Classe Média Brasileira - Uesb

Vitória da Conquista – Bahia – 05 a 07 de junho de 2013 Classe Média Brasileira: Mais Dinheiro e Menos Dívidas, Sonho ou Realidade? Rafaela Almeida C...
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Vitória da Conquista – Bahia – 05 a 07 de junho de 2013

Classe Média Brasileira: Mais Dinheiro e Menos Dívidas, Sonho ou Realidade? Rafaela Almeida Cordeiro1 Liliane Matias de Almeida2 Júlio César Bastos de Figueiredo 3

RESUMO Este estudo tem como objetivo verificar a relação entre inadimplência, renda familiar per capita e analfabetismo no Brasil entre os anos de 2001 e 2009. O trabalho foi desenvolvido com uma pesquisa quantitativa baseada em dados secundários disponíveis nas bases do IPEA, IBGE e Todos Pela Educação. Como método de análise, foi utilizada a regressão linear múltipla, com índice de significância de 5% e intervalo de confiança de 95%. Com uma equação que explica 89% da variação do modelo, entendese que, embora ganhe salários mais altos por ter melhores níveis de escolaridade, o brasileiro não tem educação financeira adequada para elaborar seu planejamento financeiro; assim, acumula dívidas. O estudo sugere que a educação financeira é um importante aliado na organização e programação dos gastos familiar a fim de evitar o endividamento. Palavras-chave: Inadimplência; classe C; educação financeira; renda familiar.

1. INTRODUÇÃO Um dos assuntos mais frequentes nos noticiários tem sido o crescimento da inadimplência do consumidor brasileiro (LORENSI et al., 2011). Esse aumento constante pode ser atribuído a diferentes fatores, como por exemplo: ampliação da oferta de crédito à pessoa física, aumento da participação feminina no mercado de trabalho, bem como a queda no preço dos alimentos, que dão margem para uma nova concepção do que consumir no âmbito doméstico, aquisição de bens duráveis ou de serviços de lazer e entretenimento (TORRES; BICHIR; CARPIM, 2006). Ao mesmo tempo em que a taxa de inadimplência cresce, percebe-se aumento na renda familiar per capita entre os anos de 2001 e 2009 (IPEA, 2012). Portanto, o brasileiro “está com maior pode aquisitivo”, tendo mais chances de realizar seus desejos. Observa-se, então, a ascensão da nova classe média brasileira, composta por 104 milhões de pessoas, que representam 53% do total da população do País; desse total, 35 milhões de brasileiros ascenderam à classe nos últimos dez anos (EXAME, 2012). De acordo com Neri (2011), ocorre uma expansão constante do tamanho da classe média brasileira e uma diminuição da pobreza no país. 1

ESPM, email: [email protected]. ESPM, email: [email protected]. 3 ESPM, email: [email protected]. 2

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Outro aspecto saliente no novo cenário nacional é a queda da taxa de analfabetismo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de analfabetismo da população de 15 anos ou mais caiu de 13,63%, em 2000, para 9,6% em 2010 (IBGE, 2012). Junto à diminuição do número de analfabetos, o Brasil acompanha também o aumento do número pessoas com ensino superior completo, que passou de 5,5 milhões, em 2000, para 25,5 milhões em 2010 (IBGE, 2012). Observa-se, portanto, que o Brasil passa por mudanças em sua estrutura social nos últimos anos. É visível a ampliação do número de profissionais qualificados, aumento nos lucros das empresas de diferentes ramos, bem como o número de carros nas ruas. E qual a relação entre esses itens? O brasileiro, embora esteja ganhando mais, prolongue seu tempo de estudo e ascenda a um status desejado, ele não tem controlado suas dívidas. A taxa de inadimplência, que teve queda significativa entre os anos de 2001 e 2004, tem aumentado constantemente desde 2005. De acordo com Alves (2007, p.15), “o problema das pessoas surge na falta de educação financeira, tendo como base a falta de planejamento”. Diante desse panorama, as seguintes perguntas são lançadas: O brasileiro tem educação financeira suficiente para organizar seu orçamento em um momento de crescimento econômico? A população não está economicamente preparada para honrar suas dívidas? Como juntar educação, aumento da renda e planejamento financeiro? Desta forma, o estudo tem como objetivo avaliar como o consumidor brasileiro de classe média lida com seu orçamento, sendo esta relação mediada pelo nível de educação. Para responder tais perguntas, este estudo baseia-se na literatura sobre aspectos do consumo, tendo como principais fontes de dados IBGE, Ipeadata, Fecomércio, Programa Todos pela Educação e estatísticas do Governo Federal, além de outros trabalhos acadêmicos que abordam a temática. Esta pesquisa está dividida nas seguintes seções, além desta introdução: referencial teórico com os temas relacionados à classe média brasileira, educação no Brasil, inadimplência e relações de consumo; metodologia; análise dos resultados; e, por fim, considerações finais.

2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 A nova classe média brasileira A classe média cresceu 50% na América Latina entre os anos de 2003 e 2009, e o Brasil contribuiu com mais de 40% desse aumento. A classe média brasileira, no início dos anos 1980, era composta por 15% da população; hoje, essa classe abrange quase um terço dos 190 milhões de habitantes do país (WORLD BANK, 2012). Desde o século XVIII, com o advento da Revolução Industrial e o aumento do número de assalariados, a classe média contribui diretamente nas mudanças da economia mundial (FECOMERCIO, 2012). Nesse contexto, percebe-se uma redução da desigualdade de distribuição de renda e uma elevação da renda per capita dos brasileiros, com registros positivos na melhoria da situação geral dos trabalhadores (POCHMANN, 2012). O conceito de classe média e a formação de seus estratos ainda é um assunto em definição. De acordo com pesquisa da Revista Exame (2012), não há consenso sobre o 2

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conceito e, dependendo de onde se olha, o tamanho da classe média pode variar bastante no País. Mas, embora haja questionamento entre pesquisadores, é possível observar que essa nova classe – mais forte e reforçada com a abertura econômica nacional e a estabilidade da moeda nas últimas décadas - colaborou para que o Brasil estivesse em situação estável durante a crise mundial de 2009 (FECORMERCIO, 2012). Uma vez que 80% dos consumidores mundiais vivem em países emergentes (BURGESS; STEENKAMP, 2006), o que se observa é a importância em entender o surgimento de uma classe média muito numerosa nestes países, com maior acesso à renda e ao crédito, que exerce grande influência no crescimento global (FECOMERCIO, 2012). O Brasil é um dos principais atores desse cenário, com quase 40 milhões de pessoas que ascenderam às classes C e B entre 2003 e 2009 (FECORMERCIO, 2012). A abertura econômica nacional e a estabilidade da moeda mantidas nas últimas décadas no Brasil (FECORMERCIO, 2012) fizeram com que esses consumidores fossem considerados importantes para o mercado e as empresas (BARKI; PARENTE, 2010). Dessa forma, tanto no Brasil como no mundo, passou a existir atenção especial para as classes de menor poder aquisitivo (LIMEIRA, 2008). Sabe-se que são vários os motivos para essa ascensão do trabalhador brasileiro à nova classe, dentre eles estão a estabilidade econômica, a expansão de emprego, renda e crédito, conciliados com as políticas governamentais de proteção social (FECOMERCIO, 2012). Esse cenário favorece, então, o consumo de produtos “diferentes” para esse público; artigos que antes não podiam ser comprados sem afetar o consumo dos bens de necessidade básica, tais como alimentos e higiene pessoal. Segundo pesquisa do Instituto Data Popular (EXAME, 2012), os gastos da classe C estão centrados em eletrônicos, eletrodomésticos e viagens. Uma característica dessa classe é a preocupação com a escolaridade. Enquanto nas classes A e B os filhos estudaram 20% a mais que seus pais, na classe C, essa média fica em 49%. Com relação à informação desses consumidores, 78% se consideram atualizados quanto às notícias, 51% acompanham os acontecimentos pela Internet diariamente e 14% o fazem ao menos três vezes na semana (EXAME, 2012). Desta forma, o brasileiro tem mais poder aquisitivo e está mais feliz. Ainda segundo a pesquisa de IDP, seis em cada dez brasileiros acreditam que sua vida melhorou. Dentre os entrevistados, 59% acham que vivem melhor, 35% igual e 6% acreditam viver pior que na última década (EXAME, 2012). 2.2 Inadimplência São considerados inadimplentes consumidores cujas contas estão atrasadas há mais de 90 dias. De acordo com estudo feito em parceria entre a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), dos consumidores inadimplentes no Brasil, 47% têm renda familiar entre R$ 906 e R$ 2.200 mensais e compõem a chamada classe C (EXAME, 2012). A pesquisa também mostra que 22% das pessoas consideradas inadimplentes têm empréstimos contratados no sistema bancário e 17% destes estão usando o “cheque especial” nos bancos. Entre os anos de 2000 e 2008, a porcentagem de inadimplentes no cheque especial pulou de 3% para 10% do crédito disponibilizado. No cartão crédito, os 3

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números assustam: a porcentagem inadimplente pulou de 2,5% para quase 25% de todo crédito concedido. Tais dados sugerem a possibilidade de deterioração das finanças familiares brasileiras (FONSECA; MURAMATSU, 2008). De acordo com Faria (2006), o aspecto favorável ao crédito é uma capacidade de endividamento das pessoas físicas, garantida pela combinação de vários fatores positivos: aumento da massa salarial, melhoria do nível de emprego e juros mais baixos. A cobrança de juros praticada pelos bancos e financeiras das casas de comércio tem se mostrado uma armadilha ao consumidor desprevenido (PEGORETTI et al., 2012). Embora haja o crescimento e estabilidade da renda, no momento de contrair e acumular suas dívidas, o indivíduo de baixa renda, ao contrário de regularizar seu orçamento familiar, pode passar a administrar as dívidas. Como afirmam Ponchio e Aranha (2007), tratando-se de um segmento que possui baixos níveis de escolaridade e renda, é possível questionar o raciocínio que os consumidores de baixa renda possuem diante da contratação de crédito para o consumo (FUSTAINO; YAMAMOTO, 2009). Destarte, estudos sobre a relação entre renda e tipos de consumo da classe C tornam-se relevantes. Além disso, cabe avaliar a importância de uma boa educação de base para a população brasileira, englobando questões econômicas e sociais do país a fim de desenvolver o lado reflexivo e crítico do indivíduo como cidadão. 2.3 Educação Em 1995, na Reforma do Estado, detalhada no Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado (PDRAE), foram atribuídas novas responsabilidades de educação ao governo, dando início a um novo processo de administração pública no Brasil (BRESSER-PEREIRA, 2000). O objetivo era atender melhor todos os cidadãos, melhorar a economia e desenvolver o país. Os países do BRICS representam 40% da população mundial, em que o crescimento, desenvolvimento e integração com a economia global aumentam o poder de compra e permite o fluxo no consumo (SALMI; SCOTT-KENNEL, 2012). A questão da educação do cidadão é discutida há tempos e, segundo Salmi e Scott-Kennel (2012), acompanhar o crescimento do país requer esforços, na mesma medida, para oferecer educação adequada e de qualidade para todo indivíduo. O desafio é propor um sistema de educação que promova conhecimento para entender questões chave que ocorrem em função do crescimento e do incremento social e econômico. Embora a taxa de analfabetismo no Brasil tenha caído entre os anos de 2001 e 2009 (TODOS PELA EDUCAÇÃO, 2012), percebe-se que no cenário de globalização e acesso à informação, produtos e serviços do mundo todo, a educação financeira pode ser uma aliada para o consumidor, mas ainda não está presente no cotidiano do brasileiro. As pessoas não são educadas para pensar na administração de seus gastos; elas compram de maneira não planejada e parecem não refletir sobre seu contexto financeiro e os impactos futuros (SILVA, 2004). O consumo intenso e o não pagamento das dívidas fazem da educação um item importante e necessário, uma vez que o consumidor não compreende que sua atitude influencia a economia, inclusive as taxas de juros, como afirma Barth (2003, p. 4): A probabilidade da inadimplência influencia e muito na determinação da taxa de juros a serem incorporados na

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operação de crédito. No Brasil, onde as taxas de juros são relevantes por várias razões, tornam-se importantes todos os estudos relacionados com fatores que possam influenciar na definição das taxas de juros. A aplicação do endividamento do consumidor ao longo dos dois últimos anos e o crescimento da inflação neste início de 2011 dificulta o pagamento de compromissos assumidos e aumentam a inadimplência.

Vários produtos e serviços são ofertados e a população, desprovida de conhecimento e preparo para avaliar o comprometimento do seu orçamento, busca o crédito fácil para restaurar o seu equilíbrio financeiro, tornando-se um dos principais motivos da inadimplência (SAVOIA; SAITO; SANTANA, 2007). Dessa maneira, o acesso à educação financeira permitiria às famílias brasileiras controlar e planejar melhor sua renda. Estabelecer metas, prioridades e planejar permitem uma administração consciente das receitas. Controlar o orçamento doméstico é um caso de educação e prudência, e contribui para o controle financeiro pessoal. De acordo com Rocha (2004), a educação tem fundamental importância na formação de indivíduos consumidores conscientes de suas finanças, além de proporcionar melhoria na qualidade de vida e crescimento econômico sólido. Pesquisas como as de Holzmann e Miralles (2005) e Lusardi e Mitchell (2007) mostram que países como Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, alguns países da América Latina e da Europa Central e Oriental, desenvolveram ou reformularam projetos de educação financeira, mas até essa população apresenta dificuldades para a elaboração de seu planejamento financeiro (SAVOIA; SAITO; SANTANA, 2007). Tais questões levam a inferir que o conhecimento sobre finanças e organização da vida financeira de modo racional permite as pessoas concluir suas intenções (ALVES, 2010), auxiliando em uma tomada de decisão racional. Destarte, observa-se que “há uma situação preocupante no âmbito da educação financeira, demandando urgência na inserção do tema em todas as esferas, ainda mais considerando a desequilibrada distribuição de renda no Brasil” (SAVOIA; SAITO; SANTANA, 2007, p. 1138). 2.4 O que a nova classe C quer? O consumidor tornou-se o foco de todas as estratégias de comunicação. De acordo com Giglio (2002), dos primórdios do marketing, orientado para produção e venda, até os modelos atuais orientados para o mercado, percebe-se uma valorização crescente da importância do consumidor. De acordo com Kotler e Keller (2006), o campo do comportamento do consumidor estuda como pessoas, grupos e organizações selecionam, compram, usam e descartam artigos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer suas necessidades e desejos. Estudar o cliente ajuda a melhorar ou lançar produtos e serviços, determinar preços, projetar canais, elaborar mensagens e desenvolver outras atividades de marketing. Portanto, como afirma Basta et al. (2006), o estudo do comportamento do consumidor permite entendê-lo nas suas ações de compra e conhecer o papel do consumo na sua vida. 5

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A importância de entender como o consumidor pensa e age no consumo de produtos e serviços fez com que vários autores desenvolvessem modelos de processo de decisão de compra (HOWARD; SHETH, 1969; KOTLER, 1998; ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2005). Um dos destaques foi o modelo EBM, constituído de sete etapas, são elas: reconhecimento da necessidade, busca de informações, avaliação de alternativas pré-compra, compra, consumo, avaliação pós-consumo e descarte (ENGEL; BLACKWELL; MINIARD, 2005). O reconhecimento da necessidade, também chamado de reconhecimento do problema, ocorre quando o consumidor se conscientiza da diferença entre o estado desejado e a condição real (PRIDE; FERRELL, 2001). É na primeira etapa do processo de decisão, portanto, que o consumidor deve refletir da sua real necessidade, o quanto aquele produto ou serviço a ser adquirido será importante e como está seu orçamento pessoal ou familiar para comprá-lo e honrar seu pagamento. A globalização permite que indivíduos de toda parte do mundo tenham acesso a informações diferentes, de qualquer lugar e em tempo real. Essa facilidade possibilitou ao consumidor aprender e conhecer outras culturas, outros comportamentos, fazendo com que cada vez mais tenha preferências parecidas no mundo todo, já que a comunicação e o acesso à informação exercem grande influência sobre o consumidor (MULLER, 2010). Assim, o consumidor tem acesso a produtos e serviços locais e globais (HARISH, 2008). O acesso ilimitado a informações, a comunicação em massa e o crescimento da classe média nos países emergentes mudou o comportamento de consumo das famílias e gerou um impacto significativo na economia dos países. A estabilidade dos preços, a distribuição de renda e acesso à educação transformou o padrão do consumidor e aumentou numerosamente a classe média, classe essa com acesso a renda e ao crédito, garantindo assim o crescimento global (FERCOMERCIO. 20102). As mudanças sociais trouxeram transformações no cenário brasileiro, o potencial de consumo da classe média brasileira tem atraído oportunidades de negócios para as empresas. Com a evolução da estrutura de rendimento, as famílias passaram a ganhar mais e o que se espera são novas necessidades de consumo. Segundo pesquisa do Instituto Data Popular (IDP), os gastos da classe C estão centrados em eletrônicos, eletrodomésticos e viagens (EXAME, 2012). E não é apenas a classe C – ou classe média – que está com maior poder de compra, levando em consideração que o consumo da classe D, que em 2011 gastou R$ 10,9 bilhões com eletroeletrônicos, já ultrapassa o da classe B em categorias de produtos como eletrodomésticos, móveis, itens de higiene e beleza, e medicamentos (ESPM, 2012a). Diante do exposto, é lançada a seguinte hipótese: H1: O brasileiro não consegue pagar suas contas em dia, pois ainda não tem educação financeira para fazer um planejamento orçamentário. 3. METODOLOGIA A pesquisa está pautada na análise quantitativa de dados secundários, extraídos principalmente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), com foco nas estatísticas sociais e econômicas do País nos anos de 2001 a 2009, disponibilizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e outros centros de pesquisa. 6

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Esta base de dados foi escolhida por apresentar unidades de medida padronizadas e consistentes, com séries editáveis para a realização de operações matemáticas e estatísticas, além da possibilidade de selecionar períodos específicos, mudar a periodicidade das séries, gerar índices e taxas de crescimento (IPEA, 2012). Os dados coletados mostram as taxas de inadimplência do consumidor brasileiro, sua renda familiar per capita e os índices de analfabetismo no Brasil. O objetivo da análise é entender o comportamento de consumo do brasileiro frente a um cenário econômico e social positivo, com diminuição do número de analfabetos e aumento da renda média familiar. O período em análise é entre os anos de 2001 e 2009, pois retratam o cenário social e econômico da última década completada, incluindo o período da crise financeira que afetou muitos países em 2008. Desta forma, é possível visualizar se há ou não mudança no comportamento do consumidor brasileiro neste período, podendo-se inferir se a recessão abalou o país. Para explicar tais mudanças, nesse trabalho são adotadas as seguintes variáveis: inadimplência (variável dependente), renda familiar per capita e taxa de analfabetismo (variáveis explicativas ou independentes). Pretende-se entender como a alteração dessas últimas variáveis afeta a taxa de inadimplência. Para tal, foi feita a análise estatística a partir do método de regressão linear múltipla (ANDERSON; SWEENEY; WILLIANS, 2007). Para verificar a confiabilidade e a validade da análise, foi feita a análise da consistência dos resultados que servem de base para inferências, recomendações, ou a aceitação do fato estudado (KRIPPENDORFF, 1980) por meio do gráfico de ajuste do modelo, análise do erro padrão e o índice de explicação geral (R²). Os dados são apresentados na próxima seção. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS A seguir, são apresentados os dados das variáveis exploradas nesse estudo no período de 2001 e 2009:

Ano 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Inadimplência 7,59 6,38 5,22 4,32 5,04 5,43 5,55 6,58

Renda Familiar per Capita 571,31 571,62 538,21 550,84 583,96 638,29 655,83 689,61

6,85 2009 705,72 Tabela 1: Taxa de inadimplência, renda familiar e analfabetismo no Brasil. Fonte: IPEA (2012); Todos pela Educação (2012).

Analfabetismo 12,3 11,8 11,5 11,4 11,1 10,4 10 10 9,7

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A partir desses dados, observa-se que a taxa de inadimplência teve queda significativa no período de 2001 a 2004, mas apresentou aumento constante a partir de 2005. De acordo com a teoria, fatores como a ampliação da oferta de crédito à pessoa física, aumento da participação feminina no mercado de trabalho, bem como a queda no preço dos alimentos podem ser o motivo para esse aumento (TORRES; BICHIR; CARPIM, 2006). O que chama a atenção no estudo é o fato de, no mesmo período, as taxas de analfabetismo terem caído e a renda familiar per capita ter subido. Como as pessoas não conseguem quitar suas dívidas se estão com melhores condições econômicas e mais indivíduos da família recebem educação? De acordo com Macedo Jr. (2007), a população brasileira enfrenta problemas para administrar suas dívidas e adquirir bens. Com melhores condições econômicas, as pessoas buscam consumir produtos e serviços que possam lhe proporcionar qualidade de vida. Dentre essa população, destacam-se as classes C e D, que ocupam uma posição de destaque na economia brasileira (DANTAS et al., 2011). A partir dessas informações, foram encontrados os resultados apresentados na Tabela 2:

Estatística de regressão R múltiplo R-Quadrado R-quadrado ajustado Erro padrão

0,94497487 89% 0,857303339 0,389172282 6,61%

Observações

9

ANOVA gl

SQ

Regressão Resíduo

2 6

7,58229183 0,908730392

Total

8

8,491022222

Coeficientes

Erro padrão

-40,30532052 0,036

6,684095549 0,005084407

Analfabetismo (A) 2,217 0,343291258 Tabela 2: Estatística de regressão linear múltipla. Fonte: elaborado pelos autores.

Interseção Renda per capita (RF)

MQ

F

3,791145915 25,03148975 0,151455065

Stat t

valor-P

F de significação 0,00122581

95% inferiores

95% superiores

-6,030033566 0,000939578 7,071928285 0,000400612

-56,66071313 0,023515467

-23,94992791 0,048397659

6,459347454 0,000652736

1,377434064

3,057440957

Na construção da equação, foi adotado um índice de significância (α) de 5%, com intervalo de confiança de 95%. Portanto, todas as variáveis explicativas devem apresentar valor –p menor ou igual a 5%, o que pode ser observado na Tabela 2, onde os valores –p das variáveis Renda per capita e Analfabetismo são muito próximos de zero. Desta forma, estão dentro do limite adotado no estudo. A hipótese também pode ser aceita pelo valor de F de significação, que é menor que o valor F. 8

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A equação resultante da análise (– 40,305 + 2,217*A + 0,036*RF) explica 89% da variação da inadimplência, portanto, é um bom modelo explicativo. O erro padrão está dentro do limite aceitável de 8%, sendo mais uma justificativa para confirmar a hipótese do estudo. O gráfico de aderência do modelo também releva bom ajuste, conforme apresentado na Figura 1: 8 7 6 5 Inadimplência 4 Previsto(a) Inadimplência

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2 1 0 1

2

3

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Figura 1: Gráfico de aderência do modelo. Fonte: elaborado pelos autores.

A Figura 2 mostra a plotagem dos resíduos, na qual foi identificada a presença de um outlier (ultrapassou o limite de três desvios padrão), referente ao ano de 2003, quando a taxa de inadimplência caiu e a renda familiar per capita também registou decréscimo. Porém, a Figura 2 apresenta média e soma dos erros igual a zero e não dá evidências de que exista uma estrutura, estando uniformemente distribuído em torno do zero (ANDERSON; SWEENEY; WILLIANS, 2007).

0,8 0,6 0,4 0,2 Erro 0 0

2

4

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-0,2 -0,4 -0,6 Figura 2: Plotagem de resíduos. Fonte: elaborado pelos autores.

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A partir desta análise descritiva, é possível inferir que, embora a família brasileira esteja com melhores condições financeiras e mais pessoas com acesso à educação, ela não está preparada para organizar seu orçamento e, consequentemente, suas dívidas. Portanto, a hipótese de que falta de educação financeira é um dos fatores para o aumento da inadimplência pode ser confirmada, ainda que a presença de outros aspectos influencie também exerças influências sobre o número de inadimplentes. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo teve como objetivo verificar a relação entre o aumento da renda familiar per capita, a diminuição das taxas de analfabetismo e o crescimento da inadimplência entre os anos de 2001 e 2009 a partir de uma regressão linear múltipla, com dados do IPEA, do IBGE e do Programa Educação para Todos. Partindo do pressuposto que o brasileiro não tem educação financeira, acreditase que ele enfrenta dificuldades em administrar o orçamento familiar e individual, ainda que tenha melhores salários e mais acesso à educação básica. De acordo com Alves (2007), o problema das pessoas surge na falta de educação financeira e na falta de planejamento. Outro problema que contribui para o aumento das dívidas é a busca pelo status e pela satisfação pessoal, que leva os consumidores a consumir sem planejar e aumentar seu endividamento (LORENSI et al., 2007). Conclui-se, então, que salários mais altos e a ampliação do sistema educacional não resolvem sozinhos os problemas de endividamento do brasileiro. É necessário implantar programas e ações de educação financeira nas escolas, nas empresas e, até mesmo, nos bancos, para que o consumidor esteja atento aos seus gastos, consiga planejar melhor suas compras e viva em condições econômicas equilibradas. Estudos anteriores mostram que a inserção de programas de educação financeira desperta no indivíduo a aptidão de poupar e organizar suas finanças (BRAUNSTEIN; WELCH, 2002; MANDELL, 2005). Desta forma, o estudo torna-se relevante por levantar questões sociais e econômicas que afetam o crescimento e desenvolvimento social e econômico do País, já que uma nova classe ascende e se torna, cada vez mais, a força motriz do mercado nacional. A educação é fator chave para o desenvolvimento dos brasileiros, bem como da economia. A limitação deste trabalho está na coleta dos dados, o que fez com que os últimos dois anos não entrassem na análise. Uma técnica complementar seria a realização de entrevistas com educadores, profissionais do setor financeiro e economistas, pois as possibilidades de extrair novas informações e conteúdo mais aprofundado são maiores. Além disso, é importante entrevistar o próprio consumidor e entender melhor seus hábitos de consumo e como ele faz seu planejamento financeiro. Para estudos futuros, sugere-se que busque estabelecer a relação entre as variáveis desse estudo e o consumo de produtos e serviços de lazer e entretenimento, pois parecem ser os artigos que contribuem no aumento das dívidas e falta de controle nas compras.

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