Raquel Arouca, Bióloga e MSc. em Ecologia & Patrick V. Monteiro, Eng. Ambiental
“Cristão e seu papel na Conservação” “Achávamos que o mundo acabaria em guerra nuclear. Agora, pode acabar sufocado e derretido. E diante dessa tragédia, como reagimos? Muitos pensam: “é exagero desses ecologistas chatos. Não acredito. A ciência vai achar uma solução”. Ou então o contrário: “esses cientistas são uns idiotas, é mentira”. Ou: “temos de cuidar do presente, o futuro a Deus pertence! Não podemos parar a produção e causar desemprego!”. Ou ainda: “Ah, eu não quero nem saber. Sabe o que mais? Dane-se! Até lá, eu já morri”. (Arnaldo Jabor, 2007)
Opiniões a parte, uma coisa é certa: temos sentido na pele o que tanto tem se discutido. Temos televisado terremoto na Indonésia, seca na Amazônia, enchente no Ceará, casas engolidas (120 desabrigados) por uma cratera (voçoroca) em Monte Alto, SP (notícias do dia 06/03/07, Jornal Nacional). Sem falar de tsunamis (Indonésia, 2004) e furacões (Katrina – Nova Orleans, 2005). Parafraseando Jabor: diante dessas tragédias, como reagimos (nós, cristãos)? Será que temos consciência de nossa missão? Será que compreendemos que Cristo veio para a redenção de toda a criação? Busquemos nas Escrituras as respostas... 1. Deus fez todas as coisas; Gênesis 1.31 começa “E Deus viu que tudo o que havia feito era muito bom.” Esta passagem traz dois dos princípios da fé cristã. Primeiro, a matéria é boa – em contraste aos gnósticos que ensinam que a matéria é vil e o espírito é bom. Segundo, a matéria não é Deus – em contraste ao que alguns hindus acreditam e idéias “New age”. 2. Deus se revela através de Sua criação; A bíblia diz que a matéria (criação) revela o caráter de Deus: “Desde que Deus criou o mundo, as suas qualidades invisíveis, isto é, o seu poder eterno e a sua natureza divina, têm sido vistas claramente. Os seres humanos podem ver tudo isso nas coisas que Deus tem feito e, portanto, eles não têm desculpa nenhuma” (Rm 1.20). 3. Deus é o dono do mundo, ama-o e cuida dele; O Salmista declara, “Ao Senhor Deus pertence o mundo e tudo que nele existe; a terra e todos os seres vivos que nela vivem são Dele” (Sl 24.1). Este é uma das passagens que enfatiza o domínio de Deus e seu interesse pela sua criação. Lembra-se da história de Noé, onde Deus garantiu que cada espécie fosse preservada? 4. O ser humano tem um lugar especial na criação; A bíblia também nos traz duas incríveis verdades: que fomos feitos “do pó da terra” (Gn 2.7), mas que também fomos feitos “parecidos com Deus” (Gn 1.27). Somos criaturas e, portanto, somos afetados pela crise ecológica como todas as outras espécies. Mas somos também administradores – estamos no lugar de Deus – com a responsabilidade de governar a terra. A questão é, como devemos governar? Alguns cristãos têm enfatizado versos como Gênesis 1.28: “espalhem-se por toda a terra e a dominem”. Mas precisamos lembrar que o modelo bíblico para governo é sempre do “rei-servo”. Adão e Eva foram chamados para serem jardineiros. “cuidar dele e nele fazer plantações”, esta foi a instrução de Deus (Gn 2.15). Estamos aqui no lugar de Deus. Então a forma como tratamos a terra e suas criaturas é um reflexo direto de nosso relacionamento com Ele.
Raquel Arouca, Bióloga e MSc. em Ecologia & Patrick V. Monteiro, Eng. Ambiental
5. A crise ecológica tem raiz na crise espiritual; Em Gênesis 3, o pecado entra no perfeito e maravilhoso mundo e prejudica todos os nossos relacionamentos, incluindo nosso relacionamento com a terra. “Por causa do que você fez, a terra será maldita. Você terá de trabalhar duramente a vida inteira (...)” (Gn 3.17). Isto é tão verdade para nós hoje quanto foi para Adão e Eva no jardim do Éden. A maioria dos problemas ambientais são direta ou indiretamente atribuídos a gula e egoísmo do homem. Por toda a Escritura o elo espiritual entre o pecado e o dano ecológico está claramente descrito (leia Os 4.1-3). Como Deus sente-se sobre isso? Apocalipse 11.18 nos dá uma idéia dos sentimentos de Deus: “veio o tempo dos mortos, para que sejam julgados (...) e o tempo de destruíres os que destroem a terra”. 6. O plano de salvação de Deus, por meio de Cristo Jesus, estende-se a toda criação; O plano de salvação de Deus – Cristo – não é somente para nós; ele é para tudo que Deus domina em amor. Nós vislumbramos este plano totalmente envolvente na história da arca de Noé e nas leis Levíticas, mas ele é enfatizado para nós em João 3.16: “Porque Deus amou o cosmos (original grego) tanto, que deu o seu único Filho”. Romanos 8.19-22 também atesta este plano de salvação cósmico: “Um dia o próprio Universo ficará livre do poder destruidor que o mantém escravo e tomará parte na gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. 7. Portanto, nossa missão é proclamar as boas novas a toda criação. Nossa resposta final não é apenas chamar as pessoas à salvação pessoal em Cristo, por mais crucial que isto seja. A missão de Deus, em enviar Cristo, é muito maior e mais maravilhosa que nós temos compreendido. Proclamar o evangelho também inclui tomar de volta nosso lugar como administradores de Deus aqui na Terra. Nós precisamos cumprir nosso primeiro grande mandato presente em Gênesis 1.28. O próprio Jesus reafirma este mandato: “vão por todo o mundo e anunciem as boas novas a toda criação” (Mc 16.15). 8. Proclamar as boas novas a toda criação implica em buscar a sua sustentabilidade. Antes da queda, todas as espécies viviam em equilíbrio e harmoniosamente em um jardim, retirando dele seu sustento (Gn 1.28-30). Portanto, o jardim criado por Deus no Éden, deve ser nosso modelo de domínio sobre a Terra, um modelo para ser reproduzido em todo o planeta. Mas por que um jardim? Porque um jardim é... • Coletividade, comunitário (reunião de espécies e espécimens), ele não é uma coleção de vasos; • Solidário: todos os componentes do jardim usufruem dos mesmos nutrientes, mesmo sol, mesma chuva; • Ecumênico: todas as espécies estão contempladas no jardim, portanto, todas as espécies têm o direito de viver com dignidade; • Sinérgico: a beleza do jardim é maior do que a simples soma de seus componentes. A beleza é justamente resultado da harmonia, do ajuntamento dos espécimens. • Sacrificial: os vários espécimens ali encontrados precisam se organizar de tal maneira que um não prejudique o outro em sua sobrevivência de qualidade e dignidade.
Raquel Arouca, Bióloga e MSc. em Ecologia & Patrick V. Monteiro, Eng. Ambiental
O ser humano é membro (espécie: Homo sapiens) e responsável pelo jardim, par que ele se mantenha tal como é. Se tivéssemos dado continuidade ao modelo do jardim, certamente hoje teríamos um planeta diferente, um outro modelo de desenvolvimento, outro conceito de progresso, outro conceito de vida e sobrevida. Ainda neste sentido, planejaríamos muito melhor nossa ocupação no planeta, para que nós não fossemos a espécie prejudicando as demais, como é hoje. Sendo assim, concluímos que o desenvolvimento utilizado no jardim sempre foi o desenvolvimento sustentável: desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. O desenvolvimento sustentável tem seis aspectos prioritários que devem ser entendidos como metas: 1. A satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer, etc); 2. A solidariedade para com as gerações futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver); 3. A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal); 4. A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, etc); 5. A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo os índios); 6. A efetivação dos programas educativos. Portanto, desenvolvimento não deve ser confundido com crescimento econômico, o qual depende do consumo crescente de energia e recursos naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende. O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de quantidade, com a redução do uso de matériasprimas e produtos e o aumento da reutilização e da reciclagem. Sendo assim, todo cidadão passa de observador a ator na busca pelo desenvolvimento sustentável, “agindo localmente e pensando globalmente”: tentando levar uma vida mais simples, mudando antigos hábitos, tornado-se consumistas mais conscientes, fazendo uso dos 3 Rs (reduzir, reutilizar e reciclar) em casa, trabalho e igreja, apoiando ONGs ambientais. Afinal...“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.” (Art. 225 da Constituição Federal) Mais sobre o assunto A Rocha – Associação Cristã de Estudo e Defesa do Ambiente: www.arocha.org Desenvolvimento sustentável: www.unb.br/temas/desenvolvimento_sust/index.php Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis: www.ider.org.br Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento Sustentável: www.mma.gov.br/port/sds/index.cfm Documentário: Uma verdade Inconveniente (An inconveniente truth), Al Gore, 2006. BRITO, P.R.B.; MAZZONI-VIVEIROS, S.C. (Orgs). Missão Integral: Ecologia e Sociedade. São Paulo: Editora W4, 2006. HARRIS, P. A Rocha: uma comunidade evangélica lutando pela conservação do Meio Ambiente. São Paulo: ABU Editora, 2001. SCHAEFFER, F.A. Poluição e Morte do Homem: a resposta cristã a depredação do jardim de Deus. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003. VAN DYKE, F. A criação redimida: a base bíblica para a mordomia ecológica. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999. Missão Integral: proclamar o reino de Deus, vivendo o evangelho de Cristo. Viçosa: Editora Ultimato, 2004.