19º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas “Entre Territórios” – 20 a 25/09/2010 – Cachoeira – Bahia – Brasil
BORDADO E MEMÓRIA: A FIGURAÇÃO DO MANTO EM BISPO DO ROSARIO E HILAL SAMI HILAL Cristina de Oliveira Caetano, bolsista PIBIC, UERJ Profª. Doutora Vera Beatriz Siqueira, UERJ Instituto de Artes/ ANPAP
RESUMO: O objetivo desta pesquisa é tentar compreender o significado histórico-artístico do uso do bordado em obras de arte, como de Arthur Bispo do Rosário e Hilal Sami Hilal. Na comparação de obras desses dois artistas centradas na figuração do “manto”: o “Manto da Apresentação” de Bispo e o manto “Abrigo” de Hilal. Nessas duas obras, busco analisar os signos da memória envolvidos na criação artística. Palavras-chave: Manto, Memória, Bordado. ABSTRACT: The aim of this research is try to understand the historical and artistic significance of the use of embroidered works in art, as Arthur Bispo do Rosario and Hilal Sami Hilal. When comparing the works of these two artists focused on the figure of the “mantle”: the “Mantle of presentation" of Bishop and the mantle "Shelter" by Hilal. In these two works, I try to analyze the signs of memory involved in artistic creation. Key words: Manto, Memory, Embroidery.
O MANTO EM BISPO E HILAL Na obra de Bispo do Rosário, pretendo perceber como a inserção da escrita bordada no Manto de Apresentação, procura a sublimação de suas memórias pessoais. A idéia de que o manto deverá servir para sua apresentação a Deus envolve a noção de arte como transgressão do elemento comum e corriqueiro da vida, ligando as esferas da estética e do sagrado. Deleuze nos mostra que “a arte nos dá a verdadeira unidade: unidade de um signo imaterial e de um sentido inteiramente espiritual” (2006,pág.38), a obra de Bispo não está na matéria, mas sim na sua ligação com a essência espiritual e estética.
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Arthur Bispo do Rosário Manto da Apresentação Tecido e linha.,. 5 x 141 x 20 cm.
Em Hilal Sami Hilal, por sua vez, o manto Abrigo pretende recuperar a memória da figura do pai e, através desta, suas próprias memórias pessoais, articulando-as na figuração complexa de um manto que tanto pode ser protetor quanto lembrar o pano que cobre o defunto (o pai morto). Seligmann nos mostra que “rememorar a tragédia e enlutar os mortos” (2003, pág.52) é um ato de tentar superar a “ferida aberta pelo trauma”. Hilal ao ser fotografado sob o manto Abrigo, traz consigo: “A placidez da imagem sob o aconchego da estrutura vazada supera o desamparo”. (2008, pág.77)
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19º Encontro da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas “Entre Territórios” – 20 a 25/09/2010 – Cachoeira – Bahia – Brasil
Hilal Sami Hilal Abrigo/Shelter,2007 5,20x 9,50 m
Nos dois casos: “Desfazia a veste, aproveitava fio por fio, e começava a tecer.” (Hidalgo, 1996:26). A artesania compulsiva se funde com as idéias de morte e luto, trazendo para o trabalho artístico e para a própria criação – a arte do fazer, do desconstruir e reconstruir da matéria e da memória – um sentido simultaneamente íntimo e transgressor.
REFERÊNCIAS DELEUZE, Gilles. Proust e os Signos. Rio de Janeiro, Ed. Forense Universitária, 2006. HILAL, Hilal Sami. Seu Sami. Catálogo da exposição realizada no Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 2008. SELIGMANN, Silva Marcio (org). História, memória, literatura: o Testemunho na Era das Catástrofes. Campinas, Ed. Unicamp, 2003.
Cristina de Oliveira Caetano é graduada em Licenciatura em Artes Visuais pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, aluna do curso de Bacharelado em Artes Visuais, bolsista PIBIC da referida universidade.
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