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7. Setor Externo Déficit em Conta Corrente Sobe, mas Balanço de Pagamentos é Superavitário 1. A contribuição dos “Outros Investimentos” para a conta financeira8 O déficit da conta de transações Gráfico 7: Saldos Líquidos dos Itens da Conta Financeira correntes (TC) de 2014 deverá fechar (acumulado no ano até novembro de 2013 e 2014, em US$ bilhões) num valor próximo a US$ 90 bilhões, o que provavelmente levará o coeficiente TC/PIB a um percentual um pouco acima de 4%; isso acende um sinal de alerta para a vulnerabilidade externa do país. No entanto, diferentemente de 2013, quando o saldo do balanço de pagamentos foi negativo (-US$ 5,9 bilhões), espera-se um superávit para 2014; até novembro, o saldo Fonte: BCB. Elaboração: IBRE/FGV. acumulado era de US$ 20,7 bilhões. Como o déficit em TC aumentou entre 2013 e 2014, o ganho nas reservas internacionais é explicado pelo desempenho da conta financeira, que passou de US$ 68,0 bilhões para US$ 96,1 bilhões, uma elevação de US$ 28,2 bilhões (janeiro a novembro). Na composição da conta financeira, tanto em 2013 (jan/nov) como em 2014 (jan/nov), o investimento direto líquido é o item de maior valor, seguido do investimento em carteira, conforme mostra o Gráfico 7. No entanto, as principais contribuições para o aumento dos fluxos financeiros entre 2013 e 2014 foram dos “outros investimentos” (US$ 20,4 bilhões), seguidos pelos investimentos em carteira (US$ 12,2 bilhões). O investimento direto líquido e os derivativos registraram queda entre os dois períodos. Os valores citados consideram o resultado líquido dos fluxos de capitais estrangeiros e brasileiros. Quando se destacam os fluxos de capital estrangeiro, o resultado não muda. Os investimentos estrangeiros diretos caem e os investimentos em carteira e outros investimentos aumentam (Gráfico 8). Neste último caso, a alta é explicada pela tomada de empréstimos pelo sistema bancário e pelas empresas brasileiras no exterior (Gráfico 9); o saldo passou de levemente negativo (-US$ 2,3 bilhões) para fortemente positivo (+US$ 37,6 bilhões). O crescimento da participação do investimento em carteira e dos empréstimos no financiamento do saldo em TC, em detrimento do investimento direto, deve ser acompanhado com cautela. Investimentos em carteira de curto prazo (títulos) dependem do movimento de taxas de juros e de avaliações de risco, e tendem a apresentar alta volatilidade. O aumento nos empréstimos eleva o 8

Informações do balanço de pagamentos até novembro de 2014.

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grau de endividamento do setor privado num contexto de baixo crescimento da economia brasileira e desvalorização cambial. Logo, é desejável que se garanta o aumento da entrada líquida do investimento direto estrangeiro, o que irá depender da estabilidade macroeconômica e, principalmente, das perspectivas de crescimento econômico do país. Gráfico 8: Saldos dos Fluxos de Capitais Estrangeiros por Tipo de Investimento (acumulado no ano até novembro de 2013 e 2014, em US$ bilhões)

Gráfico 9: Outros Investimentos Estrangeiros (saldos em US$ bilhões, acumulado no ano até novembro de 2013 e 2014)

Fonte: BCB. Elaboração: IBRE/FGV.

Fonte: BCB. Elaboração: IBRE/FGV.

2. Cai o déficit da conta petróleo e derivados e o superávit dos demais produtos Foi confirmado o déficit na balança comercial de 2014 (-US$ 3,9 bilhões), como era previsto, e as razões foram analisadas nos últimos Boletins de 2014, como a queda no preço das commodities e a retração na exportação de manufaturas puxada pela crise argentina. No entanto, se considerássemos as condições do início de 2014, o Boletim Focus e as nossas previsões eram de possível superávit. O déficit de petróleo e derivados iria cair, a desvalorização cambial iria ter algum impacto nas exportações de manufaturas e os preços das commodities ficariam estáveis ou cairiam pouco. A primeira parte ocorreu: houve queda no déficit de petróleo e derivados, que passou de US$ 20,4 bilhões em 2013 para US$ 17 bilhões em 2014. Essa melhora, no entanto, foi mais que neutralizada pela queda no superávit de demais produtos, de US$ 22,7 bilhões para US$ 13 bilhões. Com a observação acima queremos chamar atenção para um ponto: além da redução do déficit do petróleo, será necessário um ajuste cambial mais acentuado do que ocorreu em 2014 para que se garanta estímulo às exportações. Num cenário de valorização do dólar, o aumento em termos reais do câmbio R$/US$ requer elevação nítida da relação entre os preços de comercializáveis e não comercializáveis (serviços). Um resultado que não parece garantido num contexto de realinhamento dos preços de alguns serviços. Lia Valls Pereira