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1. Atividade Econômica Em virtude da deterioração da atividade econômica ao longo do segundo trimestre, Os indicadores da atividade econômica especialmente em junho, revisamos a referentes ao segundo e terceiro trimestres projeção de crescimento do PIB de 2014 indicam que o PIB de 2014 deve crescer 0,6% para 0,6%, e a do segundo trimestre deste ano para -0,4%. Como mostra a Tabela 1, esses resultados são determinados por contração substancial da indústria, com destaques para a transformação e para a construção civil. Além disto, o valor adicionado pelo setor de serviços no segundo trimestre resultará 0,5% menor do que o do trimestre anterior, algo que não ocorre há quase seis anos. Este resultado é explicado pelo péssimo desempenho do comércio (-4,0%) e dos transportes (-1,0%). Os destaques positivos são a indústria extrativa, para a qual projetamos alta de 4,9% no ano, e a atividade agropecuária, que deve crescer 3,7% em 2014. Note-se que ambos os resultados são compatíveis com melhora na balança comercial, principalmente quando somados ao fato de que a desaceleração da indústria de transformação diminui consideravelmente a demanda por bens intermediários (e, portanto, por produtos importados). Tabela 1: Projeção de Crescimento do PIB (%)

Fontes: IBGE e IBRE/FGV. Elaboração: IBRE/FGV.

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A expectativa de contração de 5,1% para o setor de construção civil em 2014 (a maior da série histórica) nos leva a esperar que os investimentos diminuam 6,5% em relação ao ano passado, com queda de 6,4% no segundo trimestre. Perda dessa ordem de grandeza só foi superada pelos números de 2009 (ano da crise internacional) e 1999 (ano da maxi-desvalorização cambial). Parte expressiva da desaceleração da construção civil ocorre devido à elevação substancial da taxa de juros observada desde o início de 2013. Todavia, ainda não está descartada piora adicional nessa atividade ao longo do ano, caso a confiança dos agentes se mantenha em patamares tão baixos como o atual. A construção civil pode, de acordo com nossas simulações, se contrair em até 8,0% em 2014. Neste cenário, a formação bruta de capital fixo cairia 8,4% em 2014 e esta seria a maior contração já observada para o investimento em toda a série de dados (iniciada em 1996). Na mesma linha, a absorção de máquinas e equipamentos também desacelerou substancialmente: acreditamos que tenha sido, no segundo trimestre deste ano, 12,2% menor do que no mesmo período de 2013. Além do fenômeno estrutural do setor de construção, outro fator preponderante para a interpretação da desaceleração do crescimento do segundo trimestre e de seus impactos nos trimestres seguintes é o efeito da Copa do Mundo: não só houve diminuição do número de dias úteis por causa dos feriados relacionados ao evento, como também ocorreu intensa contração da demanda por bens e serviços nos dias de jogos da seleção brasileira. Em contrapartida, vários indicadores coincidentes têm apontado forte recuperação da produção em julho. Como resultado, a indústria de transformação deve crescer 1,5% no terceiro trimestre, ainda abaixo da contração esperada de 2,9% para o segundo. A desaceleração da indústria de transformação acarreta diminuição na geração de energia, o que leva à revisão da projeção do crescimento na produção de eletricidade em 2014 para 2,5%. Os resultados desses setores fazem com que os impostos se contraiam em 2,1% no segundo trimestre (em termos interanuais) e fiquem estáveis na comparação de 2014 com 2013. De qualquer forma, não esperamos uma recuperação expressiva da indústria de transformação ao longo do ano, pois fatores estruturais limitam o crescimento do setor no médio prazo. Por fim, é marcante a desaceleração do consumo das famílias, refletida principalmente pela perda de ritmo da Pesquisa Mensal do Comércio do mês de junho. Ainda não é possível identificar quanto da desaceleração observada naquela divulgação se deve ao impacto da Copa do Mundo, mas a expectativa do consumo das famílias em 2014 representará, se concretizada, a menor expansão dos últimos dez anos. A desaceleração da massa salarial, a queda da confiança das famílias e, principalmente, a piora do sentimento em relação ao emprego certamente contribuem para que o consumidor entre num processo de desalavancagem e, por consequência, reduza o consumo. Silvia Matos e Vinícius Botelho