24| 9. Analista Convidado - IBRE

24 | 9. Analista Convidado Política Monetária e Crédito Um dia após indicar que taxa SELIC permanecerá estável em 11% por algum tempo, o Banco Centra...
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9. Analista Convidado Política Monetária e Crédito Um dia após indicar que taxa SELIC permanecerá estável em 11% por algum tempo, o Banco Central (BC) anunciou um grupo de medidas de aumento da oferta de crédito. De um lado, o BC alterou as normas dos recolhimentos compulsórios dos bancos, o que pode injetar até R$ 30 bilhões de oferta de crédito adicional na economia. Do outro, o BC também ajustou o fator de ponderação de risco (FPR) de algumas operações de crédito, o que, por sua vez, diminuiu o requerimento de capital dos bancos, sobretudos dos médios. Esta segunda ação pode injetar mais R$ 15 bilhões de crédito na economia. As medidas do BC geraram algumas críticas por parte do mercado, devido à suposta inconsistência entre ampliação de crédito e manutenção da SELIC. Tais críticas são infundadas, pois, da mesma forma que a estabilização da SELIC tem por objetivo interromper o ciclo de elevação das taxas de juro de mercado, a liberação de compulsório e a redução do FPR têm por objetivo interromper a desaceleração do crédito da economia. Uma ação vai no preço, a outra na quantidade, e as duas vão na mesma direção.

Gráfico 10: Depósitos Compulsórios no Banco Central (em % do PIB)

Fonte: Banco Central. Elaboração: IBRE/FGV.

Para avaliar as medidas quantitativas, vale a pena apontar que a oferta total de crédito no Brasil atingiu R$ 2,83 trilhões em junho (56,3% do PIB). Caso sejam bem sucedidas, as recentes medidas do BC representarão, portanto, um aumento de 1,7% no crédito total da economia. Uma vez que a taxa de crescimento anual do crédito já desacelerou de 13,4% em abril para 11,8% em junho, a injeção de recursos viabilizada pelo BC pode simplesmente levar a expansão do crédito para o ritmo verificado há apenas alguns meses. Por fim, cabe ressaltar que, mesmo após as medidas recentes, o recolhimento compulsório dos bancos continuará elevado. Como apresentado no Gráfico 10, o volume de depósitos compulsórios em percentual do PIB caiu rapidamente em resposta à crise de liquidez de 2008, mas subiu, também rapidamente, em 2010, quando a política monetária se tornou mais restritiva para combater a inflação. O encaixe compulsório dos bancos só voltou a cair como percentual do PIB a partir de 2012, quando a política econômica se tornou novamente expansionista. Considerando-se o período mais recente, os R$ 30 bilhões liberados pelo BC representam uma redução do compulsório para um nível ligeiramente abaixo do verificado em dezembro de 2012, o

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que por sua vez ainda é 50% superior ao verificado em agosto de 2008. Ainda levará algum tempo para os depósitos compulsórios voltarem à situação pré-crise de 2008. Nelson Barbosa