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CRIANÇAS E INTERNET: USOS E REPRESENTAÇÕES, A FAMÍLIA E A ESCOLA Relatório do Inquérito Dezembro de 2008 Ana Nunes de Almeida (coord.) Ana Delicado ...
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CRIANÇAS E INTERNET: USOS E REPRESENTAÇÕES, A FAMÍLIA E A ESCOLA

Relatório do Inquérito Dezembro de 2008

Ana Nunes de Almeida (coord.) Ana Delicado Nuno de Almeida Alves

Índice Introdução

3 Alguns desafios à partida

4

Metodologia

7

Principais resultados 1 Acesso à internet

12

1.1 Utilização da internet

12

1.2 Tempo de utilização da internet

16

1.3 Computador e internet em casa

21

1.4 Frequência de uso da internet em casa

38

1.5 Outros locais de uso da internet

43

2 Internet na escola

52

2.1 As TIC na escola: Portugal e a Europa

52

2.2 Frequência de uso da internet na escola

57

2.3 Modos de uso da internet na escola

60

2.4 Disciplinas em que a internet é usada

61

2.5 Usos da internet nas aulas

64

3 Usos da internet

68

3.1 Fontes de saber

68

3.2 Tipos de uso da internet

85

3.3 Sites visitados

93

3.4 Comunicação

117

4 Normas e valores

124

4.1 Regras de utilização da internet

124

4.2 Controlo das páginas visitadas

129

4.3 Medos

135

4.4 Representações sobre a internet

145

5 Notas finais

166

Referências bibliográficas

170

Anexos: A. Lista de escolas participantes

174

B. Amostra de escolas

180

C. Guião do inquérito e formulários de consentimento

186

D. Amostra do inquérito

202

E. Quadros

206

2

Introdução Executado cientificamente no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, o projecto “Crianças e Internet: usos e representações, a família e a escola” procura apreender a presença e as apropriações da internet no quotidiano das crianças em Portugal, em casa e na escola. Inspirando-se em investigaçoes realizadas desde 2001 na Universitat Operta de Cataluña, tem ainda como objectivo enriquecer este conhecimento com a introdução de propostas trazidas para a sociologia pelo “novo paradigma da infância”. Considerando a criança um actor competente, produtora e intérprete activa do seu quotidiano, pretende-se (dando-lhe voz) descrever, caracterizar e interpretar os usos que faz e as representações que constrói sobre a internet, a partir de dois cenários educativos entre os quais circula, a família e a escola, dos quais aliás emergem lógicas que nem sempre coincidem entre si. O projecto desenvolve-se em dois anos (2008-2010), correspondentes a duas fases metodologicamente distintas. No primeiro, prevê-se uma abordagem extensiva e a aplicação de um inquérito por questionário a uma amostra estratificada de alunos de turmas do ensino básico (1º,2º e 3º ciclos), a frequentar escolas públicas e privadas do Continente. No segundo, uma abordagem compreensiva e a realização de entrevistas em profundidade a uma amostra qualitativa de franjas de crianças (diferenciadas por idade, origens familiares, condições de género e pertença étnica), bem como a seus professores e pais. Este projecto pode inaugurar uma promissora linha de pesquisa em Portugal, que entrelaça (e renova) os contributos dos estudos sobre a sociedade de informação e os estudos sobre a infância. A ampla divulgação dos resultados poderá contribuir para um melhor conhecimento público sobre os usos da internet em Portugal, a sua expansão e apropriação pelas crianças em contexto familiar e escolar. Considerou-se a idade como um critério de referência incontornável para distinguir a população infantil. Em estudos sociológicos, a criança é quase sempre considerada o indivíduo entre os 0 e os 14 anos, juntando-se não raro a este critério biológico o da condição escolar, elemento decisivo na construção da norma da infância moderna. Assim, grosso modo, esta pesquisa foca crianças que frequentam os 3 ciclos da escolaridade obrigatória. Mais detalhadamente, são portanto objectivos do projecto: - captar os modos de transmissão dos saberes que as crianças detêm sobre o computador e a internet - momentos, fontes, lugares, protagonistas e actores dessa aprendizagem;

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- descrever os contextos do quotidiano em que ocorre o uso de um equipamento como o computador e o acesso que ele proporciona à internet – espaços, tempos, ritmos e condições de utilização (a solo, em grupo, em rede, etc), combinações com o uso de outras tecnologias; - compreender os objectivos da sua utilização: a internet como objecto de saber, como instrumento de trabalho (para a escola, para a família), como elemento lúdico ou de construção de uma cultura infantil e de pares. - reconstituir o universo das representações infantis sobre a internet, nomeadamente no que respeita o seu impacto na construção da relação educativa com os adultos (pais, professores), na percepção do estatuto da infância e da adultez. - perceber e explicar como os usos e as representações da internet variam, nas crianças, consoante as franjas etárias consideradas, a condição de género, a origem socio-familiar ou regional, a pertença étnica. Reportando-se também ao universo dos adultos (pais e professores), o projecto pretende confrontá-los, numa segunda etapa, com os testemunhos recolhidos junto dos respectivos filhos e alunos. O objectivo é entender e explicar a proximidade/distância entre discursos de uns e de outros, de modo a obter informação relevante sobre as modalidades de apropriação específica que crianças e adultos fazem da internet, bem como dos circuitos de comunicação e autoridade que se estabelecem entre ambos a seu propósito. O presente relatório contém a informação produzida a partir do inquérito por questionário aplicado a crianças do ensino básico. A apresentação dos dados estruturase em 4 secções: acesso à internet, a internet na escola, usos da internet e normas e valores. Em anexo são apresentados os detalhes metodológicos (amostra de escolas, amostra de inquiridos, guião de inquérito) e os quadros com os apuramentos e testes estatísticos. Alguns desafios à partida Este projecto elege como objecto de estudo as práticas e representações infantis sobre a internet, procurando entrelaçar duas áreas de pesquisa emergentes no campo das ciências sociais: aquela que foca a sociedade de informação e a que elege a infância. Em contraposição explícita ao paradigma biológico e psicológico que a tomam como um dado natural (Prout: 2005), a nova sociologia da infância encara-a como uma construção social, fruto do tempo e do espaço. “Childhood is to be understood as a social construct” (Jenks: 1992). Postular a natureza histórica e cultural da infância implica, também, a consideração da heterogeneidade interna das experiências infantis.

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Variáveis como o sexo, a classe social, a etnia da criança, ou mesmo o seu grupo etário de pertença, introduzem relevo e diferença num cenário desigual. A heterogeneidade das condições da infância revela-se com particular evidência numa sociedade como a portuguesa, caracterizada pela sua modernidade inacabada (Viegas e Costa: 1998). Comparativamente a outros países europeus, Portugal entra tarde na modernidade, mas quando o faz manifesta-o em mudança rápida e intensa. Esta nem sempre significa um corte abrupto entre o passado e o presente: traços do passado são transportados para o presente e reconfigurados em arranjos híbridos. Os seus ritmos, timings e intensidades oscilam consoante a área geográfica do País, os grupos sociais em que ocorrem, e também consoante os níveis da realidade a que nos reportemos: uma coisa são práticas, outra valores e representações. As crianças portuguesas podem viver, assim, experiências de infância díspares: entre aquelas cujo quotidiano decorre em contextos de pré-modernidade (marcados pela exclusão, pobreza) e as franjas pósmodernas (construtoras e participantes activas, por exemplo, da sociedade de informação) e as típicas crianças-aluno da modernidade escolar (Almeida e Vieira: 2006). Outro princípio fundador tem a ver com a defesa de que as relações sociais entre as crianças merecem ser estudadas por direito próprio, a partir do seu campo, independentemente da perspectiva que os adultos têm sobre elas. Ligada à anterior, surge a ideia de que a criança deve ser encarada “as a being in the present” e não apenas como “adult in the making” (Harden: 2000), “projecto de ser” (Soares: 1998), “momento precursor” (Sirota: 1998). Num “tempo de incertezas” em que as formas de vida adulta se flexibilizaram, tanto na família incerta como no mercado dos empregos competitivos e precários do mundo globalizado, é a própria noção de adulto-padrão, como entidade de contornos acabados, que carece de crítica (Lee: 2005). Considerar que as crianças têm uma visão consistente do mundo que as rodeia impõe a prioridade metodológica de lhes dar voz (na investigação) e as considerar informadoras credíveis sobre as suas vidas e os significados que lhes atribuem. São sujeitos competentes de produção de vida social, “actores da sua socialização”, “actores de corpo inteiro”.

Este projecto dá-lhes justamente esse estatuto, elegendo-as como

unidade de análise e recolhendo o seu testemunho de forma directa e não a partir das considerações que sobre ele fazem os adultos por elas responsáveis.

Usos e

representações da internet são, aqui, ditos pelos seus próprios protagonistas. A inovação tecnológica e o acesso ao ciber-espaço (na escola, mas sobretudo em casa) parecem justamente encontrar um terreno fértil de expansão entre as crianças. Vários autores têm sublinhado que estas novas práticas vêm perturbar a clareza da distinção tradicional entre espaço privado/protector e espaço público/predador (Valentine et. al.:

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2004), bem como problematizar a relação educativa tradicional entre a criança (que parece exibir poderosas formas de literacia sobre os media) e o adulto (pai, professor, que parece incapaz de as dominar com semelhante mestria) (Renaut: 2002). A própria situação de a criança se poder tornar, através do acesso às novas ferramentas, um comunicador autónomo (na rede de pares, no ciber-espaço) ou mesmo um produtor cultural por direito próprio traz desafios novos a esta relação. Outros autores, ainda, insistem na importância que estas novas tecnologias podem assumir na pedagogização do quotidiano familiar de franjas das classes médias, todo ele centrado numa aposta, cada vez mais precoce e duradoura, no sucesso escolar das crianças. Através dos media digitais, conseguem transformar-se, no espaço doméstico, actividades lúdicas e sociais das crianças em tarefas úteis do ponto de vista educativo (Buckingham: 2007). Aos interesses dos pais juntam-se os de uma indústria que vê na procura familiar deste mercado de bens e serviços uma oportunidade única de expansão e de lucro. As crianças/adolescentes e a sua relação com a internet têm portanto constituído tema de particular interesse para estudos efectuados nos últimos anos (ex: Normand e Souza 2000; Lenhart et al 2001; Bevort e Bréda, 2001; Livingstone, 2005 e 2006; Clark, 2001, Sigalés et. al., 2007; Piétte et. al, 2007), nomeadamente no âmbito da articulação entre o uso da internet e a vida familiar e quotidiana, as sociabilidades infanto-juvenis, os processos de aprendizagem na escola, as oportunidades e os riscos associados à navegação. Em Portugal, a questão continua escassamente estudada, notando-se que desponta recentemente em alguns trabalhos académicos (na área da educação) que se baseiam porém em amostras não representativas e subnacionais (Ponte e Vieira: 2007). Assinale-se, em particular, o estudo de P. Abrantes realizado em 2001 (Abrantes, 2002), aliás anos antes do processo de massificação das TIC entretanto ocorrido; outro de âmbito muito circunscrito (Reia-Baptista et. al. 2006); mais recentemente, a integração de uma equipa portuguesa no projecto europeu EU Kids on Line traduziu-se num promissor contributo (em reflexão teórica e recolha de evidência empírica) em torno da análise comparativa de oportunidades e riscos, experimentados pelas crianças na internet em contexto europeu (Livingstone et. al: 2008). A propósito de alguns dos trabalhos em voga, D. Buckingham (2006, 2007) alerta para o perigo de visões “essencialistas”, “deterministas” e “unidimensionais” sobre o papel destas novas tecnologias. Ora, em tom pessimissta, como causadoras da “morte da infância”, da dependência da máquina, dos valores culturais e humanistas, dos laços sociais vinculativos. Ora, em tom optimista, como criadoras de uma jovem “geração tecnológica”, naturalmente caracterizada por um

“passionate love affair with

computers”, que através deles se liberta das antigas formas reprodutoras de ensino. Os computadores e a internet parecem proporcionar, na óptica de outros, um contraste

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entre a “geração TV” e a “geração digital” (Tapscott in Buckingham: 2007). Os dois media produziriam atitudes

infantis

opostas:

o

primeiro

gera passividade,

conformismo, apatia; o outro favorece a pró-actividade, revela-se intelectualmente estimulante e criativo.

Contudo, Buckingham assinala as limitações deste

determinismo tecnológico que surge como uma força natural e autónoma que actua de fora para dentro das relações sociais existentes. Estas perspectivas negligenciam, afinal, os contextos sociais em que as novas tecnologias são usadas, esquecem diferenças que contam (rapazes/raparigas, ricos/pobres) no seio da mesma sociedade ou entre sociedades distintas.

O conhecimento da sociedade portuguesa nesta matéria e a

comparação com os seus parceiros internacionais aconselham vivamente a replicação em Portugal de estudos similares. Por último, e na esteira de B. Lahire, é importante encarar a criança como actor plural, produto de uma socialização em contextos sociais múltiplos, através da qual incorpora uma multiplicidade mais ou menos durável e intensa de esquemas de acção que se organizam em tantos reportórios quanto os contextos sociais que aprende a distinguir através das suas experiências anteriores. É na complexidade e “pluralidade disposicional” deste actor que se encontra o caminho para a renovação teórica (Lahire: 2001).

O desafio torna-se, então, o de focar o olhar nos mesmos indivíduos (as

crianças) que atravessam uma pluralidade de cenas e contextos diferentes, entre a escola e a família. A pretexto, no caso deste projecto, dos usos e representações da internet. Metodologia A primeira fase deste projecto de investigação, desenvolvida no 1º ano de execução, privilegia uma abordagem extensiva e a aplicação de um inquérito por questionário a uma amostra de alunos de turmas do ensino básico (1º,2º e 3º ciclos), do ensino público e privado, residentes no Continente (3039 inquiridos). Do ponto de vista do conteúdo, privilegia-se a obtenção de informação sobre modalidades de transmissão de saberes técnicos, os contextos do quotidiano em que ocorre o uso do computador e da internet (espaços, tempos, ritmos e condições de utilização - a solo, em grupo, em rede, etc), a sua combinação com o uso de outras tecnologias, entender os objectivos da sua utilização. De acordo com os objectivos deste projecto de investigação, a população alvo do inquérito consiste maioritariamente nas crianças e jovens entre os 10 e os 15 anos (ainda que, como adiante se verá, o inquérito tenha acabado por abranger crianças dos 8 anos 17 anos) dos 3 primeiros ciclos de escolaridade. Tal justifica-se por várias razões. Trata-se, em primeiro lugar, de um estrato da população que não é usualmente

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abordado nos processos de inquirição já estabilizados sobre a utilização da internet por parte da população portuguesa, sendo estes habitualmente representativos da população entre os 15 e os 74 anos (INE, Inquérito à Utilização da Internet pelas Famílias 2002-2007).

Retirar as crianças da quarentena estatística a que

habitualmente são votadas é um esforço inovador que pode trazer luz sobre comportamentos emergentes mas ainda relativamente desconhecidos. Em segundo lugar, trata-se, hipoteticamente, de um estrato da população com tipologias de utilização da internet já razoavelmente sofisticadas que importa conhecer, ao contrário do padrão médio de utilização por parte de crianças mais novas, com usos provavelmente mais incipientes destas ferramentas electrónicas. Em terceiro lugar, permite observar e testar diferenças no padrão de utilização das TIC (nas suas mais diversas gamas de utilização, desde o uso lúdico e comunicativo ao educativo e informacional) à medida da progressão dos níveis de ensino e correlatos processos de aprendizagem, entre as crianças que frequentam o 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico. Tomando em consideração as características muito específicas desta população alvo, considerou-se que o local privilegiado para a realização do trabalho de campo era o estabelecimento de ensino que frequentam. A escola foi entendida como ponto de contacto ideal por razões operacionais e de contenção de custos, uma vez que não só potencia a concentração de inquiridos num só local (sala de aulas) como rentabiliza o número de indivíduos inquiridos através do estabelecimento de um só contacto com o conselho executivo do agrupamento/escola. A alternativa, por meio de entrevista pessoal a crianças e jovens neste segmento etário, conduzida por trabalho de campo porta a porta, seria significativamente mais onerosa em termos de custos e tempo consumido. Foi obtida a necessária autorização por parte da Direcção Geral do Desenvolvimento e Inovação Curricular para a realização deste inquérito (Despacho nº 15847/2007, Ministério da Educação, DR, 2ª série – nº 140, 23 Julho 2007). De entre o conjunto de indivíduos entre os 10 e 15 anos, frequentadores de estabelecimentos de ensino dos três ciclos do ensino básico, foi considerado pertinente inquirir as crianças que actualmente frequentam os anos terminais de cada ciclo (4º, 6º e 9º anos de escolaridade). Tal justifica-se não apenas pela razão já referida acima (abranger crianças acima de um certo limite de idade e que já estivessem familiarizadas com os recursos disponíveis da escola que frequentavam, comparação das utilizações dos frequentadores dos vários ciclos de ensino) mas também por causas operacionais. As três turmas seleccionadas pertenceriam necessariamente a um mesmo agrupamento de escolas (opção que permitia decrescer os custos e a duração do processo de inquirição), o que na maioria dos casos implicou a aplicação do inquérito em duas escolas por agrupamento (uma escola básica do 1º ciclo e uma escola básica do 2º e 3º

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ciclos) e em apenas em 5 casos numa única escola (escola básica integrada ou colégio público). Tendo em conta os objectivos deste projecto de investigação, não se entendeu necessário que o conjunto de indivíduos inquiridos constituísse uma amostra representativa da população em estudo (crianças entre os 10 e 15 anos residentes no Continente). Não se pretendeu igualmente assegurar a representatividade da população frequentadora dos anos terminais de cada um dos ciclos de ensino. Procurou-se apenas inquirir um conjunto de indivíduos que constituísse uma parcela suficientemente alargada, territorialmente dispersa e socialmente diversa de crianças entre os 10 e os 15 anos. No quadro destes objectivos, considerou-se ajustada a elaboração de uma amostra não aleatória de 50 escolas/agrupamentos1, a que corresponderiam 150 turmas (aproximadamente 3000 inquiridos), estratificada em função da proporcionalidade do número de indivíduos entrevistáveis de acordo com a sequência dos seguintes critérios: tipo de ensino (público ou privado), região e características sócio-económicas da localidade (poder de compra e nível médio de escolaridade do concelho ou freguesia)2. A selecção nominal de escolas no quadro destas freguesias e concelhos processou-se a partir das listas de agrupamentos/escolas das 5 Direcções Regionais de Educação. Tendo a aplicação do inquérito na amostra inicial decorrido de forma mais célere que o antecipado, foi decidido incluir um segundo grupo de 10 escolas/agrupamentos, de forma a aumentar o peso do ensino privado e das regiões mais populosas e diversas (áreas metropolitanas de Lisboa e Porto). Foi feito um primeiro contacto por carta, com os agrupamentos/escolas, no qual se solicitava a indicação de uma pessoa de contacto e de uma listagem de turmas do 4º, 6º e 9º anos e respectivo número de alunos. O sorteio das turmas a inquirir foi feito a partir desta listagem. Apenas em 9 casos foi necessário substituir a escola seleccionada, por não aí não existir um dos graus de ensino pretendidos. Foram em seguida enviados por correio, para as escolas e turmas sorteadas, formulários de consentimento a serem preenchidos pelos encarregados de educação dos alunos. Os formulários de consentimento para as crianças foram distribuídos no momento inquirição, imediatamente antes de receberem o questionário3. O guião do questionário4 foi construído com base em estudos anteriores (Sigalès et al 2007; Bevort e Bréda 2001; Piétte et al 2007). Foram formuladas questões sobre as práticas de utilização da internet, a frequência e modalidades de uso na escola e em

1

Ver listagem no Anexo A. Ver detalhes da constituição da amostra no anexo B. 3 Ver Anexo C. 4 Ver Anexo C. 2

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casa e as representações sobre a internet. Dada a idade dos inquiridos, optou-se por uma estrutura de questionário simplificada, com poucos filtros, sustentada sobretudo em variáveis dicotómicas. Esta escolha tem, no entanto, consequências sobre o tratamento estatístico dos dados, limitando o número e tipo de apuramentos e testes passíveis de ser executados. Há também que referir que a opção pelo auto-preenchimento do questionário pelas crianças tem a vantagem de lhes conferir maior liberdade de resposta, mas eventualmente reduz a fiabilidade de alguns dados. O mesmo guião, construído com base numa linguagem-padrão uniforne, foi aplicado a crianças com características etárias e competências cognitivas heterogéneas, facto que certamente revelará desajustes de compreensão, de manuseamento, para certas das suas franjas. Foi um risco explicitamente avaliado e corrido, apesar do extremo cuidado posto na redacção e conteúdo das perguntas, no desenho do formato do guião: a autonomia no preenchimento directo foi preferida ao recurso presencial de um adulto “perguntador” ou

“explicador”.

O

tratamento

dos

resultados

permitiu

observar

algumas

inconsistências nas respostas, que vieram a condicionar as interpretações da informação e levaram mesmo ao abandono de algumas questões. O trabalho de campo decorreu entre 29 de Abril e de 16 de Junho 2008 e esteve a cargo da empresa TNS. A taxa média de resposta cifrou-se em 78% (tendo por base o somatório de alunos de todas as turmas). Foram recebidos 3049 questionários, dos quais 10 foram excluídos por os respondentes terem mais de 17 anos (não se enquadrando pois na definição prévia de criança). A amostra deste inquérito é portanto composta por 3039 casos5. A base de dados resultante do inquérito foi tratada em SPSS, tendo sido efectuados os seguintes procedimentos estatísticos (Tabela 1):

5

Sobre a composição interna da amostra do inquérito, ver Anexo D.

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Tabela 1 Procedimentos estatísticos Apuramentos

Testes

Estatística

Frequências

univariada

Médias

Estatística bi-

Cruzamentos com variáveis

X2, V de Cramer

variada

independentes: género, idade, ano

Independent Sample T-test

de escolaridade, tipo de ensino,

ANOVA

região, escolaridade dos pais, categoria sócio-profissional dos pais, tipo de agregado doméstico Estatística multi-

Análise de factorial de

variada

componentes principais Análise de Clusters

Ao longo deste relatório apenas são apresentados quadros e figuras respeitantes a variáveis cujas associação é estatisticamente significativa (p