................................................................................................................22 5 - RESULTADOS ................................................................................................................ 23 5.1- RESULTADOS REFERENTES À DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO ...........23 5.1.1- O panorama da bovinocultura na região da Floresta Amazônica................................ 23 5.1.2- Relacionamento das áreas de maior produção pecuária com as áreas florestais. ......... 31 5.1.3- Determinação dos municípios envolvidos no estudo.................................................... 33 5.2. RESULTADOS DO PAINEL...........................................................................................34 5.2.1 - Informações relativas ao tamanho das propriedades e ao uso do solo......................... 35 5.2.2- Informações relativas aos índices de produção .......................................................... 43 5.3 - ANÁLISE DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO....................................................................46 5.3.1- Avaliação comparativa da estrutura geral dos custos de produção nos sistemas de criarecria e engorda................................................................................................................ 49 5.3.2 - Avaliação comparativa da estrutura geral dos custos de produção nos sistemas de recria e engorda.......................................................................................................................... 51 5.4 - ANÁLISE DA RENTABILIDADE..................................................................................52 5.5- RESULTADOS DA MODELAGEM................................................................................61
6- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 73
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Equação 1 ................................................................................................................................ 63 Equação 2 ................................................................................................................................ 63 Equação 3 ................................................................................................................................ 63 Equação 4 ................................................................................................................................ 65 Equação 5 ................................................................................................................................ 65 Equação 6 ................................................................................................................................ 65 Equação 7 ................................................................................................................................ 65 Equação 8 ................................................................................................................................ 65 Equação 9 ................................................................................................................................ 66 Equação 10 .............................................................................................................................. 66 Equação 11 .............................................................................................................................. 66 Equação 12 .............................................................................................................................. 66 Equação 13 .............................................................................................................................. 66 Equação 14 .............................................................................................................................. 66 Equação 15 .............................................................................................................................. 67 Equação 16 .............................................................................................................................. 67 Figura 1-Sistemática Operacional da Pesquisa ....................................................................... 12 Figura 2 - Etapas 1 e 2 ............................................................................................................ 17 Figura 3 - Etapa 3.................................................................................................................... 19 Figura 4 - Participação das dez principais microrregiões na composição do rebanho paraense.................................................................................................................... 26 Figura 5 - Participação das dez principais microrregiões na composição do rebanho matogrossense .................................................................................................................. 28 Figura 6 - Participação das dez principais microrregiões na composição do rebanho de Rondônia .................................................................................................................. 29 Figura 7 - Desflorestamento: Sul do Estado do Pará .............................................................. 31 Figura 8 - Desflorestamento: Estado do Mato Grosso ............................................................ 31 Figura 9 - Desflorestamento: Estado de Rondônia ................................................................. 32 Gráficos 1 - Demonstração gráfica dos resultados dos custos - Painéis Cria -Recria -Engorda . 47 Gráficos 2 - Demonstração gráfica dos resultados dos Custos - Painéis Recria -Engorda ......... 48 Gráfico 3 - Porcentagens dos custos relacionados à criação em Ji-Paraná ............................. 51 Gráficos 4 - Histogramas de Freqüência - TIR....................................................................... 54 Gráficos 5 - Histogramas de Frequência - TIR....................................................................... 55 Gráficos 6 - Histogramas de Frequência - TIR....................................................................... 56 Gráfico 7- Fronteira Eficiente ................................................................................................. 69
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Quadro comparativo 1 - Tamanho das propriedades definidas e uso do solo ........................ 35 Quadro Comparativo 2 - Principais índices de produção da pecuária determinados consensualmente em cada painel ..................................................... 43 Tabela 1-Fontes de informação utilizadas .............................................................................. 14 Tabela 2 - Evolução do Rebanho Bovino (1990-2000) .......................................................... 24 Tabela 3 - Taxas de variação percentual do rebanho efetivo total (Relação 1990 a 2000) .... 24 Tabela 4 - Variação percentual da evolução do rebanho efetivo entre 1990 e 2000 - PA...... 27 Tabela 5 - Variação percentual da evolução do rebanho efetivo entre 1990 e 2000 - MT..... 29 Tabela 6 - Variação percentual da evolução do rebanho efetivo entre 1990 e 2000 .............. 30 Tabela 7- Período de seca ....................................................................................................... 45 Tabela 8 - TIRs Referentes aos sistemas de produção que possuem cria-recria e engorda .... 53 Tabela 9 - TIRs Referentes aos sistemas de produção que possuem recria e engorda ........... 53 Tabela 10 - Receita Líquida por Hectare (R$/ano)................................................................. 59 Tabela 11 - Rendimento Líquido – R$/ha............................................................................... 62 Tabela 12 - Fluxo de caixa ...................................................................................................... 64 Tabela 13 - Desvios absolutos das culturas nas últimas 10 safras .......................................... 68
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1- INTRODUÇÃO A pecuária de corte no Brasil tem-se mostrado um grande dinamismo. O setor, mesmo com o real valorizado, apresentou crescimento das exportações nos anos de 1997 e 1998. Com a desvalorização da moeda nacional em 1999, as exportações ganharam ainda mais impulso e cresceram 60%, segundo dados da Secex. No período compreendido entre 1994 e 2000, o consumo interno também cresceu consideravelmente, saltando de 30 quilos para 35 quilos por habitante/ano, de acordo com dados do IBGE. A relativa estabilidade dos preços, mesmo com o crescimento da demanda interna e do volume exportado, pode ser explicada por ganhos de produtividade e pela expansão da área produtiva.
A história da pecuária brasileira confunde-se com a própria história do país. Essa atividade tem sido importante na economia do Brasil desde o seu descobrimento, tendo-se expandido significativamente em decorrência das exigências nutricionais de uma população crescente. Nos primeiros tempos, a pecuária tinha como finalidade atender à demanda de carne e oferecer tração para o desenvolvimento de outras atividades agrícolas. A expansão da produção ocorreu com a ocupação de novas áreas, entre as quais estavam as do CentroOeste.
A expansão de área perdeu força à medida que as regiões de cerrado, as quais poderiam ser abertas visando a implantação da pecuária, foram se esgotando. A necessidade de ampliação da área passou, então, a pressionar a Amazônia, onde o crescimento da atividade esbarrou em aspectos técnicos que dificultaram a ocupação, sendo as condições climáticas muito diferentes do restante do país. Dessa forma, os sistemas tradicionais de manejo poderiam não ter bons resultados econômicos no longo prazo.
O estudo da viabilidade da pecuária na amazônia deve-se ser feito num contexto mais amplo, envolvendo o entendimento das decisões econômicas das empresas agrícolas da região. Algumas questões devem ser analisadas, tais como:
- O desmatamento ocorre motivado pela implantação da pecuária ou há outras alternativas para a terra desmatada? 5
- O que é mais interessante, desmatar ou recuperar áreas? - Existem outros fatores econômicos que explicam a expansão da área desmatada?
A pecuária na região amazônica deve ser estudada como atividade econômica nos aspectos relacionados ao sistema de produção (leite, corte ou misto) e às formas de manejo (cria, cria-recria, cria-recria-engorda e engorda). Na seqüência, é importante destacar a integração dessa atividade com outras vigentes na região, as alternativas e os riscos envolvidos nas atividades ali implantadas.
2- OBJETIVOS PROPOSTOS •
Estudar o processo de formação de renda das propriedades da região amazônica
•
Identificar os principais agentes do setor pecuário e o grau de interação deste setor com o desmatamento.
3- REVISÃO DA LITERATURA 3.1- O CONTEXTO: REGIÃO AMAZÔNICA, DESENVOLVIMENTO E DESMATAMENTO
Este tópico tem como objetivo apresentar de forma sucinta a revisão bib liográfica que envolve o desenvolvimento da atividade pecuária na região amazônica e sua relação com o desmatamento.
Antes da década de 50, o processo de expansão da fronteira agrícola na região amazônica resumia-se às terras das margens dos cursos dos rios que tornavam possíveis a exploração dos recursos naturais de alta rentabilidade.
Para entender a dinâmica do processo de desmatamento é necessário contemplar as distintas vertentes que deram suporte à expansão capitalista desta região. Segundo Cardoso & Muller (1977) três vertentes principais fundamentaram o processo: os interesses empresariais nacionais e estrangeiros; os interesses militares visando a incorporação efetiva 6
do território amazônico; e o fato de que a região, desde o seu descobrimento até a década de 70, não conseguiu estruturar interesses próprios que fossem capazes de competir com os interesses externos. Tais fatos restringiram toda a economia regional às ondas mercantis extrativistas de curta duração e de caráter exclusivamente predatório.
Os planos governamentais implantados nas décadas de 60 e 70 subsidiaram a construção de rodovias e a implantação de diversos mecanismos de incentivo à colonização que, junto aos investimentos de capitais estrangeiros na extração de recursos minerais realizados a partir da década de 70, promoveram a consolidação de uma infra-estrutura que tem viabilizado o rápido progresso da agropecuária na região amazônica. Mas, à medida que ocorre a expansão da fronteira agrícola, a relação entre infra-estrutura local e agricultura deixa de ser uma simples relação de causa e efeito para se tornar um processo de retroalimentação positiva, fato bastante visível no processo de evolução das malhas rodoviárias.
Assim, o processo de desenvolvimento econômico caminhou de diferentes formas, em diferentes épocas e em diferentes áreas. As atividades relacionadas à produção de cacau, à de borracha, à de pimenta-do-reino e ao garimpo foram mais expressivas em décadas mais remotas, enquanto que a mineração, a pecuária e alguns tipos de cultivo tiveram maior destaque nas últimas décadas. Esse processo de desenvolvimento tem promovido o desmatamento na região e o setor pecuário tem sido apontado como o principal agente responsável por isso, por substituir as áreas de floresta por pastagens cultivadas.
3.2- A PECUÁRIA NA REGIÃO AMAZÔNICA
Antes da década de 50, a pecuária, praticamente sem expressão, se desenvolvia nos campos de pastagens nativas e de várzeas inundáveis distribuídos em algumas regiões do Pará, Tocantis, Mato Grosso, Amapá e Roraima. Com a necessidade de povoar os grandes vazios demográficos da região norte, o Governo Federal, nas décadas de 60 e 70, construiu as rodovias Belém- Brasília, a atual BR-364 e a Transamazônica, além de estabelecer o INCRA e fomentar outros organismos de colonização, fatores estes que beneficiaram a expansão da pecuária. 7
No início da década de 70, alguns estudos e relatos jornalísticos sobre à construção da Transamazônica apontavam a fragilidade da floresta frente à ação antrópica e questionavam a validade do enorme empenho do governo para povoar as grandes áreas inóspitas da floresta (Pereira, 1971; Gontijo 1970). Desde esta época, a atividade pecuária na região é apontada como predatória e causa da intensificação do processo de desertificação. Segundo esses relatos, a pecuária era utilizada como uma forma de evitar a ocupação de áreas improdutivas por “posseiros”.
A atividade, só se tornava lucrativa, devido ao baixo preço de aquisição da terra, subsidiada pela SUDAM. Além disso, a venda da madeira extraída na própria área produzia recursos suficientes para pagar o custo da terra, o desmatamento, a queimada, a plantação da pastagem e ainda aquisição de todo o gado necessário para iniciar rebanho. O proprietário, então, usufruía a fertilidade proveniente das cinzas da queimada por alguns poucos anos e depois abandonava a terra (Tamer 1970).
Os ganhos, declarados no relato descrito acima, originados do excelente crescimento das forrageiras também foram observados por Falesi (1976). Mas os estudos realizados, na década de 80, apontam a importância da recuperação dos pastos degradados e questionam a viabilidade da atividade pecuária sem os benefícios concedidos nas décadas anteriores.
Falesi & Veiga (1986) concluem que a técnica de recuperação de pastagens só se torna viável através de financiamentos acessíveis devido ao alto custo da utilização de máquinas pesadas e de fosfato aplicado em grande quantidade.
Hecht et al. (1988) demonstra através de métodos de simulação que a pecuária na Amazônia Oriental só se torna lucrativa em cenários que envolvam, sobrepastejo, incentivos fiscais, empréstimos a juros baixos, especulação da terra, relação alta de preço do produto com preço dos insumos ou a combinação de todas estas situações.
No entanto, o panorama atual da bovinocultura de corte difere do verificado em épocas anteriores, que eram mais favoráveis à atividade, devido aos seguintes fatores: 8
i) o sobrepastejo já não é tão usual, pois depende da abertura de novas áreas e das queimadas para agregar as cinzas e, com isso proporcionar o alto desempenho do pasto. A maioria das pastagens em uso atualmente foram formadas nas décadas de 70 e 80 nas regiões onde foram feitas esta pesquisa. Além disso, o processo de abertura de novas áreas esbarra-se com a pressão imposta pela sociedade, fato decorrente do alto grau de apelo internacional em defesa das áreas ambientais remanescentes e da preocupação com as questões referentes às alterações climáticas, fatores que culminaram na publicação da Medida Provisória N° 2.16667, de 24-08-2001, de forma a alterar a redação do artigo 16 da Lei Federal N° 4771 de 15/09/1965. O novo texto do artigo N° 16 define como área de reserva legal oitenta por cento, no mínimo, da propriedade rural situada em qualquer região da Amazônia Legal.
ii) a obtenção de capitais a juros baixos provenientes de planos e incentivos governamentais é cada vez mais difícil, seguindo o mesmo caminho da política agrícola nacional.
iii) segundo Homma (1993) a expansão da fronteira agropecuária na região amazônica não pode ser explicada pelos lucros obtidos com especulação da terra, pois o risco decorrente da invasão de posseiros, a distância aos principais centros urbanos e a inexistência de preços excepcionais de produtos agrícolas produzidos na região 1 interferem no preço da terra.
iv) a relação: preço do produto e preço dos insumos. É fato que os custos com insumos destinados ao manejo mineral, profilático e reprodutivo tendem a ser maiores nesta região devido ao frete.
A despeito desses fatores adversos, a produção de bovinos continua a aumentar nos últimos anos na região amazônica.
Scheneider et al. (2000) relata em seu trabalho, baixas taxas de retorno encontradas para a atividade e cita diversos outros autores que apresentam resultados parecidos, não
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Cabe destacar que o preço da arroba bovina produzida na região amazônica é cerca de 20% menor na região Sul e Sudeste.
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conseguindo apresentar uma justificativa econômico/financeira para o aumento do rebanho bovino.
Mattos & Uhl (1996) encontraram resultados parecidos com àqueles mencionados no parágrafo anterior, com taxas internas de retorno baixas e até negativas para a atividade da pecuária de corte. Porém, os resultados também evidenciam taxas acima de 20% para a mesma atividade quando se utilizava a técnica de reforma de pastagens. Tais técnicas são bastante recomendadas por diversos estudiosos, segundo Costa (2000) e outros pesquisadores da EMBRAPA/Amazônia Oriental, - a baixa fertilidade do solo em diversos locais da região amazônica limita a longevidade do cultivo das pastagens, que só se torna viável mediante a aplicação das técnicas de manejo e recuperação do pasto e controle de plantas invasoras.
A percepção da necessidade do uso de tecnologia na pecuária no Brasil centro-norte não foi observada somente nos últimos anos. Avaliando-se o trabalho realizado no Brasil central e descrito por Mueller (1977), que utiliza simulações com modelos de programação linear, nota-se que entre as alternativas consideradas (falta de crédito, política de preços e falta de alternativas viáveis) para explicar a baixa produtividade da pecuária, a falta de assistência técnica é o fator crítico para a obtenção da melhoria da produtividade dos rebanhos. O autor ressalta a importância das pesquisas destinadas à melhoria das variedades de pastagens mais adaptadas - fato que foi conseguido nas duas últimas décadas com o advento da Brachiaria brizanta, mas ainda assim deve ser observado com cuidado, pois esta variedade de capim foi desenvolvida para o cerrado - e também a necessidade de implantar sistemas, relativamente simples de manejo das pastagens que não exigissem mudanças drásticas na infra-estrutura das fazendas. A pesquisa mostra ainda que a simples adoção do método de pastoreio rotativo era capaz de aumentar significativamente a receita líquida da atividade.
É provável que a utilização de tecnologia para o setor pecuário tenha sido prorrogada em mais de uma década por causa de vários fatores, mas talvez a abundância do recurso terra tenha sido o fator fundamental. Segundo Homma (1999) “A abundância da terra levou a um processo de regressão tecnológica dos migrantes, com relação aos locais de origem”. O excesso deste insumo pode ter provocado a diminuição da demanda por tecnologia, visto que 10
o desempenho da pecuária extensiva depende de grandes áreas de pasto disponível. No entanto, a obtenção de terras e a realização do processo de transformação da floresta em pasto são ações relativamente mais difíceis de serem concretizadas hoje que nas décadas anteriores, devido aos motivos mencionados anteriormente. Aliado a este fator, a necessidade de assegurar os investimentos realizados na propriedade em termos de infra-estrutura faz com que os pecuaristas procurem alternativas para melhorar as áreas que já possuem em detrimento da abertura outras áreas não exploradas.
A adoção de novas tecnológicas pode ter contribuído para a expansão da pecuária bovina na região, porém esta afirmação pode não ser válida para toda a região amazônica. Salientase aqui que poucos depoimentos ou pesquisas podem ser generalizados para a região como um todo, pois é difícil definir se uma atividade é ou não viável em uma área que ocupa 59% do território nacional, atinge nove estados e apresenta diferenças climáticas, morfológicas, edáficas, sócio-culturais e tecnológicas em toda a sua extensão. É necessário, portanto, que as diferentes regiões que compõem a Amazônia sejam estudadas e comparadas entre si de forma que as conclusões possam ser tomadas individualmente e somente algumas sejam consideradas válidas para o complexo da Amazônia Legal como um todo.
4- MATERIAIS E MÉTODOS
Este tópico tem a fina lidade de apresentar a sistemática operacional utilizada nesta pesquisa. A seguir, através do fluxograma, é possível visualizar de forma seqüencial todas as etapas envolvidas.
Todas as ações (em azul) são descritas detalhadamente nos tópicos a seguir enq uanto que os resultados (em vermelho) são apresentados no tópico posterior.
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Figura 1-Sistemática Operacional da Pesquisa
4.1- LEVANTAMENTO DE DADOS DE FONTES GOVERNAMENTAIS
O levantamento de dados possibilitou a caracterização do panorama da bovinocultura na região e, através do mapeamento da área florestal, foi possível definir com maior exatidão os principais municípios que interagem a atividade pecuária com a Floresta amazônica.
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Procedimento Inicialmente, foram utilizados os dados do sistema de recuperação de dados SIDRA Pesquisa Pecuária Municipal – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE – a fim de obter as informações necessárias para traçar o diagnóstico prévio da atividade pecuária na região e a sua evolução.
Em segundo plano foram obtidos os mapas das áreas florestais da região através do sistema PROARCO do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, utilizando o software Spring Web 3.0.
Com a sobreposição dos mapas que relacionam a produção do setor o pecuário com as áreas florestais foi possível inferir e determinar os municípios que seriam potencialmente interessantes para este estudo.
4.2- LEVANTAMENTO DE COEFICIENTES TÉCNICOS DE PRODUÇÃO E DE INFORMAÇÕES GERAIS REGIONAIS
Deste tipo de pesquisa derivam as informações que são de extrema valia para a compreensão dos sistemas de produção, existentes nas regiões de estudo, e os fatores que determinam a sua produtividade.
A abordagem local de itens como: o processo de colonização, o desenvolvimento tecnológico, a interação da pecuária com outras atividades econômicas, os fatores climáticos e as características do solo tiveram a finalidade de complementar o estudo, facilitando a compreensão e servido de base para as considerações finais. Procedimento Durante as visitas para consolidar a pesquisa de campo, buscaram-se as melhores fontes de onde se pôde extrair um pool de informações necessário para caracterizar as regiões envolvidas. O quadro abaixo mostra as fontes de informação utilizadas, de acordo com o estado. 13
Tabela 1-Fontes de informação utilizadas Estado
Fontes de informação Embrapa Oriental (Belém)
Pará
Fund. de Desenv. da Pecuária no Est. do Pará Paragominas)
(Fundepec – PA) (Belém,
Sindicato Rural (Redenção) Empresas de consultoria e Lojas de venda de insumos agropecuários (Paragominas, Redenção, Santana do Araguaia) Mato Grosso
Sindicato Rural (Alta Floresta) Indústria e comércio de produtos agropecuários (Alta Floresta) FEFA – RO (Ji-paraná)
Rondônia
INCRA (Ji-paraná) Empresas de Comercialização de produtos agropecuários (Ji-Paraná) Empresas de consultoria e Lojas de venda de insumos agropecuários (Ji-Paraná)
São Paulo (Utilizado apenas com finalidade comparativa)
Sindicato Rural de Tupã (Tupã-SP) Prefeitura Municipal de Tupã (Tupã-SP)
4.3- CONSTRUÇÃO DAS PLANILHAS DE CUSTO DE PRODUÇÃO ORIENTADAS PARA OS DIFERENTES TIPOS DE SISTEMAS DE CADA REGIÃO
Baseou-se no desenvolvimento de planilhas, formulários e comandos para aumentar a velocidade de processamento das informações, isto é necessário, pois o Painel (metodologia descrita no projeto inicial) é um processo dinâmico de obtenção das informações e, portanto, não pode despender muito tempo (Anexo - 4). Procedimento As planilhas foram desenvo lvidas utilizando os recursos do aplicativo Microsoft – Excel 2000. As informações obtidas com a revisão bibliográfica e as reuniões com técnicos e pesquisadores do CEPEA e de institutos de pesquisas locais auxiliaram a construção das planilhas eletrônicas usadas nos Painéis.
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Objetivos da planilha: •
a execução de uma tela para inserir informações pertinentes aos custos de produção e as taxas de produtividade do rebanho para formulação da receita bruta.
•
a captação e o armazenamento das informações numéricas e daquelas referentes à freqüência de utilização dos insumos para formar um banco de dados.
•
a obtenção instantânea do fluxo de caixa mensal no período de 20 anos;
•
a obtenção instantânea dos índices utilizados na avaliação de projetos (TIR –taxa interna de retorno, VPL – valor presente líquido).
4.4- REALIZAÇÃO DOS PAINÉIS
Etapa que visou buscar os dados primários através da pesquisa de campo, de forma direta, através de uma reunião com os produtores locais.
Os números resultantes tendem a ser bastante próximos à realidade regional, pois foram obtidos através do consenso do grupo entrevistado. Além disso, a metodologia utilizada em todos os painéis foi a mesma e com os mesmos pesquisadores, por isso as avaliações comparativas excluem o viés referente aos problemas de padronização de coleta das informações. Procedimento 1- Forma de abordagem aos produtores rurais As reuniões foram marcadas com antecedência utilizando-se de contatos com empresas privadas ou associações regionais.
2- Execução do Painel (Anexo-3; Foto-1) 2.1 - Definição da propriedade representativa
Devido à existência de diversos tipos de propriedades que variam em área física, tamanho do rebanho, sistema de produção, tecnificação e forma de gerenciamento não é possível extrair as informações de cada propriedade individualmente, em uma única reunião, 15
para que isso seja possível é necessário realizar questionários individualizados e tratar os resultados com métodos estatísticos.
Por isso optou-se por orientar o grupo para que fosse definida uma propriedade que melhor representasse as demais existentes na localidade. Em geral as propriedades definidas pelos produtores possuem tamanhos médios e sistemas de produção não muito tecnificados e nem arcaicos, ou seja, situam-se em padrões intermediários. No entanto, é importante destacar que os índices técnicos definidos são possíveis de serem atingidos por qualquer propriedade da região.
2.2 – Coleta das informações referentes à produtividade da atividade pecuária e os custos
Após definida a propriedade representativa os produtores foram questionados quanto aos índices de produtividade, custos de implantação, custos fixos e custos variáveis da atividade pecuária. Salienta-se aqui, que os índices e custos declarados por cada participante não eram relacionados com as suas respectivas propriedades, mas sim com àquela propriedade declarada como representativa e definida no item anterior.
Todos os preços de insumos, índices zootécnicos e métodos empregados na produção da pastagem e dos animais foram apresentados e debatidos pelos produtores, até que os números fossem definidos de forma consensual.
Sob a aprovação de todo o grupo, os valores e as freqüências de uso dos insumos foram inseridos nas planilhas, por meio de um recurso visual de projeção todos os participantes puderam observar e validar a adição destes números podendo fazer inferências ou observações a respeito da propriedade em questão.
Em todos os painéis realizados nos três estados (Mato Grosso, Rondônia e Pará), os custos de investimento foram avaliados, os participantes foram orientados a declarar todo o processo de formação de uma fazenda desde a compra da terra, passando pelas etapas de formação da pastagem, instalação e construção das benfeitorias até a estabilização do rebanho e dos custos variáveis com a pecuária, ou seja, os custos foram dispostos 16
mensalmente desde o primeiro ano (onde a propriedade é adquirida) até o vigésimo ano (onde, em alguns locais, foram declarados os custos com a reforma de pastagens).
Os esquemas a seguir mostram as cinco etapas que resumem todo o processo operacional de uma fazenda. Em cada etapa, os participantes foram orientados declarar todos os itens que compõem o custo, proporcionando a obtenção das informações destinadas à formação do fluxo de caixa.
Figura 2 - Etapas 1 e 2
•
Inicialmente as áreas florestais são desmatadas através dos processos denominados “broca e derruba”. ð “Broca” – construção de estradas e acessos para entrada das equipes, dos equipamentos e para retirada da madeira que possuir valor comercial.
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ð “Derruba” – corte das árvores menores, de cipós e de folhagens que ficam no local e que após secarem servirão de combustível para a realização da queimada. •
Queima – é realizado no auge da estação de seca de cada região.
•
Após a queima é realizado o semeio com o uso de aeronaves, em grandes propriedades, e com matracas, em pequenas propriedades, que distribuem as sementes da forragem Brachiaria Brizanta, esta etapa é concretizada antes do início das chuvas.
Em algumas regiões o semeio utiliza 80% de sementes da Braquiária brizanta e 20% do capim tanzânia. O uso da mistura de sementes visa aproveitar a alta fertilidade das cinzas agregadas ao solo com o capim Tanzânia, que é mais produtivo, porém exige maior qua ntidade de nutrientes do solo. O capim tanzânia prevalece por um ano, aproximadamente, enquanto a fertilidade proporcionada pelas cinzas ainda é alta, com a redução da fertilidade a Braquiária se impõe como a forrageira dominante (Anexo 3; Foto2). •
No segundo ano, normalmente realiza-se uma roçada (para controle das plantas indesejáveis). No entanto, se a área ainda apresentar grande quantidade de tocos e plantas invasoras, realiza-se mais uma queimada, sendo que nesta poder-se-á ter maior eficiência devido a palhada da própria forragem. (Anexo 3- Foto 3)
Observação: Não foram incluídas as possíveis receitas que podem ser aferidas com: 1. a extração de madeiras destinadas à construção de cercas (devido à sua insignificância); 2. o aproveitamento do carvão; 3. o possível uso da alta fertilidade do solo para cultivo não mecanizado de produtos agrícolas (ex: banana), logo após a queima. Os dois últimos tipos de aproveitamento citados não foram relatados pelos produtores das regiões estudadas.
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O item descrito nesta etapa compõe os custos de abertura das pastagens, ou seja, é o período de formação que não é comum em outras áreas de pecuária do sul do Brasil. Figura 3 - Etapa 3
Etapa 4 - Manutenção da propriedade ð
Manutenção de currais, cercas e aceros
ð
Manutenção de estradas
ð
Manutenção das demais benfeitorias
ð
Manutenção de máquinas e implementos
ð
Manutenção da pastagem (controle de plantas invasoras - “juquira”) §
Roçagem manual
§
Uso de herbicidas
§
Uso de inseticidas
§
Uso de fogo, correntão ou “arrastões”
19
ð
Manejo do rebanho. §
Profilaxia.
§
Controle de ecto e endo-parastas
§
Controle reprodutivo
§
Suplementação mineral
§
Renovação dos animais ( rebanho e animais de trabalho).
Etapa 5 - Recuperação da pastagem (Anexo-3; Foto-4)
Em alguns casos, além dos custos que envolvem a manutenção da propriedade, também foram somados os custos relativos à recuperação da pastagem.
Nota: A recuperação é necessária a partir do décimo segundo ano nos locais onde o solo tem baixa fertilidade (Anexo-3; foto 5) e/ou quando o manejo da pastagem, durante os dez primeiros anos, foi consolidado de forma errada. Isto se deve principalmente à superlotação, ou seja, quando o número de animais em uma determinada área é maior do que aquele que a pastagem pode suportar.
Na superlotação o tempo de vida útil e o potencial de revigoramento da pastagem são reduzidos, fato que facilita o desenvolvimento de plantas invasoras indesejáveis.
O procedimento empregado para recuperar as pastagens geralmente utiliza as operações de gradagem e o semeio. A necessidade de realizar fosfatagem e calagem depende do tipo de solo de cada região. As operações de recuperação das pastagens representam uma parcela considerável dos custos totais da pecuária em qualquer parte do país. A recuperação é associada a má utilização das pastagens, o excesso de animais causa muitos danos com o pisoteio, e aumenta a
necessidade de uso de insumos corretivos e fertilizantes) que
encarecem a produção. Em regiões do cerrado são utilizadas técnicas de rotação com culturas anuais (soja, milho, algodão, tec) que diluem os dispêndios com insumos. As deste estudo apresentam áreas onde a declividade ou a falta da “destoca” não permitem a rotação isso é um fator limitante no processo.
20
2.4 – A questão do preço da terra
As informações relativas ao preço da terra foram coletadas, mas não são usadas nesta análise, pois caso o preço da terra seja adicionado aos custos de investimento, o valor total da propriedade, após vinte anos, também deverá ser adicionado e lançado na receita bruta do último ano, quando for realizada a liquidação do projeto. A estimativa do preço futuro da terra de cada região pode não ser precisa devido aos inúmeros fatores exógenos que interferem na valoração do preço da terra.
Devido a este tipo de problema optou-se por não utilizar o preço da terra em todos os painéis, isto permite que seja comparada a rentabilidade apenas da atividade de pecuária de corte nas diferentes regiões, excluindo, desta forma, as diferenças que possam ser ocasionadas pela valorização ou desvalorização da terra.
4.5 - CONSTRUÇÃO E AVALIAÇÃO DO FLUXO DE CAIXA
O fluxo de caixa é obtido automaticamente e apresentado aos participantes no final cada painel. Perante a observação de todos o fluxo é sujeito a aprovação ou a retificações que por ventura possam ocorrer. Somente após a aprovação dos fluxos de caixa os painéis foram encerrados. A avaliação dos custos de cada região é discutida no item 5.3 deste relatório.
4.6- AVALIAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA DOS FLUXOS OBTIDOS, COM BASE NOS INDICADORES DE ANÁLISE DESEMPENHO ECONÔMICO (TIR, VPL).
A avaliação feita através dos indicadores de análise de desempenho econômico é realizada de forma comparativa no item 5.4 deste relatório.
21
4.7- UTILIZAÇÃO DE MODELOS DE MAXIMIZAÇÃO DO LUCRO E MINIMIZACÃO DO RISCO
Uma revisão dos trabalhos existentes na literatura foi feita com o objetivo de obter informações a respeito de metodologia alternativas utilizadas para a análise dos dados. Os estudos encontrados, os quais abordam a diversificação das propriedades como forma de gerenciamento de risco, utilizam diferentes procedimentos metodológicos como será visto a seguir.
Coble & Barry (1999) tratam a diversificação como mais uma forma de gerenciamento do risco de renda dos produtores rurais. Neste caso, a diversificação é condicionada ao desenvolvimento genético de um maior número de variedades, possibilitando mais opções ao produtor. De acordo com este trabalho, a opção adotada depende do processo de formação do preço do produto, pois este pode oferecer maior ou menor exposição ao risco. O trabalho indica o uso de contratos de comercialização para eliminar os riscos de flutuação de preços.
Azevedo Filho & Peres (1982) utilizam um modelo de programação linear para a análise da estrutura de produção de uma propriedade rural num ambiente de risco. Este modelo é uma aproximação do proposto, inicialmente, por Markowitz (1952) e modificado por Hazell (1971), no qual é utilizada a abordagem de média- variância como forma de medida de risco. Com base nos resultados desses modelos, os tomadores de decisão têm instrumentos para avaliar níveis ótimos de produção, tanto em termos de rentabilidade como em termos de variabilidade da renda.
Silva & Staulp (2000) discutem a otimização de sistemas agrícolas sob condições de risco. O estudo procura definir um modelo matemático que permita a distinção entre a tendência das séries e as variações aleatórias. As seguintes metodologias foram comparadas: minimização das variâncias (MV), minimização dos desvios absolutos (MDVA) e otimização dos desvios interanuais (ODI). O modelo ODI apresenta uma tendência de privilegiar as atividades com melhor desempenho, diferentemente dos demais.
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O trabalho de Dias (1996) trata da inclusão do risco no modelo de planejamento de uma propriedade rural. Modelos alternativos são propostos considerando diversas distribuições para os dados, sendo que a definição correta da distribuição é de suma importância para a obtenção de resultados mais consistentes. Assumir a priori distribuição normal para os dados pode implicar em distorções dos resultados.
Peres (1976) estudou a demanda por crédito incorporando o risco no modelo de programação linear, definido para um ambiente inflacionário. O trabalho foi conduzido na região de Ribeirão Preto/SP, onde havia um processo de modificação das estruturas de produção, com produtores modernos convivendo com produtores atrasados. Neste estudo, o autor utiliza os modelos quadráticos como uma forma de avaliar o comportamento dos produtores em relação ao crédito rural ofertado.
Dentre os trabalhos existentes na literatura existe uma clara tendência de se considerar que a redução dos riscos na rentabilidade da agricultura passa por um processo de diversificação das atividades dentro das propriedades. No entanto, a falta de estudos nesse sentido no Brasil é perfeitamente justificável pela indisponibilidade de dados e pela complexidade da agricultura nacional. A regionalização do estudo é uma necessidade, pois a diversidade de sistemas de produção ditada pelas variedades climáticas, culturais e de estrutura fundiária é marcante.
5 - RESULTADOS
5.1- RESULTADOS REFERENTES À DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE ESTUDO
5.1.1- O panorama da bovinocultura na região da Floresta Amazônica A tabela a seguir expressa a evolução dos rebanhos efetivos totais respectivos ao Brasil e dos nove estados que formam a área da Floresta Amazônica (Acre-AC, Amapá-AP, Amazonas-AM, Mato Grosso-MT, Maranhão-MA, Pará-PA, Rondônia-RO e Roraima-RR e Tocantins-TO). 23
Tabela 2 - Evolução do Rebanho Bovino (1990-2000) Ano Brasil
1990
1995
1998
1999
2000
147.102.314 161.227.938 163.154.357 164.621.038 169.875.524
Mato Grosso
9.041.258
14.153.541
16.751.508
17.242.935
18.924.532
Pará
6.182.090
8.058.029
8.337.181
8.862.649
10.271.409
Tocantins
4.309.160
5.544.400
5.441.860
5.813.170
6.142.096
Rondônia
1.718.697
3.928.027
5.104.233
5.441.734
5.664.320
Maranhão
3.900.158
4.162.059
3.936.949
3.966.430
4.093.563
Acre
400.085
471.434
906.881
929.999
1.033.311
Amazonas
637.299
805.804
809.302
826.025
843.254
-
282.049
424.700
480.500
480.400
69.619
93.349
74.508
76.734
82.822
Roraima Amapá
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2000)
Através dos números dispostos na tabela acima, verifica-se que os maiores rebanhos bovinos pertencem aos estados de MT, PA, TO e RO, com percentuais de representação no rebanho nacional de 11,14%, 6,05% , 3,62% e 3,33%, respectivamente.
Mas quando as taxas de variação percentuais são calculadas, nota-se que esta classificação é alterada.
Tabela 3 - Taxas de variação percentual do rebanho efetivo total (Relação 1990 a 2000) Estado Variação Rondônia 229,57% Acre 158,27% Mato Grosso 109,31% Roraima* 70,33% Pará 66,15% Tocantins 42,54% *Relação de 1995 a 2000 Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 2000)
Avaliando-se as informações das duas tabelas anteriores conclui-se que, dentre os quatro principais estados envolvidos com a atividade pecuária, os estados de MT, PA e RO apresentaram as maiores taxas de crescimento do rebanho na última década correspondendo a 109,31%, 66,15%, 229,57% respectivamente. 24
Sabe-se que o rebanho efetivo total é composto, em grande parte, por gado de corte e, por isso, altas taxas de crescimento do rebanho refletem o avanço da pecuária de corte que tem como conseqüência o aumento da taxa de supressão florestal para promoção das áreas destinadas ao pastejo da pecuária extensiva.
Visto que o objetivo deste trabalho é estudar a interação entre a Floresta Amazônica e o desenvolvimento da Pecuária, estes três estados citados no parágrafo anterior foram escolhidos como àqueles que melhor poderiam subsidiar a pesquisa.
Os dados do IBGE estão com significativas diferenças em relação aos dados do serviço estadual de vacinação contra a febre aftosa. Os dados disponíveis para o município de Redenção (PA) consideram que em 2000 foram vacinadas 256.267 cabeças. Os números da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM) do IBGE no mesmo ano apontavam para um rebanho de 149.170 cabeças. No município de Santana do Araguaia, a vacinação abrangeu 357.562 e os dados da PPM davam conta de um rebanho de 191.886 cabeças. Essa diferença entre os dados pode ser explicada pela acelerada taxa de crescimento da atividade pecuária. No entanto, é importante destacar que os dados relativos à vacinação podem estar superestimado. Os dados quantitativos do rebanho nacional, assim como no restante do país, devem ser observados com ressalvas.
A. O estado do Pará
Através da Pesquisa Pecuária Municipal (SIDRA/Pesquisa Pecuária Municipal - IBGE) a distribuição geográfica do setor pecuário dentro do estado do Pará pôde ser determinada em microrregiões representadas na figura abaixo.
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Figura 4 - Participação das de z principais microrregiões na composição do rebanho paraense Município
Participação
1
Redenção – PA
18,6%
2
São Félix do Xingu – PA
14,9%
3
Conceição do Araguaia - PA 10,3%
4
Paragominas – PA
9,5%
5
Parauapebas – PA
7,7%
6
Altamira – PA
7,5%
7
Santarém – PA
4,4%
Localização das microrregiões
7 4 6 9
8
Guamá – PA
4,0%
9
Itaituba – PA
4,0%
10
Marabá – PA
3,7%
8
5
2
10
1
3
Fonte: IBGE - SIDRA- Pesquisa Pecuária Municipal (2000)
Observa-se que o rebanho paraense está basicamente concentrado na região sudeste do estado, isto pode estar condicionado ao fato de que tais regiões foram as primeiras a serem exploradas pela ação extrativista das madeireiras e do garimpo. Após o processo extrativista, a pecuária tornou-se a melhor opção econômica da região.
As microrregiões de Redenção, São Felix do Xingu, Conceição do Araguaia, Paragominas e Parauapebas são responsáveis por criar 61% do rebanho paraense, cerca de 6,262 milhões de animais.
26
Tabela 4 - Variação percentual da evolução do rebanho efetivo entre 1990 e 2000 - PA Microrregião
1990 - 2000
Microrregião
1990 - 2000
São Félix do Xingu - PA
1410%
Conceição do Araguaia – PA
29%
Parauapebas – PA
408%
Belém – PA
22%
Itaituba – PA
200%
Bragantina – PA
22%
Marabá – PA
110%
Tomé -Açu – PA
21%
Tucuruí – PA
108%
Castanhal – PA
2%
Altamira – PA
89%
Salgado – PA
-6%
Guamá – PA
64%
Almeirim – PA
-10%
Óbidos – PA
53%
Paragominas – PA
-12%
Santarém – PA
51%
Cametá – PA
-16%
Redenção – PA
50%
Arari – PA
-35%
Portel – PA
-40%
Breves – PA 39% Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal
Comparando os quadros acima, observa-se que os rebanhos totais efetivos das regiões destacadas, anteriormente, não estão relacionados com taxas crescimento homogêneas.
A microrregião de Redenção participa com 18,6% do rebanho paraense no ano de 2000, mas apresenta uma evolução percentual bastante inferior àquela denotada em São Felix do Xingu que pertence a segunda maior microrregião criadora de bovino no estado. No caso de Paragominas - principal município da quarta maior microrregião pecuária, no ano de 2000 - a discrepância é ainda maior, pois houve uma redução significativa do plantel bovino na região.
27
B – O estado de Mato Grosso
A figura a seguir apresenta os resultados para o estado de Mato Grosso. Figura 5 - Participação das dez principais microrregiões na composição do rebanho mato-grossense Município
Participação
1
Norte Araguaia – MT
9,49%
2
Canarana – MT
7,65%
3
Jauru – MT
7,39%
4
Colíder – MT
7,01%
5
Aripuanã – MT
6,53%
6
Rondonópolis – MT
6,37%
7
Alta Floresta – MT
6,03%
8
Alto Guaporé – MT
5,95%
9
Arinos – MT
5,79%
10
Alto Pantanal – MT
5,64%
Localização das microrregiões
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal
A distribuição do rebanho no estado de Mato Grosso é mais uniforme, a atividade está presente em praticamente todo o estado com exceção da região central e centro norte do estado onde a atividade agrícola (cultivos de soja, algodão, milho e arroz) é mais expressiva que a atividade pastoril.
28
Tabela 5 - Variação percentual da evolução do rebanho efetivo entre 1990 e 2000 - MT Microrregião
1990 - 2000
Microrregião
1990 – 2000
Alta Floresta – MT
515,38%
Cuiabá – MT
88,57%
Parecis – MT
442,41%
Jauru – MT
76,92%
Arinos – MT
403,69%
Tangará da Serra – MT
76,73%
Aripuanã – MT
348,72%
Alto Paraguai – MT
69,70%
Colíder – MT
285,15%
Sinop – MT
56,22%
Canarana – MT
152,66%
Rosário Oeste – MT
56,06%
Paranatinga – MT
140,94%
Alto Pantanal – MT
37,96%
Alto Guaporé – MT
134,91%
Alto Araguaia – MT
19,70%
Alto Teles Pires – MT
114,56%
Tesouro – MT
19,07%
Norte Araguaia – MT
104,39%
Rondonópolis – MT
14,92%
Primavera do Leste – MT
3,81%
Médio Araguaia – MT 97,42% Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal
A microrregião de Alta Floresta, situada área florestal que compõe a Amazônia Legal, tem a maior taxa de evolução percentual e 6,4% do rebanho total do estado, representando a sétima maior região pecuária, mas com valores muito próximos aos das outras principais microrregiões.
C – O estado de Rondônia Figura 6 - Participação das dez principais microrregiões na composição do rebanho de Rondônia Município
Participação
1
Ji-Paraná - RO
28,80%
2
Cacoal - RO
22,77%
3
Ariquemes - RO
11,45%
4
Vilhena - RO
10,64%
5
Colorado do Oeste - RO 10,59%
6
Porto Velho - RO
Localização das microrregiões
7,51%
29
7
Alvorada D'Oeste - RO
6,51%
8
Guajará -Mirim - RO
1,73%
Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal
As microrregiões vizinhas de Ji-Paraná e Cacoal possuem mais da metade do rebanho do estado, com aproximadamente 3 milhões de cabeças em 2000. Tabela 6 - Variação percentual da evolução do rebanho efetivo entre 1990 e 2000 Microrregião
1990 - 2000
Porto Velho - RO
383,90%
Guajará -Mirim - RO
137,95%
Ariquemes - RO
118,47%
Ji-Paraná - RO
252,71%
Alvorada D'Oeste - RO
635,58%
Cacoal – RO
258,06%
Vilhena - RO
161,76%
Colorado do Oeste - RO 216,22% Fonte: IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal
As microrregiões de Ji-Paraná e Cacoal tiveram um grande crescimento visto que seus rebanhos são significativamente maiores que o das outras regiões. Destaca-se também o crescimento dos rebanhos de Alvorada D’Oeste, região muito próxima ao eixo formado por Ji-Paraná e Cacoal, e de Porto Velho ao norte do estado.
Muito diferente do estado mato-grossense, o estado de Rondônia concentra a maior parte do setor pecuário na área centro-oeste.
30
5.1.2 - Relacionamento das áreas de maior produção pecuária com as áreas florestais. Nas tabelas 2, 3 e 4 estão vinculados os mapas com as respectivas áreas de produção pecuária. As figuras a seguir derivam da sobreposição das áreas de maior expressão para o setor pecuário, declaradas anteriormente, com as áreas florestais obtidas através do sistema PROARCO – INPE.
Figura 7 - Desflorestamento: Sul do Estado do Pará
Figura 8 - Desflore stamento: Estado do Mato Grosso
31
Figura 9 - Desflorestamento: Estado de Rondônia
As figuras 7, 8 e 9 foram adaptadas dos mapas extraídos do software Spring web 3.0 – Áreas Florestais 1999.
32
5.1.3- Determinação dos municípios envolvidos no estudo. Através da junção dos dados a respeito do potencial de crescimento da pecuária das principais microregiões com os mapas relativos as áreas florestais dos três estados, formulou-se a hipótese de que os municípios de Redenção - PA, Santana do Araguaia - PA, São Félix do Xingu-PA, Alta Floresta - MT e Ji-Paraná - RO poderiam ser utilizados neste estudo, visto que todos eles se encontram dentro da atual fronteira de desmatamento. Destaca-se, também, a importância do estudo das regiões onde a variação da taxa de crescimento fora negativo, na última década, para que sejam avaliadas as causas do abandono da terra ou da troca da atividade por outras formas de uso da terra.
O quadro abaixo apresenta as justificativas que serviram para a determinação dos municípios a serem estudados.
Município (estado)
Justificativa Econômica
Justificativa Ambiental
Alta Floresta
Maior taxa de crescimento da pecuária na década de 90. É uma região de colonização recente - a cidade possui 26 anos.
Atual fronteira de desmatamento.
(MT) Ji – Paraná (RO) Paragominas (PA)
Redenção (PA) Santana do
Município pertence à microrregião que concentra o maior rebanho bovino do estado de Rondônia e que teve um significativo avanço nos últimos anos.
Conforme a Figura 8. Atual fronteira de desmatamento. Conforme a Figura 9.
Quarto maior rebanho do estado, porém com taxas negativas de crescimento. Mesmo com a redução do rebanho as informações desta região são necessárias, pois é de fundamental importância o entendimento da dinâmica econômica, ou seja, é necessário determinar as causas que promovem tanto a evolução como a involução de um setor em uma região.
Área que já foi bastante explorada, mas que ainda conserva muitas áreas isoladas da floresta equatorial.
Pertence à microrregião com o maior rebanho bovino do estado do Pará e ainda tem taxas de crescimento do plantel bovino positivas.
Atual fronteira de desmatamento. Conforme a Figura 7.
Pertence à microrregião de Conceição do Araguaia
Atual fronteira de 33
Araguaia (PA)
(terceiro maior rebanho) com taxas crescentes do plantel bovino.
desmatamento. Conforme a Figura 7.
Outros municípios que são importantes neste tipo de estudo, mas não foram pesquisados. Município (estado) São Félix do Araguaia (PA) Juína e Juíra (MT)
Justificativa Foi o município que teve a maior evolução de rebanho no estado do Pará. Devido à dificuldade de obtenção de contatos locais e de acesso na época do estudo (período chuvoso), o painel não foi realizado. Atualmente estes municípios têm se destacado na produção pecuária assim como Alta Floresta. Devido à proximidade entre os municípios de Juína, Juíra e Alta Floresta, optou-se por realizar o estudo em Alta Floresta.
5.2. RESULTADOS DO PAINEL
Ao todo foram realizados 8 painéis que contaram com a participação de 43 produtores rurais, 4 painéis foram desenvolvidos no estado do Pará ( Paragominas-2, Redenção-1, Santana do Araguaia-1), um painel em Ji-Paraná - RO e um no estado de Mato Grosso, em Alta floresta.
Os outros 2 painéis foram realizados na cidade de Tupã no estado de São Paulo, através do sindicato local e da própria prefeitura. Este painel foi realizado com o intuito de prover resultados que possam ser usados como uma base comparativa, por isso, para a sua execução, utilizou-se a mesma metodologia e o mesmo corpo técnico dos painéis realizados na região amazônica.
A execução deste tipo de coleta de informações permitiu que fossem levantadas as informações referentes, não apenas aos custos de produção, mas também aquelas relativas à dinâmica das atividades das propriedades, que são importantes para compreender a interação entre a produção pecuária e o desflorestamento das áreas predeterminadas. 34
A quantidade de informações extraída através desta metodologia é muito extensa, tendose procurado listar o maior número possível de itens que compõem o custo de produção e também das questões socioeconômicas e ambientais que influenciam na produtividade do setor pecuário. Por isso, os resultados preliminares são apresentados a seguir de forma resumida, exaltando apenas os pontos classificados como os mais importantes, na forma de quadros comparativos e através de gráficos que resumem o fluxo de caixa obtido em cada painel.
5.2.1 - Informações relativas ao tamanho das propriedades e ao uso do solo Quadro comparativo 1 - Tamanho das propriedades definidas e uso do solo Município Paragominas –PA
Tamanho das propriedades Painel –1 12000 hectares
Uso do solo 50% - Reserva 50% - Pastagem
Valor da terra* (por hectare) PF – R$ 300,00 PI – R$ 1250,00
Painel –2 15000 hectares
60% - Reserva 36% - Pastagem 4% - Agricultura
Painel – 3 4800 hectares
50% - Reserva 50% - Pastagem
PF – R$ 300,00 PI – R$ 1300,00
Santana do Araguaia – Painel – 4 PA 3200 hectares
100% - Pastagem
PF – R$ 250,00 PI – R$ 2000,00
Alta floresta – MT
Painel – 5 1200 hectares
50% - Reserva 50% - Pastagem
PF – R$ 250,00 PI – R$ 1200,00
Ji-Paraná – RO
Painel – 6 1700 hectares
50% - Reserva 50% - Pastagem
PF – R$ 200,00 PI – R$ 1250,00
Tupã – SP
Painel – 7 300 hectares
20% - Reserva PN – R$ 2500,00 70% - Pastagem PI – R$ 3300,00 10% - arrendamento para a agricultura
Redenção – PA
35
Painel – 8 300 hectares
20% - Reserva 70% - Pastagem 10% - arrendamento para a agricultura
Fonte: Dados da pesquisa
- O preço da terra é muito variável sendo influenciado pela distância da cidade, tipo de solo, relevo, uso a que se dispõe, quantidade de área averbada, etc.. Os preços da tabela acima são valores aproximados respectivos a propriedades comuns num raio de 30 a 40 Km das cidades mais próximas. Códigos : ð PF – Preço do hectare de áreas que contém apenas a floresta. ð PI – Preço do hectare de áreas que possuem uma fazenda já instalada (com infra-estrutura para a atividade pecuária). ð PN – Preço do hectare de áreas já desmatadas e sem infra-estrutura para pecuária (preço levantado só no estado de SP, por não possuir áreas que contém apenas a floresta).
Comentários referentes ao tamanho das propriedades e das áreas de reserva florestal
A. Estado do Pará A.1. Município: Paragominas
Propriedades que em geral são de grande porte.
As fazendas têm origem no antigo processo de colonização, iniciado no final da década de 50, que dividia as terras em grandes glebas. No processo inicial de colonização uma gleba correspondia a 900 alqueires locais (1 alqueire equivale a 4,84 hectares); com o processo de colonização e a abertura das áreas a gleba passou a valer 600 alqueires. Atualmente as terras são comercializadas em lotes menores, mas as propriedades antigas possuem áreas que correspondem aos múltiplos de 600 ou 900 alqueires locais, ou seja, 2.904 a 4.356 ha.
A origem dos colonizadores é relatada no próprio nome do município formado pela união dos nomes do estados (Paraná, Goiás e Minas Gerais) que mais cont ribuíram no fluxo migratório antes da construção da rodovia Belém- Brasília. Mais tarde, com a construção da
36
estrada Belém- Brasília, a procura pela terra aumentou e o processo de ocupação das terras tornou-se competitivo e de certa forma violento, pois os “grileiros” emitiam títulos falsos e asseguravam a posse da terra através do uso da força, observado principalmente nos trechos entre os municípios de Xinguara e Redenção.
Hoje, a ação de “grileiros” e, principalmente, de “posseiros” é verificada em regiões em que os limites das propriedades não são bem estabelecidos, fato que ocorre com maior freqüência nas novas fronteiras de ocupação.
O problema, gerado pela falta de regularidade dos documentos que comprovam a apropriação da terra e pela ação dos posseiros, relaciona-se diretamente com o avanço da pecuária, visto que o meio mais eficiente e menos oneroso de conseguir o direito da posse se dá através da ação do desmatamento e a posterior formação da pastagem. Qualquer outro tipo de exploração agrícola que exija a mecanização se torna muito custoso, pois além de desmatar existe a necessidade de destocar e enleirar toda a madeira, procedimento que envolve muitas horas de máquinas pesadas devido às características da densa floresta equatorial.
Os problemas relatados nos dois parágrafos anteriores são mais evidentes a oeste do eixo da rodovia Belém – Brasília, na microrregião do município de São Félix do Xingu. Em Paragominas, como a ocupação das terras é mais antiga, a posse da terra já esta mais consolidada e, nota-se que, a agricultura mecanizada começa a despontar, nos últimos 3 anos. A maior parte das pastagens foi formada há duas décadas e os grandes troncos remanescentes do processo de desmatamento já foram queimados várias vezes ou degradaram com a ação da alta temperatura e umidade, por isso o custo do enleiramento agora é menor, o que facilita a implantação da agricultura em larga escala.
Além disso, os pastos degradaram devido ao manejo incorreto aplicado à pastagem, a superlotação e a baixa fertilidade do solo da região, provocaram a compactação da terra, a redução da rebrota e por conseqüência a queda da produtividade das gramíneas. Este fator aliado ao relevo plano (Anexo 2; Mapa – 4) e ao clima tem incentivado o avanço da agricultura, especialmente os cultivos de arroz, milho e feijão (a soja ainda encontra 37
dificuldades devido à alta pluviosidade que gera problemas tanto no plantio como na época da colheita) (Anexo 3 Foto-6). Destaca-se neste item que o sistema Barreirão (plantio de milho com o capim braquiária – Anexo 3 Foto 10), está se despontando em algumas fazendas pioneiras na região, como um sistema adequado à características daquela área.
Como a região de Paragominas comporta grandes propriedades, as áreas de reserva foram melhor preservadas, muitas fazendas respeitam a taxa de 50% determinada pelo Código Florestal
( a taxa de 50% refere-se ao Código Florestal sem a adaptação atualmente
determinada pela Medida Provisória nº 2166). Mas, a maioria destas áreas de reserva não está intacta, pois as árvores cujas madeiras têm alto valor comercial já foram extraídas.
38
A.2. Município: Redenção e Santana do Araguaia
Os municípios de Redenção e Santana do Araguaia faziam parte de Conceição do Araguaia que fazia parte, nos tempos coloniais, do extenso território de Baião. Devido ao desenvolvimento ocorrido no início do século XX, o poder legislativo do estado Pará foi obrigado a reconhecer o município. Nota-se que a colonização desta região é mais antiga que àquelas relacionadas às regiões de Alta Floresta e Ji-Paraná (descritas a seguir), sendo que as unidades de terra comercializadas, antigamente, referem-se às mesmas mencionadas no item anterior (glebas de 600 e 900 alqueires de 4,84 hectares).
Na década de 60, a economia regional baseava-se apenas na atividade extrativista da madeira e do garimpo. Na década de 70, com a redução destes recursos naturais, iniciou-se a atividade pecuária, mas devido à inexistência de uma infra-estrutura para abate dos animais, o sistema de produção baseou-se apenas na etapa de cria. A etapa de terminação dos animais (recria e engorda) realizava-se nas regiões próximas aos centros consumidores.
Nas décadas de 80 e 90, a pecuária continuou a crescer e impulsionou a demanda por serviços ligados ao setor, os produtores da região passaram a realizar o ciclo completo de produção e o abate dos animais passou a ser realizado em frigoríficos que estão instalados por toda a região do sudeste do Pará.
Como pode ser observada no painel de Santana do Araguaia, a área destinada a reserva florestal é nula e a declarada em Redenção equivale a 50%, porém
salienta-se neste
parágrafo que as áreas de reservas declaradas nos painéis não advém de informações estatísticas. Através da visualização da região, parece que apenas as grandes propriedades ainda têm taxas de 50% de reserva, enquanto que, as propriedades menores praticamente não possuem reservas legais.
Para muitos estabelecimentos rurais o avanço da pecuária se deu antes da formação da consciência ecológica, ou seja, mesmo que o código florestal já tivesse sido homologado, o respeito às normas não era praticado, pois não havia órgãos fiscalizadores atuantes e nem a preocupação de se preservar a floresta, pelo contrário, as áreas de mata eram e são 39
relacionadas ao aumento dos custos de produção, visto que abrigam felinos como a onça parda e a onça pintada além de servir como um banco natural de sementes de ervas tóxicas e plantas invasoras que diminuem a produtividade da pecuária. Ressalta-se que a mortalidade de bezerros é elevada em algumas regiões do Pará, devido ao ataque dos felinos.
Como em paragominas, os pastos degradados devido ao manejo incorreto e a permanência de uma super lotação dos pastos logo após o desmatamento, provocaram a compactação da terra, a redução da rebrota e por conseqüência a queda da produtividade das gramíneas. Este fator aliado ao relevo irregular e com solo pedregoso (Anexo 3; Mapa –11) não tem estimulado o progresso da agricultura naquela região.
B. Estado de Rondônia B.1. Município: Alta Floresta
A ocupação efetiva da região de Alta Floresta veio com os programas mais modernos de colonização instituídos pelo Governo Federal que favoreceu as empresas colonizadoras, cedendo- lhes diversos tipos de vantagens, dentre elas o baixo preço da terra e meios facilitados de financiamento.
A data de fundação do município, 1976, é uma comprovação de seu recente estágio de colonização, resultado do trabalho de sulistas que edificaram de forma planejada o seu crescimento.
Como o processo de colonização abrange pouco mais de vinte anos, as medidas de terra comercializadas e o tamanho médio das propriedades são menores que àquelas observadas no estado do Pará, a medida de alqueire corresponde à utilizada no estado de São Paulo (1 alqueire equivale 2,42 hectares).
Com relação às reservas florestais, as taxas de preservação nas propriedades situam ao redor de 50%, em respeito ao Código Florestal sem a adaptação da Medida provisória. Sendo destacado em algumas áreas o manejo das florestas nativas, cuja retirada de alguams espécies naticas de árvores são compensadas com seu próprio reflorestamento. 40
C. Estado de Rondônia C.1. Município: Ji-Paraná
Propriedades de porte menor. A expansão da fronteira agropecuária em Rondônia, na década de 70, se deu através de um projeto de colonização oficial instituído pelo Governo Federal - Governo Médici, quando os antigos órgãos responsáveis pela colonização foram incorporados ao INCRA, que substituiu as grandes áreas de matas e seringais nativos por uma nova situação fundiária.
Os lotes foram distribuídos de forma quadrangular ao longo das cidades próximas à rodovia - BR 364, através dos mapas do INPE, com escalas maiores, a malha fundiária quadrangular pode ser facilmente observada Figura 6.
A distribuição destes lotes foi realizada de forma organizada, porém não foi racional, não respeitou as limitações à agricultura impostas pelas adversidades do relevo e da infertilidade do solo. Em conseqüência disto, muitas áreas desflorestadas tiveram baixo aproveitamento, e algumas foram abandonadas.
Uma das características importantes deste tipo de colonização é a de introduzir produtores rurais sem capital em estabelecimento que possuem até 100 hectares (Anexo-3; Foto-7), fato que, aliado ao crescimento populacional rural, tende a provocar o desflorestamento em taxas maiores que àquelas permitidas pela legislação.
Atualmente, a taxa de cobertura vegetal natural mínima exigida por força da Medida Provisória n° 2.166 é de 80% da área total da propriedade. A medida tem respaldo federal e coíbe a Lei Complementar n°233, de 6 de junho de 2000, que dispõe sobre no zoneamento Socioeconômico-Ecológico do estado de Rondônia. Tal lei institucionaliza o Planafloro, instrumento que visa orientar o crescimento de forma planejada e embasada no desenvolvimento sustentável.
41
Neste Plano de Zoneamento a distribuição e a estratégia da forma de uso das terras estão condicionadas ao mapeamento e a divisão de todo o estado em zonas e subzonas de ocupação de acordo com as condições geológicas edáficas, ecológicas e sociais determinantes da aptidão agrícola em cada zona. Com isso, áreas consideradas mais aptas necessitam manter taxas menores de reserva e áreas improdutivas de acesso difícil ou com importantes reservas biológicas atingem taxas de até 100% de manutenção de cobertura vegetal.
Segundo o plano, algumas subzonas, que possuem manchas de terra com grande potencial e/ou que já são dotadas de infra-estrutura para o desenvolvimento agropecuário, necessitam manter 20% da área de cobertura vegetal nativa, taxas de 80% são verificadas em áreas de solo e condições naturais deficitárias, outras taxas aplicadas são de 40 e 70% que correspondem às áreas com médio potencial social e com expressivo potencial florestal natural, respectivamente. Mas como já mencionado acima, todo o estudo desenvolvido nos últimos quatorze anos e criterizado na forma deste plano foi barrado pela Medida Provisória que, simplesmente, generalizou a área formada pelos nove estados da União como uma condição única de floresta.
D. Estado de São Paulo D.1. Município: Tupã
Devido à distante colonização e a capitalização do valor da terra no estado de São Paulo, as propriedades são relativamente pequenas se comparadas com as propriedades existentes na região Norte e Centro-oeste do país.
Com relação às áreas de reserva, as propriedades geralmente respeitam a taxa de 20% imposta pelo Código Florestal.
42
5.2.2- Informações relativas aos índices de produção Quadro Comparativo 2 - Principais índices de produção da pecuária determinados consensualmente em cada painel Pará
Paragominas
Índices
S. Arag.
Mato Grosso Redenção A. Flores.
Rondônia
Ji-Paraná
S. Paulo
Tupã
Tipo de sistema*
CRE
E
RE
CRE
CRE
CRE
CRE
E
U.A. por hectare
0,71
1,53
0,86
0,83
1,18
0,91
1,14
1,08
Taxa de Mortalidade (animais jovens)
4%
-
-
4%
3%
3%
2%
-
Taxa de Mortalidade (animais adultos)
2%
2%
2%
2%
1%
2%
1%
1%
IEP – em meses (Intervalo entre partos)
15
-
-
16
14
14
17
-
Taxa de Prenhes
75%
-
-
87%
88%
85%
75%
-
Ganho diário de peso em Kg (média anual)
0,47
0,50
0,42
0,42
0,43
0,45
0,37
0,33
Fonte: dados da pesquisa – Tipo de animais terminados castrados ou não. * - Tipos de sistema declarado nos painéis: ð CRE – A propriedade é responsável por todas as etapas da produção: Cria, Recria e Engorda, ou seja, possui matrizes para gerar seus próprios bezerros e áreas destinadas ao crescimento e a terminação de bovinos. ð RE - A propriedade é responsável pelas etapas de Recria e Engorda, ou seja, necessita comprar bezerros. ð E - A propriedade é responsável apenas pela etapa de Engorda, ou seja, necessita comprar bezerros mais pesados ou bois magros.
Comentários referentes aos índices de produção
A -Tipos de sistemas de produção
Todas as regiões pesquisadas possuem o sistema completo de criação, com exceção de Santana do Araguaia. Segundo os pecuaristas deste município, cerca de 90% das propriedades realizam apenas o sistema de recria e engorda através da aquisição dos bezerros 43
de 9 a 10 meses procedentes das regiões vizinhas e de outros estados como Mato grosso e Tocantins. Os animais são comprados com 6 arrobas (180 Kg de peso vivo) e depois vendidos para o abate com 33 a 36 meses e peso de 18 arrobas.
O peso de 18 arrobas para abate também foi constatado nas demais regiões do Pará como Paragominas, Xinguara e Redenção. No Mato Grosso, Rondônia e São Paulo os animais são abatidos com peso menores que variam de 16,5 a 17 arrobas. O tempo para atingir os pesos em São Paulo é de 3 anos e no Pará, Mato Grosso e Rondônia é de 2,5 anos.
De acordo com a Instrução Normativa n°6, de 13/07/2000, que classifica as áreas de controle da febre aftosa, o estado de Rondônia e o sul do Pará são classificados como zonas tampão (zonas de médio risco), tendo, portanto, a venda de animais vivos e de carcaças inteiras permitida apenas para os estados da região norte e do nordeste do país (com exceção da Bahia). Para os estados presentes na zona livre com vacinação a carne pode apenas ser comercializada se desossada. Tal fato impede que os produtores destas duas regiões possam obter vantagens com a comercialização de animais vivos, especialmente, com a venda de bezerros para engorda.
B - Comparação entre os índices
Comparando os índices, observa-se que o melhor desempenho foi obtido no painel de Alta Floresta - para os painéis de cria, recria e engorda - e de Paragominas - para os painéis de recria e engorda.
Na região de Paragominas observou-se um empenho maior para desenvolver e aprimorar as tecnologias referentes ao manejo e a recuperação da pastagem, segundo os dados do IBGE relatados anteriormente a pecuária desta região tem diminuído, mas foi notado que àqueles que ficam tentam se aperfeiçoar para vencer as adversidades.
A região de Alta Floresta caracteriza-se por ser uma área de colonização muito nova, e que possui áreas privilegiadas, além disso, foi constatada a presença de grupos de pecuaristas organizados, que buscam tecnologias para aumentar a longevidade do pasto, evitando 44
recorrer aos gastos futuros da recuperação de pastagens, e aumentar, também, o desempenho do rebanho através do uso de formulações adequadas de sal mineral.
Em geral, os produtores que colonizaram estes três estados têm um perfil mais arrojado, haja vista que saíram de regiões consolidadas como o Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Goiás para investir capital e trabalho em regiões amazônicas antes inexploradas, e por isso são naturalmente mais receptivos à adoção de novas tecnologias, ou seja, não são aversos ao que lhe é desconhecido.
C - Informações relativas ao clima das regiões estudadas
Dentre os fatores ambientais que mais interferem na atividade da pecuária extensiva, a frequência e extensão do período de seca e a luminosidade podem ser considerados os principais elementos que determinam o crescimento das pastagens e, consequentemente, o melhor desempenho da produtividade.
Tabela 7- Período de seca Local
Meses de seca
Paragominas – PA
setembro, outubro e novembro
Redenção – PA
maio, junho, julho
S do Araguaia
junho, julho, agosto
Alta Floresta – MT
junho, julho, agosto
Ji-Paraná – RO
maio, junho, julho
Tupã – SP
maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro
A tabela 7 (consultar também o Anexo 2; Mapa 1) apresenta os meses de seca nas diferentes regiões estudadas, nota-se que o período de seca é muito maior na região sudeste, enquanto que, nas áreas próximas à floresta amazônica, além de apresentar períodos de seca menores, possuem elevados índices pluviométricos, alta temperatura e elevada umid ade
45
relativa do ar. Fatores que promovem a redução dos custos na época da seca, pois os gastos com o sal proteinado e os outros tipos de suplementos alimentares são reduzidos, devido a maior oferta de pasto, mesmo no reduzido período de seca. Este parece ser o ponto mais favorável à produção pecuária na região, embora seja importante destacar que as variedades de capim utilizadas na região são as mesmas das utilizadas em outras regiões do Brasil. O desenvolvimento de variedades mais adaptadas a esta região poderia elevar a produtividade e prevenir para pragas, como a cigarrinha e plantas invasoras como o “capim duro” ou “capim capivara” que compete com a Brizanta e não serve de alimento para os animais.
5.3 - ANÁLISE DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO
Para possibilitar a rápida visualização gráfica em um espaço restrito, o fluxo de caixa de 240 meses foi dividido em cinco partes, onde cada uma apresenta a soma de 48 meses, ou seja, 4 anos. Além disso, as colunas foram divididas em 7 itens principais, para saber o qua is subitens formam os itens principais consulte o Anexo-1.
46
Gráficos 1 - Demonstração gráfica dos resultados dos custos - PAINÉIS DE CRIA, RECRIA E ENGORDA Legenda 5000000
Paragominas (PA) Área de pastagem: 5711 hec Rebanho em UA 4105
4500000 4000000
2500000
Redenção (PA) Área de pastagem: 2904 hec Rebanho em UA 2423
2000000
3500000
Outros Criação / Pecuária Pastagem
3000000
1500000
2500000
Mão de obra 1000000
2000000
Máquinas e implementos
1500000
500000
1000000
Construções e equipamentos
500000
Aquisição de animais
0
0 1a4 anos
600000,00
5a8 anos
9 a 12 anos
Alta Floresta (MT) Área de pastagem: 605 hec Rebanho em UA 700
500000,00
1a4 anos
13 a 16 17 a 20 anos anos
800000,00
5a8 anos
9 a 12 anos
13 a 16 17 a 20 anos anos
Ji–Paraná (RO) Área de pastagem: 1692 hec Rebanho em UA 772
700000,00 600000,00
400000,00
350000
Tupã (SP) Área de pastagem: 210 hec Rebanho em UA 239
300000
250000
500000,00 200000
400000,00
300000,00
150000
300000,00
200000,00
100000
200000,00
100000,00
50000
100000,00
0
0,00
0,00 1a4 anos
5a8 anos
9 a 12 13 a 16 17 a 20 anos anos anos
1a4 anos
5a8 anos
9 a 12 anos
13 a 16 17 a 20 anos anos
1a4 anos
5a8 anos
9 a 12 anos
13 a 16 anos
17 a 20 anos
47
Gráficos 2 - Demonstração gráfica dos resultados dos Custos - PAINÉIS DE RECRIA E ENGORDA
2500000
Santana do Araguaia (PA) Área de pastagem: 3194 hec Rebanho em UA 2750
2000000
Legenda
500000
Tupã (SP) Área de pastagem: 210 hec Rebanho em UA 227
450000
Outros
400000
Criação / Pecuária 350000
1500000
Pastagem
300000 250000
1000000
Mão de obra
200000
Máquinas e implementos
150000
500000
100000
Construções e equipamentos
50000
0 1a4 anos
5a8 anos
9 a 12 13 a 16 17 a 20 anos anos anos
12000000
Aquisição de animais
0 1a4 anos
5a8 anos
9 a 12 13 a 16 17 a 20 anos anos anos
Paragominas (PA) Área de pastagem: 6500 hec Rebanho em UA 9975
10000000
8000000
6000000
4000000
2000000
0 1a4 anos
5a8 anos
9 a 12 anos
13 a 16 17 a 20 anos anos
48
5.3.1- Avaliação comparativa da estrutura geral dos custos de produção nos sistemas de cria-recria e engorda Observando os gráficos nota-se que a proporcionalidade entre os itens não é muito diferente nos quatro municípios que estão na região amazônica. As diferenças mais significativas são relativas aos custos da pastagem.
Custos da pastagem Em todos os gráficos nota-se a grande quantidade de capital a ser investido no processo de formação da propriedade e verifica-se que grande parte do custo destina-se a formação da pastagem, no caso de Tupã os custos são proporcionalmente menores, pois não há a necessidade de derrubar áreas florestais, mas existe o custo da aragem adubação e plantio das sementes de gramíneas.
Mesmo que haja diferenças significativas na conformação das florestas localizadas nas diferentes regiões de estudo, os valores vultuosos dos custos para empreitar mão-de-obra a fim de realizar a derrubada não são muito diferentes nos três estados da região amazônica. Em Paragominas, os gastos da pastagem apresentados no 5 o até o 12o ano são provocados pela necessidade de manter o pasto livre de plantas invasoras, o combate é realizado por meio da roçagem manual e a aplicação de herbicidas, também compõe este custo, a manutenção dos aceros, ou seja, a limpeza das laterais das cercas de divisa para dificultar a entrada de fogo oriundo das propriedades vizinhas.
A expansão dos custos a partir do 12
o
ano em Paragominas advém da necessidade de
recuperação das pastagens, o solo da região é formado por rochas sedimentares com muitas áreas de arenito (Anexo - 2; Mapa 2), isto determina a baixa fertilidade e faz necessária a descompactação do solo e o provimento de fosfato, a calagem não é muito utilizada, pois a gramínea predominante na região é a Brachiaria brizanta – altamente resistente aos baixos níveis de pH do solo.
49
Mesmo após a queima, para a formação da pastagem, os grandes troncos permanecem no local e seu processo de apodrecimento é lento (Anexo 3; Foto 8), as toras permanecem durante anos implicando no aumento do custo da recuperação, que só se torna só possível com o auxilio de máquinas e implementos pesados. Além disso, são necessárias muitas horas de tratores de esteira para enleirar as grandes toras remanescentes da antiga floresta.
A região de Redenção também tem o mesmo problema, mas a fosfatagem não é muito utilizada, e a floresta nativa existente na área não é tão densa quanto àquela existente em Paragominas (Anexo 2; Mapa-5), assim a quantidade de toras remanescentes é menor, tornando o processo menos custoso (Anexo 3; Foto 9).
Sem a recuperação a atividade deixa de ser lucrativa nestes dois municípios, pois além da redução significativa da taxa de lotação, ocasionada pela queda da produtividade da pastagem, a quantidade de plantas invasoras indesejáveis aumenta, provocando problemas na sanidade do rebanho.
Em Alta Floresta e Ji-Paraná, os custos com a pastagem se baseiam na sua manutenção apenas, ou seja, os gastos constantes com a empreita de serviços de roçagem e/ou aplicação de herbicidas para controle de plantas invasoras e manutenção e aceros. Não foram mencionados gastos com a recuperação de pastagem. Estas áreas de colonização mais recente aplicam técnicas de manejo rotacionado da pastagem que evitam a superlotação e o consumo desuniforme do pasto, aumentando sua a vida útil.
Em Tupã, os custos referem-se a adubações rotineiras para manutenção e revigoramento da pastagem.
Custos destinados às máquinas e implementos Apenas Paragominas apresenta um gasto com maquinário acima do observado nos outros painéis, isto reflete o fato de que algumas propriedades consorciam a atividade pecuária com atividades agrícolas, por isso a necessidade de investir maiores recursos na compra de máquinas e implementos (Anexo 3; Foto 10 ).
50
Custos destinados à criação animal
A maioria dos gastos destinados à criação é dirigida para a compra de sais minerais. Como mostra o gráfico a seguir. Gráfico 3 - Porcentagens dos custos relacionados à criação em Ji-Paraná 2% 2%5%
14%
Medicamentos
SUPLEMENTAÇÃO MINERAL MANEJO REPRODUTIVO
OUTROS CUSTOS DA PECUÁRIA ANIMAIS DE TRABALHO
77%
Em geral, a eficiência do rebanho é muito dependente da suplementação mineral. No caso de Ji-Paraná o preço do sal mineral é maior que nas outras regiões, provocando a desproporção verificada no gráfico do painel. O alto preço está vinculado aos custos do frete rodoviário.
Demais custos Neste tipo de sistema (cria-recria e engorda) os gastos com a aquisição do rebanho são elevados apenas na fase de implantação da fazenda devido à compra de novilhas e vacas solteiras, porém exige-se mais da infra-estrutura (maior número de piquetes e currais) e gastos maiores com a criação e com a mão-de-obra (devido ao manejo reprodutivo).
A montagem do rebanho padrão está associada à construção de um patrimônio considerável, principalmente em produção ao custo da terra, mas este patrimônio tem uma elevada liquidez, fato que não pode ser desconsiderado uma vez que no processo de ocupação da área para garantia de posse da terra é relevante essa característica da pecuária.
5.3.2 - Avaliação comparativa da estrutura geral dos custos de produção nos sistemas de recria e engorda
51
No sistema de recria-engorda os custos com a aquisição de animais - compra de bezerrossão os mais expressivos e podem ser facilmente observados em S. do Araguaia e Tupã. No sistema de engorda estes custos são ainda maiores, pois há a necessidade de compra de animais mais pesados destinados apenas para a terminação, visualizado em Paragominas.
Quanto à proporcionalidade dos outros custos, os custos da pastagem novamente variam. Como descrito anteriormente Paragominas necessita do processo de recuperação e em Tupã a adubação do pasto é rotineiramente realizada. Porém, em S. do Araguaia, nenhum tipo de gasto foi declarado pelos produtores, talvez isto seja determinado por esta região apresentar manchas de solo mais fértil que as regiões anteriores e também por ter pastagens mais novas quando comparadas as demais regiões.(Anexo 2; Mapas 2 e 3).
5.4 - ANÁLISE DA RENTABILIDADE
Além dos custos, os painéis coletaram informações referentes às receitas possibilitando a construção do fluxo de caixa mensal de cada região estudada. Através dos saldos mensais foram obtidos os saldos anuais que foram utilizados para a determinação da Taxa Interna de Retorno (TIR).
Para calcular esta taxa manteve-se todos os preços dos insumos e da arroba bovina constantes. O preço da arroba utilizada refere-se ao preço pago à vista pelos compradores locais no dia da construção de cada painel.
Os diferentes resultados encontrados estão expostos nas tabelas abaixo.
52
Tabela 8 - TIRs Referentes aos sistemas de produção que possuem cria-recria e engorda Local
TIR
Data da Construção do Painel
Paragominas – PA
11,01% 22/03/2002
Redenção – PA
9,07%
Alta Floresta – MT
14,51% 21/05/2002
Ji-Paraná - RO
11,45% 15/05/2002
Tupã – SP
6,43%
25/03/2002
26/04/2002
Tabela 9 - TIRs Referentes aos sistemas de produção que possuem recria e engorda Local
TIR
Data da Construção do Painel
Paragominas – PA*
14,49% 21/03/2002
S. do Araguaia – PA
14,67% 26/03/2002
Tupã – SP
3,82%
26/04/2002
*- Apenas engorda
Devido às variações do preço da carne bovina, optou-se, também, por recalcular as taxas internas de retorno utilizando as médias mensais das séries históricas dos preços correspondentes aos quatro estados envolvidos nesta análise.
Todos os preços existentes nas séries, obtidas no banco de dados do CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq – USP, foram utilizados. Para cada um dos preços existentes na série obteve-se uma nova TIR. O conjunto formado pelas TIRs, respectivas a cada valor médio mensal da arroba de cada região, foi distribuído em gráficos na forma de histogramas, onde é possível visualizar quais foram as TIRs com maior freqüência.
53
Gráficos 4 - Histogramas de Freqüência - TIR Histograma de freqüência 1 0,140
0,100
Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Paragominas - PA
0,080
(Cria Recria e Engorda)
0,060
Série de preço utilizada:
0,120
0,040
Estado: Pará Out - 1998 até Mai - 2002 Total: 44 Observações
0,020
0,000 9,58%
10,25%
10,92%
11,60% 12,27%
12,95% 13,62%
0,180
Histograma de freqüência 2
0,160
Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Redenção - PA
0,140 0,120 0,100
(Cria Recria e Engorda)
0,080
Série de preço utilizada: 0,060
Estado: Pará Out - 1998 até Mai - 2002 Total: 44 Observações
0,040 0,020 0,000 8,41%
9,09%
9,76%
10,44% 11,11% 11,79% 12,47%
Histograma de freqüência 3 0,140
Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Ji-Paraná - RO
0,120
0,100
(Cria Recria e Engorda) 0,080
Série de preço utilizada:
0,060
Estado: Rondônia Jun - 1997 até Mai - 2002 Total: 60 Observações
0,040
0,020
0,000 9,29%
10,12%
10,95%
11,79%
12,62%
13,45%
54
Gráficos 5 - Histogramas de Freqüência - TIR Histograma de freqüência 4 0,180
Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Alta Floresta - MT
0,160 0,140
(Cria Recria e Engorda) 0,120
Série de preço utilizada:
0,100
Estado: Mato Grosso Jan - 1995 até Mai - 2002 Total: 89 Observações
0,080 0,060 0,040 0,020 0,000 13,01%
14,41%
15,80%
17,19%
18,59%
19,98%
Histograma de freqüência 5 Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Tupã - SP
0,200 0,180
(Cria Recria e Engorda)
0,160
Série de preço utilizada:
0,140 0,120
Estado: São Paulo Mar - 1994 até Mai - 2002 Total: 99 Observações
0,100 0,080 0,060 0,040 0,020 0,000 3,29%
5,36%
7,43%
9,50%
11,58%
13,65%
55
Gráficos 6 - Histogramas de Freqüência - TIR Histograma de freqüência 6
0,120
Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Paragominas - PA
0,100
0,080
(Engorda)
0,060
Série de preço utilizada: 0,040
Estado: Pará Out - 1998 até Mai - 2002 Total: 44 Observações
0,020
0,000 13,51%
14,05%
14,59%
15,14%
15,68%
16,22%
16,76%
Histograma de freqüência 7 0,140
Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Santana do Araguaia - PA
0,120
0,100
(Recria e Engorda)
0,080
Série de preço utilizada:
0,060
Estado: Pará Out - 1998 até Mai - 2002 Total: 44 Observações
0,040
0,020
0,000 12,69%
13,13%
13,56%
14,00%
14,43%
14,87%
15,30%
Histograma de freqüência 8 0,200
Distribuição das TIRs referentes ao Painel de Tupã - SP
0,180 0,160 0,140
(Recria e Engorda) 0,120
Série de preço utilizada:
0,100 0,080
Estado: São Paulo Mar - 1994 até Mai - 2002 Total: 99 Observações
0,060 0,040 0,020 0,000 3,83%
6,27%
8,71%
11,15%
13,60%
16,04%
56
Comentários:
Através da observação e comparação dos gráficos conclui-se que os investimentos realizados na região da floresta amazônica, nos estados de Pará, Mato Grosso e Rondônia são maiores, mas podem gerar taxas de rentabilidade expressivamente superiores aos investimentos feitos no mesmo tipo de atividade na região do interior de São Paulo, porém, a comprovação desta afirmação só seria possível se mais regiões tanto do norte, do centrooeste e do sudeste fossem avaliadas.
Vale lembrar que o valor da terra não foi adicionado a estas análises. Intuitivamente, é possível concluir que a diferença entre as taxas das duas regiões seria expandida, pois os municípios dos estados do Pará, Mato Grosso e Rondônia atingiriam taxas superiores, visto que, o valor da terra a ser declarado nos custos de investimento ainda é menor na região amazônica que na região sudeste do país (Quadro comparativo - 1). Em contrapartida, o trabalho realizado por Homma (1993), já citado anteriormente (tópico - 3. Revisão Bibliográfica), determinou que a especulação do recur so terra pode ser mais vantajosa na região sudeste, isto provocaria o aumento da TIR em Tupã-SP devido à venda da terra mais valorizada no vigésimo ano da análise. Devido a estes motivos e àqueles descrito no tópico 2.4 o valor da terra não foi utilizado nas análises.
Também é importante ressaltar que os preços recebidos pelos produtores da região Amazônica, pela arroba de boi gordo, apresentam um diferencial negativo de cerca de 20%, e que a justificativa principal para isto está na classificação da região no controle contra a febre aftosa. A região é considerada zona de médio risco em relação à moléstia mencionada e o transporte de animais vivos e de carne com osso é vetado, além da proibição da exportação. Dessa forma, a expectativa é de que na medida que o controle da doença avançe, seja possível que os preços pagos aos produtores elevem-se relativamente aos preços pagos em outras regiões, interferindo na rentabilidade da atividade.
57
Receita líquida por hectare
A renda líquida por hectare é muito importante na percepção do produtor rural, sendo o principal ponto analisado no momento da tomada de decisão sobre as atividades e os investimentos a serem implementados. Esses cálculos são feitos com base nos custos operacionais.
A pesquisa mostrou números surpreendentes em termos de produtividade por hectare para praticamente todas as atividades estudadas na região amazônica. Para a cultura da soja, que está em fase de implantação, o valor é expressivo, embora a região ainda não tenha estruturado os canais de comercialização. No caso da pecuária implementada na região amazônica, o retorno por hectare é bastante elevado, em decorrência dos grandes níveis de produtividade alcançados. Na região Amazônica, o período de seca dura aproximadamente dois meses, e com um grau de “stress hídrico” da planta menor que os verificados em outras regiões do Brasil. Dessa forma, enquanto na região de cerrado ou na região sudeste, os animais de pasto perdem peso durante 4 meses, na região deste estudo não se verifica isso.
No Mato Grosso, região de cerrado onde a atividade pecuária é extensiva, a produtividade é muito baixa e o retorno obtido com a atividade não é um atrativo para os produtores. Na realidade, a pecuária nessa região tem a finalidade de ocupar áreas onde os proprietários acreditam que a agricultura pode ser viável, representando uma reserva de caixa da empresa cujo principal foco de negócio é a agricultura. No Rio Grande do Sul, a pesquisa foca principalmente a pecuária integrada com agricultura, ou seja as áreas agrícolas ocupam as áreas agrícolas durante os meses de inverno.
No Pará, a produtividade na safra 2001/2002 para a cultura da soja foi de 55 sacas e o preço médio foi de R$ 16,64. Nesse estado, e na região Amazônica de forma geral, a pouca disponibilidade de informações históricas e de pesquisas em relação ao potencial produtivo da soja é um fato. No levantamento de campo, ficou evidente que no Mato Grosso a
58
atividade agrícola termina em Sinop. Na região de Alta Floresta, com a mudança da paisagem (aumento da decrividade), a atividade agrícola praticamente desaparece.
Na Tabela 10 são apresentados dados relativos ao rendimento médio para a atividade pecuária, considerando projetos com 20 anos de duração. Verifica-se que a receita líquida por hectare nas diferentes regiões da Amazônia é maior, em todos os casos, do que a encontrada para Tupã/SP, uma região típica de produção pecuária no Centro-Sul do Brasil. A produção na região de Tupã é representativa da produção paulista, sendo o “termômetro” para a pecuária no Brasil. Ela é localizada próximo à divisa do Mato Grosso do Sul, o estado de maior rebanho de corte do território nacional. Os frigoríficos dessa região disputam os animais e fazem as compras nos dois estados. As unidades de produção dirigem-se ao mercado local, nacional e internacional.
Tabela 100 - Receita Líquida por Hectare Pecuária (R$/ano) Alta Floresta / MT (região Amazônica) Ji-Paraná / RO Paragominas / PA – Ciclo completo
138,91 132,87 95,39
Paragominas / PA Redenção / PA Santana do Araguaia / PA Tupã / SP
102,98 65,83 95,80 65,32
Para as localidades analisadas da região amazônica, os resultados podem ser considerados bons para superiores. No estado do Pará, o preço do animal vivo é 15 a 20% menor que o preço praticado em São Paulo. Para Rondônia, essa diferença pode chegar até a 25%, mas as circunstâncias edáficas atuais desta região traduzem-se em maior lucratividade da atividade, pois não é necessário realizar a recuperação das pastagens, o mesmo ocorrendo em Alta floresta (ver a composição de custos referentes às pastagens em Gráficos - 1).
59
A diferença dos preços, considerando a região de estudo e as demais regiões do Brasil, é notável. Isso ocorre pelo fato as regiões estudadas da Amazônia, com exceção de Alta Floresta - MT,
estarem em áreas onde existe risco de febre aftosa. Essas regiões são
inseridas na zona de médio risco de febre aftosa – Zona Tampão. Isto significa que a carne alí desossada pode chegar a São Paulo, mas não pode ser exportada.
A capacidade de abate de todas as localidades onde foi feita a coleta de dados também mostra o crescimento da pecuária de corte na região. No Pará, os números relatados pelos produtores apontam que a capacidade instalada no sul do estado é de cerca de 7000 cabeças por dia, com praticamente 100% de desossa. Em Rondônia, a capacidade instalada é de aproximadamente 4000 animais/dia. Observa-se que a indústria frigorífica dessas regiões está em processo de crescimento.
60
5.5- RESULTADOS DA MODELAGEM
Os resultados do modelo de programação matemática para a propriedade da região amazônica confirmam a dinâmica conservadora dos produtores alí estabelecidos em relação aos riscos das diversas atividades possíveis de serem implementadas.
A propriedade tomada como representativa na região de Paragominas tem 15000 hectares de área e é administrada de maneira empresarial. O proprietário adota técnicas de produção eficientes e toma cuidados na adaptação de novas culturas, sendo a área aberta de aproximadamente 4.500 hectares.
Nas demais regiões onde foram realizados trabalhos de coleta de dados, a dinâmica de produção é bastante distinta. Os fatores climáticos são semelhantes em todas as localidades estudadas, mas as características do solo em Redenção e Alta Floresta não são muito favoráveis à atividade agrícola, como verificado em Paragominas, e nem tem o mesmo potencial de Ji-Paraná e Santana do Araguaia. O solo em Redenção e Alta Floresta é pedregoso e tem topografia ondulada, fatores estes limitantes no processo de mecanização das atividades agrícolas. Considera-se que a infertilidade do solo não é um fator restritivo, existindo maneiras de contornar a situação.
Na região de Paragominas, os produtores estão preocupados com o processo de reforma de pastagens e por isso utilizam as lavouras anuais como forma de viabilizar esse processo. A região foi aberta há aproximadamente 20 anos e por isso a agricultura nessa região é viável, exitindo facilidade para a destoca. Na região de Santana do Araguaia, a ocupação é mais recente e por isso a destoca tem elevado custo, cerca de R$1500,00 por hectare, e as pastagens estão em fase de elevada produtividade. Portanto, a atividade agrícola ainda não foi implantada, mas é uma opção que não pode ser descartada.
61
A propriedade utilizada como base para o estudo tem as seguintes características:
-
15000 hectares de área total.
-
Cerca de 30% encontram-se abertas.
-
As máquinas têm financiamento com 3 anos de carência, e taxa de juros de 8,75%, junto ao Banco da Amazônia.
-
O capital disponível na propriedade é de R$ 1,7 milhões.
Os rendimentos líquidos das atividades nesta propriedade estão apresentados abaixo (Tabela 11).
Tabela 11 - Rendimento Líquido – R$/ha Arroz Gado de Corte Soja
582,00 95,39 517,21
Resultados da Pesquisa de Campo - Paragominas
O rendimento líquido dessas atividades é elevado comparando-se aos de outras regiões do Brasil. Esse desempenho eficiente está ligado ao sistema de produção adotado, no qual somente pequenas quantidades de insumos são adicionadas às lavoras que já contam com elevada produtividade. O produtor racional tem como objetivo básico a maximização da renda líquida da propriedade com o mínimo risco. O modelo foi desenvolvido para a região de Paragominas/PA porque foi a única região do “arco do desmatamento amazônico” em que foram encontradas estruturas de produção agrícola em desenvolvimento. Nas demais regiões, a pecuária é a principal atividade ligada à terra. Na região de Alta Floresta/MT, onde se encontra uma área de transição entre o Cerrado e a Floresta, as características de solo (ondulado e pedregoso) não se mostram favoráveis à atividade agrícola, mas é uma região com índices pluviométricos mais elevados que a região de cerrado e, por isso, tem uma produtividade superior para a pecuária.
62
Conforme Gass (1969), o modelo de Programação Linear pode ser representado por: Maximizar: Z = f ′x
Equação 1
Sujeito a:
Ax ≤ b
Equação 2
x≥0
Equação 3
e
onde Z é um escalar representando a margem bruta total; f é um vetor de margens brutas; x é o vetor de atividades; A é a matriz dos coeficientes técnicos e b um vetor de restrições físicas e financeiras.
A função objetivo, Z, é o produto do vetor f (coluna) das margens brutas das diversas culturas pelo vetor x (coluna) das atividades. O vetor f inclui receitas das atividades da propriedade, tais como venda de algodão, milho, soja, gado de corte, juros de aplicações financeiras etc. Estes valores (receitas) correspondem a elementos com sinais positivos. Todas as despesas, tais como a compra de insumos, os juros de empréstimos contraídos etc., correspondem a elementos com sinais negativos.
Neste modelo, verifica-se a combinação de atividades que maximizam o lucro, admitindo-se implicitamente que o agricultor é indiferente ao risco. O objetivo do produtor, neste caso, é otimizar as receitas da propriedade independente das possibilidades de frustrações de produção e preços, ou de ambos.
As restrições de caixa consideradas nesse modelo, correspondentes à equação 2, são apresentadas na Tabela 12. Na análise do fluxo de caixa das atividades, mostrado nessa tabela, deve-se levar em conta que o sinal positivo indica que os gastos no período superam
63
as receitas e o saldo com o sinal negativo indica a receita líquida positiva das atividades ao final do ano.
Tabela 12 - Fluxo de caixa Jan-mar abr-jun jul-set out-dez proximos SALDO
arroz 244,16 355,36 0,00 409,76 -1480,50 471,22
milho 210,02 301,51 0,00 506,47 -1600,00 582,00
soja 461,35 -157,93 0,00 134,61 -955,24 517,21
boi gordo 343,33 -80,38 -66,97 -157,67 -133,69 95,39
Fonte: Dados da Pesquisa de Campo
Os resultados do trabalho mostram que os produtores nessas condições tenderiam a utilizar a maior parte do capital com a atividade mais rentável, considerando as condições de fluxo de caixa. Os resultados obtidos recomendam aproximadamente 1600 ha de soja e o restante da área deve ser ocupada com mata. Esses resultados não correspondem aos valores observados no levantamento de campo.
O modelo de maximização sem a inclusão de risco não condiz com a realidade. Os produtores não são indiferentes ao risco e, dessa forma, procuram alternativas para o seu gerenciamento, trocando parte da receita possível por taxas de risco menores. Para tanto, optam pela diversificação de atividades na propriedade.
Observa-se, no campo, que a cultura da soja está em processo de implantação na região e, portanto, “pagando os preços” dos primeiros anos de experiência. Não se dispõe de séries históricas de produtividade para um período de tempo maior que 4 anos.
Para a inclusão de risco no modelo são utilizados os desvios da receita bruta das propriedades em relação a uma tendência linear, que representa as expectativas dos produtores rurais.
64
O modelo para incorporar condições de incerteza foi inicialmente proposto por Markowitz (1952). Segundo Silva (2000), esse modelo foi desenvolvido para produtos do mercado financeiro e por isto toma os desvios como aleatórios. No contexto agrícola, a utilização do modelo de riscos deve ser feita observando as características especiais da atividade, uma vez que o retorno na agricultura pode apresentar alguma forma de tendência previsível. Assim, ganhos de produtividade, modificações do sistema de produção etc. podem introduzir tendência à série, a qual deve ser considerada na modelagem visando a obtenção de resultados mais precisos.
O modelo proposto por Hazell (1971) consiste em: Minimizar:
n S = ∑ Yi′ 2 i=1
Equação 4
Sujeito a: n
∑x D j=1
j
ij
+ Yi ≥ 0
Equação 5
f ′x = R0
Equação 6
Ax ≤ b
Equação 7
x ≥ 0 e Yi ≥ 0
Equação 8
onde S é soma dos desvios absolutos com relação às médias das receitas brutas; D ij é o desvio em relação à receita média da cultura j na ano i; n é o número de observações da amostra de receitas brutas e R0 é o coeficiente de parametrização, crescendo a partir de zero até a solução máxima dada pelo primeiro modelo. Quando
∑x D j
ij
≥ 0 , o Y correspondente
65
assume valor zero, por causa das restrições dadas por (5) e (6). Yi é, portanto, uma variável auxiliar que mede a soma dos desvios quando esta soma é negativa.
As receitas médias, rj , foram calculadas de acordo com: n
∑P v
ij ij
n = rj
i =1
Equação 9
onde Pij é a produtividade da cultura j no ano i. O valor de vij é o preço recebido pelos agricultores para a cultura j no ano i. O desvio em relação à média foi calculado através de (10): D ij = ( Pijv ij − r j )
Equação 10
Com os resultados dos processos de minimização correspondentes ao parâmetro R0 ,
,
constrói-se a “fronteira eficiente”, que expressa o risco envolvido para atingir determinado nível de receita bruta. Haverá, dessa forma, um conjunto de soluções eficientes, cabendo ao tomador de decisão a escolha daquela que seja compatível com sua preferência (maior ou menor aversão ao risco).
No modelo proposto, os desvios são obtidos através de uma regressão linear simples, onde a variável dependente é a receita bruta e a variável explicativa é o tempo. Minimizar: n Sr = ∑ Yi′ 2 i =1
Equação 11
Sujeito a: n
∑x D j=1
j
rij
+ Yi ≥ 0
Equação 12
f ′x = R0
Equação 13
Ax ≤ b
Equação 14
66
x ≥ 0 e Yi ≥ 0
Equação 15
onde Sr passa a ser a soma dos desvios absolutos com relação às regressão lineares das receitas brutas; D rij , o desvio em relação à regressão linear da receita média da cultura j na ano i, n é o número de observações da amostra de receitas brutas e R0 é o coeficiente de parametrização, crescendo a partir de zero até a solução máxima dada pelo primeiro modelo. Quando
∑x D j
rij
≥ 0 , o Y correspondente assume valor zero, por causa das restrições dadas
por (5) e (6). Yi é, portanto, uma variável auxiliar que mede a soma dos desvios quando esta soma é negativa.
O desvio absoluto da receita bruta em relação à regressão linear simples das receitas brutas ao longo do tempo foi calculado através de (16): D r = Pij v ij − (α + βX ij )
Equação 16
onde Pij é a produtividade da cultura j no ano i. O valor de vij é o preço recebido pelos agricultores para a cultura j no ano i, portanto, Pij vij é igual à receita bruta da cultura j no ano i. O α é o coeficiente angular e β é o coeficiente da variável independente.
Neste trabalho, os desvios para cada uma das culturas ao longo das últimas 10 safras são estão apresentados na Tabela 13. Os valores dessa tabela são consid erados no modelo, o qual é utilizado agora com a finalidade de minimizar os riscos, dada uma determinada receita esperada. À medida que a receita esperada vai reduzindo-se, os desvios também vão e, dessa forma, obtém-se a fronteira eficiente, que representa o conjunto de pontos que podem ser atingidos para diferentes combinações de receita e risco, dado os fatores de produção disponíveis.
67
Tabela 13 - Desvios absolutos das culturas nas últimas 10 safras Tabela 3.Desvioas Absolutos das Culturas nas últimas 10 safras arroz milho soja boi gordo 54,38 108,52 1,1963 -177,50 50,94 125,94 -0,8900 139,31 -25,12 16,50 -4,0055 241,47 -44,96 -104,49 2,6774 -15,78 -23,90 -111,47 6,8564 55,64 -9,65 -65,70 1,7427 -229,08 -45,41 -77,02 -6,8016 -97,93 -146,02 -144,73 -3,9879 115,90 140,94 33,54 -1,5625 -79,35 42,86 53,37 1,7923 47,29 5,94 165,55 2,9823 47,00
Na Gráfico 7 podem ser observados os resultados para a propriedade de Paragominas, onde as atividades agrícolas já estão implantadas e ocorre um processo dinâmico de substituição da pecuária por culturas anuais.
68
Gráfico 7- Fronteira Eficiente 1400000
1200000
Retornos R$/ano
1000000
800000
600000
400000
200000
0 38875,23
66156,09
113275,9
185649,9
222749,9
293844,7
350834,1
222749,9
484796,3
554826,9
desvios
A propriedade estudada em Paragominas está situada num ponto próximo àquele que representa uma renda de R$ 900 mil, com a seguinte composição de atividade: 238 ha de arroz, 173 ha de milho, 400 ha de soja, 4924 ha de pastagens e 9262 ha de mata. A alocação da área para as diversas atividades agrícolas alternativas, conforme os resultados do modelo, é muito semelhante àquela implementada no campo.
O modelo mostrou-se sensível com relação à expansão de área quando ocorrem choques de preços. Mediante a elevação do preço de um dos produtos ocorre primeiro uma redistrib uição da área dentro da parcela desmatada e, somente num segundo momento, pode ocorrer o desmatamento. Isso pode ser explicado pelo fato de que um aumento de área é condicionado a um investimento grande em derrubada de mata, o qual poucas vezes pode ser pago com o retorno da propriedade.
69
No ponto onde a curva de utilidade do produtor (linha vermelha) tangencia a fronteira eficiente, tem-se o ponto de equilíbrio para a propriedade amazônica. Nesse ponto, os recursos dos produtores são utilizados em 528 ha de arroz, 547 ha de milho, 1124 ha de pecuária e 1185ha de soja. O restante da área continua sendo ocupado por mata, ou seja, dos 15000 restam 11613 intocados.
Comparando-se os dados obtidos com o modelo e os dados de campo, apenas a área de soja apresenta diferença. No entanto, é importante lembrar que a soja está num processo de expansão e os dados históricos de preço e produção para o estado só estão disponíveis para o período pós 1997.
Com base no modelo definido é possível simular situações hipotéticas, o que foi feito inicialmente admitindo-se um aumento de 10% na receita líquida da pecuária. Nesse caso, a área de pastagem cresce cerca de 22%, passando para 1376 ha. O crescimento absoluto é de cerca de 252 ha, dos quais 176 ha ocorrem sobre a área de mata e o restante sobre a área de agricultura, com um deslocamento mais significativo sobre a área de soja, cerca 59 ha (ocupando 4,98% da área original de soja). Um acréscimo de 20% na receita da pecuária desloca a área agrícola e não altera a área de reserva, pois nesse caso é mais interessante reduzir a área agrícola dado o elevado investimento inicial necessário ao desmatamento.
Com o objetivo de avaliar qual deveria ser a remuneração para a atividade “mata” que tornaria essa atividade atrativa comp arativamente às demais implementadas na região, fez-se simulações considerando diversos níveis de receita líquida anual para a área de mata, iniciando com R$ 10,00 por hectare. Duas situações foram testadas nessa simulação:
- primeiramente considerou-se que o produtor toma decisão sobre as atividades a serem conduzidas na propriedade levando em conta não só a rentabilidade dessas atividades mas também o risco envolvido em cada uma. Reproduziram-se, assim, as condições reais da propriedade de Paragominas, com renda próxima a R$ 900,00 (ponto em que a curva de utilidade tangencia a fronteira eficiente). Nesse caso, os resultados indicam que a partir de
70
R$ 45,00 por hectare passa ser interessante aos produtores a manutenção da área de mata em detrimento das outras atividades agropecuárias consideradas no estudo;
- no segundo caso, toma-se como pressuposto que o produtor é indiferente ao risco, escolhendo as atividades a serem conduzidas na propriedade apenas em função da rentabilidade dessas atividades. Sendo assim, busca implementar aquelas atividades mais rentáveis independentemente do risco envolvido. Nesse caso, uma receita líquida próxima a R$ 200,00 seria necessária para que a atividade “mata” fosse priorizada relativamente às demais consideradas no estudo.
Os resultados obtidos no modelo e nas varias simulações indicam que os produtores rurais não são imunes ao risco, e, portanto, observam a relação entre os riscos e os retornos das atividades. O produtor, ligado à pecuária ou à agricultura, não tem condições de abrir grandes áreas com o rendimento das atividades implantadas, uma vez que as receitas e os fluxos de caixa da propriedade não permitem grandes investimentos no curto prazo. Isso sugere que o capital para a expansão de área deve vir de outras regiões e outras atividades.
A região de Paragominas, pelo tempo de ocupação, é a principal referência para as regiões de Santa do Araguaia e Ji-Paraná. Nessas últimas duas regiões, a combinação de fatores climáticos e topográficos com as características do solo (não pedregoso) pode servir de indicativo do caminho para a agricultura. O processo que pode auxiliar a dinâmica de produção agrícola dessas regiões é a prática de renovação de pastagens. No caso, a agricultura viria a viabilizar o processo.
Nas regiões de Alta Floresta e Redenção, o processo de renovação de pastagens é mais difícil, pois o relevo ondulado e o solo pedregoso dificultam a implementação de atividades agrícolas. A alternativa mais viável para as pastagens da região fundamenta-se na prática de rotação e reposição gradual de nutrientes.
Um fato comum observado em todas as regiões estudadas é a deficiência na atuação dos órgãos de governo no processo de desenvolvimento e difusão de tecnologias. As variedades
71
de capim e mesmo as variedades de soja, de milho e de arroz, poderiam ser mais profundamente estudadas de maneira a oferecer melhores condições de adaptação. No tocante ao manejo do solo também se nota que os procedimentos utilizados na região são menos evoluídos - as práticas conservacionistas de plantio direto não foram observadas nessa região de clima tropical/equatorial.
72
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