Atraído pela “bagunça” do bem

8 • UNIPAUTAS • 2014/1 ESPECIAL Estrangeiros em Porto Alegre Atraído pela “bagunça” do bem Charles Di Pinto, nascido na Filadélfia, alterna períodos...
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8 • UNIPAUTAS • 2014/1

ESPECIAL Estrangeiros em Porto Alegre

Atraído pela “bagunça” do bem Charles Di Pinto, nascido na Filadélfia, alterna períodos nos EUA e no Brasil, mas há oito anos fixou-se em Porto Alegre Luiza Guerim

A

cidade de Porto Alegre vem recebendo cada vez mais pessoas de diversas partes do mundo. Com uma média anual de 1,7 mil novos cadastros destinados a estudos ou trabalho, a capital gaúcha já conta com 29.485 moradores estrangeiros. Um deles é o comunicador e professor universitário norte-americano Charles Di Pinto, 42 anos, nascido na Filadélfia. De pai americano e mãe gaúcha, Charles teve desde pequeno contato com o Brasil e a língua portuguesa, da qual possui completo domínio. Em 1990, com 18 anos, Charles se mudou com sua família para Porto Alegre pela primeira vez, e desde então o comunicador intercala períodos morando no Brasil e nos Estados Unidos. Durante esses 24 anos, o professor universitário conta que

Para o americano, o melhor da cidade são as pessoas . Foto: Luiza Guerim

viu uma grande transformação na capital gaúcha: “se eu tivesse vindo nos anos 90 e voltado em 2014, eu não reconheceria como sendo a mesma cidade”. Para Charles, a grande diferença entre sua cidade natal e Porto Alegre está no comportamento das pessoas. A informalidade e

proximidade do povo brasileiro contrastam com o distanciamento do americano, algo que lhe causou choque em sua chegada ao país. Entretanto, segundo Charles, esse aspecto do povo estaduniense é a razão da organização da sociedade: “Essa distância é uma forma de organização, de

funcionar de forma mecânica. A complexidade de uma sociedade, quando é bem organizada, traz certo distanciamento.” A opção por Porto Alegre O comunicador define Porto Alegre como uma “bagunça”, mas

não apenas no sentido negativo da palavra. Para ele, é justamente esse aspecto da cidade que aproxima as pessoas e resulta naquilo que mais gosta na capital gaúcha: o povo. “O Brasil encanta, as pessoas tem um comportamento muito interessante. São mais informais, mais soltas, mais bagunçadas”, explica o norte-americano. Porém, essa bagunça é também negativa. Para Charles, o jeito “esperto” do brasileiro, furando filas e buscando levar vantagem em suas ações, e a falta de organização da cidade são resultado dessa caracerística da capital. O americano fez ainda uma comparação curiosa a respeito do transporte público da cidade: “andar de ônibus em Porto Alegre lembra muito os jogos da Disneylândia, porque tem curvas fortes, pula para cima e para baixo e tem um monte de gente se empurrando”, brinca Charles. Há oito anos vivendo regularmente em Porto Alegre, o professor universitário vê a capital gaúcha e o Brasil vivendo um momento especial, mais abertos para pessoas com ideias novas e empreendedoras.

A trajetória de uma imigrante alemã no RS Hamburguesa encontrou em Porto Alegre tradições, comidas e até o estilo alemão de sua cidade natal Lucille Soares

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Objetos de decoração da casa remetem à cultura alemã. Foto: Lucille Soares

ascida em Hamburgo, na Alemanha, Susane Scheffer e sua família vieram para o Brasil há cerca de 40 anos, quando ela tinha apenas sete. Seu pai era engenheiro mecânico especializado em fábrica de óleo vegetal e mudou-se para cá quando uma grande fábrica alemã, que exportava óleo, resolveu expandir suas empresas para o Brasil, implementando filiais em Belo Horizonte e Porto Alegre. Vieram para Porto Alegre na época da ditadura militar, e Susane, que já havia cursado a 1º série na Alemanha, estudou em um colégio alemão da capital. Alguns anos depois seu pai

deixou de trabalhar na empresa que o trouxe, entretanto decidiu ficar aqui com sua família, pois passou a achar a qualidade de vida no Brasil melhor do que na Alemanha. Assim, deixaram alguns parentes lá, inclusive seus avós, os quais visitam quando é possível, porém ela só voltou a seu país de origem duas vezes, na infância e na adolescência. Com vinte e três anos, Susane pensou em voltar a morar na Alemanha, ideia que assustava muito seu pai, até que conheceu seu marido, e mudou seus planos, constituindo família aqui. Susane formou-se em Arquitetura e hoje trabalha como Projetista de Fábrica na Petrobras. Devido ao seu cargo, tem contato com diversos estrangeiros que vêm morar no Brasil, e vê que todos têm dificuldade de adaptação, longe das famílias, e nem sempre são recebidos com hospitalidade. Quando questionada sobre

voltar à Alemanha, ela diz que ainda não pensa em retornar, pois acha que quando um imigrante volta, existe uma espécie de preconceito em função da ideia de que em tempos difíceis se abandona a terra natal e depois se volta, quando a situação está melhor. Entretanto, ela acha que se tivesse ficado lá seu nível de estudo e trabalho seriam superiores. E sonha que, no futuro, o filho faça seus estudos no exterior. Em Porto Alegre, Susane encontrou um pouco dos costumes alemães, que ela cultiva até hoje. Um exemplo são as confeitarias, onde se podem encontrar doces típicos da Alemanha. Susane também destaca bairros porto-alegrenses, como Moinhos de Vento, onde se podem perceber características alemãs. Em sua casa, vemos objetos de decoração que nos remetem à cultura alemã, e uma série de livros originais em alemão.