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AS ESCOLAS DA COLÔNIA D. PEDRO II EM JUIZ DE FORA E ACESSO À EDUCAÇÃO PRIMÁRIA NA TRANSIÇÃO DO IMPÉRIO À REPÚBLICA Marco Aurélio Corrêa Martins Doutorando em educação PPGE/ UFJF Bolsista Capes [email protected] Palavras chave Colônia D. Pedro; instituições escolares; escola étnica; politicas de escolarização. Essa pesquisa foi realizada a partir da literatura disponível e do arquivo do Grupo de Pesquisa em História da Educação da UFJF. Com o objetivo de reconhecer a história da Escola da Colônia de Dom Pedro e esclarecer suas origens e destinações dentro do processo de institucionalização da instrução primária no município de Juiz de Fora, Minas Gerais. Há na narrativa uma inspiração na obra Tempo e Narrativa de Ricoeur que procurou compreender a passagem do tempo a partir do conceito de tradicionalidade e de tradição embora o objetivo do texto fosse de dar apenas uma historização dessas instituições escolares. A origem das escolas A fundação da Cia União e Indústria nos remete aos primórdios da Vila de Santo Antônio e da cidade do Paraibuna. A Vila de Santo Antônio do Paraibuna foi criada em 1850 por lei provincial mineira. A expansão desta vila ocorreu a partir de uma variante do “Caminho Novo” conhecida como “Estrada do Paraibuna” construída pelo engenheiro alemão, Halfeld, o qual ficou conhecido como o fundador da Vila. A Cia União e Indústria construiu uma estrada pavimentada entre Juiz de Fora e Petrópolis, facilitando acesso entre Minas Gerais e o Rio de Janeiro para o transporte de cargas e de passageiros. Era uma Sociedade Anônima e tinha como principal acionista Mariano Procópio. Para os trabalhos da Companhia, Mariano Procópio usou incentivos Imperiais para a imigração e firmou contrato para trazer dois mil “alemães”. Com isso, a Companhia teve um bom aporte financeiro e foi aos Estados Alemães buscar artífices para a obra da estrada e agricultores para a Colônia fundada no entorno da sede da Companhia. Os primeiros imigrantes começaram a chegar em 1858 e foram viver num novo núcleo urbano próximo da

vila e que recebeu o nome de Juiz de Fora, sendo, posteriormente, incorporado à cidade a qual passou a ser designada por esse nome. Os artífices ficaram nesse núcleo em torno da sede da União e Indústria. Os colonos foram assentados em três setores da Colônia D. Pedro II: a colônia de cima; a colônia de baixo e colônia do meio. Foram criados 200 pequenos terrenos agrícolas para o assentamento. Em 1861, ano da inauguração da Estrada, a Companhia fez funcionar duas escolas na colônia: uma católica e outra protestante. As diversas fontes afirmam que as escolas possuíam matrícula de 124 crianças de ambos os sexos (cf. BASTOS, 1961; STEHLING 1979). Stehling (1979) apresentou dados sobre grupos de crianças de 6 a 10 anos com um total de 165 crianças e de 11 a 15 anos, com um total de 145 crianças. Se considerarmos o grupo composto da maior parte das crianças em idade escolar, temos que cerca de 80% das crianças em idade escolar estavam, portanto, providas pelas escolas da Colônia. Se tomar a porcentagem hodierna na qual arbitra ser em torno de 12% da população o número de crianças em idade escolar, temos que a matrícula necessária seria de 137, o que é bem próximo do que aparece como matrícula efetiva. Crianças com mais de 10 anos podiam trabalhar de modo que a permanência na escola pode ter sido dificultada. A escolarização iniciada na Colônia de D. Pedro II deixou Juiz de Fora numa situação bastante interessante quando a matrícula no ensino primário, se os dados de que a população da cidade havia triplicado com a chegada dos imigrantes estiverem corretos. A historiografia local procurou indicar a relação entre esses imigrantes e o processo de industrialização vivido pela cidade no final do século XIX. No entanto, há novas pesquisas que questionam essa relação direta. Dentro da Colônia as distâncias eram grandes: a Colônia de Cima tinha moradores que distavam entre 8 a 11 km da escola na Villagem, o que, certamente, fazia impacto sobre a matrícula e a frequência. No início do Século XX, a ex-colônia de Cima ainda era considerada Zona rural do Distrito de Juiz de Fora. As escolas da Colônia começaram a funcionar em Janeiro de 1861. Havia dois tipos de divisão nas escolas: uma por grau e outra por religião. Eram 124 crianças sendo 64 meninos e 60 meninas; 66 na classe elementar (46 meninos). Sobre o prédio, o Jornal do Comércio de 25 de julho daquele ano assim se referia: “A casa é dividida em dois grandes compartimentos, a fim de separar a classe elementar da que se compõe dos alunos mais adiantados nas matérias

do ensino primário”. Haviam três professores: um casal católico e um professor protestante. A esposa do primeiro ensinava, segundo o jornal, primeiras letras às meninas e os trabalhos de agulha. Esses professores eram alemães vindos de Petrópolis: o casal já fora professor naquela cidade e o professor protestante era oriundo da Colônia Primavera, também em Petrópolis. Sem alguma explicação, os salários dos três eram diferentes já que os católicos juntos recebiam um conto e quinhentos mil réis (1:500$000) anuais e o protestante seiscentos mil réis (600$000) anuais. O Imperador examinou alunos de ambos os sexos nas duas classes (STEHLING, 1979, p. 220-1). Vejamos como Sua Majestade avaliou esta escola em seu famoso Diário: Depois fui à escola dos colonos, em que há promiscuidade de sexos, separando-se em duas repartições de principiantes e de já um pouco adiantado. Aprendem a ler, escrever e aritmética, com o professor Klaeser, e as meninas trabalhos de agulha com a mulher do professor, o qual parece-me inteligente. Os meninos lêem bem o alemão, porém o português sem o entenderem e com o sotaque alemão. Letra em geral má e pouco adiantamento em aritmética. A escola foi aberta em janeiro. O professor explica em alemão. No fim os alunos cantaram em coro. Freqüentam a classe mais adiantada 40 meninos e 18 meninas e a outra 44 daqueles e 24 destes. Nas escolas da cidade os meninos são 20 e tanto e as meninas 30 e tantas não estando em dia a escrituração da matrícula. (Diário do Imperador apud STEHLING, 1979, p. 228).

Durante muitos anos aquela rua onde foram construídas as escolas, ficou conhecida como Rua das Escolas no final da qual foi construída uma capela e a Escola Agrícola de Juiz de Fora, fruto de um dos diversos acordos pedidos por Mariano Procópio ao Governo Imperial em função das dificuldades da Cia União e Indústria. Com a morte de Mariano Procópio em 1872 a Cia União e Indústria faliu. Já acumulava problemas com a chegada da ferrovia. A Escola Agrícola foi logo fechada, mas as escolas primárias funcionaram ainda mais tempo. As referências a elas em Stehling (1979) são esparsas e pouco detalhadas. Com o fim da Companhia é possível antever as dificuldades em se manter essas escolas. Dois anos antes da falência, em 1870, o viajante Oscar Constant, em suas descrições sobre sua passagem por Juiz de Fora, falava que os colonos conseguiam plantar e colher, mas não conseguiam vender seus produtos de modo que também não possuíam dinheiro. Segundo essa narrativa a situação das escolas e da igreja da Colônia não eram muito boas (apud STEHLING, 1979, p. 315-317).

Pela descrição das escolas e sua manutenção ligada à colônia é possível ainda levantar questão quanto ao fato de ser uma escola étnica. Kreutz (2010, p. 347) colocou em cheque a ideia de uma etnia única já que, no Brasil, chamou-se alemão ou italiano a um grupo étnico diversificado. No entanto, foi comum entre eles manter alguma identificação tal qual se podia considerar “colono estrangeiro”, signo de trabalhador. O diário do Imperador há informação do uso do alemão na escola (STEHLING, 1979). Posteriormente, já na República, em seus relatórios, Estevão de Oliveira trouxe sérias críticas a essas escolas étnicas (cf RODRIGUES, 2009). No Relatório de Estevão em 1900, Rodrigues (2009, p. 205) concluiu haver três inflexões possíveis para a questão das escolas étnicas: o papel da instrução pública na assimilação do imigrante e incorporação à nacionalidade brasileira; o risco de se ter nas colônias um “Estado estranho infixo”, estrangeiro, dentro do território; o papel da língua na constituição da nação e, portanto, sua importante e obrigatória presença nas escolas étnicas. Em 1885 com a liquidação da Cia União e Indústria, a Comissão liquidante doou ao “Culto Católico Mariano Procópio” e ao “Culto Evangélico Mariano Procópio” bens da Colônia D. Pedro II em extinção: a escola e seu prédio conforme documento de doação em 30/06/1885 de igual teor para cada denominação religiosa. Segundo Esteves (2008, p. 254) o “Culto Católico” foi fundado em 1879. Além disso, deixou metade da dívida dos colonos e 573$960 (quinhentos e setenta e três mil, novecentos e sessenta réis) em dinheiro ao “culto divino e a manutenção das escolas”. A doação era idêntica ao Culto Evangélico. Com o falecimento do Prof Klaeser, primeiro professor da escola católica, essa ficou fechada até a vinda do padre Januschka em 1885. Após a morte deste sacerdote, em 1893, ficou fechada até 1900 quando foi reaberta pelas irmãs de Santa Catarina trazidas a Juiz de Fora por intermédio do Cônsul alemão. Irmã Crescência, Irmã Augusta e Irmã Hildegundes, as primeiras a chegar, foram alojadas no Asilo João Emilio e depois se mudaram para uma casa próxima à colônia adquirida para esse fim. (STEHLING, 1979, p. 386-7). Estevão de Oliveira descreveu a escola em seu relatório de 1900 “como externato primário misto, dirigido por duas irmãs de caridade também alemãs, da Ordem de Santa Catarina, que mal conheciam a língua portuguesa”. A escola possuía, então, 125 alunos, e separava meninos de origem alemã dos meninos de origem brasileira. (Apud RODRIGUES, 2009, p. 201). Nos anos de 1900 a 1903, conforme publicações em o Jornal de Comércio, a associação “Culto Católico Mariano Procópio” realizou várias festas e quermesses em favor

da escola alemã ou das irmãs de Santa Catarina ou, ainda, escola dos pobres. (RODRIGUES, 2009, p. 173). Estes os nomes pelos quais era referenciada, do que se falará mais adiante. Em 1907 os padres redentoristas iniciaram uma ação contra o Culto Católico reivindicando a posse dos bens dessa agremiação levando tal questão ao fórum da justiça dois anos depois. Os padres obtiveram êxito no fórum local, sentença confirmada no Tribunal de Relação do Estado. Perdendo esses bens, o “Culto Católico” perdia também a sua razão de existir. Stehling (1979, p. 269) não apresenta a data das sentenças. Estimo que seja por essa data a extinção também da Escola, embora Esteves (2008, p. 254-5) nos deixe referencias da existência do Culto Católico em 1915 enumerando os membros de sua diretoria. Oliveira (2009) narrou a união do Culto Católico ao Culto Evangélico na ocasião da contenda com a Igreja. Podemos supor a coexistência dessas escolas ainda em 1915. Com a questão entre os padres Redentoristas e o “Culto Católico”, as referidas irmãs deixaram de lecionar em 1907, segundo Stehling, por “ordem das autoridades eclesiásticas”. Quando então fundaram uma “Escola Mista Paroquial” no salão São Geraldo até 1910. Dois anos antes começaram a construir o Colégio Santa Catarina inaugurado em 1910 para onde transferiram a Escola Mista Paroquial. (STEHLING, 1979, p. 386-7). Informação documentada de Oliveira (2009, p. 92) apresenta citação de um panfleto escrito pelo Redentorista Padre Wiegant dando como inauguradas as Escolas Paroquiais em 1901. Isso nos leva a pensar serem ambas, Escola Paroquial e escola do “Culto Católico” na Rua das Escolas, neste período até 1907, as mesmas, mesmo tendo-se em vista a criação de uma mantenedora para as escolas paroquiais (cf. OLIVEIRA, 2009). Durante a contenda com os padres redentoristas, a escola católica ficou fechada um curto espaço de tempo devido à saída das freiras retornando em seguida com professores leigos até o encerramento do Culto Católico. (STEHLING, 1979, p. 386-7). Uma política da Igreja nas duas primeiras décadas da República era recuperar os chamados “bens eclesiásticos” que estavam nas mãos de instituições civis. Mas Oliveira (2009) apontou que as divergências entre o Culto Católico e os Redentoristas iam além de bens, abrangendo questões culturais em geral, método de ensino e uso da língua alemã nas escolas. As Escolas Paroquiais da Igreja da Glória continuavam ainda em 1915 com os trabalhos de duas aulas na Rua das Escolas sendo uma em português e outra em alemão, supondo serem as que foram mantidas pelo Culto Católico Mariano Procópio até o fim da contenda judicial; além de duas aulas no Colégio Santa Catarina e outra no Salão S. Geraldo

da Igreja, a cargo das Irmãs da Congregação de Santa Catarina, e outra na Tapera com a professora D. Alice Fassheber. (ESTEVES, 2008, p. 265). Se as referências à escola católica são pequenas, à escola luterana são ainda menores. Apenas nos diz Stehling que o Professor Max Engel foi contratado para lecionar na Escola Evangélica da Colônia, chegou em 1885 e se destacou na construção da igreja. (STEHLING, 1979, p. 387 e 392). Na descrição das escolas alemãs no relatório do Inspetor Estevão de Oliveira e nas informações de Stehling, percebe-se que há confluência entre instituições com nomes similares e sobreposição da mesma instituição com nomes distintos. É o caso da Escola Santa Catarina que funcionava no mesmo prédio descrito por D. Pedro II e que o Inspetor deu com novo nome e fundada em 1900. As mesmas religiosas criaram a Escola paroquial junto ao Curato de N.S. da Glória e, dois anos depois inauguraram a própria Escola Santa Catarina, essa de caráter particular e confessional: note que há nas descrições, referencias a três instituições distintas com o mesmo nome. Além disso, o mesmo relatório de Estevão afirmava que a Escola Santa Catarina concorria com aulas públicas, estadual e municipal, existentes naquele bairro, reduzindo sua frequência. Durante o período em que cuidaram das escolas da Colônia as religiosas criaram uma escola feminina que funcionou no prédio da extinta escola Agrícola, a mesma que veio a se instalar no prédio construído para tal fim perto da Igreja de N.S. da Glória, onde funciona ainda atualmente. Escolas públicas e escolas religiosas Em 1895, conforme publicação no Correio de Minas de 10 de novembro, noticiado os exames em duas escolas públicas estaduais da ex-colônia D. Pedro II, uma masculina regida por D. Cândida de Freitas Meirelles e outra, também masculina, regida por D. Cecília Guimarães. O mesmo jornal publicou dia 22 de novembro do mesmo ano, a lista das escolas públicas municipais onde se refere à escola da “Colônia de Cima” e à “Rua das Escolas” (RODRIGUES, 2009, p. 161-2); a Resolução n° 459 de 14 de outubro de 1899 da Câmara Municipal de Juiz de Fora, indicava duas escolas mistas, dentre as nove escolas municipais do distrito sede (GPHE, origem Arquivo Histórico PJF). Essas mesmas escolas municipais foram mencionadas pelo Correio de Minas em 26 de outubro de 1897, no Jornal do Comércio, 31 de janeiro de 1898, além do Relatório do Inspetor Estevão de Oliveira em 1900 conforme já mencionado anteriormente. Assim, na extinta Colônia de D. Pedro, 10 anos após a liquidação da Cia União e Indústria, havia quatro escolas públicas duas estaduais e duas municipais,

sendo que as escolas do município, em geral, eram mistas. Importante notar nestes quadros de frequências publicados nos jornais, que as escolas municipais possuíam um alto índice de frequência, média no município de 83%, e as duas da ex-colônia tinham essas médias em torno de 90% cada uma. Pela descrição do Relatório de Estevão de Oliveira de 1899, a Escola de D. Cândida parecia funcionar na Colônia de Cima, atual Bairro de São Pedro. Esta professora, segundo o mesmo relatório, estava em provimento desta escola desde 1895. A descrição da professora repercute sobre o Inspetor o precário estado social em que estava a periferia da cidade e os descendentes de alemães. Quanto à escola regida por D. Cecília Guimarães, o Inspetor estranhava que, apesar de ser uma escola da ex-Colônia de Dom Pedro, estava oito quilômetros distante desta: “Não conheço a lei que criou esta escola, mas a verdade é que ela não pode continuar a funcionar aqui na sede da cidade, quando foi criada para um sitio”. (Relatório de Inspeção do Ensino, 1899 apud RODRIGUES, 2009, p. 190). Esta era uma escola feminina e segundo o relato da professora tinha maioria de suas alunas de origem “teutônica”, embora as notícias do Jornal de Comércio de 1895 afirmassem ser uma escola masculina. O Inspetor enumera os problemas relativos a isso não avalizando os números de frequência anotados, pois se sabia que as alunas saiam antes do horário para levar as marmitas dos pais nas indústrias locais. Nas indicações que deu, a escola estava localizada em uma casa, provavelmente a residência da professora: “Como pode um professor ou professora deslocar assim arbitrariamente e à sua direção o local de uma escola, quando ele está designado na lei que o criou?” (RODRIGUES, 2009, 189). Na Villagem, a cadeira urbana mista era regida pela professora Rita de Cássia de Souza. (RODRIGUES, 2009, p. 188). O quadro de escolas públicas de Juiz de Fora em 1897 do Arquivo Público Mineiro, reproduzido por Rodrigues (2009 p. 166) indicava a existência de duas escolas para a ex-colônia de D. Pedro, ambas rurais, e a da Villagem como urbana. Tal leva a inferir que a escola apontada por Estevão de Oliveira como estando na Rua da Gratidão também tenha sido criada na “colônia de cima”. Na notícia do Jornal do Comércio em 1895 ambas eram masculinas; no quadro de 1897 ambas eram mistas. No relato do Inspetor em 1899 aparece uma como feminina. As escolas municipais foram fechadas em 1905 devido à crise econômica. O inspetor escolar, Heitor Guimarães em relatório de 30 de novembro de 1905 lamentava que se

mantivessem fechadas três escolas municipais no distrito da cidade: a da Rua Bernardo Mascarenhas, a da Grama e a da Colônia de S. Pedro, todas mistas. O inspetor sugeria ao chefe do executivo, Dr. Duarte de Abreu a abertura de pelo menos a da Rua Bernardo Mascarenhas devido ao grande número de alunos que se atendia naquela região e que passaram a sobrecarregar as outras escolas da região central. (GPHE, origem Arquivo Histórico PJF). Esteves (2008, p. 173), em seu Álbum de 1915, nos dizia que funcionava na Colônia de Cima – São Pedro, uma escola mista frequentada por 48 alunos e regida por D. Izabel Nogueira de Mattos. A escola era municipal e subvencionada (ESTEVES, 2008, p. 261). Por esses dados, dá-nos a perceber que naquela data, o município de Juiz de Fora mantinha apenas essas duas escolas, excetuando-se os distritos, ambas subvencionadas: a de São Pedro, diurna e mista, e a de Borboleta, regida por Ignácio S. Lima, diurna e noturna, também uma escola mista. Segundo dados apresentados por Oliveira (2009, p. 106-7), a escola mista noturna subvencionada pela Câmara Municipal, em 1913, no Bairro Borboleta, era da Conferência São Vicente de Paulo e, seria esta, uma referência de ação educativa católica gratuita com participação de verbas públicas já que a autora não encontrou na documentação sobre o movimento financeiro das Escolas Paroquiais, referencias a subsídios públicos, mesmo quando estes apareciam aprovados nos documentos da Câmara. A partir do Mapa das Escolas Públicas de 1897 do Arquivo Público Mineiro, Rodrigues (2009, p. 166) apresentou um quadro de frequência das escolas estaduais de Juiz de Fora. O quadro não está completo e pode-se observar variações significativas na frequência em cada trimestre daquele ano. Rodrigues (2009) destacou a grande variação da frequência entre a escola da Villagem (urbana) e as da Ex Colônia (rural) e entre as escolas estaduais e as municipais. As escolas estaduais, embora apresentassem números próximos das médias do estado, eram menores que as municipais. Rodrigues (2009, p. 197) destacou a possibilidade de haver sobreposição entre as inspeções estaduais e municipais, indicando que as referencias às escolas pelos nomes utilizados não deixam esclarecer a relação de identificação entre as diversas nomenclaturas utilizadas. Os dados encontrados pela autora para 1899 identificavam essa sobreposição. Considerações finais

As inconsistências das informações sobre o passado não permite que muitas de nossas perguntas encontrem respostas, pois não são perguntas dos nossos ancestrais, mas do nosso tempo e de nossas vivências e experiências. O primeiro aspecto destacado no texto é a percepção de uma escolaridade gratuita, conforme preceituado na Constituição Imperial, mas mantido pela sociedade em suas mais diversas formas de associações e iniciativas. No entanto, o que se nos aponta como altamente relevante é a pretensão de universalidade, a qual não se coloca nos discursos daquele tempo, mas parece realizar-se para a escolarização urbana do município de Juiz de Fora ao menos em sua fundação. A função religiosa da educação e a relação conflituosa entre República e Igreja, apontam para uma importante contribuição no processo de escolarização urbana de Juiz de Fora. Ao propor as Escolas Paroquiais para crianças católicas pobres e disputar vagas com a escola pública, a Igreja cria um número de vagas aumentando as possibilidades de escolarização da população. A busca de uma linearidade para a historização de instituições escolares foi aqui, particularmente, canhestra. As designações a “aulas públicas”, ou “escolas primárias”, “cadeiras” etc. são indistintas ao se referir a estas escolas. Sugere uma nova forma de institucionalização “escolar” com mudança de paradigma quando se implantou o Grupo Escolar.

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