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A GAZETA - 1C CUIABÁ, DOMINGO, 11 DE AGOSTO DE 2013
SUCESSÃO FAMILIAR
Cresce estatística de filhos que optam por seguir carreira dos pais Ainda não se sabe qual é o motivo que leva os filhos a seguirem a carreira profissional do pai, se por genética, consideração ou influência ESPECIAL PARA A GAZETA NAYANA BRICAT
E
ntre as decisões mais importantes da vida está a escolha da profissão. Mesmo não tendo dados precisos sobre a quantidade de filhos que seguem a carreira dos pais, os números da chamada “hereditariedade profissional” aumentam a cada ano. Exemplo disso é o estudante de agronomia, de 21 anos, Gabriel Lenz, que desde criança acompanha o pai nas lavouras e agora decidiu se qualificar para ajudar ainda mais nos negócios da família. Gabriel cursa o 6º semestre e diz que não se vê exercendo outra profissão que não esteja relacionada à agricultura. “O que faço na fazenda é o que aprendo na faculdade, mas lá tenho a oportunidade de exercer na prática”. O jovem garante que decidiu se tornar agrônomo por vontade própria e não por influência do pai Laercio Pedro Lenz, que além de produtor de soja e milho também é presidente do Sindicato Rural de Sorriso. Lenz afirma que só foi possível desempenhar o cargo graças a ajuda do filho que na sua ausência administra a fazenda e todos os colaboradores. “Ele também é dono da propriedade, quando não estou é ele quem toma as decisões mas sempre com meu consentimento. Nossa relação é muito boa. Sempre conversamos e buscamos maneiras de expandir as produções”. Lenz conta que não foi só o filho que garantiu aprendizado ao longo dos anos. Ele também aprendeu muito com Gabriel, que já trabalha junto há 2 anos. “O jeito dele tratar dos negócios é diferente. Ele é muito centrado e na maioria das vezes tem mais pulso firme com os funcionários. Me sinto feliz em ter meu filho trabalhando comigo e ver que posso contar com ele para progredir nos negócios. O produtor, que tem mais 2 filhos, um de 13 anos e uma menina de 3, garante que assim como fez com Gabriel não vai influenciar na carreira profissional dos outros.Mas caso queiram seguir os passos do irmão e do pai ele dará total apoio. Gerente Executiva, responsável por Projetos de Consultoria da divisão rural do Rabobank Brasil, Fabiana Alves comenta que hoje os produtores rurais ficam menos tempo na lavoura, e precisam ter tempo para questões como mercado, futuro e gestão de pessoas. “Conectada a essa mudança, a próxima onda será a governança. Um produtor que tem uma empresa familiar nas mãos, precisa lidar com as mudanças decorrentes do crescimento da empresa e da família”. Fabiana diz que para a boa administração é necessário a separação entre família, propriedade e gestão, 3 chapéus diferentes: pai, gestor e acionista. “Assuntos como investimentos em lazer, qualidade de vida, estudos e ajuda para início de carreira devem ser tratados separadamente do negócio. A primeira atitude simbólica é tirar as contas da família de dentro da empresa”. Ainda não se sabe qual é o motivo que leva os filhos a seguirem a carreira profissional do pai, se por genética, consideração ou influência. No caso de Dayana Leonardo dos Santos, 23, foi a admiração que a levou a trabalhar com seu pai. Ela que sempre ajudou aos poucos quando
O psicólogo Luiz Verdun deixou a administração do hotel com os filhos e a esposa para voltar a exercer a profissão
Chico Ferreira
era menor, hoje é o “braço direito” do senhor Vilmar Pereira dos Santos. “Antes só estudava e ajudava ele por meio período com serviços básicos. Mas depois que consegui minha carteira de habilitação, passei a ajudálo com maior frequência e hoje faz 5 anos que contribuo para o crescimento da empresa”.O empreendimento leva o nome do proprietário: “Artes e Cuias Vilmar”. A família compra mercadorias de outros estados e personaliza para revender em Mato Grosso. Entre os itens estão cuias, guampas, e artigos para chimarrão e tereré. Dayana já está apta a exercer todas as funções. Ela realiza entregas, vendas e ainda auxilia no financeiro. “Já trabalhei em outra empresa, mas percebi que seria melhor me dedicar a empresa do meu pai para ajudar a família, pois essa é nossa única fonte de renda”. Pensando em profissionalização, no próximo ano Dayana pretende começar a cursar administração para dar continuidade ao empreendimento. Vilmar tem muita confiança
Qualificação é importante para que o empreendimento familiar não vá à falência
na filha e se refere a ela como guerreira e determinada, ele que começou o negócio sozinho em 1995 hoje se sente realizado ao ver seu crescimento. “Já que ela decidiu trabalhar comigo, agora eu a incentivo para que não desista dos estudos. Me sinto tranquilo com minha filha trabalhando comigo e sei que a empresa está segura”. O caso do psicólogo Luiz Verdun se difere dos outros já citados. Ele, que depois de se formar em psicologia foi convidado pela família para administrar um hotel em Mato Grosso, tem 2 filhos que por vontade própria decidiram administrar o estabelecimento. “Eles cresceram dentro do hotel e quando chegou a hora de decidir qual curso estudar na faculdade optaram por hotelaria. Nesse momento tive que interferir e busquei o melhor curso para eles que estudaram fora do Estado. Sempre fui um pai muito participativo e levava eles em congressos de turismo para conhecerem minha vida profissional. Acredito que isso plantou uma semente neles que fez com que criassem vocação para isso também”. Durante alguns anos Verdun trabalhou com o filho mais velho Guilherme no hotel. Atualmente ele se dedica à psicologia e deixou o estabelecimento para ser administrado pelos filhos e pela esposa. “Isso me deixa muito Divulgação
feliz. Tenho amigos que já pensaram em vender o negócio por não ter alguém que dê continuidade ao trabalho e eu tenho 2 filhos que decidiram se profissionalizar para dar prosseguimento ao empreendimento da família”. Para Guilherme Verdun, 28, é uma responsabilidade grande dar continuidade ao negócio da família. “É mais difícil por saber que temos que garantir o bom andamento, já que pegamos o hotel em funcionamento. Para isso pedimos auxílio ao meu pai, que mesmo não estando mais na administração sempre nos ajuda já que, apesar das mudanças na atividade, continuamos no mesmo segmento que ele trabalhou por anos e tem total conhecimento”. Guilherme garante que a família permanece unida e agradece ao pai por sempre manter o equilíbrio entre o que foi passado para ele e seu irmão. “Isso deve existir entre pais e filhos.Não adianta um forçar o outro a exercer uma profissão que não quer.Além de ser ruim para a pessoa, o negócio também é prejudicado”. Colaborador da Stracta Consultoria Governança e Estratégia e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq/USP), Claudio Pinheiro Machado comenta que o processo de sucessão familiar não só na agricultura, mas em qualquer segmento, envolve várias questões e não somente a profissão a ser exercida. “Isso não deve ser imposto pelos pais. Alguns critérios de competência indicam se a prole tem ou não capacidade para dar continuidade aos negócios familiares ou exercer a mesma profissão do pai ou mãe”. Machado lembra aos futuros sucessores que ao começar a administrar a empresa herdada, os sócios e todos os deveres vem junto. “Quando se trata de um empreendimento familiar que envolve várias pessoas é o caso mais difícil, porque ali estão diversos pensamentos e interesses diferentes. Os pais precisam deixar claro que os filhos, assim como outros profissionais, também têm responsabilidades e deveres a serem cumpridos, além dos direitos de qualquer funcionário”. O especialista ainda recomenda a qualificação de todos para garantir a profissionalização da empresa. “Outro fator importante é este, saber se a pessoa está qualificada o suficiente para tocar adiante a empresa e não levá-la a falência”.
Gabriel Lenz, que desde criança acompanha o pai nas lavouras, decidiu cursar agronomia para ajudar nos negócios da família